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hot diesel
Ford F-100 roda com motor turbodiesel
F-100 1959 - oldsmobile 1954 - maverick 1977
ISSN 1808-9399
ISSN 1808-9399
ano 9 #106
R$ 14,90
Oldsmobile
Sedan Ninety Eight 1954
www.cteditora.COM.BR
Passado e futuro
Hot Rods se despede de 2013 com a promessa de que o próximo ano será
melhor. Pelo menos no que depender de nós!
Ademir Pernias e Ricardo Kruppa - editores
A
época das festas de final de plantamos o que estamos colhendo escolher as melhores sementes, fertilizar
ano é propícia a reflexões. De hoje. O ano de 2013 terá, para cada a plantação e aguá-la. Ou seja, no que
fazer um balanço de nossas um de nós, sido um ano bom ou ruim depender de nós, fazer o melhor para
atitudes e conquistas no período de acordo com nossas perdas e con- que os frutos sejam fartos e doces.
que se encerra e de planejar quistas pessoais. Não se pode negar A equipe de Hot Rods deseja a
ações e objetivos a ser atingidos que, para os brasileiros, foi um ano de seus leitores, colaboradores e ami-
no novo ano que se inicia. Período em dificuldades econômicas, quase estag- gos, que o balanço que fizermos
que podemos mirar o futuro, porque é nado, apesar de cada um de nós achar quando 2014 chegar ao fim nos
neste tempo que podemos fazer com que deu o melhor de si em seu traba- traga, senão a satisfação plena, pelo
que nossas ações gerem os frutos que lho. Plantou-se, mas as condições adver- menos consciência tranquila de que
gostaríamos de colher. Mas sem deixar sas não resultaram em colheitas fartas. todos os esforços tenham sido feitos.
de olhar o passado, pois foi ali que Fazer o quê? Arar o solo novamente, Feliz 2014!
Sumário
06 Impala 1969 com placa preta, que garante a originalidade, é um dos destaques
do encontro que aconteceu no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo
Hot Rods
Crazy Turkey Editora A Hot Rods é uma publicação mensal da Crazy Turkey Editora
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O
Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo
(SP), recebeu entre os dias 8 e 10 de novembro
a 4ª edição do Rotrods Brasil. Organizado pela
entidade homônima, em parceria com a empresa
MA3, o encontro reuniu mais de 120 veículos e
cerca de 80 expositores.
Paulo dos Santos, presidente do clube, conta mais detalhes.
“Trata-se do principal encontro anual da nossa entidade. Nesta
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Acima, Chevrolet
Apache. À direita, um
Lakester
encontro - são bernardo do campo
No alto, El Camino,
ao lado de uma Kombi
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Corujinha
Ford F-100 1959
E
mbora relativamente comuns nos Estados Unidos,
os hot rods movidos com mecânica a diesel ainda
são bastante raros no Brasil. Por aqui, ainda pre-
domina a cultura do V8, como regra geral. Mes-
mo lá fora, o mais comum são os modelos rat, que
se orgulham de fazer muita fumaça. O projeto do
administrador Marcelo Martins de Oliveira é um pouco
diferente. Por ser proprietário da Tecnodiesel, mecânica
especializada neste tipo de motorização, quando Marce-
lo decidiu reformar a F-100 que já estava na família des-
Hot Rods 20
de 1982, não teve dúvida: tinha que ser com este tipo
de propulsor. “Ouço algumas críticas a respeito, dizem
que tem que ser V8, mas quando me falam isso eu con-
vido para dar uma volta e tenho certeza que, antes de
a pessoa descer, seus conceitos já mudaram. Tenho um
motor moderno e confiável, além de ser um seis cilindros
biturbo”, conta o proprietário.
Ford F-100 1959
Nunca antes
Apesar de ser quase um caminhão de pequeno porte, a
F-100 nunca teve uma versão a diesel original. Todas elas
eram movidas a gasolina, tendo como opções motores de
seis e oito cilindros. Na verdade, isso ocorria porque, ape-
sar de ter uma grande vocação para o trabalho, este tipo
de picape sempre flertou mais com o segmento de carros
de passeio, por ter um visual chamativo e com muito estilo.
Quem vê a Fordinha do Marcelo por fora nem imagina que
ela tem este diferencial. A pintura é clássica, em vermelho
brilhante. A carroceria mostra um visual clean, com poucos
frisos, fruto de um bem feito trabalho de funilaria e pintura.
Os espelhos foram importados dos Estados Unidos e a grade
foi cromada, fazendo par com as enormes rodas Billet Spe-
cialties, de 17” na dianteira e 18” atrás.Os pneus são impor-
tados, de perfil baixo, nas medidas 225/50 na dianteira e
285/50 na traseira. A traseira também foi alisada, saindo
as tradicionais lanternas redondas para entrar em cena dois
filetes de LED’s que fazem as vezes de luz de freio e seta. A
caçamba recebeu assoalho novo, feito em jatobá.
Clássica
Por dentro, o visual é clássico das picapes F-100. Os
bancos foram forrados em couro e ajustados para ofere-
cerem a posição de pilotagem próxima à das picapes
modernas. O volante é da Billet Specialties, preso a uma
coluna de direção da GM que, segundo o proprietário,
oferece muito conforto. O painel permanece original e
foi pintado na mesma tonalidade do exterior. A instrumen-
tação é Auto Meter, da série Carbon Fiber, com velocí-
metro eletrônico programável. As pedaleiras foram feitas
sob medida e têm um visual pensado para casar com a
manopla de câmbio da Hurst.
Turbo diesel
O motor que equipa a F-100 é o MWM Sprint, de seis cilin-
dros e 18V turbodiesel da GM, que originalmente equipa
o modelo Silverado. Reconhecidos pelo torque absurdo, os
motores a diesel comumente são aplicados a picapes que
precisam carregar muito peso e até tratores. Por isso, seu
limite de giros dificilmente é muito alto, como nos motores a
gasolina, para privilegiar a força em detrimento da potência.
No caso dos motores mais modernos, até para se evitar as
trocas constantes de marcha, os propulsores giram um pouco
mais alto, mas a potência e o torque máximo sempre estão
disponíveis em rotações bem baixas. No caso deste modelo
específico, os 300cv de potência são gerados pelos seis cilin-
dros já em baixíssimas rotações, graças ao sistema adaptado
por Marcelo, que utiliza duas turbinas, uma menor (Hx 221E,
Holset), para ter menos lag, e outra maior (Garret Gt25), para
maior admissão de ar, e consequentemente, mais potência em
altas rotações. O sistema roda com 2,5kg de pressão.
