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ISSN 1413-389X Temas em Psicologia - 2007, Vol.

15, no 1, 85 – 90

Estágio na escola pública: reflexões inspiradas na


psicologia escolar

Adriana Marcondes Machado


Universidade de São Paulo

Resumo
Este texto relata duas experiências de estágios de alunos do curso de Psicologia da Universidade
de São Paulo na área de Psicologia Escolar: uma atividade denominada “Parte Prática”, e a
outra, “Estágio de Intervenção”. Os estágios revelam a necessidade das ações dos estagiários de
psicologia, nas instituições educativas públicas, terem como objetivo fortalecer os educadores
para o enfrentamento de questões presentes no cotidiano escolar relacionadas à produção de
subjetivação no processo de ensino-aprendizagem. Para isto é importante a análise das
demandas que se estabelecem desde o contrato do estágio – demanda da instituição educativa e
demanda dos alunos de psicologia –, efeitos da história da relação da psicologia com a
educação. Os sentidos produzidos pelos estágios, o percurso deles e as reflexões a partir destas
experiências precisam ser problematizados com os profissionais da instituição educativa com os
quais entramos em contato. Afirmam-se, neste artigo, os cuidados que os estágios em
instituições educativas públicas devem ter quando eles visam intervir na produção de um
cotidiano cujos problemas têm relação com funcionamentos de ordem político/institucional.
Palavras-chave: Escola pública, Estágio, Psicólogo, Intervenção, Demanda.

Practical professional training at public schools: Reflexion


inspired on school psychology

Abstract
This study describes two interships experiences of Psychology under-graduation students at
University of São Paulo on the field of School Psychology: one called “Practical Study”, and the
other called “Intervention Intership”. These interships had revealed how important is that the
actions, performed by Psychology interns in public educational institutions, have the focus on
the strengthen of educators when facing current issues of academic routines, related to the
subjectivity present in the teaching-learning process. Towards this, it is important that the
demand – brought by the educational institution and by the Psychology students –, set upon
since training agreements, must be evaluated as background effects of this relation of
psychology and education. Discussions with professionals from institutions involved in the
study should be held to analyze the suggested directions, how to reach them, and their effects to
the research raised by these interships. Also, some cautions were mentioned here, that the
interships should have while dealing with public educational institutions, that took aim at
intervene in the routines of these institutions which their problems are political and institutional
matter.
Keywords: Public school, Practical professional training, Psychologist, Intervening, Demand.

Temos como objetivos, neste artigo, Psicologia da USP e as concepções que os


apresentar os formatos de dois estágios da embasam. Para isto, urge discutir o que se
área de Psicologia Escolar do Instituto de pretende que os estudantes de graduação

Endereço para correspondência: Adriana Marcondes Machado, adrimarcon@uol.com.br.


Este artigo discute a prática de estágio do Serviço de Psicologia Escolar. As psicólogas Beatriz de Paula
Souza e Yara Sayão são companheiras nessa construção.
86 Machado, A. M.

