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SINDICALISMO, SOCIEDADE E AMBIENTE A PARTIR DA CIDADE DOS

PALMARES: ANTECEDENTES DO GOLPE MILITAR DE 1964.

A cidade dos Palmares é horizonte de uma disputa pela hegemonia política, pela posse
da terra e pela tutela das pessoas, de modo especial, as ligadas ao campo. Em 1962
emerge o sindicato rural de Palmares, com 45 mil associados. Este, por sua vez, é
resultado da Liga Camponesa da Cidade da Água Preta (1957). Temos, portanto, duas
forças, não homogêneas, que se digladiam. A primeira é formada por proprietários de
terra, fornecedores de cana-de-açúcar, usineiros, políticos e pequenos comerciantes
locais. A política, a economia e a própria Igreja Católica Local gravita em torno deste
centro de poder, mas não totalmente. A segunda, força, heterogênea e muitas vezes
conflitantes entre si, é formada por um leque que abrange o Partido Comunista, setores
de esquerda da Igreja, a FETAPE e políticos do Estado como Miguel Arraes, Francisco
Julião entre outros.

Palavras Chave: Política, repressão e direitos.


“O Nordestino não é comunista; apenas luta contra a miséria”1

O fazer-se2 do movimento operário no campo

O termo fazer-se da classe operária indica a direção que se seguirá, a parir de


então. Uma história vista a partir dos trabalhadores, inseridos em sindicatos, a partir de
uma teia de relações de trabalho, política e de sobrevivência. E, este fazer-se, é fruto de
um processo de tomada de consciência de classe que “não surgiu tal como o sol numa
hora determinada. Ela estava presente ao seu próprio fazer-se” 3. Mais adiante o autor
escreve que a consciência de classe é precedida pela consciência de consumidor. Porque
“o indicador mais sensível do descontentamento popular era, não o salário, mas o preço
do pão” 4. Prosseguindo ele arremata o raciocínio assim: “A consciência de classe surge
da mesma forma em tempos e lugares diferentes, mas nunca exatamente da mesma
forma” 5.
O conceito de classe desenvolvido por Thompson é um elemento que
possibilitará uma análise dos fundamentos que esta pesquisa se baseia.

1
Diário de Pernambuco, 27 de Janeiro de 1962. Entrevista concedida por padre Melo.
2
Ver o prefácio de THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: A arvore da liberdade.
São Paulo: Paz e Terra, 2010.p, 9.
3
Idem.op.cit.,p,9.
4
THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: a arvore da liberdade. São Paulo: Paz e
Terra,2010.p, 66.
5
Idem.op.cit.,p, 10.
Por classe, entendo um fenômeno histórico, que
unifica uma série de acontecimentos dispares e
aparentemente desconectados, tanto na matéria-
prima da experiência como na consciência. Ressalto
que é um fenômeno histórico. 6

Se lembrarmos de que a classe é uma relação, e não uma coisa, então:


“Ela” não existe, nem para ter um interesse ou uma
consciência ideal, nem para se estender com um
paciente na mesa de operações de ajuste. Tampouco
podemos inverter as questões, tal como se faz uma
autoridade no assunto que (num estudo de classe
obsessivamente preocupado com questões
metodológicas, excluindo o exame de qualquer
situação real de classe num contexto histórico nos
informou: as classes se baseiam nas diferenças de
poder legítimo associado a certas posições, i.é, nas
estruturas de papéis sociais em relação a suas
perspectivas de autoridade... Um indivíduo torna-se
membro de uma classe ao desempenhar um papel
social relevante do ponto de vista da autoridade...
Ele pertence a uma classe porque ocupa uma
posição numa organização social; i.é, o
pertencimento a uma classe é derivado na
incumbência de um papel social., a questão é como
o indivíduo veio a ocupar esse “papel social” e
como a organização social especifica ( com seus
direitos de propriedade e estrutura de autoridade) aí
chegou. Essas são questões históricas.7

Karl Marx faz um alerta aos trabalhadores da Alemanha que também servirá
para uma melhor compreensão deste trabalho, tanto do ponto de vista teórico como
metodológico. Ele escreve o seguinte:
“Se o leitor alemão, farisaicamente, encolher os
ombros diante da situação dos trabalhadores
ingleses, na indústria e na agricultura, ou se, com
otimismo, tranquilizar-se com a ideia de serem tão
ruins as coisas na Alemanha, sinto-me forçado a
adverti-lo: “De te fabula narratur!”[A história é a teu
respeito]”. MARX, Karl. O Capital: Crítica da
economia política. Tomo I. 27ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010.p, 16.

