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Esse clássico documento descreveu as funções de cada nível de atenção e as relações que
deveriam existir entre eles e constituiu a base da regionalização dos serviços de saúde e dos
sistemas de serviços de saúde organizados em bases populacionais, tendo influenciado a
organização desses sistemas em vários países do mundo.
Em 1979, a Assembléia Mundial da Saúde instou todos os países membros a definir e pôr
em prática estratégias nacionais, regionais e globais, tendentes a alcançar a meta de “Saúde
para Todos no ano 2000” (SPT 2000).
Quando a Organização Mundial da Saúde propôs sua agenda para operacionalização das
metas acordadas em Alma-Ata, os países industrializados já as haviam alcançado em
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grande parte, enquanto a maioria dos países em desenvolvimento ainda estava longe de
atingi-las. Isso gerou problemas de conceituação e, por conseqüência, de implementação
(Vuori, 1984).
Por isso, há três interpretações principais da atenção primária à saúde (Mendes, 1999): a
atenção primária à saúde como atenção primária seletiva, a atenção primária à saúde como
o nível primário do sistema de serviços de saúde e a atenção primária à saúde como
estratégia de organização do sistema de serviços de saúde. Essas três decodificações da
atenção são encontradas, em vários países e, até mesmo, convivem dentro de um mesmo
país.
A interpretação atenção primária à saúde como atenção primária seletiva entende-a como
um programa específico destinado a populações e regiões pobres a quem se oferecem,
exclusivamente, um conjunto de tecnologias simples e de baixo custo, providas por pessoal
de baixa qualificação profissional e sem a possibilidade de referência a níveis de atenção de
maior densidade tecnológica (Unger e Killingsworth, 1986).
Agregue-se, a isso, o fato de que o Ministério da Saúde propõe como política nacional de
atenção primária à saúde, a estratégia da saúde da família, denominada de Programa de
Saúde da Família (PSF).
O primeiro contacto implica a acessibilidade e o uso de serviços para cada novo problema
ou novo episódio de um problema para os quais se procura atenção à saúde.
A focalização na família implica considerar a família como o sujeito da atenção o que exige
uma interação da equipe de saúde com esta unidade social e o conhecimento integral de
seus problemas de saúde.
A mesma autora, Starfield (2000), estudando o sistema de serviços de saúde dos Estados
Unidos, onde, ainda, não predomina a organização pela atenção primária à saúde, mostrou
que, apesar de ser o país que mais gasta recursos no setor, seus resultados sanitários são
pobres em relação a outros doze países ricos: é o último colocado em baixo peso ao nascer,
em mortalidade infantil e em anos de vida potencial perdidos; e é o 11º no ranking de
mortalidade pós-neonatal. E que, a terceira causa de morte no país é por causas
iatrogênicas, assim distribuídas: 106.000 mortes/ano por efeitos adversos de medicamentos;
80.000 mortes/ano por infecções hospitalares; 27.000 mortes/ano por erros em hospitais; e
12.000 mortes/ano por cirurgias desnecessárias.
Ainda que a introdução do PSF no Brasil seja muito recente, começa a tornar evidente a
eficácia desse modelo de atenção primária à saúde.
É o que constatou estudo sobre a experiência do PSF no estado do Ceará, onde os principais
benefícios do programa foram a melhoria do acesso aos serviços de atenção básica à saúde,
da relação das pessoas com a equipe do PSF e de alguns indicadores de saúde (Andrade e
outros, 1998).
Além dessas evidências, a estruturação de sistemas de serviços de saúde com base atenção
primária à saúde é uma das exigências das concepções modernas dos sistemas integrados de
serviços de saúde.
Além da organização por componentes isolados ou por uma rede contínua – o que
caracteriza mais fortemente os nomes de fragmentação e integração – essas formas
alternativas de organização dos sistemas de serviços de saúde, apresentam outra diferença
marcante, dada pelos fundamentos conceituais que sustentam a organização dos sistemas de
serviços de saúde (Mendes, 2002a).
Nos sistemas fragmentados de serviços de saúde, vige uma visão de uma estrutura
piramidal, onde os pontos de atenção à saúde devem ser organizados por níveis
hierárquicos de atenção à saúde, segundo uma complexidade crescente que vai de um nível
de baixa complexidade, o nível primário, até um nível de maior complexidade, o nível
quaternário.
Esta concepção de sistema hierarquizado, organizado por níveis de atenção segundo uma
complexidade crescente, apresenta sérios problemas.
