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27/03/2018 Alimentação para Camarões Marinhos Parte III

Alimentação para Camarões Marinhos


Parte II
Desenvolvendo um plano alimentar
Autor Alberto J. P. Nunes, Ph.D. Gerente Técnico
Aqüicultura Agribrands do Brasil Ltda. albertojpn@agribrands.com.br

Desenvolvendo um plano alimentar

O problema central que envolve o uso de rações formuladas em operações de cultivo de


camarão, é definir quando e quanto deste alimento deve ser aplicado. Nas operações de
cultivo, as rações podem ser ministradas exclusivamente em bandejas de alimentação, as
quais são imersas na água e inspecionadas após um certo período, permitindo
estimativas do consumo alimentar da população cultivada. As taxas de alimentação
podem também ser determinadas empiricamente, em função de estimativas de
crescimento e sobrevivência dos camarões estocados e das taxas de conversão
alimentar.

Estas práticas, quando não bem implementadas, ocasionalmente causam excessos na


alimentação. Isto leva a perdas econômicas e acarreta problemas nos níveis de qualidade
da água e do solo dos viveiros de produção, gerando problemas que vão de uma maior
incidência de enfermidades, a baixas taxas de crescimento, sobrevivência e conversão
alimentar dos camarões cultivados.

Os problemas associados com o uso inadequado de rações na carcinicultura, iniciam-se


com a deposição de ração não consumida no fundo do viveiro. Este material estimula a
multiplicação de fitoplâncton na água e a atividade bacteriana, que por sua vez aumenta
as taxas de consumo de oxigênio. Com o incremento de material acumulado, derivado de
ração não consumida, há uma maior demanda por oxigênio, o qual pode tornar-se
limitante no meio. Em última instância, os processos de degradação de matéria orgânica
e a absorção de nutrientes são interrompidos. Isto acarreta a eutrofização ou
enriquecimento do ambiente de cultivo, causando poluição no viveiro e em áreas
adjacentes a fazenda.

Os viveiros de camarões são sistemas dinâmicos, onde ocorrem diariamente uma


multiplicidade de reações e interações. Adicionado a isto, a variabilidade no
comportamento e hábito alimentar dos camarões peneídeos em viveiros é ainda pouco
compreendida. No desenvolvimento de um plano alimentar, estes aspectos devem ser
considerados, além de fatores, como a disponibilidade de alimento natural, os níveis de
qualidade da água, a freqüência alimentar e os horários, os locais e os métodos de
distribuição de ração. A otimização do uso dos alimentos, tanto o natural quanto o
artificial, passa necessariamente pelo monitoramento e acompanhamento de cada um
dos fatores do ciclo de produção.

Os Fatores que Afetam o Consumo

A atividade alimentar dos camarões peneídeos obedece a biorritmos, estes variando de


acordo com cada espécie. O apetite é por sua vez regulado por vários fatores, incluindo
parâmetros fisiológicos, como idade (tamanho), sexo, muda, doenças; fatores físicos e
ambientais, como tipo de substrato, disponibilidade de alimento natural, temperatura e
concentração de oxigênio na água; e, fatores com um componente temporal, como
sazonalidade e hora do dia e noite. Os efeitos dos fatores mais significativos para
alimentação dos peneídeos na fase de engorda, são discutidos nas seções seguintes.

O ALIMENTO NATURAL

As rações são utilizadas em cultivos semi-intensivos para aumentar a produção além dos
níveis suportados pela produtividade natural do viveiro. Nestes sistemas a contribuição
do alimento natural na dieta dos camarões é bastante significativa, podendo alcançar até

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85% (Nunes et al. 1997). Em viveiros de engorda que operam com produtividades
abaixo de 1,0 ton/ha/ciclo, as rações satisfazem entre 23% e 47% dos requerimentos
nutricionais do Penaeus vannamei, sendo o restante suprido pelo alimento natural
(Anderson et al. 1987).

Em sistemas mais intensivos, a contribuição do alimento natural diminui, mas ainda é


considerada significativa (> 25%). Na prática, quanto mais intensivo for o sistema,
menor será a contribuição do alimento natural para o crescimento do animal, e assim
maiores serão as quantidades de ração necessárias para produzir um kg de camarão.