aprendam quando, durante sua formação, não vou deixar a criança ir ao recreio”).
vão às escolas e, como desenvolver um Enfim, mostram-se presentes discursos
modo de conhecer que possibilite a submetidos à tirania do EU, inclusive nas
percepção do processo de constituição falas de alguns alunos de nossas escolas
daquilo que foi observado e vivido. As cenas públicas, quando dizem “eu não quero
e acontecimentos no interior de uma sala de estudar essa matéria”.
aula e de outros espaços da escola são O contexto no qual se produziram os
efeitos de um campo de forças que processos de individualização e de
precisamos habitar de uma maneira não- culpabilização foi discutida por Foucault
ingênua. (1987) ao apresentar as estratégias de
Focamos, em nosso trabalho, as controle do poder a partir do século XIII. O
questões subjetivas (processos de autor possibilita-nos afirmarmos a produção
subjetivação) presentes no processo de da culpa individual como mecanismo de
ensino e de aprendizagem. Estas questões se controle. A relação da psicologia com a
engendram em um funcionamento educação como produtora de crianças com
institucional, isto é, em um território problemas individuais que fracassam na
estabelecido por práticas, saberes e relações escola foi aprofundada por Patto (1990) ao
de poder. Habitar este território de uma refazer o percurso histórico dessas práticas e
maneira não-ingênua implica termos acesso saberes. As novas roupagens do poder,
às funções que estamos ocupando quando intensificadas por uma mídia produtora de
vamos à escola, isto é, a maneira como consumidores e por práticas que engendram
habitamos esse território não depende sensações de faltas a serem preenchidas por
apenas de nossas intenções e objetivos, mas coisas, tratamentos e medicações, têm sido
também da forma como incluímos as foco de nossas discussões ao nos
demandas dos educadores e os usos e efeitos debruçarmos nas condições de vida e de
em relação à nossa presença nas instituições. trabalho dos professores. Essas discussões
E, como veremos, se não analisarmos essas inpiraram as construções dos estágios que
demandas, ocupamos esse espaço de modo a serão narradas a seguir. O desafio
cair nas raias do instituído sem poder estabelecido por estas leituras revela que
questioná-lo. todos os acontecimentos são efeitos de
No caso de nossos estudantes – alunos relações, isto é, fazemos parte de um campo
de graduação do curso de Psicologia da USP de forças cujo sentido hegemônico revela o
–, eles carregam a história da relação entre que tem dominado neste território, mas não
educadores e especialistas da saúde, na qual revela todas as forças (muitas minoritárias)
se deposita no especialista a possibilidade de presentes nele. O pedido para que um
cura e melhora das crianças e jovens das psicólogo cure um aluno (foi assim que a
escolas públicas. Por isso, estar em uma psicologia, historicamente, ensinou os
instituição como estagiário de psicologia professores a demandarem seu trabalho)
implica colocarmos em análise as demandas carrega também: pedido de ajuda, a
estabelecidas nessa relação, que elas sirvam possibilidade de pensarmos juntos o
para mostrar as intensidades presentes em processo de produção daquilo que se
um certo campo relacional de maneira que apresenta como queixa, a possível invenção
possamos, com isso, agir neste campo. de ações na escola que intervenham nessa
Muitos educadores trabalham em produção, a problematização de uma
instituições nas quais domina um instituição com muitos funcionamentos
funcionamento individualizante, que cristalizados, etc.
culpabiliza o aluno pela produção do Apresentaremos os dois momentos das
fracasso escolar, que culpabiliza a família práticas dos estudantes de Psicologia na área
pelo fracasso da educação (dizem: “Nosso de Psicologia Escolar articulados com
problema são os pais que largam e algumas idéias e concepções que buscam o
abandonam seus filhos na escola”), que vive entendimento e a criação de ações frente aos
as práticas educativas de maneira processos, acima mencionados, de
individualizada (os professores exercem individualização e culpabilização. São eles:
suas regras com discursos pessoais: “Na 1) conhecer a realidade educacional
minha aula isso pode ou não pode”; “Eu (parte prática, obrigatória);
Estágio de psicologia nas escolas públicas 87

