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Relatório No.

CABO VERDE
DIAGNÓSTICO DA POBREZA

Revisto: 29 de Novembro, 2004

Sector da Redução da Pobreza e Gestão Económica


Região da África Sub-Sahariana

Em Colaboração com o
Instituto Nacional de Estatística (INE)
Ministério das Finanças e Planeamento

Documento do Banco Mundial


? ? ? ? ?
MOEDAS E EQUIVALÊNCIAS
(de Maio, 2004)
Unidade da Moeda = Escudo de Cabo Verde (CV$)
US 1 $ = CV$ 108.96

ANO FISCAL
Janeiro 1 – Dezembro 31

SIGLAS E ABREVIAÇÕES

CV República de Cabo Verde


IPC Índice de Preço no Consumidor
FAIMO Frentes de Alta Intensidade de Mão de Obra
PIB Produto Interno Bruto
IDRF Inquérito às Despesas e Receitas Familiares
IEFP Instituto do Emprego e Formação Profissional
INE Instituto Nacional de Estatística
FMI Fundo Monetário Internacional
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
I-PRSP Interim Poverty Reduction Strategy Paper
JSAN Recomendações do Staff
ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
ONG Organizações Não Governamentais
PNLP Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza
OCDE Organização de Cooperação Económica para o Desenvolvimento
PRGF Programa de Redução de Pobreza e Crescimento
PRSP Documento de Estratégia de Redução de Pobreza
PSM Esquema de Protecção Social Mínima
SEDESOL Secretaría de Desarrollo Social
SimSIP Simulações dos Indicadores sociais da Pobreza
IVA Imposto sobre Valor Acrescentado

Vice Presidente: Gobind Nankani


Director para o País: Madani Tall
Director do PREM: Paula Donovan
Gestor do Sector PREM : Robert Blake
Gestor da Equipa: Quentin Wodon

[Reconhecimentos a toda a equipa (incluindo INE) será


integrado no próximo draft]

1
ÍNDICE

Abreviações e Siglas

Agradecimentos

Sumário Executivo

I. Introdução e Sumário Executivo

II. Crescimento, Pobreza e Desigualdade


Desempenho Macro-económico: Breve Revisão
Progressos alcançados na Redução da Pobreza
Desafios Futuros

III. Determinantes da Pobreza e Fontes de Rendimento


Perfil da Pobreza
Determinantes da Pobreza
Fontes de Rendimento

IV. Remessas
Tendências na Emigração Internacional e das Remessas enviadas
Análise da incidência dos Benefícios das Remessas

V. Pensões
Estrutura do Sistema de Pensões em Cabo Verde
Análise da incidência dos Benefícios das Pensões
Reformas e Sustentabilidade a Longo Prazo

VI. Educação, Saúde e as Transferências da Protecção Social


Resultados e Desafios na Educação e Saúde: Breve Revisão
Análise da incidência de Benefícios das Despesas Públicas para os Sectores Sociais

VII. Impostos Indirectos e Tarifas dos Serviços


Imposto sobre Valor Acrescentado, Taxas de Importação, Receitas do Governo e Impacto
na Pobreza
Tarifas dos Serviços e Custos da ELECTRA

2
Lista das Caixas

Caixa 4.1: Aumento do Impacto das Remessas no Desenvolvimento: Lições do México

Lista das Figuras:

Figura 2.1: Estrutura da economia e crescimento do PIB


Figura 2.2: Simulações para Futura Redução da Pobreza sob Vários Cenários de Crescimento
Figura 3.1. Relação entre rendimento e consumo por decile, Cabo Verde 2001-02
Figura 3.2. Relação entre as remessas e o emprego, Cabo Verde 2001-02
Figuras 4.1 & 4.2: Tendências nas remessas do estrangeiro) total e por pais), Cabo Verde
Figura 4.3: Incidência e cobertura das remessas, transferências privadas, Cabo Verde 2001-02
Figura 4.4: Impacto por pessoa das perdas das transferências privadas, Cabo Verde 2001-02
Figura 5.1: Estrutura Etária dos Contribuintes da Segurança Social
Figura 6.1: Despesa Publica com a educação e custo unitário por nível, Cabo Verde, 1990s
Figura 6.2: Despesa Pública com a Saúde, total e por categoria, Cabo Verde
Figura 6.3: Incidência e cobertura das despesas publicas, Cabo Verde 2001-02
Figura 6.4: Aumento do numero dos pobres se as transferências publicas diminuírem, 2001-02

Lista dos Quadros

Quadro 2.1. Tendências da pobreza e desigualdade medidas (%), Cabo Verde 1998-99 a 2001-02
Quadro 3.1. Percentagem da população vivendo na pobreza por ilha, Cabo Verde 2001-02
Quadro 3.2: Percentagem de Ganhos/Perdas associadas a varias características, Cabo Verde 2001-02
Quadro 3.3. Pobreza e acesso aos serviços: Barracas vs Bairros, Cabo Verde 2001-02
Quadro 3.4: Fontes de Rendimento por Quintile e Localização Geográfica, Cabo Verde 2001-02
Quadro 3.5: Ganhos: Percentagem dos ganhos/perdas associadas as características, Cabo Verde 2001-02
Quadro 3.6. Estatísticas seleccionadas sobre o emprego por Quintile e Localização, Cabo Verde 2001-02
Quadro 5.1: Comparação entre a cobertura das pensões e as estimativas obtidas no inquérito de 2001-02
Quadro 5.2: Características da distribuição dos vários tipos de pensões, Cabo Verde 2001-02
Quadro 6.1: Taxa de Matricula por quintile (crianças de idade 6-15), Cabo Verde 2001-02
Quadro 6.2: Incidência de doentes e tratamentos prestado por quintile, Cabo Verde 2001-02
Quadro 6.3: Relatório da Cobertura da Imunização (OMS), Cabo Verde 1992-2002
Quadro 6:4: Despesas Privadas com a educação e a saúde por quintile, Cabo Verde 2001-02
Quadro 7.1. Receitas do Governo em Cabo Verde, 2001-2004 [em biliões de ECV]
Quadro 7.2. Impacto do IVA na pobreza, Cabo Verde 2001-02
Quadro 7.3: Contas da Electra, em milhões de ECV
Quadro 7.4. Tarifas para uso doméstico em ECV, Cabo Verde 2001/02 e 2003
Quadro 7.5. População com acesso a Electricidade e Agua por Decile, Cabo Verde 2001-02
Quadro 7.6. Despesa mensal do consumo de agua e electricidade, Cabo Verde 2001-02

Anexos – Documentos de Consulta Seleccionados

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CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO E SUMÁRIO EXECUTIVO

Graças a altos níveis de crescimento, progressos significativos foram alcançados na


redução da pobreza em Cabo Verde nos anos noventa. A percentagem da população
pobre diminuiu de 49% em 1988-89 para 37% em 2001-02. No sector social, (educação e
saúde) os indicadores também melhoraram. Porém, a promoção de um desenvolvimento
equitativo por forma a atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio requererão
mais que o crescimento económico per se. A desigualdade permanece elevada e tem
vindo a crescer. As despesas públicas com a educação, a saúde, e as pensões não estão
bem segmentadas aos que mais precisam da ajuda. Na ausência de políticas efectivas de
transferências aos mais pobres, tornar-se-á mais difícil reduzir a pobreza no futuro, por
duas razões. Primeiro, os fortes constrangimentos no orçamento poderão forçar a
opções na determinação das despesas públicas. Segundo, na área de transferências
privadas, futuros fluxos das remessas do estrangeiro poderão continuar diminuindo
como percentagem do PIB. Um olhar atento às propriedades distributivas do sistema de
tributação (especialmente o IVA) é igualmente necessário, como ainda é necessária uma
revisão dos subsídios implícitos para a electricidade e a água.

1.1. Este relatório foi preparado com o apoio do pessoal do Instituto Nacional de Estatística
de Cabo Verde (INE) e com o apoio do Ministério das Finanças e Planeamento. O relatório
foi preparado para apoiar a preparação do documento final da Estratégia de Redução de Pobreza
do país. O relatório contém estimativas da tendência da pobreza e da desigualdade em Cabo
Verde (Capítulo 2), analisa os determinantes da pobreza e as principais fontes de rendimentos dos
agregados familiares (Capítulo 3), avalia as características da distribuição de algumas fontes de
rendimento e transferências (remessas em Capítulo 4, pensões em Capítulo 5, e transferências aos
sectores sociais no Capítulo 6), como também impostos e subsídios (Capítulo 7). O presente
relatório deverá ser considerado como um diagnóstico da pobreza. O objectivo não é sugerir
recomendações de política, mas apresentar vários resultados que poderão ser utilizados na
preparação e implementação da Estratégia de Redução de Pobreza do país. Trabalhos adicionais
deverão ser desenvolvidos nos próximos meses sobre vários assuntos. Aqui, apresentamos
somente os resultados mais importantes da análise da pobreza.

1.2. O relatório é parte de um programa mais alargado de trabalho analítico e reforço de


capacidade do país sobre a questão da pobreza. O pessoal do INE participou num seminário
destinado a vários países que decorreu em Washington, DC, em Março e Abril de 2004 para
conhecimento e utilização de ferramentas simples baseadas no Excel (SimSIP) de simulação para
estimar as tendências da pobreza e avaliar o impacto dos programas e transferências sobre a
pobreza. Os documentos de suporte deste relatório assentam num número de simulações, e
espera-se que a disponibilidade destas ferramentas de simulação ajudarão o Governo de Cabo
Verde a testar o impacto de políticas alternativas. Outros participantes do Governo de Cabo
Verde tomaram parte num outro seminário multi-país também realizado em Março-Abril de 2004
em Washington, DC para aprender a preparar o mapa da pobreza combinando dados do censo e
do inquérito. Um segundo seminário sobre o mapeamento da pobreza teve lugar em Dakar em
Outubro de 2004 e um último seminário sobre esse tema está agendado para Janeiro-Fevereiro de
2005 em Dakar. Este programa de reforço de capacidades é parte de uma iniciativa destinada aos
países da África Ocidental e Central financiado pelo Programa de Redução de Pobreza da
Bélgica.

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1.3. O primeiro objectivo deste relatório é apresentar uma análise das tendências sobre a
pobreza e a desigualdade e os determinantes da pobreza em Cabo Verde. As estimativas no
Capítulo 2 sugerem que graças ao rápido crescimento económico, a percentagem da população
vivendo na pobreza reduziu de 49% em 1988-89 para 37% em 2001-02. Todavia, a redução
poderia ter sido maior se, nesse mesmo período, a desigualdade não tivesse aumentado. O facto
da desigualdade ser elevada e crescente, sugere que o Governo deverá implementar políticas a
favor dos pobres para apoiá -los a beneficiarem-se o mais que puderem do crescimento. Não
obstante a necessidade de estudos adicionais para melhor identificar essas políticas, de uma forma
geral, uma alteração na composição das despesas públicas poderá ser uma alternativa. Uma
análise aos determinantes da pobreza no Capítulo 3, sugere que a estrutura familiar, o tamanho do
agregado familiar, o nível de educação do chefe de família, o tipo de emprego, a emigração, e
local de residência, todos afectam o nível de rendimento per capita ou as despesas do agregado,
os seus activos/propriedade, e assim a probabilidade de uma pessoa ser pobre.

1.4. O segundo objectivo deste relatório é analisar com algum detalhe algumas das
principais fontes de rendimentos dos agregados familiares. Para além de uma breve análise
das fontes de rendimento em geral, e especialmente dos salários no Capítulo 3, uma análise mais
detalhada das fontes de rendimento seleccionadas são descritas nos Capítulos 4 a 6. O foco desses
capítulos assenta nas remessas (Capítulo 4), pensões (Capítulo 5), e transferências dos sectores
sociais (transferências em género, das despesas públicas com a educação e saúde, e as
transferências em dinheiro da assistência social no Capítulo 6). Os principais resultados são os
seguintes:

• Remessas: Cabo Verde tem uma longa história de emigração, e as remessas dos
emigrantes podem ser consideradas como uma manifestação de décadas de “minimização
de riscos” fora de Cabo Verde que ajudaram a suportar os choques como as crises de
fome do passado. Porém, enquanto que presentemente as remessas constituem uma forte
fonte de rendimentos e de redução da vulnerabilidade, os fluxos de emigração
diminuíram desde os anos setenta a esta parte devido às políticas mais restritivas de
emigração nos países de destino. Como resultado, embora as remessas tenham crescido, a
sua percentagem do PIB tem diminuído continuamente, e é incerto se o nível das
remessas externas poderá ser mantido. Uma outra questão é que enquanto que mais de
metade da população recebe algum tipo de remessa, só uma pequena parcela desses
fundos e outras transferências privadas beneficiam os pobres. Uma terceira questão é que
enquanto as remessas parecem ser usadas para investimentos na educação e na habitação,
muitas outras aplicações poderiam provavelmente serem feitas para aumentar o seu
impacto no desenvolvimento.

• Pensões: As transferências para as pensões constituem uma importante fonte de


rendimento para os agregados familiares beneficiários de Cabo Verde. Cerca de 20%
dos agregados familiares recebem alguma forma de pensão e estes respondem cerca de
30% do total de rendimentos dos beneficiários. Os pensionistas do estrangeiro e as
pensões de reforma estão concentrados nos deciles superiores. O recentemente definido e
parcialmente financiado sistema de pensões para os trabalhadores privados está
actualmente em boa situação, mas a sua situação financeira a longo prazo é insustentável.
A rápida maturação, o envelhecimento da população e um esquema generoso de
benefícios poderá transformar rapidamente o sistema em déficits crescentes. O sistema
estabelecido para os funcionários públicos é também considerado insustentável
considerando os altos benefícios prometidos, a baixa taxa de contribuição e o número de
anos exigidos para se qualificar para uma pensão de velhice. O sistema não-contributivo
do programa de pensão mínima, embora um pouco re-distributiva, pode ter problemas de

5
focalização/segmentação dos visados e carece portanto de algum estudo. (Este relatório
apresenta resultados preliminares das pensões em Cabo Verde; um estudo de maior
abrangência do Banco Mundial está em curso).

