You are on page 1of 24

Geografia

Espaço, cultura e cidadania

Demétrio Magnoli
Reinaldo Scalzaretto

AS Américas e a
análise geográfica
3
USO EXCLUSIVO DO PROFESSOR. VENDA PROIBIDA.
MANUAL DO
PROFESSOR
PREPARAÇÃO DE TEXTO: Lucila Barreiros Facchini
REVISÃO: Eduardo Perácio / Maria F. Cavallaro / Solange Pereira
GERÊNCIA DE ARTES: Wilson Teodoro Garcia
EDIÇÃO DE ARTE E PROJETO GRÁFICO: Eduardo de Jesus Gonçalves
DIAGRAMAÇÃO: Enriqueta Monica Meyer
SUMÁRIO

UNIDADE I A NATUREZA, FONTE DE RECURSOS


Capítulo 1 Formação do continente ....................................................................................... 14
Capítulo 2 Os povos ameríndios e a conquista ..................................................................... 16
Capítulo 3 Dinâmica climática ................................................................................................ 18
Capítulo 4 Domínios naturais: América temperada................................................................ 20
Capítulo 5 Domínios naturais: América tropical ..................................................................... 21

UNIDADE II CARTOGRAFIA E GEOPOLÍTICA


Capítulo 6 O Novo Mundo e a evolução da cartografia ......................................................... 25
Capítulo 7 O mapa político da América ................................................................................. 26
Capítulo 8 Os Estados Unidos e o “hemisfério americano” ................................................... 28
Capítulo 9 As fronteiras meridionais da superpotência ......................................................... 30
Capítulo 10 Geopolíticas da América do Sul ........................................................................... 32

UNIDADE III OS POVOS AMERICANOS


Capítulo 11 Indo-América ........................................................................................................ 35
Capítulo 12 Euro-América ........................................................................................................ 37
Capítulo 13 Afro-América ......................................................................................................... 39
Capítulo 14 População da América Anglo-Saxônica ............................................................... 41
Capítulo 15 População da América Latina ............................................................................... 43

UNIDADE IV GEOGRAFIA ECONÔMICA: A AMÉRICA DIVIDIDA


Capítulo 16 Estados Unidos e Canadá, os países desenvolvidos ........................................... 47
Capítulo 17 Os países subdesenvolvidos industrializados ...................................................... 49
Capítulo 18 As economias agroexportadoras .......................................................................... 50
Capítulo 19 As economias mineradoras .................................................................................. 52
Capítulo 20 Blocos Econômicos e integração continental ....................................................... 54

Bibliografia .............................................................................................................................. 56
APRESENTAÇÃO
Esta coleção materializa um projeto de ensino de geografia. A sua pretensão é ser muito mais que um manual
didático que sintetiza as temáticas e os conteúdos geralmente requeridos no ensino fundamental: aqui, encontra-
se uma concepção da geografia e do seu ensino defendida pelos autores. Trata-se de uma tomada de posição
teórica, uma opção definida por oposição a outras possíveis, no campo vasto do debate geográfico. Trata-se,
ainda, de uma escolha metodológica que condiciona posturas didáticas e pedagógicas.
Os autores não pretendem, com tais opções e escolhas, ter descoberto uma verdade indiscutível, nem querem
ser vistos como porta-bandeiras de algum novo dogma. Mas, tampouco, fingem estar oferecendo uma obra vazia
de conceitos ou proposta, leve e flexível, um livro fast-food, descompromissado e oportunista.
Precisamente por este motivo, o Suplemento do Professor foge ao padrão tradicional e se propõe a introduzir uma
verdadeira discussão conceitual sobre a obra. Tal discussão abrange um esclarecimento amplo dos conceitos gerais
presentes em cada volume e, num outro plano, o detalhamento da proposta didática contida em cada um dos capítulos.
O que se quer é estabelecer uma ponte entre autores e professores, desnudando a obra e expondo os seus
alicerces e a sua estrutura. De um lado, para evidenciar que a utilização da coleção envolve a montagem de um
curso assentado sobre determinadas bases teóricas, isto é, sobre um ponto de vista a respeito do que é e para que
serve o ensino de geografia. De outro, para municiar os professores com as ferramentas intelectuais adequadas ao
pleno usufruto de todas as possibilidades abertas pela coleção, enriquecendo o processo de ensino.

A tradição da geografia descritiva

O francês Yves Lacoste batizou a publicação periódica que fundou e dirige com o nome daquele que é,
geralmente, considerado o “pai da História”: Heródoto. Apresentando as motivações desse gesto, explicou que o
grego realizou verdadeiras “enquetes geográficas” das terras que visitou, num tempo em que não tinham ainda
sido criadas as especializações da história e da geografia.
No sentido empregado por Lacoste, o pensamento geográfico acompanhou toda a aventura histórica da humani-
dade, refletindo-se na produção de discursos sobre as características das sociedades e dos lugares que elas habitam.
A cartografia, um tipo de discurso essencialmente geográfico, desenvolveu-se desde os tempos antigos, responden-
do às necessidades dos soberanos, dos chefes militares e dos comerciantes, prefigurando e preparando o estabeleci-
mento de um domínio mais eficaz sobre os territórios. Sobre a atividade dos cartógrafos antigos, Lacoste observa:

De fato, a profissão de geógrafo é bem anterior ao aparecimento da geografia entre as disciplinas univer-
sitárias. Ela existe há séculos, e mesmo há mais de dois milênios no caso da China ou da Grécia. Vale a pena
destacar que ela era já completamente científica desde a Antiguidade, levando-se em consideração métodos e
técnicas das diferentes épocas. A profissão de geógrafo foi uma das mais científicas que existiu: estabelecer
uma carta, antes da fotografia aérea e da teledetecção, era uma operação que exigia um extraordinário cuida-
do de precisão, milhares de medidas e cálculos, e isso durante anos. Era necessário, com efeito, que a carta
fosse o mais precisa possível, com as técnicas do momento, para evitar aos navegantes de se perderem nos
oceanos ou de cair sobre recifes… (A geografia — isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campi-
nas, Papirus, 1988, p. 216.)

Porém, na acepção contemporânea, a geografia tornou-se ciência apenas no século XIX, quando foi elevada
à condição de disciplina universitária. Os grandes mestres dessa época tornaram-se conhecidos como pais-funda-
dores da geografia: Humboldt e Ritter.
O século XIX imprimiu as suas marcas sobre a nova ciência universitária. Sob o impacto do desenvolvimento
e da difusão da biologia e da geologia, o cientificismo naturalizante condicionou a produção de noções sobre a
sociedade e o seu espaço. Cristalizava-se pela primeira vez a abordagem da sociedade como “população”, por
meio de um paralelismo reducionista entre as coletividades humanas e as populações animais.
4
Simultaneamente, sob o impacto dos nacionalismos e do empreendimento neocolonial, a geografia adquiria
colorações de discurso ideológico voltado para a legitimação do expansionismo imperial, da conquista de novas
terras e da dominação dos povos que as habitavam. Os dois impulsos integravam-se na temática da superioridade
racial dos povos brancos, de origem européia, tão em voga no pensamento da época.
A célebre polêmica entre o prussiano Friedrich Ratzel e o francês Vidal de La Blache, que veio a ser encarada
como contraposição entre duas escolas do pensamento geográfico, marcou profundamente os caminhos trilhados
pela disciplina no século XX. Se o positivismo representava, como não poderia deixar de acontecer, o terreno
comum aos contendores, tudo o mais era divergência. A geografia de Ratzel, elaborada no curso do movimento de
unificação nacional da Alemanha, procurava enraizar o Estado e o território na própria natureza, ao mesmo tempo
que fazia do expansionismo uma virtude da civilização e da cultura. Delineavam-se naquele momento as funda-
ções da geografia política e, também, os argumentos de ordem geográfica que o nazismo manipularia politica-
mente, mais tarde.
A geografia de La Blache pretendia-se a antítese do comprometimento político ratzeliano. Também um inte-
lectual de Estado, o francês propunha-se erguer um edifício geográfico baseado em regras estritas de “cientifici-
dade”, extirpando — ao menos aparentemente — a política e a ideologia do saber acadêmico que se consolidava.
Contraditoriamente, porém, o pioneiro do chamado “possibilismo” justificou as reivindicações francesas de de-
volução da Alsácia e da Lorena ocupadas pela Alemanha, assim como os interesses franceses no Amapá, polemi-
zando com o Barão do Rio Branco. Mas, sobretudo, criou um novo modo de fazer geografia, que representava
uma ruptura com a tradição alemã.
La Blache e os chamados “possibilistas” empreenderam um deslocamento do foco da geografia. Através do
conceito de “gênero de vida” (o acervo de técnicas e hábitos gerados pelo relacionamento entre um grupo humano
e o meio natural), introduziram a noção de região e fizeram dela o objeto de estudo da disciplina. A “região-
personagem”, que emergia desse esforço metodológico, consistia em um ente supostamente real, cujas caracterís-
ticas naturais e humanas deveriam ser apreendidas pelo geógrafo. Como explica Antonio Carlos Robert Moraes:

[…] a região não seria apenas um instrumento teórico de pesquisa, mas também um dado da própria reali-
dade. As regiões existiriam de fato e caberia ao geógrafo delimitá-las, descrevê-las e explicá-las. A região seria
uma escala de análise, uma unidade espacial, dotada de uma individualidade em relação a suas áreas limítrofes.
Assim, pela observação, seria possível estabelecer a dimensão territorial de uma região, localizá-la e traçar seus
limites. Estes seriam dados pela ocorrência dos traços diferenciadores, aqueles que lhe conferem um caráter
individual, singular. Dessa forma, a geografia seria prioritariamente um trabalho de identificação das regiões do
Globo. (Geografia — pequena história crítica. São Paulo, Hucitec, 1983, p. 75.)

Os pilares da geografia “possibilista”, explicitamente destinados a sustentar um edifício “científico”, não


deixavam de representar um poderoso argumento de legitimação do colonialismo francês. Para La Blache, o
progresso decorria do contato transformador entre “gêneros de vida” distintos, que permitia ao mais “avançado”
se impor ao mais “atrasado”. Dessa forma, a geografia oferecia a sua contribuição ao estoque de idéias que, no
início do século XX, explicavam a “missão civilizadora” dos europeus na Ásia e na África, ou seja, aquilo que um
dia foi denominado, com ingênuo cinismo, o “fardo do homem branco”.
Mas a influência duradoura do “possibilismo” manifestou-se de outra forma — no modo como a geografia
passou a enxergar a si própria e, também, como passou a ser vista no quadro geral das ciências humanas. Difun-
dindo-se como paradigma da “verdadeira” geografia e como modelo para o ensino da disciplina, através de textos
simplificados de caráter didático, as idéias e as posturas dos seguidores de La Blache configuraram um saber
descritivo e fragmentário, empirista e avesso à conceituação.
Na escola, no ensino fundamental e médio, fixou-se uma tradição baseada na descrição das “características”
das regiões. Dessa forma, criou-se um objeto aparentemente uno e íntegro — a região — e desenvolveu-se uma
abordagem fragmentária, moldada pelas “especialidades” da geografia — o estudo do relevo, dos tipos climáticos
e das coberturas vegetais, da distribuição da população pelos meios rural e urbano, da rede de cidades, da locali-
zação das atividades econômicas.
A cristalização da região-personagem como objeto serviu apenas para suprimir os nexos explicativos, numa
época de internacionalização crescente dos fluxos econômicos e das informações. Como explica Milton Santos:
5
Os progressos realizados no domínio dos transportes e das comunicações, a expansão de uma economia
internacional que se tornou “mundializada” explicam a crise da clássica noção de região. Se ainda quisermos
conservar a denominação, somos obrigados a dar uma nova definição à palavra. Nas condições atuais da econo-
mia mundial, a região não é ‘mais uma realidade viva dotada de uma coerência interna’, como observou B.
Kayser, e seus limites mudam em função de critérios diversos. Nestas condições, a região deixou de existir em si
mesma. (Por uma geografia nova. São Paulo, Hucitec, 1980, p. 23.)

