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A cidade dos Palmares é horizonte de uma disputa pela hegemonia política, pela posse
da terra e pela tutela das pessoas, de modo especial, as ligadas ao campo. Em 1962
emerge o sindicato rural de Palmares, com 45 mil associados. Este, por sua vez, é
resultado da Liga Camponesa da Cidade da Água Preta (1957). Temos, portanto, duas
forças, não homogêneas, que se digladiam. A primeira é formada por proprietários de
terra, fornecedores de cana-de-açúcar, usineiros, políticos e pequenos comerciantes
locais. A política, a economia e a própria Igreja Católica Local gravita em torno deste
centro de poder, mas não totalmente. A segunda, força, heterogênea e muitas vezes
conflitantes entre si, é formada por um leque que abrange o Partido Comunista, setores
de esquerda da Igreja, a FETAPE e políticos do Estado como Miguel Arraes, Francisco
Julião entre outros.
1
Diário de Pernambuco, 27 de Janeiro de 1962. Entrevista concedida por padre Melo.
2
Ver o prefácio de THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: A arvore da liberdade.
São Paulo: Paz e Terra, 2010.p, 9.
3
Idem.op.cit.,p,9.
4
THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: a arvore da liberdade. São Paulo: Paz e
Terra,2010.p, 66.
5
Idem.op.cit.,p, 10.
Por classe, entendo um fenômeno histórico, que
unifica uma série de acontecimentos dispares e
aparentemente desconectados, tanto na matéria-
prima da experiência como na consciência. Ressalto
que é um fenômeno histórico. 6
Karl Marx faz um alerta aos trabalhadores da Alemanha que também servirá
para uma melhor compreensão deste trabalho, tanto do ponto de vista teórico como
metodológico. Ele escreve o seguinte:
“Se o leitor alemão, farisaicamente, encolher os
ombros diante da situação dos trabalhadores
ingleses, na indústria e na agricultura, ou se, com
otimismo, tranquilizar-se com a ideia de serem tão
ruins as coisas na Alemanha, sinto-me forçado a
adverti-lo: “De te fabula narratur!”[A história é a teu
respeito]”. MARX, Karl. O Capital: Crítica da
economia política. Tomo I. 27ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010.p, 16.
Por este motivo, o objetivo desta pesquisa é desenvolver uma dissertação sobre a
6
Idem.op.cit.,p, 9.
7
Idem.op.cit.,p, 11.
história dos trabalhadores de Palmares atuando inicialmente como liga camponesa de
Água Preta. E, em 1962, na condição de sindicato rural. Formando-se historicamente.
Para tanto, convém que se faça uma breve abordagem da organização dos trabalhadores
no Brasil para podermos ter uma melhor compreensão das lutas e suas influências no
mundo operário.
“Podemos buscar as “raízes remotas” do
movimento operário em sociedades de cunho
mutualista, antes mesmo de 1888. Bastaria citar, por
exemplo, a Imperial Sociedade de Artistas,
Mecânicos e Liberais, em Recife, ou a Associação
Tipográfica Fluminense, fundada em 1853 no Rio
de janeiro. Aliás, a existência de sociedades desse
tipo era muito comum em determinadas fases do
desenvolvimento do capitalismo, onde, ainda hoje, é
muito marcante a presença do artesão” 8.
8
REZENDE, Antonio Paulo. História do Movimento Operário no Brasil. São Paulo: Ática, 1994.p,9.
9
Ver THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: A arvore da liberdade. São Paulo: Paz
e Terra, 2010.p, 66.
10
Idem.op.cit.,p, 67.
denominadas com “pés inchados”11. Excluídos da sociedade de tal modo da sociedade
que quando sofrem repressão, não causa comoção social. Entretanto, mesmo nesse
grupo, encontram-se germes de identificação da sua condição de trabalhador e
elementos de uma consciência de classe nascente. O entrevistado procura superar o
jargão que lhe é imposto e se autodenomina como trabalhador, alguém que, antes de ser
mais uma vítima do esquema de exclusão dos menos favorecidos, é alguém que
contribui para a mesma.
