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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
A Constituição Federal, no seu artigo 225, § 1º, II, determina que o Poder Público e a
coletividade têm que preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.
Assim, o Brasil ratificou a Convenção da Biodiversidade, que ingressou em nosso
ordenamento jurídico por meio do Decreto de promulgação 2.519/1998, pois o Decreto Legislativo,
por si só, não tem esse condão (DL 2/1994).
Para esse tratado, diversidade biológica “significa a variabilidade de organismos vivos de
todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros
ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a
diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas”.
2. PATRIMÔNIO GENÉTICO:
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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Já o conhecimento tradicional associado é definido como a informação ou prática individual
ou coletiva de comunidade indígena ou de comunidade local, com valor real ou potencial, associada ao
patrimônio genético.
3. BIOSSEGURANÇA:
3.1. INTRODUÇÃO:
A Biossegurança é uma medida surgida no século XX, e, em sentido lato, consiste no conjunto
de atividades e técnicas utilizadas no controle e na minimização de riscos ao meio ambiente e à saúde
humana advindos da utilização de diferentes tecnologias. Luís Paulo Sirvinskas formula o seguinte
conceito de Biossegurança: “conjunto de normas legais e regulamentares que estabelecem critérios e
técnicas para a manipulação genética, no sentido de evitar danos ao meio ambiente e à saúde
humana” (SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo, Saraiva, 2ed. 2003).
Assim, a LB não se aplica quando a modificação genética for obtida por mutagênese;
formação e utilização de células somáticas de hibridoma animal; fusão celular, inclusive a de
protoplasma, de células vegetais, que possa ser produzida mediante métodos tradicionais de cultivo e
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autoclonagem de organismos não patogênicos que se processe de maneira natural, desde que não
implique a utilização de OGM como receptor ou doador, conforme estabelece o rol do art. 3º.
OBS: Contudo, ressalva merece atenção, pois, sempre que houver a utilização de OGM como
receptor ou doador, haverá a incidência da Lei de Biossegurança2.
Por sua vez, por residualidade, o conceito de atividade de uso comercial de OGM está contido
no §2º do art. 1º, vejamos:
§ 2o Para os fins desta Lei, considera-se atividade de uso comercial de OGM e seus derivados a
que não se enquadra como atividade de pesquisa, e que trata do cultivo, da produção, da
manipulação, do transporte, da transferência, da comercialização, da importação, da exportação, do
armazenamento, do consumo, da liberação e do descarte de OGM e seus derivados para fins
comerciais.
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Tema cobrado no MPE-SC (2016).
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As atribuições do conselho estão previstas no art. 8º da Lei 11.105, dentre as quais se
destacam: fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais com
competências sobre a matéria; analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e
oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial
de OGM e seus derivados; avocar e decidir, em última e definitiva instância, com base em
manifestação da CTNBio e, quando julgar necessário, dos órgãos e entidades referidos no art. 16 desta
Lei, no âmbito de suas competências, sobre os processos relativos a atividades que envolvam o uso
comercial de OGM e seus derivados.
Compõem o CNBS (11 membros): Ministro de Estado Chefe da Casa Civil, que o preside;
Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia; Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário; Ministro
de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministro de Estado da Justiça; Ministro de Estado
da Saúde; Ministro de Estado do Meio Ambiente; Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior; Ministro de Estado das Relações Exteriores; Ministro de Estado da Defesa;
Secretário Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República.
Quanto aos aspectos de biossegurança do OGM e seus derivados, a decisão técnica da CTNBio
vincula os demais órgãos e entidades da administração, de modo que prevalece sobre aquelas
proferidas por qualquer outro órgão administrativo, à exceção do CNBS. Nesta seara, convém
ponderar que é a CTNbio que detém a prerrogativa de classificar determinada atividade que utilize
OGMs como causadora de “significativo impacto ambiental”, e, assim, estabelecer o cabível EIA/RIMA
(REsp 592682 / RS).