Por outro lado, a fragmentação da abordagem — principalmente a cisão entre as chamadas “geografia física”
e “geografia humana” — cristalizou o caráter descritivo e classificatório da geografia tradicional. A geografia
física tornou-se o terreno da classificação de tipos (de unidades de relevo, climas ou vegetação) e da sua delimi-
tação espacial. A geografia humana ocupou-se com a descrição da distribuição populacional e das atividades
econômicas (produtos cultivados, áreas industriais etc.).
Essa “geografia de almanaque”, insossa, assumiu lugar dominante no ensino, por um tempo longo demais.
Sobretudo, apagando os nexos explicativos dos fenômenos espaciais, ela firmou uma prática pedagógica inacei-
tável, assentada sobre a memorização. A conseqüência foi a desvalorização social e educacional da disciplina,
que passou a ser vista como saber enfadonho e descartável. Estabeleceu-se o estranho paradoxo — nessa época de
globalização que realça a importância crucial da “leitura do espaço” — de encarar a geografia como saber inútil.

Renovando o ensino de geografia

No Brasil, desde o final da década de 1970, um movimento de renovação da geografia insurgiu-se contra o
saber descritivo e enfadonho servido tradicionalmente em seu nome. Numa fase inicial, esse movimento — ex-
presso em teses e ensaios universitários, obras didáticas, propostas curriculares oficiais e exames vestibulares —
teve seu alcance limitado pelo sectarismo metodológico que abraçou.
Um corpo de propostas que almejava gerar uma “geografia marxista” tomou como paradigma o “materialis-
mo histórico e dialético”, e noções como “modo de produção” e “formação econômica e social” foram transfor-
madas em pilares da reflexão geográfica. Nos momentos menos inspirados, tentou-se extrair argumentações geo-
gráficas supostamente implícitas nos clássicos do marxismo. O resultado geral dessa tentativa foi mais a importa-
ção de uma linguagem que a incorporação de conceitos operativos.
O exclusivismo marxista, como todo sectarismo, deixou na sombra caminhos mais promissores. Mas esses
caminhos foram sendo iluminados, nos últimos anos, por uma fase mais madura do movimento de renovação da
geografia. A grande novidade é que, recentemente, no processo de elaboração dos fundamentos conceituais para
os currículos nacionais, uma visão moderna e crítica do ensino da disciplina foi incorporada pelo Ministério da
Educação e do Desporto (MEC).
Em particular, o papel crucial desempenhado pela cultura na produção do espaço geográfico foi, finalmente,
apreendido na sua plenitude:

Uma das características fundamentais da produção acadêmica da Geografia desta última década foi o surgi-
mento de abordagens que consideram as dimensões subjetivas e, portanto, singulares dos homens em sociedade,
rompendo, assim, tanto com o positivismo como com o marxismo ortodoxo. Hoje, buscam-se explicações mais
plurais, que promovam a intersecção da Geografia com outros campos do saber, como a Antropologia, a Socio-
logia, a Biologia, as Ciências Políticas, por exemplo. (Secretaria de Educação Fundamental do MEC. Parâme-
tros curriculares nacionais — Geografia.)

Aqui, estamos muito longe do economicismo formalista e superficial dos “modos de produção”. Mas, feliz-
mente, não há um retrocesso para a chamada “geografia cultural” de Carl Sauer, que na década de 1930 preco-
nizava a identificação de “áreas culturais” definidas pelas técnicas e coaguladas em paisagens. Era, é claro, um
avanço em relação ao conceito de “região natural”, mas a cultura ficava reduzida a seus aspectos materiais.
Faltava a Sauer a dimensão de tempo histórico, que qualifica a cultura e condiciona a produção do espaço
geográfico. Mas é justamente essa dimensão que organiza o raciocínio do documento programático divulgado
6
pela Secretaria de Educação Fundamental. Nele, a geografia é definida como disciplina que “estuda as relações
entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, através
da leitura do espaço geográfico e da paisagem”.
A geografia é, dessa forma, entendida como uma “gramática do mundo”. O espaço geográfico e a paisagem surgem
como textos, a serem decifrados e interpretados, que trazem informações essenciais sobre a sociedade que os produziu.
Mas os conceitos de espaço geográfico e paisagem só podem ser elaborados na sua relação com o tempo histórico.
Assim, o “espaço geográfico é historicamente produzido pelo homem, um homem social e cultural, situado para além
e através da perspectiva econômica e política, que imprime seus valores no processo de construção de seu espaço”. A
paisagem, por sua vez, é interpretada como “síntese de múltiplos espaços e tempos” ou — utilizando uma idéia de
Milton Santos — “soma de tempos desiguais” na qual “estão expressas as marcas da história de uma sociedade”.
A novidade não está nessa conceituação que, afinal, já faz parte do patrimônio do melhor pensamento geográ-
fico. Está na formulação da necessidade de redirecionar o ensino da disciplina no sentido indicado por essa
abordagem. As referências ao conceito de paisagem apontam o rumo para a renovação do ensino. Elas resgatam,
em meio ao tumulto de modismos que emergiu da crise da geografia, o objeto específico da disciplina, conjurando
o risco da sua dissolução na economia espacial ou numa forma empobrecida de sociologia do espaço. A geografia
estuda os fenômenos cristalizados sobre porções da superfície da Terra: paisagens.
Mas a paisagem é qualificada pela história e os seus atributos são conferidos pela atividade transformadora
dos homens organizados em sociedade. As circunstâncias econômicas e políticas, as técnicas e as idéias que
envolvem essa atividade humana — numa palavra, a cultura — transferem-se para a paisagem. Nesse percurso de
produção do espaço geográfico, a natureza original e a herança das gerações anteriores funcionam como suporte,
limitação objetiva e recurso para a geração presente.
Espaço geográfico e paisagem não são objetos distintos de estudo, mas dois níveis de existência do mesmo
objeto. A paisagem consiste na superfície sensível do espaço geográfico: um arranjo determinado de estruturas
materiais que distingue um lugar de todos os outros. “Ler” a paisagem significa decifrar o sentido social desse
arranjo, as necessidades reais ou simbólicas às quais ele responde, as forças que o fizeram surgir.
O espaço geográfico é o que se esconde por trás da paisagem e que se desvenda pelo conhecimento desse
sentido social, dessas necessidades reais ou simbólicas, dessas forças originárias. Do espaço geográfico fazem
parte os fenômenos que não são imediatamente observáveis pelos sentidos: os fluxos de matéria e informação. A
construção de conceitos, no ensino renovado de geografia, se faz por meio da dialética que conduz da paisagem ao
espaço geográfico e, deste, de novo à paisagem. Revisitada depois dessa trajetória, a paisagem emerge enriqueci-
da por significados que não são evidentes.
Para que serve a geografia? Essa questão foi respondida, ao longo do tempo, das mais diversas formas. A
geografia serviu, no passado não tão distante, para preparar, sustentar e legitimar a expansão territorial e os
empreendimentos imperiais. Ela serviu — e continua servindo — como instrumento de domínio intelectual sobre
o espaço e, portanto, para o “gerenciamento” do território pelos Estados assim como para o “gerenciamento” de
operações bélicas pelas forças armadas. Paralelamente, ela serve às estratégias empresariais, que envolvem deci-
sões de localização e integração de fluxos no espaço globalizado mas recortado pelas fronteiras nacionais. Yves
Lacoste sintetizou todas essas funções na fórmula, calculadamente provocadora, que se tornou célebre: a geogra-
fia serve, antes de tudo, para fazer a guerra.
Para que serve o ensino de geografia? O documento da Secretaria de Ensino Fundamental dá a resposta
adequada a essa questão:

Adquirir conhecimentos básicos de geografia é algo importante para a vida em sociedade, em particular para
o desempenho das funções de cidadania: cada cidadão, ao conhecer as características sociais, culturais e naturais
do lugar onde vive, bem como as de outros lugares, pode comparar, explicar, compreender e espacializar as múlti-
plas relações que diferentes sociedades em épocas variadas estabeleceram e estabelecem com a natureza na cons-
trução de seu espaço geográfico. A aquisição desses conhecimentos permite uma maior consciência dos limites e
responsabilidades da ação individual e coletiva com relação ao seu lugar e a contextos mais amplos, de escala
nacional e mundial. Para tanto, a seleção de conteúdos de Geografia para o ensino fundamental deve contemplar
temáticas de relevância social, cuja compreensão, por parte dos alunos, se mostra essencial para sua formação
como cidadão. (Secretaria de Educação Fundamental do MEC. Parâmetros curriculares nacionais — Geografia.)
7
A geografia é uma ciência social. As suas interfaces com a problemática ambiental, de um lado, e com a problemá-
tica política, de outro, potencializam o papel que ela pode e deve desempenhar na formação dos valores da cidadania.
Numa sociedade democrática e, portanto, pluralista, a cidadania deve ser entendida como a capacidade de
plena participação na vida e nos debates da coletividade. Essa capacidade é muito mais que o simples exercício de
um direito político. Ela requer um acervo de informações variadas e, sobretudo, o exercício da habilidade de
decifrar os discursos sociais. A geografia, entendida como “gramática do mundo” tem um papel insubstituível a
desempenhar na construção dessa habilidade.

Geografia e cartografia
A cartografia é a linguagem da geografia. Através dos mapas e das cartas, são fixados os lugares e os fenôme-
nos que ocorrem na superfície da Terra. Nessa medida, a capacidade de ler, interpretar e produzir mapas constitui
meta prioritária do ensino de geografia.
Na condição de linguagem, a cartografia estrutura-se em torno de um sistema de símbolos. Cabe ao ensino de
geografia capacitar os alunos a se apropriar desse sistema simbólico, compreendendo a lógica que o preside e
utilizando-o autonomamente para produzir mapas originais. Isso é muito mais que a simples capacidade de ler os
mapas nos materiais escolares e nos atlas de divulgação.
Ao mesmo tempo, ler e interpretar mapas não consiste unicamente em decifrar aquilo que eles dizem, mas
também em lançar um ponto de vista crítico sobre os documentos cartográficos. A cartografia não é uma lingua-
gem neutra. Ela expressa e veicula o contexto cultural de cada época e, por isso, funciona como poderoso instru-
mento formador de noções ideológicas. O ensino de geografia deve, portanto, capacitar os alunos a analisar os
mapas como produtos de determinada época e sociedade.
A seção A linguagem dos mapas está direcionada para esse duplo objetivo. Ela aparece ao final de cada
unidade, em todos os volumes da coleção. Em cada um dos volumes, aborda-se um conjunto coerente de noções
cartográficas, adaptadas à capacidade cognitiva dos alunos daquela faixa etária.