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Volante Billet, instrumentos Auto
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Parte interna
Banco inteiriço em couro
Volante Billet Specialties
Painel de instrumentos na cor da carroceria
Instrumentação Auto Meter, modelo Carbon Fiber
Mecânica
Motor 6 cilindros turbodiesel
Acima, close da roda da marca Billet
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300cv de potência
Injeção direta
Specialties, de 17” na dianteira Tampa de cabeçote cromada
Pressurização em inox
e 18” na traseira Câmbio manual de cinco marchas
Suspensão com molas originais e barras estabilizadoras
Freios a disco na dianteira e a tambor na traseira
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Maverick GT 1977
Q
uem leu a história do empresário baiano Adson como eu por carros antigos, me acompanhava no primeiro
Sant´Ana Queiroz e seu Dart na última edição de dia do evento. Nós já tínhamos andado muito e comprado
Hot Rods deve ter imaginado como foi difícil tocar algumas peças quando fomos ao estande da Powertech para
a restauração do carro à distância, já que tudo foi conversar com os amigos Ricardo Moreira e Paulo Kuelo,
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feito em Curitiba (PR), apesar de o trabalho ter sido que trabalharam na restauração do meu Dart. Chegamos ao
realizado por mãos muito competentes. No entanto, estande da loja Armazém W70 e este Maverick estava em
ao conhecer a história deste Maverick GT 1977, duas coi- exposição. Quando o vi, fiquei louco. Chamei um vendedor
sas ficam bem claras: ele é apaixonado por muscle cars e e perguntei se o carro estava à venda, o que ele confirmou.
deve ter uma queda por amores complicados. “Comprei este Pedi aos amigos da Powertech para darem uma opinião
carro em 2012 e a nossa história começou no encontro de profissional sobre o carro. Eles foram até lá e aprovaram. Fui
Águas de Lindoia. Meu amigo Fábio Roque, apaixonado para o hotel pensando se comprava ou não, conversei com
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Maverick GT 1977
Laranja Lotus
De longe dá para perceber o Maverick chegando. Além
do som do V8, que já ecoa de longe, seu visual esporti-
vo chama a atenção de todos que se aproximam. O res-
ponsável pela pintura não foi Adson, mas o empresário
nem por um minuto pensou em mudar a cor, que foi um
dos detalhes que despertaram a sua atenção. A tonali-
dade laranja, obviamente, não fazia parte da paleta de
cores original do cupê. Segundo o antigo proprietário,
é a mesma utilizada nos carros da Lotus, em especial o
modelo Elise. A intervenção de Adson foi a faixa preta
nos moldes originais do GT, que deu ainda mais identi-
dade ao muscle nacional. Até porque estamos falando
aqui de um legítimo GT e não só uma personalização, e
Adson tem o documento para provar. Acessórios externos,
como retrovisores, já vieram novos com o carro. Faróis
e lanternas, apesar de estarem em bom estado, foram
trocados por modelos adquiridos aqui mesmo no Brasil.
As rodas são Torq Thrust II, de 17”, montadas em pneus
importados da Hankook, nas medidas 225/45 na dian-
teira e 245/45 na traseira.
Por dentro, o visual guarda o aspecto esportivo original
concebido pela Ford nos anos 70. Apenas os bancos
foram trocados por modelos mais atuais e forrados em
couro. Os instrumentos são da Auto Meter, incluindo con-
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Receita matadora
Produzido entre 1970 e 1977, o Maverick GT foi a resposta
da Ford para o Opala. Junto ao Charger, foi o grande sonho
dos adolescentes da época e as estrelas dos rachas ilegais
Carroceria Lakester em fibra foi
montada sobre chassi de Ford 1928
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Quem fez:
Preparador: Alan Fábio. Tel. (41) 8726-3528.
Pintura Faixas: Ricardo Moreira. Tel. (41) 9159-7608.
Restauração de peças: Paulo Kuelo. Tel. (41) 9123-0480.
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Competição - El Mirage, Arizona (EUA)
Da seca ao torque
Tradicional prova de velocidade final no Deserto de Mojave, na Califórnia,
chega à etapa final; 101 carros participaram da competição
Texto: Bruno Bocchini::Fotos: Ricardo Kruppa
Competição - El Mirage, Arizona (EUA)
O
Lago Seco de El Mirage, localizado no Deserto
de Mojave, na Califórnia, recebeu a 6ª e últi-
ma etapa da temporada 2013, dias 9 e 10 de
novembro. No total, 150 participantes, dentre
eles, 101 automóveis e 49 motocicletas.
Assim como em Bonneville, as competições em El
Mirage são organizadas pela SCTA (Associação de Crono-
metragem do Sul da Califórnia), uma organização de vários
clubes, sem fins lucrativos, estabelecida em 1937 com o
objetivo de promover eventos de velocidade. Dentre os
clubes estão Eliminators, Gear Grinder, Gold Coast, High
Desert Racers, Lakers, Land Speed Racers, Milers, Road Run-
ners, Road Riders, San Diego Roadster Club, Sidewinders e
Super Fours. Em apenas dois eventos no ano é permitida a
participação de não-filiados, mas para obter um recorde de
velocidade final reconhecido é necessária a filiação.
Os veículos que competem em El Mirage e também em
Bonneville são classificados em mais de 30 categorias.
Além da classificação pela carroceria, há também a divi-
são pela capacidade volumétrica do motor que equipa o
carro: por exemplo, um Maverick e um Dodge Dart nacio-
nais pertenceriam a uma mesma categoria PRO (produ-
ção), mas como seus motores têm 302 e 318 polegadas
cúbicas, seriam identificados diferentemente.
Nos detalhes
A corrida em El Mirage usa as mesmas regras e estrutura da
famosa prova de Bonneville. O objetivo é correr mais rápi-
do do que qualquer outro competidor da mesma categoria.
A principal diferença é que Bonneville oferece pistas com
até cinco quilômetros cronometrados. No El Mirage, o curso
é apenas 1,3 milha (2,09 km), cronometrado. O campeo-
nato é somado a pontos conquistados por recordes.
Mas registrar um recorde em El Mirage é mais difícil do
que em Bonneville, e muito mais desafiador. Uma das
razões é que a pista é mais curta e, portanto, há menor
tempo para acelerar. Outro fator decisivo é a superfície
da pista, seca e exigente com os pneus. Efetuar sistema
de tração é um problema e os pilotos persistentes são
recompensados com melhores pontos. Quanto mais pontos
ganhar, mais à frente o competidor estará nos registros.