Pé inchado, todo mundo tem o nome de pé inchado
aqui, é só ficar nessa área da rodoviária, pode ir para
onde quiser que é sempre pé inchado! Mas a gente
vive aqui, olha minhas mãos ( com enormes calos);
isso aqui é motosserra, é foice, trabalhando tudo
aí...Pé inchado aqui não existe. Eu estou suando, eu
falo na cara de quem quiser, sou vindo da capital,
Falo a verdade, eu não sou um mentiroso, aqui eu
conheço, sou um trabalhador!12
11
Essa expressão- que se tornou corriqueira nessas áreas – opera como sinônimo de trabalhador de
baixa qualificação, em constante movimento pelas estradas em busca de novos trabalho, sem família
e, costumeiramente, sob o efeito de uma bebida. A expressão pé inchado, ao objetivar essas
características , naturaliza-se e estabelece um, perfil de trabalhador que autoriza uma ação constante
da polícia, reprimindo-o e proibindo sua permanência nas praças e nos entroncamentos; ou outras
ações do poder público no sentido de instituir práticas de vigilância constante que cerceiam o direito
de entrada e saída, nos limites de algumas cidades – como Primavera do Leste, Vila Rica, Sorriso.
MONTENEGRO, Antonio. História, Metodológica, Memória. São Paulo: contexto, 2010.p, 32.
12
MONTENEGRO, Antonio. História, Metodológica, Memória. São Paulo: contexto, 2010.p, 33.
Karl Marx. O Capital: Crítica da Economia Política.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2010.p,43.
13
THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa: a arvore da liberdade. São Paulo: Paz e
Terra, 2010.p, 64.
14
Ver ABREU E LIMA, Maria do Socorro de. Construindo o Sindicalismo Rural: Lutas, partido,
projetos. Recife, Editora da UFPE, 2005.p, 19.
políticos elaborados externamente. Eles então
„politizam‟ suas reivindicações e podem até
„partidarizar‟ sua ação” 15.
A ação política do Sindicato Rural dos Palmares e sua simbiose com o processo
político eleitoral torna-se uma prática considerada perigosa para a manutenção do
arranjo social vigente em Palmares. E, de modo mais preciso em Pernambuco. Esta
nova faceta do sindicalismo rural não é somente um ato político-social, mas é
considerada como um ato, que é ao mesmo tempo criminoso, por tentar usurpar o poder
através de novos arranjos sociais e criador de novos símbolos, tal como o povo no
poder. Neste Sentido, Hobsbawm, contribui para entendermos as inúmeras acusações
das quais, os trabalhadores que lutavam por seus direitos eram vítimas.
“a realidade dos bandidos sociais, e também sua
legenda ou mito, sobretudo como fonte de
informação. Informação sobre aquela realidade e os
papeis sociais que, presume-se, os bandidos
desempenhem (e que, por isso, muitas vezes
desempenham); sobre os valores que supostamente
representam; sobre seu relacionamento ideal-, por
isso, muitas vezes também real com o povo... “o
bandido não é só um homem, é também um
símbolo”. HOBSBAWM p,165.
Esta pesquisa não pretende corroborar com a ideia que os trabalhadores rurais
eram criminosos, mas tão somente observar o impacto social que esta acusação possuía.
Mais adiante, Marx continua: “Não nos apeguemos a ilusões. Consequências na
Europa, da Guerra da Independência Americana do século XVII e da Guerra Civil
Americana do século XIX: a primeira fez soar o toque de alerta para a classe média; a
16
segunda, o toque de alerta para a classe trabalhadora” . E, esta ,quando organizada
causou muito medo17 nas autoridades brasileiras, ou mais precisamente no estado de
15
JACCOUD, Luciana de Barros. Movimentos Sociais e Crise Política em Pernambuco: 1955-1964.
Recife: Massangana, 1990. P, 22.
