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A INVENÇÃO DO ZERO

Profa. Marger da Conceição Ventura Viana-UFOP-margerv@terra.com.br


Davidson Paulo de Azevedo Oliveira- UFOP - davidsonmat@yahoo.com.br
Débora Santos de Andrade Dutra- UFOP- debsad1@yahoo.com.br
Elisângela Queiroz Veiga UFOP - elisveigga@gmail.com
Jane Araújo Moreira UFOP - janeamoreira@yahoo.com.br
Lílian Isabel Ferreira Amorim UFOP – lilian.boc@gmail.com
Maria Izabel Gomes UFOP- mariaizabelgomes@yahoo.com.br
Rogéria Teixeira Urzêdo Queiroz- UFOP - rogeriatuq@yahoo.com.br
Sandra de Lacerda Cardoso- UFOP - salaclacerda@yahoo.com.br
Warley Machado Correia- UFOP- warleymc@bol.com.br
Wilton Natal Milani- UFOP - w-milani@uol.com.br

Resumo: este artigo foi escrito pelos alunos da disciplina A História da Matemática e seu potencial no
processo de Ensino-Aprendizagem - Mestrado Profissional em Educação matemática da UFOP. Foi
resultante de uma pesquisa bibliográfica sobre a invenção do zero em autores já considerados
clássicos. Contém desde os babilônios, maias, chineses até chegar aos hindus, verdadeiros inventores
do zero. Contém também uma breve discussão sobre o símbolo para o zero, segundo alguns
historiadores, e a palavra zero.

Palavras-chave: invenção do zero, sistema posicional, história.

Introdução
O homem é um ser em evolução, capaz de criar, de recriar de acordo com suas
necessidades, usando o instinto de sobrevivência, há quem diga que os mais fortes
sobrevivem, mas crê-se que aqueles que se adaptam são os que de fato sobrevivem. A história
é testemunha.
No entanto a capacidade de pensar, de criar faz do ser humano um ser em condições
de constantes mudanças e descobertas. Concordando com outros autores, entre eles Barco
(s/d), indaga-se qual foi a mais importante descoberta para a humanidade. Terá sido o fogo, a
roda, a energia elétrica, o telefone, a internet, o zero?
Acredita-se que cada grande descoberta foi um passo rumo ao novo e a outras
descobertas, não se sabe se é possível precisar qual destas e de muitas outras foi a mais
importante, mas cada uma no seu tempo, no seu lugar, no seu espaço, fez com que a
humanidade caminhasse um pouco mais. Pensar nestes grandes feitos é pensar quem está por
trás deles. Quem primeiro pensou? Quem sentiu a primeira necessidade e buscou uma solução
para o “problema”?
Segundo Cajori (2007) os babilônicos criaram um sistema de numeração de base vinte
e conseguiram sobreviver por volta de 12 séculos sem o zero. Nos registros babilônicos antes
da era cristã há um símbolo para o zero, porém não foi utilizado para cálculos, uma vez que o
zero ainda nem sonhava em ser um número.
É possível imaginar os dias atuais sem o zero? Entretanto que diferença é esta que o
“nada” faz na vida atual?
A resposta é rápida sem exigir grande raciocínio. Usa-se o sistema posicional de
numeração, uma invenção fantástica. Pensar que apenas com dez símbolos é possível escrever
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qualquer quantidade que se possa imaginar, conclui-se que, de fato, o zero foi uma grande
descoberta!
De acordo com Barco (s/d), Laplace disse: “Apreciaremos ainda mais a grandeza
dessa conquista se lembrarmo-nos de que ela escapou ao gênio de Arquimedes e Apolônio,
dois maiores homens da antiguidade”.
É possível que quando Leonardo Fibonacci (1175-1250) popularizou o sistema Indo-
arábico em seu livro Liber Abbaci, não tinha o conhecimento de todo o caminho percorrido
pelos hindus até incorporarem o zero aos nove algarismos já existentes.

A História
O uso do zero já era feito desde os antigos Babilônios, mas não era utilizado como se
vê atualmente, como uma “quantidade para o nada” e sim como símbolo posicional. Na
verdade, segundo Ifrah (2005) o zero babilônico nasceu por volta do século II a.C.

A numeração forjada pelos matemáticos e astrônomos da Babilônia pouco antes da


época do rei Hamurabi (aproximadamente 1792-1750 a.C) foi uma das mais
admiráveis da antiguidade. Contrariamente à maioria dos sistemas desta época, o
valor de seus algarismos era de fato determinado pela sua posição na escrita dos
números. Mas, em vez de ser decimal como nosso sistema posicional atual, ela era
fundamentada na base sexagesimal, o que significa que sessenta unidades de uma
determinada ordem eram nelas equivalentes a uma unidade de ordem imediatamente
superior (IFRAH, 2005, p.236).

