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DIREITO AMBIENTAL

Patrimônio Genético, Biotecnologia e Biossegurança

Por Fernanda Evlaine


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SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................ Error! Bookmark not defined.


2. PATRIMÔNIO GENÉTICO .................................................................................. Error! Bookmark not defined.
3. BIOSSEGURANÇA ............................................................................................ Error! Bookmark not defined.
4. BIODIVERSIDADE ...................................................................................................................................... 9
5. DISPOSITIVOS PARA O CICLOS DE LEGISLAÇÃO ................................................. Error! Bookmark not defined.
6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA .........................................................................................................................17
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ATUALIZADO EM 23/04/20171

PATRIMÔNIO GENÉTICO, BIOTECNOLOGIA E BIOSSEGURANÇA

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

A Constituição Federal, no seu artigo 225, § 1º, II, determina que o Poder Público e a
coletividade têm que preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.
Assim, o Brasil ratificou a Convenção da Biodiversidade, que ingressou em nosso
ordenamento jurídico por meio do Decreto de promulgação 2.519/1998, pois o Decreto Legislativo,
por si só, não tem esse condão (DL 2/1994).
Para esse tratado, diversidade biológica “significa a variabilidade de organismos vivos de
todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros
ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a
diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas”.

2. PATRIMÔNIO GENÉTICO:

Nos termos do art. 7º, inciso XXIII, da LC 140/2011:

XXIII - gerir o patrimônio genético e o acesso ao conhecimento tradicional associado,


respeitadas as atribuições setoriais;

Considera-se patrimônio genético a informação de origem genética, contida em amostras do


todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico, microbiano ou animal, na forma de moléculas e
substâncias provenientes do metabolismo destes seres vivos e de extratos obtidos de organismos vivos
ou mortos, encontrados em condições in situ, inclusive domesticados, ou mantidos em coleções ex
situ, desde que coletados em condições in situ no território nacional, na plataforma continental ou na
zona econômica exclusiva.

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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Já o conhecimento tradicional associado é definido como a informação ou prática individual
ou coletiva de comunidade indígena ou de comunidade local, com valor real ou potencial, associada ao
patrimônio genético.

Por sua vez, o acesso ao patrimônio genético é a obtenção de amostra de componente do


patrimônio genético para fins de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção,
visando a sua aplicação industrial ou de outra natureza, ao passo que o acesso ao conhecimento
tradicional associado é a obtenção de informação sobre conhecimento ou prática individual ou
coletiva, associada ao patrimônio genético, de comunidade indígena ou de comunidade local, para fins
de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção, visando sua aplicação industrial
ou de outra natureza.

3. BIOSSEGURANÇA:

3.1. INTRODUÇÃO:

A Biossegurança é uma medida surgida no século XX, e, em sentido lato, consiste no conjunto
de atividades e técnicas utilizadas no controle e na minimização de riscos ao meio ambiente e à saúde
humana advindos da utilização de diferentes tecnologias. Luís Paulo Sirvinskas formula o seguinte
conceito de Biossegurança: “conjunto de normas legais e regulamentares que estabelecem critérios e
técnicas para a manipulação genética, no sentido de evitar danos ao meio ambiente e à saúde
humana” (SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo, Saraiva, 2ed. 2003).

A disciplina básica da Biossegurança no Brasil está contida na Lei n. 11.105/2005, que


estabelece em seu artigo 1º que:

Art. 1o Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a


construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a
exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio
ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo
como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à
vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do
meio ambiente.

Assim, a LB não se aplica quando a modificação genética for obtida por mutagênese;
formação e utilização de células somáticas de hibridoma animal; fusão celular, inclusive a de
protoplasma, de células vegetais, que possa ser produzida mediante métodos tradicionais de cultivo e
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autoclonagem de organismos não patogênicos que se processe de maneira natural, desde que não
implique a utilização de OGM como receptor ou doador, conforme estabelece o rol do art. 3º.