Por este motivo, o objetivo desta pesquisa é desenvolver uma dissertação sobre a

6
Idem.op.cit.,p, 9.
7
Idem.op.cit.,p, 11.
história dos trabalhadores de Palmares atuando inicialmente como liga camponesa de
Água Preta. E, em 1962, na condição de sindicato rural. Formando-se historicamente.
Para tanto, convém que se faça uma breve abordagem da organização dos trabalhadores
no Brasil para podermos ter uma melhor compreensão das lutas e suas influências no
mundo operário.
“Podemos buscar as “raízes remotas” do
movimento operário em sociedades de cunho
mutualista, antes mesmo de 1888. Bastaria citar, por
exemplo, a Imperial Sociedade de Artistas,
Mecânicos e Liberais, em Recife, ou a Associação
Tipográfica Fluminense, fundada em 1853 no Rio
de janeiro. Aliás, a existência de sociedades desse
tipo era muito comum em determinadas fases do
desenvolvimento do capitalismo, onde, ainda hoje, é
muito marcante a presença do artesão” 8.

Parafraseando Thompson, o movimento operário é um “fenômeno histórico”,


envolto em relações concretas na Mata Sul do estado de Pernambuco. No Brasil do fim
do século XIX, o movimento operário lançaria as bases das futuras reivindicações do
século XX. Tais como salário, jornada de trabalho e trabalho infantil. Chama a atenção
para o debate sobre o modelo econômico e o controle sobre os meios de produção.
A tomada de consciência de consumidor de bens e de serviço ocorre antes da
consciência de classe. Thompson faz esta afirmativa a partir dos protestos realizados
contra o aumento de gêneros de primeira necessidade9.
Os motins por alimento às vezes eram tumultuados,
como o “Grande motim do Queijo” na feira do
Ganso de Nottingham, em 1764, quando queijos
inteiros rolaram pelas ruas; ou o motim na mesma
cidade, em 1788, provocado pelo alto preço da
carne, quando as portas e venezianas dos
açougueiros foram arrancadas e incendiadas,
juntamente com os livros de contas dos açougueiros,
na praça do mercado. Mas mesmo essa violência
mostra um motivo mais complexo que a fome: os
varejistas eram punidos pelos seus preços e pela má
qualidade da carne”.10

Entretanto, encontramos no estado do Mato Grosso, há uma categoria de pessoas

8
REZENDE, Antonio Paulo. História do Movimento Operário no Brasil. São Paulo: Ática, 1994.p,9.
9
Ver THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: A arvore da liberdade. São Paulo: Paz
e Terra, 2010.p, 66.
10
Idem.op.cit.,p, 67.
denominadas com “pés inchados”11. Excluídos da sociedade de tal modo da sociedade
que quando sofrem repressão, não causa comoção social. Entretanto, mesmo nesse
grupo, encontram-se germes de identificação da sua condição de trabalhador e
elementos de uma consciência de classe nascente. O entrevistado procura superar o
jargão que lhe é imposto e se autodenomina como trabalhador, alguém que, antes de ser
mais uma vítima do esquema de exclusão dos menos favorecidos, é alguém que
contribui para a mesma.
Pé inchado, todo mundo tem o nome de pé inchado
aqui, é só ficar nessa área da rodoviária, pode ir para
onde quiser que é sempre pé inchado! Mas a gente
vive aqui, olha minhas mãos ( com enormes calos);
isso aqui é motosserra, é foice, trabalhando tudo
aí...Pé inchado aqui não existe. Eu estou suando, eu
falo na cara de quem quiser, sou vindo da capital,
Falo a verdade, eu não sou um mentiroso, aqui eu
conheço, sou um trabalhador!12

Nesta mesma direção de sentido, Engels, no prefácio à edição inglesa de O


Capital, aponta para uma possibilidade rebelião da massa proletária desempregada nos
tempo de inverno.
“O que fazer com os desempregados?” Enquanto se
avoluma, a cada ano o número deles, não há
ninguém para responder a essa pergunta; e quase
podemos prever o momento em que os
desempregados perderão a paciência e encarregar-
se-ão de decidir seu destino, com suas próprias
forças. Num instante desses, deverá ser ouvida a voz
de um homem cuja teoria é toda ela, resultado de
uma vida inteira de estudos da história econômica e
da situação da Inglaterra, tendo concluído, desses
estudos, que, pelo menos na Europa, a Inglaterra, é o
único país onde a inevitável revolução social poderá
realizar-se inteiramente por meios pacíficos e legais.
Por certo, nunca se esqueceu de acrescentar ser
pouco provável que as classes dominantes inglesas
se submetessem a essa revolução pacífica e legal
sem proslavery rebelion, a rebelião pró-escravatura.

11
Essa expressão- que se tornou corriqueira nessas áreas – opera como sinônimo de trabalhador de
baixa qualificação, em constante movimento pelas estradas em busca de novos trabalho, sem família
e, costumeiramente, sob o efeito de uma bebida. A expressão pé inchado, ao objetivar essas
características , naturaliza-se e estabelece um, perfil de trabalhador que autoriza uma ação constante
da polícia, reprimindo-o e proibindo sua permanência nas praças e nos entroncamentos; ou outras
ações do poder público no sentido de instituir práticas de vigilância constante que cerceiam o direito
de entrada e saída, nos limites de algumas cidades – como Primavera do Leste, Vila Rica, Sorriso.
MONTENEGRO, Antonio. História, Metodológica, Memória. São Paulo: contexto, 2010.p, 32.
12
MONTENEGRO, Antonio. História, Metodológica, Memória. São Paulo: contexto, 2010.p, 33.
Karl Marx. O Capital: Crítica da Economia Política.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2010.p,43.