O horizonte da interatividade e o diálogo dos textos


Esta coleção enxerga a geografia como um saber vivo, dinâmico, que se renova e enriquece em contato com
as múltiplas informações constantemente trazidas pelos meios de comunicação. Nesse sentido, ela procura esti-
mular a incorporação dessas informações aos cursos de geografia.
Um dos instrumentos destinados a essa finalidade é o site da coleção na Internet. Este site surgiu do reconhe-
cimento da difusão e da importância que, gradualmente, os computadores adquirem no processo de ensino. Man-
tido pelos autores, trata-se de um espaço de interatividade que almeja oferecer aos professores uma atualização
permanente e um diálogo com o noticiário de interesse geográfico.
No site, encontra-se também um conjunto de propostas de exercícios e atividades adequados aos conteúdos
desenvolvidos em cada bimestre. Tais propostas utilizam como estímulo, pretexto ou matéria-prima as novidades
divulgadas pelos meios de comunicação nos campos das ciências naturais e do meio ambiente, bem como da política
e da economia. Elas complementam os Exercícios de Fixação e as Atividades em Classe que aparecem, ao final de
cada capítulo, nos livros da coleção. Dessa forma, evidencia-se para os alunos a força explicativa dos conceitos
geográficos e se estimula o raciocínio crítico diante da realidade social e dos discursos que a enquadram.
A meta democrática de um ensino pluralista requer a produção de discursos abertos. O curso de geografia
deve ser um trampolim para a investigação, a pesquisa e a reflexão, nunca um receituário congelado de explica-
ções definitivas. Atrair para a sala de aula as múltiplas vozes que se manifestam sobre os debates e as polêmicas
relativos à sociedade e ao seu espaço é uma das exigências de um ensino renovado da geografia. Esse é o sentido
dos pequenos textos de Leitura Complementar inseridos ao final de todos os capítulos.
Também por isso, cada uma das unidades dos quatro volumes da coleção traz uma pequena lista de Sugestões
de Leitura. São obras de apoio didático pertinentes aos conteúdos desenvolvidos e adequadas à faixa etária dos
alunos. A sua utilização possibilita ao professor verticalizar a abordagem de temas de especial interesse.

8
Uma visão panorâmica

O Volume 3 está voltado para o estudo da América. Desvenda as origens do termo, interagindo com a história
e a antropologia, buscando os fundamentos que explicam a procedência dessa denominação e a compreensão da
diversidade étnica do continente, em função das contribuições dadas pela população ameríndia, européia e africa-
na, que resultou numa diversidade cultural e lingüística muito rica e particular.
No espaço geográfico das Américas, estão materializados conjuntos de relações sociais, que foram marcados
pelos diferentes graus de contato e miscigenação entre ameríndios, europeus e africanos. Essas relações particu-
larizam as sociedades americanas, que, ao se desenvolverem em diferentes espaços naturais, criaram relações
especiais com o ambiente que as cerca. Dessas complexas e diferentes formas de relações humanas e naturais,
surgiram espaços geográficos específicos, que permitiram a criação de identidades nacionais particulares que
sustentam os Estados do continente. Construir a compreensão de sua formação e de sua evolução significa recu-
perar as condições que produziram esse espaço.
Na América a elaboração dos conceitos de nação e de território passaram por particularidades impostas pelas
diferentes formas de colonialismo. O conceito e o exercício da soberania do Estado tiveram que ser construídos na luta
contra o domínio metropolitano europeu. Dessa diversidade de sua formação histórica e das particularidades sociais
que envolveram a formação de suas diferentes populações emergem as muitas Américas que formam o continente.
O cidadão, no pleno exercício da cidadania, estabelece uma relação com o Estado, marcada pelo desempenho
de seus deveres, mas, por outro lado, deve tomar consciência de seus direitos civis e políticos dentro das fronteiras
nacionais. Assim, faz parte do processo de construção da cidadania o desenvolvimento da consciência de que o
território brasileiro, e também o dos demais Estados que formam a América, são uma construção social e históri-
ca. Em outras palavras, o território é produto dos caminhos políticos e estratégicos escolhidos pelos diferentes
Estados ao longo de sua história. Dessa forma, este volume se organiza em torno das noções de unidade e
diversidade do território americano, demonstrando a formação dos diferentes Estados do continente, fruto de
suas particularidades históricas, políticas, humanas e naturais.
A unidade do território americano é produzida pela soberania de seus Estados, que exercem poder sobre
um determinado espaço, limitado por linhas denominadas fronteiras, construídas por suas histórias. Por outro
lado, essa unidade se expressa também pela subsistência ou até pelo crescimento, em certos momentos, da noção
de americanidade.
A diversidade do território americano é fruto de uma história e de uma cultura específica, nascidas das
diferentes dinâmicas de apropriação dos espaços, o que provocou o aparecimento de complexos regionais singu-
lares. Os conceitos elaborados ao longo do volume 1, no qual analisamos os processos de produção do espaço
geográfico, são usados no estudo da geografia da América, buscando, assim, a compreensão da integração entre a
natureza e a sociedade.
Na aparente unidade que o nome “América” cria, estão diferentes sociedades que se integram à natureza
através de arranjos típicos, criando espaços geográficos individualizados. O volume 3 tem seu eixo de análise no
reconhecimento e na compreensão dessa diversidade, expressas através de suas estruturas produtivas e pelas
formas de organização dos seus assentamentos humanos.
A Unidade I analisa o espaço natural que sustenta as sociedades americanas. São mostradas a formação e a
evolução geológica do continente, substrato de seu relevo, que guarda em suas entranhas as riquezas minerais,

9
primeiro alvo da cobiça dos conquistadores europeus. A extensão e a diversidade de fatores climáticos criam no
continente uma síntese de todas as paisagens da Terra, demonstradas e estudadas através de seus domínios tropi-
cais e temperados. É introduzida a discussão da apropriação das riquezas naturais do continente e da conseqüente
destruição das sociedades indígenas que aqui estavam organizadas.
Na Unidade II, estudamos a formação geopolítica da América. O processo de conquista e partilha é estudado,
mostrando-se a fragmentação dos amplos impérios português e espanhol, com a entrada de ingleses, franceses e
holandeses, dentre outros. Trazendo a questão mais para a atualidade, demonstra-se como foi construída a noção
de hemisfério americano e qual o papel dos Estados Unidos nesse processo, o que permite a compreensão de suas
doutrinas e políticas para o continente. Dimensionamos o espaço sul-americano, analisando duas de suas grandes
áreas naturais, a Amazônia e a Bacia Platina, que estão se tornando importantes zonas geopolíticas.
A Unidade III se dedica ao estudo da formação humana do continente, analisando as contribuições e os
diferentes graus de fusão das culturas ameríndias, européias e africanas nesse processo. Essa análise revela a
evolução quantitativa das várias regiões das Américas, criadora de áreas povoadas e vazias, fruto das relações que
as sociedades estabeleceram com o espaço natural do continente. Ao mesmo tempo é revelada a imensa diversida-
de cultural desse processo. Os graus de desenvolvimento, em parte fruto de dois diferentes processos de relação
metrópole-colônia, são facilmente perceptíveis pelo estudo das características atuais da população da América
Anglo-Saxônica e Latina.
Na Unidade IV, estudamos grupos de nações que apresentam características marcantes. Surgem os Estados
Unidos, como a mais poderosa nação do mundo moderno. O conjunto dos países subdesenvolvidos é organizado
segundo sua atividade mais marcante, seja ela a indústria, a agroexportação ou a mineração. A política de forma-
ção de blocos regionais — como o Nafta e o Mercosul — é analisada, completando-se assim o entendimento da
organização do espaço geográfico americano.
Neste volume, enfoca-se a diversidade do processo de produção do espaço geográfico, realizado através da
transformação do espaço natural, por meio das atividades econômicas. Pela análise de diferentes países e regiões
do continente americano, verificamos como foi manipulada a natureza para a produção de riquezas. Apreende-se,
assim, a diversidade dos espaços geográficos, as formas de sua organização e as relações existentes entre eles, o
que permitirá concluir as causas do desnivelamento crescente entre suas partes norte e sul.

Temas transversais: meio ambiente,


pluralidade cultural, ética e cidadania

A América, em sua diversidade natural, humana e econômica, sintetiza o mundo. O presente volume permite
uma dupla visão: a generalista, que observa a totalidade das relações, e a especialista, que estuda as particularida-
des que compõem o continente. Dessa forma, trabalhando com as múltiplas visões sobre o continente americano,
passamos por todos os temas transversais pertinentes à geografia.
A questão do meio ambiente é crucial na América, pois nela convivem extremos de riqueza/pobreza que se
igualam na capacidade de destruição da natureza. Ao mesmo tempo, subsistem no continente americano impor-
tantes espaços naturais, pouco povoados, que necessitam preservação urgente. Assim, cabe à geografia “contri-
buir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de
um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global”. (Secretaria de
Educação Fundamental do MEC, Parâmetros curriculares nacionais. v. 9. Meio ambiente e saúde, p. 29.)
A pluralidade cultural é outro fato marcante na América. A sua população originou-se principalmente pela
interconexão, em diferentes graus, de três grupos étnicos distintos: ameríndios; colonos e imigrantes europeus;
africanos, trazidos na maior migração forçada da história. Na atualidade, as migrações internas — tanto continen-
tais quanto nacionais —, a integração econômica do espaço americano e a difusão dos meios modernos de trans-
portes e comunicações estão rompendo a segmentação cultural dos lugares e das regiões.