• Educação, saúde, e protecção social: progressos significativos foram alcançados na


educação, mas a um custo orçamental relativamente elevado. Isso é devido ao elevado
custo unitário e ao grande número de matrículas dos alunos. Para garantir maiores
progressos na educação básica, a eficiência e a equidade na educação necessitam de
melhorias. Uma maior eficiência é requerida no uso dos recursos existentes e
especia lmente na redução do gap das despesas por estudante entre os níveis do ensino
primário e secundário. O sector da saúde em Cabo Verde também deu passos
significativos incluindo o controle e a erradicação de muitas doenças contagiosas. Ao
contrário de muitos de seus vizinhos africanos, Cabo Verde tem uma baixa incidência de
HIV/AIDS, e de uma forma geral, melhores indicadores de saúde. Porém, como
mencionado em relação á educação o custo orçamental para alcançar tais resultados tem
sido significativo. A nível dos agregados familiares, porque as despesas públicas cobrem
a maioria dos custos de educação e saúde, as despesas privadas para ambos os sectores
são baixas. Existem igualmente questões distributivas nas despesas da educação e da
saúde assim como as despesas relacionadas com os programas de protecção social com os
pobres obtendo só uma parte limitada dos benefícios.

1.5. O terceiro objectivo do relatório é apresentar uma análise preliminar da distribuição


de alguns impostos seleccionados e subsídios. O foco vai para o IVA e os preços das utilidades
no Capítulo 7.

• Tributação indirecta: No dia 1 de janeiro de 2004, o Governo introduziu uma reforma


alargada do sistema de tributação, incluindo a substituição do imposto de consumo pelo
Imposto sobre o Valor Acrescentado e a redução das tarifas de importação. Um dos
objectivos da reforma é encorajar o desenvolvimento do sector privado, reduzindo as
distorções económicas da taxa de consumo, isenções aplicáveis e altas tarifas, ao mesmo
tempo mantendo um fluxo fixo de receitas internas. As reformas afectam fontes
fundamentais de tributação: o consumo e o impostos do comércio contabilizam em média
mais de metade das receitas, ou seja 10% do PIB durante os últimos 5 anos. A título de
comparação, os países da OCDE arrecadam cerca de um terço do total das receitas destes
impostos. Enquanto que a introdução da reforma parece ter sido feita com sucesso e os
dados preliminares sobre os impostos apontarem para um aumento nas receitas internas,
permanece ainda a questão relativa ao atraso nos reembolsos. Aliás esta questão aparece
sempre por resolver com a introdução do IVA em vários países. Para além disso, como
demonstrado no capítulo 7 onde o foco centra-se no impacto redistributivo da introdução
do IVA (e das tarifas de importação ainda existentes numa vasta gama de bens), o custo
para o pobre é potencialmente elevado porque poucos bens são isentos. Considerando que
o aumento das receitas provenientes do IVA foi maior que a redução das taxas de
importação, a reforma tributária provavelmente conduziu a um aumento da pobreza. A
única forma de contrabalançar esse efeito será assegurar que as receitas da tributação
sejam utilizadas nos programas prioritários beneficiando os pobres.

• A estrutura das tarifas da água e electricidade : Com o crescimento da economia de Cabo


Verde cresceu a procura da água e electricidade. Por exemplo, novos desenvolvimentos
para habitação e indústria estão aumentando a demanda de electricidade e água de
qualidade alta. O consumo anual per capita de electricidade em 2002 (todos os usos) foi
calculado em cerca de 175 kWh que é baixo comparado com a média para países de

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rendimento médio. Mas isto está mudando, e coloca uma série de questões, especialmente
no contexto de um quadro regulador para a electricidade e distribuição de água ainda com
disfunções. Este quadro regulador não acompanhou a privatização rápida e os acordos de
concessão insatisfatórios em 1999. Uma Agência de Regulação Económica foi
estabelecida, mas ainda encontra-se inoperacional. Existe uma estrutura tarifária mas não
se conhece como ela irá progredir especialmente no contexto de grandes prejuízos
técnicos e comerciais. Para além disso, os ajustes de preço do petróleo introduzidos pelo
Governo em 2001 não foram seguidos por ajustes comparáveis ás tarifas de electricidade
(também controladas pelo governo), e conduziu a uma situação financeira difícil para o
monopólio, Electra. Assim, os planos para aumentar as ligações de água e electricidade
foram suspensas e estão ligadas as várias redes, incluindo as redes rurais funcionando
com geradores pequenos onde vivem a maioria dos pobres. No capítulo 7, a análise
focaliza nas implicações da distribuição da estrutura de tarifas. Só uma minoria dos
subsídios implícitos no bloco invertido de tarifas beneficia os pobres. Em contrapartida,
os investimentos para expansão da rede teriam um impacto maior na população e melhor
focalizariam nos pobres uma vez que tendem a ter as menores taxas de ligação. Neste
relatório somente informações básicas são apresentadas. No entanto, estudos mais
aprofundados estão sendo efectuados sobre as escolhas da estrutura de tarifas em Cabo
Verde.

1.6. Outras questões que carecem de um trabalho analítico mais aprofundado poderão ser
consideradas quando solicitadas. Como acima mencionado, o presente relatório é o resultado de
um trabalho conjunto, mas muito mais precisa ser feito para informar o diálogo político sobre a
problemática da pobreza do país e a implementação da estratégia de redução de pobreza. O Banco
Mundial prosseguirá a sua colaboração com o INE para a preparação de um mapa de pobreza
detalhado do país combinando os dados do IDRF e do Censo. Tal mapa poderá melhorar as
intervenções do Governo para as áreas onde estão concentrados os pobres, um assunto que este
relatório mostra ser importante para o país. Ferramentas para simulações dos indicadores sociais e
da pobreza (SimSIP) estão sendo parametrizados com os dados de Cabo Verde e serão
disponibilizados ao Governo para facilitar a análise de vários cenários de política. Outros estudos
estão igualmente a ser conduzidos sobre a tributação indirecta e os subsídios para melhor
elaboração das políticas. Além disso, a questão da relação entre produtividade e emprego nas
áreas rurais e a pobreza rural requererá atenção uma vez que os agregados familiares vivendo nas
áreas rurais têm uma probabilidade mais alta de serem pobres do que as suas contrapartes
urbanas. A cobertura da educação e da saúde neste relatório é igualmente muito parcial e
preliminar, carecendo de análises mais detalhadas e aprofundadas. Finalmente, estudos sobre a
liberalização do comércio e a redução da pobreza no contexto específico de Cabo Verde será
importante para defender mais a liberalização do comércio.

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CAPÍTULO 2
CRESCIMENTO, POBREZA E DESIGUALDADE

Cabo Verde é uma história de sucesso entre as nações africanas. O país geriu de forma
pacífica a transição para a democracia. Graças á implementação de reformas e á
estabilidade política, foi conseguido um crescimento económico sustentado nos anos
noventa. Como resultado, a percentagem da população vivendo na pobreza foi reduzida
de 49% em 1988-89 para 37% em 2001-02. A secção A deste capítulo apresenta uma
breve revisão do desempenho macroeconómico do país. A secção B apresenta
estimativas da tendência da pobreza e da desigualdade. A secção C esboça alguns dos
desafios que o país poderá enfrentar no futuro.

A. D ESEMPENHO MACROECONÓMICO: U MA B REVE REVISÃO

2.1. Cabo Verde é um país pequeno constituído por dez ilhas localizado aproximadamente a
650 Km da costa do Senegal e com uma área de 4036 Km2. Somente nove das dez ilhas são
habitadas e de acordo com o censo de 2002, mais de metade da população total de 434,625
pessoas vivem na Ilha de Santiago. Devido às peculiaridades do clima Saheliano do país - seca e
falta de chuvas, somente um décimo do solo do país é arável. Períodos persistentes de seca e uma
falta de água dificultam o desenvolvimento de uma produção agrícola estável e, mesmo nos
melhores anos de chuva, a produção agrícola fornece somente parte das necessidades alimentares
da população.

2.2. O país passou de um modelo de desenvolvimento económico socialista para um modelo


capitalista em finais dos anos 80. Após a independência em 1975, o modelo económico de
Cabo Verde confio u ao governo o papel principal de desenvolvimento empresarial na agricultura,
na indústria e nos serviços, atribuindo ao sector privado uma fraca importância. Assim, o
Governo criou empresas públicas nos principais sectores da economia. Esta estratégia conduziu a
uma deterioração da competitividade, a baixos níveis de investimento directo estrangeiro e a um
fraco desempenho económico em geral. Em 1988, o governo do pós -independência adoptou um
novo modelo económico com uma estratégia orientada para o exterior promovendo a privatização
das empresas públicas e promovendo a liberalização do comércio. As prioridades das despesas
públicas mudaram rapidamente centrando-se na construção de infra-estruturas económicas e
sociais, deixando o investimento privado liderar em algumas indústrias, especialmente a indústria
ligeira de confecções e pescas. A alta taxa de desemprego e desigualdades nos finais dos anos
oitenta conduziram a uma mudança no Governo em 1991. O novo governo continuou com a
política de redução do papel do estado na economia e estabeleceu prioridades visando a melhoria
da educação, a redução da pobreza e do desemprego. Introduziu novas legislação e reformas, que
ainda precisam ser refinadas e implementadas na sua globalidade em vários aspectos relacionados
com o investimento estrangeiro, a privatização, e os serviços bancários off-shore. O novo governo
também procurou o apoio tanto bilateral como multilateral dos doadores para melhorar os
serviços e o desenvolvimento humano e de infra-estruturas importantes.

2.3. Desde finais dos anos 80, um crescimento económico remarcável foi conseguido. Entre 1988
e 2002, o PIB real cresceu em média, a 6.4% e a inflação foi contida a uma taxa média de 3% por
ano. Ao contrário da maioria dos países africanos da região sub-sahariana, a economia depende
muito mais dos serviços e industria/manufactura do que do sector primário. A maioria do
crescimento foi gerado pelos serviços onde as actividades do sector privado aumentaram
dramaticamente com a retirada do Estado dos sectores, seguido de reformas implementadas ao

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longo dos anos 90. A construção e o comércio constituem os maiores sectores da economia.
Juntos constituem aproximadamente 30% do PIB (cada um perfazendo 15% do PIB). Dentro dos
serviços, os sectores de maior crescimento foram os serviços de restauração e hotelaria,
transportes, e comunicações. Estes sectores devem o seu crescimento a uma rápida expansão do
turismo. Em 2002, o turismo respondeu para 42% das receitas de exportação. Durante os últimos
cinco anos, a percentagem dos serviços no PIB ronda em média 72% sendo a agricultura e a
indústria a contribuíram com 11% e 17% do PIB, respectivamente.

Figure 2.1: Estrutura da economia e Crescimento do PIB


1 0,14

0,9
0,12
0,8

Taxa de Crescimento
0,10
0,7
0,6 0,08
0,5
0,06
0,4
0,3 0,04

0,2 Comerce Hotels and restaurants


Transport Communications 0,02
0,1 Banking and insurrance Property rent/real state
Government services Other services
0 0,00
-91

-97
-87

-89

-93

-95

-99
80

84

94

00
82

86

88

90

92

96

98

92

98
19

19

19

20

88

90

94

96

00
19

19

19

19

19

19

19

Fonte: INE.

2.4. Reformas adicionais foram recentemente implementadas. As restrições quantitativas nas


importações e exportações foram eliminadas. A reforma tributária introduzida em 2004 reduziu o
número de bandas de tarifas de 64 para 7 e a tarifa máxima reduziu de 250% para 50% . Espera-
se que a introdução do IVA também em 2004 elimine distorções na estrutura de incentivos para
os empresários e conquiste serviços pela primeira vez. A terceira revisão sob a égide do FMI
PRGF que foi concluída em Dezembro de 2003 mostra que a implementação de reformas
estruturais continuou de maneira satisfatória. O relatório do FMI concorda com o conjunto de
políticas macro-económicas proposto pelo Governo para 2003-04 o que permitirá uma maior
cobertura dos serviços da educação e saúde, um aumento nas reservas internacionais e a expansão
do crédito. O relatório também felicita as autoridades pelos progressos alcançados na
implementação do IVA e na redução dos prejuízos financeiros das empresas públicas. Uma
discussão mais detalhada das principais características da economia de Cabo Verde foi
apresentada recentemente pelo Banco Mundial (2004) no documento Revisão da Política de
Desenvolvimento.