OBS: Contudo, ressalva merece atenção, pois, sempre que houver a utilização de OGM como
receptor ou doador, haverá a incidência da Lei de Biossegurança2.

A LB define a atividade de pesquisa como:

Art. 1, § 1o Para os fins desta Lei, considera-se atividade de pesquisa a realizada em


laboratório, regime de contenção ou campo, como parte do processo de obtenção de OGM e seus
derivados ou de avaliação da biossegurança de OGM e seus derivados, o que engloba, no âmbito
experimental, a construção, o cultivo, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a
exportação, o armazenamento, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGM e seus derivados.

Por sua vez, por residualidade, o conceito de atividade de uso comercial de OGM está contido
no §2º do art. 1º, vejamos:

§ 2o Para os fins desta Lei, considera-se atividade de uso comercial de OGM e seus derivados a
que não se enquadra como atividade de pesquisa, e que trata do cultivo, da produção, da
manipulação, do transporte, da transferência, da comercialização, da importação, da exportação, do
armazenamento, do consumo, da liberação e do descarte de OGM e seus derivados para fins
comerciais.

Em regulamentação, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio editou a


Resolução Normativa 05/2008, que trata da liberação comercial de Organismos Geneticamente
Modificados – OGM e seus derivados.

3.2. ÓRGÃOS E ENTIDADES DE BIOSSEGURANÇA NO BRASIL:

3.2.1. CONSELHO NACIONAL DE BIOSSEGURANÇA – CNBS:

O Conselho Nacional de Biossegurança é órgão de assessoramento superior, vinculado ao


Presidente da República, e tem a missão básica de auxiliar a formulação e a implantação da Política
Nacional de Biossegurança (arts. 8º e 9º da Lei 11.105). Convém ponderar que, segundo a doutrina, tal
órgão possui natureza política, e não técnica. Suas decisões não estão adstritas ao juízo formulado
pela CTNBio, ainda que possa utilizar os subsídios técnicos fornecidos por esta Comissão. O juízo,
portanto, formulado pelo CNBS é de conveniência e oportunidade, ainda que tal juízo deva seguir os
ditames impostos pelo princípio da legalidade.

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Tema cobrado no MPE-SC (2016).
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As atribuições do conselho estão previstas no art. 8º da Lei 11.105, dentre as quais se
destacam: fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais com
competências sobre a matéria; analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e
oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial
de OGM e seus derivados; avocar e decidir, em última e definitiva instância, com base em
manifestação da CTNBio e, quando julgar necessário, dos órgãos e entidades referidos no art. 16 desta
Lei, no âmbito de suas competências, sobre os processos relativos a atividades que envolvam o uso
comercial de OGM e seus derivados.

Compõem o CNBS (11 membros): Ministro de Estado Chefe da Casa Civil, que o preside;
Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia; Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário; Ministro
de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministro de Estado da Justiça; Ministro de Estado
da Saúde; Ministro de Estado do Meio Ambiente; Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior; Ministro de Estado das Relações Exteriores; Ministro de Estado da Defesa;
Secretário Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República.

3.2.2. COMISSÃO TÉCNICA NACIONAL DE BIOSSEGURANÇA - CTNBIO:

A CTNbio é a base do sistema de biossegurança e dela partem as principais decisões sobre o


tema. A CTNbio não tem personalidade jurídica, não sendo autarquia, fundação, empresa pública ou
agência. Ela integra a pessoa jurídica da União. Trata-se de um órgão eminentemente técnico
integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, sendo uma instância colegiada multidisciplinar de
caráter consultivo e deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal
na formulação, atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados, bem como no
estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização
para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na
avaliação de seu risco zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente.

Quanto aos aspectos de biossegurança do OGM e seus derivados, a decisão técnica da CTNBio
vincula os demais órgãos e entidades da administração, de modo que prevalece sobre aquelas
proferidas por qualquer outro órgão administrativo, à exceção do CNBS. Nesta seara, convém
ponderar que é a CTNbio que detém a prerrogativa de classificar determinada atividade que utilize
OGMs como causadora de “significativo impacto ambiental”, e, assim, estabelecer o cabível EIA/RIMA
(REsp 592682 / RS).