Marx que no preambulo do Manifesto do Partido comunista nos lembra da


seguinte afirmativa: “que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus
adversários de poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou contra os
elementos mais avançados da oposição e contra os seus adversários reacionários a pecha
infamante de comunismo?”. Por esta razão, os proprietários de terras, sob o pretexto de
combater o comunismo no campo, em nome da democracia e da fé, intensificaram a
repressão, aos “pés inchados” de Palmares, e ainda, contra qualquer tipo de organização
camponesa até chegar ao seu cume no golpe de 1964.

Luta: Organização e desafios para a formação de uma classe operária rural.


“A maior ofensa contra a propriedade era não ter propriedade” 13

A luta dos moradores do Engenho Limão está na esteira dos movimentos de


trabalhadores rurais e de camponeses que lutam por melhores condições de vida, de
trabalho e alinhados a proposta de reforma agrária. Esta por sua vez, está integrada
dentro do grande leque de movimentos sociais existentes no Brasil, na América Latina
e, por conseguinte, mundial.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmares está ligado ao Partido
Comunista. A partir dos anos 60 possuía presença fundamental no campo. 14 E sua ação
às vezes se confundia com as propostas do PCB. O resultado desta investida no campo
de Palmares foi à eleição do prefeito, Luiz Portela e do seu Vice-prefeito, Brivaldo.
Além de um suplente de vereador. Nada menos que o presidente do sindicato, José
Alves.
“Se os partidos sociais não se confundem com os
partidos políticos e outros canais de luta pela
hegemonia política eles, especialmente em
determinados momentos da luta de classes e da luta
política, avançam em seus clássicos limites de
atuação e reivindicação, Passam a desenvolver
expectativas ou propostas de mudanças sociais a
confrontar-se e mesmo a incorporar projetos

13
THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: a arvore da liberdade. São Paulo: Paz e
Terra, 2010.p, 64.
14
Ver ABREU E LIMA, Maria do Socorro de. Construindo o Sindicalismo Rural: Lutas, partido,
projetos. Recife, Editora da UFPE, 2005.p, 19.
políticos elaborados externamente. Eles então
„politizam‟ suas reivindicações e podem até
„partidarizar‟ sua ação” 15.

A ação política do Sindicato Rural dos Palmares e sua simbiose com o processo
político eleitoral torna-se uma prática considerada perigosa para a manutenção do
arranjo social vigente em Palmares. E, de modo mais preciso em Pernambuco. Esta
nova faceta do sindicalismo rural não é somente um ato político-social, mas é
considerada como um ato, que é ao mesmo tempo criminoso, por tentar usurpar o poder
através de novos arranjos sociais e criador de novos símbolos, tal como o povo no
poder. Neste Sentido, Hobsbawm, contribui para entendermos as inúmeras acusações
das quais, os trabalhadores que lutavam por seus direitos eram vítimas.
“a realidade dos bandidos sociais, e também sua
legenda ou mito, sobretudo como fonte de
informação. Informação sobre aquela realidade e os
papeis sociais que, presume-se, os bandidos
desempenhem (e que, por isso, muitas vezes
desempenham); sobre os valores que supostamente
representam; sobre seu relacionamento ideal-, por
isso, muitas vezes também real com o povo... “o
bandido não é só um homem, é também um
símbolo”. HOBSBAWM p,165.

Esta pesquisa não pretende corroborar com a ideia que os trabalhadores rurais
eram criminosos, mas tão somente observar o impacto social que esta acusação possuía.
Mais adiante, Marx continua: “Não nos apeguemos a ilusões. Consequências na
Europa, da Guerra da Independência Americana do século XVII e da Guerra Civil
Americana do século XIX: a primeira fez soar o toque de alerta para a classe média; a
16
segunda, o toque de alerta para a classe trabalhadora” . E, esta ,quando organizada
causou muito medo17 nas autoridades brasileiras, ou mais precisamente no estado de

