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FACULDADE DA AMAZÔNIA

Fernando Felipe Costa Cavalcante


João Fernando Paz dos Santos Sadeck
Juliana Costa da Silva
Tiago Rangel Cardoso dos Santos

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

SANTARÉM - PARÁ
06 DE ABRIL DE 2018
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FACULDADE DA AMAZÔNIA

Fernando Felipe Costa Cavalcante

João Fernando Paz dos Santos Sadeck

Juliana Costa da Silva

Tiago Rangel Cardoso dos Santos

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

Trabalho apresentado como requisito parcial de


nota na disciplina Crimes em Espécie II do curso
de Direito, turma 5ºDIV-1, sob a orientação do
professor Carlos Mota.

Orientador: Professor Carlos Mota

SANTARÉM - PARÁ
06 DE ABRIL DE 2018
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SUMÁRIO

Noções Gerais_____________________________________________________ 04

1. INCITAÇÃO AO CRIME (ART.286)________________________________05

2. APOLOGIA AO CRIME E CRIMINOSO (ART.287)___________________07

3. QUADRILHA OU BANDO (ART.288)________________________________08

4. MILÍCIA (ART.288-A)_____________________________________________10

Conclusão__________________________________________________________12

Referências_________________________________________________________13
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NOÇÕES GERAIS

A paz pública é o bem jurídico considerado no Título IX do Código Penal. Paz


pública é o estado de tranquilidade social que o Direito deve resguardar. É o sentimento
de sossego das pessoas em relação aos acontecimentos da vida em sociedade. É um
sentimento psicológico, interno das pessoas, que se abala quando há violação da ordem
pública, que é o estado de respeito ao conjunto das normas de convivência social.

A prática de qualquer delito constitui violação da ordem pública porque gera, para
a comunidade, uma sensação de insegurança. O legislador então viu a necessidade de
também voltar sua proteção especial para certos comportamentos que se dirigem para
reforçar a prática criminosa de um modo geral, ou seja, para condutas que tenham como
objeto exatamente o crime em si, denominando-os crimes contra a paz pública. Os crimes
contra a paz pública são sempre ações que agridem a tranquilidade social porque em sua
essência são contributivos para a prática criminosa.

O Código Penal busca conferir proteção preventiva, sancionando condutas que, se


realizadas, podem ensejar a execução de outras modalidades criminosas, antecipando-se,
assim, na proteção ao interesse da sociedade numa convivência harmoniosa e pacífica.

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1. INCITAÇÃO AO CRIME (ART.286)

Art. 286: Incitar, publicamente, a prática de


crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

O crime consiste em instigar, provocar ou estimular a realização de crime de


qualquer natureza, previsto no Código Penal ou em outras leis. Nos termos do art.
286, a incitação pública à prática de ato contravencional não constitui ilícito penal.

É necessário que o agente estimule grande número de pessoas a cometer


determinada espécie de delito, pois a conduta de estimular genericamente o ingresso
de pessoas à delinquência não constitui crime.

Também não caracteriza o delito a simples opinião no sentido de ser legalizada


certa conduta (porte de entorpecente, aborto etc.). Por essa razão, o Supremo Tribunal
Federal autorizou a realização das chamadas “marchas da maconha”, que consistem
em manifestações pleiteando a descriminalização do uso desse entorpecente. De
acordo com o julgamento da ADIn 4.274, ocorrido em 23 de novembro de 2011, foi
dada interpretação conforme à Constituição ao art. 33, § 2º, da Lei Antidrogas (Lei n.
11.343/2006), que prevê pena de 1 a 3 anos de detenção e multa, para quem induzir,
instigar ou auxiliar alguém ao uso de substância entorpecente. De acordo com referida
“interpretação conforme”, estão excluídos do dispositivo “qualquer significado que
enseje a proibição de manifestações e debates públicos acerca da descriminalização
ou legalização do uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser humano ao
entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades psicofísicas”.