B. PROGRESSOS ALCANÇADOS NA REDUÇÃO DA POBREZA

2.5. Graças ao elevado cre scimento económico, a percentagem da população vivendo na


pobreza reduziu em ¼ nos anos 90. Durante os anos noventa, Cabo Verde cresceu a uma taxa
de 6-7% por ano o que induz a uma taxa de crescimento per capita de cerca de 4%. Como
resultado, entre 1988-89 e 2001-02, a pobreza foi grandemente reduzida. As nossas estimativas de
pobreza estão baseadas no inquérito do IDRF (Inquérito às Despensas e Receitas Familiares)
levado a cabo pelo Instituto Nacional de Estatísticas entre Outubro de 2001 e Outubro de 2002. O

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Quadro 2.1 apresenta os principais resultados. As medidas da pobreza e da desigualdade foram
baseadas no consumo per capita. A linha da pobreza por pessoa, por ano em 2001-02 é igual a
43,250 escudos (o equivalente a EUA $396.9 por ano), e a linha da pobreza extrema é de 28,833
escudos por ano (o equivalente a EUA $264.6 por ano). Embora a linha da pobreza em 2001-02
foi fixada numa base relativa, a evolução da pobreza entre 1988-89 e 2001-02 reflecte uma
mudança absoluta do bem-estar.

• Níveis de Pobreza: A percentagem da população vivendo na pobreza (headcount index)


em 2001-02 era de 36.69% do total da população. Isto significa que em termos gerais,
173,000 pessoas eram pobres. De entre estes, cerca de 93.000 – 20.50% da população–
vivia em pobreza extrema (i.e. o consumo per capita desse grupo estava abaixo de 28,833
escudos por ano).

• Tendências da pobreza: A parte da população vivendo na pobreza foi reduzida de 48.97%


em 1988/89 para 36.69% em 2001/02 (uma redução de 12.28 pontos, um quarto do nível
inicial). A parte da população vivendo em extrema pobreza foi reduzida de 32.34% para
20.50%. Outras medidas utilizadas como o “gap da pobreza” (que leva em conta a
distância que separa o pobre da linha de pobreza) e o “gap” ao quadrado (que leva em
conta a desigualdade entre o pobre) também diminuiu drasticamente. Outro indicador da
melhoria das condições de vida é o facto que a percentagem do consumo total destinado à
alimentação (que pode ser considerado, regra geral como sendo em necessidades básicas)
foi igualmente reduzida de 50% para 35%.

• Desigualdade e previdência social: A desigualdade aumentou, com o índice de Gini


subindo de 50.17 em 1988/89 para 52.83 em 2001/02. Apesar do aumento da
desigualdade, a previdência social, medido pela média do consumo per capita vezes 1
menos o índice de Gini, aumentou substancialmente, em cerca de um terço versus o nível
de 1988-89. Se a desigualdade não tivesse aumentado, a redução da percentagem da
população vivendo na pobreza teria sido ainda maior (14.09 pontos em vez de 12.28
pontos). Apesar do aumento de desigualdade não ser desprezível, uma preocupação mais
importante é que Cabo Verde parece ser um país com níveis altos de desigualdade em
comparação com outros países. Cerca de 20% da população consome somente 4.16% do
consumo total, enquanto os 10% do topo contabilizam o consumo de cerca de 43%.

Quadro 2.1. Tendência da pobreza e desigualdade em (%), Cabo Verde 1998-99 a 2001-02
Impacto no
Pobreza Moderada 1998-99 2001-02 crescimento Mod Ext
Total 48.97 36.69 Total -14.09 -11.98
Gap Pobreza 21.48 13.59 Gap Pobreza -8.39 -6.00
Quadrado do Gap 11.86 6.61 Quadr. Gap -5.59 -3.36
Impacto na
Ext. Pobreza desigualdade
Total 32.34 20.50 Total 3.15 1.51
Gap Pobreza 11.70 5.96 Gap Pobreza 1.10 0.43
Quadrado do Gap 5.41 2.36 Quadr. Gap 0.57 0.32
Previdência social Residual
Consumo Médio 70328 98790 Total 1.34 1.37
Gini index 50.17 52.83 Gap Pobreza 0.59 0.16
Média*(1-Gini) 35044 46600 Quadr. Gap 0.24 0.00
Fonte: INE e estimativas do pessoal do Banco Mundial

10
2.6. Se o PIB continuar crescendo à mesma taxa, a pobreza será reduzida por metade em
2015 contra o nível de 1990. Assumindo que o crescimento futuro será uniformemente
distribuído entre todos os indivíduos – um cenário optimista considerando um aumento moderado
na desigualdade em CV entre 1988/89 e 2001/02 – a uma taxa constante de crescimento do PIB
per capita de 3, 4, e 5 por cento por ano, Cabo Verde poderá alcançar a meta de reduzir para
metade a pobreza estabelecida nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio nos anos 2011,
2009, e 2008 respectivamente (Figura 2.2). Porém, convém notar que o impacto futuro na redução
da pobreza não necessita ser tão grande, especialmente se a desigualdade continuar a crescer.
Políticas de despesas públicas a favor dos pobres poderiam, a longo prazo, ajudar o crescimento
futuro mais direccionado para os mais pobres.

Figura 2.2: Simulações para Redução da Pobreza Futura Sob Vários Cenários de
Crescimento
40,00

35,00

30,00
Incidencia da Pobreza

25,00

20,00

Taxa Cresc. 5%
15,00 Taxa Cresc.4
Taxa Cresc. 3%
Taxa Cresc. 5% (2002-2007), 3% (2007-2015)
10,00 Obj. Des. Mil.

5,00
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

2.7. Cabo Verde também alcançou progressos significativos no desenvolvimento humano. O


índice de desenvolvimento humano do país aumentou 14 pontos (de 0.587 em 1990 para 0.670
em 2003). A taxa de escolarização entre os jovens é muito alta (91% para os indivíduos entre 5 e
30 anos de idade). Foram erradicadas doenças contagiosas que são comuns em muitos outros
países africanos, através do fácil e grátis acesso a cuidados médicos para todos. A esperança de
vida á nascença de 69 anos, é provavelmente a terceira mais alta da África. A taxa de mortalidade
infantil em Cabo Verde é a terceira mais baixa do continente. Porém, doenças relacionadas com
câncer, doenças de coração e diabetes estão crescendo. Uma discussão sobre os resultados da
educação e da saúde do país é apresentada no capítulo 5.

C. D ESAFIOS FUTUROS

2.8. Apesar do grande desempenho dos anos noventa, há uma preocupação se o país poderá
sustentar o mesmo alto nível de crescimento no futuro. Pelo menos duas observações
poderão ser feitas (aqui só esboçamos estas perguntas; um tratamento mais aprofundado

11
destas e outros assuntos relacionados foram incluídos no Documento do Banco Mundial
(2004) Revisão de Política de Desenvolvimento:

• Ambiente empresarial: O ambiente empresarial para o desenvolvimento do sector privado


melhorou desde inícios de 90, mas os empresários ainda continuam enfrentando
constrangimentos. Processos administrativos morosos para estabelecer uma empresas e
infra-estruturas inadequadas (por exemplo, energia, água) constituem constrangimentos
sérios assim como o limitado acesso ao financiamento, particularmente para as pequenas
empresas, para a agricultura e para a pesca. A uma taxa média de 13%, as taxas de juros
permanecem altas. Como existem somente cinco bancos comerciais no país e os dois
maiores bancos controlam quase 90% dos activos, a concorrência no sector financeiro
fica limitada. Isto é reflectido no “spread” da taxa de juros que subiu de 5 pontos em
1999 para 7.1 pontos em 2003. Talvez e com mais fundamento, como o país consiste em
ilhas separadas, custos de transporte são altos que é uma questão que afecta ambas a
competitividade internacional e o custo de vida da população dentro do país. A melhoria
da qualidade e a redução do custo de transportes marítimo e aéreos poderiam ajudar.

• Vulnerabilidade a choques externos: Uma segunda preocupação é a alta propensidade do


país para importar os choques externos e consequentemente aumentar a sua
vulnerabilidade. Em média, a conta de importações é de cerca de 40% do PIB. O sistema
de câmbio fixo - que provou ser resiliente durante períodos de aumento rápido dos preços
internacionais do petróleo e as flutuações internacionais do financiamento externo - é
mantido através de influxos do financiamento externo. Por forma a manter a confiança
no regime cambial, as reservas internacionais devem estar a um nível adequado para
servir de barreira contra os choques recorrentes. Actualmente, as reservas correspondem
a 2 meses do valor das importações. Um declínio no financiamento externo poderia ter
implicações importantes no nível de reservas e na política macro-económica do país.
Como apontado no relatório de revisão do FMI PRGF, o stock de reservas cambiais pode
ser baixo para suportar um potencial choque externo. Igualmente, as tarifas continuam
ainda relativamente altas apesar de 10 anos de liberalização.

2.9. Também estreitamente relacionado com a redução da pobreza e o PRSP é a questão se


o país estará vivendo para além dos seus recursos. Novamente, podem ser colocadas duas
observações principais a este respeito:

• Dependência nas remessas e na ajuda externa : Hoje existem mais Caboverdianos vivendo
no estrangeiro do que dentro do país. Em média, as remessas dos emigrantes representam
cerca de 20% do PIB e as poupanças dos emigrantes representam 3.5% do PIB. Os
depósitos nas contas dos emigrantes representam 33% do total dos depósitos dos bancos
comerciais. Essas remessas constituem uma fonte importante de rendimento para muitas
famílias e desempenham um papel importante na redução da pobreza. As remessas em
Cabo Verde são de alguma forma regressivas e, por conseguinte, afectam a desigualdade
do rendimento. O fluxo das remessas pressupõe que o nível de consumo é alto, a 115%
do PIB. A taxa de poupança nacional é de cerca de 7% do PIB e o investimento cerca de
20% do PIB do qual três quartos são privados, mas igualmente influenciada pelo impacto
das remessas. Se as remessas terminassem de entrar isso traria um impacto negativo no
crescimento e levaria muitos agregados familiares do país a serem vulneráveis à pobreza.
O papel das remessas para a redução da pobreza é discutido no capítulo 3. O nível de vida
dos Caboverdianos continua a aumentar constantemente e o país poderá em breve ser
graduado do estatuto de Países Menos Desenvolvimentos, o que poderá conduzir a um
declínio significativo da ajuda externa. Presentemente, Cabo Verde está entre os países

12
recipientes com alta taxa per capita da ajuda externa. Em 2002 recebia US$201 de ajuda
por pessoa. Uma redução na ajuda externa também teria implicações na capacidade de
redução da pobreza no futuro.

• Rápido aumento das despesas públicas: Como o governo apostou em investir mais nos
sectores sociais, infra-estruturas básicas e a luta contra o desemprego, as despesas
públicas têm crescido rapidamente. Houve um rápido aumento nos salários públicos, nas
pensões, nas despesas sociais, e pagamentos de juros. A conta de ordenados do governo
alcançou 10% do PIB em 2002 (60% dos quais relativos a despesas com a educação).
Enquanto as pensões correspondem a somente 2% do PIB em 2003, o seu montante está
aumentando rapidamente, e os vários esquemas (financiados através do sistema de
pagamento ao longo do tempo) deverá ter uma nova vaga de pensionistas com todos os
benefícios adquiridos nos próximos dez anos. O déficit fiscal (excluindo donativos) era
de 8.0% em 2001 e 8.5% em 2002. O pagamento de juros da dívida externa e interna
também aumentou muito (2.6% do PIB em 2003). Nos finais de 2003, o valor presente
líquido da dívida externa era de US$257 milhões ou 33% do PIB. Porque o sistema de
câmbio fixo limita o uso de políticas monetárias, a política fiscal teria aguentado o fardo
do ajuste macro-económico quando esses ajustes se mostraram necessários. A questão do
nível das despesas e o seu impacto na pobreza é discutida nos capítulos 4 e 5.

2.10. Um outro desafio é a falta da avaliação do impacto - se o país está usando os seus
recursos efectivamente para reduzir a pobreza. Em 1999, o Governo de Cabo Verde iniciou a
implementação do Programa Nacional de Redução da Pobreza (PNLP) que pretende desenvolver
uma estratégia para reduzir a pobreza de uma maneira sustentável e durável. O Governo pretende
implementar o programa de um modo descentralizado, levando em conta as diferentes
necessidades da população em cada ilha. Os objectivos principais do programa são i) melhorar a
capacidade produtiva do pobre; ii) reduzir a pobreza das mulheres aumentando a sua auto-
promoção; iii) fortalecer a capacidade institucional do estado na planificação, coordenação, e
implementação das actividades relacionadas com a redução da pobreza; iv) melhorar as infra-
estruturas sociais, especialmente nas regiões onde a pobreza está concentrada; e v) corrigir
desigualdades entre os agregados ricos e pobres em termos de provisão dos serviços básicos,
como a educação, a saúde, o saneamento, a nutrição, e o abastecimento de água potável. Em
2003, foi efectuada uma avaliação do PNLP baseado nas percepções dos beneficiários do
programa. De acordo com os beneficiários que participaram no estudo, 85% consideraram que as
intervenções/programas implementadas pelo PNLP eram importantes para a redução da pobreza e
satisfaziam as necessidades das comunidades. Não obstante o encorajamento desses resultados,
dificilmente poderiam ser considerados como uma avaliação aprofundada do impacto e do
custo/eficiência dos programas implementados. Igualmente o estudo mostrou que a maioria dos
beneficiários (69%) não participou no desenvolvimento dos programas. Só 11% dos beneficiários
participaram no processo de identificação do programa, e 9% participaram na implementação.
Falta de tempo (24%), falta de interesse (15%), e falta de informação em como ser envolvido
(15%), foram as razões principais por que os beneficiários não estão mais envolvidos nas várias
actividades. De uma maneira geral, uma avaliação mais completa do programa de redução da
pobreza de Cabo Verde será necessária para se avaliar se realmente o programa responde às
necessidades dos pobres, especialmente nas áreas rurais onde vivem aproximadamente dois terços
dos pobres do país.