Toda instituição que utilizar técnicas e métodos de engenharia genética ou realizar pesquisas
com OGM e seus derivados deverá criar uma Comissão Interna de Biossegurança - CIBio, além de
indicar um técnico principal responsável para cada projeto específico. Os critérios de funcionamento
destas comissões são estabelecidos pena CTNBio e as atribuições destas comissões estão previstas no
art. 18 da lei.
Cumpre destacar que, no exercício de atividade fiscalizatória, tais órgãos e entidades podem
aplicar multas, sendo o valor arrecado destinado aos próprios órgãos e entidades. Esta destinação
destoa daquela prevista na Lei 9.605, onde o valor das multas aplicadas em decorrência de infrações
ambientais é destinado ao Fundo Nacional do Meio Ambiente.
Foram previstos crimes no Cap. VIII, arts. 24 a 29, da Lei 11.105/2005; e, com o acréscimo da
tipificação do art. 5º, § 3º, há sete crimes no total. Todos são crimes dolosos.
Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5o desta Lei:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Art. 25. Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião
humano:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 29. Produzir, armazenar, transportar, comercializar, importar ou exportar OGM ou seus
derivados, sem autorização ou em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos
e entidades de registro e fiscalização:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Por outro lado, vedou-se a clonagem humana (sendo inclusive crime, tipificada no art. 26 da
LB), apenas permitindo-se a clonagem para fins terapêuticos, ou seja, com a finalidade de produção de
células-tronco embrionárias para utilização terapêutica.
Esse permissivo legal é altamente polêmico, pois para alguns viola o direito fundamental à
vida, que não tem o seu termo inicial definido expressamente na legislação brasileira. Sabe-se apenas
que legalmente a morte ocorre com a cessação da atividade cerebral, nos moldes do artigo 3.º, da Lei
9.434/1997.
Em 2008, apesar de expressamente não indicar quando começa a vida, o que foi acertado, ao
julgar a ADI 3.510, o STF declarou a validade do permissivo legal que autoriza a pesquisa com células-
tronco embrionárias. Colaciona-se passagem do informativo:
Por seu turno, os patrocinadores das pesquisas devem exigir previamente o Certificado de
Qualidade em Biossegurança previamente emitido pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança –
CTNBio, sob pena de se tornarem corresponsáveis pelo descumprimento legal, inclusive
criminalmente, pois caracterizar-se-á, ao menos, dolo eventual.
Em tema de Biossegurança pesa muito o Princípio da Precaução, pois não é possível prever
com certeza científica a repercussão dos OGM’s sobre a saúde humana e dos demais seres vivos. Nesse
sentido, o artigo 40, da LB, determina que “os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao
consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados
deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento”.
4. BIODIVERSIDADE:
A proteção à biodiversidade decorre da CF/88, art. 225, § 1º, II, que determina que o Poder
Público e a coletividade devem preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país
e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação do material genético.
Ante a sua importância para o ser humano pode ser considerada como um conjunto de
riquezas, sendo um patrimônio natural de uma nação.
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As normas de proteção à biodiversidade têm duas funções básicas: prevenir a ocorrência de
danos à biodiversidade; buscar a reparação quando ocorrido um dano.
Como vimos no início da FUC de ambiental, o meio ambiente tem quatro aspectos: meio
ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. A proteção à biodiversidade tutela o meio ambiente
natural.
3. A terceira categoria inclui tratados que podem ser aplicados em nível global e regional, mas
que seu objetivo é conservar uma determinada espécie ou habitat. São exemplos os instrumentos
para a conservação e proteção de:
● Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar (CNCDM ou UNCLOS – United Nations
Convention on the Law of the Sea), de 1982: principal instrumento internacional a estabelecer direitos
e obrigações dos Estados e outros membros da Comunidade Internacional, visando a conservação e o
uso sustentável dos recursos marinhos, como a sua biodiversidade.
4.1.1.1. Convenção sobre comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens
em Perigo de Extinção (CITES)
Essa convenção abrange todas as espécies da fauna e da flora do planeta e adota medidas
protecionistas da Biodiversidade no sentido de proibir e regular o comércio internacional de
espécies ameaçadas de extinção, tendo em vista que essas espécies são insubstituíveis e devem ser
protegidas para o benefício da presente e das futuras gerações.