A incitação ao crime pode ser exercitada por qualquer meio: panfletos, cartazes,
discursos, gritos em público, e-mails, sites na internet, entrevista em rádio, revista,
jornal ou televisão etc. Comete o delito, por exemplo, quem mantém site na internet
dizendo que todo marido traído deve espancar ou matar a esposa; ou quem, em
entrevista, aconselha as pessoas a não pagar por serviços, devendo fazer ligações
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clandestinas de água, luz, gás etc.; ou, ainda, líder sindical que, em discurso, diz que
os operários devem depredar as indústrias em que trabalham.

Exige-se que a conduta seja praticada em público, ou seja, na presença de número


elevado de pessoas, uma vez que a conduta de induzir pessoa certa e determinada à
prática de um crime específico constitui participação no delito efetivamente cometido.

Tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal considerou, ao julgar a ADPF n.


130, que a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) não foi recepcionada pela Constituição
Federal de 1988, não se encontra mais em vigor o delito de incitação ao crime previsto
no art. 19 da referida lei. Assim, quem, em entrevista a uma rádio, propuser, por
exemplo, que todos os empresários passem a sonegar impostos, comete incitação ao
crime.

A incitação à prática de crime que envolva preconceito racial constitui infração


mais grave prevista no art. 20 da Lei n. 7.716/89.

O crime se consuma com a simples incitação pública, ou seja, quando número


indeterminado de pessoas toma conhecimento dela. Trata-se de crime formal e de
perigo abstrato, cuja caracterização dispensa a efetiva prática de crime por parte dos
que receberam a mensagem. A tentativa somente é admitida na forma escrita, quando,
por exemplo, extraviam-se os panfletos que seriam distribuídos, quando o agente é
impedido de entregá-los às pessoas etc.
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2. APOLOGIA DE CRIME E CRIMINOSO (ART.287)

Art. 287: Fazer, publicamente, apologia de fato


criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

Fazer apologia significa elogiar de forma eloquente, enaltecer, exaltar um crime


já cometido ou o autor do delito por tê-lo cometido. Comete o crime, por exemplo, quem,
em entrevista, elogia um empresário por ter, comprovadamente, sonegado milhões em
tributos, ou um assassino porque matou determinada pessoa, ou um estuprador por ter
escolhido uma vítima bonita.

A apologia pressupõe o elogio inequívoco e perigoso. Assim, não se configura


quando alguém apenas narra o fato ou se limita a tentar justificar as razões do criminoso.

Diferencia-se da incitação porque se refere a fato pretérito. Comete o crime, dessa forma,
quem enaltece fato criminoso já ocorrido (previsto no Código Penal ou outras leis) ou o
próprio autor do delito em função do delito que cometeu.

A apologia à fato contravencional não se amolda ao tipo penal.

É também requisito desse crime que a apologia seja feita em público, isto é, que
o enaltecimento ao ato criminoso ocorra na presença de número elevado de pessoas ou de
modo que chegue ao seu conhecimento. Pode o delito ser cometido por qualquer meio:
discurso, panfletos, cartazes etc. Desde o julgamento da ADPF n. 130, em que o Supremo
Tribunal Federal considerou inconstitucional a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67), não se
encontra mais em vigor o seu art. 19, § 2º, que previa pena mais grave para a apologia
feita por meio de imprensa. Atualmente, portanto, o crime do art. 287 do Código Penal
também pode ser cometido por rádio, televisão, jornal etc.

A consumação se dá com a exaltação feita em público, independentemente de


qualquer outro resultado. Cuida-se de crime de mera conduta e de perigo abstrato. A
tentativa é possível, por exemplo, na forma escrita.
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3. QUADRILHA OU BANDO (ART.288) – ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

Art. 288: Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim


específico de cometer crimes: (Redação dada pela Lei nº
12.850, de 2013)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada
pela Lei nº 12.850, de 2013)
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a
associação é armada ou se houver a participação de criança
ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)

O delito em estudo configura-se pela associação estável de três ou mais pessoas


com o fim de cometer reiteradamente crimes. Pressupõe, portanto, um acordo de vontades
dos integrantes, no sentido de juntarem seus esforços no cometimento dos crimes.