2.11. Muitos dos desafios apontados foram considerados no PRSP do país. O Governo de
Cabo Verde apresentou seu Ínterim PRSP em Janeiro de 2002 e o PRSP completo em Setembro
de 2004. O PRSP assenta em cinco pilares – desenvolvimento do capital humano, promoção da
boa governação, promoção do desenvolvimento social e coesão, desenvolvimento do sector

13
privado, e desenvolvimento de infra-estruturas básicas e económicas – e é desenvolvido a partir
de três documentos nacionais, nomeadamente, o Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza
Nacional (1987), o Plano Nacional de Redução da Pobreza (1997), e as Grandes Opções do Plano
(2001). O PRSP reconhece os importantes ganhos económicos, sociais e culturais mas ainda
identifica a pobreza como o obstáculo principal ao desenvolvimento. O PRSP reconhece que a
pobreza permanece alta porque o desemprego é alto e as disparidades regionais persistem
enquanto a emigração diminuiu. O documento identifica correctamente que a população rural, os
analfabetos, os desempregados e ou as mulheres são os mais prováveis de serem pobres. O PRSP
discute o plano do governo para melhorar a capacidade produtiva do pobre através da melhoria da
política de micro-finanças, provisão de formação, e melhores infra-estruturas económicas e
sociais. As áreas prioritárias de intervenção são a educação, a saúde e nutrição, água potável e
saneamento básico e habitação. O PRSP também enfatiza a necessidade de focalizar as
intervenções nas mulheres através da melhoria da saúde materna, educação e encorajamento para
uma participação activa na vida económica. Os comentários mais detalhados ao PRSP encontram-
se na nota conjunta preparada pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial (2004).

14
CAPÍTULO 3
DETERMINANTES DA POBREZA E FONTES DE RENDIMENTO

Este capítulo é dedicado a uma análise dos determinantes da pobreza e bem-estar em


Cabo Verde. A Secção A apresenta um resumo de alguns dos resultados do perfil da
pobreza preparados pelo INE. A Secção B descreve os resultados dos determinantes do
nível de consumo, rendimentos, e os activos-bens dos agregados familiares. Depois, a
Secção C apresenta dados sobre as principais fontes de rendimentos dos agregados
familiares. Como os salários representam dois terços do rendimento total das famílias,
uma breve análise dos determinantes dos salários é fornecida.

A. O PERFIL DA POBREZA

3.1. O perfil da pobreza foi preparado pelo INE com base no inquérito de 2001 -02. Muitas
das estatísticas são apresentadas em termos de percentagem dos agregados familiares (em vez de
percentagem da população) que são pobres de entre todas as famílias e de grupos específicos de
agregados familiares. Em 2001-02, dos 95,000 agregados familiares, 28% eram pobres
(aproxima damente 27,000 famílias) e 14% eram extremamente pobres (13,000 famílias). As taxas
de pobreza e de pobreza extrema em termos da população total (não em termos do número total
de famílias) está em 36.7% (aproximadamente 173,000 indivíduos) e 20.50% (aproximadamente
93,000 indivíduos) respectivamente. A percentagem das famílias na pobreza é mais baixa do que
a percentagem de indivíduos (ou da população) na pobreza isso porque os agregados familiares
pobres tendem a ter mais pessoas, e isto não é considerado na medida da pobreza das famílias. A
pobreza é mais prevalecente entre famílias com um maior número de pessoas11 . Por exemplo,
46% das famílias com mais de 6 crianças são pobres. Isto também implica que os indivíduos mais
jovens como as crianças que normalmente são mais numerosas nas famílias também sejam mais
pobres. Como era de esperar, a pobreza é mais acentuada entre as pessoas com níveis mais baixos
de educação. Cerca de 85% dos pobres com idade entre os 5 e mais não têm nenhuma ou têm
menos que a educação primária (do total dos 155,000 com idade superior a 5 anos que são pobres,
37,000 não têm nenhuma educação, e 94,000 somente completaram a sua educação primária). O
nível da pobreza é igualmente influenciado pelo nível de instrução do chefe do agregado familiar.
Quase todas as famílias pobres têm um chefe de família com nenhuma educação (42%) ou só com
a educação primária (56%). A incidência da pobreza também depende da ilha (e da área dentro da
ilha) onde o agregado familiar vive. Por exemplo, em Santiago, a percentagem da população na
pobreza é de 49% entre os indivíduos que vivem fora da cidade da Praia e de 20% para os
indivíduos que residem na Praia. Cerca de 55% de todos os indivíduos pobres (95,000 pessoas)

1
Utilizando o consumo per capita como indicador de bem –estar, não se toma em conta as economias de
escala das famílias, nem a diferença nas necessidades dos membros da família. Ignorando as economias de
escala, consideramos que as necessidades de uma família de oito pessoas são as mesmas de uma família de
quatro pessoas. Com a economia de escala, uma família de oito membros tendo o dobro do rendimento da
de quatro será melhor classificada do que aquela com quatro membros. Assim, não permitir a
contabilização das economias de escala, sobrestima o impacto negativo do número de bebés e crianças na
pobreza. Para além disso, ignorando as diferenças em necessidades entre os diferentes membros de uma
família, não consideramos o facto de famílias numerosas com muitas crianças podem não ter as mesmas
necessidades per capita do que uma família pequena porque as necessidades dos bebés e das crianças
tendem a ser menores do que as dos adultos. Não considerar as diferenças das necessidades também leva a
uma sobre-estimação do i mpacto do número de bebés e crianças na pobreza. No entanto, mesmo que
correcções sejam feitas para tomar em consideração as diferenças nas necessidades e economias de escala,
um grande número de bebés e crianças levaria a um nível baixo de consumo pelo equivalente a um adulto e
uma alta probabilidade de ser pobre.

15
vivem em Santiago; aproximadamente 22,000 desses vivem na Praia. Santo Antão é a ilha com a
mais alta incidência da pobreza (54%, ou seja 18 pontos sobre a média nacional). As ilhas de S.
Antão, S. Vicente, e Fogo respondem por 37% do total das pessoas pobres.

3.2. A Pobreza está altamente concentrada entre os indivíduos jovens. O total da pobreza para
os indivíduos até 14 anos de idade é de 43 a 44%, de 35% para os jovens, e de 30 a 31% para os
indivíduos mais velhos (estas estimativas podem ser um pouco sensíveis da escala de
equivalência; veja a nota de rodapé 1 na página anterior). Considerando que perto de dois terços
da população tem menos de 24 anos de idade, o país enfrenta um problema demográfico
importante na implementação do PRSP (de entre outras questões, fazer face ao desemprego dos
jovens e a análise do sistema de pensões).

Quadro 3.1. Percentagem da população pobre por ilha, Cabo Verde 2001-02
Percentag Percentage
Número Total dos em dos Número de Total dos m dos
de Pobres pobres pobres Pobres Pobres pobres
% %r % %
Ilha Grupo de idade
Santiago 95026 37,1 55,0 0-4 anos 22850 0.44 0.11
Praia urbano 21637 20,3 12,5 5-14 anos 60907 0.43 0.30
Restante
Santiago 73389 49,1 42,5 15-24 anos 34728 0.35 0.21
S. Antão 27414 54,2 15,9 25-64 anos 43970 0.30 0.31
São Vicente 18240 25,5 10,6 65 e mais 10258 0.31 0.07
Fogo 17363 42,1 10,1 Género
Outras Ilhas 14684 28,6 8,5 Homens 83857 0.49 0.48
Cabo Verde 172712 36,7 100 Mulheres 88855 0.51 0.52
Fonte: INE e Banco Mundial utilizando os dados do IDRF 2001/02

B. DETERMINANTES DA POBREZA

3.3. É prática geral a apresentação de um perfil de pobreza num relatório da pobreza. No


entanto, será melhor apresentar regressões que fornecem mais informações sobre os
determinantes da pobreza. O perfil da pobreza é um conjunto de quadros que fornece a
probabilidade de ser pobre de acordo com várias características, como a área na qual o agregado
familiar vive, o nível de educação do chefe de família. O problema com o perfil da pobreza é que
enquanto fornece informações sobre quem é o pobre, ela não poderá ser utilizada para avaliar
com qualquer precisão quais os determinantes da pobreza. Por exemplo, o facto das famílias
nalgumas ilhas terem uma baixa probabilidade de serem pobres do que outras famílias noutras
ilhas pode não ter nada a ver com as características das ilhas nas quais as famílias vivem. As
diferenças nas taxas de pobreza entre ilhas podem ser devidas (pelo menos em parte) pelas
diferenças nas características das famílias que vivem nessas várias ilhas, do que nas diferenças
das características das próprias ilhas. De uma maneira geral, para gerar as correlações ou os
determinantes da pobreza e o impacto de várias variáveis na probabilidade de se ser pobre, são
necessárias as regressões. Nesta secção, apresentamos os resultados de tais regressões.

3.4. Para avaliar o impacto de várias características no consumo per capita das famílias,
assentamos em regressões lineares. São apresentadas em separado as regressões para as áreas
urbanas e rurais. Analisamos os determinantes do consumo per capita, rendimento per capita, e os

16
bens por cada agregado familiar. Para além de uma constante, os “regressores” incluem : (a)
local geográfico de acordo com a ilha na qual o agregado familiar reside; (b) variáveis do
tamanho dos agregados familiares e o quadrado dessa medida (número de bebés, crianças, e
adultos), se o chefe de família é uma mulher, a idade do chefe e quadrado desse número, se o
chefe de família tem um cônjuge ou não, e o estatuto de emigração do chefe de família; (c)
características do chefe de família, incluindo seu nível de educação; se ele ou ela é empregado,
desempregado procurando trabalho, ou não trabalhando; seu sector de actividade; seu/sua função;
se trabalha no sector público; o tamanho da empresa na qual ele/ela trabalha; se ele/ela é
desempregado; e se ele/ela não pode trabalhar devido a razões de saúde ou razões de família; e
(d) o mesmo conjunto de características para o cônjuge do chefe de família quando existir. Os
resultados importantes são os seguintes (as estimativas dos ganhos marginais ou perdas
associadas com as várias características dos agregados familiares são apresentadas no Quadro 3.2;
estas estimativas fornecem a magnitude dos impactos observados directamente no consumo per
capita):

• As características demográficas: Para cada bebé/criança adicional na família, o


consumo per capita diminui em até 20 a 30%. Um adulto sénior extra na família está
associado com 13 a 20% de perda de rendimento per capita, mas um nível mais alto de
bens. Embora os agregados urbanos chefiados por mulheres estejam associados a uma
perda em 6% dos rendimentos per capita, não existem evidências que semelhantes
resultados também se repetem a nível do consumo e dos bens. Os agregados cujos chefes
são solteiros, têm um baixo nível de rendimentos e bens do que os agregados com chefes
de famílias casados.

• O emprego: Os agregados com o chefe fora do mercado de trabalho são associados com
ganhos em rendimentos, consumo, e bens, sugerindo que somente os que têm posses
podem não trabalhar ou não estar a procurar um trabalho (outras explicações podem ser
relacionadas com o generoso sistema de pensões, e o nível das remessas. Estudos
adicionais poderão trazer mais luz a este resultado). Os agregados com um chefe de
família desempregado (6% de todos os agregados) não têm níveis mais baixos de
consumo como seria esperado, de rendimentos, ou bens comparado com os agregados
com o chefe empregado. Porém, para cada semana adicional de desemprego acima do
limite, o rendimento per capita diminui de 1.7 a 1.9% (nas áreas rurais e urbanas,
respectivamente) o que sugere que a menos que o tempo no desemprego seja muito curto,
isso tem um impacto no bem-estar familiar. O facto do impacto não ser maior pode estar
relacionado com a rece pção de maiores influxos das remessas quando no desemprego o
que poderá minimizar os efeitos do desemprego. Para além disso, o lapso de tempo de
desemprego do chefe de família é curto, em média (3.8 semanas média nas áreas urbanas
contra 6.8 semanas nas áreas rurais), mas isto pode ser precisamente porque os chefes de
família não podem ficar sem trabalho por períodos significativos de tempo, e assim
conseguem arranjar algum tipo de trabalho.

• Tipo de trabalho: Os agregados cujos chefes são donos das firmas ou são trabalhadores
independentes estão associadas com 20 a 60% dos níveis mais altos de consumo per
capita e de rendimentos e também possuírem mais bens. Os agregados com chefes
trabalhando nos sectores secundário, terciário e na administração pública têm níveis de
rendimentos/consumos 15 a 22% mais do que os chefes que trabalham no sector
primário. De uma forma geral, este resultado também se verifica para o nível de
propriedade. Os agregados com o chefe trabalhando como trabalhador não qualificado
tem um nível de consumo per capita, rendimentos e bens muito abaixo dos agregados

17
cujo chefe é um profissional, um trabalhador administrativo ou operador de máquinas, ou
com alguma qualificação. O tempo de trabalho do chefe de família, seja tempo inteiro ou
parte do tempo, não faz diferença no consumo ou bens per capita, mas os trabalhadores a
tempo parcial estão associados com níveis baixos de rendimentos do que os trabalhadores
a tempo inteiro. Quando o chefe tem dois trabalhos, isso conduz a um ganho de 8% no
consumo do agregado. As variáveis relacionadas com o emprego do cônjuge têm
igualmente impactos, mas estes tendem a ser de menor magnitude do que os impactos
observados para os chefes de família.