No entanto também nas culturas pré-colombianas da América Central, os maias,


considerados os gregos da América, possuíam elevado nível cultural e realizações nos campos
da escrita, Arquitetura, Escultura, Astronomia e Matemática.

(...) No campo da matemática, eles (...) descobriram o princípio de posição e


inventaram o zero. É o que testemunham os (raros) manuscritos maias que hoje
detemos principalmente o Codex de Dresden (um tratado de astronomia e de
adivinhação copiado no século IX da nossa era de um original redigido três ou
quatro séculos antes). Eles revelam a existência, entre os sacerdotes maias, de um
sistema de base vinte munido de um zero, no qual o valor dos algarismos é
determinado pela posição ocupada na escrita dos números. (IFRAH, 2005, p.250).

Segundo Garbi (2009) o sistema de numeração maia por volta do século V d.C. se
tornara posicional de base vinte. Segundo Gundlach (1992) o símbolo para o zero indicava a
ausência de unidades nas ordens.
Os autores divergem quanto a aparência do símbolo utilizado, concha ou caramujo
(Garbi, 2009), mão fechada vista de frente (Gundlach, 1992), concha ou olho semi-aberto
(Struik, 1989), para Vasconcelos(1919?), o sinal “o” é a primeira letra da palavra grega nada.
Segundo Eves (2007), Ch’ín Kiu-shao, foi o primeiro chinês a dar um símbolo para o zero e
este era uma circunferência, isto no século XIII. No entanto, segundo IFRAH, (2005, p.248),
foi somente a partir do século VIII d.C. aproximadamente, sob a influência dos matemáticos e
dos astrônomos de origem indiana, que os sábios chineses passaram a dispor de um
verdadeiro zero (..)
Nossa palavra zero, provavelmente é originária do latim zephirum, para Vasconcelos
(1919?), a palavra cifra, isto é, zero, provém do árabe cifron que significava vazio. Para Eves
(2007, p. 40-41),
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Nossa palavra zero provavelmente provém da forma latinizada


zephirum derivada de sifr que é uma tradução para o árabe de sunya,
que em hindu significa “vazio” ou “vácuo”. A palavra árabe sifr foi
introduzida na Alemanha, no século XIII, por Nemorarius, como cifra.
Em português, cifra significa entre outras coisas, zero.

Conforme se refere Eves (2007), os mais antigos exemplos dos símbolos numéricos
encontram-se em algumas colunas de pedra construídas na Índia por volta do ano 250 a.C.
Estas colunas não contêm nenhum zero e não utilizam a notação posicional. Porém, as idéias
de valor posicional e um zero devem ter sido introduzidos na Índia algum tempo antes do ano
800 d.C., pois o matemático persa Al-Khowarizmi descreveu de maneira completa o sistema
hindu num livro do ano 825 d.C.
Estamos tão acostumados com o sistema de numeração decimal que ele nos parece
muito simples. No entanto, desde os tempos em que os homens fizeram suas primeiras
contagens, até o aparecimento do sistema de numeração hindu, decorreram milhares de anos.
É surpreendente que diversas civilizações da Antiguidade, como as dos egípcios, babilônios e
gregos, capazes de realizações maravilhosas, não tenham chegado a um sistema de numeração
tão funcional quanto o dos hindus.
Embora diversos autores apresentem suas versões para o surgimento do zero, Garbi
(2009) desenha um quadro cronológico interessante e bastante convincente, baseado no
referido autor apresentamos fatos que remontam a descoberta que revolucionaria a
matemática e o mundo em geral.
Data de 875 d.C a mais antiga inscrição em pedra, comprovadamente datada, do
emprego do zero. Mas algumas descobertas discordam de tal precisão.
Entre 718 e 729 d.C o autor Qutan Xida ou Gautama Sidhanta seu nome adotado pelo
budismo, vivendo na China, sinaliza com a possibilidade do sistema posicional hindu já
chegara à China ao descrever o método de trabalhar com o sistema numérico contendo nove
símbolos e o zero.
Retrocedendo ao século VII, o poeta Subanthu, mostrando a familiaridade com o
sistema numérico em sua obra, fala sobre o zero como um instrumento matemático.
Precisamente em 628 d.C, Brahmagupta discorreu sobre a forma de calcular empregando o
sistema posicional com os nove numerais e o zero.
O mais antigo indicio do zero diz que por volta de 510 d,C Aryabhata utilizou um
notável método para calcular raízes quadradas e cúbicas que somente poderia ser aplicado em
um sistema posicional dotado de um símbolo para o zero.
Diante de tantos fatos e datas, o certo é que:

Nossos numerais surgiram na Índia; sua natureza posicional e seu conceito de zero são
criações locais, sem influências externas; o sistema consolidou-se entre os séculos V e
VI; a partir daí espalhou-se, inicialmente dentro da Índia e, a seguir, para os países
vizinhos e para o resto do mundo. Para o Leste, o veículo de difusão foi o budismo;
para o Oeste foram os árabes (eruditos ou mercadores) (GARBI, 2009, p.444).