15
JACCOUD, Luciana de Barros. Movimentos Sociais e Crise Política em Pernambuco: 1955-1964.
Recife: Massangana, 1990. P, 22.
16
MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Tomo I. 27ª ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010.p, 17.
17
Os estudos e análises que desenvolvi a medida que narrava essas histórias estiveram marcados por
uma preocupação metodológica acerca da acirrada disputa em torno da produção de significados sobre
o presente. Nessa construção, outra dimensão que se incorpora a essa perspectiva analítica é a questão
do medo enquanto experiência histórica, que adquire contornos muito próprios nesse período. Afinal a
ameaça da comunista, que domina os meios de comunicação e também o discurso e a prática de
diversas instituições, aparecem associada à destruição de valores e prática de diversas instituições,
aparece associada à destruição de valores muito caros à sociedade, como a família, a propriedade
privada e a religião. MONTENEGRO, Antonio. História, Metodológica, Memória. São Paulo:
contexto, 2010.p, 16.
Pernambuco18.
“Em termos políticos, apesar da derrota do nazi-
fascismo, da queda de boa parte das ditadoras e da
conquista de mais liberdades e direitos no final da II
Guerra Mundial, a partir de 1947, com a Guerra
Fria, esse quadro sofreu um retrocesso de tal modo
que, considerando-se o período entre 1945 e 1964
como democrático, em linhas gerais, pois existiam
eleições, pluralidade partidária, liberdade de
imprensa, foi ele, porém, marcado pelo
autoritarismo, constantes ameaças de golpe e
algumas restrições significativas ao pleno exercício
da cidadania: os analfabetos não podiam votar, o
PCB foi mantido na ilegalidade, a repressão era
praticamente constante, quando não no plano
federal, por parte de muitos estados. Era, portanto,
uma democracia limitadas”. 19

O movimento no campo em busca de melhores condições causará um


“aguçamento da luta de classes” 20no Brasil, de modo mais nuclear, em na Zona da Mata
de Pernambuco. Uma região marcada pelo cultivo da cana-de-açúcar.

Ligas Camponesas: uma disputa por sua hegemonia no campo entre o partido
comunista, igreja católica e os quadros de francisco julião e governo federal.
Como se tornou bastante conhecido na
historiografia, de meados da década de 1950 até as
vésperas do golpe militar de 1964, o Nordeste do
Brasil, e em especial o estado de Pernambuco,
passou a ser considerado uma área de grande
mobilização de trabalhadores rurais, por intermédio,
sobretudo, as Ligas Camponesas.21

O binômio cana-de-açúcar e latifúndio, segundo Christine Dabat, “foram vistas,


como consequências normais de seu destino, expressões de uma „vocação natural‟ da

18
...Encontrei também no The New York Times inúmeras reportagens sobre o avanço do comunismo no
Brasil e, em especial, no Nordeste. Esse jornal, que representa, sem dúvida, uma tendência dominante
na imprensa dos EUA no período, constrói um Brasil que se encontra na iminência de se transformar
em uma nova Cuba. Nesse sentido, tanto uma parte da imprensa no Brasil como o The New York
Times organizam um discurso de uma grande onda comunista, possivelmente saindo do Nordeste
(entenda-se Pernambuco). Segundo essa imprensa, as Ligas Camponesas incendiaram o meio rural por
meio de suas práticas e discursos, que já se propagam para outros estados. Idem.op.cit.,.p, 15.
19
ABREU E LIMA, Maria do Socorro de. Construindo o Sindicalismo Rural: Lutas, partido, projetos.
Recife, Editora da UFPE, 2005.p, 17.
20
Ver: ABREU E LIMA, Maria do Socorro de. Construindo o Sindicalismo Rural: Lutas, partido,
projetos. Recife, Editora da UFPE, 2005.p, 23.
21
MONTENEGRO, Antonio Torres. História, Metodologia, Memória. São Paulo: Contexto: 2010. p,35.
região pela sacaricultura”22. Além do latifúndio, o censo de 1980 aponta para o
analfabetismo entre 80 e 90 por cento, considerando alfabetizadas as pessoas que
sabiam simplesmente seu nome, “condição sine qua non para se tornar eleitor até
1988”23. As péssimas condições alimentares a que os trabalhadores da região da cana-
de-açúcar são alarmantes, nesse período. Foi encontrada pela professora Socorro Feraz
,na Cooperatica de Tiririca, “crianças apresentando síndrome de Biafra”24.
Os moradores de engenho, muitas das vezes, moradores de condição, foreiros,
eiteiros, sob o regime do cambão formam a paisagem sobre a qual foi fundada a
primeira Liga Camponesa, no engenho Galileia25
O Partido comunista Brasileiro, os quadros ligados a Francisco Julião, a Igreja
Católica e o governo federal, cada um a seu modo tentavam impor seu comando as
Ligas. O Partido Comunista, que na década de 40 lançou seus quadros no campo de
Palmares, foi reprimido. E, sua imagem foi lançada nos jornais como uma forma de dar
ares de crime a uma organização de trabalhadores rurais. O Segundo era proposto pela
Igreja Católica, que estava perdendo sua influência junto aos trabalhadores rurais. E,
finalmente, Francisco Julião que conseguiu vencer as propostas do Partido Comunista
,em 1961, no congresso organizados pela União Nacional dos Lavradores e
Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab)26.
O modo pelo qual, o antigo escravo passa gradativamente à condição de
trabalhador rural assalariado, tem, na morada, um ponto de transição. Ora passageiro,
ora concomitante a esta condição27.
“O desenvolvimento dessas formas de relações de
trabalho é facilmente compreensível em uma
sociedade em que os proprietários de terra possuíam
áreas superiores a capacidade de produção de seus
engenhos e não dispunham de dinheiro em espécie