2) participar de projetos de intervenção possibilita e o que impede? Como está o


nessas realidades (estágio, optativo). processo de aprendizagem dessas crianças?
São contratos diferentes e objetivos Quando trazem para a supervisão as
diferentes. perguntas que consideram importantes para
se conhecer a instituição, é comum
depararmos com aquelas que não produzem
Parte prática conhecimento, que têm como possibilidade
No primeiro momento – parte prática de resposta apenas o sim ou o não: por
existente desde 2003 –, solicitamos a exemplo, perguntar ao educador se ele acha
autorização dos diretores da instituição importante se manter em formação (a
educativa para que os alunos regularmente reposta é sim ou não). Este tipo de pergunta
matriculados na disciplina “Psicologia e não nos dá acesso ao modo como a
Educação”, do terceiro ano (6º semestre) do formação intervém no trabalho cotidiano.
curso de Psicologia, possam realizar, na Também são comuns perguntas que visam
instituição, algumas visitas com a finalidade conquistar verdades sobre os sujeitos
de reunir elementos para melhor conhecer e observados.
refletir sobre a realidade educacional E, aqui, é possível afirmar que nosso
brasileira. Esta solicitação é entregue por inimigo se constitui nas concepções e
escrito ao corpo técnico da escola. práticas individualizantes de nossa formação
Os alunos se organizam em duplas para em tempos contemporâneos. Eis alguns
irem à instituição, uma ou duas vezes exemplos destes reducionismos perigosos:
apenas. Elegem um tema que querem se as crianças, no recreio, brincam com uma
conhecer – o trabalho com a inclusão, a criança com surdez, então se diagnostica que
educação de jovens e adultos, o caráter ela estaria integrada; se não brincam, é sinal
educativo de uma casa-abrigo, as escolas de que ela não estaria integrada. Se a
ligadas a movimentos sociais, etc. professora coloca o aluno com necessidades
Formamos grupos com até 14 estagiários, educativas específicas perto dela, estaria
que têm cerca de 8 supervisões (sou uma das estigmatizando-o; se não coloca, estaria
supervisoras), nos quais discutimos: o que rejeitando-o. Se a mãe olha a lição, estaria
pretendem conhecer, como fazer para interessada no filho; se não olha, não estaria.
conhecer o que querem, quais conversas ter, E assim vai. Portanto, é fundamental
que perguntas podem dar acesso ao que criarmos um espaço de supervisão onde as
querem conhecer. Nosso foco de reflexão é a concepções e saberes dos nossos estudantes
relação entre as práticas desenvolvidas na – que se organizam por uma dada formação
instituição e o fazer da psicologia. A intelectual e política – sejam nosso foco.
educação interessa à psicologia pelas Quaisquer ação, fala e prática que os
intensas produções subjetivas que se dão estagiários estabelecem nas instituições
neste território constitutivo de sujeitos. escolares vão ter efeitos conforme o que se
É comum que os estagiários espera da psicologia (ou da pedagogia)
naturalizem o que é visto, assim como naquela relação. Isto implica discutirmos
também os professores, por meio da com os estagiários que, dependendo dessa
ideologia do talento e da generalização relação, eles não podem, por exemplo, em
diagnosticadora do que se observa. Eles uma ou duas visitas à instituição, fazer uma
observam uma classe especial para observação na sala de aula onde haja uma
deficientes mentais e, ao perceberem a criança surda. Sabemos, pois, que há grande
professora carinhosa na relação com as chance de os outros alunos desta sala
crianças, interpretam tal relação como sendo associarem a presença do estagiário à
boa. Sabemos que o perigo da interpretação criança com surdez, como se ela, por ser
é quando ela se torna uma operação de diferente, sempre fosse a que precisa do
captura e generalização, reduzindo o campo olhar de um especialista. Ora, produzimos
problemático a único sentido. Nossa discriminação em nossas práticas – um
intenção é ampliar este campo problemático: psicólogo pisando no território escolar pode,
O que é uma boa relação? Qual idéia de se isso não for bem trabalhado, causar mais
“carinhosa” os alunos estão tendo? Em que malefícios do que benefícios. Muitas vezes,
prática isso está se dando? O que isso ao sair de uma escola, já escutei professoras
88 Machado, A. M.

dizerem a seus alunos: “Olhe, ela é escola fica isento de responsabilidade.