Com a conquista do Norte da Índia entre 707 a 718 pelos árabes o estreitamento da
cultura destes dois povos foi inevitável. Em 773, o califa al-Mansur e seus eruditos
aprenderam a trabalhar com o sistema de numeração hindu, graças aos ensinamentos de uma
delegação de astrônomos e matemáticos hindus. Graças ao mais notável integrante da corte
do califa: Abu-Abdullah Mohamed ibn Musa al-Kwarizmi que além de seu célebre livro sobre
Álgebra , escreveu o Livro sobre o método hindu da adição e subtração, popularizou o sistema
numérico para as escolas, sendo assim usado por pessoas comuns e principalmente
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comerciantes. E assim coube ao comércio entre o mundo cristão e muçulmano, apresentar aos
europeus tal tipo de aritmética até então desconhecida por eles.
Encontra-se na Espanha e data de 976 d.C, o mais antigo documento produzido na
Europa onde aparecem os nove algarismos indu-arábicos (sem o zero). Em visita a este país, o
papa matemático Gerbert d’Aurillac conheceu o sistema numérico, aprendeu a trabalhar com
ele e posteriormente apresentou tal sistema à França e à Itália.

Na escola de Gerbert além de outras ciências se ensinava cálculo com o uso


do ábaco. Onde se exigia o uso obrigatório do ábaco e se utilizava o sistema
duodecimal romano. Se utilizava também o sistema hindu, onde eles
introduziram o zero, para os cálculos que seriam utilizados em papel,
aplicando-os as frações sexagesimais (RIBNIKOV, 1987, p.119).

Sem sucesso, Gerbert não conseguiu comprovar que tal sistema era superior ao
sistema romano até então usado em toda a Europa. Certamente, o dificultador era a cultura
muçulmana completamente rejeitada pelos tradicionalistas e religiosos.
Somente um século depois de Gerbert, um destemido erudito inglês, aventurou-se pela
Europa e conseguiu contrabandear para a Inglaterra os 13 livros dos Elementos em Árabe,
tabelas astronômicas de Al-Kwarizmi e muitas informações sobre o sistema hindu de
numeração. Além da tradução de todos os documentos para o Latim, escreveu comentários
importantes sobre a aritmética indu-arábica de Al-Kwarizmi, dando início assim à divulgação
do zero e dos 9 algarismos nas Ilhas Britânicas. Porém, a popularização dos numerais indo-
arábicos na Europa só aconteceu meio século depois através da publicação do Liber Abbaci,
em 1202 e também através de uma versão revista e ampliada do Líber Abbaci em 1228 por
Leonardo de Pisa. Começou então a derrocada do sistema romano e o avanço do sistema de
numeração dos hindus.
Na atualidade pouca importância tem se dado para a descoberta do zero como um
número ou um “símbolo para o nada” como Contador (2006) se refere ao zero.
Provavelmente isso se dá devido à facilidade que temos para efetuar as operações
básicas. Tendo-o hoje como conhecido e a facilidade de efetuar operações com o nosso
sistema de numeração, não nos deixa perceber o quanto seria difícil efetuá-las sem a presença
do zero como um número que exprime a falta de quantidades.
A falta do zero refletiu por muito tempo na estagnação do desenvolvimento
matemático, dificultando até os cálculos elementares.

Com a falta do zero, os reflexos na história por milhares de anos foram imediatos,
os gregos, que não aceitavam o vazio como um número, desenvolveram uma
geometria fantástica e quase chegaram ao cálculo diferencial e integral por
intermédio de Arquimedes, mas não passaram de uma álgebra extremamente
elementar nas mãos de Diofanto. (CONTADOR, 2006, p.146).