22
DABAT, Christine. Moradores de Engenho: Relações de trabalho e condições de vida dos
trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios
atores sociais. Recife: Editora da UFPE, 2007.p,69.
23
Idem.op.cit. ,p,77.
24
Idem.op.cit., p,77.
25
Ver DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis:Vozes, 1981.
26
Sobre esta argumentação ver MONTENEGRO, Antonio Torres. História, Metodologia, Memória. São
Paulo: Contexto: 2010. p,36-37.
27
Em certas regiões da Zona da Mata, a morada foi associada, em proporções diversas, a outras formas
de fixação da mão-de-obra rural, com cessão provisória da terra, via arrendamento, meação etc.: os
famosos foreiros. A predominância, no entanto, do assalariamento era absoluta. DABAT, Christine.
Moradores de Engenho: Relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona
canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais. Recife:
Editora da UFPE, 2007.p, 84.
para pagar os salários”28.

Antecedentes do Golpe militar de 1964

O Brasil, a partir dos anos 30 é marcado pelo paradigma do desenvolvimento


promovido pelas forças que atuaram na revolução. Dentre eles, podemos citar a ação
dos tenentes que encaravam a política como algo negativo. E, por conseguinte, quem
29
possuía conhecimento técnico deveria assumir cargos públicos afim de evitar os
esquemas de corrupção. No Nordeste brasileiro se destaca a figura de Joarez Tavora, o
delegado do Nordeste.
Em 1956 Juscelino assume a presidência da república após uma tentativa de
golpe militar. O Jornal “Ultima Hora”30 apresenta na primeira página que sua posse
significou uma derrota para aqueles que tentaram um golpe contra as eleições
presidenciais. E, consequentemente uma vitória significativa das instituições
democráticas. Porém, o fim da década de cinquenta e até o golpe civil-militar31 de 31 de
março de 1964 é marcado por uma efervescência dos movimentos populares urbanos e
rurais que causava um clima de 32incertezas, nas elites, quanto a possibilidade de manter
o estado atual das coisas.
“A situação alarmante é admitida por todos, uma
vez que o próprio governador Aluísio
Alves(governador do Rio Grande do Norte) não
titubeia em afirmar:”: Ou se acha uma solução com

28
PRADO JR, C. Contribuição para a análise da questão agrária no Brasil. Citado por DABAT,
Christine. Moradores de Engenho: Relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais -
na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais.
Recife: Editora da UFPE, 2007.p, 84.
29
Apesar de as interventorias federais terem sido implantadas em todo Brasil, os interventores nortistas
são os que e aproximam mais de um modelo ideal de interventor. De modo geral, três características
norteavam a escolha dos interventores nortistas: “ser estrangeiro”, “ser militar”, “ ser neutro
politicamente”. PALDOLFI, Dulce Chaves. In Gomes, Angel Maria de Castro (Org.) Regionalismo e
centralização política. Partidos e constituinte dos anos 30. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1980. p,
346.
30
Ultima Hora. Rio de Janeiro de 1955. p ,5. O golpe o grande derrotado nas eleições de 3 de outubro.
Alvaro Lins: A resistência de Juscelino Salvou a legalidade – Lins do Rego: não Povo de ser povo
Sem eleições – Eneide: O Povo sabe o que quer – Olímpio Guillerme: o golpe não encontrou ambiente
na massa popular – Francisco Assis Barbosa: interesse Popular Maior Que em 1945.
31
Ver DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis:Vozes, 1981.
32
Os proprietários de terra, alarmados, temem a reação camponesa, temem a reforma agrária por
políticos e técnicos, receiam os planos de recuperação econômica e nada fazem visando aumentar
verticalmente a produção, a fim de poder disponibilizar para as culturas de subsistência as áreas que
fossem gradualmente liberadas pela grande cultura, sobretudo a canavieira. ANDRADE, Manuel
Correia de. As tentativas de organização das massas rurais – Ligas Camponesas e a Sindicalização dos
Trabalhadores do Campo. Coleção Camponeses brasileiros vol I: Leituras e interpretações clássicas.
São Paulo: Unesp, 2009. p, 73).
medidas de financiamento maciço produção que
melhore o Nordeste, ou não chegamos a 1º de
Janeiro de 1963 sem uma convulsão talvez
sangrenta. Quem não acreditar ponha o calendário
no bolso espere para ver e continua: “ Ou elites
decifram o Nordeste em 62, abrindo uma porta da
esperança, ou então serão responsáveis - porque
advertidas do imprevisível revolucionário”.”(Manoel
Correia de Andrade. Camponeses Brasileiros Vol Ip.
74).