Na carcinicultura, a calagem, a fertilização da água e a implementação de práticas para


incrementar a produtividade natural são tão importantes quanto o uso de uma ração
nutricionalmente completa e bem balanceada. Estratégias como a montagem de telas no
viveiro para fixação de organismos é um método simples que traz bons resultados. A
técnica consiste na montagem de telas, feitas de sacos velhos de ração, abertas em toda
sua extremidade, instaladas no viveiro por meio de estacas de madeira. As telas devem
ser estrategicamente posicionadas no viveiro em toda sua extensão, de forma que não
comprometa a circulação d’água. Deve ser também observado a direção predominante
do vento, para evitar a retenção de material orgânico, o qual é depositado nos taludes.

O tratamento do solo deve ser iniciado logo após a despesca, com a secagem natural do
viveiro por um período mínimo de 7 a 10 dias. O ponto ideal de secagem ocorre quando
for possível caminhar sobre o viveiro. O solo deve ser revolvido com pás ou tratores para
permitir a aeração, secagem e posterior fixação de algas bentônicas, benéficas ao cultivo.
A calagem, que serve para neutralizar a acidez da água e do solo, favorecendo a
mineralização, é realizada com a aplicação de cal virgem ou calcário em solos ácidos (pH
do solo 6,5), antes e depois do revolvimento do viveiro (razão de 1:1; Fig.1).

Figura 1- Revolvimento e calagem do solo de um viveiro de engorda de camarão

A fertilização deve ser iniciada simultaneamente ao abastecimento do viveiro, porém


antes do povoamento. Devem ser aplicados fertilizantes inorgânicos, como uréia, SPT
(superfosfato triplo), ou ainda MAP (fosfato monoamônia). A uréia pode ser utilizada a
razão de 3‰ (partes por mil) e o MAP a razão de 0,3‰, aplicados em 2 dosagens, em
intervalos de 3 dias (Rocha e Maia 1998). Um programade fertilização a base de uréia e
SPT é apresentado na tabela 1. Em águas com baixas concentrações de sílica convém
aplicar silicato de sódio (750 cm3/ha), a fim de estimular o crescimento de diatomáceas.

Pelo fato dos viveiros serem sistemas dinâmicos, apresentando variações ecológicas
significativas, os cultivadores devem planejar métodos para monitorar a disponibilidade
do alimento natural. Isto permite ajustar as taxas de alimentação individualmente para
cada viveiro, de acordo com suas características físicas, químicas e ecológicas. Poliquetas
e (ou) a contagem de algas (Tabela 2) são geralmente utilizados como indicadores da
produtividade natural. Em geral, a disponibilidade de presas como poliquetas, anfípodos
e copépodos é maior nas fases iniciais da engorda, decrescendo gradativamente na
medida em que a biomassa cultivada e o comportamento predador da população de
camarões aumentam. Por outro lado, nos estágios intermediário e final do cultivo as
taxas de alimentação são suficientemente elevadas para suportar a densidade e
promover o crescimento de microalgas, como diatomáceas e clorofícias.

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A QUALIDADE DA ÁGUA

A distribuição de camarões em viveiros é influenciada por vários elementos de qualidade


da água. Ao meio-dia, quando a temperatura da água é mais elevada, os camarões
migram para regiões mais profundas do viveiro, onde se observam temperaturas mais
baixas. Os camarões evitam áreas onde os níveis de oxigênio dissolvido (OD; Fig. 2) são
baixos ou onde existe um acúmulo de amônia ou sulfato de hidrogênio (H2S). A
distribuição de ração nestas áreas deve ser evitada. Deve-se tomar providências para
melhorar a circulação da água no viveiro, a fim de prevenir o acúmulo localizado de
sedimento com o decorrer do cultivo.

Figura 2 - Monitoramento dos níveis de oxigênio desenvolvidos em um viveiro de engorda de camarão

Tabela 1- Procedimento de fertilização inorgânica à base de uréia e superfosfato triplo (SPT).