Os mais rápidos
Hot Rods 38
A
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s competições com carros de estrada ou em circuitos fechados. Alexander Winton. Três anos depois,
surgiram pouco tempo depois Em 1901, o próprio Henry Ford, ao o mesmo Henry quebrou o recorde
da invenção do automóvel, volante de um carro construído ape- mundial de velocidade, ao atingir
no final do século 19. Inicial- nas para competição, o Ford 999, 146 km/h sobre a superfície conge-
mente, as competições eram ganhou uma prova em um circuito lada de um lago em Michigan, nos
provas de velocidade final de 16 quilômetros contra o então Estados Unidos.
ou corridas entre carros em trechos famoso piloto e fabricante de carros A produção em massa de veículos
nos EUA popularizou o automóvel e e se fazia necessária a criação de equipamento necessário para promover
propiciou o surgimento dos “rachas” regras que uniformizassem as compe- uma prova de arrancada: equipamento
de rua (divertidos, ilegais e perigo- tições. Para suprir esta necessidade de cronometragem eletrônica, sistemas
sos...). Nesses “rachas”, um par de foi criada então a NHRA (National de som e comunicação, gerador de
motoristas a bordo de seus carros do Hot Rod Association), sendo seu fun- energia e até troféus. A equipe não se
dia-a-dia (usualmente um Ford) espe- dador Wally Parks. restringia apenas às competições. No
ravam a luz verde do semáforo acen- Wally Parks competia nas provas de período entre as provas, os membros
der para ver quem tinha o carro que velocidade promovidas pela SCTA da equipe contatavam policiais e líde-
acelerava mais, não necessariamente (Southern California Timing Association, res locais mostrando que o novo espor-
o carro mais veloz. Uma possível da qual falamos na edição anterior) e te era algo organizado e seguia regras
origem do termo “dragracing” seria participava também na organização da de segurança (além disso, desestimula-
“corrida na rua principal”, pois, em SCTA como secretário. Por ser um entu- ria os rachas de rua...). Para os clubes
inglês, “maindrag” significa rua prin- siasta da velocidade e administrador locais, a equipe organizava seminários
cipal, normalmente a melhor e mais competente, foi convidado, em 1949, ensinando como preparar e gerenciar
larga rua de uma cidade pequena. a ser o editor da revista americana Hot pistas para provas de arrancada. Havia
Rod. No começo, a ênfase da publica- ainda a divulgação nacional pela revis-
ção eram os carros que participavam ta Hot Rod das ações da equipe.
das provas de velocidade nos desertos Nesta primeira edição do Drag Safari,
e lagos secos, mas a popularidade em 1954, a equipe organizou dez even-
crescente das provas de arrancada tos em um período de três meses, soman-
fez destas o foco principal da revista. do 19 mil quilômetros no odômetro da
Parks, como editor da Hot Rod, deu perua Dodge. O sucesso desta iniciativa
visibilidade ao “dragracing”, ao mesmo ficou comprovado quando, em 1955,
tempo em que apoiava, por meio da a NHRA pôde organizar seu primeiro
revista, iniciativas que buscavam a regu- evento nacional, ou seja, o novo esporte
lamentação e a segurança nas provas. havia se espalhado de forma organiza-
Oficialmente poderíamos considerar Então, em 1951, Parks fundou e passou da pelos Estados Unidos. O Drag Safari
o ano de 1950 como o início das a presidir a National Hot Rod Associa- ainda teve edições em 1955 e 1956.
competições de arrancada. Neste tion (NHRA), organização que buscava Hoje, após 50 anos, a NHRA é a maior
ano, Cloyce Hart, sua esposa, Mary instituir regras de segurança e padrões organização mundial dedicada ao auto-
Margaret “Peggy” Riley, e mais dois de desempenho para as competições. mobilismo, com 80 mil membros, 35
sócios fundaram a primeira pista Em 1954, uma iniciativa da NHRA mil pilotos licenciados e 140 pistas. Os
comercial voltada para as corridas de que ficou conhecida como Drag Safari “bólidos” que competem são classifica-
arrancada, o “Santa Ana Drag Strip”. dos em mais de 200 classes, baseadas
O local escolhido foi uma pista não em diversos itens, como, por exemplo,
utilizada do aeroporto do Condado tipo do veículo, tamanho do motor, peso,
de Orange, na Califórnia. Como o aerodinâmica e modificações efetuadas.
“dragracing” não era até então algo A NHRA é mais uma prova de que inicia-
organizado, o próprio C. J. “Pappy” tivas de sucesso são resultado de 1% de
Hart (como era chamado Cloyce) inspiração e 99% de transpiração...
estabeleceu a distância de um quarto
de milha (402 metros), com base nas
corridas de cavalo, e também estabe-
leceu as classes dos competidores. Já
Hot Rods 43
02
de vida razoável para
sua esposa e os cinco
filhos, e ainda partici-
par de eventos auto-
motivos para continuar
sendo visto e lembrado no meio, ele
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arrumava tempo para se dedicar a
este seu projeto especial. À época, a
verdadeira paixão desse ícone da Hot fibra de vidro para uso automotivo ain-
Rod Culture. Ed foi um artista de múlti- da era uma novidade, recém-lançada
plos talentos e conseguiu alcançar um no mercado, e foi nela que Ed Roth
N
nível de fama e reconhecimento que não achou um meio de realizar seu sonho.
a edição passada apresentei a podem ser comparados a nenhum outro. Desde 1953 automóveis eram fabrica-
vocês um pouco da história de Nem mesmo nomes como George Barris dos em larga escala utilizando carroce-
Ed Roth. Falei sobre sua infância, e Von Dutch tiveram tanto alcance. rias de fibra de vidro, como o Corvette,
seus primeiros desenhos, seu tra- Mas o que realmente impulsionava Ed por exemplo, que foi apresentado ao
balho antes de se tornar um dos Roth a trabalhar tanto era sua insaciável mundo em 17 de janeiro de 1953, no
personagens mais famosos da sede de criar veículos especiais. Desde hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Kustom Kulture e de como ele introduziu cedo Ed se interessou pela indústria (EUA). E foi somando esse material a
na cultura moderna a camiseta com dese- automobilística e, apesar de ter sido seu peças recondicionadas encontradas
nhos e ilustrações. Nesta segunda parte talento para o desenho e suas criações nos ferros-velhos da região de Los
do artigo sobre o criador de Rat Fink, vou monstruosas que o levaram à fama, seus Angeles que Ed construiria seu primeiro
concluir a história falando de sua verda- carros e motos eram sua fonte de energia. modelo original. As grandes fabricantes
deira paixão: os carros especiais. de automóvel buscavam inovações,
Quando pensamos em Ed “Big Daddy” Projeto inovador tentando lançar carros com designs mais
Roth, imediatamente nos vem à mente Como disse na primeira parte desse arti- arrojados, como foi o caso do Ford
uma série de coisas: de pinstriping a go, de 1958 a 1960, Ed Roth dedicou Edsel. Mas Ed Roth queria mais. Muito
drag racing, passando por brinquedos, todo seu tempo livre ao desenvolvimento mais. E se dedicou com afinco a isso.
