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O ALIMENTO NATURAL
As rações são utilizadas em cultivos semi-intensivos para aumentar a produção além dos
níveis suportados pela produtividade natural do viveiro. Nestes sistemas a contribuição
do alimento natural na dieta dos camarões é bastante significativa, podendo alcançar até
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85% (Nunes et al. 1997). Em viveiros de engorda que operam com produtividades
abaixo de 1,0 ton/ha/ciclo, as rações satisfazem entre 23% e 47% dos requerimentos
nutricionais do Penaeus vannamei, sendo o restante suprido pelo alimento natural
(Anderson et al. 1987).
O tratamento do solo deve ser iniciado logo após a despesca, com a secagem natural do
viveiro por um período mínimo de 7 a 10 dias. O ponto ideal de secagem ocorre quando
for possível caminhar sobre o viveiro. O solo deve ser revolvido com pás ou tratores para
permitir a aeração, secagem e posterior fixação de algas bentônicas, benéficas ao cultivo.
A calagem, que serve para neutralizar a acidez da água e do solo, favorecendo a
mineralização, é realizada com a aplicação de cal virgem ou calcário em solos ácidos (pH
do solo 6,5), antes e depois do revolvimento do viveiro (razão de 1:1; Fig.1).
Pelo fato dos viveiros serem sistemas dinâmicos, apresentando variações ecológicas
significativas, os cultivadores devem planejar métodos para monitorar a disponibilidade
do alimento natural. Isto permite ajustar as taxas de alimentação individualmente para
cada viveiro, de acordo com suas características físicas, químicas e ecológicas. Poliquetas
e (ou) a contagem de algas (Tabela 2) são geralmente utilizados como indicadores da
produtividade natural. Em geral, a disponibilidade de presas como poliquetas, anfípodos
e copépodos é maior nas fases iniciais da engorda, decrescendo gradativamente na
medida em que a biomassa cultivada e o comportamento predador da população de
camarões aumentam. Por outro lado, nos estágios intermediário e final do cultivo as
taxas de alimentação são suficientemente elevadas para suportar a densidade e
promover o crescimento de microalgas, como diatomáceas e clorofícias.
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A QUALIDADE DA ÁGUA
Figura 3 - Variações nos níveis de qualidade da água do fundo de um viveiro de engorda de camarão
Em dias muito nublados o consumo de ração pode também cair, mesmo quando
temperaturas elevadas (28ºC a 29ºC) são detectadas. Isto ocorre devido as baixas taxas
fotossintéticas, gerando concentrações elevadas de dióxido de carbono (CO2) e amônia
na água, como também níveis de OD abaixo do normal.
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Tabela 2 - Densidade ideal de alimento natural em viveiros semi-intensivos (adaptado de Clifford 1994). O nível
ideal de poliquetas é apresentado como biomassa do peso seco (Nunes e Parsons 2000b).
Tabela 3 - Principais parâmetros de qualidade da água, freqüência de monitoramento e níveis ideais recomendados
para o cultivo do Penaeus vannamei. Adaptado de Clifford (1992, 1994).
Tabela 4 - Ajustes nas taxas de alimentação baseado nos níveis de temperatura, oxigênio dissolvido* e pH (fonte:
Clifford 1992). A tabela abaixo deve ser seguida sempre ajustando as taxas de alimentação com base nos menores
níveis observados de qualidade da água.
A QUALIDADE DA RAÇÃO
As taxas de ingestão alimentar dos peneídeos são também reguladas pelo seus
requerimentos de energia. Quando as reservas energéticas aumentam, a capacidade
máxima de armazenamento da glândula digestiva é atingida e o consumo alimentar é
interrompido. Os camarões podem utilizar tanto proteínas, como carboidratos ou lipídeos
para obter a energia necessária para seus processos fisiológicos.
O TAMANHO DO CAMARÃO
Camarões da espécie Penaeus vannamei com 0,1g, 0,5g e 5,0g, por exemplo, requer
aproximadamente 120ppm (partes por mil), 60ppm e 0ppm de vitamina C,
respectivamente (Castille e Lawrence 1996). O P. brasiliensis com 0,9g requer 10% a
mais de proteína do que um indivíduo com 7,9g (Liao et al. 1986; Tabela 5).
Tabela 5 - Variações nos níveis protéicos recomendados para rações peletizadas de camarões marinhos, cultivados
em sistemas completamente dependentes de alimento artificial (Akiyama et al. 1992).