A história do movimento de resistência dos trabalhadores da palha da cana-de-


açúcar identifica-se muitas das vezes a história da formação da classe operária. Ou seja,
a luta dos moradores do Engenho Limão está na esteira dos movimentos de
trabalhadores rurais e de camponeses que lutam por melhores condições de vida, de
trabalho e alinhados a proposta de reforma agrária. Estudaremos , a mudança de local
sede da luta do município da Água Preta (distrito de Xexéu) para Palmares, que
representou uma reorganização das forças para a cidade que oferecia melhores
condições para os trabalhadores.
A lavoura, na Zona da Mata Sul de Pernambuco está historicamente ligada a
história da coerção aos trabalhadores rurais, moradores de condição, meieiros entre
outras formas de campesinato. Sidney Mintz estuda dois modelos de produção, fazenda
e plantação, implantado no caribe e, que podem iluminar nosso estudo33 .
'Frequentemente', segundo Mintz “as condições iniciais da fazenda e da plantação
envolvem coerção direta”.Esta coerção por sua vez será o alicerce sobre o qual a Liga
Camponesa da Água Preta retirará seu motivo de ser e vir a ser.
Segundo Francisco Julião,
“a Liga tira do cambão sua chispa, a que lhe
acendeu o entusiamo e lhe deu vida, precisamente
no Nordeste brasileiro, em que ele, como uma planta

33
Decidimos que fazenda significará uma propriedade agrícola, operada por um proprietário de terras
dominante e por força de trabalho dependente, organizada para suprir um mercado em pequena
escala, com escasso capital, onde os fatores de produção são empregados não apenas para a
acumulação de capital, mas também para sustentar as aspirações de status do
proprietário[..]Decidimos por plantação significará uma propriedade agrícola operada por
proprietários dominantes ( geralmente organizados numa empresa) e uma força de trabalho
dependente, organizada para suprir um mercado em larga escala, com uso de capital abundante,
onde os fatores de produção são empregados primeiramente para promover acumulação de capital,
sem relação com as necessidades de status do proprietários. MINTZ, Sidney. O poder Amargo do
Açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados. Recife: Universitária da UFPE,
2010.p,169.
carnívora, fincou sua raiz dura, junto ao primeiro
rebolo de cana que o colonizador português levou
para lá”. (JULIÃO, Francisco. Cambão: A Face
Oculta do Brasil. Recife: Bagaço,2009.p,17.)

Mas o que seria o Cambão? Francisco Julião responde assim:


“No Nordeste de que falo, na zona da cana e da
mandioca, é vulgar e corrente, vulgaríssimo e
correntíssmo, chamar de cambão a haste ou talo do
milho seco, sem espiga ou palha. Cambão é, ali,
também o pau que se prende ao pescoço de uma rês,
e que ela arrasta entre as patas lhe manieta os passos.
É ainda o que atrela correias de coro cru a canga ao
cabeçalho do carro-de-bois. Boi-de-cambão é o que
puxa esse pau na dianteira. Cambão finalmente , é o
dia de trabalho que o dono da terra exige do
camponês, cada dia da semana, pelo sítio que ocupa,
um miserável sítio de um ou dois hectares, quando
muito, se é condiceiro, assalariado agrícola,
trabalhador braçal, jornaleiro ou eiteiro. Mas se se
trata de foreiro, arrendatário ou parceiro, é o que
cada um desses entrega ao latifundiário, sem
remuneração, durante certa época do ano, além da
renda para em dinheiro ou em produto. (JULIÃO,
Francisco. Cambão: A Face Oculta do Brasil. Recife:
Bagaço,2009.p,16.)

É de suma importância que o trabalhador esteja ligado a propriedade, Mintz,


referindo-se ao modelo da fazenda, nos ajuda a entender uma das formas muito utilizada
na Zona da Mata de Pernambuco, tal como o mecanismo de débito contraído no
barracão34 ou ainda através de 'empréstimos' obtidos pelo patrão.
Segundo o pesquisador Paulo Menezes, a Liga Camponesa em Água Preta,
chegou a contar no fim da década de 50, com aproximadamente 2.600 associados.
Situada no bioma da Mata Sul pernambucana, ou melhor, na região canavieira35 está
integrada aos grandes interesses das classes trabalhadoras do Brasil. Ela pode ser
considerada a segunda Liga Camponesa36 do Estado de Pernambuco, logo depois do