Figura 3 - Variações nos níveis de qualidade da água do fundo de um viveiro de engorda de camarão

Normalmente o consumo alimentar dos camarões aumenta de forma proporcional aos


incrementos de temperatura e OD, observados ao longo do dia. Portanto, uma atividade
alimentar mais acentuada ocorre no final da tarde, quando os níveis destes parâmetros
alcançam valores mais elevados (Nunes 1998; Fig. 3).

Em dias muito nublados o consumo de ração pode também cair, mesmo quando
temperaturas elevadas (28ºC a 29ºC) são detectadas. Isto ocorre devido as baixas taxas
fotossintéticas, gerando concentrações elevadas de dióxido de carbono (CO2) e amônia
na água, como também níveis de OD abaixo do normal.

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Tabela 2 - Densidade ideal de alimento natural em viveiros semi-intensivos (adaptado de Clifford 1994). O nível
ideal de poliquetas é apresentado como biomassa do peso seco (Nunes e Parsons 2000b).

Tabela 3 - Principais parâmetros de qualidade da água, freqüência de monitoramento e níveis ideais recomendados
para o cultivo do Penaeus vannamei. Adaptado de Clifford (1992, 1994).

É importante que os principais parâmetros de qualidade da água sejam monitorados


(Tabela 3), a fim de que as taxas de alimentação possam ser ajustadas com base nestas
variáveis (Tabela 4).

Tabela 4 - Ajustes nas taxas de alimentação baseado nos níveis de temperatura, oxigênio dissolvido* e pH (fonte:
Clifford 1992). A tabela abaixo deve ser seguida sempre ajustando as taxas de alimentação com base nos menores
níveis observados de qualidade da água.

A QUALIDADE DA RAÇÃO

Os processos iniciais da alimentação dos camarões peneídeos são a detecção, a seleção e


a ingestão do alimento. Estes fatores afetam diretamente o consumo alimentar e estão
associados a qualidade e ao balanço nutricional da ração. Os crustáceos de uma forma
geral utilizam sinais químicos ou substâncias liberadas na água, para se orientar em
direção ao alimento. Quimioatratores ou estimulantes químicos adicionados as rações
tem a capacidade de reduzir o tempo de localização do alimento, resultando em uma
menor lixiviação de nutrientes e em maiores taxas de ingestão alimentar. Estas
substâncias são encontradas em extratos e farinhas produzidas de peixe, moluscos ou
crustáceos (e.g., farinha e solúveis de peixe, farinha e óleo de lula, farinha da cabeça de
camarões, etc). Por outro lado, os lipídeos de origem marinha presentes na farinha de
peixe podem ser susceptíveis a oxidação, especialmente se nenhum anti-oxidante tenha
sido adicionado a ração durante sua manufatura. Isto pode levar a rancidez do produto e
funcionar como um supressor da ingestão.

As taxas de ingestão alimentar dos peneídeos são também reguladas pelo seus
requerimentos de energia. Quando as reservas energéticas aumentam, a capacidade
máxima de armazenamento da glândula digestiva é atingida e o consumo alimentar é
interrompido. Os camarões podem utilizar tanto proteínas, como carboidratos ou lipídeos
para obter a energia necessária para seus processos fisiológicos.

Entretanto, ao contrário dos carboidratos, as proteínas são um dos componentes mais


caros de uma ração. Na formulação de uma dieta nutricionalmente completa e de menor
custo, o objetivo principal é utilizar os carboidratos como a principal fonte de energia,
direcionando as proteínas para a formação de novos tecidos do animal.
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O problema ocorre quando o percentual de carboidrato na ração ultrapassa os níveis


recomendados. Um alimento formulado com uma relação proteína:energia muito baixa,
pode reduzir as taxas de alimentação do animal e os níveis de digestibilidade do
alimento. Da mesma forma, rações com níveis elevados de proteína, mas com baixos
teores energéticos, resultam em um crescimento e conversão alimentar reduzidos. Neste
caso, grande parte da fonte protéica contida na ração é direcionada para suprir as
necessidades de energia. Portanto, uma ração poderá conter concentrações elevadas de
proteína, mas ser pouco aproveitada no crescimento do animal. Os aspectos citados
acima devem ser considerados durante a avaliação do valor comercial de uma ração para
camarões.