• Educação: O impacto da educação do chefe e do cônjuge é significante e maior nas


áreas urbanas que nas áreas rurais. Os ganhos associados com um chefe de família
com a educação primária, secundária, ou superior varia de 20 a 90% do nível de consumo
per capita e rendimento da família cujo chefe não tenha nenhuma educação, com ganhos
maiores para os níveis de ensino superior. O impacto da educação nos bens/propriedades
é ainda maior.

18
Quadro 3.2: Percentagem dos Ganhos/Perdas associados com as várias características,
Cabo Verde 2001-02
Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural
Consumo Rendimento Riqueza
(per capita) (per capita) (nível de bens)
Variáveis demográficas (número)
Número de crianças (menos de-5) na família -0.232 -0.239 -0.211 -0.232 -0.471 -0.148
Quadrado do número de crianças na família 0.027 0.036 N.S. 0.034 0.060 N.S.
Número de crianças (idade 5 -14) na família -0.297 -0.200 -0.294 -0.231 N.S. 0.205
Quadrado do número de crianças na família 0.029 0.010 0.027 0.016 N.S. -0.029
Número de adultos (idade 15-64) na família -0.181 -0.083 -0.164 -0.081 0.278 0.248
Quadrado do número de adultos na família 0.015 N.S. 0.016 0.008 N.S. N.S.
Número de idosos (idade 65+) na família -0.134 N.S. -0.136 -0.147 0.417 N.S.
Quadrado do número de idosos na família N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 0.187
Casa chefiada por uma mulher N.S. N.S. -0.062 N.S. 0.255 N.S.
Chefe de família é solteiro N.S. N.S. -0.082 -0.167 -0.335 -0.485
Idade do chefe de família 0.020 N.S. 0.016 N.S. 0.159 0.038
Quadrado da idade do chefe de família 0.000 N.S. N.S. N.S. -0.001 N.S.
Categoria profissional (chefe)
Chefe de família não trabalha 0.330 0.230 0.127 N.S. 1.592 0.631
Chefe de família está desempregada N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.
Categoria Ocupacional (Chefe)
Chefe é dono do seu trabalho (independente) N.S. 0.197 0.075 0.136 N.S. 0.354
Chefe é dono de firma, é empregador 0.294 0.624 0.210 0.546 1.092 2.140
Chefe não é pago – trabalho familiar/ outro tipo de
trabalhador N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.
Sector (Chefe)
Chefe trabalha no sector secundário 0.154 N.S. N.S. 0.220 0.484 0.284
Chefe trabalha no sector terciário 0.160 0.173 N.S. 0.137 0.559 0.231
Chefe trabalha na administração pública 0.183 N.S. N.S. N.S. 0.506 0.260
Tipo de Emprego (Chefe)
Trabalho administrativo, profissional, ou técnico 0.460 N.S. 0.449 0.289 2.064 0.791
Administrativo/serviços, operador de máquinas, forças
armadas, 0.290 N.S. 0.237 0.173 1.221 0.725
Trabalhador agrícola qualificado, operador, 0.153 0.110 0.184 0.139 0.664 N.S.
Estatuto no emprego (Chefe)
Trabalhador temporário, ocasional N.S. N.S. -0.125 N.S. N.S. N.S.
Outro estatuto N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.
Outras variáveis relacionadas com o empreg o (Chefe)
Chefe tem um segundo emprego 0.081 0.086 N.S. N.S. N.S. 0.207
Número de semanas chefe esteve desempregado nos 12
últimos meses N.S. N.S. -0.017 -0.019 -0.068 -0.031
Quadrado número semanas chefe esteve desempregado
nos últimos 12 meses N.S. N.S. 0.000 0.000 0.001 0.001
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. NS: Não significante. Coeficientes exibidos são
significantes com um nível de 5% de confiança. Os coeficientes significativos são sublinhados com 10% do
nível de confiança. Categorias omitidas: Ocupação: Chefe empregado; Estatuto Ocupacional: Chefe ganha
um salário; Sector Primário; Tipo de Emprego: Trabalhador não qualificado; Estatuto no Emprego: tempo
inteiro.

19
Quadro 3.2: Continua
Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural
Consumo Rendimento Riqueza
(per capita) (per capita) (nível de bens)
Categoria profissional (do cônjuge)
Cônjuge fora da população activa N.S. -0.186 -0.208 -0.269 N.S. -0.384
Cônjuge é desempregado N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.
Estatuto profissional (do cônjuge)
Cônjuge é o dono de uma firma ou independente N.S. -0.127 0.080 N.S. N.S. N.S.
Cônjuge é um trabalhador da família não remunerado N.S. N.S. -0.192 N.S. -0.846 -0.495
Tipo de Emprego (do cônjuge)
Gestão, profissional, ou técnico 0.227 0.494 0.303 0.586 1.168 1.697
Serviços/Administrativo, operador de máquina, forças armadas 0.147 0.250 0.172 0.258 0.656 1.005
Trabalhador agrícola qualificado, operador N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.
Estatuto no emprego (do cônjuge)
Cônjuge é trabalhador temporário, ocasional N.S. N.S. -0.317 -0.185 N.S. N.S.
Estatuto do cônjuge é outro N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.
Outras variáveis relacionadas com o emprego (do cônjuge)
Cônjuge tem um segundo emprego N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. -0.362
Nº de semanas esteve desempregado nos últimos 12 meses N.S. -0.021 N.S. N.S. N.S. -0.036
Quadrado Nº semanas desempregado nos últimos 12 meses N.S. 0.000 N.S. N.S. N.S. N.S.
Educação do Chefe do Agregado
Alfabetizado N.S. N.S. N.S. N.S. 0.759 N.S.
Educação primária Incompleta 0.277 0.062 0.219 0.117 1.174 0.583
Educação primária concluída 0.408 0.132 0.313 0.134 1.970 0.828
Educação Secundária Co mpleta/incompleta 0.597 0.350 0.588 0.319 2.554 1.233
Nível intermédio ou educação terciária 0.882 0.737 0.853 0.675 3.073 2.413
Estatuto de emigração do Chefe do Agregado
Emigrante no estrangeiro 0.164 0.109 0.104 0.211 0.551 N.S.
Migrante interno 0.055 0.131 N.S. 0.097 N.S. N.S.
Educação do Cônjuge
Alfabetizado N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.
Educação primária incompleta N.S. N.S. 0.123 N.S. 0.249 0.289
Educação primária Completa N.S. 0.166 N.S. 0.301 N.S. 0.992
Educação secundária Completa/incompleta 0.227 N.S. 0.167 N.S. 0.688 1.184
Nível intermédio ou educação terciária 0.393 N.S. 0.251 N.S. 1.446 N.S.
Estatuto de emigração do Cônjuge
Emigrante no estrangeiro 0.121 0.186 N.S. 0.248 N.S. N.S.
Migrante interno N.S. N.S. N.S. N.S. -0.338 N.S.
Localização geográfica (Ilha)
Santo Antão -0.337 N.S. -0.429 -0.238 N.S. N.S.
S. Vicente -0.164 N.S. -0.275 -0.184 N.S. 0.746
S. Nicolau -0.270 N.S. -0.184 N.S. -0.508 1.021
Sal 0.153 0.424 0.125 0.433 0.892 1.582
B. Vista N.S. 0.253 N.S. N.S. N.S. 0.966
Maio N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 1.330
Fogo N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 0.257
Brava N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 1.247
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. NS: Não significante. Coeficientes exibidos são significantes com
um nível de confiança de 5%. Coeficientes sublinhados são significantes com um nível de confiança de 10%. As
categorias omitidas para as características de emprego do cônjuge são semelhantes às do chefe. Educação:
Chefe/cônjuge sem educação; Emigração: Chefe/Cônjuge não são emigrantes; Ilha: Santiago.

20
• Emigração e Localização Geográfica: Os agregados familiares cujo chefe seja
emigrante (ou cônjuge está associado com um nível de bem-estar 10 a 20% mais alto,
especialmente quando essa pessoa, o chefe (ou cônjuge) vêm do estrangeiro. Controlando
todas as características dos agregados familiares anteriormente mencionadas tem-se que
as famílias vivendo em Santo Antão, São Vicente, e São Nicolau têm níveis de bem-estar
entre 15 a 40% inferior ás famílias que residem em Santiago. Por outro lado, as famílias
que vivem no Sal têm níveis mais altos de bem-estar do que as vivendo em Santiago
(especialmente no tocante aos bens). Analisaremos ma is tarde o papel da emigração e
remessas no capítulo 4.

• Bairros urbanos degradados (barracas ): Uma das consequências visíveis da migração


interna, especialmente entre famílias pobres, é a questão dos moradores nos bairros
degradados, especialmente concentrados na Praia urbana em Santiago. Como apresentado
no Quadro 3.3, esses bairros 2 têm níveis de pobreza e pobreza extrema que são
substancialmente mais altos que os agregados urbanos que não moram nesses bairros.
Para além disso, os moradores nesses bairros degradados e as suas crianças tendem a ser
mais vulneráveis a doenças e condições de vida precárias, em parte devido a uma baixa
taxa de acesso aos serviços das infra-estruturas básicas (como água, electricidade, e
saneamento de entre outros).

2
Barracas são definidas como uma bairro urbano (primeira unidade no inquérito) com uma média do nível
habitacional abaixo da média geral do índice habitacional. O índice habitacional urbano foi estimado como
a componente principal do factor de análise dos dados sobre a habitação que inclui informações sobre o
tipo de pavimento, de cobertura, casa de banho e paredes das habitações. De acordo com esta definição,
cerca de 1/3 do total dos agregados familiares vivem nesses bairros/barracas.

21
Quadro 3.3. Pobreza e acesso aos serviços: Moradores em Barracas vs. Casas, Cabo Verde 2001-02
TOTAL TOTAL
Barracas Casas URBANO Barracas Casas URBANO
% % % % % %
Pobreza Pobreza extrema
Total 0.34 0.21 0.25 Total 0.16 0.09 0.11
Gap da pobreza 0.11 0.07 0.08 Gap da Pobreza 0.04 0.02 0.03
Quadrado do Gap 0.05 0.03 0.04 Quadrado Gap 0.02 0.01 0.01
Fonte de Água Tipo de Saneamento
Água da Rede Pública 60.19 25.43 49.75 Na Natureza 14.05 18.28 15.32
Água Tanque- privado 10.02 14.64 11.41 Fora de casa 35.62 61.69 43.45
Cisterna pública, chafar, 21.43 41.78 27.54 Rede Pública 21.38 8.62 17.54
Ribeira, riacho, outro, 8.37 18.14 11.3 Tanque séptico 28.96 11.41 23.69
Tempo Gasto até Fonte de Água Água é Tratada?
1 a 14 min. 25.53 50.36 32.99 N.A. 0.12 0.23 0.16
15 a 29 min. 3.47 5.52 4.09 Regularmente 57.08 57.02 57.06
30 a 44 min. 0.64 2.46 1.19 Raramente 12.52 15.49 13.41
Água
Mais de 45 min. 0.16 1.58 0.58 Engarrafada 6.52 0.37 4.67
Nenhum
Em casa 70.21 40.07 61.16 tratamento 23.77 26.88 24.7
Tipo Energia utilizada p/ Iluminação Tipo de Energia Usada p/ Cozinhar
Vela 5.47 11.82 7.38 N.A. 3.6 3.95 3.7
Petróleo 6.5 19.53 10.42 Carvão 0.45 0.26 0.39
Gás 1.43 2.56 1.77 Madeira 6.33 12.68 8.24
Electricidade 86.6 66.09 80.43 Petróleo 0.21 0.48 0.29
- - - Electricidade 0.62 0.15 0.48
- - - Gás 88.79 82.48 86.89
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

C. FONTES DE RENDIMENTOS

3.5. Como a economia de Cabo Verde é altamente monetizada, o rendimento e o consumo


per capita estão estreitamente relacionados. A Figure 3.1 mostra uma correlação forte entre o
consumo per capita e o rendimento per capita em todos os deciles de consumo per capita. Como
apresentado no Quadro 3.4, os salários constituem a fonte de rendimento mais importantes,
representando mais de 60% do total dos rendimentos para todos os quintiles. O “rendimento
imputado” (correspondendo principalmente ao valor do arrendamento das casas para as famílias
que possuem suas próprias habitações) representa entre 12 a 13% do total dos rendimentos. Se
não consideramos a receita da renda da casa como uma fonte de rendimento, as receitas
periódicas de fontes estrangeiras (remessas, pensões estrangeiras, e outras fontes de rendimentos
estrangeiras) é a segunda mais importante fonte de rendimento. Nas áreas rurais, este tipo de
rendimento representa 13.3% do total dos rendimentos, mas encontra-se largamente concentrado
nos deciles mais ricos. Nas áreas urbanas, a percentagem é mais baixa em 5% , e representa um
rendimento significativo principalmente para os que se encontram no segundo, terço, e quarto
deciles. O arrendamento é uma fonte importante de rendimento nas áreas urbanas, especialmente
entre as famílias mais abastecidas. As transferências públicas representam 3 a 4% do rendimento
total para os agregados nos primeiros 4 quintiles e 5% para os agregados nos quintiles mais ricos.

22
As transferências públicas (privado) representam uma grande parte do rendimento total dos
agregados nas áreas urbanas do que nas áreas rurais.