10
Esses fenômenos integradores enriqueceram culturalmente toda a sociedade, mas, por outro lado, ampliam
preconceitos e discriminações. Uma das funções da geografia consiste em promover o reconhecimento do valor
intrínseco das diversas manifestações culturais dos países, de forma a combater preconceitos e discriminações.
“Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias são finalidades que envolvem
lidar com valores de reconhecimento e respeito mútuo, o que é tarefa para a sociedade como um todo.” (Secreta-
ria de Educação Fundamental do MEC, Parâmetros curriculares nacionais. v. 10. Pluralidade cultural e orienta-
ção sexual, p. 23.)
Os temas da ética e da cidadania encontram especial pertinência quando associados aos conteúdos da geo-
grafia, pois essa ciência municia o cidadão para o desempenho de suas funções sociais e políticas, ampliando seus
conhecimentos sobre as características culturais e naturais do lugar em que vive e de outros lugares. Ao desenvol-
ver a capacidade de compreender, comparar, explicar e espacializar as várias sociedades, de diferentes épocas, e
reconhecer as relações que elas estabelecem com a natureza durante o processo de construção do espaço geográ-
fico, cria-se um cidadão crítico, consciente de sua posição social e política.
O estudo do espaço geográfico da América, realizado neste volume, permite ao aluno o desenvolvimento de sua
noção de cidadania, construindo-a como uma forma efetiva de participação social e política. Dessa forma ocorre um
fortalecimento da democracia através da valorização do direito dos povos e indivíduos, expressos pelo seu patrimô-
nio sociocultural e por sua imensa sociodiversidade. “A organização social dos grupos humanos inclui organizações
políticas diversificadas, caracterizadas pelos fundamentos dados pela visão de mundo de cada grupo. Estruturam-
se, assim, diferentes tipos de liderança e coordenação, diferentes mecanismos de participação e comunicação.
Introduzir essa noção de que diferentes grupos étnicos e culturais têm organizações políticas internas próprias,
diferenciadas entre si… {também faz parte do papel da Geografia}.” (Secretaria de Educação Fundamental do
MEC, Parâmetros curriculares nacionais. v. 10. Pluralidade cultural e orientação sexual, p. 81.)

Cartografia: projeções

Neste volume, a seção A linguagem dos mapas está direcionada para introduzir o conceito de projeções. As
quatro propostas de estudo dirigido, localizadas no final de cada Unidade, explicam a dificuldade de representar
em um plano (o mapa) aquilo que na verdade é esférico (a Terra). Essa dificuldade é mostrada através da história
da cartografia, pelas diferentes soluções alcançadas para esse problema, ao longo dos últimos 500 anos. Assim,
são explicadas as projeções cilíndricas, as cônicas, as planas e a de Peters.

11
UNIDADE I
A NATUREZA, FONTE
DE RECURSOS

A geografia crítica não pode prescindir da compreensão do espaço natural, mas também não
pode incorrer no erro da geografia tradicional, que separou o estudo da natureza do estudo do ho-
mem. Também não deve ver a natureza apenas como um local onde se desenvolvem as atividades
humanas. Sob a perspectiva crítica, devemos ver a natureza como o local onde se estabelecem com-
plexas relações entre as diferentes sociedades e os diversos ambientes da Terra. Por outro lado, os
espaços geográficos produzidos por essas sociedades não são apenas uma paisagem natural a mais:
eles são produto dos tempos históricos por que essas sociedades passaram, guardando na paisagem
as marcas por elas criadas e acumuladas.
A Unidade I, em sua própria titulagem, já indica essa direção. A natureza é fonte de recursos
para as sociedades que nela vivem. Por isso, a discussão da apropriação da natureza deve ser feita
junto com seu reconhecimento. Nessa etapa da escolarização, a noção de tempo já pode ser bem
estabelecida, permitindo ao jovem a apreensão de que natureza e sociedade têm dinâmicas distintas,
diferenciando tempo geológico de tempo histórico.
Enquanto a sociedade está condicionada por leis históricas, as forças da natureza se movem
segundo leis naturais. O ouro, buscado pelos europeus desde os primeiros momentos da colonização
da América, formou-se geologicamente há milhões de anos. No entanto sua exploração dizimou
sociedades inteiras em poucas décadas.
É essencial, portanto, o reconhecimento do espaço natural do continente. A escolha de critérios,
baseados na observação científica, permite a criação de uma divisão do continente que favorece o
estudo e a compreensão da diversidade da natureza local, sobre a qual o homem americano construiu
o espaço geográfico. Assim, vamos dividir o continente em duas grandes áreas, a Temperada e a
Tropical, dentro das quais classificamos vários domínios naturais.
É fundamental também, na busca do conhecimento da América, a discussão dos conceitos de etno-
centrismo, apropriação e genocídio, que atravessam a história do continente ao longo dos séculos. A
forma de ocupação das Américas, desde seu início, revela claramente a ideologia européia de se achar
dona do mundo, já que ela era formada por sociedades que se outorgavam o título de civilizadas e porta-
doras dos valores culturais corretos. Essa manifestação etnocêntrica, longe de representar apenas o passa-
do, encontra ressonância ainda hoje em muitas sociedades, dando um caráter de atualidade à discussão.
A ideologia etnocêntrica, que movia o colonizador, sustentou sua prática de apropriação das rique-
zas do continente americano, povoado, segundo eles, por selvagens sem cultura e religião. Nesse pro-
cesso de dominação e exploração, milhões de pessoas foram dizimadas. Civilizações inteiras foram
massacradas, lançando seus sobreviventes à posição de servos e escravos, tirando-lhes a terra necessá-
ria à sobrevivência. O conhecimento desse trágico etnocídio, que ainda não se completou em muitas
partes da América, torna-se fundamental para o desenvolvimento da cidadania e da ética.

  A linguagem dos mapas I — Como se faz um mapa


A seção introduz o aluno na questão da construção dos mapas, mostrando uma das suas maiores
dificuldades: as projeções. Através do texto, das fotos e da atividade, fica clara a dificuldade de
representar no plano a esfera terrestre.
12
CAPÍTULO 1 Formação do continente
Conceito central — O capítulo está centrado na análise de vulcanismo e tectonismo, que podem alterar a paisagem
da formação geológica do continente americano. A chegada em instantes. Afora isso, o grande modificador do relevo é o
do colonizador e a origem do nome do continente são apresen- homem. Ao retirar a cobertura vegetal das montanhas, ele
tadas dentro do quadro das Grandes Navegações. O posiciona- contribui para a aceleração dos processos naturais de ero-
mento e as formas de divisão do continente são discutidos atra- são. O entendimento das agressões ambientais realizadas
vés de vários mapas, mostrando suas origens e utilidades. Por pelo homem passa pelo estudo da natureza.
meio da escala de tempo geológica, é mostrada a lenta evolu-
ção do relevo, analisando suas particularidades e divisão atual. Estratégias — Uma boa estratégia de abordagem do
O conhecimento da formação geológica é de fundamental im- assunto é iniciá-lo assistindo a um filme que mostra a ativi-
portância para futuras discussões a respeito da exploração dos dade vulcânica em ação. Um bom exemplo é o filme O In-
recursos minerais e energéticos. Por outro lado, conhecendo a ferno de Dante, disponível em vídeo. Técnico especialista
formação e as características do relevo, torna-se mais simples a em vulcanismo chega a uma pequena cidade onde há sus-
apreensão de conceitos importantes ligados ao povoamento do peita de possível erupção. A chegada de outros técnicos é
continente e à organização de sua economia. acompanhada de sofisticado equipamento de detecção e
análise, abrindo a oportunidade de se conhecer o que existe
Noções associadas — Associa-se ao estudo do relevo a de mais moderno no setor. Excelentes efeitos especiais pos-
observação da paisagem e o entendimento de suas transfor- sibilitam o entendimento das conseqüências da erupção de
mações. Com o desenvolvimento da prática de observação, um vulcão.
em pouco tempo pode-se reconhecer um relevo de forma- A explicação da ação vulcânica e das suas origens per-
ção recente, uma montanha formada por vulcanismo, um mite a abordagem da teoria das placas, que, por sua vez,
relevo envelhecido por anos de erosão… O relevo se modi- abre caminho para a discussão das origens e da evolução
fica lentamente, excetuando-se as manifestações violentas geológica do continente americano.

Os povos ameríndios
CAPÍTULO 2 e a conquista
Conceito central — O capítulo trabalha a questão da ameríndios, sendo os casos mais discutidos os dos astecas,
apropriação das riquezas da América pelos europeus. Esse maias e incas.
processo foi acompanhado de uma violenta ocupação do
espaço, onde os europeus, geralmente com armas e equipa- Estratégias — O processo de apropriação das terras
mentos mais sofisticados, massacraram os povos ameríndi- indígenas e de suas riquezas, que ocorreu no início da co-
os. Na maior parte das regiões onde foi implantada a explo- lonização das Américas, ocorre, ainda hoje, no Brasil mo-
ração de ouro, as populações locais que sobreviveram às derno. Na década de 1960, a interiorização do povoamen-
batalhas foram escravizadas, dando continuidade ao eleva- to se acelerou, marcada pela construção de Brasília e pela
do número de mortes, então provocadas pela fome, por do- abertura de estradas na Amazônia. À medida que as fren-
enças e epidemias, agravadas pelo excesso de trabalho. tes pioneiras avançavam, penetrando na região, a questão
da posse das terras, ocupadas por tribos indígenas, se fazia
Noções associadas — Associado à questão da apro- presente. A quem pertenciam essas terras? Confinados às
priação das riquezas analisamos o genocídio, ou seja, a reservas indígenas ou espalhados pela selva amazônica,
dizimação total ou parcial de grupos étnicos, ou a imposi- esses grupos foram sendo expropriados de seu único bem,
ção de lesões físicas ou mentais a eles. Na história da dizimados por doenças e massacres. Assim, o recurso de
América, a apropriação das riquezas pelos europeus foi trazer a discussão da apropriação das riquezas para o pre-
acompanhada por intenso genocídio de muitos grupos sente é uma boa estratégia de abordagem do assunto.

CAPÍTULO 3 Dinâmica climática


Conceito central — O capítulo analisa a dinâmica dos balhados e exemplificados em várias regiões do continente.
climas da América. Os mecanismos de influência da latitu- A pretensão não é que o aluno decore os nomes e as carac-
de, altitude, massas de ar e das correntes marítimas são tra- terísticas climáticas de cada parte do continente. No entan-

13
to, para o conhecimento crítico da realidade, é necessário guardam em si uma imensa biodiversidade. Seu conheci-
entender a influência do clima no quadro natural e suas re- mento é condição essencial para que se desenvolvam a cons-
lações com a atividade humana e econômica. Por isso, o ciência e a prática da conservação ambiental.
estudo do clima é importante para a compreensão da ativi-
dade agrícola, economia essencial para um largo conjunto Estratégias — Boas estratégias de abordagem podem ser
de países da América. Em função do grau de tecnologia do desenvolvidas seguindo pela trilha da interdisciplinaridade. O
grupo social, podem ser observados os níveis de transfor- assunto tem raízes na área de ciências, onde os conhecimentos
mação impostos pelo trabalho humano à natureza. de química e física ajudam a explicar as complexas relações
dos fatores e elementos climáticos. A biologia, em especial na
Noções associadas — O estudo dos climas envolve o área de botânica, pode detalhar e enriquecer o estudo das pai-
conhecimento das diferentes paisagens vegetais que mar- sagens vegetais. Essas relações com outras ciências devem ser
cam o continente americano. A vegetação não é apenas uma feitas sem se perder de vista o eixo principal da geografia: uma
moldura que embeleza e individualiza as paisagens. As so- ciência humana, cujo objeto de estudo é o homem, transforma-
ciedades mantêm, com a vegetação, importantes relações dor do espaço natural e criador do espaço geográfico. Portanto,
econômicas, pois retiram dela inúmeras matérias-primas e o professor deve estar atento ao grau de aprofundamento des-
alimentos. Além disso, as formações vegetais, e em espe- sas relações com as ciências naturais e sua adequação ao nível
cial as florestas, têm grande importância ecológica, pois de linguagem e conhecimento científico da 7ª série.