O TAMANHO DO CAMARÃO

Em praticamente todos os animais aquáticos o consumo relativo de alimento (% do peso


vivo) decresce com aumentos no peso corporal. Nos camarões peneídeos as taxas de
crescimento, a conversão alimentar, a eficiência digestiva e os requerimentos nutricionais
(Tabela 5), diminuem com incrementos no peso corporal (Dall et al. 1990; Akiyama et al.
1992; Lawrence e Lee 1997).

Camarões da espécie Penaeus vannamei com 0,1g, 0,5g e 5,0g, por exemplo, requer
aproximadamente 120ppm (partes por mil), 60ppm e 0ppm de vitamina C,
respectivamente (Castille e Lawrence 1996). O P. brasiliensis com 0,9g requer 10% a
mais de proteína do que um indivíduo com 7,9g (Liao et al. 1986; Tabela 5).

Tabela 5 - Variações nos níveis protéicos recomendados para rações peletizadas de camarões marinhos, cultivados
em sistemas completamente dependentes de alimento artificial (Akiyama et al. 1992).

Em termos quantitativos, os camarões nos estágios iniciais da engorda conseguem


consumir mais alimento relativo ao seu peso corporal (Fig. 4). A quantidade consumida
varia conforme a espécie e o tipo de alimento fornecido. O camarão P. merguiensis entre
0,5g e 1,3g, alimentado com ração peletizada consegue consumir até 12% do seu peso
corporal por dia (Sedgwick 1979). Adultos do P. esculentus, entre 15,5g a 25,2g,
ingerem diariamente de 0,2% a 0,6% do seu peso (Hill e Wassenberg 1992).

A diminuição na quantidade consumida de alimento está associada a fatores fisiológicos.


A redução no consumo é provavelmente compensada por alterações na qualidade
nutricional da dieta. Alguns peneídeos por exemplo, abandonam nos estágios
intermediário e final do cultivo, uma dieta composta por plantas e detritos, por uma fonte
de alimentos rica em proteína, constituída essencialmente de presas (Nunes et al. 1997).

Na prática, aumentos no peso do camarão devem ser compensados com menores taxas
diárias de alimentação. Em contrapartida, mesmo com a mortalidade, a biomassa
estocada eleva-se com a evolução do ciclo, e assim as refeições ministradas devem ser
maiores. Geralmente, nas primeiras 4 semanas de cultivo os camarões consomem
apenas cerca de 5% a 10% do total de ração utilizada durante todo ciclo. Neste período,
pelo fato dos camarões serem muito pequenos e dispersos por todo viveiro, as taxas de
alimentação devem ser fixadas em níveis constantes. A compilação de 8 tabelas de
alimentação utilizadas no cultivo semi-intensivo do Penaeus vannamei (Jory 1995) revela
taxas diárias de arraçoamento variando de 9,7% (camarões de 1g a 4g), 5,1%
(camarões de 5g a 6g), 3,8% (camarões de 7g a 9g) a 3,1% (camarões de 10g a 12g)
do peso médio corporal da população estocada.

Se considerarmos um viveiro de 5 ha, povoado com camarões de 1,0g a uma densidade


de 25 camarões/m2 (população de 1.250.000 camarões), teremos uma biomassa
estocada de 1.250kg (5 ha x 25 camarões/m2 x 1,0g). Na fase final de cultivo, com
camarões de 12,0g, e considerando uma sobrevivência estimada em 62% (população de
775.000 camarões), teremos uma biomassa de 9.300kg (775.000 camarões x 12g). Se
seguirmos o programa de alimentação proposto acima, teremos que distribuir 121kg de
ração na fase inicial (9,7% de 1.250kg) e 288kg no estágio final da engorda (3,1% de
9.300kg).

