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Custos logísticos
na economia brasileira
Maurício Pimenta Lima
A
carência de informações permitindo a geração de um evolutivo dos gastos com
sobre custos logísticos no logística no Brasil. Costumo comparar a necessidade de
Brasil torna freqüente a medição de indicadores com o papel de uma balança em
utilização de dados defasados. O grande problema é que um regime, pois, independentemente do tipo de dieta uti-
esses dados não necessariamente representam a nossa lizada para emagrecer, é praticamente inconcebível ima-
atual realidade, tornando difícil, entre outras coisas, a giná-la sem a utilização de uma balança para medição do
comparação com outros países. Além de tudo, a falta de peso e seu acompanhamento.
um histórico acaba inviabilizando a análise da evolução Este texto irá abordar a parte da pesquisa referente ao
do nosso custo logístico. cálculo do custo logístico do Brasil, incluindo as ativi-
Diante deste cenário, o Centro de Estudos em Logística dades de transporte, armazenagem, estoque e a sua admi-
realizou uma pesquisa sobre Custos Logísticos no Brasil, nistração. O escopo deste trabalho é limitado às operações
buscando números e metodologias que respondessem as domésticas, incluindo, no caso de exportações, o trans-
principais questões relacionadas ao tema. Assim, em porte até o porto no Brasil e, no caso de importações, o
janeiro de 2005 iniciamos uma pesquisa e logo nos de- transporte a partir do porto nacional, incluindo o custo
paramos com uma imensa dificuldade de obtenção de da- portuário. Por fim, será apresentado um comparativo en-
dos sobre o País. Além de pouco atualizadas, muitas in- tre os valores do Brasil e dos EUA.
formações são imprecisas e incompletas. Outras não são
disponíveis, ou mesmo não existem. Isto ocorre não ape- Antecedentes
nas no que se refere aos dados de custos, mas em logísti-
ca em geral. Até a realização desta pesquisa, a estimativa corrente do
Para contornar o problema, a pesquisa utilizou mais de nosso custo logístico era de cerca de 17% do PIB. A origem
30 diferentes fontes (ABCR, ANP, ANTT, ANTF, ANTAQ, deste número está ligada a um estudo do Banco Mundial
Banco Mundial, BNDES, CNT, Conab, CVM – Economáti- realizado em 1996 que, focado em transportes, não chega a
ca, CSCMP, DAC, Detran, Fipe, Geipot, IBGE, Infraero, mencionar o valor de 17%, mas estima o custo de transporte
Ipea, NTC, Sindicom, revistas especializadas, empresas no Brasil como sendo entre 9% e 10% do PIB. A partir deste
usuárias de transporte aqüaviário, empresas de navegação, número, extrapolou-se – a comunidade logística em geral,
aéreas e de transportes rodoviários, distribuidoras de com- não o Banco Mundial –, com base na parcela de custo de
bustível e diversos executivos e especialistas do mercado), transporte, normalmente em torno de 60% do custo logísti-
trabalhando números, em paralelo, para garantir a acurá- co, para se obter o resultado final. Assim, a partir do inter-
cia dos resultados. valo superior do custo de transporte de 10% do PIB, chegou-
Além da parte macroeconômica, foi conduzida uma se ao custo logístico nacional de 17%. Diante da falta de outro
pesquisa com grandes empresas atuantes no Brasil, buscan- número mais preciso, este acabou virando uma referência.
do saber não apenas a representatividade dos custos logísti- Independentemente da qualidade da estimativa dos
cos nessas indústrias, mas também como está sendo rea- 17%, vale observar as transformações ocorridas desde
lizada a gestão de custos, quais sistemas são utilizados para 1996, data-referência do estudo anterior, até 2004, data
suporte e qual a expectativa para evolução desses gastos, dos dados utilizados nesta pesquisa. Nos EUA, por exem-
dentre outros resultados. No entanto, devido ao grande vo- plo, apesar do aumento do petróleo, o custo logístico
lume de informações, esta parte microeconômica será apre- diminuiu em relação ao PIB durante este período, passan-
sentada, em breve, em uma próxima oportunidade. do de 10,2% para 8,6%, segundo pesquisa de Delaney1 e
Wilson, referência americana, com a qual estarão sendo custos, os dados relativos a esta atividade são escassos e
comparados os valores encontrados no Brasil. Como a pouco confiáveis.
pesquisa americana considera também parte do trans- Assim, a solução encontrada foi calcular o custo de
porte internacional, o valor de comparação utilizado do maneira indireta com base no consumo de diesel e na sua
custo americano foi de 8,3% do PIB, depois de excluídos participação no valor do frete. Os custos de pedágio,
os custos de transporte internacional. gerenciamento de riscos e o custo de transporte de carga
As variações do custo logístico americano de 1996 até em veículos sem serem movidos a diesel foram considera-
2004 mostram que houve uma redução do custo de es- dos em outras contas e posteriormente adicionados.