Domínios naturais:
CAPÍTULO 4 América temperada
Conceito central — O capítulo analisa os domínios na- nheciam. Por isso, acabaram reproduzindo a forma de ocu-
turais temperados na América. Através de uma visão hori- pação do espaço natural e as relações com o meio ambiente
zontalizada, podemos observar os cinco grandes domínios da que já haviam desenvolvido na Europa, geralmente com os
Zona Temperada (tundra, taiga, floresta temperada, estepes e mesmos vícios e erros, tais como a destruição das florestas
mediterrâneo), e estudar as interações entre os diferentes ele- e de espécies animais que nelas viviam.
mentos da natureza que os compõem, suas conseqüências nas
paisagens e suas relações com as sociedades que neles vivem. Estratégias — A análise das questões ambientais dos
domínios temperados é bastante interessante, especialmen-
Noções associadas — O estudo das particularidades dos te para os nossos alunos que vivem, predominantemente,
domínios temperados pressupõe a ação do homem sobre eles, nos domínios tropicais. Tomar contato com outras paisa-
observando seus diferentes ritmos de transformação. Quan- gens e analisar os erros cometidos nos domínios tempera-
do os colonizadores europeus chegaram à Zona Temperada dos dos países desenvolvidos da América é importante para
da América, em especial ao Canadá e aos Estados Unidos, que se evite o preconceito de que somente os países pobres
encontraram paisagens muito semelhantes àquelas que co- e subdesenvolvidos causam destruição do meio ambiente.

Domínios naturais:
CAPÍTULO 5 América tropical
Conceito central — O capítulo analisa os domínios na- equatoriais e tropicais, com a destruição das florestas, se
turais tropicais na América. Através de uma visão horizonta- acelerou muito nas últimas décadas, colocando em risco a
lizada, podemos observar os quatro grandes domínios da Zona sua biodiversidade. Por outro lado, os domínios áridos e
Intertropical (equatorial, tropical, semi-árido e desértico tropi- semi-áridos tropicais são também preocupantes, pois, em
cal), estudando as interações entre os diferentes elementos da algumas de suas partes, a intensificação das atividades agro-
natureza que os compõem, suas conseqüências nas paisagens e pecuárias tem gerado o fenômeno da desertificação.
suas relações com as sociedades que neles vivem.
Estratégias — A estratégia de abordagem está clara. A
Noções associadas — É imprescindível, para a geogra- necessidade de associar o estudo da paisagem à ação do
fia, associar ao estudo da natureza a ação do homem. Ao homem nos leva em direção à análise de questões ambien-
mesmo tempo em que analisamos a dinâmica da natureza, tais. Inúmeras matérias, dos diferentes meios de comunica-
devemos compreender que é nesse ambiente que o homem ção, podem servir de ponte para iniciar assunto, dando-lhe
vive e é nele que se estampam as transformações impostas um caráter de atualidade. Partindo de fatos reais, o profes-
pela ação modificadora das sociedades. O povoamento e o sor pode localizá-los dentro dos diferentes domínios em es-
desenvolvimento das atividades econômicas nos domínios tudo, para então explicá-los.

14
UNIDADE II
CARTOGRAFIA E GEOPOLÍTICA

A compreensão da América passa pelo estudo da sua formação e evolução política, acompanha-
da pelo processo de desenvolvimento da cartografia e pela configuração das tensões geopolíticas que
a caracterizam na atualidade.
Na organização inicial do território americano, a Coroa espanhola transformou a parte que
lhe coube em uma fonte de riqueza, explorando o ouro e a prata, atividade realizada com a submis-
são dos indígenas ao regime de servidão. Paralelamente, na América portuguesa, desenvolveram-
se as plantations de cana-de-açúcar, assentadas no tráfico de escravos provenientes da África.
Logo, partes desses amplos impérios foram fragmentadas pela entrada de ingleses, franceses e
holandeses, dentre outros.
A trajetória política da divisão territorial e formação dos Estados americanos seguiu diferentes
caminhos. Na América do Norte, a independência foi influenciada pelo pensamento iluminista euro-
peu. Na América espanhola, as elites brancas das colônias, os criollos, sofreram as influências polí-
ticas e ideológicas dos Estados Unidos e da Revolução Francesa, esfacelando o império em inúme-
ros Estados independentes. O império português manteve a unidade territorial de sua colônia, que se
transformou no Brasil.
Com a independência, os Estados Unidos deram início a um impressionante processo de expan-
são territorial através de compras e anexações. As justificativas naturais e políticas para a incorpora-
ção de novos territórios ficaram conhecidas como o Destino Manifesto. Acreditava-se que Deus ou a
história haviam atribuído ao povo norte-americano a missão de colonizar e civilizar as terras do
continente. Mais tarde, a Doutrina Monroe advertia as potências européias contra a tentação de
recolonizar a América, deixando claro que qualquer tentativa nesse sentido seria encarada como
hostilidade contra os Estados Unidos. Nascia, assim, a noção de “hemisfério americano”, que levaria
os Estados Unidos a anexar metade das terras do México e a exercer seu poder direta ou indiretamen-
te sobre o resto da América.
Se, por um lado, a geopolítica consiste no estudo das relações entre a política dos Estados e o
espaço geográfico, pode-se dizer que parte do potencial econômico desses Estados depende da
localização, das dimensões e das características naturais do território. Por outro lado, a segurança
dos Estados depende das relações com seus vizinhos, que muitas vezes são influenciadas pelo
traçado das fronteiras e pela situação das bacias hidrográficas, cadeias de montanhas, e linhas de
costa. Dessa forma, veremos a importância, na América do Sul, de algumas características do
espaço natural, tais como a disposição das bacias hidrográficas amazônica e platina e a presença
da Cordilheira dos Andes.

  A linguagem dos mapas I — As projeções cilíndricas

A seção introduz o aluno nas particularidades da projeção cilíndrica, indicando as principais


características que ela apresenta, com destaque para a distorção das áreas próximas aos pólos e o
cruzamento dos paralelos e meridianos em ângulos retos. Comenta-se o mapa de Mercator e solucio-
na-se o problema apresentado na primeira tarefa da Linguagem dos mapas.
15
O Novo Mundo e a evolução
CAPÍTULO 6 da cartografia
Conceito central — O capítulo trabalha a descoberta distintas das implantadas nas áreas de colônias de explora-
da América e seu papel na renovação da cartografia. São ção. Suas influências, embora diluídas pelo tempo e pelas
analisadas as primeiras viagens de europeus para a região, transformações sociais e econômicas, podem ainda hoje ser
indicando suas descobertas e as transformações que elas pro- observadas, na forma de organização do espaço e da produ-
vocaram nas concepções medievais de mundo. A maiores ção rural de algumas regiões da América, na arquitetura e
revoluções foram determinadas pela comprovação da esfe- em algumas formas de relações sociais e políticas.
ricidade da Terra e pelo impulso à cartografia, que passou a
representar um quarto continente nos mapas. Estratégias — Uma boa estratégia de abordagem do as-
sunto pode ser o desenvolvimento de uma atividade interdis-
Noções associadas — A colonização da América passa ciplinar com a história. Podem ser analisadas mais detalhada-
pela implantação de duas formas diferentes de dominação: mente, nesse trabalho conjunto, as concepções medievais de
as colônias de povoamento e as de exploração. As primeiras mundo, as técnicas de navegação da época, os instrumentos
acabaram por determinar uma forma de organização do es- que eram utilizados, o estágio em que estava a cartografia e o
paço geográfico e uma estrutura econômica completamente tempo de duração de uma viagem como a de Colombo.

CAPÍTULO 7 O mapa político da América

Conceito central — O capítulo aborda o processo de América, se manifestou de forma diferente da que se ob-
independência das colônias da América. Os processos de servou na África. Lá adquiriu um aspecto formal, de sub-
emancipação das colônias americanas não ocorreram todos missão violenta, enquanto na América surgiu após os pro-
ao mesmo tempo e não foram iguais nas suas causas e ca- cessos de independência, manifestando-se no que é cha-
racterísticas. Assim, são analisadas as linhas gerais dos pro- mado por alguns de imperialismo informal, em que a
cessos emancipatórios dos Estados Unidos, da América es- dominação ocorreu de forma disfarçada, associada aos
panhola, do Brasil e das Antilhas. interesses do capitalismo industrial, que realizava emprés-
timos e investimentos na região.
Noções associadas — Associa-se à discussão dos pro-
cessos de independência a necessidade de conceituar co- Estratégias — Teriam as manifestações de colonia-
lonialismo e imperialismo. Em que pese o debate aca- lismo e imperialismo se encerrado na América? Exem-
dêmico em torno desses termos, sua conceituação e sua plos de processos de dominação estrangeira se manifes-
extensão, vamos usá-los para caracterizar dois períodos tam na história recente e até no cotidiano da América.
distintos. O colonialismo na América, já comentamos, Uma pesquisa e/ou a manutenção de uma pasta de recor-
se organizou de duas formas diferentes, dando origem às te de jornais recentes podem fornecer um excelente ma-
colônias de exploração e de povoamento. Suas caracte- terial para iniciar o tema deste capítulo. Uma boa estraté-
rísticas e particularidades devem ser associadas ao con- gia de abordagem do assunto é partir da realidade atual,
texto em que se formaram, dentro do processo de evolu- retomando o passado como ferramenta de explicação do
ção do capitalismo comercial. Já o imperialismo, na presente.

Os Estados Unidos e o
CAPÍTULO 8 hemisfério americano
Conceito central — O capítulo analisa a formação e a da Louisiana, da Flórida e do Alasca, dentre outros, ou por
expansão do território norte-americano, em sua primeira anexações, como foi o caso do Texas, da Califórnia e do
fase, ou seja, durante a ocupação das terras continentais. Novo México. A velocidade dessa expansão foi espantosa,
Esse processo ocorreu através de compras, como foi o caso já que em menos de 100 anos o país passou de 1 milhão de

16
quilômetros quadrados, na época da independência das 13 nifesto, a Doutrina Monroe e, chegando à modernidade, a
colônias iniciais (1776), para mais de 9 milhões de quilô- Iniciativa para as Américas.
metros quadrados, em 1867, quando comprou o Alasca.
Estratégia — É importante relacionar o processo de
Noções associadas — O processo de expansão territo- expansão territorial norte-americano a outros conhecimen-
rial envolve o surgimento e o desenvolvimento de doutrinas tos. Primeiro, é conveniente buscar uma inter-relação com a
e ideologias, que foram postas em prática durante a constru- história, que poderá dar um suporte explicativo a esse pro-
ção do Estado norte-americano expansionista. As mais im- cesso. Um segundo procedimento estratégico fundamental
portantes desse período foram: a Doutrina do Destino Ma- diz respeito ao uso da cartografia.