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A muda é um processo no qual os camarões perdem a carapaça velha (exoesqueleto),


formando um novo exoesqueleto para permitir a expansão corporal. O novo exoesqueleto
possui uma formação delicada que endurece rapidamente.

Os camarões mudam de forma periódica durante toda sua fase de crescimento, em


intervalos de dias ou semanas. A muda é um período de estresse para o animal, em que
o apetite é nulo e os padrões normais de alimentação são interrompidos.

Em viveiros, o impacto da muda nas taxas de alimentação depende do nível de


ocorrência deste processo na população cultivada. Geralmente, leva-se de 2 a 5 dias
antes e durante o processo de muda para os camarões retornarem a sua atividade
alimentar normal. Caso exista um percentual significativo da população mudando
simultaneamente, os níveis de arraçoamento devem ser ajustados. Geralmente a
alimentação é reduzida durante este período, retornando gradativamente aos níveis
normais de alimentação. A muda em massa pode ser induzida por mudanças bruscas de
temperatura ou por fluxos elevados de água. Em viveiros, a freqüência da atividade de
muda está relacionada com as taxas de crescimento, mas geralmente podem ocorrer
uma vez a cada 2 semanas (Tabela 6).

Figura 4 - Níveis máximos de ingestão de uma ração peletizada pelo Penaeus subtilis. Dados apresentados como
consumo individual por hora (CI, g/h) e consumo por hora relativo ao peso corporal (CPC, g/h; fonte: Nunes e
Parsons 2000a).

Tabela 6 - Intervalos da atividade de muda dos camarões peneídeos ao longo do seu crescimento em viveiros
(fonte: Manila, Filipinas).

A Freqüência Alimentar

É amplamente reconhecido que diversos arraçoamentos ao longo do dia promovem um


ganho de peso mais rápido e mais eficiente em camarões peneídeos (Sedgwick 1979;
Robertson et al. 1993). Uma maior freqüência alimentar também reduz a dissolução de
nutrientes da ração, e melhora os índices de conversão alimentar (Villalón 1991).

A freqüência de arraçoamento é particularmente importante para reduzir os efeitos da


lixiviação de nutrientes no ambiente de cultivo. Embora restos de ração sirvam de
alimento para a fauna bentônica e outros organismos do viveiro, os riscos com a
eutrofização e a poluição do ambiente aumentam substancialmente.

As rações formuladas começam a perder suas características físicas e químicas logo após
a imersão na água (Tabela 7). Intervalos de arraçoamento muito prolongados podem
comprometer a atratibilidade, a palatibilidade e a estabilidade da ração, forçando o
animal a procurar alimento natural. Este pode tornar-se escasso sob altas densidades de
estocagem ou nos estágios finais do cultivo. Os arraçoamentos múltiplos ajudam a
manter as características nutricionais e a integridade física da ração, além de uma
melhor disponibilidade de alimento natural ao longo do ciclo .

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Tabela 7 - Perda percentual de nutrientes reportada para uma ração peletizada para camarão, após 1 h de imersão
na água. Ração contendo 15% de glúten como aglutinante (Cuzon et al. 1982).

Pelo fato dos camarões peneídeos possuírem um pequeno estômago [volume de 2% a


5% do peso corporal (PC)], a quantidade de alimento consumido durante uma refeição é
também pequena (2,3% do PC/h com alimento no estômago ou 4,9% PC/h com o
estômago vazio; Nunes e Parsons 2000a). Assim, para este animais obterem a
quantidade de alimento necessária para seu crescimento e manutenção, eles são
obrigados a consumir várias refeições ao longo do dia. Algumas espécies podem se
alimentar até 6 vezes em uma única noite (Hill e Wassenberg 1987).

Em viveiros o consumo alimentar é maximizado ofertando a mesma quantidade de ração


em refeições múltiplas. Na prática, em sistemas semi-intensivos, a ração deve ser
ministrada pelo menos de 3 a 4 vezes ao dia. Sob condições mais intensivas, onde a
biomassa estocada é mais elevada, recomenda-se uma maior freqüência de
arraçoamento (4 a 6 vezes ao dia). Isto possibilita uma distribuição mais homogênea de
alimento entre a população cultivada, reduzindo as distorções de ganho de peso corporal
dos camarões durante o ciclo de engorda.