Figura 3.1. Relação entre o rendimento e o consumo por decile, Cabo Verde 2001-02

450,000
400,000
350,000
300,000
250,000
200,000
150,000
100,000
50,000
0
Poorest 2 3 4 5 6 7 8 9 Richest
Decile Total Income Per capita Total Consumtion Per capita Decile

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

Quadro 3.4: Fontes de Rendimento por Quintile e Localização Geográfi ca, Cabo Verde 2001-02
Nacional Urbano Rural
1 2 3 4 5 Tudo 1 2 3 4 5 Tudo 1 2 3 4 5 Tudo
Salário 66.7 62.5 61.5 62.8 65.2 64.0 66.4 64.4 66.2 65.6 67.5 66.6 65.6 63.4 58.0 57.8 50.6 56.8
Aluguer 2.8 3.3 3.6 4.0 8.0 5.8 3.7 4.7 4.4 4.6 8.7 6.6 1.6 2.6 2.8 2.5 5.7 3.7
Transf. domésticas
Públ., periódico, 3.7 3.9 3.8 3.8 5.0 4.4 4.2 4.5 3.8 4.3 5.3 4.7 4.0 3.5 3.5 3.3 3.6 3.5
Priv., periódico 3.4 2.6 2.8 2.2 1.4 2.0 2.5 3.5 2.1 2.4 1.2 1.8 3.1 3.3 3.5 1.8 2.1 2.5
Não-periódico 1.3 1.2 0.9 1.1 1.4 1.3 1.6 0.7 0.7 1.3 1.5 1.3 1.2 1.7 0.8 1.4 1.1 1.2
Transf.estrangeiras
Periódicas 6.8 8.6 10.5 8.2 5.5 7.1 6.9 5.4 6.5 5.5 4.0 5.0 9.0 7.3 12.7 14.7 16.1 13.3
Não-periódicas 2.5 3.2 3.6 3.5 2.1 2.7 1.6 1.3 2.2 2.1 1.5 1.7 2.9 4.4 5.3 5.8 6.9 5.6
Rendim. Imputado 12.7 14.7 13.4 14.3 11.3 12.6 13.3 15.5 14.1 14.3 10.7 12.4 12.7 13.9 13.5 12.7 13.9 13.4
Rendimento total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

3.6. Embora a análise da regressão da secção anterior não mostre um impacto muito
significativo do desemprego no bem-estar, outros dados sugerem que o desemprego seja a
principal causa da pobreza. De acordo com os dados do inquérito de 2001-02, a população
activa comporta aproximadamente 166,000 indivíduos (54% homens e 46% mulheres). Isto
corresponde ao número de indivíduos com idade a partir dos 15 anos que estiveram a maior parte
das vezes empregados ou desempregados (i.e. procurou emprego) durante os últimos 12 meses
antes do inquérito. Da população activa, 22% estavam desempregados dos quais 53% eram
mulheres. A taxa de desemprego entre os pobres é muito mais alta, até 33% (11 pontos
percentuais mais alto do que a média). De entre os desempregados, 49% são pobres, novamente
uma taxa mais alta do que a do total da população. O papel do desemprego como factor principal
da pobreza foi confirmado pela percepção da pobreza dos beneficiários do Programa Nacional de
Luta Contra a Pobreza (PNLP). De acordo com os resultados da avaliação parcial mencionados

23
no Capítulo 2, uma parte significativa dos beneficiários entrevistados (41%) consideram que a
escassez de emprego é a fonte principal de pobreza, seguido por falta de meios (17%), e uma
redução da qualidade de vida (11%). Os beneficiários residentes nas ilhas cujas taxas de
desemprego são mais altas (Fogo e S. Vicente) atribuíram mais peso ao desemprego (53% e 50%,
respectivamente) como a principal causa da pobreza.

3.7. Em parte a habilidade dos agregados em suportar o desemprego (i.e., manter o seu nível
de consumo apesar do desemprego) é devido ás remessas. As remessas parecem jogar um
papel de segurança em Cabo Verde. A família cujo chefe seja desempregado ou com um membro
fora do mercado de trabalho é mais provável receber remessas (excluindo as pensões do
estrangeiro) do que as famílias cujo chefe esteja empregado. Cerca de 67% dos agregados com
um membro fora do mercado de trabalho recebe algum montante de remessa, comparado com
56% dos agregados cujo chefe seja desempregado e 45% dos agregados com um membro
empregado. Estas estatísticas dizem respeito às famílias nas áreas urbanas; nas áreas rurais, a
percentagem de empregados e desempregados receptores de remessas é bastante semelhante. Em
termos de níveis, as remessas per capita para famílias cujo chefe esteja desempregado é mais alto
do que o recebido pelas famílias cujo chefe esteja empregado. Novamente, as estatísticas são
influenciadas pelos agregados familiares urbanos. Por exemplo, como mostra a Figura 3.2, no
segundo decile, uma família com o chefe desempregado recebeu duas vezes mais remessas do
que uma família com o chefe empregado.

Figure 3.2. Relação entre remessas e emprego, Cabo Verde 2001 -02
Percentage of recipients by employment status of the head of household Remittances per capita for unemployed and employed heads of household
(by decile) (by decile)

80% 3.0 45,000

40,000

70% 35,000
2.5

30,000
Unemployed / Employed

60%
25,000
2.0
20,000
50%
15,000

1.5
10,000
40%

5,000

30% 1.0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Decile Decile

Fraction Employed Unemployed


Not in labor Employed Unemploye
force d

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

3.8. Os rendimentos do trabalho dependem de entre outros do género, da experiência, do


sector de emprego, da localização geográfica, e da educação. Em média, o rendimento do
traba lho para os homens é 16.4% mais alto do que para as mulheres com níveis semelhantes de
educação e experiência (como proxy de idade). Os indivíduos solteiros esperam ter níveis de
salários que são 8% mais baixos do que os indivíduos casados. Isto poderia acontecer porque os
indivíduos solteiros que normalmente têm dependentes são mais prováveis de seleccionarem
trabalhos temporários ou de mais baixa qualidade. O retorno á escola é elevado após o nível do
ensino pós-primário. Os indivíduos com educação primária e secundária têm níveis de
rendimentos entre 11 a 65% mais altos que os indivíduos sem qualquer educação. Os ganhos que
a educação intermédia e terciária trazem são ainda maiores em 90%. O rendimento entre os
empregados por conta própria é 5% maior que os trabalhadores por conta de outrem. Também, os
profissionais e trabalhadores qualificados têm níveis de rendimentos de 20 a 50% maiores que os
trabalhadores sem qualificação. Os trabalhadores nos sectores secundários e terciários e na

24
administração pública têm entre 16 a 25% níveis mais altos de rendimentos do que os
trabalhadores do sector primário (i.e. agricultura). Os trabalhadores que migraram dentro do país
nos últimos 5 anos têm níveis de rendimentos de 8.3% mais baixos do que os outros trabalhadores
nos mesmos locais que não migraram. Isto é justificado pelo facto dos trabalhadores migrantes
normalmente enfrentarem um período de ajuste no seu novo local de residência durante o qual
poderão estar dispostos a aceitar salários mais baixos. Não encontramos nenhuma diferença no
rendimento dos trabalhadores migrantes e não-migrantes quando os migrantes tiverem já um
tempo no novo local de residência (i.e. quando já lá residirem 5 ou mais anos). Também existem
variações nos rendimentos entre as ilhas de Cabo Verde, mesmo controlando todas as outras
variáveis anteriores. Primeiro, o rendimento nas áreas urbanas é 46.2% superior que nas áreas
rurais. Segundo, os trabalhadores no Sal e na Boavista esperam ter rendimentos entre 34 a 37%
mais altos que os trabalhadores em Santiago. Em contrapartida, em S. Antão, S. Vicente, e S.
Nicolau, os trabalhadores têm 40, 23, e 17% níveis mais baixos de rendimento que em Santiago.

Quadro 3.5: Salários: Ganhos/Perdas em percentagem associadas ás características, Cabo Ve rde 2001-02
%
% Ganhos/Perdas Ganhos/Perdas
Estat. No
Homem 0.164 emprego
Idade 0.002 Mesmo empregou 0.051
Quadrado da Idade NS Indústria
Solteiro -0.078 Sector secun. 0.243
Tamanho do agregado Sector terc. 0.236
Quadrado do Tamanho do Agregado Adm. pública 0.165
Educação Emigração
Pré-escolar /alfabetizado N.S No estrang. N.S
Nacionalidade
Educação Primária Incompleta 0.117 5+ anos N.S
Nacionalidade
Educação primária completa 0.239 < 5 anos -0.083
Educação secundária incompleta 0.381 Out. urbano 0.462
Educação secundaria Completa 0.650 Região
Educação nível intermédia/terciário 0.904 S. Antão -0.404
Emprego S. Vicente -0.226
12 últimas semanas desempregado N.S S. Nicolau -0.169
Semanas desemp _12 meses N.S Sal 0.341
Tem um segundo emprego, 12 meses -0.058 B. Vista 0.374
Tipo de Emprego Maio N.S
Administrativo, executivo, técnico, prof. 0.483 Fogo -0.226
Forças armadas, admin. / serv., operadores de máquina 0.241 Brava -0.150
Agric qualificado. os trabalhadores e outros operadores 0.172 Constante 11.887
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. Amostra: os assalariados e os Trabalhadores
Independentes entre os 16 e os 65 anos de idade. Categorias omitidas: Educação: Nenhuma educação; Tipo de
Emprego: sem trabalhador sem qualificação; Estatuto no Emprego: o assalariado; Indústria: sector Primário;
Emigração: não-emigrante; Localização Geográfica: Santiago.

3.9. Existem diferenças notáveis na qualidade do mercado de trabalho entre as áreas


urbanas e as rurais em Cabo Verde. Nas áreas rurais, o auto-emprego e o trabalho não
remunerado é mais frequente que nas áreas urbanas, em mais de 10 pontos percentuais na maioria
dos deciles. Além disso, a parte de indivíduos que trabalha em meio tempo nas áreas rurais é mais
que o dobro dos das áreas urbanas (20% nas áreas rurais versus 6% nas áreas urbanas). Os

25
trabalhadores nas áreas rurais também vivem muito mais distantes do seu local de trabalho (a
percentagem dos trabalhadores que vivem mais que meia hora longe de trabalho é de 30% nas
zonas rurais vs 15% nas áreas urbanas). Muitas das diferenças em termos de “qualidade” de
emprego entre trabalhadores dos diferentes deciles é na realidade menos notável que entre
trabalhadores urbanos e rurais. No entanto, como esperado, os trabalhadores dos quintiles/deciles
mais altos são mais prováveis de serem empregados ou serem empregadores, trabalharem a tempo
inteiro, e residirem mais perto dos seus locais de trabalho.

Quadro 3.6. Estatísticas seleccionadas sobre o emprego por Quintile e Local, Cabo Verde 2001-02
Amostra: os assalariados e os Trabalhadores Independentes entre 16 e 65 anos de idade
Nacional Urbano Rural
Quintile 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
Estatuto no Emprego
Tempo inteiro 72.9 81.1 78.3 84.0 87.2 83.2 85.8 86.9 86.5 89.2 69.1 75.2 73.8 74.3 78.0
Meio período 19.3 12.7 13.1 10.8 8.6 7.5 5.7 6.4 8.3 6.7 24.8 19.5 18.5 20.2 17.0
Ocasional 6.4 4.5 6.1 3.4 3.0 6.6 5.9 4.1 3.4 3.1 5.5 4.2 5.8 4.7 3.5
Outro 1.4 1.7 2.6 1.7 1.2 2.8 2.6 2.7 1.8 1.0 0.7 1.0 1.9 0.8 1.5
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Tipo de Trabalhador
Assalariado 50.7 57.3 50.6 57.3 69.1 61.9 65.6 57.8 66.0 75.4 48.2 47.3 47.4 44.1 46.7
Empregado por conta própria 36.2 30.6 37.0 32.2 23.3 32.4 29.2 34.6 28.1 19.5 36.5 35.6 34.6 35.7 36.1
Empregador 0.1 0.2 0.9 1.0 2.4 0.0 0.9 0.9 1.4 2.4 0.0 0.2 0.4 1.0 1.6
Trabalhador familiar não remuner. 11.9 10.0 8.9 7.2 3.3 1.2 1.1 0.9 2.4 0.6 15.3 16.4 17.6 18.9 15.5
Outro 1.1 1.9 2.6 2.4 2.0 4.5 3.2 5.8 2.2 2.1 0.0 0.6 0.0 0.3 0.1
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Transporte para oTrabalho
A pé 83.0 73.7 65.8 58.0 43.0 74.6 67.5 54.2 52.1 36.9 84.9 80.3 73.5 69.6 60.9
Autocarro 7.7 12.8 14.4 19.5 17.6 10.8 15.5 22.3 20.4 16.7 8.5 7.8 12.1 12.5 15.6
Veículo pessoal 1.9 2.9 4.7 7.1 21.8 4.2 5.0 7.2 11.7 30.2 1.0 2.4 2.2 2.0 4.3
Vários modos 2.7 3.8 6.6 5.4 4.9 2.7 2.9 6.7 2.3 5.3 3.5 4.0 4.4 9.4 6.9
Trabalha em casa 3.6 6.2 7.5 8.5 10.8 6.8 7.5 8.5 12.5 8.7 1.6 4.8 7.6 5.0 10.1
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Tempo para o Trabalho
Menos de 14 min 39.2 39.5 41.7 48.2 61.3 45.2 43.6 54.2 55.9 66.4 33.0 38.9 39.1 33.0 42.4
15 a 29 min. 35.7 35.9 34.4 32.5 26.5 39.1 39.4 31.5 31.8 25.3 37.4 33.1 31.6 31.5 29.9
30 a 44 min. 16.1 17.9 14.5 13.3 8.3 12.1 13.0 10.6 8.8 6.0 18.5 18.9 19.6 18.9 18.2
Mais de 45 min. 9.0 6.6 9.4 6.0 3.8 3.5 4.0 3.7 3.5 2.4 11.1 9.1 9.7 16.6 9.5
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

26
CAPÍTULO 4
REMESSAS

Cabo Verde tem uma longa história de emigração. Porem, os fluxos de emigração
diminuíram desde os anos setenta devido às políticas restritivas dos países de destino.
Como resultado, embora as remessas tenham vindo a aumentar, a sua percentagem no
PIB tem diminuído continuamente, e não está claro se, a longo prazo, o nível das
remessas poderá ser sustentado. No entanto, presentemente, o montante das remessas é
alta e ligeiramente mais que metade da população recebe algum tipo de remessas.
Infelizmente, só uma pequena parte do fluxo total das remessas e outras transferências
privadas beneficiam os pobre. Enquanto remessas são usadas para investimentos em
educação e habitação, provavelmente muito mais poderia ser feito para aumentar o seu
impacto no desenvolvimento.