toque e, em segundo plano, do custo de transporte. O estudo apontou que 55% do total de diesel consumi-
No Brasil, durante este período, o diesel subiu 292%, re- do no Brasil em 2004 foram destinados ao transporte
sultado da elevação do preço do petróleo, o qual também rodoviário de carga, enquanto os demais 45% foram desti-
causou um aumento nos valores dos pneus. Vale ressaltar nados à agroindústria, ao transporte ferroviário, ao gover-
que estes itens de custo variável são de grande importância no, ao transporte rodoviário de passageiros, à navegação, à
na formação do preço. Principalmente no Brasil, onde o pesca, às indústrias, à mineração e aos carros de passeio.
frete praticado é em grande parte das vezes inferior ao cus- Com base na parcela de 55% e no consumo total de
to total, principalmente no caso dos autônomos. Nestes ca- diesel, chegou-se ao volume destinado ao transporte
sos, o preço cobre os custos variáveis, porém não remunera rodoviário de carga em 2004, de 21,7 bilhões de litros, o
todos os custos fixos, principalmente aqueles ligados ao in- qual correspondia a R$ 32,3 bilhões. A partir daí, o desafio
vestimento, como o de depreciação e o financeiro. foi obter o percentual médio do custo do diesel no frete
Com o aumento dos custos variáveis, a margem exis- no Brasil.
tente para negociação de preço do autônomo diminui, Para chegar a esta média foi necessário fazer uma seg-
pois o custo variável se torna mais significativo. Dados de mentação considerando os fatores que mais influenci-
uma revista nacional de transporte de 1996 mostram que avam neste percentual, entre os quais se destacavam: a
o diesel na época representava 16,8% do custo total de distância da rota, o tipo de carga transportada, se a carga
uma carreta. Em um exemplar de 2004 da mesma revista, era fechada ou fracionada, a utilização de autônomos e a
o diesel já representava 31,8% do custo total, consideran- existência de frete retorno.
do o mesmo tipo de veículo e operação. Dessa forma, foi feita uma composição sobre qual seria a
Embora tímida, a boa novidade está relacionada ao au- relação entre o custo de combustível e o valor do frete para
mento da parcela da ferrovia na movimentação de carga, cada tipo de perfil de transporte selecionado e a sua respec-
a qual estava na faixa de 20% em 1996 e foi para 24% em tiva participação dentro do consumo total. Ponderando-se
2004. A participação do rodoviário continua elevada, mas as diferentes realidades, que variavam de 1,5% para carga
diminuiu um pouco, foi de um patamar de 64% para 59% fracionada em curta distância, passando por 24,6% para
no mesmo período. carga intra-regional e 28,1% para produtos perigosos inter-
Quanto ao custo financeiro de estoque, ao compararmos regionais, até 41,8% para carga geral em longa distância,
a taxa básica de juros de 2004 com a de 1996 é possível per- chegou-se a um percentual médio de 33,6%.
ceber uma significativa redução. Enquanto em 1996 a taxa Isto significa dizer que a cada R$ 3,00 gastos com trans-
média ficou em 27,15% a.a., em 2004 ela ficou em 16,44% porte em 2004, em média R$ 1,00 foi referente ao custo
a.a.. É claro que, em termos comparativos com outros do diesel, enquanto os outros R$ 2,00 foram utilizados
países, a taxa brasileira continua excessivamente alta. Nos para cobrir os demais custos (motorista, manutenção, de-
EUA, no mesmo período, ela passou de 5,27% para 1,38%. preciação, etc.) e ainda, eventualmente, gerar lucro.
Com base neste percentual, chegou-se ao custo de R$
Transporte 96,3 bilhões para o transporte rodoviário dos veículos a
diesel em 2004.
Para se chegar ao custo de transporte foi calculado o Então, foi calculado o custo com os veículos que não
custo por modal, conforme é exposto a seguir. utilizam diesel, a conta de pedágio e de gerenciamento de
riscos. O custo dos veículos de transporte de carga que uti-
Rodoviário lizam outros combustíveis foi estimado em R$ 7,0 bilhões,
Apesar de este modal ser responsável pela maior parcela com base no número de unidades e no custo-padrão. So-
da carga movimentada no País e pela maior parcela dos bre o pedágio, por exemplo, não foi encontrada nenhuma
Armazenagem
Administrativo
Custo Logístico
Em relação à carga e ao perfil de rotas, enquanto no tores críticos. O primeiro é relativo à grande utilização da
Brasil predomina o transporte de produtos agrícolas em hidrovia nos EUA, que utiliza grandes composições a um
distâncias relativamente longas neste modal, nos EUA ele baixo custo, reduzindo a média americana. O segundo é
está voltado ao transporte de produtos de mais alto valor relacionado ao grande volume de petróleo transportado
agregado e à complementação dos outros modais através por curta distância na costa do Brasil, que, em conjunto
de uma ponta rodoviária de menor distância. com um custo portuário relativamente alto, acaba elevan-
Do ponto de vista do mercado, enquanto no Brasil existe do o custo por tonelada quilômetro deste modal.