Na prática, aumentos no peso do camarão devem ser compensados com menores taxas
diárias de alimentação. Em contrapartida, mesmo com a mortalidade, a biomassa
estocada eleva-se com a evolução do ciclo, e assim as refeições ministradas devem ser
maiores. Geralmente, nas primeiras 4 semanas de cultivo os camarões consomem
apenas cerca de 5% a 10% do total de ração utilizada durante todo ciclo. Neste período,
pelo fato dos camarões serem muito pequenos e dispersos por todo viveiro, as taxas de
alimentação devem ser fixadas em níveis constantes. A compilação de 8 tabelas de
alimentação utilizadas no cultivo semi-intensivo do Penaeus vannamei (Jory 1995) revela
taxas diárias de arraçoamento variando de 9,7% (camarões de 1g a 4g), 5,1%
(camarões de 5g a 6g), 3,8% (camarões de 7g a 9g) a 3,1% (camarões de 10g a 12g)
do peso médio corporal da população estocada.
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Figura 4 - Níveis máximos de ingestão de uma ração peletizada pelo Penaeus subtilis. Dados apresentados como
consumo individual por hora (CI, g/h) e consumo por hora relativo ao peso corporal (CPC, g/h; fonte: Nunes e
Parsons 2000a).
Tabela 6 - Intervalos da atividade de muda dos camarões peneídeos ao longo do seu crescimento em viveiros
(fonte: Manila, Filipinas).
A Freqüência Alimentar
As rações formuladas começam a perder suas características físicas e químicas logo após
a imersão na água (Tabela 7). Intervalos de arraçoamento muito prolongados podem
comprometer a atratibilidade, a palatibilidade e a estabilidade da ração, forçando o
animal a procurar alimento natural. Este pode tornar-se escasso sob altas densidades de
estocagem ou nos estágios finais do cultivo. Os arraçoamentos múltiplos ajudam a
manter as características nutricionais e a integridade física da ração, além de uma
melhor disponibilidade de alimento natural ao longo do ciclo .
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Tabela 7 - Perda percentual de nutrientes reportada para uma ração peletizada para camarão, após 1 h de imersão
na água. Ração contendo 15% de glúten como aglutinante (Cuzon et al. 1982).
Os Horários de Alimentação
É comum associar a atividade alimentar dos camarões com o hábito de algumas espécies
se enterrarem no substrato durante o dia e emergirem no período noturno. Na verdade,
nem todas as espécies de peneídeos apresentam este padrão de enterramento (Tabela
8). Alguns peneídeos são noturnos, mas emergem ocasionalmente durante o dia,
enquanto outros raramente se enterram. Independente do comportamento de
enterramento, em viveiros, o alimento pode ser encontrado no estômago dos camarões
praticamente a qualquer hora do dia e noite (Wassenberg e Hill 1987; McTigue e Feller
1989; Reymond e Lagardère 1990; Nunes et al. 1996).
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Tabela 9 - Horários, freqüência e percentuais de alimentação, simulando variações no ritmo alimentar ao longo da
engorda do Penaeus japonicus (fonte: Absesamis 1989).
Os Locais de Distribuição
Os camarões são mais vagarosos do que os peixes e também não se agregam da mesma
forma que peixes cultivados, em resposta a presença de ração. Isto requer uma
distribuição de ração cuidadosa e uniforme para evitar perdas, mesmo que ofertada em
bandejas. Apesar de não se conhecer ao certo os padrões de distribuição espacial dos
camarões em viveiros, observações indicam que eles apresentam um hábito de
dispersão. Os peneídeos não são territorialistas (Dall et al. 1990), mas geralmente
evitam um contato prolongado com outros indivíduos, enterrando-se ou nadando para
trás de forma evasiva. Os camarões entretanto, podem freqüentemente agregar-se em
áreas onde há turbulência promovida pela ação dos ventos ou com um alto fluxo de
água, como em áreas próximas as comportas.
Para os estágios iniciais de juvenil, o arraçoamento torna-se mais eficaz se a ração for
ministrada próxima aos taludes. Para os estágios mais avançados de crescimento a ração
deve ser ofertada em toda a área do viveiro. Portanto, a forma mais eficiente de
distribuição de ração, seja esta feita por bandejas ou voleio, é aquela que permite uma
oferta uniforme do produto em toda área de cultivo, evitando assim perdas e competição
alimentar entre a população de camarões. Deve-se entretanto, eliminar a oferta de ração
em regiões do viveiro onde há muito acúmulo de lama, como nos canais internos do
viveiro. Nestas áreas, pode ocorrer a formação de compostos ácidos sulfatados, como o
sulfato de hidrogênio (H2S). Estes solos geralmente apresentam características
anaeróbicas e os camarões costumam evita-los. Caso necessário, aeradores podem ser
direcionados para estas regiões, remanejando de forma simultânea a alimentação para
outras áreas. Áreas muito rasas com temperatura elevada podem também afastar os
camarões do local de alimentação. Recomendações sobre o espaçamento de bandejas em
viveiros e as trajetórias de alimentação por lanço são apresentadas nas seções seguintes.