A CTNBio é composta de membros designados pelo Ministro de Estado da Ciência e


Tecnologia e será constituída por 27 (vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência
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técnica, de notória atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada
atividade profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou
meio ambiente.

3.2.2. COMISSÃO INTERNA DE BIOSSEGURANÇA – CIBIO:

Toda instituição que utilizar técnicas e métodos de engenharia genética ou realizar pesquisas
com OGM e seus derivados deverá criar uma Comissão Interna de Biossegurança - CIBio, além de
indicar um técnico principal responsável para cada projeto específico. Os critérios de funcionamento
destas comissões são estabelecidos pena CTNBio e as atribuições destas comissões estão previstas no
art. 18 da lei.

3.2.3. ÓRGÃOS E ENTIDADES DE REGISTRO FISCALIZAÇÃO:

A lei prevê que os órgãos e entidades de registro e fiscalização do Ministério da Saúde, do


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente, e da
Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República possuem atribuições no sistema
brasileiro de Biossegurança. Suas atribuições possuem caráter meramente registrário e fiscalizatório,
devendo sempre obedecer, as decisões técnicas da CTNBio, as deliberações do CNBS e os mecanismos
estabelecidos na Lei 11.105/05.

Cumpre destacar que, no exercício de atividade fiscalizatória, tais órgãos e entidades podem
aplicar multas, sendo o valor arrecado destinado aos próprios órgãos e entidades. Esta destinação
destoa daquela prevista na Lei 9.605, onde o valor das multas aplicadas em decorrência de infrações
ambientais é destinado ao Fundo Nacional do Meio Ambiente.

3.3. RESPONSABILIDADE PENAL:

Foram previstos crimes no Cap. VIII, arts. 24 a 29, da Lei 11.105/2005; e, com o acréscimo da
tipificação do art. 5º, § 3º, há sete crimes no total. Todos são crimes dolosos.

Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5o desta Lei:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Art. 25. Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião
humano:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 26. Realizar clonagem humana:


Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 27. Liberar ou descartar OGM no meio ambiente, em desacordo com as normas
estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização:
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Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o (VETADO)
§ 2o Agrava-se a pena:
I – de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se resultar dano à propriedade alheia;
II – de 1/3 (um terço) até a metade, se resultar dano ao meio ambiente;
III – da metade até 2/3 (dois terços), se resultar lesão corporal de natureza grave em outrem;
IV – de 2/3 (dois terços) até o dobro, se resultar a morte de outrem.

Art. 28. Utilizar, comercializar, registrar, patentear e licenciar tecnologias genéticas de


restrição do uso:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Art. 29. Produzir, armazenar, transportar, comercializar, importar ou exportar OGM ou seus
derivados, sem autorização ou em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos
e entidades de registro e fiscalização:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

3.4. A PESQUISA COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS E O DIREITO FUNDAMENTAL À


VIDA:

O artigo 5º da LB permite, para fins de terapia e pesquisa, a utilização de células-tronco


embrionárias (células que têm a capacidade de transformar em células de qualquer tecido) obtidas de
embriões humanos produzidos in vitro e não utilizáveis, quer porque inviáveis, quer porquanto
congelados há mais de três anos, sendo necessário, em qualquer caso, o consentimento dos genitores,
vedada a comercialização do material.

Por outro lado, vedou-se a clonagem humana (sendo inclusive crime, tipificada no art. 26 da
LB), apenas permitindo-se a clonagem para fins terapêuticos, ou seja, com a finalidade de produção de
células-tronco embrionárias para utilização terapêutica.

Esse permissivo legal é altamente polêmico, pois para alguns viola o direito fundamental à
vida, que não tem o seu termo inicial definido expressamente na legislação brasileira. Sabe-se apenas
que legalmente a morte ocorre com a cessação da atividade cerebral, nos moldes do artigo 3.º, da Lei
9.434/1997.