16
MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Tomo I. 27ª ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010.p, 17.
17
Os estudos e análises que desenvolvi a medida que narrava essas histórias estiveram marcados por
uma preocupação metodológica acerca da acirrada disputa em torno da produção de significados sobre
o presente. Nessa construção, outra dimensão que se incorpora a essa perspectiva analítica é a questão
do medo enquanto experiência histórica, que adquire contornos muito próprios nesse período. Afinal a
ameaça da comunista, que domina os meios de comunicação e também o discurso e a prática de
diversas instituições, aparecem associada à destruição de valores e prática de diversas instituições,
aparece associada à destruição de valores muito caros à sociedade, como a família, a propriedade
privada e a religião. MONTENEGRO, Antonio. História, Metodológica, Memória. São Paulo:
contexto, 2010.p, 16.
Pernambuco18.
“Em termos políticos, apesar da derrota do nazi-
fascismo, da queda de boa parte das ditadoras e da
conquista de mais liberdades e direitos no final da II
Guerra Mundial, a partir de 1947, com a Guerra
Fria, esse quadro sofreu um retrocesso de tal modo
que, considerando-se o período entre 1945 e 1964
como democrático, em linhas gerais, pois existiam
eleições, pluralidade partidária, liberdade de
imprensa, foi ele, porém, marcado pelo
autoritarismo, constantes ameaças de golpe e
algumas restrições significativas ao pleno exercício
da cidadania: os analfabetos não podiam votar, o
PCB foi mantido na ilegalidade, a repressão era
praticamente constante, quando não no plano
federal, por parte de muitos estados. Era, portanto,
uma democracia limitadas”. 19
Ligas Camponesas: uma disputa por sua hegemonia no campo entre o partido
comunista, igreja católica e os quadros de francisco julião e governo federal.
Como se tornou bastante conhecido na
historiografia, de meados da década de 1950 até as
vésperas do golpe militar de 1964, o Nordeste do
Brasil, e em especial o estado de Pernambuco,
passou a ser considerado uma área de grande
mobilização de trabalhadores rurais, por intermédio,
sobretudo, as Ligas Camponesas.21
18
...Encontrei também no The New York Times inúmeras reportagens sobre o avanço do comunismo no
Brasil e, em especial, no Nordeste. Esse jornal, que representa, sem dúvida, uma tendência dominante
na imprensa dos EUA no período, constrói um Brasil que se encontra na iminência de se transformar
em uma nova Cuba. Nesse sentido, tanto uma parte da imprensa no Brasil como o The New York
Times organizam um discurso de uma grande onda comunista, possivelmente saindo do Nordeste
(entenda-se Pernambuco). Segundo essa imprensa, as Ligas Camponesas incendiaram o meio rural por
meio de suas práticas e discursos, que já se propagam para outros estados. Idem.op.cit.,.p, 15.
19
ABREU E LIMA, Maria do Socorro de. Construindo o Sindicalismo Rural: Lutas, partido, projetos.
Recife, Editora da UFPE, 2005.p, 17.
20
Ver: ABREU E LIMA, Maria do Socorro de. Construindo o Sindicalismo Rural: Lutas, partido,
projetos. Recife, Editora da UFPE, 2005.p, 23.
21
MONTENEGRO, Antonio Torres. História, Metodologia, Memória. São Paulo: Contexto: 2010. p,35.
região pela sacaricultura”22. Além do latifúndio, o censo de 1980 aponta para o
analfabetismo entre 80 e 90 por cento, considerando alfabetizadas as pessoas que
sabiam simplesmente seu nome, “condição sine qua non para se tornar eleitor até
1988”23. As péssimas condições alimentares a que os trabalhadores da região da cana-
de-açúcar são alarmantes, nesse período. Foi encontrada pela professora Socorro Feraz
,na Cooperatica de Tiririca, “crianças apresentando síndrome de Biafra”24.