um excesso de oferta do setor, promovida principalmente Já o modal ferroviário aparece mais barato no Brasil por
pela baixa regulamentação e pelo grande número de autô- causa da operação da Vale do Rio Doce, a qual, além do
nomos, nos EUA ocorre uma escassez de motoristas. alto volume e grande produtividade, opera a um preço de
O modal aéreo é um pouco mais barato no Brasil, não custo para a própria mineradora, influenciando bastante
sendo significativa a diferença. Já o custo do transporte este resultado. Ao retirá-la do cálculo, este número
dutoviário no Brasil é o dobro do americano, colaboran- aumentaria de US$ 12,44 para US$ 16,93.
do para este resultado as longas distâncias e o grande vo- Mesmo considerando a composição da matriz de trans-
lume transportado por dutos nos EUA, o que permite porte dos dois países, o custo médio de se transportar uma
grande economia de escala. Além, é claro, do alto custo tonelada por mil quilômetros em 2004 era menor no
do capital no Brasil, que dificulta os elevados investimen- Brasil do que nos EUA. Mas por que isso ocorre se, no
tos neste modal. Brasil, o custo de transporte equivale a 7,5% do PIB e nos
A grande diferença do custo aquaviário entre o Brasil e EUA apenas 5,1%? A resposta está na relação entre a
os EUA pode em grande parte estar relacionada a dois fa- movimentação de carga e o tamanho da economia.
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Enquanto a economia americana é praticamente 20 vezes completo em algumas áreas, é apenas uma iniciativa. Entre
maior que a nossa, eles só movimentam sete vezes mais car- as áreas em que o estudo deve ser aprofundado destaca-se a
ga que o Brasil. Na verdade, o valor agregado da carga movi- de armazenagem, dado que esta pesquisa apenas replicou
mentada lá é muito mais alto do que a daqui, e destaca-se modelos internacionais no cálculo deste custo.
também a maior participação de serviços na economia, 79% Apesar de suas limitações, relacionadas principalmente à
lá contra 56% no Brasil. disponibilidade de dados, a pesquisa pode chegar a impor-
O grande problema da matriz de transporte brasileira é tantes conclusões com relação ao custo logístico nacional,
que, devido à falta de infra-estrutura adequada, nem sempre entre as quais cabe destacar:
utilizamos o modal mais adequado ao tipo de carga trans- • A redução de custo de transporte de 1996 a 2004 nos EUA
portado. Assim, em diversos mercados, o embarcador – e no Brasil em relação ao PIB, apesar da elevação do preço
diante da falta de disponibilidade de outros modais – acaba do petróleo, provavelmente devido a um aumento da efi-
obrigado a utilizar o rodoviário, que apesar dos baixos valo- ciência desta operação.
res de frete praticados não teria como competir com a fer- • O elevado custo de estoque brasileiro, que é quase o dobro
rovia ou hidrovia, principalmente nas longas distâncias. do americano devido ao nosso elevadíssimo custo de capital.
• O expressivo aumento da receita do modal ferroviário no
Conclusão ano de 2004, que pode dar fôlego a novos investimentos,
permitindo aumento do volume de cargas neste modal.
A dificuldade de se obter informações sobre custos logís- • O motivo do custo logístico no Brasil ser maior que o
ticos no Brasil é muito grande, e o estudo desenvolvido pe- americano em termos proporcionais ao PIB está ligado, prin-
lo CEL/Coppead em 2005 sobre o assunto, embora bastante cipalmente, à menor participação de serviços na nossa
economia e ao menor valor agregado dos nossos produtos,
além do nosso maior custo de capital.
Para finalizar, vale destacar que os valores de frete
rodoviário praticados no Brasil são bastante baixos; no en-
tanto, a falta de infra-estrutura adequada, aliada a proble-
mas de capacidade e disponibilidade, muitas vezes inviabi-
lizam o transporte de cargas por outros modais, muitas
vezes mais adequados à distância e ao tipo de produto. As-
sim, o resultado acaba sendo um frete alto para quem paga,
mas baixo para quem recebe.
Bibliografia
1
Embora Delaney tenha falecido, Wilson continua atualizando o trabalho