revistas, ilustrações, camisetas e cus- de um projeto totalmente inovador: um Mas quem realmente financiava seus
tomizações em geral. Mas essa visão carro diferente, customizado, fora de projetos era Rat Fink e sua turma! A
que temos hoje sobre a vida e a perso- linha e feito de plástico e fibra de vidro. moda das camisetas de monstros se alas-
nalidade de Ed Roth não nos mostra a Ed já tinha se estabelecido como cus- trou tanto e tão rapidamente no final dos
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Mas, nessa edição, vamos falar apenas do começou a trabalhar com a recém fazer experiências por conta própria
de sua primeira criação – The Outlaw. descoberta fibra de vidro. E “Outlaw” com vibra de vidro nos fundos de sua
E a verdade é que só a história desse acabou se tornando não só um carro, oficina. De acordo com o livro “Hot
carro já renderia uma matéria inteira. mas uma inovação de design, rees- Rods por Ed “Big Daddy” Roth”, quan-
Porém tem muito mais coisas para crevendo completamente as regras de do Ed estava trabalhando com fibra de
escrever sobre Ed Roth. Então, mesmo design automotivo. vidro um par de calças durava um dia
nos restringindo ao Outlaw, vamos nos Em 1957 Ed tinha acabado de se e os sapatos no máximo quatro antes
Ed Roth era uma febre nacional. Mas,
para que isso acontecesse, algumas
mudanças tiveram que acontecer antes.
Quando a Revell começou a fabricar
o kit do Outlaw, Henry Blankfort , um
dos diretores da Revell, chamou Ed
em seu escritório e lhe disse que seu
nome precisava de um impulso, um
charme, um apelido. Algo como o que
acontecia com Von Dutch. Ed concor-
dou e disse a Henry que ele tinha sido
sempre chamado de “Big Ed” na sua
12 antiga escola. A Revell então sugeriu
nomes como “aranha” ou “barata”, mas
que fosse preciso pintá-los novamente. cepção que realmente não poderia ser nenhum deles agradou Ed. Na mesma
Como ninguém sabia manusear fibra julgado ao lado de carros “comuns”, época um movimento hippie surgiu em
de vidro naquela época, Ed não tinha passando então a participar como con- Los Angeles, e muita gente começou a
com quem se aconselhar, nem com vidado dos eventos automotivos. deixar a barba crescer e recitar poesia
quem aprender. A construção era toda À essa altura os prêmios já tinham se em cafés. Esses caras ganharam o
intuitiva e foi pelo árduo processo de acumulado, e não eram mais realmente apelido de “Big Daddy” e Henry achou
tentativa e erro, e de se fazer e refazer necessários. O Outlaw tinha impres- que substituir “Big Ed” por “Big Daddy”
as coisas que Ed chegou ao resultado sionado tanto as pessoas que Ed Roth poderia funcionar. Quando Ed ouviu a
final de seu projeto dois anos depois. recebeu um convite da maior empresa ideia, lembrou de seus cinco filhos em
Originalmente batizado de “Excalibur”, de plastimodelismo dos EUA, a Revell, casa e que era realmente um cara gran-
The Outlaw fez sua estreia no “Dis- para que seu Outlaw fosse produzido. de, então tudo parecia se ajustar bem.
neyland Day Car Club e Autocade” em Ed não pensou duas vezes! O reconhe- Todos estavam felizes e, com o novo
setembro de 1959. O nome Excalibur cimento da Revell era um elogio em si. apelido, o kit foi um sucesso.
veio de uma espada usada como ala- Sua primeira criação estava se tornando Mas ainda faltava um detalhe: Ed
vanca de câmbio no carro. A espada também um brinquedo e estaria rapida- tinha um novo nome, mas continuava
era uma peça histórica e que pertencia mente na casa de muitos outros america- com o velho visual. Viajava de uma
à família da sogra de Ed. Mas ninguém nos, marcando uma longa parceria entre cidade para outra a bordo de sua
conseguia pronunciar o nome do carro Ed Roth e a Revell, que produziria kits em station wagon carregando seus carros
direito e, no final de 1960, Ed Roth miniatura de muitos de seus carros. numa carreta, e muitas vezes não tinha
mudou o nome para Outlaw. Durante Surge Ed “Big Daddy” Roth. como ir para um hotel. E foi numa
esse período, quando o carro ainda Quando a Revell chamou Ed e pergun- daquelas manhãs de “acordei dentro
se chamava Excalibur, apareceu em tou se eles poderiam fazer e vender um do carro” que Ed se deparou com uma
diversas revistas, mas ainda não estava kit de montagem do Outlaw, Ed ficou
pronto, faltando uma série de detalhes, emocionado e concordou na hora com
como o interior e as rodas. Quando o a oferta, que a princípio parecia insig-
projeto ficou pronto, era troféu após tro- nificante. A Revell pagaria um centavo 08. Apesar de ter sido seu talento para o
féu. Ed chegou a afirmar que se tornou de dólar para cada kit vendido. Ed desenho e suas criações monstruosas que
injusto competir com o Outlaw, e as Roth não estava pensando no dinheiro o levaram à fama, seus carros e motos eram
pessoas começavam a achar desculpas nesse momento. Ele pensava no futuro, sua fonte de energia
para desclassificá-lo, como aconteceu na exposição que seu nome e trabalho 09. Outlaw foi o primeiro de uma série de
carros a serem reproduzidos e vendidos em
no Oakland Roadster Show de 1960, teriam. Ed acertou em cheio ao pensar
miniaturas para montar pela Revell
quando seu carro não foi julgado por assim. Mas se enganou muito ao achar
10 e 15. Sem ninguém que pudesse ajudar ou
utilizar as novas porcas de fixação de que o dinheiro não seria um fator pre-
orientar Ed Roth no uso do fiberglass, ele teve que
náilon e não ter chavetas nas juntas da ponderante nessa negociação, pois em aprender literalmente “botando a mão na massa”!
balança da suspensão. Ed acabou con- 1963 as vendas das miniaturas dos car- 11. Aqui, algumas das diversas fases da
cluindo que seu carro era tão avançado ros de Ed Roth, como o Outlaw, já atin- construção do Outlaw
para seu tempo, tão maluco na con- giam mais de 3.000.000 de unidades.