A denominação “associação criminosa” surgiu com a Lei n. 12.850, de 5 de agosto


de 2013, que alterou o art. 288 do Código Penal, modificando o nomem juris da infração
penal, antes denominada “quadrilha ou bando”, e facilitando sua tipificação, uma vez que
o crime de quadrilha exigia para sua configuração o envolvimento mínimo de quatro
pessoas, enquanto na associação criminosa bastam três.

O fato de ter sido excluída a denominação “quadrilha ou bando” do art. 288 do


Código Penal não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação a fatos
anteriores à Lei n. 12.850/2013, uma vez que a conduta não deixou de ser considerada
criminosa com a nova redação, pois, ao contrário, passou a ser mais fácil sua
configuração. De acordo com o art. 107, III, do Código Penal, extingue-se a punibilidade
pela retroatividade de lei que não mais considera o fato criminoso (e não pela mera
modificação do nome do delito). Dessa forma, a farta jurisprudência existente em relação
ao crime de quadrilha ou bando é plenamente aplicável ao novo delito de associação
criminosa, ressalvando-se que agora basta a associação três ou mais pessoas.

O tipo penal do delito de associação criminosa, conforme mencionado, pressupõe


a união de um número mínimo de três pessoas. Nessa contagem, incluem-se os menores
de idade, que não podem ser punidos pela Justiça Comum, os associados que morreram
após ingressar no grupo, os comparsas que não foram identificados ou que foram referidos
apenas por meio de alcunhas etc. É necessário, contudo, que o Ministério Público
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descreva na denúncia o envolvimento mínimo de três pessoas na associação, ainda que


não seja possível mencionar o nome completo de todas elas.

O delito de associação criminosa distingue-se do concurso comum de pessoas. Na


associação criminosa, as pessoas reúnem-se de forma estável, enquanto no concurso elas
se unem de forma momentânea. Além disso, na associação os agentes visam cometer
número indeterminado de infrações, existindo, portanto, intenção de reiteração delituosa;
já no concurso, visam à prática de um crime determinado.

O delito se consuma no momento em que ocorre o acordo de vontades entre os


integrantes no sentido de formar a associação, independentemente da prática de qualquer
crime. Trata-se de delito formal. A tentativa é inadmissível, pois, ou existe a associação
e o crime está consumado, ou apenas tratativas que constituem mero ato preparatório.

A redação atual do parágrafo único do art. 288, dada pela Lei n. 12.850/2013, prevê
que a pena será aumentada em até metade se a associação for armada ou se houver
participação de criança ou adolescente. Apesar das divergências, prevalece o
entendimento de que basta um dos integrantes da associação atuar armado, desde que isso
guarde relação com os fins criminosos do grupo. O dispositivo alcança a utilização de
armas próprias e impróprias

O art. 8º da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) dispõe que será de três a seis
anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal quando se tratar de união
visando à prática de crimes hediondos, tortura ou terrorismo. Trata-se de qualificadora
que se aplica, portanto, quando a associação é formada para a prática desses crimes de
maior gravidade. Nessas hipóteses, haverá concurso material entre o delito de associação
qualificada e os crimes efetivamente cometidos. Esse art. 8º também menciona a
associação para a prática de tráfico de entorpecentes, porém, atualmente, a união de duas
ou mais pessoas para a prática de tráfico, de forma reiterada ou não, constitui o crime do
art. 35, caput, da Lei n. 11.343/2006 (nova Lei Antitóxicos), punido com reclusão de três
a dez anos, e multa, chamado de “associação para o tráfico”. Além disso, o art. 35,
parágrafo único, da mesma lei, pune com as mesmas penas a associação de duas ou mais
pessoas para o financiamento reiterado do tráfico.