psicóloga, se você não melhorar, vai ter que Portanto, as pequenas ações devem sempre
falar com ela”. ser significadas e inventadas nesse campo
Os estagiários contam cenas que vivem em que os sintomas são produzidos
no dia-a-dia escolar e que devem ser (sintomas como a não aprendizagem, as
problematizadas, pois, do contrário, os atitudes agressivas, o desinteresse, etc.).
estaremos colocando como cúmplices de Nossos alunos ficam cerca de quatro
práticas produtoras de assujeitamento em um meses indo semanalmente às instituições
funcionamento instituído. Conhecemos educativas, realizando trabalhos em duplas.
situações em que o professor da sala pede ao Estes trabalhos são definidos com o grupo
estagiário que o ajude com um certo aluno e, de educadores da instituição. Sabemos das
se o estagiário também não consegue dificuldades de tempo e espaço que os
sucesso em sua intervenção, fica parecendo profissionais da educação vivem para pensar
que o aluno não tem possibilidade de coletivamente as problemáticas da
melhora, pois nem o estagiário, em um instituição, para levantar hipóteses sobre
trabalho mais individual, conseguiu o que se acontecimentos cotidianos e estabelecer
pretendia. Por isso a necessidade de ações a respeito. São as mesmas dificuldades
constante discussão sobre as demandas. Elas que, acredito, temos nós, em nossas
são também de nossa responsabilidade, pois faculdades e institutos, com uma diferença:
se criam na relação com o estágio. o estudante de uma universidade talvez
tenha mais condições de sobreviver às
idiossincrasias de um curso superior do que
Estágios de intervenção uma criança estudando em uma escola com
A segunda forma de estágio que poucos recursos, com um professor que,
desenvolvemos com os alunos do curso de muitas vezes, precisa trabalhar três turnos
Psicologia são os estágios de intervenção, para garantir seu sustento.
existentes desde 1984. Quando os Os grupos de supervisão para os
estagiários vão realizá-los nas escolas (e estagiários de psicologia funcionam com
falamos, portanto, de uma modalidade na cerca de 8 estagiários por grupo, 4 duplas,
qual pretendemos ficar um tempo na que realizam o estágio em uma instituição
instituição e agir nela), a demanda que o escolar. Eles ficam duas horas semanais nas
grupo de educadores traz muitas vezes recai escolas e têm cerca de duas horas e meia de
sobre a necessidade de atendimento supervisão, também semanal, com a tarefa
individual para os alunos da escola, de escrever relatórios semanais sobre o
revelando as concepções valorativas que trabalho. É comum irem às instituições
norteiam os atos educativos. Ouvir esta educativas em outros horários não
demanda e incluí-la em nossas discussões estipulados no contrato.
com os educadores tem sido um intenso O que fazemos nas escolas?
percurso (Machado, 2003). Pretendemos incidir sobre o processo
Vale ressaltar o perigo de algumas de produção do que aparece como problema
práticas tidas como bem-sucedidas, quando nas falas dos educadores. Os problemas são
se voltam para o que consideramos alívio do expressos pelos professores, muitas vezes,
sintoma. Por exemplo, os educadores se como fatos exteriores ou imprevistos. Como
queixam de que algumas crianças não se criar uma mudança que permita percebê-los
interessam por aprender e os estagiários como efeitos das maneiras como se dão as
realizam atividades com elas buscando relações de saber e poder? Por exemplo:
interferir nesta produção. Algumas das — Os professores se queixam dos
crianças acabam melhorando em seu alunos indisciplinados – investigamos a
processo de aprendizagem (agindo mais, produção do indisciplinar na escola e nesta
perguntando, fazendo as coisas pedidas). investigação percebemos a relação entre as
Mas o discurso dominante fica sendo o cenas que os professores colocam como
seguinte: “Essas crianças que melhoraram impeditivas para a realização do trabalho
precisavam mesmo de especialistas” e “essas educativo e a inexistência de discussão
crianças que não melhoraram, nem com destes temas nas reuniões de professores.
especialistas vão bem”. O funcionamento da Um indicador importante do funcionamento
Estágio de psicologia nas escolas públicas 89

de uma instituição escolar tem sido o modo estigmatização. O projeto estabelecido com
de funcionamento das reuniões pedagógicas essa educadora foi criar um dispositivo no
dos professores. É possível pensar em qual se enfatizasse a existência de diferentes
estratégias pedagógicas abrangentes para o maneiras de cuidar e de ser cuidado.
enfrentamento de certas problemáticas, Inventou-se um extraterrestre, inventaram-se
como, por exemplo, a violência? As perguntas deste extraterrestre aos terrestres,
reuniões servem como desabafo ou há inventaram-se vidas diferentes. E as crianças
encaminhamento das ações propostas? foram se encantando e ficando curiosas com
Quem cuida do quê? as diferentes possibilidades de produzir
— Os professores nos falam dos cuidado. Todo este trabalho visava incidir
analfabetos que freqüentam o Ensino nas práticas pedagógicas, em suas
Fundamental II (antiga 5a à 8a séries), efeitos concepções e seus efeitos nos processos de
das práticas com a progressão continuada 1 – subjetivação.
trabalhamos com a produção do Falamos, portanto, da relação entre as
analfabetismo no Ensino Fundamental I, práticas instituídas e as concepções e os
com a relação entre as políticas de governo e saberes que instituem essas práticas. A
o dia-a-dia escolar e, nesta discussão, o tema maneira como os pais são chamados pela
da educação inclusiva tem estado bastante escola, o funcionamento do conselho
presente. escolar, as discussões nos espaços coletivos,
Como nos ensinou Michel Foucault, as rotinas, a relação público/privado nas
queremos ter acesso ao processo de práticas cotidianas, a gestão das ações
produção daquilo que se tornou atributo educacionais, os passeios pagos nos quais
individual do sujeito. Por exemplo: entender algumas crianças não podem exercer o
como se produz o indisciplinar no cotidiano direito de participar desta atividade
escolar de maneira a engendrar os alunos pedagógica porque não podem pagar – tudo
indisciplinados. Para isto uma série de ações isso tem relação com as produções
deve ser pensada na relação com micropolíticas do cotidiano (Guatarri e
educadores, pais, funcionários e crianças – Rolnik, 2005).
como têm sido apresentado por vários Escrever “incompleto” no caderno de
autores (Machado, Fernandes e Rocha, Severino (7 anos), que suou e lutou durante
2006). uma hora e meia para conseguir copiar o
No estágio realizado em uma EMEI cabeçalho, é uma ação engendrada em um
(escola municipal de ensino infantil) uma território que deve ser refletido (Costa e
dupla de estagiários trabalhou com a Santos A. A., 2002).
professora de uma classe com crianças de 5 Queremos que nossos alunos percebam
anos. A questão trazida pela professora era a produção coletiva, histórica, intensiva de
como agir com o fato de haver muitas qualquer fenômeno a ser analisado, sabendo
crianças de uma casa-abrigo na sala de aula. que ele se engendra em um funcionamento
As crianças que viviam com suas famílias institucional do qual esses alunos (e nós)
revelavam receio e preconceito em relação fazem parte. Portanto:
às que viviam na casa-abrigo: Como viver 1. Precisamos de espaços e tempos
sem família? Elas não têm casa? Elas não para discussão destas ações nas escolas,
têm mãe?... A professora havia pensado em junto aos professores. Os estagiários
fazer uma visita à casa-abrigo com todas as agendam encontros com os professores para
crianças da classe. Pensamos que este pensarem sobre os saberes e ações
recurso – no qual, a nosso ver, o público constituídas no estágio. Eles também
atravessa o privado – intensifica efeitos de redigem escritos sobre o que vão
percebendo, aprendendo e fazendo, para
serem lidos junto com o professor. Estes
1
Política pública estabelecida em 1998 escritos são intensamente discutidos nas
denominada Regime de Progressão Continuada supervisões, pois é comum a escrita de
que reorganizou o ensino fundamental da rede frases julgadoras que culpabilizam o
pública paulista em dois ciclos de 4 anos cada:
professor. Em alguns projetos cabe à
Ciclo I: 1a a 4a séries; Ciclo II: de 5a a 8a séries –
no interior dos quais somente há reprovação de supervisora ir quinzenalmente, ou de 3 em 3
alunos faltosos. semanas, para reuniões com professores
90 Machado, A. M.