Cultura Hot
Redações do mundo. Ed Roth estava cardíaco. Mas sua genialidade perma-
13 decididamente destinado a participar nece até hoje entre nós. Ed não criou
de várias revoluções culturais. apenas um monstro atemporal chamado
Nos anos seguintes a fama de Ed Rat Fink, ou uma frota de veículos incrí-
Roth só aumentou e ele participou veis e desenhos de monstros que muda-
de programas de TV, foi o astro de ram a moda. Big Daddy Roth mostrou
inúmeros show cars e suas camisetas como ser esquisito e diferente podia ser
weirdos e suas músicas espalharam “normal”, e que sempre vale a pena
pela América a mensagem de que ser correr atrás de seus sonhos. Principal-
esquisito era bacana! mente se for a bordo de um hot rod!
Ed teve alguns momentos difíceis, é ver-
dade, como em 1967, quando passou a
criança com um de seus kits na mão, ser hostilizado por veteranos da II Guerra 14
esperando ele sair. Ed levantou com Mundial devido aos símbolos germânicos
a cara amassada e se deu conta que de suas criações. Mas isso só fez com
também precisava de uma aparência que sua imagem melhorasse, pois passou
melhor. No mesmo dia, passando por rapidamente a fazer camisetas com dese-
um bazar de caridade, achou a car- nhos enaltecendo os soldados america-
tola, o fraque e a bengala. Nascia a nos que combatiam no Vietnã.
imagem de Ed “Big Daddy” Roth que E, em 1968, a Mattel apresentou o pri-
ficaria conhecida em todo mundo. meiro dos 16 modelos de Hot Wheels
baseados em carros de Ed Roth, com a
A fama miniatura do Beatnik Bandit.
Em 1963, mesmo ano em que Ed apre- Entre 1967 e 1970, foi editor da 15
sentou seu Mysterion, com dois motores revista de motos Choppers Magazine,
Ford 406 V8 montados paralelamente, mas neste último ano o estúdio de Roth
duas caixas automáticas e diferencial foi invadido, e todo seu acervo foi
duplo, com dois conjuntos de coroa e roubado. Ed ficou arrasado, chegando
pinhão no mesmo eixo, também deu mesmo a desistir do cargo na revista.
início a sua carreira musical. Ed foi cer- Ed voltou a fazer pinstripes, e teve
tamente o nome que melhor soube apro- uma fase bem difícil, até que em
veitar sua fama e investir em sua ima- 1974 converteu-se ao mormonismo,
gem pessoal. E uma das maneiras que e lamentou publicamente ter criado
Mr. Roth encontrou foi lançando discos monstros para crianças e participado
de surf rock com sua banda Mr. Gasser de corridas ilegais com hot rods.
& the Weirdos (leia a coluna Rock’n Mas essa fase passou logo e em
Hots, nesta edição). Foi também em 63 1976 retornou aos triciclos e a cons-
que o jornalista Tom Wolfe foi enviado trução de carros. É dessa fase o dra-
à Califórnia pela revista Esquire para gster Yellow Fang e o Great Speckled
12, 13 e 14. Em 1967 Ed começou a sim-
escrever sobre a febre de carros custo- Bird e o Secret Weapon.
patizar cada vez mais com os motoclubes,
mizados que infestava o país. Tom tinha
especialmente o mais “mal visto” deles: os
o material, mas não sabia como come- Arte e Cultura Hell´s Angels. Essa simpatia aos Angels lhe
çar a matéria. Resolveu então fazer uma Quando Ed “Big Daddy” Roth chegou rendeu alguns problemas com a Revell, que
carta a seu editor, que acabou publica- aos anos 80, sua obra já podia ser inclusive relançou um de seus carros sem
Hot Rods 48
da na íntegra com o título “There Goes encontrada em histórias em quadrinhos o nome de Ed Roth na caixa. Mas também
(Varoom! Varoom!) That Kandy-Kolored underground, em estúdios de tatuagem foi a inspiração para construir seu primeiro
(Thphhhhhh!) Tangerine-Flake Streamli- e em galerias de arte. Cartazes e capas triciclo, o Mail Box, com motor Crosley
ne Baby (Rahghhh!) Around the Bend de discos de bandas também entraram de quatro cilindros e o Mega Cycle, que
(Brummmmmmmmmmmmmmm)...”. Era para o currículo de Ed “Big Daddy” Roth tinha ganhado o apelido de “Captain Pepi’s
Motorcycle & Zeppelin Repair”
o começo do “New Journalism”, um Ed “Big Daddy” Roth faleceu em 4 de
movimento que revolucionou todas as abril de 2001, vítima de um ataque
Hot Rods 49
Técnica
Potência suficiente
Você está satisfeito com o desempenho do motor do seu hot? Entenda a
razão dos problemas e saiba como resolver
Texto: Manoel G. M. Bandeira::Fotos: Divulgação
Equalização de volumes
Outro detalhe importante é a equalização de volumes. Um
motor de 2.000 cilindradas e 4 cilindros, por exemplo,
aspira 500 centímetros cúbicos por cilindro. Isso se tiver
eficiência volumétrica de 100%, o que é praticamente impos-
sível em um motor aspirado construído em série, pois existem
muitos fatores que influenciam na eficiência em encher os
cilindros com a maior quantidade possível de mistura ar/
combustível. Mas falaremos sobre isso na próxima edição.