Os moradores de engenho, muitas das vezes, moradores de condição, foreiros,
eiteiros, sob o regime do cambão formam a paisagem sobre a qual foi fundada a
primeira Liga Camponesa, no engenho Galileia25
O Partido comunista Brasileiro, os quadros ligados a Francisco Julião, a Igreja
Católica e o governo federal, cada um a seu modo tentavam impor seu comando as
Ligas. O Partido Comunista, que na década de 40 lançou seus quadros no campo de
Palmares, foi reprimido. E, sua imagem foi lançada nos jornais como uma forma de dar
ares de crime a uma organização de trabalhadores rurais. O Segundo era proposto pela
Igreja Católica, que estava perdendo sua influência junto aos trabalhadores rurais. E,
finalmente, Francisco Julião que conseguiu vencer as propostas do Partido Comunista
,em 1961, no congresso organizados pela União Nacional dos Lavradores e
Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab)26.
O modo pelo qual, o antigo escravo passa gradativamente à condição de
trabalhador rural assalariado, tem, na morada, um ponto de transição. Ora passageiro,
ora concomitante a esta condição27.
“O desenvolvimento dessas formas de relações de
trabalho é facilmente compreensível em uma
sociedade em que os proprietários de terra possuíam
áreas superiores a capacidade de produção de seus
engenhos e não dispunham de dinheiro em espécie
22
DABAT, Christine. Moradores de Engenho: Relações de trabalho e condições de vida dos
trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios
atores sociais. Recife: Editora da UFPE, 2007.p,69.
23
Idem.op.cit. ,p,77.
24
Idem.op.cit., p,77.
25
Ver DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis:Vozes, 1981.
26
Sobre esta argumentação ver MONTENEGRO, Antonio Torres. História, Metodologia, Memória. São
Paulo: Contexto: 2010. p,36-37.
27
Em certas regiões da Zona da Mata, a morada foi associada, em proporções diversas, a outras formas
de fixação da mão-de-obra rural, com cessão provisória da terra, via arrendamento, meação etc.: os
famosos foreiros. A predominância, no entanto, do assalariamento era absoluta. DABAT, Christine.
Moradores de Engenho: Relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona
canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais. Recife:
Editora da UFPE, 2007.p, 84.
para pagar os salários”28.
28
PRADO JR, C. Contribuição para a análise da questão agrária no Brasil. Citado por DABAT,
Christine. Moradores de Engenho: Relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais -
na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais.
Recife: Editora da UFPE, 2007.p, 84.
29
Apesar de as interventorias federais terem sido implantadas em todo Brasil, os interventores nortistas
são os que e aproximam mais de um modelo ideal de interventor. De modo geral, três características
norteavam a escolha dos interventores nortistas: “ser estrangeiro”, “ser militar”, “ ser neutro
politicamente”. PALDOLFI, Dulce Chaves. In Gomes, Angel Maria de Castro (Org.) Regionalismo e
centralização política. Partidos e constituinte dos anos 30. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1980. p,
346.
30
Ultima Hora. Rio de Janeiro de 1955. p ,5. O golpe o grande derrotado nas eleições de 3 de outubro.
Alvaro Lins: A resistência de Juscelino Salvou a legalidade – Lins do Rego: não Povo de ser povo
Sem eleições – Eneide: O Povo sabe o que quer – Olímpio Guillerme: o golpe não encontrou ambiente
na massa popular – Francisco Assis Barbosa: interesse Popular Maior Que em 1945.
31
Ver DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis:Vozes, 1981.
32
Os proprietários de terra, alarmados, temem a reação camponesa, temem a reforma agrária por
políticos e técnicos, receiam os planos de recuperação econômica e nada fazem visando aumentar
verticalmente a produção, a fim de poder disponibilizar para as culturas de subsistência as áreas que
fossem gradualmente liberadas pela grande cultura, sobretudo a canavieira. ANDRADE, Manuel
Correia de. As tentativas de organização das massas rurais – Ligas Camponesas e a Sindicalização dos
Trabalhadores do Campo. Coleção Camponeses brasileiros vol I: Leituras e interpretações clássicas.