Em 2008, apesar de expressamente não indicar quando começa a vida, o que foi acertado, ao
julgar a ADI 3.510, o STF declarou a validade do permissivo legal que autoriza a pesquisa com células-
tronco embrionárias. Colaciona-se passagem do informativo:

ADI e Lei da Biossegurança – 6 – Em conclusão, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente


pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo Procurador-Geral da
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República contra o artigo 5º da Lei federal 11.105/2005 (Lei da Biossegurança), que permite, para fins
de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos
produzidos por fertilização in vitro e não usados no respectivo procedimento, e estabelece condições
para essa utilização – v. Informativo 497.

3.5. PESQUISA COM ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS – OGM:

A LB veda a pesquisa com organismos geneticamente modificados – OGM (entidade biológica


que teve o seu material genético modificado por qualquer técnica de engenharia genética) e sua
liberação comercial, salvo com prévia autorização do órgão competente, vedada a atuação de pessoas
físicas de maneira autônoma.

Por seu turno, os patrocinadores das pesquisas devem exigir previamente o Certificado de
Qualidade em Biossegurança previamente emitido pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança –
CTNBio, sob pena de se tornarem corresponsáveis pelo descumprimento legal, inclusive
criminalmente, pois caracterizar-se-á, ao menos, dolo eventual.

Em tema de Biossegurança pesa muito o Princípio da Precaução, pois não é possível prever
com certeza científica a repercussão dos OGM’s sobre a saúde humana e dos demais seres vivos. Nesse
sentido, o artigo 40, da LB, determina que “os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao
consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados
deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento”.

4. BIODIVERSIDADE:

Em apertada síntese, biodiversidade pode ser conceituada como a variedade e a quantidade


de espécies de uma comunidade ou ecossistema.

A proteção à biodiversidade decorre da CF/88, art. 225, § 1º, II, que determina que o Poder
Público e a coletividade devem preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país
e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação do material genético.

Segundo a Convenção da Biodiversidade, ratificada pelo Brasil, biodiversidade significa: “a


variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os
ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que
fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de
ecossistemas”.

Ante a sua importância para o ser humano pode ser considerada como um conjunto de
riquezas, sendo um patrimônio natural de uma nação.
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As normas de proteção à biodiversidade têm duas funções básicas: prevenir a ocorrência de
danos à biodiversidade; buscar a reparação quando ocorrido um dano.

Como vimos no início da FUC de ambiental, o meio ambiente tem quatro aspectos: meio
ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. A proteção à biodiversidade tutela o meio ambiente
natural.

Cumpre lembrar que há incidências de vários princípios do direito ambiental na proteção da


biodiversidade, tais como: princípio do desenvolvimento sustentável; do poluidor-pagador; e o da
participação.

4.1. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL – DIREITO INTERNACIONAL


PÚBLICO:

As normas de proteção à biodiversidade são bastante desenvolvidas no Direito Internacional.


A questão sobre a preservação da biodiversidade em âmbito global surgiu pela primeira vez na
Convenção de Estocolmo, que, em seus princípios, destacou a importância de preservar a fauna e a
flora para as presentes e futuras gerações através de um cuidadoso planejamento.

Segundo Phillipe Sands, três categorias de convenções tratam da biodiversidade:

1. A primeira abrange os tratados aplicáveis a todas as espécies e habitat do planeta.

2. A segunda categoria inclui tratados aplicáveis a todas as espécies e habitats de uma


determinada região. Alguns exemplos desses tratados:

● Convenção Africana sobre a Natureza, de 1968: objetiva assegurar a conservação, utilização


dos recursos naturais, incluindo a fauna e a flora;

● Protocolo Kingston SPA, de 1990: adotado a partir da Convenção de Cartagena (1983), na


América do Norte e América Central, com o objetivo de proteger e utilizar maneira sustentável às
áreas de espécies ameaçadas de extinção.