A. AS TENDÊNCIAS DA EMIGRAÇÃO INTERNACIONAL E DAS REMESSAS DO ESTRANGEIRO

4.1. O fluxo da emigração para o estrangeiro diminuiu consideravelmente desde os anos


setenta. Algumas das razões que motivavam o desejo de emigrar e unir-se aos parentes no
estrangeiro entre Caboverdianos, incluíam as secas periódicas, os altos níveis de desemprego e a
percepção que Cabo Verde era “um lugar de pobreza inevitável” (Carling, 2002). Porém, nas
últimas duas décadas o fluxo de emigração reduziu. Os dados do censo sugerem que as perdas
líquidas da população diminuíram de 2% nos inícios dos anos 70 a aproximadamente 0.5% em
inícios de 90. As políticas mais rígidas de emigração tornaram a emigração crescentemente mais
difícil para os Caboverdianos. A diminuição na emigração pode ter sido o factor importante no
aumento em três vezes do crescimento da população do país durante o mesmo período. Ainda,
muitos autores calculam que haja hoje igual ou superior número de Caboverdianos vivendo no
estrangeiro que o número de residentes no país. As estimativas baseadas no censo de 2000
sugerem que cerca de metade de todos os emigrantes no pe ríodo 1995-2000 foram para Portugal.
Outros 20% foram para os Estados Unidos, 10% para a França e 5% para os Países Baixos. A
melhoria nas condições de vida das famílias parece diminuir o desejo de emigrar, como mostra
uma recente pesquisa da mão-de-obra do Instituto do Emprego e Formação Profissional em que
50% de todos os respondentes desejaram emigrar por uma variedade de razões.

4.2. As remessas do estrangeiro mais que duplicaram desde 1990, mas a taxa de
crescimento mostra uma tendência decrescente desde 1993. As remessas do estrangeiro
representou 14.5% do PIB (ou 3,136 milhões de Escudos) em 1990. Este montante tem diminuído
para 10% (ou 7,929 milhões de Escudos) em 2003. Cerca de 83% do total das remessas em 2003
vieram de Portugal, França, os Estados Unidos, e os Países Baixos, por ordem de importância do
destino preferido pela maioria dos emigrantes. Os fluxos das remessas enviadas dos Estados
Unidos eram os mais altos entre 10 dos 14 anos de 1990 a 2003, com Portugal em segundo lugar.
Depois de 1999, as remessas da França aumentaram rapidamente, equiparando-se ao montante
das remessas de Portugal e dos Estados Unidos. As remessas dos Países Baixos são menores. As
disparidades de rendimentos entre Cabo Verde e os países de emigração, as taxas de juros
relativamente altas, e a criação de contas de depósito especiais para as remessas dos emigrantes
têm sido importantes determinantes do rápido crescimento das remessas depois de meados dos
anos oitenta de acordo com um estudo do FMI (1996). As contas de depósito especiais desfrutam
de uma taxa de juros mais alta que depende da duração dos depósitos. A curto prazo, as remessas
não deverão diminuir muito rapidamente uma vez que muitos emigrantes de idade média
provavelmente voltarão a Cabo Verde para se aposentarem, e continuarão enviando dinheiro e
pensões para a sua terra natal. Mas o que acontecerá a longo prazo com as contas das remessas é
uma questão em aberto.

27
Figuras 4.1 & 4.2: Tendência das remessas do estrangeiro (total e por país), Cabo Verde
Total remittances to Cape Verde Remittances from the country as a percentage of total remittances
million Escudos
35%
10,000 30%

25% 30%

8,000
20%
25%

15%

6,000 20%
10%

5% 15%
4,000

0%
10%

-5%
2,000
5%
-10%

0 -15% 0%
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Level Growth rate USA Netherland France Portugal

Fonte: Banco de Cabo Verde

4.3. Mais de metade de todos os agregados familiares recebeu alguma forma de remessa em
2001. A média do rendimento a partir das remessas (doméstico e estrangeiro, com a média
incluindo os agregados não receptores de remessas) era de 43,805 Escudos por família por ano
(ou EUA $402.04), o equivalente a 9% do consumo dos agregados. O rendimento médio das
remessas nas áreas urbanas e rurais é semelhante, mas como uma porcentagem do total do
consumo do agregado, as remessas são mais importantes nas áreas rurais (14.8% do consumo) do
que nas áreas urbanas (7% do consumo). As estimativas do Banco Mundial (1994) baseadas no
inquérito de 1988-89 calculam que 60 a 70% dos agregados receberam algum tipo de remessa do
estrangeiro naquele período o que implica que a percentagem de agregados receptores de
remessas diminuiu um pouco durante os anos noventa (os resultados mostram que em 2001,
43.8% dos agregados urbanos receberam algum tipo de remessas, enquanto que a parte
correspondente ás áreas rurais era de 58.8%). A ilha de São Vicente é hoje o mais alto concelho
receptor de remessas, com 20% do total das remessas do estrangeiro. Praia, Santa Catarina, e
Fogo receberam 15.7%, 12.1%, e 11.3% do total das remessas, respectivamente. Como esperado,
a proporção do total das remessas recebidas por um concelho é positivamente associada com a
sua parte de população.

B. ANÁLISE DA INCIDÊNCIA DOS BENEFÍCIOS DAS REMESSAS

4.4. Embora as remessas representem uma parte importante do rendimento total dos
pobres, a maioria das remessas é recebida pelos não pobres. A nível nacional, a percentagem
dos agregados familiares, por decile, que recebem remessas tem a forma corcova: é mais baixa
para o primeiro e décimo decile, e mais alta para os deciles 6 e 7. Entre 45% e 60% dos agregados
familiares em cada decile recebe algum tipo de remessas, mas para o maior tipo de remessas
quando considerado separadamente, as proporções são na ordem de 10-15%. A parte dos
agregados que recebe remessas do estrangeiras é mais alta que os agregados que recebem
remessas domésticas, e a diferença é mais elevada quanto mais elevado for o estatuto económico
da família. A Figura 4.3 mostra uma visualização da incidência e cobertura das remessas e
transferências privadas. São representados três indicadores na Figura: a parte do pobre que
beneficia da fonte de rendimento, a parte do rendimento total da fonte que alcança o pobre, e o
tamanho da fonte (que é proporcional ao tamanho da bolha - uma bolha maior indica uma fonte
maior).

28
• Tamanho de vários tipos de remessas/transferencias: As pensões estrangeiras e as
remessas domésticas são as duas maiores fontes de rendimentos das transferências
privadas (na realidade, as pensões do estrangeiro não são exactamente uma transferência
uma vez que essas transferências são recebidas pelos seus beneficiários aposentados na
sua terra natal após terem trabalhado no estrangeiro). As remessas do estrangeiro, outras
remessas do estrangeiro e outras transferências privadas são muito menores.

• Cobertura: O eixo vertical na Figura fornece dados sobre a parte dos pobres que beneficia
de vários tipos de remessas. As percentagens são tipicamente baixas, na ordem dos 10-
15%, mas quando contabilizado juntos, os diferentes tipos de remessas e transferências
beneficiam somente metade dos pobres. Quer dizer, se todas as transferências fossem
agrupadas, a bolha correspondente mostraria uma taxa de cobertura mais alta entre os
pobres (como agregados diferentes beneficiam de tipos diferentes de transferências), mas
a “segmentação do pobre” como indicador (como abaixo discutido) permanece baixo,
muito abaixo dos 20%.

• Segmentação: O eixo horizontal mostra a parte dos vários tipos de remessas que chegam
aos pobres. Considerando que o pobre representa 36.7% da população, uma percentagem
mais baixa que 36.7% significaria que, proporcionalmente à população, os pobres
beneficiam menos das transferências privadas que os não pobres. Enquanto que as
remessas representam uma percentagem alta do total do rendimento nacional, a parte do
total dos rendimentos de todos os tipos de remessas e transferência privada é baixa, em
20% ou menos.

• Erradicação da pobreza: A bolha maior no canto superior direito da Figura não está
relacionado com as remessas, mas sim representa o ta manho de uma segmentação
perfeita da transferência que seria o suficiente para erradicar a pobreza (a cobertura dos
pobres seria de 100%, como seria a segmentação entre os pobres, uma vez que a
transferência forneceria aos agregados pobres exactamente o que precisariam para saírem
da linha da pobreza). Quando olharmos os diferentes tamanhos das diferentes bolhas,
pode-se ver que agrupando os recursos dos vários tipos de remessas e transferência
privada poderia, teoricamente, ser suficiente para erradicar a pobreza se todas as remessas
fossem recebidas pelos pobres. Infelizmente, este não é o caso uma vez que só uma
pequena parte dos fluxos beneficia o pobre. Ainda, como ilustrado na Figura 4.4., as
remessas do estrangeiro e as pensões estrangeiras têm um pa pel significante na redução
da pobreza. Se as remessas estrangeiras e as pensões estrangeiras terminassem, a pobreza
aumentaria em 9 e 7% respectivamente (ou dito de forma diferente, sem as remessas
estrangeiras, o total da população indexada á pobreza seria reduzido de 2.6 pontos
percentuais, i.e. 9% do total de 37%).

29
Figura 4.3: Incidência e cobertura das transferências privadas e das remessas, Cabo Verde 2001-02
1,20

1,00

0,80
Cobertura entre os pobres

Transferência
Perfeita

0,60

0,40 Remessas do
Estrangeiro
Outras
transferências Remessas
0,20do Estrangeiro Domésticas

Outras
0,00 transferências
Pensiões do privadas
Estrangeiro
-0,20
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00
Segmentação para os pobres

Figura 4.4: Impacto do total da perda das transferências privadas, Cabo Verde 2001-02

Other Private Transfers 0,59%

Other Foreign Transfers 0,40%

Foreign Remittances 8,68%

Domestic Remittances 3,89%

Foreign Pensions 6,87%

0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00% 7,00% 8,00% 9,00% 10,00%
Percentage Change in the Headcount

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

30
4.5. A s remessas são especialmente importantes para o desenvolvimento uma vez que
tendem a ser usados mais para o investimento do que qualquer outra fonte de rendimento.
Para os emigrantes, enviar as remessas para o país natal é mais benéfico se as remessas forem
usadas para investimentos que também beneficiarão os emigrantes. Este seria o caso para
investimentos em habitação (uma vez regressado ao país, o emigrante poderá viver na sua casa
construída ou melhorada com as remessas enviadas). Também seria o caso para investimentos na
educação de crianças, uma vez que o emigrante pode ter salários mais altos beneficiando as suas
crianças. As estimativas baseadas no inquérito de 2001-02 sugerem que em Cabo Verde, as
remessas são usadas mais do que qualquer outra fonte de rendimento para melhorar as condições
de habitação e para a matrícula das crianças na escola (isto acontece para ambos meninos e
meninas, nas áreas urbanas e rurais). Os programas pilotos em curso noutros países para encontrar
uma melhor utilização das remessas para a redução da pobreza através de iniciativas locais
poderiam servir talvez como uma fonte de inspiração para Cabo Verde.

CAIXA 4.1: AUMENTANDO O IMPACTO DAS REMESSAS NO DESENVOLVIMENTO : LIÇÕES DO MÉXICO

Embora as remessas beneficiem de um prémio na taxa de juros se depositados nas contas especiais em
Cabo Verde, muito mais pode ser feito para maximizar o impacto destas transferências no
desenvolvimento. No México, as remessas enviadas dos Estados Unidos podem ser destinadas a famílias
específicas dos emigrantes. Mas podem também ser direccionadas para as comunidades como um todo ao
denominado “Associações das Cidades”. Estas associações arrecadam fundos do estrangeiro para serem
utilizados em programas sociais nas comunidades de origem dos emigrantes. Algumas dessas associações
são bastante sofisticadas, conseguindo fundos avultados (Alarcon, 2002). O programa do Governo
Mexicano “3x1” é uma tentativa para diminuir o poder dessas associações em conseguirem fundos para
projectos de investimento promovendo o desenvolvimento local. O programa encoraja as remessas
internacionais adicionando um peso por cada peso recebido de uma ONG estrangeira a nível federal e local
por forma a que haja três pesos em recursos para o projecto. O programa é direccionado aos projectos de
desenvolvimento social dentro das regiões de pobreza extrema. Mais precisamente, enquanto as regiões
exactas ou municipalidades onde os projectos são implementados dependem das escolhas das ONGs, o
governo dá preferência a projectos que são executados nas micro-regiões definidas pela SEDESOL (A
Secretaria Mexicana para o Desenvolvimento Social).