São Paulo: Unesp, 2009. p, 73).
medidas de financiamento maciço produção que
melhore o Nordeste, ou não chegamos a 1º de
Janeiro de 1963 sem uma convulsão talvez
sangrenta. Quem não acreditar ponha o calendário
no bolso espere para ver e continua: “ Ou elites
decifram o Nordeste em 62, abrindo uma porta da
esperança, ou então serão responsáveis - porque
advertidas do imprevisível revolucionário”.”(Manoel
Correia de Andrade. Camponeses Brasileiros Vol Ip.
74).
33
Decidimos que fazenda significará uma propriedade agrícola, operada por um proprietário de terras
dominante e por força de trabalho dependente, organizada para suprir um mercado em pequena
escala, com escasso capital, onde os fatores de produção são empregados não apenas para a
acumulação de capital, mas também para sustentar as aspirações de status do
proprietário[..]Decidimos por plantação significará uma propriedade agrícola operada por
proprietários dominantes ( geralmente organizados numa empresa) e uma força de trabalho
dependente, organizada para suprir um mercado em larga escala, com uso de capital abundante,
onde os fatores de produção são empregados primeiramente para promover acumulação de capital,
sem relação com as necessidades de status do proprietários. MINTZ, Sidney. O poder Amargo do
Açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados. Recife: Universitária da UFPE,
2010.p,169.
carnívora, fincou sua raiz dura, junto ao primeiro
rebolo de cana que o colonizador português levou
para lá”. (JULIÃO, Francisco. Cambão: A Face
Oculta do Brasil. Recife: Bagaço,2009.p,17.)
34
Na minha infância fui algumas vezes com a minha mãe nos pagamentos da usina Treze de Maio
que muitas das vezes era realizado no Barracão do Engenho Barra do Dia, localizado no município
de Palmares.
35
A priori as cidades que se localizam entre o Agreste e o litoral poderia ser definida como Zona da
Mata, entretanto, este trabalho utilizará a expressão região canavieira para dar mais enfase ao
caráter econômico, social , político e cultural desta região.
36
Ver os estudos de Dreifuus que diferencia as Ligas Camponesas fundadas pelo Partido Comunista
entre 1945 e 1946 e esta que está ligada a Francisco Julião, recebeu este mesmo nome. Esta
disposição está em relação a Liga Camponesa do Engenho Galileia ligada a Francisco Julião. No
Engenho Galiléia.Segundo Manoel Coreia de Andrade,
A difícil situação em que se encontra os
trabalhadores sem terra do Nordeste, constantemente
a agravar-se, sobretudo a partir de 1950, faz que a
massa camponesa procurasse por si mesma uma
solução e afastasse a possibilidade de resolução do
problema agrário regional pela
colonização...(Manoel Correia de Andrade.
Camponeses Brasileiros Vol I, p 73.).37
Esta mesma cidade, no ano de 1964, foi visitada diversas vezes por Gregório
Bezerra que agia em conformidade com o governador Miguel Arraes, que segundo Page
lhe concedia certas vantagens quanto a sua estada naquele município, como também
município de Palmares nós encontro no ano de 1944 articulações do Partido Comunista. Estas
duas correntes vão influenciar diretamente o modos vivendi do sindicato rural de Palmares.
DREIFUSS, René. 1964: a conquista do Estado. Petrópolis:Vozes, 1981.
37
Sobre a relação entre a fome e as formas de agitação camponesa ver HOBSBAWM, Eric. Bandidos.
São Paulo: Paz e Terra, 2010.p,42.
38
MARX, Karl. Coleção os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.p, 50.
39
“A minha compreensão da vida fazia-me ver nisto uma obra de Deus. Eles nasceram assim porque
Deus quisera, e porque quisera nós eramos brancos e mandávamos neles. Mandávamos também nos
bois, nos burros, nos matos” (ROGERS, Thomas. Imaginário paisagístico em conflito na zona da Mata
Pernambucana; Cadernos de História N º6. Recife: Universitária da UFPE, 2010.p, 18).