3. A terceira categoria inclui tratados que podem ser aplicados em nível global e regional, mas
que seu objetivo é conservar uma determinada espécie ou habitat. São exemplos os instrumentos
para a conservação e proteção de:

● Convenção relativa a Zonas Úmidas (Wetlands) de Importância Internacional,


Particularmente como Habitat das Aves Aquáticas (Convenção de Ramsar), de 1971: objetiva
conservar, aumentar e melhorar as zonas úmidas;
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● Acordo Internacional sobre Madeiras Tropicais, de 1994: visa o desenvolvimento de técnicas
de reflorestamento de madeiras tropicais, como também de manejo de atividades florestais;

● Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar (CNCDM ou UNCLOS – United Nations
Convention on the Law of the Sea), de 1982: principal instrumento internacional a estabelecer direitos
e obrigações dos Estados e outros membros da Comunidade Internacional, visando a conservação e o
uso sustentável dos recursos marinhos, como a sua biodiversidade.

4.1.1. Convenções de âmbito global e aplicação geral

Apenas duas convenções se enquadram nessa categoria: a Convenção sobre Comércio


Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CCIEFFSPE ou CITES,
Convention on International Trade in Endangered Species), de 1973, e a Convenção das Nações Unidas
sobre a Diversidade Biológica (CNUDB ou UNCBD, United Nations Convention on Biological Diversity),
de 1992. As duas convenções são as mais importantes para o desenvolvimento do Direito Internacional
Ambiental no que concerne a biodiversidade. É através da conferência das partes de ambos os
instrumentos que são discutidas novas questões acerca da preservação, servindo de escopo para o
surgimento de novos regulamentos, como o Protocolo de Cartagena de Biossegurança de 2000.

4.1.1.1. Convenção sobre comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens
em Perigo de Extinção (CITES)

Essa convenção abrange todas as espécies da fauna e da flora do planeta e adota medidas
protecionistas da Biodiversidade no sentido de proibir e regular o comércio internacional de
espécies ameaçadas de extinção, tendo em vista que essas espécies são insubstituíveis e devem ser
protegidas para o benefício da presente e das futuras gerações.

A fim de facilitar a regulamentação do comércio de espécies protegidas, a CITES as dividiu em


três anexos. O anexo I inclui as espécies ameaçadas de extinção e que são ou possam ser afetadas pelo
comércio. O anexo II abrange as espécies que embora não estejam ameaçadas de extinção, poderão
atingir esse status devido à sua exploração comercial. O Anexo III inclui todas as espécies que umas das
Partes “declare sujeitas, nos limites de sua competência, à regulamentação para impedir ou restringir
sua exploração e que necessitem da cooperação das outras partes para o controle do comércio”.

A Convenção não prevê penalidade por descumprimento, mas as próprias partes preferem
não constar da lista de inadimplência, pois isso pode comprometer as relações econômicas com
outras Partes. A própria Conferência das Partes aconselha a cessação de comércio caso um país esteja
atrasando injustificadamente a implementação da Convenção.
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4.1.1.2. Convenção sobre a Diversidade Biológica (UNCBD)

A Convenção está estruturada sobre três bases principais – a conservação da diversidade


biológica, o uso sustentável da biodiversidade e a repartição justa e equitativa dos benefícios
provenientes da utilização dos recursos genéticos – e se refere à biodiversidade em três níveis:
ecossistemas, espécies e recursos genéticos.

A Convenção abarca tudo o que se refere direta ou indiretamente à biodiversidade – e ela


funciona, assim, como uma espécie de arcabouço legal e político para diversas outras convenções e
acordos ambientais mais específicos. Assim, a convenção vem sendo complementada por outros
instrumentos internacionais mais específicos.

A Convenção pode ser aplicada a todas as espécies de animais e plantas encontradas no


mundo, dessa forma, sua atuação é de nível global. Seu art. 1º estabelece os seguintes objetivos: “A
conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável dos seus componentes, a repartição
justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos e a transferência
adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e
tecnologias, mediante financiamento adequado”.