As fronteiras meridionais
CAPÍTULO 9 da superpotência
Conceito central — A expansão territorial e as políti- do país. O povoamento do oeste e o crescimento da indústria
cas de dominação para o continente americano influencia- são apenas dois dos muitos exemplos que podem ser explora-
ram ativamente no processo de desenvolvimento econômi- dos no assunto. Por outro lado, associa-se à imigração a ques-
co dos Estados Unidos. Mas, como subproduto desse pro- tão dos excluídos, dos imigrantes marginalizados devido a
cesso, foram criados alguns tipos de vínculos entre os paí- suas origens, e os atritos que os Estados Unidos mantêm com
ses latino-americanos e os Estados Unidos, que acabaram diversos países da região de onde essas pessoas vieram.
se transformando em problemas. O capítulo trabalha dois
desses vínculos problemáticos: as imigrações e os confli- Estratégias — O Brasil também recebeu um número
tos geopolíticos regionais. significativo de imigrantes. A estratégia de se aproximar do
assunto por analogia é muito rica. Guardadas as devidas pro-
Noções associadas — A questão da imigração deve ser porções, os imigrantes brasileiros também dilataram as fron-
associada à história econômica e às etapas do povoamento teiras nacionais, povoando e desenvolvendo áreas do interi-
dos Estados Unidos. A mão-de-obra e o mercado consumidor or do país. Os imigrantes serviram ainda como mão-de-obra
representado pelos imigrantes, especialmente no século XIX, e mercado consumidor, impulsionando o crescimento eco-
foram um dos mais importantes fatores de desenvolvimento nômico nacional.

CAPÍTULO 10 Geopolíticas da América do Sul


Conceito central — O conceito central trabalhado no a isso a necessária observação dos diferentes impactos que
capítulo é o das relações geopolíticas decorrentes do uso estão ocorrendo nessas regiões devido à colonização e à
dos espaços naturais compartilhados. As relações entre a implantação de atividades econômicas. Trata-se de deixar
natureza, a economia e a política, dentro do espaço natural claro os diferentes graus de ocupação do espaço e os dife-
dos Andes, e das bacias Amazônica e Platina, são discuti- rentes problemas gerados por isso.
dos, indicando sua importância, forma de ocupação, dispu-
tas e tensões geopolíticas. São três quadros naturais distin- Estratégias — Considerando como tema central as re-
tos, com diferentes graus e tipos de ocupação humana e eco- lações geopolíticas regionais, uma boa estratégia de aproxi-
nômica. Os problemas geopolíticos decorrentes do uso des- mação do assunto está na discussão dos problemas de fron-
ses espaços são forçosamente distintos, obrigando a um es- teira que têm marcado a ocupação das bacias Amazônica e
forço de variadas definições, que reflitam a realidade e os Platina. Na história recente do pensamento geopolítico bra-
pontos de vista dos Estados envolvidos na região. sileiro, as fronteiras da Bacia Platina são tidas como fron-
teiras vivas e as da Bacia Amazônica como fronteiras
Noções associadas — A discussão geopolítica dessas mortas, por seu povoamento escasso e pequena atividade
regiões envolve o problema do domínio e da apropriação de econômica. Essa abordagem permite a compreensão das
suas riquezas, o que requer um conhecimento de seus qua- diferentes estratégias dos Estados para a ocupação e divisão
dros naturais e das relações neles estabelecidas. Associa-se dessas regiões, que acabaram gerando tensões e guerras.

17
UNIDADE III
OS POVOS AMERICANOS

O entendimento da complexa formação étnica da população americana serve de base para a com-
preensão de sua diversidade e da riqueza cultural que a caracteriza. Assim, analisamos as origens dos
primeiros grupos humanos que povoaram o continente e se adaptaram às suas diferentes paisagens.
Hoje, os povoadores iniciais da América, os ameríndios, são minoria. Embora esses elementos e
seus mestiços formem mais da metade da população de nove países do continente, como regra geral,
eles foram reduzidos até quase a extinção. Nas regiões onde ainda são parte expressiva da população,
suas influências na língua, arquitetura, culinária, música e nos costumes podem ainda ser notadas.
A partir do final do século XVI, todo o continente americano passou a ser colonizado por povos
vindos da Europa. Os principais povos que participaram desse processo foram espanhóis, portugueses,
ingleses, franceses e holandeses. Introduziram a exploração mineral de ouro e prata, além de produtos
extrativos vegetais e agrícolas, o que contribuiu para a destruição de povos e culturas sob seu domínio.
Com as independências e a intensificação da imigração, a população da América passou a cres-
cer mais depressa, impulsionada pelos Estados Unidos, Brasil, Argentina e Canadá. Além da eleva-
ção do número de habitantes, os imigrantes trouxeram importantes contribuições econômicas, polí-
ticas e sociais, influenciando a formação da população e das instituições do continente.
Em vários países americanos, os elementos negros e seus mestiços formam uma parcela expres-
siva da população. A imigração do negro, no entanto, não foi igual à do branco, já que eles foram
trazidos como escravos, em um processo de imigração forçada. Como essas populações eram retira-
das de diversas partes da África, suas culturas eram distintas, determinando que os locais onde eles
desembarcaram, ou para onde se dirigiram mais tarde, se tornassem diferentes entre si.
As características demográficas e sociais da América são muito diversas. Na América Anglo-
Saxônica há um crescimento populacional baixo, com rápido envelhecimento da população. Sua
urbanização é elevada, com intensificação da conurbação. A População Economicamente Ativa che-
ga a ser metade da população total, sendo a parcela trabalhadora do campo pequena, devido ao
elevado grau de mecanização da agropecuária. Paralelamente, as atividades terciárias apresentaram
um crescimento contínuo, associado à crescente urbanização.
Na América Latina, o crescimento da população tem sido acelerado pela rápida queda das taxas
de mortalidade e a manutenção das altas taxas de natalidade, fase demográfica que não está comple-
tamente encerrada. Como conseqüência, em boa parte dos países da região, há populações com
elevadas parcelas de jovens. De maneira geral, a população urbana vem crescendo rapidamente,
embora o processo de urbanização não tenha seguido o modelo clássico, ou seja, não foi determina-
do por um processo de industrialização. A População Economicamente Ativa está geralmente em
torno de um terço da população total, sendo elevada a parcela de trabalhadores no campo, devido,
entre outros fatores, à baixa mecanização rural.

  A linguagem dos mapas III — Projeções cônicas e planas


A seção introduz o aluno nas particularidades das projeções cônicas e planas, indicando as prin-
cipais características que elas apresentam. São mostradas as diferentes utilidades de cada uma des-
sas formas de projeção, bem como suas particularidades. É mais uma oportunidade de mostrar que o
uso a ser dado pelo mapa determina a escolha da projeção.

18
CAPÍTULO 11 Indo-América

Conceito central — O capítulo trabalha a ocupação associação desses fatos revela-se extremamente importan-
do continente, analisando a teoria que aponta três gran- te, pois não se trata apenas de analisar dados históricos, dis-
des grupos étnicos, provenientes da Ásia, como partici- tantes dos alunos temporalmente. Esse processo de apropri-
pantes desse povoamento inicial. Sua adaptação a dife- ação, com suas conseqüências sobre os povos menos favo-
rentes paisagens do continente deu origem a diversos recidos, tem continuado na atualidade.
povos, em sua maior parte formados por nômades e semi-
nômades. A chegada do colonizador europeu determinou Estratégias — Uma boa estratégia de abordagem do
profundas alterações nesses grupos humanos, mudando assunto pode ser relacioná-lo a dois pontos. Primeiro, à ques-
suas condições de vida, sua representatividade numérica, tão ecológica, já que o avanço sobre as áreas ocupadas por
cultural e política. Dentro desse quadro, destaca-se a des- povos indígenas é geralmente acompanhado pela alteração
truição dos grupos indígenas brasileiros e a evolução das das economias tradicionais e pela introdução de técnicas de
políticas indigenistas. exploração depredatórias e destruidoras do meio ambiente.
Segundo, à questão da ética e da cidadania, com a discussão
Noções associadas — O genocídio e a aculturação dos de como agem os detentores dos grandes capitais e da desti-
ameríndios são fenômenos amplamente ligados ao proces- tuição dos direitos dos povos indígenas das áreas incorpora-
so de apropriação das terras e das riquezas do continente. A das aos sistemas de produção capitalistas modernos.

CAPÍTULO 12 Euro-América
Conceito central — O conceito central trabalhado que explicam a gigantesca massa de população que abando-
no capítulo é o da colonização e da emigração européia nou o continente europeu e buscou reorganizar suas vidas
para a América. As áreas de colonização inicial são deli- na América. O assunto permite a criação de diversos laços
mitadas, sendo indicadas suas particularidades, com ên- de interdisciplinaridade com a história.
fase nas ocupações espanhola, portuguesa, inglesa e fran-
cesa. A análise da fase imigratória permite entender a Estratégias — O fato de o Brasil ter recebido um ele-
aceleração do crescimento populacional de alguns países vado número de imigrantes, que deixaram profundas in-
do continente, bem como sua formação cultural, econô- fluências na nossa formação cultural e econômica, pode
mica e política. servir de estratégia de abordagem do assunto. Dependen-
do da região do Brasil em que se esteja, se a influência de
Noções associadas — Todo imigrante foi emigrante de um determinado grupo imigrante é mais forte ali, pode-se
sua terra natal. Por isso, o estudo da imigração na América iniciar o assunto através de um estudo mais específico e
está associado às causas da emigração européia nos séculos local, com mapas, fotos, postais e objetos, para só então
XIX e XX. Problemas agrários, urbanização, desemprego, partir para uma análise mais ampla da situação do conti-
perseguições religiosas são algumas das causas históricas nente como um todo.

CAPÍTULO 13 Afro-América

Conceito central — O conteúdo central trabalhado no das. São estudados, mais detalhadamente, os casos brasilei-
capítulo é o da migração forçada de milhões de negros afri- ro, norte-americano e centro-americano.
canos para a América e de sua contribuição para a formação
da população, economia e cultura desse continente. É es- Noções associadas — O estudo da contribuição dos ele-
sencial observar as diferentes áreas de origem desses gru- mentos negros à formação da América Latina envolve a ques-
pos, para que o entendimento das diversas manifestações tão do racismo e da evolução dos direitos humanos, em especi-
culturais presentes hoje no continente possam ser entendi- al no caso norte-americano. Sob a perspectiva de uma aborda-

19
gem mais cultural, pode ser desenvolvido um estudo das mani- nente e que em seu processo de evolução criaram diferentes
festações religiosas fetichistas, como o vudu ou o candomblé, formas de expressão. A música é um bom exemplo, fácil de
além de suas relações de sincretismo com o catolicismo. ser demonstrado em sala. Alguns exemplos bastam para in-
dicar as diferenças e semelhanças entre as manifestações
Estratégias — Uma boa estratégia de abordagem do culturais negras do continente. A título de sugestão, pode-
assunto pode ser realizada através de manifestações cultu- riam ser mostrados sambas brasileiros; reggaes da Jamaica;
rais dos diferentes grupos negros que chegaram ao conti- blues e jazz dos Estados Unidos.