40
DOPS: Liga Camponesa de Palmares/Prontuário; Número do documento:602-D; Quantidade do
documento 02; Fundo SSP N º 6362.
apoio a mobilização do partido comunista no campo41.
Ainda no ano de 1944, é registrada no DOPS um incêndio “no partido de cana”
que envolvia um adolescente de 13, que sob promessa de pagamento teria executado o
ato tido como criminoso42
. No dia 13 de Janeiro de 1960, no engenho Una na cidade de Palmares, o enfermeiro
Severino Monteiro, ateou fogo no canavial43
, queimando aproximadamente quatro toneladas de
cana, foi detido pela polícia em flagrante, segundo o
sargento Nogueira. Em depoimento (Severino
Monteiro) na delegacia, afirmou que fez por
vingança ao responsável da vigilância do local.
Mesmo que esta versão seja verdadeira, não resta
duvida de que a queima do canavial era algo que
trazia inúmeros prejuízos ao dono do engenho. E,
sua repressão seria condição indispensável para o
bom andamento da propriedade. Mesmo assim, o
número de pessoas a incendiar os canaviais não
diminuía, sendo até registradas a presença de
menores de idade neste tipo de atividade.44
41
Ver em PAGE, Joseph A. A Revolução que nunca houve: O Nordeste do Brasil: 1955-1964.Rio de
Janeiro: Record. P,192. Ver ainda JACCOUD, Luciana de Barros. Movimentos Sociais e Crise
Política em Pernambuco: 1955-1968, no que se refere ao capítulo II.p,29-82.
42
Prontuário funcional; Nome: Liga Agrícola dos Palmares; Nº do documento: 27; Data do
documento: 1944-1964; Fundo SSP Nº 29266.
43
DOPS: Prontuário funcional; Nome: Liga Agrícola dos Palmares; Nº do documento: 27; Data do
documento: 1944-1964 ;Fundo SSP Nº 29266.
44
Idem.op.cit.,Fundo SSP Nº 29266.
45
CASA DA JUSTIÇA. Vara criminal. Palmares, 21 de janeiro de 1957.
46
Engenho do Município dos Palmares-PE.
parágrafo 20 da constituição federal”47
47
CASA DA JUSTIÇA. Vara criminal. Palmares, 05 de dezembro de 1958.
48
DOPS. Prontuário funcional; Nome: Liga Agrícola dos Palmares; Nº do documento: 27; Data do
documento: 1944-1964; Fundo SSP Nº 29266.
49
Entrevista concedida por Manoel Carvalho. Palmares, 04 de dezembro de 2010.
50
Avião ateou fogo no canavial do engenho “Cairá”: testemunha narra o fato ao “Diário”. Diário de
Pernambuco, 17 de janeiro de 1962.p,5.
capítulo importante e ao mesmo tempo incompleto na história de Pernambuco. Contudo,
não deixa de ter seu significado na formação do Brasil que hoje conhecemos. Neste
sentido, a luta dos trabalhadores da palha da cana, seja em forma de revolta, no incêndio
do canavial ou através do assassinato de algum capanga do patrão ou ainda a criação de
uma Liga Camponesa ou de um sindicato rural seja para resolver um problema local,
como o pagamento dos atrasados, direito a férias, décimo terceiro ou aposentadoria, não
estão desligados dos problemas estruturais do Brasil, como a necessidade de uma
reforma agrária, política, educacional etc. De modo análogo podemos perceber os
pontos de sustentação da elite da sociedade açucareira a partir dos mecanismos de
repressão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Manuel Correia de. As tentativas de organização das massas rurais – Ligas
Camponesas e a Sindicalização dos Trabalhadores do Campo. Coleção Camponeses
brasileiros vol I: Leituras e interpretações clássicas. São Paulo: Unesp, 2009.
MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Tomo I. 27ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010.