A Convenção não prevê penalidade por descumprimento, mas as próprias partes preferem
não constar da lista de inadimplência, pois isso pode comprometer as relações econômicas com
outras Partes. A própria Conferência das Partes aconselha a cessação de comércio caso um país esteja
atrasando injustificadamente a implementação da Convenção.
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4.1.1.2. Convenção sobre a Diversidade Biológica (UNCBD)
Argumenta-se que as obrigações oriundas de normas sobre a biodiversidade são erga omnes,
pois a preservação desta é interesse comum da Comunidade Internacional. A biodiversidade
representa recursos genéticos insubstituíveis para prosperidade do planeta, fontes alimentícias,
matéria farmacêutica e contribui para o equilíbrio na biosfera. Além disso, é interesse da Comunidade
Internacional que os recursos naturais sejam conservados para o benefício da presente e das futuras
gerações.
A UNCBD não aceita reservas e prevê que suas disposições devem prevalecer sobre tratados
cujos dispositivos possam causar danos desnecessários à biodiversidade.
O Direito Internacional do Meio Ambiente apresenta mais de 400 tratados multilaterais que
preveem, entre outras, normas sobre a conservação da biodiversidade. Portanto, o caráter erga omnes
de normas sobre a proteção e preservação da biodiversidade é passível de comprovação, dada a
grande aceitação dos documentos sobre o assunto entre os Estados.
Já foi assinada por 175 países (em 1992 durante a Eco-92), dos quais 168 a ratificaram,
incluindo o Brasil (Decreto Nº 2.519 de 16 de março de 1998).
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4.4. BIOPIRATARIA:
Convém ressaltar que o termo biopirataria não se refere somente ao contrabando de diversas
espécies naturais da flora e da fauna, mas principalmente, à apropriação e monopolização dos
conhecimentos das populações tradicionais no âmbito do uso dos recursos naturais. Estas populações
estão perdendo o controle sobre tais recursos.
O termo "biopirataria" foi lançado em 1993 pela ONG RAFI (hoje ETC-Group) para alertar
sobre o fato do conhecimento tradicional e dos recursos biológicos estarem sendo apanhados e
patenteados por empresas multinacionais e instituições cientificas.
Cabe ressaltar que, com a novel Lei 13.123/15, a biopirataria e outros atentados contra a
biodiversidade são sancionados administrativamente com penas de multa, advertência e apreensão
(art. 27). Contudo, ainda não há tipificação penal, entre nós, do crime de biopirataria.
As populações indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm
papel fundamental na gestão do meio ambiente e no desenvolvimento, em virtude de seus
conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar de forma apropriada a
identidade, cultura e interesses dessas populações e comunidades, bem como habilitá-las a participar
efetivamente da promoção do desenvolvimento sustentável.
O artigo 8 “j” da Convenção Sobre Diversidade Biológica - CDB estatui que cada parte
contratante deve, na medida do possível:
O dispositivo transcrito traz a lume dois princípios básicos enunciados pela CDB, quais sejam:
o consentimento prévio fundamentado (significa que as comunidades detentoras de conhecimentos
tradicionais deverão ser previamente consultadas sobre o acesso e utilização), e a justa e equitativa
repartição de benefícios (garante às populações indígenas e locais o direito de receber os benefícios
derivados do acesso e uso de seus conhecimentos).
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Não se deve deixar de ler o art. 17, da Lei 13.123/15, que trata da forma de repartição de
benefícios da exploração do conhecimento tradicional associado, porquanto denota o caráter coletivo
da detenção do conhecimento, mas que, ao seu turno, permite o licenciamento exclusivo do produto
resultante por conta do proprietário intelectual:
DIPLOMA DISPOSITIVO
Constituição Federal Artigo nº 225
Lei 11.105/05 Leitura Integral
Lei 13.123/15 Leitura Integral
6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA