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VERIFICAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DE TILÁPIAS (O.

niloticus ) DE
TAMANHOS DIFERENTES NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR E SUA
IMPORTÂNCIA PRÁTICA NA ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO.

GELSON HEIN
MÉDICO VETERINÁRIO
EMATER

TOLEDO – PARANÁ
ABRIL – 2006
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1.INTRODUÇÃO

A tilápia tornou-se o peixe mais importante e representativo na produção de


pescados do Brasil com um total estimado de 75.000 toneladas no ano de 2002
(KUBITZA,2003). O estado do Paraná ocupa o primeiro lugar com 72% da sua
produção total de tilápias, que em 2004 foi de 11.921,7, toneladas, sendo a região
oeste responsável por 6.318,5 toneladas deste total.

As tilápias têm origem africana e foram introduzidas no Brasil em 1971, e se


adaptaram muito bem as condições climáticas do país (MAINARDES-PINTO,2000), e
tem seu melhor desenvolvimento em temperaturas da água entre 26ºC e 30ºC
(OSTRENSKI e BOEGER,1998), que ocorrem de forma mais estável no final da
primavera, verão e início de outono, totalizando no máximo em cinco meses no ano,
em grande parte das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Sua carne vem conquistando
os consumidores principalmente pelo sabor agradável, textura, coloração, sendo um
peixe preferido pela indústria de filetagem, que vem aumentando anualmente a sua
participação na aquisição de tilápias junto aos produtores, no Paraná em 1996, 2000
e 2004 era 6%, 19% e 31%, respectivamente (EMATER-PR,2005).

Os peixes são animais pecilotérmicos e tem seu metabolismo influenciado


pela temperatura da água, chegando à inapetência total quando a temperatura fica
abaixo de 15ºC, tornando-se altamente suscetíveis a doenças e morte por parada
das funções vitais (KUBITZA,2000). Sendo o período de inverno de alta instabilidade
na produção de tilápias, com grandes riscos de perdas por mortalidade, este fato
mostra a dependência e a influência dos peixes dos fatores ambientais sobre a sua
sobrevivência.

A criação de tilápias é desenvolvida em viveiros de terra explorados de forma


semi-intensiva com pouca aplicação de tecnologia e sem o devido conhecimento
técnico da atividade pelo piscicultor. Essa situação, na região Sul e parte da região
Sudeste, associada à temperaturas baixas da água por longos períodos, requerem
intervenções no processo de produção capazes de auxiliar na sustentabilidade da
cadeia.
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Outro fator que pode influenciar a sobrevivência de alevinos das espécies


utilizadas na piscicultura é o grau de desenvolvimento destes no momento da
transferência para os viveiros. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo
avaliar a taxa de sobrevivência de alevinos e juvenis de tilápias nilóticas em
diferentes graus de desenvolvimento e sugerir mudanças no manejo de povoamento
dos viveiros de engorda com peixes juvenis acima de 32 g de peso vivo inicial.
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Tilápia

Tilápia é a denominação comum dada a uma grande variedade de espécies


de peixes ciclídeos que se distribuem no centro sul da África até o norte da Síria,
atualmente existem aproximadamente 22 espécies de que são cultivadas em todo o
mundo, porém a tilápia do Nilo, (Oreochromis niloticus), é a que apresenta melhores
resultados em cultivos quando comparada com as demais (POPMA e PHELPS,
1990).

A primeira introdução oficial de tilápia nilótica no país foi no início da década


de 70 na região Nordeste, com um reduzido número de exemplares provenientes da
África ocidental (CASTAGNOLI, 1992). Com o passar das décadas, descendentes
destes peixes foram espalhados por todo o Brasil até que em setembro de 1996
ocorreu a segunda importação oficial de tilápias nilóticas da linhagem Chitralada ou
Thai-Chitralada, do Asian Institute of Technology (AIT), de Bangkok na Tailândia.
Estas Tilápias apresentavam um desempenho muito superior as primeiras, pois
foram submetidas à intensa seleção especialmete para ganho de peso, conformação
corporal e docilidade (ZIMERMANN,1999).

A linhagem Chitralada foi distribuída entre os produtores de alevinos do estado


do Paraná, inicialmente aos associados da ALEVINOPAR, posteriormente espalhada
por todo o Brasil, e peixes juvenis desta linhagem comparados a tilápias locais
(comuns), mostraram em alguns experimentos conduzidos em Maringá, que tiveram
desempenho superior (BOSCOLO et al., 1998), maior grau de heterozigose e
resistência a patógenos (MOREIRA,1999) e maior resistência ao frio verificada a
campo em cultivos no oeste do estado do Rio Grande do Sul (ZIMERMANN,1999).

É prática comum nas larviculturas da região oeste do Estado do Paraná o


cruzamento entre reprodutores machos de tilápias nilóticas da linhagem Chitralada e
fêmeas das tilápias locais (comuns), devido às fêmeas comuns produzirem maior
número de larvas.
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As fêmeas de tilápias desovam várias vezes por ano, acarretando um


problema de superprodução e desviando grande parte da sua energia que poderia
ser utilizada no crescimento para a produção de óvulos, e devido ao cuidado parental
das fêmeas (incubam os ovos na boca) estas praticamente não se alimentam e por
estas razões a diferença de crescimento entre machos e fêmeas é cerca de dois a
quatro vezes maior para os machos sendo por esta razão, utiliza-se a técnica de
reversão sexual na fase larval dos peixes, com o uso de hormônios masculinizantes
utilizados na ração por um curto período de tempo (FERRARI et al.,1998).

O Paraná é, atualmente, o estado maior produtor de tilápias. No entanto, no


período do inverno, as baixas temperaturas comprometem a produtividade e colocam
em risco os estoques, onerando demasiadamente a produção (KUBITZA,2000).

2.2 Fatores ambientais que influenciam no desenvolvimento dos peixes

2.2.1 Qualidade da Água

A água é o composto considerado com essência da Terra e domina por


completo a composição química de todos os organismos, além de ser o meio onde
vivem os peixes. Sendo assim especificamente, as suas características regulam
eficazmente o metabolismo do ecossistema a variações climáticas e geográficas
(BOYD,1997).

Vários fatores alteram a composição e as condições da água, interferindo que


os peixes e outros organismos aquáticos vivam de forma equilibrada e possam
expressar todo o seu potencial de crescimento. Avaliar e monitorar alguns
parâmetros pode ser fundamental para o êxito em qualquer sistema de produção de
peixes, evitando muitas vezes a ocorrência de grandes prejuízos por desequilíbrios
no meio onde vivem os peixes.
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2.2.2 Temperatura

Através da condução, a radiação incidente na água é transformada em


energia calorífica e nela se propaga, de molécula para molécula. Este processo de
absorção de energia térmica é mais intenso quanto mais se aproxima da superfície
d’água, principalmente até um metro de profundidade (KUBITZA,2000). De maneira
geral a distribuição e disponibilidade de gases e sais na coluna da água afetam
diretamente a distribuição e a sobrevivência dos organismos aquáticos, por isso
Woynarovich (1993) destaca a importância do uso de aeradores, que além de
atuarem como oxigenadores, ainda desempenham papel importante na
desestratificação dos ambientes aquáticas.

As tilápias são peixes tropicais que apresentam conforto térmico entre 27 a


32ºC. Temperaturas acima de 32ºC e abaixo de 27ºC reduzem o apetite e o
crescimento, e abaixo de 18ºC o sistema imunológico é suprimido. Temperaturas na
faixa de oito a 14ºC geralmente são letais, dependendo de espécie, linhagem e
condição corporal dos peixes e do ambiente (OSTRENSKI E BOEGER,1998).

2.2.3 Transparência da água.

A transparência da água é uma medida diretamente relacionada com a


produção primária (fitozooplâncton). A medida da transparência da água é feita da
maneira mais simplificada, com a utilização de um disco branco com faixas negras
alternadas com 20 a 30 cm de diâmetro, este aparelho é chamado disco de Secchi.
“a profundidade do Secchi” é aquela na qual a radiação de 400 a 740 nm, portanto a
faixa visível, refletida do disco não é mais visível ao olho humano. A faixa ideal para
a profundidade de Secchi em tanques de piscicultura, dependendo da profundidade
do tanque e, desde que o fundo não esteja visível, está entre 25 a 70 cm
(OSTRENSKI E BOEGER,1998).
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2.2.4 Oxigênio Dissolvido

O oxigênio é o gás mais importante para os peixes , por isso, em termos de


piscicultura é a ele que devemos dar maior importância. As fontes de O2 dissolvido é
o processo de fotossíntese/respiração e a decomposição. A amplitude desta variação
é função principalmente das densidades das populações de fitoplâncton, micrófitas
aquáticas e de bactérias, que por sua vez estão diretamente relacionados com as
horas de luz por dia, luminosidade, temperatura e disponibilidade de nutrientes, e
também pela profundidade do tanque (BOYD,1997).

Nos viveiros de piscicultura, por serem de forma geral ambientes rasos, a


concentração de O2 apresenta seu menores valores no período da madrugada ou da
manhã, o que torna a coluna d’água freqüentemente anaeróbia, daí a alta taxa de
mortalidade apresentada em alguns casos nesses horários. De modo geral, os
valores entre zero e um miligrama de oxigênio por litro de água é letal aos peixes, de
dois a três, os peixes permanecem em estresse e, de quatro a seis miligramas de
oxigênio por litro de água, é a condição ideal para maior parte das espécies de
peixes cultivados no Brasil (OSTRENSKY E BOEGER, 1998).

É importante salientar que cada espécie de peixe possui um limite de


resistência quanto a concentração de O2 dissolvido na água e isso varia com a idade
e o estado filosófico, por este motivo é importante o acompanhamento visual dos
animais para que as providências necessárias possam ser tomadas de imediato, a
partir do momento que as concentrações desse elemento atinjam níveis inferiores a
quatro miligramas por litro, principalmente no período noturno, em dias nublados e na
fase final de terminação, caso em que a demanda bioquímica de O2 é maior. Como
nota prática, problemas com O2 dissolvido em qualquer viveiro podem ser notados a
partir da observação da aparência da água, como mudança rápida da cor da mesma,
verde para marrom ou cinza, por exemplo e, do comportamento dos peixes com
presenças de um grande número deles na superfície da água, “bloqueando” ou
tentando “sugar” o oxigênio existente no limite ar-água (KUBITZA,2000) .
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2.2.5 Potencial Hidrogeniônico (pH)

O pH, que é definido como logaritmo negativo da concentração molar de íons


hidrogênio é à medida que expressa a acidez o alcalinidade de uma solução e, além
de ser influenciado pela quantidade de íons H+ e OH, ainda é afetado fortemente por
sais, ácidos e bases que ocorram no meio. Os valores de pH variam de 1,0 a 14,0
sendo que abaixo de 5,0 é fatal a maioria dos peixes, entre 5,0 e 6,0 causa queda no
desenvolvimento, entre 6,5 a 9,5 permite um desenvolvimento satisfatório, entre 7,0
a 8,5 é a faixa ideal ao desenvolvimento dos peixes e, acima de 11,0 também é letal
(BOYD,1997).

O comportamento do pH no período de 24 horas de um dia, segue de maneira


diretamente proporcional o do O2 dissolvido, inversamente o do CO2> Portanto
intensos “blooms” de algas, em tanques com baixas taxas de renovação de água,
dependendo da densidade de estocagem, poderão apresentar altas taxas de
mortalidade de peixes, principalmente durante a noite e na madrugada, devido às
altas concentrações de CO2 no meio, oriundo do processo de respiração
(ODETRENSKI e BOEGER, 1998).

2.2.6 Alcalinidade

É a capacidade da água em neutralizar ácidos. Refere-se à concentração total


de sais na água, sendo expressa em miligramas por litro em equivalente de
carbonato de cálcio ( CaCO3 ), bicarbonato ( HCO3 ), carbonato (CO3 ), amônia (NH3
), hidroxila (OH), fosfato (PO4=), sílica (SiO4 ) e alguns ácidos orgânicos podem reagir
para neutralizar íons hidrogênio (H+). Para viveiros de piscicultura são desejáveis
valores de alcalinidade acima de 20mg/l, sendo que valores entre 200-300mg/l são
os mais indicados(BOYD,1997).
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3. MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Fazenda Cascatinha, município de Toledo, no


período de 09/06/2004 a 20/11/2004.

Foram utilizados nove viveiros de terra identificados individualmente, com 15


m2 de área, contendo 12 m3 de água, construídos ao ar livre, com entrada e saída da
água individualizada e telas (1mm) de proteção no viveiro de abastecimento para
evitar a entrada de peixes indesejáveis, predadores e fuga de alevinos.

No preparo inicial do viveiros foi efetuada uma desinfecção com 20 g de cal


virgem/m2, corrigido o pH com 300 g de calcário agrícola/m2 e adubado com 200g de
cama de aves de postura/m2.

Foram adquiridos alevinos de tilápia do Nilo, Oreochoromis niloticus,


revertidos sexualmente, conforme metodologia descrita por Popma e Green (1990),
oriundos de cruzamento de machos tailandêses (chitralada) e fêmeas nilóticas
(comum) trazidos de outra propriedade que padroniza por tamanho e comercializa
esta espécie. No total do experimento foram utilizados 723 peixes divididos em três
lotes com três repetições por lote. Para cada lote foram utilizados 3 viveiros, sendo o
lote A (VIVEIROS 1, 2 e) com 480 peixes com peso médio de 1,3g. O lote B (viveiros
4,5 e 10) teve 192 peixes com médio de 32g, e o lote C (viveiros 6,7 e 8) com 51
peixes com peso médio de 87g.

Não foram realizadas biometrias durante o período do experimento para evitar


o estresse nos peixes e com isso causar alguma mortalidade que viesse a interferir
nos resultados de sobrevivência.

Para o lote A foi administrada ração comercial com 45% de proteína bruta,
conforme composição básica do rótulo discriminada na Anexo 1. Para os lotes B e C
foi administrada ração comercial com 30% de proteína bruta, conforme composição
básica do rótulo discriminada no Anexo 2, nas dosagens recomendadas por
OSTRENSKI e BOEGER (1998)(Anexo 3), ajustada semanalmente conforme a
previsão de crescimento e número mais provável de peixes nos viveiros.
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No final do período do experimento os viveiros foram esvaziados e todos os


alevinos foram contados possibilitando calcular a taxa de sobrevivência de cada lote.

Os parâmetros físicos químicos para a avaliação da qualidade da água nos


viveiros foram: temperatura, oxigênio dissolvido, pH, transparência e alcalinidade.
Para analise de temperatura, oxigênio dissolvido e pH foram utilizados aparelhos
digitais portáteis e as medidas de transparências foram feitas com o uso do disco de
secchi a alcalinidade utilizou – se kit de análise de água com reagentes químicos.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na região oeste do Paraná a temperatura da água de viveiros de peixes no


período de verão tinge picos máximos de até 35ºC e no período de inverno picos
mínimos de até 10ºC, dependendo da profundidade da coluna d’água e da
localização destes viveiros.

Os viveiros foram povoados com peixes num período em que as temperaturas


da água encontravam-se muito baixas para realizar qualquer tipo de manejo, mas a
boa condição corporal aparente permitiu que os manejos fossem realizados.

O ganho de peso médio durante o período de cultivos obtidos pelos Lotes A,B
e C, que foi de 51,5g; 83,7g e 233,3g respectivamente; e biomassa final média de
258,6g/m3; 535,0g/m3 e 434,7g/m3, respectivamente; demonstrados na Tabela 1
confirmam o potencial de crescimento e rusticidade desta espécie. O Lote B
apresentou a maior biomassa, destacando-se o viveiro número 4 com 631,7 g/m3.
Em nenhum dos viveiros foi observada falta de oxigênio o que provavelmente não
ocorreu pela baixa densidade de biomassa, renovação constante de água e alta
transparência da água.

Poucos dias após o povoamento dos viveiros houve queda acentuada da


temperatura, conforme demonstrado na Figura 1, ocasionando uma maior
mortalidade nos viveiros do Lote A. Também nos primeiros 70 dias de duração do
experimento, de 09/06 a 18/08 ocorreram 35 dias de temperatura da água entre 10ºC
e 15ºC. Neste mesmo período de tempo ocorreram 13 dias com temperaturas entre
10 e 13ºC. Do dia em que se iniciou o experimento até a ocorrência da primeira
temperatura da água acima de 20ºC passaram-se 90 dias, o que demonstra a grande
capacidade de adaptação desta espécie de peixe ao longo dos anos nesta região,
sobrevivendo a baixas temperaturas. Segunda Kubitza (2000), em temperaturas
abaixo de 14ºC observa-se letalidade. O que neste experimento também foi
observado, embora com taxas variáveis nos diferentes tamanhos, sugerindo que
peixes maiores apresentam maior resistência que os peixes menores.
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De meados de julho a meados de agosto a temperatura se manteve abaixo de


15ºC (digura1), o que impediu a alimentação dos peixes quase que totalmente por
um período excessivamente longo, embora não tenha ocorrido mortalidade
provocada por alguma doença ou presença de parasitos. Alguns peixes encontrados
mortos apresentavam fungos e eram retirados diariamente dos viveiros. Naõ foi
utilizada nenhuma medicação preventiva durante o todo período do experimento.

No povoamento foi observado que a condição corporal aparente dos peixes


era muito boa o que provavelmente se refletiu na sua sobrevivência dos peixes,
mesmo em condições adversas de temperatura e períodos longos com baixa
ingestão alimentar.

Quando as temperaturas se mantinham em torno de 15ºC pode-se observar a


busca dos peixes por alimentos de forma discreta, mas de grande importância para a
sua sobrevida. E o que aumentava a busca por alimentos era quando durante o dia a
temperatura da água na camada superior aquecida de 1ºC a 3ºC, possibilitando a
administração de um pouco mais ração, que nessas condições ficavam em torno de
0,5% da biomassa estimada de peixes em cada viveiro.

Não foram observados predadores nos viveiros durante o período


experimental, e o número de peixes encontrados mortos foi bem menor do que os do
resultado final da despesca, o que pode ter ocorrido é que em baixas temperaturas
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da água muitos peixes permaneceram no fundo dos viveiros onde são decompostos
lentamente não emergindo a superfície logo após a morte.

A média de conversão alimentar dos peixes no período experimental foi de


0,96; 1,05 e 1,31, para os Lotes A, B e C, respectivamente (Tabela 1); o que
demonstra a excelente capacidade de conversão alimentar desta espécie e sua
provável ingestão de alimentos naturais encontrados nos viveiros de terra que podem
suprir até mais de 50% das necessidades dos peixes onívoros (SANTOS, 1998).

As tilápias do Lote A tiveram taxas de sobrevivência de 24,3%; 42,5% e 41,2%


nos viveiros 1, 2, e 3, respectivamente, conforme demonstrado na Tabela 1. A maior
mortalidade ocorreu no período inicial logo após o povoamento e se deve
principalmente aos manejos, transporte e manipulação, agravado pelas baixas
temperaturas ocorrida neste período. Experimentos realizados com alevinos no
período do verão em situações semelhantes, embora com temperaturas médias de
24,3ºC, verificaram taxas de sobrevivência superiores a 80% (HEIN, 2002), e BARAS
et al (2000) com taxas médias de 76,2% de sobrevivência em temperaturas de 24 a
33ºC, o que demonstra que a temperatura é um fator limitante para a sobrevivência
de alevinos e tilápias.

A mortalidade de 11,0%; 18,8% e 9,4% ocorrida nos peixes dos viveiros 44, 5
e 10, respectivamente, do lote B (Tabela1);pode ser considerada normal diante do
grande desafio a que foram submetidos de baixas temperaturas e pouca ingestão
alimentar por longos períodos, conforme Ostrenski e Boeger (1998) que afirmam que
temperaturas na faixa de oito a 14ºC geralmente são letais, dependendo da espécie,
linhagem e condição corporal dos peixes e do ambiente.

A sobrevivência dos peixes do lote C, nos viveiros 6, 7 e 8 (Tabela 1) pode ser


considerada excelente e dá condições para que se possa buscar uma alternativa de
viabilidade na produção de tilápias, com a manutenção de peixes maiores durante o
período de inverno , com baixos investimentos e riscos, para posterior povoamento e
engorda, o que também é sugerido por SONODA (2002), que ao analisar diversos
parâmetros encontrou melhores resultados econômicos para povoamento de
engorda com tilápias maiores.
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Em condições de temperatura ideal para o crescimento das tilápias, o ganho


de peso no período experimental de 165 dias dos Lotes B e C , seria o suficiente
para concluir a engorda destes peixes até o peso de 450g (EMATER, 2004), o que
não ocorreu devido ao baixo ganho de peso, conforme Tabela 1, provavelmente
provocado pelas baixas temperatura da água.

Figura 2. Médias de transparência (cm) e oxigênio(mg/l) ocorridas nos viveiros no


período de 09/06 a 20/11/2004.

As médias de transparência da água dos viveiros variaram de 31,7 a 39,1 cm,


conforme a Figura 2, o que demonstra a produção razoável de zoofitoplâncton nos
viveiros, e a presença de oxigênio disponível de 4,5 a 6,5 mg/l suficiente para o bom
desenvolvimento dos peixes, segundo Ostrenski e Boeger, (1998).

Os parâmetros de qualidade da água observados durante o período de cultivo


nos viveiros, conforme Figura 2 e 3, não tiveram grandes oscilações devida à
renovação de água no viveiro de abastecimento. O pH variou de 6,5 a 6,8, e a
alcalinidade de 22 a 29 mg/l, embora Boyd (1997) destaca que o pH de 7,0 a 8,5 com
pouca variação e alta alcalinidade de 200-300 mg/l seja mais recomendado para
viveiros de piscicultura.
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Tabela 1. Identificação dos lotes, viveiros e números de peixes utilizados no lotação e retirados na despesca, durante o período de 09/06 a
20/11/2004, na Fazenda Cascatinha, município de Toledo, Paraná.
LOTAÇÃO DESPESCA

Peixes PI Médio Peixes PF Médio GPP Consumo CA Biomassa Final TS


Vivei
(nº) (g) (nº) (g) (g) Ração (g) (%)
ros
480 1,3 173 52,8 51,5 8.717 0,96 258,6 36,0
LOT
EA
1 160 1,3 39 46,2 44,9 1.991 1,11 149,5 24,3

2 160 1,3 68 55,1 53,8 3.222 0,86 312,2 42,5

3 160 1,3 66 57,1 55,8 3.504 0,93 314,0 41,2

LOTE B 192 32 167 115,7 83,7 20.199 1,05 535,0 86,9

4 64 32 57 133,3 101,3 8.035 1,06 631,7 89,0

5 64 32 52 117,3 85,3 5.840 0,96 507,0 81,2

10 64 32 58 96,5 64,5 6.324 1,13 466,4 90,6

LOTE C 51 87 49 320,3 233,3 20.318 1,31 434,7 96,0

6 17 87 16 318,7 213,7 6.832 1,34 424,9 94,1

7 17 87 16 315,7 228,7 6.832 1,39 420,9 94,1

8 17 87 17 323,5 236,5 6.654 1,21 458,3 100,0

Legenda: PI – Peso Inicial; PF M- Peso Final; TS – Taxa de Sobrevivência; GPP – Ganho de Peso no Período; CA –
Conversão Alimentar (kg peixe: kg ração)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a execução deste trabalho, foi possível concluir que os alevinos de maior
porte apresentaram maiores taxas de sobrevivência em relação aos menores. Tal
resultado pode ser utilizado como parâmetro para o desenvolvimento dos cultivos, a
fim de aumentar a viabilidade e a produtividade dos viveiros; uma vez que quanto
mais desenvolvidos os alevinos, maior resistência às adversidades ambientais,
especialmente em relação à variação de temperatura.

Como a região do Paraná é caracterizada por um período de inverno (4-5


meses) pronunciado com baixas temperaturas, que atingem níveis que oferecem
riscos ao sistema de produção de peixes em viveiros de terra, com mortalidade de
alevinos e juvenis, atraso no crescimento e impedimentos de manejo de peixe; a
alternativa de passar esse período com peixes juvenis tornou-se uma necessidade e
vem sendo difundida pela extensão rural e adotada pelo piscicultores, pois:

- induziu à mudanças de manejo e maiores cuidados no período de inverno;

- antecipa o final da engorda em até 3 meses com povoamento após o


inverno;

- evita a aquisição de alevinos após o mês de abril, pelos altos riscos de


mortalidade no inverno.

- Estimula o aumento da produção de peixes por ano pela diminuição da


mortalidade no período da engorda e necessidade de organização da
produção na propriedade;

- Auxiliar na padronização dos lotes da engorda

- Reduz o aparecimento de doenças e gastos;

- Auxilia a indústria com maior disponibilidade de peixes durante o ano;


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REFERÊNCIAS

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Manejo. Liv. Edit. Agropecuária Ltda. Guaíba, RS, 1998. 211p.

POPMA, T.J.; GREEN, B.W. Aquaculture prodution manual – Sex reversal of


tilapia in earthen ponds. Research and Development Series n. 35. Auburn University,
Alabama, USA, 1990, 15p.
3

SANTOS A.J.G., SILVA, A.L.N. Biotecnologia em aquicultura: Processos, riscos e


cuidados. Ênfase à produção de tilápias. Panorama da Aquicultura, Jan/Fev.1998,
p.22-26.

SONODA, D.Y. Análise econômica de sistemas alternativos de produção de


tilápias em tanque rede para diferentes mercados. ESALQ. Dissertação de
Mestrado Economia Aplicada. Piracicaba, SP, Out/2002, 92p.(mimeo).

WOYNAROVICH, E. Manual de Piscicultura. Brasília: MIR/CODEVASF, 1993.

ZIMMERMANN, S. Incubação Artificial. Panorama da Aquicultura. Jul/Ago,1999,


p.15-21.

ZIMMERMANN, S. Observações no crescimento de tilápias Nilóticas (Oreochromis


niloticus) da linhagem Chitralada em dois sistemas de cultivo em três temperaturas
de água. In: TILAPIA AQUACULTURE IN THE 21 ST CENTURY, 2, 2000, Rio de
Janeiro:Panorama da Aquicultura, p.323-327, 2000.
4

ANEXO
5

Anexo 1. Composição da ração comercial Peixes 45%

NÍVEIS DE GARANTIA %
Proteína Bruta (Min.) 45
Fibra (Máx.) 6
Extrato Etéreo (Min.) 4
Mineral (Máx.) 13
Cálcio (Máx.) 3
Fósforo (Min.) 0,5
Umidade (Máx.) 12
ENRIQUECIMENTO POR QUILO
Vitamina A(UI) 8.000
Vitamina D3 (UI) 2.100
Vitamina E (mg) 10,0
Vitamina K3 (mg) 3,0
Vitamina B1 (mg) 2,0
Vitamina B2 (mg) 4,0
Vitamina B6 (mg) 6,0
Vitamina B12 (mg) 10,0
Vitamina C (mg) 450,0
Ac. Nicotínico (mg) 30,0
Ac. Pantotênico (mg) 10,0
Ac. Fólico (mg) 0,5
Biotina (mg) 0,5
Antioxidante (mg) 120,0
Ferro (mg) 40,0
Cobre (mg) 8,0
Manganês (mg) 70,0
Zinco (mg) 50,0
Iodo (mg) 1,2
Selênio (mg) 0,12
Colina (mg) 500,0
Fonte: ração Kowalski Alimentos Ltda
6

Anexo 2. Composição da ração comercial Peixes 30% cresca/eng

NÍVEIS DE GARANTIA %
Proteína Bruta (Min.) 30
Fibra (Máx.) 5
Extrato Etéreo (Min.) 4
Mineral (Máx.) 12
Cálcio (Máx.) 3
Fósforo (Min.) 0,5
Umidade (Máx.) 12
ENRIQUECIMENTO POR QUILO
Vitamina A(UI) 8.000
Vitamina D3 (UI) 2.100
Vitamina E (mg) 10,0
Vitamina B1 (mg) 2,0
Vitamina B2 (mg) 4,0
Vitamina B6 (mg) 6,0
Vitamina B12 (mg) 10,0
Vitamina C (mg) 200,0
Ac. Nicotínico (mg) 30,0
Ac. Pantotênico (mg) 10,0
Ac. Fólico (mg) 0,5
Biotina (mg) 0,5
Antioxidante (mg) 120,0
Ferro (mg) 40,0
Cobre (mg) 8,0
Manganês (mg) 70,0
Zinco (mg) 50,0
Iodo (mg) 1,2
Selênio (mg) 0,12
Colina (mg) 500,0
Fonte: Ração Kowalski Alimentos Ltda
7

Anexo 3. Tabela de Arraçoamento de Tilápias


PESO TEMPERATURA (ºC)/
MÉDIO(G) % DA BIOMASSA

<15 15-17 18-20 21-23 24-26 27-29 >30


1-5 0 3 6 9 12 15 6
5-10 0 1,6 3,2 4,8 6,4 8 3,2
10-20 0 1,4 2,8 4,2 5,6 7 2,8
20-50 0 1 2 3 4 5 2
50-70 0 0,8 1,6 2,4 3,2 4 1,6
70-100 0 0,8 1,6 2,4 3,2 4 1,6
100-150 0 0,6 1,2 1,8 2,4 3 1,2
150-200 0 0,54 1,08 1,62 2,16 2,7 1,08
200-300 0 0,48 0,96 1,44 1,92 2,4 0,96
300-400 0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 0,8
400-500 0 0,38 0,76 1,14 1,52 1,9 0,76
Ostrensky & Boeger, 1998

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