As dificuldades com a falta do zero, causou um grande colapso, até que alguém, não se
sabe onde e nem quando, mas provavelmente na Índia, criou um símbolo para representar o
vazio, o nulo ou o nada, que veio a se tornar um número que mudou a história. De fato, os
hindus operavam com o zero, incluindo números negativos (HOFMANN, 2006).
Contador (2006, p. 145-146), comenta a importância das propriedades do zero e as
operações.
Um número especial, que diferentemente dos outros, iria possuir características
próprias muito particulares, variando da onipotência quando da multiplicação (todo
numero multiplicado por zero é igual a zero), a impotência da adição ou subtração
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(todo e qualquer número adicionado ou subtraído de zero unidade, conserva seu


valor). Na potenciação age como transformador (todo e qualquer numero elevado
ao expoente zero é igual a 1) e ao mesmo tempo jamais pode dividir nada (em
hipótese alguma dividirás por zero).

Não é de se admirar que na Europa os especialistas em cálculo tentassem manter em


segredo essa importante descoberta, visto que tornar este conhecimento público acabaria com
o status e o poder de quem possuía o conhecimento das regras de manipulação e revelaria a
facilidade de efetuar cálculos.
De acordo com Contador (2006) o sigilo em torno do zero na Europa, durou até o fim
do século XIX, e, as propriedades do zero hoje tão conhecidas, foram formuladas por
Aryabhata e Brahamagupta, matemáticos hindus.
 x.0 = 0

São elas: Para todo x,  x + 0 = x
x − 0 = x

No entanto, segundo Collete (2006, p. 188) “Brahmagupta, em sua aritmética
encontrou dificuldades que não conseguiu elucidar claramente quando afirma positivo ou
negativo dividido por zero em uma fração em relação com o denominador”.
Também Bháskara em sua obra intitulada Vijaganita, se encontra em particular o
primeiro enunciado de que um número diferente de zero dividido por zero dá um quociente
a 
infinito, porém mais tarde admitiu que  ⋅ 0 = a  , indicando diante disso que sua
0 
compreensão sobre a aritmética dos zeros não era de todo perfeita (COLLETE, 2006).

Concluindo

Estamos tão acostumados com o sistema de numeração decimal que ele nos parece
muito simples. No entanto, desde os tempos em que os homens fizeram suas primeiras
contagens, até o aparecimento do sistema de numeração hindu, decorreram milhares de anos.
É surpreendente que diversas civilizações da Antiguidade, como as dos egípcios, babilônios e
gregos, capazes de realizações maravilhosas, não tenham chegado a um sistema de numeração
tão funcional quanto o dos hindus.
É inegável a contribuição dos hindus com a invenção do zero e as possibilidades de com
ele operar, considerando-o de fato um número. Não importa se não se conseguiu datar com
exatidão sua descoberta e a qual personagem se deve. Certamente a algum matemático hindu.
De fundamental importância também é o sistema posicional de base dez, bem mais
facilitador dos cálculos que os de base vinte ou sessenta, ou qualquer outro.
Aos comerciantes árabes que divulgaram a Matemática hindu também muito se deve.
Não é por acaso que os algarismos são conhecidos por hindu-arábicos.

Referências:

CAJORI, Florian., Uma História da Matemática. Trad.: Lázaro Coutinho.Rio de Janeiro:


Ciência Moderna.2007.654 p.

COLLET, Jean-Paul., Historia de las Matemáticas. Trad.: Pilar González Gayoso.Vol.1


Madrid: Siglo xxi. 2006. 347 p.
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CONTADOR, Paulo R., M. Matemática, uma breve história. Vol 1. São Paulo: Livraria da
Física, 2006.
GUNDLACH, Bernard H. Historia dos números e numerais . Trad.Hygino H. Domingues.
V.1. São Paulo: Atual, 1992
EVES, H., Introdução à História da Matemática. Trad.: Hygino H. Domingues. Campinas,
SP: Unicamp, 2007. 844 p.

GARBI, Gilberto G., A Rainha das ciências: um passeio histórico pelo maravilhoso mundo
da matemática – 3 ed rev. e ampl. – São Paulo: Livraria da Física, 2009, 468 p.

HOFMANN, Joseph, E., Historia de la Matemática. Trad.: Gonzalo Fernández Tomas.


Mexico: Limusa. 2006.419 p.

IFRAH, Georges., Os números: história de uma grande invenção. 11. ed. Trad.: Stela Maria
de Freitas Senra.São Paulo: Globo, 2005 . 367p.
RIBNIKOV K., Historia de las Matemáticas. Trad.: Concepción Valdés Castro. Moscou:
Mir. 1987. 487 p.

STRUIK, Dirk, J., Historia Concisa das Matemáticas. Trad.: João Cosme Santos
Guerreiro.Lisboa: Gradiva.1989.360 p.

VASCONCELLOS, Fernando A., História das Matemáticas na Antiguidade, Paris-Lisboa :


Ailland e Bertrand, (1919?).653 p.

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