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09/04/2018 SEI/GDF - 6799851 - Memorando

GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL


SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
Hospital de Base do Distrito Federal
Diretoria de Atenção à Saúde

Memorando SEI-GDF n.º 65/2018 - SES/HBDF/DAS Brasília-DF, 06 de abril de 2018

PARA: Presidência/IHB

Sr. Presidente,

Hoje, o Instituto Hospital de Base encontra-se com 107 leitos fechados por falta de recursos humanos,
especificamente, enfermeiros e técnicos de enfermagem.

O pronto-socorro, referência em trauma e doenças cardiovasculares, encontra-se, em média, com 150


pacientes internados, chegando a 195 (mais que o dobro da capacidade). Isso se traduz em uma média diária
de 30 pessoas com fraturas esperando cirurgia, 20 pessoas com obstrução renal esperando cirurgia, 20
pessoas com obstruções arteriais ou venosas aguardando cirurgia, 20 pessoas cardiopatas aguardando
implante de marcapasso ou cateterismo de urgência, entre outras tantas patologias, aguardando o cuidado
necessário. Além disso, estão recebendo cuidados inadequados, pois o número de técnicos de enfermagem é
insuficiente para oferecer os cuidados mínimos a que têm direito. Em média, estamos com uma proporção de
20-30 pacientes para cada técnico de enfermagem, número 5x acima do previsto por normas técnicas para
um cuidado adequado. Torna-se impossível realizar procedimentos de medidas de sinais vitais, medição de
débitos e drenos, mobilizações, curativos e outros cuidados básicos. Existe o risco extremamente elevado de
iatrogenias, de erros de medicação, de quedas, etc. Sem falar no desgaste extremo das equipes, com elevado
número de afastamentos por stress ou agravos físicos.

No Centro cirúrgico, a situação também é desesperadora. Apenas 5 salas cirúrgicas são disponíveis
diariamente, das 10 previstas para funcionamento. Somos referência em cirurgia oncológica e neurocirurgia,
com mais de 1000 pessoas aguardando procedimentos cirúrgicos que somente no Hospital de base podem ser
realizados. Pacientes em pós-operatório permanecem dias internados na sala de recuperação anestésica,
aguardando leitos de enfermaria ou de UTI que não estarão disponíveis, pois não dispõe de RH para abri-los.
Em consequência disso, permanecem dias internados sob os cuidados de uma equipe também reduzida que
não possui competência técnica para tal. Nossa sala de recuperação virou uma Unidade de Terapia Intensiva
sem profissionais de terapia intensiva. Dessa forma, além do cuidado inadequado recebido, a ocupação dos
leitos da recuperação anestésica impede a utilização das salas cirúrgicas disponíveis, por falta de leito para
receber o doente em pós-operatório, agravando ainda mais a pouca oferta de salas cirúrgicas.

Nas enfermarias a situação não é diferente. Mais de 100 leitos fechados, correspondendo a um hospital
inteiro de médio porte em muitas cidades brasileiras. Um número elevado de pacientes recebendo cuidados
inadequados por falta de pessoal. Elevado risco de iatrogenias e morte em função da sobrecarga de trabalho
dos profissionais, com pagamento excessivo de horas extras. Elevado número de afastamentos e esgotamento
físico e mental dos servidores. Tempo de internação prolongado, devido a complicações ou falta de pessoal
para os encaminhamentos adequados de exames e pareceres, diminuindo ainda mais a oferta de leitos, já
bastante restrito. Risco, desnecessário, de infecção hospitalar em razão da internações prologadas.

Estima-se que, otimizando os processos, pode-se ter um aumento de 20% na capacidade dos leitos, sem a
necessidade física da cama. Entretanto há a necessidade de pessoas.

Apesar do cenário caótico, descrito anteriormente, com a otimização dos recursos existentes (humanos e
materiais) e participação de voluntários, conseguimos alguns feitos significativos do ponto de vista de
assistência, entre eles, o atendimento de todos pacientes da fila do complexo regulador do Distrito Federal
que aguardavam primeira consulta em oncologia. Com a aquisição de insumos e equipamentos, conseguimos

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reduzir a falta de medicações, especialmente, quimioterápicos. Conseguimos manter uma média de 20 a 30


cirurgias por dia, incluindo cirurgias eletivas e de emergência.