O preâmbulo da Convenção define ainda que a preservação da biodiversidade representa um


“interesse comum da humanidade” e que os Estados têm direitos soberanos sobre os seus recursos
naturais, mas também têm a responsabilidade de conservar a biodiversidade de seus países e usar
esses recursos de maneira sustentável. A UNCBD prevê ainda a troca de informações e até mesmo
ajuda financeira e tecnológica, principalmente no que diz respeito aos recursos genéticos para a
conservação da biodiversidade. A finalidade é promover a colaboração entre os países desenvolvidos e
os em desenvolvimento.

A UNCBD serviu de base para o Protocolo de Cartagena, um importante instrumento de


proteção da biodiversidade, pois disciplina o movimento transfronteiriço, a produção, uso e a
comercialização de organismos geneticamente modificados. Esse protocolo foi assinado na
Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em Cartagena, Colômbia. Foi aprovado em 29/1/2000 e
está em vigor desde setembro/2003.

4.2. ACESSO E PROTEÇÃO JURÍDICA AO CONHECIMENTO TRADICIONAL:

Com o desiderato de regulamentação da Constituição e da Convenção da Biodiversidade, foi


editada a Medida Provisória 2.186-16/2001, que regula o acesso ao patrimônio genético, a proteção e
o acesso ao conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e
transferência de tecnologia para sua conservação e utilização.
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A MP 2.186-16/2001 foi revogada pela recente Lei 13.123/15, a qual dispõe sobre a
regulamentação interna sobre a proteção à biodiversidade, em atenção à Convenção sobre
Diversidade Biológica, e dispõe sobre o acesso ao conhecimento tradicional associado. Como esta
matéria é recente, deve-se priorizar a leitura dos conceitos constantes no art. 1o, da Lei.

A proteção se encontrada tratada nos arts. 8o e seguintes da Lei 13.123/15.

4.3. CARÁTER ERGA OMNES DAS NORMAS QUE TRATAM DE BIODIVERSIDADE

Argumenta-se que as obrigações oriundas de normas sobre a biodiversidade são erga omnes,
pois a preservação desta é interesse comum da Comunidade Internacional. A biodiversidade
representa recursos genéticos insubstituíveis para prosperidade do planeta, fontes alimentícias,
matéria farmacêutica e contribui para o equilíbrio na biosfera. Além disso, é interesse da Comunidade
Internacional que os recursos naturais sejam conservados para o benefício da presente e das futuras
gerações.

A Convenção sobre a Diversidade Biológica, em seu preâmbulo, afirmou que a preservação da


biodiversidade é uma preocupação comum da humanidade. Como foi observado por Kofi Annan em
seu relatório, a biodiversidade “permeia todo o espectro da atividade humana” e “está diretamente
ligada ao bem-estar do nosso planeta e ao progresso da humanidade em longo prazo.”

A UNCBD não aceita reservas e prevê que suas disposições devem prevalecer sobre tratados
cujos dispositivos possam causar danos desnecessários à biodiversidade.

O Direito Internacional do Meio Ambiente apresenta mais de 400 tratados multilaterais que
preveem, entre outras, normas sobre a conservação da biodiversidade. Portanto, o caráter erga omnes
de normas sobre a proteção e preservação da biodiversidade é passível de comprovação, dada a
grande aceitação dos documentos sobre o assunto entre os Estados.

4.3.1. Aspectos gerais da Convenção sobre a Diversidade Biológica:

A Convenção da Diversidade Biológica (CDB ou UNCBD) propõe regras para assegurar a


conservação da biodiversidade, o seu uso sustentável e a justa repartição dos benefícios
provenientes do uso econômico dos recursos genéticos, respeitada a soberania de cada nação sobre o
patrimônio existente em seu território.