Será mesmo que prestar serviços de qualidade na atenção básica à saúde, buscando
promover a saúde de indivíduos, famílias e grupos sociais – o que envolve um amplo
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Este trabalho mantém a expressão atenção primária à saúde por considerá-la mais adequada às normas
internacionais, mas reconhece que atenção básica à saúde poderia expressar melhor uma estratégia de atenção
não baseada nos níveis de complexidade.
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Uma comparação dos valores da tabela SUS com valores de procedimentos médicos pagos
nos Estados Unidos, sugere que há, no sistema SUS, uma sobrevalorização de
procedimentos de alta densidade tecnológica em relação aos procedimentos cognitivos
característicos da atenção básica à saúde (Janett, 2002).
Numa rede, conforme entende Castells (2000), o espaço dos fluxos está constituído por
alguns lugares intercambiadores que desempenham o papel coordenador para a perfeita
interação de todos os elementos integrados na rede e que são os centros de comunicação e
por outros lugares onde se localizam funções estrategicamente importantes que constróem
uma série de atividades em torno da função-chave da rede e que são os nós da rede.
4º
3º
2º
1º
A Figura 1 aponta para mudança radical da organização dos sistemas de serviços de saúde
no âmbito microeconômico que não se pode limitar a uma inversão do modelo de atenção,
como é proposto freqüentemente. Porque não se trata, apenas, de inverter a forma
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Por fim, o dilema entre sistemas fragmentados e sistemas integrados contém dois modos
alternativos de organizar os serviços de saúde: sistemas voltados para a atenção a condições
agudas, inerentes à fragmentação, ou sistemas voltados para a atenção a eventos crônicos,
próprios da integração (World Health Organization, 2001).
Para entender a diferença entre essas duas formas de organizar os sistemas de serviços de
saúde deve-se, primeiro, marcar as significações de condições agudas e condições crônicas.
As condições crônicas, contudo, não devem ser confundidas com as doenças crônicas,
ainda que possa haver uma certa relação entre elas, porque o que define uma condição
crônica é, fundamentalmente, o seu ciclo de vida que deve ser superior a três semanas
(World Health Organization, 2001); assim, muitas doenças infecciosas, como a
tuberculose, a hanseníase e a AIDS, pelo seu tempo de duração, devem ser consideradas
como condições crônicas e enfrentadas como tais.
Dadas as características singulares dessas condições agudas e crônicas, seus manejos, pelos
sistemas de serviços de saúde, são inteiramente diversos.
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Um dos problemas centrais da crise dos sistemas de serviços de saúde modernos consiste
no enfrentamento das condições crônicas na mesma lógica das condições agudas, ou seja,
através de tecnologias destinadas a responder aos momentos agudos dos agravos -
normalmente autopercebidos pelas pessoas –, através da atenção à demanda espontânea,
principalmente, em unidades ambulatoriais de pronto atendimento ou hospitalares. E
desconhecendo a necessidade imperiosa de uma atenção contínua nos momentos
silenciosos dos agravos quando as condições crônicas insidiosamente evoluem.
O mais dramático é que as pessoas comuns e correntes valorizam e desejam este sistema
voltado para a atenção às condições agudas do qual são as grandes vítimas. Os resultados
dessa forma de atenção das condições crônicas através de sistemas de serviços de saúde
voltados para a atenção a eventos agudos são desastrosos.
Outro dado que mostra a irracionalidade da atenção aos diabéticos na lógica de uma
condição aguda, está no fato de que o custo de um único episódio de internação por
diabetes corresponde a uma atenção contínua ambulatorial de 10 a 20 diabéticos durante
um ano (England, Ken e Sancho, 1997).
Os sistemas de serviços de saúde voltados para a atenção às condições crônicas são aqueles
que desenvolvem um enfoque sistemático e planejado para atender às necessidades dos
eventos agudos e crônicos que se manifestam ao longo da evolução de uma condição ou
doença, provendo intervenções de promoção da saúde, de prevenção das doenças ou danos,
de contenção do risco evolutivo, de tratamento, de reabilitação, de manutenção e de
suporte individual e familiar para o autocuidado, através de uma rede integrada de pontos
de atenção à saúde que presta uma atenção contínua.
Disponível em:
http://psico2008.wch.com.br/file.php?file=/1/Saude_Coletiva/recorte_APS_SUS_Mendes.doc
Acesso em:
05/Set/2008