População da América
CAPÍTULO 14 Anglo-Saxônica
Conceito central — O capítulo trabalha os conceitos a questão do lixo e o problema da poluição atmosférica e hí-
básicos que caracterizam a população dos países da Améri- drica; na área de história, podemos estabelecer relações com
ca Anglo-Saxônica. A análise do crescimento demográfico a independência dos Estados Unidos e do Canadá, com a
permite estabelecer as semelhanças e as diferenças entre as Guerra de Secessão, com a importância econômica das plan-
populações do Canadá e dos Estados Unidos. A urbaniza- tations no período colonial dos Estados Unidos etc.
ção norte-americana, com sua intensa conurbação e a for-
mação de megalópoles é estudada, assim como o problema Estratégias — Uma boa forma de abordar o assunto
do lixo produzido por essas imensas aglomerações huma- pode ser a discussão do conceito de qualidade de vida. Ex-
nas e econômicas. O conhecimento da estrutura de trabalho pressa numericamente, a qualidade de vida se estampa pela
e sua distribuição setorial permitem a discussão das ques- colocação do país no IDH. Nesse caso, os dois países estão
tões da terciarização e do desemprego. bem posicionados. Mas, escapando da simples colocação
quantitativa, cabem inúmeras discussões, para que se perce-
Noções associadas — Os estudos de população envol- ba que o conceito de qualidade de vida engloba múltiplas
vem inúmeros conceitos e informações de outras áreas do facetas. Algumas sugestões de abordagem, que podem ser
conhecimento humano, permitindo interessantes interdisci- enriquecidas através de pesquisas em jornais e revistas: o
plinaridades. Citando apenas alguns exemplos, teríamos: na IDH dos Estados Unidos é igual para todos os grupos so-
área de matemática, podem ser pesquisados dados que per- ciais, inclusive o dos negros?; a violência, a pobreza e a
mitam a montagem de gráficos cartesianos, indicando a evo- decadência urbana afugentam moradores das grandes cida-
lução da população absoluta ou regional desses países; na área des para os subúrbios?; uma sociedade rica produz mais
de ciências do meio ambiente, há importantes contatos entre lixo?; o que fazer com o lixo urbano?

CAPÍTULO 15 População da América Latina

Conceito central — O capítulo enfoca conceitos básicos do campo, relacionados ao êxodo rural, e da macrocefalia ur-
que caracterizam a população dos países da América Latina. A bana, caracterizada pelas cidades inchadas e com graves pro-
análise do crescimento vegetativo indica a diversidade de está- blemas sociais. Importantes conexões interdisciplinaridades
gios de evolução demográfica pelo qual o continente passa. podem ser feitas, especialmente com a história, explicando as
Permite ainda o estabelecimento de relações de semelhança e transformações do campo na América Latina, suas reformas
diferença com o que foi estudado no capítulo anterior. A urba- agrárias, as revoltas camponesas, a formação da burguesia ur-
nização recente, rápida e sem planejamento, é estudada e rela- bana e a penetração dos capitais internacionais.
cionada aos graves problemas das grandes cidades, especial-
mente o favelamento, o desemprego e a marginalidade. São anali- Estratégias — Uma boa forma de se estudar o assunto pode
sadas as características da estrutura de trabalho, bem como os ser a elaboração de um arquivo com recortes de jornais e revis-
problemas do subemprego, desemprego e hipertrofia terciária. tas, organizado pelo professor e realizado pelos alunos. Ao longo
de algumas semanas ou meses, artigos que abordem os proble-
Noções associadas — Para se estudar a população latino- mas populacionais da América Latina vão sendo arquivados
americana, é preciso abordar os problemas das transformações em pastas com títulos previamente definidos pelo professor.

20
UNIDADE IV
GEOGRAFIA ECONÔMICA:
A AMÉRICA DIVIDIDA

O continente americano apresentou diversas formas de colonização e organização econômica,


desde o início de seu povoamento. Cinco séculos de história marcam as diferentes estruturas e graus
de desenvolvimento econômico de seus inúmeros países e regiões. De forma geral, encontramos
quatro grandes grupos de nações, com formas diversas de estruturação econômica.
O Canadá e os Estados Unidos, colônias de povoamento inglesas, se estruturam em torno de
uma economia primária altamente organizada e produtiva, que ocupa pequena mão-de-obra e em-
prega grande tecnologia, gerando excedentes de produção substanciais. Sua enorme extensão terri-
torial, a abundância de recursos naturais, os fluxos de imigrantes, dentre outros fatores, serviram
para impulsionar a urbanização e a industrialização, colocando as duas nações entre as maiores
economias mundiais, contribuindo para a elevação de sua qualidade de vida.
No restante do continente, organizado de forma geral como colônias de exploração, estrutura-
ram-se países de economia subdesenvolvida. Na década de 1950, o Brasil, o México e a Argentina
escaparam da tradicional economia agrícola e mineradora voltada para a exportação e se industriali-
zaram através de uma política que ficou conhecida como substituição das importações. Organiza-
da pelo Estado, que investiu em infra-estrutura, e incentivada pela entrada de capitais transnacio-
nais, essa industrialização inseriu esses países em um outro patamar do mercado internacional.
Um outro grupo de países latino-americanos continua ainda hoje realizando uma economia que
se originou no período colonial, com base na agricultura, de exportação. Destacam-se, pelo seu
volume de exportação: Colômbia, Equador, Honduras, Costa Rica e Nicarágua. Neles, embora ve-
nha ocorrendo uma urbanização, o processo industrial é incipiente e os problemas das grandes cida-
des são graves. Geralmente, uma oligarquia rural tradicional mantém vínculos com o poder central.
O último grupo de países subdesenvolvidos da América é formado por países de economia minera-
dora. Assim como os agroexportadores, essas economias originaram-se no período colonial e se manti-
veram praticamente sem modernização até os dias de hoje. São representativos dessa situação, quer por
seu volume de produção, quer pela manutenção de estruturas sociais arcaicas, a Bolívia e o Peru.
A formação de blocos geopolíticos e/ou geoeconômicos não é uma novidade no continente, no
entanto, seguindo uma tendência internacional, esse processo se acelerou muito desde o início dos
anos 1990. Organizações como a Alalc (Associação Latino-Americana de Livre Comércio) e o Pac-
to Andino, criadas ainda na década de 1960, foram substituídas por organizações mais dinâmicas e
que buscam processos de integração mais profundos.

  A linguagem dos mapas IV — A projeção de Peters

Esta seção introduz o aluno nas particularidades da projeção de Peters. A distorção das formas
desse mapa, que pode parecer estranha para o aluno, é proposital. Para Peters, estranho é o fato de as
pessoas não perceberem e não serem avisadas das distorções que o mapa de Mercator contém, passan-
do a acreditar que esse é o mapa correto. É uma boa oportunidade para reforçar a idéia de que o uso a
ser dado pelo mapa determina a escolha da projeção que será utilizada na sua construção. Nesse caso,
Peters achou que o mais importante era representar os países em seu tamanho real.

21
Estados Unidos e Canadá, os
CAPÍTULO 16 países desenvolvidos
Conceito central — O capítulo estuda a organização eco- energia, de recursos minerais e de outras matérias-primas —
nômica dos Estados Unidos e do Canadá, países de alto nível e as posteriores a esse processo, ou seja, as questões ligadas
de desenvolvimento sócio-econômico, onde as atividades industri- ao mercado consumidor. A existência de mão-de-obra, sua
ais criaram novos espaços geográficos, altamente dinâmicos. abundância, proximidade e custo, além das políticas estatais
A compreensão desse desenvolvimento e de sua capaci- para o setor industrial, também fornecem importantes subsí-
dade de transformação do meio ambiente está relacionada a dios para as análises. Na verdade, o conjunto desses conheci-
um processo histórico determinado pela disponibilidade de ca- mentos permite o entendimento prático das teorias da locali-
pitais. O acúmulo de capitais produzido pelas colônias de po- zação industrial, que explicam a formação de algumas das
voamento permitiu que esse processo fosse disparado, geran- mais importantes paisagens da América Anglo-Saxônica.
do novos capitais, que reinvestidos criaram um ciclo produti-
vo, responsável pela colocação dos Estados Unidos entre as Estratégias — O princípio da analogia pode mais uma
nações mais ricas do mundo, ainda no começo do século XX. vez ser invocado como auxiliar estratégico de aproximação
do assunto. Podem ser feitas interessantes comparações en-
Noções associadas — O estudo da industrialização en- tre a forma de produção e as estratégias de desenvolvimen-
globa o entendimento das suas relações anteriores ao proces- to, realizadas nos dois países desenvolvidos do norte, com
so produtivo — como a presença ou a distância de fontes de aquelas que foram tentadas na América Latina.

Os países subdesenvolvidos
CAPÍTULO 17 industrializados
Conceito central — O capítulo analisa o conjunto dos litares na região e à expansão das transnacionais. É impor-
países latino-americanos subdesenvolvidos industrializados, tante destacar o caráter tardio e dependente da industriali-
mostrando as transformações neles ocorridas em função da zação dos países subdesenvolvidos latino-americanos.
introdução dessa atividade produtiva em sociedades ante-
riormente agrárias. É mostrado, ainda, o importante papel Estratégias — Abordar a mudança de foco ocorrida
que os Estados e as transnacionais tiveram nesse processo nos últimos anos, desde o fim da Guerra Fria e o início da
de industrialização, datado da década de 1950. A globaliza- Nova Ordem Internacional. Da Segunda Guerra Mundial até
ção, com as pressões internacionais para a abertura de mer- o início dos anos 90, a Guerra Fria, caracterizada pelas ten-
cados e as privatizações, colocam a maior parte desses paí- sões geopolíticas Leste-Oeste, chamava a atenção mundial.
ses industriais subdesenvolvidos em uma situação difícil. Após a Queda do Muro de Berlim, as questões que envol-
vem o mundo subdesenvolvido, marcado pelas crescentes
Noções associadas — O estudo da industrialização la- desigualdades Norte-Sul, tornaram-se foco das atenções
tino-americana envolve questões históricas ligadas à substi- mundiais. Dentro desse quadro coloca-se o problema da in-
tuição das importações, à ação dos Estados populistas, ao dustrialização e da dependência externa de alguns países
fortalecimento dos movimentos sindicais, aos governos mi- subdesenvolvidos.