Já foi assinada por 175 países (em 1992 durante a Eco-92), dos quais 168 a ratificaram,
incluindo o Brasil (Decreto Nº 2.519 de 16 de março de 1998).
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4.4. BIOPIRATARIA:

Biopirataria é a exploração, manipulação, exportação e/ou comercialização de recursos


biológicos contrariando as normas da CDB (Convenção sobre Diversidade Biológica, 1992). Em outras
palavras, é a apropriação indevida de recursos da fauna e da flora, levando à monopolização dos
conhecimentos no que se refere ao uso desses recursos.

As informações de um grupo de indivíduos acumuladas por anos, portanto, são bens


coletivos, não simplesmente mercadorias que podem ser comercializadas como qualquer objeto de
mercado. Nos últimos anos, graças ao avanço da biotecnologia e a facilidade de se registrar patentes e
marcas em âmbito internacional, as possibilidades da exploração da biodiversidade se multiplicaram.

Convém ressaltar que o termo biopirataria não se refere somente ao contrabando de diversas
espécies naturais da flora e da fauna, mas principalmente, à apropriação e monopolização dos
conhecimentos das populações tradicionais no âmbito do uso dos recursos naturais. Estas populações
estão perdendo o controle sobre tais recursos.

A biopirataria prejudica a Amazônia. Causa risco de extinção a inúmeras espécies da fauna e


da flora, com sua retirada do habitat natural.

O termo "biopirataria" foi lançado em 1993 pela ONG RAFI (hoje ETC-Group) para alertar
sobre o fato do conhecimento tradicional e dos recursos biológicos estarem sendo apanhados e
patenteados por empresas multinacionais e instituições cientificas.

Cabe ressaltar que, com a novel Lei 13.123/15, a biopirataria e outros atentados contra a
biodiversidade são sancionados administrativamente com penas de multa, advertência e apreensão
(art. 27). Contudo, ainda não há tipificação penal, entre nós, do crime de biopirataria.

4.4.1. Proteção jurídica do conhecimento tradicional associado:

Conceito de conhecimento tradicional associado segundo a Lei 13.123/15: conhecimento


tradicional associado é a informação ou prática da população indígena, comunidade tradicional ou
agricultor tradicional sobre as propriedades ou usos diretos ou indiretos associada ao patrimônio
genético.

● Acesso ao conhecimento tradicional associado: Pesquisa ou desenvolvimento realizado


sobre conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético, ainda que obtido de fontes
secundárias tais como feiras, publicações, inventários, filmes, artigos científicos, cadastrados e outras
formas de sistematização e registro de conhecimentos tradicionais associados.
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O conhecimento tradicional associado é patrimônio comum do grupo social e tem caráter
difuso, de maneira que toda a comunidade envolvida deve receber os benefícios de sua exploração.

É de fácil constatação que as práticas, processos, atividades e inovações das populações


indígenas e locais exercem significativa contribuição para a preservação da biodiversidade, tendo em
vista o intenso manejo e interação mantidos com ela.

Os conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade também são importantes por


servirem como indicadores de material apropriado à pesquisa, encurtando sua procura pelos
pesquisadores.

A Convenção sobre Diversidade Biológica reconhece que os conhecimentos, inovações e


práticas das comunidades indígenas e locais com estilo de vida tradicionais são relevantes à
conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e deverão ser respeitados e
preservados (art. 8 “j”).

O Princípio 22 da Declaração do Rio (ECO-92) dita que:

As populações indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm
papel fundamental na gestão do meio ambiente e no desenvolvimento, em virtude de seus
conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar de forma apropriada a
identidade, cultura e interesses dessas populações e comunidades, bem como habilitá-las a participar
efetivamente da promoção do desenvolvimento sustentável.

O artigo 8 “j” da Convenção Sobre Diversidade Biológica - CDB estatui que cada parte
contratante deve, na medida do possível:

Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar e manter o conhecimento,


inovações e práticas das comunidades locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais
relevantes à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais
ampla aplicação com a aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e
práticas; e encorajar a repartição equitativa dos benefícios oriundos da utilização desse conhecimento,
inovações e práticas.