34
Na minha infância fui algumas vezes com a minha mãe nos pagamentos da usina Treze de Maio
que muitas das vezes era realizado no Barracão do Engenho Barra do Dia, localizado no município
de Palmares.
35
A priori as cidades que se localizam entre o Agreste e o litoral poderia ser definida como Zona da
Mata, entretanto, este trabalho utilizará a expressão região canavieira para dar mais enfase ao
caráter econômico, social , político e cultural desta região.
36
Ver os estudos de Dreifuus que diferencia as Ligas Camponesas fundadas pelo Partido Comunista
entre 1945 e 1946 e esta que está ligada a Francisco Julião, recebeu este mesmo nome. Esta
disposição está em relação a Liga Camponesa do Engenho Galileia ligada a Francisco Julião. No
Engenho Galiléia.Segundo Manoel Coreia de Andrade,
A difícil situação em que se encontra os
trabalhadores sem terra do Nordeste, constantemente
a agravar-se, sobretudo a partir de 1950, faz que a
massa camponesa procurasse por si mesma uma
solução e afastasse a possibilidade de resolução do
problema agrário regional pela
colonização...(Manoel Correia de Andrade.
Camponeses Brasileiros Vol I, p 73.).37

A cidade dos Palmares está localizada no bioma da Mata Sul Pernambucana. E,


em linhas gerais é marcada pela agricultura canavieira desde inícios do século XIV. A
sociedade açucareira que se ergueu a partir do modelo econômico agro exportador 38 que
marcou profundamente a vida, a posse e o trato da terra e das pessoas desta região39.
O jornal Folha da Manhã, em 1944, anuncia que “Vemos no clichê, três
vermelhos detidos pela polícia, quando intentavam realizar nos Palmares, o congresso
camponês, são eles...Elisio de Barros, Luis de França e o vereador Pedro Renaux
Duarte”. E, mais adiante estava a seguinte afirmação do delegado local:
“prendi o secretário político do comitê Municipal
dos Palmares, Elísio Pereira de Barros, perigoso
agitador vermelho, prontuariado na delegacia
auxiliar desde 1934 e condenado a pena de 7 meses
e 15 dias de prisão pelo extinto Tribunal de
Segurança. Procedi uma busca em sua resistência
apreendendo, então farto material de propaganda
comunista”40

Esta mesma cidade, no ano de 1964, foi visitada diversas vezes por Gregório
Bezerra que agia em conformidade com o governador Miguel Arraes, que segundo Page
lhe concedia certas vantagens quanto a sua estada naquele município, como também

município de Palmares nós encontro no ano de 1944 articulações do Partido Comunista. Estas
duas correntes vão influenciar diretamente o modos vivendi do sindicato rural de Palmares.
DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis:Vozes, 1981.

37
Sobre a relação entre a fome e as formas de agitação camponesa ver HOBSBAWM, Eric. Bandidos.
São Paulo: Paz e Terra, 2010.p,42.
38
MARX, Karl. Coleção os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.p, 50.
39
“A minha compreensão da vida fazia-me ver nisto uma obra de Deus. Eles nasceram assim porque
Deus quisera, e porque quisera nós eramos brancos e mandávamos neles. Mandávamos também nos
bois, nos burros, nos matos” (ROGERS, Thomas. Imaginário paisagístico em conflito na zona da Mata
Pernambucana; Cadernos de História N º6. Recife: Universitária da UFPE, 2010.p, 18).
40
DOPS: Liga Camponesa de Palmares/Prontuário; Número do documento:602-D; Quantidade do
documento 02; Fundo SSP N º 6362.
apoio a mobilização do partido comunista no campo41.
Ainda no ano de 1944, é registrada no DOPS um incêndio “no partido de cana”
que envolvia um adolescente de 13, que sob promessa de pagamento teria executado o
ato tido como criminoso42
. No dia 13 de Janeiro de 1960, no engenho Una na cidade de Palmares, o enfermeiro
Severino Monteiro, ateou fogo no canavial43
, queimando aproximadamente quatro toneladas de
cana, foi detido pela polícia em flagrante, segundo o
sargento Nogueira. Em depoimento (Severino
Monteiro) na delegacia, afirmou que fez por
vingança ao responsável da vigilância do local.
Mesmo que esta versão seja verdadeira, não resta
duvida de que a queima do canavial era algo que
trazia inúmeros prejuízos ao dono do engenho. E,
sua repressão seria condição indispensável para o
bom andamento da propriedade. Mesmo assim, o
número de pessoas a incendiar os canaviais não
diminuía, sendo até registradas a presença de
menores de idade neste tipo de atividade.44

O contexto da região da cana é marcado pela truculência da polícia militar. No


dia 21 de Janeiro de 1957 dona Eurenice Barbosa45 procura a justiça porque foi
ameaçada de prisão pelo delegado municipal e ameaçada de morte pelo cabo da polícia
militar de Pernambuco. Em 05 de dezembro de 1958, o proprietário do engenho
Japaranduba46
,alegando legítima, defesa assassinou o trabalhador
rural Manoel Joaquim com um tiro de revolver. Para
justificar o recurso do Habeas Corpus, afirmou que o
delegado de polícia dos Palmares “por motivos
políticos, tornou-se inimigo rancoroso e
irreconciliável... não apenas envolvendo-o na morte
de Manoel Joaquim, como efetuar a prisão do
paciente (ilegível).em flagrante desrespeito ao