As economias
CAPÍTULO 18 agroexportadoras
Conceito central — O capítulo estuda a formação histó- res e consumidores. Já a moderna agropecuária comercial nas-
rica das plantations e a manutenção de países exportadores ceu da industrialização da economia rural. Dessa forma, os
de produtos agrícolas tropicais na América Latina. A persis- sistemas agrícolas latino-americanos devem ser encarados
tência de países com estruturas econômicas semelhantes às dentro do contexto social e histórico em que foram formados.
encontradas no período colonial explica a formação de certos
tipos de espaços geográficos e de estruturas sócio-econômi- Noções associadas — O estudo dos sistemas agrícolas
cas muito comuns no continente. É analisada, também, a for- está associado a diferentes situações históricas. Cada sistema
mação de áreas agropecuaristas comerciais no Cone Sul, com resulta de uma combinação específica de técnicas de organiza-
suas particularidades climáticas e paisagísticas. As plantati- ção do trabalho, geradoras de diferentes espaços geográficos.
ons refletem a separação social e geográfica, entre produto- Assim, as plantations devem ser associadas à colonização eu-
22
ropéia e à formação de mercados consumidores de produtos de um contexto colonial, relacionado à internacionali-
tropicais. As formas de organização do trabalho, criadas por zação dos fluxos comerciais. Desde sua origem, esse
esse sistema, foram a escravidão e o assalariamento de baixo processo integrou espaços geográficos e sociedades
custo. Por outro lado, a agropecuária comercial de alimentos muito diferentes: de um lado, o mundo europeu do
está assentada na subordinação rural aos interesses urbanos e consumo, representado pelas potências econômicas da
industriais, resultando em uma capitalização do campo. A or- época; de outro lado, o mundo da produção, represen-
ganização do trabalho envolve produtores familiares e assalari- tado pelas colônias pobres. As necessidades e os inte-
ados temporários e permanentes. resses daqueles mercados consumidores determinaram
a organização do espaço geográfico e da sociedade do
Estratégias — Uma abordagem histórica é prati- mundo colonial, com repercussões que se estendem à
camente inevitável. As plantations formaram-se dentro atualidade.

CAPÍTULO 19 As economias mineradoras


Conceito central — O capítulo analisa os países lati- base da indústria metalúrgica e siderúrgica, durante todo o sé-
no-americanos cujas economias permanecem baseadas na culo XX, serviu de justificativa para as políticas desenvolvidas
exploração de recursos minerais. A busca do ouro e da pra- pelas nações mais poderosas no continente, que invadiram paí-
ta, que impulsionava os primeiros colonizadores, determi- ses, desestabilizaram governos e financiaram golpes de Estado.
nou a formação de ilhas de povoamento, que deram origem
a grandes cidades. Com a decadência dessas produções, Estratégias — Uma abordagem do assunto, bastante atu-
muitas regiões mineradoras entraram em crise. Após a Re- al, pode ser a discussão sobre a queda da importância das eco-
volução Industrial, a Europa e mais tarde os Estados Unidos nomias mineradoras dentro do contexto da Terceira Revolução
e o Japão passaram a explorar no continente outros recursos Industrial. Durante toda a Segunda Revolução Industrial, os
minerais, criando novos laços de dependência externa para minérios formaram uma base sólida para a expansão econômi-
esses países pobres, produtores de minérios. A manutenção ca dos países desenvolvidos. O domínio das minas e dos países
dessas estruturas produtivas arcaicas amplia o descompasso produtores de recursos estratégicos foi um dos aspectos mar-
entre essas economias e as nações mais desenvolvidas. cantes da geopolítica do século XX. Mas, segundo alguns estu-
diosos, a importância relativa dos recursos minerais estará em
Noções associadas — A história da exploração dos recur- decadência no século XXI. Trata-se de assunto muito atual,
sos minerais da América Latina está ligada à presença de gran- que envolve a discussão dos rumos que a indústria terá nos
des grupos transnacionais, que muitas vezes interferiram na próximos anos e da queda de sua importância relativa, diante
política local. A importância que os minérios tiveram, como da terciarização da economia mundial.

Blocos econômicos e
CAPÍTULO 20 integração continental
Conceito central — O capítulo tem como eixo central concorrência. A questão é: estamos em uma guerra comercial?
a análise da integração econômica dos países da América. Explorar também a contradição entre a filosofia neoliberal, que
No contexto do pós-guerra, é colocada a formação da Alalc, defende a criação de uma liberalização radical do comércio
analisando-se suas origens e as causas de seu fracasso. São internacional, e a formação de blocos regionais, que fecham
apontadas diversas outras tentativas de integração, enfocan- seus mercados para os países que estão fora de suas parcerias.
do-se a questão do Mercosul e suas relações com a Alca
(Área de Livre-Comércio das Américas), o que permite o Estratégias — Uma estratégia de aproximação do assun-
entendimento dos choques de interesses geopolíticos e eco- to é retomar as discussões sobre o surgimento da ideologia norte-
nômicos entre o Brasil e os Estados Unidos. americana de controle do continente. O desafio é relacionar
essa ideologia e sua prática política, que refletem os interesses
Noções associadas — A discussão da formação de orga- dos Estados Unidos e entram em choque com a criação de or-
nizações geoeconômicas e geopolíticas está associada à ques- ganizações latino-americanas. Nesse quadro, o Mercosul tem
tão da Nova Ordem Internacional e ao processo de criação de gerado uma disputa entre a UE e o Nafta (Acordo de Livre-
blocos regionais. Podem ser apontadas as dificuldades de inte- Comércio da América do Norte), que buscam acordos especi-
gração e os choques comerciais entre os blocos, característica ais com essa organização. Evidencia-se, assim, a crescente im-
marcante de um mercado mundial onde ocorre uma crescente portância das questões econômicas nas decisões geopolíticas.
23
BIBLIOGRAFIA
AB’SABER, Aziz. Domínios morfoclimáticos e províncias fitogeográfi- HAESBAERT, Rogério. Blocos internacionais de poder. São Paulo, Con-
cas do Brasil, Revista Orientação. São Paulo, IG-USP, 1970. texto, 1990.
ANDRADE, Manuel Correia de. Imperialismo e fragmentação do espa- HOBSBAWM, Eric J. A era do capital (1848-1875). Rio de Janeiro, Paz
ço. São Paulo, Contexto, 1988. e Terra, 1982.
_______. Nordeste: alternativas da agricultura. Campinas, Papirus, 1988. LACOSTE, Yves. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer
_______. Classes sociais e agricultura no Nordeste. Recife, Massanga- a guerra. Campinas, Papirus, 1988.
na, 1985. LEINZ, V. & AMARAL, S. E. Geologia geral. São Paulo, Cia. Editora
ARBEX, José. A outra América: apogeu, crise e decadência dos Estados Nacional, 1969.
Unidos. São Paulo, Moderna, 1993. LOMBARDO, Magda A. Ilha de calor nas metrópoles: o exemplo de
_______. Narcotráfico: um jogo de poder nas Américas. São Paulo, São Paulo. São Paulo, Hucitec, 1988.
Moderna, 1993. MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria: imaginação geográfica e po-
BARBOSA, Elaine S. & MAGNOLI, Demétrio. Formação do Estado lítica externa no Brasil (1808-1912). São Paulo, Unesp/Moderna,
nacional: as capitais e os símbolos do poder político. São Paulo, 1997.
Scipione, 1996. ________. Globalização: Estado nacional e espaço mundial. São Paulo,
BEAUD, Michel. História do capitalismo. São Paulo, Brasiliense, 1987. Moderna, 1997.
BECKER, Bertha K. Amazônia. São Paulo, Ática, 1990. ________. O mundo contemporâneo. São Paulo, Moderna, 1996.
________. Geopolítica da Amazônia. Rio de Janeiro, Zahar, 1982. MARTIN, André Roberto. Fronteiras e nações. São Paulo, Contexto, 1992.
BRENER, Jayme. Ferida aberta: o Oriente Médio e a nova ordem mun- MORAES, Antonio Carlos R. Geografia: pequena história crítica. São
dial. São Paulo, Atual, 1993. Paulo, Hucitec, 1983.
BRITTO, Luiz Navarro de. Política e espaço regional. São Paulo, Nobel, MOTA, Suetônio. Planejamento urbano e preservação ambiental. Forta-
1986. leza, UFCE, 1981.
CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. Rio de OLIC, Nelson Bacic. Geopolítica da América Latina. São Paulo, Moder-
Janeiro, Difel, 1973. na, 1992.
COHN, Amélia. Crise regional e planejamento. São Paulo, Perspectiva, OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A geografia das lutas no campo.
1986. São Paulo, Contexto/Edusp, 1988.
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOL- _________. Amazônia: monopólio, expropriação e conflitos. Campinas,
VIMENTO. Nosso futuro comum. São Paulo, FGV, 1988. Papirus, 1987.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo, OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gião. Rio de Janeiro,
Ática, 1986. Paz e Terra, 1981.
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e geopolítica. São RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas cidades brasileiras. São Pau-
Paulo, Edusp, 1992. lo, Contexto/Edusp, 1988.
DAMIANI, Amélia L. População e geografia. São Paulo, Contexto, 1991. ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo, Brasiliense, 1988.
DOWBOR, Ladislau. A formação do 3º Mundo. São Paulo, Brasiliense, 1986. ROSS, Jurandyr L. S. Relevo brasileiro: uma nova proposta de classifica-
DREW, David. Processos interativos homem-meio ambiente. São Paulo, ção, Revista do Departamento de Geografia FFLCH-USP. n. 4, São
Difel, 1986. Paulo, 1995.
DREYER-EIMBCKE, Oswald. O descobrimento da Terra: História e _________. Geomorfologia, ambiente e planejamento. São Paulo, Con-
histórias da aventura cartográfica. São Paulo, Melhoramentos/ texto, 1990.
Edusp, 1992. ROUQUIÉ, Alain. O extremo-ocidente: introdução à América Latina.
FERRI, Mário Guimarães. Vegetação brasileira. Belo Horizonte/São São Paulo, Edusp, 1991.
Paulo, Itatiaia-Edusp, 1980. SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo, Hucitec, 1996.
FERRO, Marc. História das colonizações. São Paulo, Companhia das _________. Metrópole corporativa fragmentada. São Paulo, Nobel, 1990.
Letras, 1996. _________. O espaço dividido. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1979.
FUNBEC. Investigando a Terra. São Paulo, McGraw-Hill, 1980. SCALZARETTO, R. & VICENTINO, C. A nova ordem internacional.
_______. O tempo e o clima. São Paulo, Edart, 1980. São Paulo, Scipione, 1992.
GARCIA, Carlos. O que é Nordeste brasileiro. São Paulo, Brasiliense, SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. São Paulo, Brasilien-
1984. se, 1985.
GOLDEMBERG, José. O que é energia nuclear. São Paulo, Abril/Brasi- SOBEL, Dava. Longitude. São Paulo, Ediouro, 1996.
liense, 1985. SPENCE, Jonathan D. Em busca da China moderna. São Paulo, Compa-
GOLDENSTEIN, Lea & SEABRA, Manoel F. G. Divisão territorial do nhia das Letras, 1996.
trabalho e nova regionalização, Revista do Departamento de Geo- VALVERDE, Orlando. Grande Carajás: planejamento da destruição. Rio
grafia FFLCH-USP. n. 1, São Paulo, 1982. de Janeiro, Forense, 1989.
GOULD, Stephen J. Vida maravilhosa. São Paulo, Companhia das Le- VESENTINI, José William. A capital da geopolítica. São Paulo, Ática,
tras, 1990. 1986.

24

You might also like