A Lei dos Crimes Hediondos, também em seu art. 8º, mas no parágrafo único, dispõe
que o participante ou associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
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4. MILÍCIA (ART.288-A)

Art. 288-A: Constituir, organizar, integrar, manter ou


custear organização paramilitar, milícia particular, grupo
ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos
crimes previstos neste Código: (Incluído dada pela Lei nº
12.720, de 2012)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. (Incluído
dada pela Lei nº 12.720, de 2012)

Esse dispositivo foi introduzido no Código Penal pela Lei n. 12.720/2012. Tal
como o delito de associação criminosa, essa nova figura também pressupõe a associação
de pessoas com a específica finalidade de cometer crimes. Por expressa previsão legal,
entretanto, só se configura se a intenção for a de cometer crimes do Código Penal. Se a
milícia visar exclusivamente ao cometimento de crimes de lei especial, o enquadramento
será no crime de associação criminosa. O próprio nomen juris da infração penal estampa
que a ação ilícita diz respeito às “milícias privadas” que se unem sob o pretexto de prestar
serviços de segurança em certa localidade e que, nesta condição, cometem crimes como
extorsão, roubo, ameaça, tortura, usurpação de função pública, lesões corporais e até
homicídios

O aspecto que diferencia o delito de milícia privada do crime comum de


associação criminosa é sua forma de atuação. Nas milícias, um grupo de pessoas
previamente organizado toma, mediante violência e ameaça, determinado território e
passa a atuar de forma ostensiva, fazendo as vezes da polícia preventiva, ignorando,
portanto, o monopólio estatal da segurança pública. Seus integrantes passam a fazer
patrulhas armadas pela região ocupada sob o pretexto de evitar outras práticas ilícitas.
Para isso, cobram dos moradores e dos comerciantes valores semanais ou mensais. Os
que se recusam a pagar sofrem represálias: assaltos, depredações, disparos de arma de
fogo em seus imóveis e, algumas vezes, até tortura e morte. Além disso, os integrantes da
milícia costumam monopolizar a prestação de certos serviços ou a comercialização de
determinados produtos na região dominada. Os moradores, por exemplo, são obrigados a
comprar gás de cozinha ou combustível dos milicianos ou a adquirir planos clandestinos
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de TV a cabo com eles. Caso se recusem e procurem outros fornecedores, sofrem


represálias.

Trata-se de crime formal e de perigo. Assim, haverá concurso material entre o


crime de constituição de milícia privada com os delitos efetivamente praticados por seus
integrantes.

A consumação se dá com a constituição da milícia. O Crime pressupõe


estabilidade, ou seja, intenção de agir de forma reiterada. Trata-se, assim, de crime
permanente. A tentativa, assim como no crime de associação criminosa, é impossível.
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CONCLUSÃO

A maioria das legislações prevê os crimes que são tratados em nosso Código Penal
sob a rubrica "Dos crimes contra a paz pública" como sendo crimes contra a ordem
pública.

Nelson Hungria explica que a paz pública deve ser entendida como um bem
subjetivo, ou seja, como um sentimento coletivo de paz que a ordem jurídica assegura.
Dessa forma completa:

“Com os crimes que ora se trata, não se apresenta efetiva


perturbação da ordem pública ou da paz pública no sentido material, mas
apenas se cria a possibilidade de tal perturbação, decorrendo daí uma
situação de alarma no seio da coletividade, isto é, a quebra do sentimento
geral de tranquilidade, do sossego, de paz, que corresponde a confiança na
continuidade normal da ordem jurídico social.”

Para Heleno Cláudio Fragoso, a paz pública é consequência ou resultado da ordem


pública. No entanto, todos os crimes, de forma indireta, afetam a paz pública, diminuindo
a sensação de segurança em um número indefinido de cidadãos.
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REFERÊNCIAS

 SANCHES, Rogério. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts.121


ao 361). 9°. Ed.-Salvador: JusPODIVM, 2017.
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Especial - v. 4.11º.Ed.
Niterói: Impetus, 2015.
 Capez, Fernando. Direito penal Simplificado: Parte Especial. 16º. Ed
São Paulo: Saraiva, 2012.

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