41
Ver em PAGE, Joseph A. A Revolução que nunca houve: O Nordeste do Brasil: 1955-1964.Rio de
Janeiro: Record. P,192. Ver ainda JACCOUD, Luciana de Barros. Movimentos Sociais e Crise
Política em Pernambuco: 1955-1968, no que se refere ao capítulo II.p,29-82.
42
Prontuário funcional; Nome: Liga Agrícola dos Palmares; Nº do documento: 27; Data do
documento: 1944-1964; Fundo SSP Nº 29266.
43
DOPS: Prontuário funcional; Nome: Liga Agrícola dos Palmares; Nº do documento: 27; Data do
documento: 1944-1964 ;Fundo SSP Nº 29266.
44
Idem.op.cit.,Fundo SSP Nº 29266.
45
CASA DA JUSTIÇA. Vara criminal. Palmares, 21 de janeiro de 1957.
46
Engenho do Município dos Palmares-PE.
parágrafo 20 da constituição federal”47

A justiça atende prontamente ao proprietário do engenho Japaranduba,


colocando-o em liberdade. E, o a violência no campo, as vezes passional e outras vezes
para desbaratar uma possível gênese de reivindicação dos trabalhadores rurais. O mote
era reprimir ao máximo, sem contudo apresentar-se como tal.
Há um “relatório do sindicato das feitas em torno das ligas camponesas” na
cidade dos Palmares do ano de 1961 que contém a seguinte informação:

Em Palmares- do mesmo modo. Há entretanto


(ilegível) O prefeito local Luiz Portela, depois que
voltou de Cuba, reuniu em praça pública, por 3
vezes os camponeses locais afim de lhes explicar as
vantagens do regime de Fidel Castro. Não satisfeito
com isto, costuma-se reunir com estudantes do
colégio local explicando-lhes o carinho que o
ditador cubano dedica aos estudantes. Em suas
palavras com os camponeses estes vibraram de
entusiasmo...48

A prisão dos três homens ligados ao Partido Comunista na cidade de Palmares,


aponta a fragilidade do sistema. que por sua vez, necessita constantemente, do aparelho
repressor para manter-se no poder. Por este motivo, qualquer atividade fora do comum
era considerada subversiva, contra a ordem local. E, logo fora da lei. Segundo o ex-
membro da FETAPE em Palmares, Manoel Carvalho, o sindicato rural de Palmares,
funcionava de modo itinerante, por este motivo, aonde houvesse trabalhadores, ali
também estaria o sindicato, ele ainda afirmou que o sindicato não era uma sede49. Isto
tornava o sindicato móvel, segundo o entrevistado, logo após o golpe a sede foi
construída. E, por conseguinte, melhor vigiada pelo sistema.
A grande imprensa pernambucana procurava instaurar sentimentos de pânico na
população, o Diário de Pernambuco apontava o uso de um avião para incendiar os
canaviais da Mata Norte50
O estudo da formação da sociedade que se ergueu em torno da cultura da cana-
de-açúcar ao longo dos séculos é de fundamental importância para entendermos este

47
CASA DA JUSTIÇA. Vara criminal. Palmares, 05 de dezembro de 1958.
48
DOPS. Prontuário funcional; Nome: Liga Agrícola dos Palmares; Nº do documento: 27; Data do
documento: 1944-1964; Fundo SSP Nº 29266.
49
Entrevista concedida por Manoel Carvalho. Palmares, 04 de dezembro de 2010.
50
Avião ateou fogo no canavial do engenho “Cairá”: testemunha narra o fato ao “Diário”. Diário de
Pernambuco, 17 de janeiro de 1962.p,5.
capítulo importante e ao mesmo tempo incompleto na história de Pernambuco. Contudo,
não deixa de ter seu significado na formação do Brasil que hoje conhecemos. Neste
sentido, a luta dos trabalhadores da palha da cana, seja em forma de revolta, no incêndio
do canavial ou através do assassinato de algum capanga do patrão ou ainda a criação de
uma Liga Camponesa ou de um sindicato rural seja para resolver um problema local,
como o pagamento dos atrasados, direito a férias, décimo terceiro ou aposentadoria, não
estão desligados dos problemas estruturais do Brasil, como a necessidade de uma
reforma agrária, política, educacional etc. De modo análogo podemos perceber os
pontos de sustentação da elite da sociedade açucareira a partir dos mecanismos de
repressão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CASA DA JUSTIÇA. Vara criminal. Palmares, 21 de janeiro de 1957.

_________________. Vara criminal. Palmares, 21 de janeiro de 1957.

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dezembro de 2010.

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dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a
academia e os próprios atores sociais. Recife: Editora da UFPE, 2007.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 17 de janeiro de 1962.p,5.


DOPS. Liga Camponesa de Palmares/Prontuário; Número do documento:602-D; Fundo
SSP N º 6362.

_______. Prontuário funcional; Nome: Liga Agrícola dos Palmares; Nº do documento:


27; Data do documento: 1944-1964; Fundo SSP Nº 29266.

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