Por enquanto vamos imaginar apenas o volume de cada
cilindro com o motor parado. O volume total de cada cilindro
é a soma do volume do cilindro em si, que pode ser obtida
enchendo-se o cilindro com um líquido (geralmente utilizamos
I
óleo para sistemas hidráulicos por ser mais fino e mais fácil de
ndagado sobre a potência dos motores que equipavam manusear), somada ao volume da câmara de combustão (que
os carros da Rolls-Royce, o proprietário da fábrica res- também medimos enchendo a câmara de combustão com o
pondeu simplesmente que seus carros tinham a potên- mesmo óleo). Então, supondo que um cilindro tenha 501cc
cia suficiente. E o seu carro, tem a potência suficiente? e que a câmara de combustão deste mesmo cilindro tenha
Se pegarmos dois motores zero quilômetro de fábri- 60cc, se somarmos os dois volumes, chegamos a 561cc.
ca, completamente idênticos e até fabricados no O outro cilindro tem 499cc e sua câmara de combustão tem
mesmo dia, é muito provável que exista uma pequena 58cc. Portando, a soma dos dois volumes daria 557cc.
diferença de potência entre eles. Se imaginarmos que os outros dois cilindros também apre-
A potência pode sofrer variações devido a vários fatores. sentem diferenças semelhantes, isso fatalmente resultaria
Geralmente, alguns deles estão relacionados à montagem do em perda de potência deste motor, pois as explosões
motor, como as folgas e os ajustes das peças móveis, e outros teriam forças diferentes em cada cilindro. Isso deixaria o
à própria fabricação dos componentes do motor. motor quadrado, o que novamente o impediria de alcan-
Um motor que tenha uma diferença pequena de peso entre os çar limites de giros mais altos, fazendo com que a potên-
seus pistões, somada a uma pequena diferença de peso entre cia fique abaixo do esperado.
suas bielas, certamente não irá funcionar de maneira redonda Ao contrário do que possa parecer, o que foi descrito
e homogênea. Este desbalanceamento causará uma pequena acima é muito comum e acontece na maioria dos motores,
Hot Rods 50
vibração interna, que impedirá que o motor atinja um limite de principalmente em motores de concepção mais antiga,
rotações mais alto. E isto certamente fará com que este motor como os utilizados na maioria dos hot rods, os bons e
tenha menos potência do que um motor idêntico, porém com velhos V8 ou 6 cilindros em linha.
as peças como pistões e bielas todas com o mesmo peso. É Nos motores mais antigos, a fundição das peças é mais
claro que isso não se aplica somente a pistões e bielas. Em arcaica, os sistemas de usinagem menos precisos e, por-
geral todas as peças móveis do motor devem ter o mesmo tanto, as diferenças de peso e volume acontecem com
peso entre si, para que o motor funcione macio e redondo. mais frequência. Isso pode ser melhorado quando o motor
é montado por um mecânico cuidadoso, que mede e
equaliza pesos e volumes. Somente através destas duas
variáveis podemos conseguir um ganho de potência de até
20%, pois teremos um motor melhor equalizado e balance-
ado, o que irá contribuir, também, para que o motor con-
suma menos combustível, apesar de ser mais potente.
Retrabalhar dutos de admissão, tanto no cabeçote como
no coletor de admissão, polir dutos de escapamento,
somados a um coletor de escape eficiente, são outros
fatores que também nos ajudam a ganhar potência.
Nas próximas edições abordaremos minuciosamente
cada um dos retrabalhos que podem ser feitos no motor
visando ganho de potência.
Então, seu motor tem a potência suficiente? Se você acha
que não, não perca as próximas edições de Hot Rods.
Hot Rods 51
Oldsmobile Sedan Ninety Eight 1954
Rude e vivo
Oldsmobile Sedan Ninety Eight 1954 de Brasília, mas feito em São Paulo,
traz visual rat e mecânica clássica dos anos 50
Texto: Flávio Faria::Fotos: Ricardo Kruppa
Oldsmobile Sedan Ninety Eight 1954
P
oucas marcas traduzem o amor dos norte-americanos
pelos carros quanto a Oldsmobile. Símbolos do pós-
-guerra americano, os carros da marca ainda são
parte do retrato da década de 50, quando as barcas
eram luxuosas e ainda não havia a preocupação com
o alto consumo de combustível, que viria na década
de 70, e muito menos com emissões de gás carbônico, algo
ainda mais recente. Ou seja, carro grande devia ter motor V8
e ponto final. E os da Olds estavam entre os melhores. Em foto antiga de seu arquivo pessoal, Tobias Jacob com o filho Kairon no
Os modelos de 1954 marcaram uma reestilização comple- colo admira seu modelo Chevrolet
ta do line-up da Oldsmobile. Eles eram maiores, mais luxuo-
sos e traziam tudo que se esperava de um sedã luxuoso da
época. O visual era marcado por uma grade proeminente
na dianteira, capô com saliências marcantes e frisos na
lateral que separavam as tonalidades da carroceria, sempre
pintada no esquema “saia e blusa”, uma marca registrada
dos carros da época, a exemplo dos modelos Bel Air.
Adquirido pelo empresário Tobias Jacob e seu filho Kairon
da Silva Santos, estudante, do Distrito Federal, este Olds
1954, modelo Sedan Ninety Eight, foi restaurado pela
Garage Old School, oficina de São Paulo, seguindo o
estilo rat, que denomina os hots que a princípio parecem
ter saído do ferro-velho diretamente para as ruas. Con-
troverso, o estilo ganha cada vez mais adeptos. E não é
porque o visual pode sugerir descuido que a motorização
e a estrutura deixarão de oferecer confiabilidade ou segu-
rança. Trata-se apenas de estética. Para os amantes do
estilo rato, ferrugem é história e deve ser preservada!
Ratão
O visual externo está praticamente como concebido pela
fábrica e ainda guarda as marcas do tempo. Segundo
Tobias, o carro não estava em mau estado. “Estava com
lataria desgastada pelo tempo, mas boa, com quase
nada de ferrugem, pintura preta fosca e interior pratica-
mente original: painel, volante, câmbio, relógio e ban-
cos. Faltava um detalhe ou outro, mas no geral estava
bem inteiro. Só o motor que estava parado”, conta.
Adequado para este tipo de modelo, o visual rat, de des-
gastado, tem apenas a cara e foi escolhido pelos proprie-
tários por ser uma expressão marcante da cultura.Todos os
detalhes foram pensados para tornar o carro confortável e
seguro. Frisos, grades e para-choques permanecem origi-
Hot Rods 54
Hot Rods 55
Oldsmobile Sedan Ninety Eight 1954
Rocket in
Por baixo do capô deste Olds 1954 bate um coração um
pouco mais novo do que a carroceria. Herdado de um
modelo um ano mais novo, este V8 324” Rocket é conside-
rado o primeiro modelo de oito cilindros com válvulas no
cabeçote produzido em larga escala, um grande avanço
para a época. Com cerca de 200cv de potência originais,
dá conta tranquilamente de carregar o peso do grande
sedã. Não foi adicionada nenhuma pimenta mais forte ao
motor, apenas um comando de válvulas esportivo e um car-
burador da marca americana Edelbrock, com 600cfm de
vazão. O câmbio é automático, de três marchas, com uma
relação que privilegia o conforto para rodar macio. A parte
elétrica foi totalmente refeita e os freios ainda são originais,
a tambor. A suspensão é original do modelo, bastante
macia, e enfrenta com bravura o asfalto castigado do Brasil
sem comprometer o conforto do proprietário.