Os Horários de Alimentação

É comum associar a atividade alimentar dos camarões com o hábito de algumas espécies
se enterrarem no substrato durante o dia e emergirem no período noturno. Na verdade,
nem todas as espécies de peneídeos apresentam este padrão de enterramento (Tabela
8). Alguns peneídeos são noturnos, mas emergem ocasionalmente durante o dia,
enquanto outros raramente se enterram. Independente do comportamento de
enterramento, em viveiros, o alimento pode ser encontrado no estômago dos camarões
praticamente a qualquer hora do dia e noite (Wassenberg e Hill 1987; McTigue e Feller
1989; Reymond e Lagardère 1990; Nunes et al. 1996).

Tabela 8 - Comportamento de enterramento de algumas espécies de peneídeos segundo a classificação de Penn


(1984).

O ritmo alimentar dos peneídeos é bastante irregular, pois responde às variações de


fatores externos e endógenos. O fornecimento de ração, por exemplo, pode induzir
camarões a emergir do substrato e iniciar o consumo alimentar. Em algumas espécies,
picos de alimentação já foram observados em viveiros no final da tarde e durante a noite
(Reymond e Lagardère 1990; Nunes et al. 1996). Este comportamento contudo, pode
estar mais associado com os níveis mais favoráveis de qualidade da água e alimento
natural neste período, do que propriamente com a ausência de luz ou hábito de
enterramento da espécie. Alguns autores correlacionaram um maior consumo alimentar
no final da tarde com o pico de atividade das enzimas digestivas do camarão (Cuzon et
al. 1982).

Em fazendas de cultivo, aspectos como os turnos diurnos de trabalho dos funcionários e


a pouca visibilidade durante a noite, agravam a viabilidade do uso de programas
noturnos de arraçoamento. Durante o dia, o principal fator a ser considerado na definição
do horário de alimentação são os níveis de qualidade da água, particularmente a
temperatura e as concentrações de oxigênio dissolvido. Na prática, um maior percentual
da refeição diária deve ser ministrada em horários da tarde em relação aos horários da
manhã, quando é observado um consumo alimentar mais elevado (Fig. 5).

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Figura 5 - Comparação do consumo alimentar do Penaeus subtilis em um sistema semi-intensivo, ao longo de 6


fases de um ciclo de engorda. Os camarões foram alimentados em 3 horários distintos de alimentação (fonte:
Nunes e Parsons 1999).

Tabela 9 - Horários, freqüência e percentuais de alimentação, simulando variações no ritmo alimentar ao longo da
engorda do Penaeus japonicus (fonte: Absesamis 1989).

Os Locais de Distribuição

Os locais de distribuição de ração devem ser definidos conforme as características


topográficas e químicas do viveiro, além dos padrões de distribuição espacial dos
camarões durante seu estágio de desenvolvimento. Na maior parte das espécies, os
juvenis nas fases iniciais de cultivo preferem se alimentar em águas mais rasas ao longo
dos taludes do viveiro. Com a continuação do seu crescimento, dos estágios finais de
juvenil até o estágio adulto, os camarões alimentam-se livremente no fundo de todo
viveiro. Durante o dia os camarões podem evitar adentrar áreas muito rasas, visando
precaver-se contra predadores. A presença de camarões nestas regiões pode ser
verificada com uma rede de tarrafa.

Os camarões são mais vagarosos do que os peixes e também não se agregam da mesma
forma que peixes cultivados, em resposta a presença de ração. Isto requer uma
distribuição de ração cuidadosa e uniforme para evitar perdas, mesmo que ofertada em
bandejas. Apesar de não se conhecer ao certo os padrões de distribuição espacial dos
camarões em viveiros, observações indicam que eles apresentam um hábito de
dispersão. Os peneídeos não são territorialistas (Dall et al. 1990), mas geralmente
evitam um contato prolongado com outros indivíduos, enterrando-se ou nadando para
trás de forma evasiva. Os camarões entretanto, podem freqüentemente agregar-se em
áreas onde há turbulência promovida pela ação dos ventos ou com um alto fluxo de
água, como em áreas próximas as comportas.