O dispositivo transcrito traz a lume dois princípios básicos enunciados pela CDB, quais sejam:
o consentimento prévio fundamentado (significa que as comunidades detentoras de conhecimentos
tradicionais deverão ser previamente consultadas sobre o acesso e utilização), e a justa e equitativa
repartição de benefícios (garante às populações indígenas e locais o direito de receber os benefícios
derivados do acesso e uso de seus conhecimentos).
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Não se deve deixar de ler o art. 17, da Lei 13.123/15, que trata da forma de repartição de
benefícios da exploração do conhecimento tradicional associado, porquanto denota o caráter coletivo
da detenção do conhecimento, mas que, ao seu turno, permite o licenciamento exclusivo do produto
resultante por conta do proprietário intelectual:

Art. 17. Os benefícios resultantes da exploração econômica de produto acabado ou de


material reprodutivo oriundo de acesso ao patrimônio genético de espécies encontradas em
condições in situ ou ao conhecimento tradicional associado, ainda que produzido fora do País, serão
repartidos, de forma justa e equitativa, sendo que no caso do produto acabado o componente do
patrimônio genético ou do conhecimento tradicional associado deve ser um dos elementos
principais de agregação de valor, em conformidade ao que estabelece esta Lei.
§1º Estará sujeito à repartição de benefícios exclusivamente o fabricante do produto
acabado ou o produtor do material reprodutivo, independentemente de quem tenha realizado o
acesso anteriormente.
§ 2º Os fabricantes de produtos intermediários e desenvolvedores de processos oriundos de
acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado ao longo da cadeia produtiva
estarão isentos da obrigação de repartição de benefícios.
§3º Quando um único produto acabado ou material reprodutivo for o resultado de acessos
distintos, estes não serão considerados cumulativamente para o cálculo da repartição de benefícios.
§4º As operações de licenciamento, transferência ou permissão de utilização de qualquer
forma de direito de propriedade intelectual sobre produto acabado, processo ou material reprodutivo
oriundo do acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado por terceiros são
caracterizadas como exploração econômica isenta da obrigação de repartição de benefícios.
§5º Ficam isentos da obrigação de repartição de benefícios, nos termos do regulamento: I - as
microempresas, as empresas de pequeno porte, os microempreendedores individuais, conforme
disposto na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006; e II - os agricultores tradicionais e
suas cooperativas, com receita bruta anual igual ou inferior ao limite máximo estabelecido no inciso
II do art. 3º da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
§6º No caso de acesso ao conhecimento tradicional associado pelas pessoas previstas no §
5o, os detentores desse conhecimento serão beneficiados nos termos do art. 33.
§7º Caso o produto acabado ou o material reprodutivo não tenha sido produzido no Brasil, o
importador, subsidiária, controlada, coligada, vinculada ou representante comercial do produtor
estrangeiro em território nacional ou em território de países com os quais o Brasil mantiver acordo
com este fim responde solidariamente com o fabricante do produto acabado ou do material
reprodutivo pela repartição de benefícios.
§8º Na ausência de acesso a informações essenciais à determinação da base de cálculo de
repartição de benefícios em tempo adequado, nos casos a que se refere o § 7o, a União arbitrará o
valor da base de cálculo de acordo com a melhor informação disponível, considerando o percentual
previsto nesta Lei ou em acordo setorial, garantido o contraditório.
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5. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVO
Constituição Federal Artigo nº 225
Lei 11.105/05 Leitura Integral
Lei 13.123/15 Leitura Integral

6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Esse material é uma fusão das seguintes fontes:

1. Direito Ambiental, coleção Sinopses – Talden Faria e outros – Editora Juspodivm.

2. Resumo de Direito Ambiental Esquematizado – Frederico Amado – Editora Juspodivm.

3. Coleção resumos para concursos, Direito Ambiental – Frederico Amado.

4. Informativos esquematizados do Dizer o Direito – Márcio André Cavalcante Lopes.

5. Anotações pessoais de aulas.

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