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OS MÉTODOS DO ARRAÇOAMENTO
Bandejas de Alimentação
Em países da América do Sul e Central, cada vez mais os cultivadores estão passando a
utilizar bandejas de alimentação (ou comedouros) como método exclusivo para a oferta
de ração em viveiros. Esta prática é mais laboriosa quando comparada com a distribuição
por voleio, normalmente requerendo até um arraçoador para cobrir cada 6 ha de área
cultivada por dia. O uso de bandejas entretanto, é justificável pois permite observações
diretas do grau de apetite dos camarões. Isto pode levar a uma redução significativa nos
desperdícios de ração, melhorando os índices de conversão alimentar e os níveis de
qualidade da água e do solo de viveiros de engorda.
As bandejas podem ser fabricadas da virola de pneus, parte central do pneu constituída
de aço e borracha, na base da qual é fixada uma tela de náilon com uma abertura de 1,3
mm. O número de bandejas introduzidas em cada viveiro deve ser proporcional a
densidade de camarões utilizada e ao ganho de biomassa que ocorre durante a engorda.
Em sistemas semi-intensivos, cada comedouro possui uma área de influência entre
300m2 e 400m2. Portanto nestas condições, as bandejas devem ser alocadas no fundo
do viveiro a uma densidade de 25 a 30 unidades/ha, ancoradas em varas ao longo de
toda extensão da área de cultivo. As bandejas devem ser posicionadas a uma distância
de 20m uma da outra e afastadas de 5m a 10m dos taludes.
Nas primeiras duas semanas de engorda, a ração deve ser distribuída por voleio próximo
aos taludes e uma pequena quantidade concentrada em bandejas localizadas no
perímetro do viveiro. Durante este estágio, recomenda-se o uso de 20 bandejas/ha. A
partir da 2° semana, deve ser iniciada a distribuição de ração em todos os comedouros.
A ração deve ser distribuída e monitorada nas bandejas por meio de caiaques, movidos a
remo. Estes devem ser equipados com um container para possibilitar a coleta simultânea
do alimento não consumido. Para medir rapidamente a quantidade de ração a ser
administrada em cada bandeja são utilizados vasilhames plásticos de 50g, 100g, 150g,
200g e 250g.
Após o término de cada ciclo de cultivo, as bandejas devem ser alocadas para outras
áreas do viveiro, a fim de permitir a recuperação do solo nos locais onde estas eram
previamente posicionadas (Fig. 6). Nestas regiões, deve ser aplicado calcário ou cal
hidratada, logo após a despesca e a secagem do viveiro.
Figura 6 - Poluição orgânica em uma área de alimentação, detectada após a drenagem do viveiro.
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Lanço ou Voleio
No voleio da ração, atenção especial deve ser dedicada a direção predominante dos
ventos. A ração sempre deve ser ofertada a favor dos ventos, de forma a minimizar
perdas. Nos três primeiros dias inicias da engorda, deve-se priorizar a distribuição do
alimento na área do viveiro em que os camarões foram liberados (Fig.7).
Figura 7 - Dispersão de ração por voleio nos estágios iniciais da engorda, do povoamento ao 30º dia de cultivo
(Fonte: Goddard 1996).
Durante este período os animais podem ficar confinados em uma única área, até sua
aclimatação e posterior dispersão no novo ambiente de cultivo. Do 4º ao 30º dia da
engorda, o alimento deve ser distribuído a uma distância de 5m a 7m dos taludes,
compreendendo todos os lados do viveiro (Fig. 3.7). Do 31º dia de cultivo em diante,
devem ser seguidas trajetórias em zigue-zague, paralelas e perpendiculares aos maiores
lados do viveiro. Neste caso, estas trajetórias podem ser alternadas entre dias e
horários, conforme apresentado na Fig. 8.
Figura 8 - Dispersão alternada de ração por voleio, do 31º dia da engorda em diante (fonte: Clifford 1992).
Este artigo continua na próxima edição. As referências bibliográficas podem ser solicitadas diretamente ao autor
através do e-mail: albertojpn@agribrands.com.br
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Edição 64:
- A freqüência alimentar
- Os horários de alimentação
- Os locais de distribuição
- Os métodos de arraçoamento: bandejas de alimentação; lanço ou voleio.
Armazenando a Ração
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