Para os estágios iniciais de juvenil, o arraçoamento torna-se mais eficaz se a ração for
ministrada próxima aos taludes. Para os estágios mais avançados de crescimento a ração
deve ser ofertada em toda a área do viveiro. Portanto, a forma mais eficiente de
distribuição de ração, seja esta feita por bandejas ou voleio, é aquela que permite uma
oferta uniforme do produto em toda área de cultivo, evitando assim perdas e competição
alimentar entre a população de camarões. Deve-se entretanto, eliminar a oferta de ração
em regiões do viveiro onde há muito acúmulo de lama, como nos canais internos do
viveiro. Nestas áreas, pode ocorrer a formação de compostos ácidos sulfatados, como o
sulfato de hidrogênio (H2S). Estes solos geralmente apresentam características
anaeróbicas e os camarões costumam evita-los. Caso necessário, aeradores podem ser
direcionados para estas regiões, remanejando de forma simultânea a alimentação para
outras áreas. Áreas muito rasas com temperatura elevada podem também afastar os
camarões do local de alimentação. Recomendações sobre o espaçamento de bandejas em
viveiros e as trajetórias de alimentação por lanço são apresentadas nas seções seguintes.

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OS MÉTODOS DO ARRAÇOAMENTO

Bandejas de Alimentação

Em países da América do Sul e Central, cada vez mais os cultivadores estão passando a
utilizar bandejas de alimentação (ou comedouros) como método exclusivo para a oferta
de ração em viveiros. Esta prática é mais laboriosa quando comparada com a distribuição
por voleio, normalmente requerendo até um arraçoador para cobrir cada 6 ha de área
cultivada por dia. O uso de bandejas entretanto, é justificável pois permite observações
diretas do grau de apetite dos camarões. Isto pode levar a uma redução significativa nos
desperdícios de ração, melhorando os índices de conversão alimentar e os níveis de
qualidade da água e do solo de viveiros de engorda.

As bandejas podem ser fabricadas da virola de pneus, parte central do pneu constituída
de aço e borracha, na base da qual é fixada uma tela de náilon com uma abertura de 1,3
mm. O número de bandejas introduzidas em cada viveiro deve ser proporcional a
densidade de camarões utilizada e ao ganho de biomassa que ocorre durante a engorda.
Em sistemas semi-intensivos, cada comedouro possui uma área de influência entre
300m2 e 400m2. Portanto nestas condições, as bandejas devem ser alocadas no fundo
do viveiro a uma densidade de 25 a 30 unidades/ha, ancoradas em varas ao longo de
toda extensão da área de cultivo. As bandejas devem ser posicionadas a uma distância
de 20m uma da outra e afastadas de 5m a 10m dos taludes.

Nas primeiras duas semanas de engorda, a ração deve ser distribuída por voleio próximo
aos taludes e uma pequena quantidade concentrada em bandejas localizadas no
perímetro do viveiro. Durante este estágio, recomenda-se o uso de 20 bandejas/ha. A
partir da 2° semana, deve ser iniciada a distribuição de ração em todos os comedouros.

A ração deve ser distribuída e monitorada nas bandejas por meio de caiaques, movidos a
remo. Estes devem ser equipados com um container para possibilitar a coleta simultânea
do alimento não consumido. Para medir rapidamente a quantidade de ração a ser
administrada em cada bandeja são utilizados vasilhames plásticos de 50g, 100g, 150g,
200g e 250g.

O alimento deve ser distribuído 3 vezes/dia, sendo preferivelmente, 10% a 20% da


refeição diária total no inicio da manhã, 30% ao meio-dia e 50% no final da tarde, ou
conforme o consumo observado. Toda ração não consumida deve ser coletada e
devidamente descartada, principalmente se os intervalos de alimentação excederem 4 h.
Após este período a estabilidade, a palatabilidade e as propriedades nutricionais da ração
já diminuíram de forma significativa. Restos de ração na água podem também deteriorar-
se rapidamente, mantendo os camarões afastados dos locais de alimentação. É
importante lavar e escovar as bandejas freqüentemente para evitar o acúmulo de
material orgânico.