Para comemorar esta linda época do ano, preparamos um
ensaio especial para esse belo Olds, com um toque da
magia do Natal. Convidamos a mamãe-noel Juliana Carolina
da Cruz, de 21 aninhos, da cidade de Araraquara (SP),
para desejar um ótimo final de ano para nossos leitores, afi-
nal, de barbudos e barrigudos bastamos nós!
Feliz Natal, rodders!
Quem fez:
Garage Old School. Tel. (11) 7870-2334.
Ficha Técnica
Oldsmobile Sedan Ninety Eight 1954
Parte externa
Visual rat rod
Frisos e grade cromados
Rodas de ferro de Cadillac
Parte interna
Banco inteiriço
Volante original
Instrumentação original
Mecânica
Hot Rods 56
E
ste mês, Garage Tech mostra como fazer a troca de As cruzetas são normalmente encontradas em qualquer
um item de que, normalmente, nem nos lembramos que loja de autopeças e, mesmo de modelos importados,
existe. Pelo menos até a hora em que ele se desgasta normalmente encontramos similares nacionais, o que
e passa a apresentar problemas, como “roncos”, esta- reduz bastante o custo da substituição.
los nas trocas de marcha e até mesmo um acidente Um grande abraço e até a próxima edição. Se você tiver
mais grave, caso ocorra sua quebra. Estamos falando das cru- dúvidas ou sugestões para temas para a seção Garage
zetas do eixo cardã, peça que transfere a força do conjunto Tech, escreva para:
motor/câmbio para o eixo traseiro, o eixo diferencial. suporte@hotcustoms.com.br.
01
Hot Rods 58
Reparo da cruzeta nova para substituição Fixe o eixo cardã a uma morsa
04 05 06
Com alicate de bico, comece O anel é elástico e de fácil remoção Com ajuda de uma prensa , solte
retirando os anéis de travas um lado da cruzeta
07 08
Hot Rods 59
Cuidado para não “machucar” as bordas nesta hora, pois Solte a “castanha” da cruzeta
você terá trabalho no momento da remontagem
Garage Tech
09 10 11
Solte o canhão da luva do câmbio A luva solta do cardã Repita as ações acima para retirar a
do eixo cardã cruzeta também do canhão da luva
12 13
14 15 16
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... para conferir com a nova cruzeta e certificar- Comece encaixando a cruzeta ao cardã Encaixe uma das castanhas
-se se são compatíveis
17 18 19
Na prensa, coloque a outra castanha Agora encaixe o canhão da luva à cruzeta Encaixe as castanhas
20 21
Com um alicate, coloque os anéis de fixação Ajuste perfeitamente os anéis aos canais de fixação
22 23
Hot Rods 61
É primavera!
Conhecida como “Cidade das Flores”, Holambra (SP) retoma seus encontros
de carros antigos com perfil de atração familiar
Texto: Da Redação::Fotos: Divulgação
Encontro – Holambra (SP)
C
onhecida como Cidade das Flores, Holambra, dis-
tante cerca de 140 quilômetros da capital paulista,
foi sede, entre os dias 15 e 17 de novembro, do
4º Encontro de Veículos Antigos da cidade. O even-
to mereceu do conhecido antigomobilista Mário
Ferretti, colecionador de automóveis da marca
Studebaker, o seguinte comentário: “A Cidade das Flores
agora é também a Cidade dos Carros Antigos”, definiu.
Este ano, o encontro contou com a participação de cerca
de 230 carros e recebeu aproximadamente 13 mil visitan-
tes. “O que mais impressionou foi a qualidade dos veículos,
contamos com vários carros únicos no Brasil, vários capas
de revistas e autos premiados em outros encontros”, conta
Carla Prado, presidente da APVA - Holambra (Associação
Hot Rods 64
Novo perfil
O encontro foi concebido e realizado pela APVA - Holam-
bra com o intuito de mudar o perfil dos encontros de car-
ros antigos. O lema “Um evento para toda a família!” foi
a principal guia para a organização. “Neste encontro o
foco não foi só o proprietário, mas toda a família. Houve
uma perfeita mistura de carros e flores. Havia passeios
turísticos às plantações de flores, vôos panorâmicos de
helicóptero, área kids, curso de educação infantil no trân-
sito, fanfarra holandesa etc”, conta Carla.
Além dos carros, houve uma exposição de tratores anti-
gos, com destaque para os tratores do Trekker Trek (trato-
res brutos). O “Dick Vigarista”, por exemplo, conta com
três motores 6 cilindros e um big block 454, todos da
Chevrolet e todos trabalhando juntos para esbanjar potên-
cia. Outra atração foi a participação do clube Amigos
do MP Lafer e do escritor Jean Tosetto, autor do livro MP
Lafer: A Recriação de um Ícone. O grupo veio rodando
diretamente do Rio de Janeiro para o encontro.
Hot Rods 66
Tratores antigos e os
MP Lafer (acima) foram
atrações em Holam-
bra. À esquerda, Mario
Ferretti (centro) com
Hot Rods 67
os organizadores do
encontro
Encontro – Holambra (SP)
A retomada
Esta edição do encontro, a de número quatro, foi reali-
zada após interrupção de quatro anos. “Após 2008, o
Encontro de Veículos Antigos de Holambra, que começa-
va a tomar forma, foi interrompido por questões políticas”,
conta Carla. Sem opção, os proprietários da região
passaram a se encontrar em uma praça da cidade. Mas
aquela lembrança, e o desejo de manter os grandes
encontros na cidade, ainda permaneciam em alguns
antigomobilistas. No final de 2012 quatro entusiastas se
uniram para formar a APVA - Holambra principalmente
a fim de retomar esses encontros, em uma empreitada,
considerada por muitos, insana. Assim, Carla Prado,
Harriet Millan, Carlos Lima e Norival Millan iniciaram os
trabalhos para realizar este quarto encontro. Para 2014,
a associação promete fazer algo ainda melhor. Hot Rods
já confirmou sua presença.
Hot Rods 68
Ô lá em casa...