interessados. Portanto, criamos espaços onde Isso requer contínua discussão com os
as apropriações e funções de nossas ações profissionais das escolas.
possam ser problematizadas.
2. Precisamos de tempo de supervisão
para que as ações dos estagiários possam ser
Referências
discutidas. Na supervisão, as cenas que Costa, E., & Santos, A. A. (2002)
ocorrem no cotidiano – um professor que Cadernos escolares na primeira série
pede para um estagiário ajudar em algo, do ensino fundamental: funções e
outro que critica um aluno para o estagiário, significados. Dissertação de Mestrado
outro que pergunta várias vezes o que em Psicologia, Instituto de Psicologia,
estamos fazendo lá, etc. – são nossas Universidade de São Paulo, SP.
matérias-prima, e não imprevistos em nossa
ação. Nestas cenas, temos acesso às Foucault, M. (1987) Vigiar e Punir: o
expectativas, concepções, práticas dos nascimento da prisão (5a ed.). Rio de
educadores e estabelecemos uma Janeiro: Ed. Vozes.
interlocução com tudo isso.
Guatarri, F., & Rolnik, S. (2005)
Micropolítica: cartografias do desejo
Estágio: objetivo de (7a ed.) Rio de Janeiro: Ed Vozes.
Transformação
Machado, A. M. (2006) O psicólogo
Tendo acesso a uma prática trabalhando com a escola: intervenção
institucional atenta à complexidade de a serviço do quê? In M.E.M. Meira &
relações presentes na escola e com estudos
M. Antunes (Orgs.). Psicologia e
teóricos sobre os funcionamentos grupais e
institucionais, nossos estagiários têm mais
Educação: práticas críticas. São
chance de romper com a queixa tão rotineira Paulo: Editora Casa do Psicólogo.
sobre a falta de um aluno ideal, a queixa Patto, M. H. S. (1990) A produção do
sobre a falta de um grupo de professores fracasso escolar. São Paulo: Ed. T. A.
mais envolvidos, a queixa sobre a falta de Queiroz.
direcionamento político nas ações. Romper
essa queixa em relação à produção faltosa
implica percebermos como agenciar forças
Enviado em Novembro/2007
aliadas a construir outras possibilidades nas
Revisado em Maio/2008
instituições onde trabalhamos. Para isso é
Aceite final em Agosto/2008
preciso um trabalho de estágio que, desde o
Publicado em Junho/2009
seu formato, seja de produção coletiva e de
construção de estratégias de enfrentamento
em relação aos acontecimentos cotidianos.

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