Após o término de cada ciclo de cultivo, as bandejas devem ser alocadas para outras
áreas do viveiro, a fim de permitir a recuperação do solo nos locais onde estas eram
previamente posicionadas (Fig. 6). Nestas regiões, deve ser aplicado calcário ou cal
hidratada, logo após a despesca e a secagem do viveiro.

Figura 6 - Poluição orgânica em uma área de alimentação, detectada após a drenagem do viveiro.

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Lanço ou Voleio

Tradicionalmente, na carcinicultura marinha as rações são ministradas por meio de lanços


manuais ou mecânicos, realizados de pequenos barcos, ou ainda de veículos que
pecorrem os diques ou os taludes do viveiro. Entretanto, ao contrário do cultivo de
peixes, em que a presença de ração sobre a superfície da água permite observar o
apetite dos animais, na carcinicultura, o comportamento bentônico dos camarões e a
pouca visibilidade da água impõe limitações a aplicação desta prática.

A grande vantagem do voleio sobre o arraçoamento exclusivo em bandejas é a


distribuição mais homogênea de alimento sobre toda área de cultivo. Isto permite um
maior acesso individual dos camarões ao alimento ofertado, reduzindo a competição
alimentar e aumentando o consumo de ração (Nunes e Parsons 1999). Em comparação,
a concentração de ração unicamente em bandejas limita o número de camarões que tem
acesso simultâneo ao alimento, o que pode diminuir a eficiência alimentar.

A distribuição uniforme de ração é portanto, a principal recomendação a ser seguida


durante o voleio. Em áreas de cultivo muito extensas podem ser utilizados sopradores de
alta pressão fixados em barcos ou veículos terrestres, a fim de dispersar o alimento de
forma mais rápida e mais eficiente. Neste caso, o equipamento mecânico utilizado deve
ser adequado a resistência física dos peletes para evitar a desintegração da ração
durante o procedimento de arraçoamento.

No voleio da ração, atenção especial deve ser dedicada a direção predominante dos
ventos. A ração sempre deve ser ofertada a favor dos ventos, de forma a minimizar
perdas. Nos três primeiros dias inicias da engorda, deve-se priorizar a distribuição do
alimento na área do viveiro em que os camarões foram liberados (Fig.7).

Figura 7 - Dispersão de ração por voleio nos estágios iniciais da engorda, do povoamento ao 30º dia de cultivo
(Fonte: Goddard 1996).

Durante este período os animais podem ficar confinados em uma única área, até sua
aclimatação e posterior dispersão no novo ambiente de cultivo. Do 4º ao 30º dia da
engorda, o alimento deve ser distribuído a uma distância de 5m a 7m dos taludes,
compreendendo todos os lados do viveiro (Fig. 3.7). Do 31º dia de cultivo em diante,
devem ser seguidas trajetórias em zigue-zague, paralelas e perpendiculares aos maiores
lados do viveiro. Neste caso, estas trajetórias podem ser alternadas entre dias e
horários, conforme apresentado na Fig. 8.

Figura 8 - Dispersão alternada de ração por voleio, do 31º dia da engorda em diante (fonte: Clifford 1992).

Este artigo continua na próxima edição. As referências bibliográficas podem ser solicitadas diretamente ao autor
através do e-mail: albertojpn@agribrands.com.br

http://www.panoramadaaquicultura.com.br/paginas/revistas/63/manualcamaraoParteII.asp 10/11
27/03/2018 Alimentação para Camarões Marinhos Parte III
Edição 64:
- A freqüência alimentar
- Os horários de alimentação
- Os locais de distribuição
- Os métodos de arraçoamento: bandejas de alimentação; lanço ou voleio.

Ajustando as Taxas de Alimentação


- O ajuste por meio de bandejas
- Método das tabelas de alimentação

Armazenando a Ração

http://www.panoramadaaquicultura.com.br/paginas/revistas/63/manualcamaraoParteII.asp 11/11

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