A situação tornar-se-á pior a partir da suspensão dos novos processos seletivos para contratação de pessoal.
Durante os últimos anos a precária situação já exposta vinha se mantendo às custas de mais de um milhão de
reais mensais em gastos com horas extras, findadas a partir do mês de abril. A não substituição dessas horas
pelos contratos celetistas trarão como consequências imediatas:

• Fechamento adicional de 71 leitos gerais e mais 10 leitos de UTI (totalizando 184 leitos fechados,
sendo 164 gerais e 20 de UTI)

• Redução da disponibilidade de salas cirúrgicas por falta de pessoal de enfermagem.

• Redução das cirurgias eletivas por falta de disponibilidade das salas e de leitos para internação pós-
operatória.

• Aumento do tempo de permanência de pacientes no pronto-socorro, piorando o status de superlotação,


com risco real de falta de segurança e desassistência aos pacientes.

• Necessidade de interrupção das atividades ambulatoriais, com vista a realocação de pessoal (médico,
enfermagem, áreas administrativas, etc) para áreas críticas e internação (Pronto-socorro, UTI e Centro
cirúrgico)

• Aumento do risco de iatrogenias, e consequente morbimortalidade, por deficiência de assistência.

• Risco aumentado à saúde, integridade física e segurança profissional dos servidores do hospital, que
já estão atuando no limite das condições humanas de sobrecarga.

• Retorno da fila de espera de oncologia, com possibilidade de incapacidade de primeiro atendimento


dentro de 60 dias.

• Essa interrupção será realizada de forma escalonada, objetivando garantir a segurança mínima dos
pacientes internados em áreas críticas, que recebem os pacientes mais graves, podendo chegar à suspensão
total dos serviços ambulatoriais e eletivos. (Bandeira vermelha, conforme Portaria SES 386/2017)

Dessa forma, a situação ora apresentada desnuda a necessidade emergencial e absoluta de resolução
de todos entraves burocráticos e jurídicos, que estão impedindo a admissão desses profissionais, os quais
atuarão na preservação da vida e da saúde dos pacientes sob os cuidados desse nosocômio, interrompendo
este ominoso ciclo, que por anos vem limitando a qualidade na assistência ao usuário do Sistema Único de
Saúde.

Informo ainda, que tal situação foi encaminhada ao Complexo Regulador do Distrito Federal, para
providências quanto à definição de estratégias de contingência referente à incapacidade momentânea desse
Hospital em desempenhar, com as condições mínimas de segurança e qualidade, o papel de referência
terciária para diversos serviços dentro e fora do Distrito Federal.

Resumindo, a falta de recursos humanos gera um efeito em cascata em todas as áreas do hospital, das
mais simples até as mais críticas. Começando pelo pronto-socorro, onde o cenário é bem semelhante ao de
ambientes de guerra, com índices de morbimortalidade elevados, até as enfermarias, onde os pacientes
deixam de receber cuidados básicos, como administração de medicação e sinais vitais, a que tem direito.

Em razão de todo o exposto, resta claro e evidente que o IHB não tem medido esforços na melhoria dos
processos de trabalho e de aquisição de insumos e equipamentos, e busca por ferramentas de contratação de
pessoal, legalmente estabelecidas, mas que necessita, urgentemente, de solução para a contratação de novos
profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros profissionais), a fim de que o
Hospital não entre em verdadeiro colapso com a consequente situação irreversível de mortes de pacientes.

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Atenciosamente,

Rodrigo Caselli Belém


Diretor de Atenção à Saúde/IHB

Documento assinado eletronicamente por RODRIGO CASELLI BELEM - Matr.0153141-7,


Diretor(a) de Atenção à Saúde, em 09/04/2018, às 16:20, conforme art. 6º, do Decreto n°
36.756, de 16 de Setembro de 2015, publicado no Diário Oficial do Distrito Federal nº 180,
quinta-feira, 17 de setembro de 2015.

A auten cidade do documento pode ser conferida no site:


h p://sei.df.gov.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0
verificador= 6799851 código CRC= 2570F9C2.

"Brasília - Patrimônio Cultural da Humanidade"

Setor de Áreas Isoladas Norte (SAIN) - Parque Rural sem número - Bloco B - Bairro Asa Norte - CEP 70086900 - DF

00060-00098906/2018-70 Doc. SEI/GDF 6799851

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