Hot Rods invadem Casa Cor Campinas: apaixonados por veículos antigos
criam ambiente para aficionado nenhum botar defeito
Texto: Vitor Giglio::Fotos:
Casa Cor 2013
O
Palácio do Bispo, em Campinas (SP), foi sede da 5ª
edição da Casa Cor do município, entre os dias 18 de
setembro e 3 de novembro. Mas qual seria a relação
do evento voltado para a decoração de interiores com
os hot rods? A resposta é simples: tudo!
Isso porque um dos ambientes apresentados na
ocasião foi o “Jardim e Garagem do Hot Rod”, uma cria-
ção do engenheiro e restaurador Herbert Faustino, do
arquiteto Maxwell Geraldi e da paisagista Márcia Joly.
O intuito do trio era promover o uso de materiais de baixo cus-
to e reciclados, inspirados no rústico, para reproduzir com o
máximo de fidelidade a vida de um apaixonado por hot rods.
O espaço criado, uma espécie de celeiro, no estilo norte-
-americano, em madeira e com grandes portões abrigou
três legítimos representantes do universo dos hots: um Ford
Tudor 1929, Corvette Stingray 1974 e um Mustang Fast-
back 1968, além de uma Harley-Davidson.
Casa Cor 2013
Surf culture
Chegou o verão! Época de praia e surf. Por isso vamos mergulhar um pou-
co mais na história de Ed “Big Daddy” Roth e contar como, no auge da
surf culture, ele esteve presente na música e no cinema
Por Victor Rodder
D
efinitivamente, uma revista inteira seria pouco para ne e o guitarrista Glen Campbell. Foram ao todo três discos
contar a história de Ed “Big Daddy” Roth. Então, lançados pela Capitol, nos anos de 1963 e 1964, e que
aproveitei a coluna de filmes e música para falar um foram relançados recentemente por outras gravadoras, como
pouco mais sobre esse entusiasta dos veículos custo- a Sundazed. Já nas telinhas e na telona, Ed Roth não teve
mizados e que transformou sua obsessão por carros tantas aparições com em outras áreas culturais, mas, mesmo
em um próspero negócio no início da década de lá, deixou sua marca. Em pessoa, Big Daddy só é visto em
1960. E ele soube se aproveitar bem da onda do surf music, um documentário produzido após sua morte com imagens de
criando uma banda chamada Mr. Gasser and the Weirdos, arquivo e em alguns shows de TV e muitas entrevistas. Mas
ou, traduzindo, Sr. Arrancada e os Esquisitos. Ed chamou para seus carros apareceram em alguns filmes. O mais notável, e
o estúdio Gary Usher, dos Beach Boys, e alguns dos melhores que tem papel relevante, é Surfit, o minicarro amarelo que
músicos de Los Angeles à época, como o baterista Hal Blai- carregava uma prancha de surf em sua lateral.
HOT ROD HOOTNANNY - MR. GASSER AND THE WEIRDOS - EUA – 1963 CONTOS DE RAT FINK (TALES OF THE RAT FINK) – EUA - 2006
Os desenhos de Roth traziam monstros enlouquecidos e motociclistas Nesse documentário de aproximadamente uma hora e meia, que mistura
maníacos, e foram adotados por entusiastas da Hot Rod Culture, Kustom animação e efeitos especiais não tão especiais assim, a biografia de Ed
Kulture e surfistas de todas as idades, e estão até hoje em todos os níveis Roth é contata não somente “através de seus carros e motos”, mas
desse universo. Nesse primeiro disco da vertente musical do empreen- pelos próprios carros e motos! E fazendo as vozes dos veículos, nomes
dedor Ed Roth, a nata da surf music californiana se reuniu para produzir como Jay Leno, Robert Willians (artista e customizador), Billy Gibbons
músicas tão engraçadas e malucas quanto o vocalista da banda, Mr. Big (ZZ Top), Brian Wilson (Beach Boys), Tom Wolf (escritor e jornalista) e o
Daddy em pessoa. O resultado foram faixas como “You Ain’t Nothing But ator John Goodman. Vale muito pelo conteúdo, mas não espere imagens
a Honda” ou “Termites in my Woody”. sensacionais.
RODS N’ RATFINKS – MR. GASSER & THE WEIRDOS - EUA - 1964 FOLIAS NA PRAIA (BEACH BLANKET BINGO) – EUA – 1965
Neste segundo álbum produzido, arranjado e mixado por Gary Neste, que é o quarto filme da sequência de produções para o
Usher (Beach Boys), a fórmula escolhida pela gravadora e Ed cinema em que Frankie Avalon e Annette Funicello interpretam
Roth mostrou que estava correta. Ótimos músicos de estúdio um casal de jovens adolescentes, o que vale são as boas risadas
como Jerry Cole, David Gates, Steve Douglas, Leon Russell, e que o humor leve e pudico dos grandes estúdios de Hollywood
Earl Palmer e uma proposta sonora e poética divertida e de fácil proporcionavam. E, no roteiro desse episódio, além da engra-
aceitação para o público jovem. Neste disco, destaque para algu- çadíssima gangue de motoqueiros de Eric Von Zipper, a cantora
mas faixas como “Hearse with a Curse,” “The Ballad of Eefin Sugar Kane, um bando de surfistas paraquedistas, uma sereia
Fink,” “Fink Rod, 409,” e “Three Kats in a Tub”. chamada Lorelei e o carro de Ed Roth – Surfit!
Hot Rods 82
SURFINK! – MR. GASSER & THE WEIRDOS - EUA - 1964 A CIDADE DOS GIGANTES (VILLAGE OF THE GIANTS) – EUA – 1965
Mr. Gasser & the Weirdos não era uma banda de verdade. O grupo Apesar de ter muitos elementos dos Beach Party Movies, como
criado por Ed Roth só existia no estúdio e aproveitou a moda das surf os atores adolescentes, cantores convidados fazendo números
bands e o prestígio de Big Daddy dentre os adolescentes da época musicais – no caso a banda The Beau Brummels e o cantor
para levar ainda mais longe as irônicas ideias da contra cultura. Foram Freddy Cannon – e o Surfit de Ed Roth fazendo uma ponta, esse
três discos lançados pela Capitol, e neste músicas como “Surfer filme de ficção científica/comédia tinha baixo orçamento e um
Ghoul,” “There’s a Dog-Gone Ding in My Ding-Dong Board“ e Finksvil- apelo sexual bem grande para a época. Talvez por isso tenha
le, U.S.A.” dão uma boa ideia de como o bom humor imperava. sido exibido basicamente em drive-ins quando foi lançado.
Hot Rods 83