Para ser elegível para o programa “3x1” os projectos devem: i) serem apresentados por uma ONG com o
consentimento da comunidade e do governo local; ii) sejam co-financiados em igual proporção pela ONG,
o governo local (estado ou município) e o governo Federal; iii) melhorem as infra -estruturas e/ou serviços
básicos, ou aumentem a produtividade e a criação de empregos; e iv) não dupliquem outros projectos
existentes ou beneficiem a mesma população já contemplada por outro programa. Para garantir a
transparência, a selecção do projecto é administrada através de comités com representantes das ONGs, do
SEDESOL, e das autoridades locais. Estes comités buscam a contribuição das comunidades e as
comunidades são responsáveis para monitorar os projectos. Para isto, eles têm que emitir relatórios
periódicos sobre a implementação e o uso dos recursos. Quando os projectos estiverem concluídos, os
comités são responsáveis para assegurar a própria manutenção. O COPLADEs (Agência Estatal de
Planeamento e Desenvolvimento) está envolvida na avaliação dos projectos propostos em nome da
SEDESOL. Isto é feito não só para assegurar a qualidade dos projectos submetidos, mas também para
evitar a duplicação.

Fonte: Wodon et al. (2003).

31
CAPÍTULO 5
PENSÕES

Cerca de 20% dos agregados familiares recebem algum tipo de pensão o qual conta para
30% do seu rendimento total. Os receptores de pensões do estrangeiro e pensões de
reforma estão concentrados nos deciles superiores, enquanto que os receptores da
pensão mínima chegam melhor aos mais baixos deciles. O sistema de pensões para os
trabalhadores do sector privado recentemente criado e parcialmente financiado está em
boas condições financeiras hoje, mas essa situação é insustentável a longo prazo. A
maturação rápida, o envelhecimento da população e um esquema de benefícios generoso
poderá rapidamente transformar o sistema em déficits crescentes. Também, o esquema
de benefícios definido para os funcionários públicos é insustentável considerando os
altos benefícios que o sistema prevê, a baixa taxa de contribuição e o número de anos
exigidos para se qualificar a uma pensão por idade. O programa de pensão mínimo não
contributivo, embora um pouco redistributivo, pode ter problemas de segmentação que é
necessário analisar. A análise aqui apresentada é preliminar. Estudos mais
aprofundados sobre as pensões será prosseguida pela equipa do Banco Mundial e
apresentadas as recomendações específicas de política.

A. A ESTRUTURA DO SISTEMA DE PENSÕES EM C ABO VERDE

5.1. Existem dois esquemas básicos de contribuição definidos pelo sistema de pensões em
Cabo Verde: Um para os funcionários públicos e outro para os empregados privados do
sector formal (INPS). O sistema de pensão em Cabo Verde é jovem. O Instituto Nacional de
Previdência Social começou a operar em 1983. O número total de contribuintes para todos os
esquemas é de cerca de 50,000 que representa aproximadamente um terço da mão-de-obra. O
tamanho do esquema voluntário de pensões é desprezível.

• INPS: Em 2000, o número de contribuintes do INPS era 36,289 e o número de


pensionistas (inclusive invalidez, velhice, e sobreviventes) era 3,306. A relação
contribuintes para pensionistas estava perto de 11, e 25 para os pensionistas de velhice,
mas essa situação irá reduzir -se rapidamente. A taxa de contribuição é de 10% (3% para o
empregado + 7% para o empregador) 2% do qual é usado para cobrir os custos de
administração. A idade de aposentação é 65 anos para os homens e 60 anos para as
mulheres, e o cálculo dos benefícios é determinada pela seguinte fórmula: pensão =
salários base x (20% + 0.015% x anos da cobertura). A taxa máxima de substituição é de
86% do último salário ganho, o que é equivalente a contribuir durante 44 anos e os
direitos das pensões adquiridos depois de somente 3 anos de contribuições (a média da
taxa de substituição eh porém provavelmente mais baixa). A base de salários utilizada é
feita a partir dos 36 meses de salários mais altos pagos nos últimos 5 anos de
contribuições. Os sobreviventes adquirem 50% da pensão do segurado. Existe um sub-
sistema para os empregados dos bancos que são administrados pelos próprios bancos
(central e comercial).

• Funcionários públicos: Em 1999, 11,037 funcionários públicos, pessoal militar e das


forças armadas e pessoal de segurança, e funcionários em serviços independentes
estavam cobertos por este sistema. O número de beneficiários era ligeiramente superior a
1,900. A taxa de contribuição é de 6% para o empregado. A idade da aposentação é 60
anos para ambos os sexos, com uma taxa de substituição de 100% depois de 34 anos de

32
serviço. Um trabalhador que se aposenta antes de 10 anos de contribuições recebe a sua
contribuição sem juros.

• Estimativas baseadas no inquérito: Como mostra o quadro 5.1, utilizando informações


disponíveis do inquérito de 2001-02, é possível estimar o número de contribuintes, mas
não é possível avaliar o número de pensionistas/beneficiários (pode-se no entanto
apresentar informações dos agregados que beneficiam de vários tipos de pensões, como
abaixo apresentado).

• Situação do sistema: O sistema é jovem, mas espera-se que amadureça rapidamente. A


estrutura etária do sistema é determinada na Figura 5.1. A idade média do trabalhador
coberto pelo sistema INPS é de 32 anos, e 44% dos contribuintes estão entre 20 e 30 anos
de idade. A idade média no sistema público é de 38 anos e 41% dos contribuintes estão
entre 35 e 45 anos de idade. O rácio número de contribuintes / número de beneficiários)
deverá diminuir de 18.2 em 2002 para 9.2 em 2006.

Quadro 5.1: Comparação da cobertura das pensões e estimativas obtidas no inquérito de 2001-02
Contribuintes do Pensionistas Contribuintes Pensionistas
INPS
Fonte oficial 36,289 3,306 11,037 1,949
Estimativas do IDRF 40,312 - 11,113 -
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

Figura 5.1: Estrutura de Idade dos Contribuintes da Segurança social


Age structure of contributors to Social Security

6.0%

5.0%

4.0%

Civil Servants
3.0%
INPS

2.0%

1.0%

0.0%
15 19 23 27 31 35 39 43 47 51 56 60 64
Source: CVHS (2000) Age

5.2. A situação financeira do sistema contributivo de pensões é actualmente favorável, mas


insustentável a longo prazo. Presentemente o INPS possui reservas de cerca de 10% do PIB,
devido principalmente ao elevado rácio contribuinte -pensionista e o aumento rápido no número
de novas entradas no sistema a partir de 1997. No entanto, a projecção aponta para um rápido
envelhecimento da população e os benefícios são muito altos para as taxas de contribuição,
tornando assim insustentável o sistema a longo prazo. A dívida não coberta do sistema do INPS
foi calculada em estudos preliminares em 40% do PIB. O sistema poderá permanecer negativo
por mais 3 anos, enfrentando déficits crescentes depois disso (Whitehouse, 2003). O sistema
também é injusto; uma vez que a base de pensão é calculada utilizando os 36 meses de
contribuição mais altos nos últimos 5 anos, ela favorece os trabalhadores cujos salários sejam
mais elevados (os trabalhadores com rendimentos normalmente altos). Embora informações mais

33
fiáveis não estejam ainda disponíveis para calcular a responsabilidade do sistema público,
existem sérias dúvidas sérias sobre a sua sustentabilidade.

5.3. Existem dois sistemas de pensões não-contributivos: um para os trabalhadores das


FAIMO e um outro para os idosos e ou inválidos (PSM). O Programa de Alta Intensidade
de Mão de Obra – FAIMO – é um programa de mão-de-obra intensiva para trabalhos de infra-
estruturas financiado pela contrapartida das ajudas alimentares e emprega anualmente cerca de
15,000 a 20,000 pessoas. O objectivo deste programa é fornecer um pouco de segurança no
rendimento dos pobres, especialmente nas áreas rurais e para as mulheres chefes de família. Em
1992 foi introduzido um sistema de pensão não contributiva para os trabalhadores das FAIMO.
Todos os idosos que tenham trabalhado pelo menos 10 anos em campanhas financiadas pelo
governo estão cobertos (44% dos trabalhadores das FAIMO têm pelo menos 10 anos de trabalho),
e são providas de pensões de invalidez e de velhice. Todos os pensionistas das FAIMO recebem
uma pensão fixa equivalente a US$300 por ano. O esquema de Protecção Social Mínima –PSM–é
um programa não contributivo, um programa-teste que foi estabelecido em 1995 para dar um
rendimento às pessoas não cobertas por qualquer outro programa de protecção social. O programa
é financiado completamente com recursos de Assistência ao Desenvolvimento. Cerca de 7,000
famílias recebem pensões do PSM. O esquema beneficia principalmente os idosos e famílias em
situação económica precária.

B. ANÁLISE DA INCIDÊNCIA DOS BENEFÍCIOS DAS PENSÕES

5.4. Aproximadamente 20% dos agregados recebem algum tipo de pensão em Cabo Verde e
estas pensões representam 30% do rendimento dos agregados receptores. Nas áreas urbanas,
15% dos agregados são receptoress com 33% do seu rendimento das pensões. Nas áreas rurais, a
percentagem de receptores é de 25% com 36% do seu rendimento entrando sob forma de pensões.
A nível nacional, os agregados que recebem pensões do estrangeiro derivam 38% do seu
rendimento destas pensões. Os receptores de “pensões de reforma” (i.e., o INPS e sistema dos
funcionários públicos) obtêm 30% do seu rendimento daquela fonte, e os que recebem pensões
sociais mínimas adquirem 14% do seu rendimento total como pensões. As percentagens dos
rendimentos para os agregados urbanas são 30% provenientes de pensões do estrangeiro, 31%
proveniente da pensão de reforma e 16% para as pensões sociais mínimas. Nas áreas rurais, os
receptores de pensões do estrangeiro obtêm quase 50% do seu rendimento daquela fonte, em 25%
e 12% respectivamente da social mínima e das pensões de reforma.

5.5. Embora as pensões representem uma grande parte do total do rendimento dos
agregados pobres que os recebem, a grande parte das pensões beneficia os que estão em
melhores condições (não pobres) O quadro 5.2 apresenta as características distribucionais dos
vários tipos de pensões utilizando os dados do inquérito de 2001-02.

• Quantos agregados beneficiam de pensões? Globalmente, 10% dos agregados nas áreas
rurais e urbanas recebem pensões de reforma. Aproximadamente 8% recebem pensões
mínimas nas áreas rurais comparado com somente 2% nas áreas urbanas. Só 70% dos
agregados a nível nacional que recebem pensões do estrangeiro têm um membro idoso
comparado com 92% e 86% respectivamente para a reforma e pensões mínimas.

• Quem beneficia de pensões? A percentagem dos agregados num decile que recebe
pensões de reforma aumenta com o estatuto económico do agregado, enquanto diminuiu
para a pensão social mínima. A primeira constatação pode ser explicada pela observação
de que as pessoas mais educadas (que tendem a ser mais ricas) tenham mais acesso ao

34
emprego formal, e estão cobertas pelo sistema de segurança social. A segunda
constatação sugere alguma característica distributiva positiva do sistema de pensão
mínima. Mesmo assim, 30% dos receptores a nível nacional (47% nas áreas rurais) estão
nos 4 decis mais altos o que aponta para problemas importantes de
focalização/segmentação. Nas áreas rurais, a percentagem dos agregados receptores de
pensões mínimas é constante em todos os decis.

• Quão grande são os benefícios das pensões? A nível nacional, o rendimento das pensões
do estrangeiro é 2.5 vezes maior que o rendimento dos receptores da pensão mínima.
Ainda, os receptores de reforma de pensão recebem em média, duas vezes das pensões do
que os receptores da pensão mínima. As pensões do estrangeiro constituem uma
importante fonte de rendimentos para os receptores das áreas rurais, mas principalmente
para os agregados rurais com melhores condições de vida.

5.6. Uma análise mais aprofundada das características distributivas potenciais dos sistemas
de pensões existentes do que a análise aqui apresentada deverá ser levada a cabo. Uma
análise preliminar comparativa das características distributivas do presente sistema nacional de
pensões com os outros tipos de transferências públicas, é apresentado no Capítulo 6. Nesse
capítulo, dados similares aos apresentados neste capítulo 4 para as remessa s e outras
transferências privadas em termos da cobertura e propriedades da segmentação das várias fontes
de rendimento são apresentados para a pensão de reforma e para a pensão social mínima.
Particularmente para a pensão mínima cujo objectivo são os que tenham um rendimento limitado,
o desempenho actual parece geralmente deficiente. No caso das pensões do estrangeiro, a Figura
4.3 indica que a cobertura é limitada entre os pobres, com a maioria dos benefícios indo para os
não pobres. Porém, para ambas as pensões nacional e estrangeira, é importante sublinhar que a
análise aqui apresentada é simplesmente preliminar. Como a maioria das dívidas dos vários
sistemas de pensões só serão pagas daqui a algum tempo no futuro, uma fotografia presente das
características distributivas das várias pensões pode incorrer a erros em termos de consequências
a longo prazo dessa distribuição.

35
Quadro 5.2: Características Distributivas dos vários tipos de pensões, Cabo Verde 2001-02
Número de receptores Percentagem dos receptores
Decile Agregados Do Mínima Reforma Do Mínimo Reforma
estrangeiro estrang.
1 6,548 292 361 644 4.5 5.5 9.8
2 7,095 213 617 541 3.0 8.7 7.6
3 7,770 354 596 839 4.6 7.7 10.8
4 8,175 402 420 790 4.9 5.1 9.7
5 8,422 587 526 778 7.0 6.2 9.2
6 9,057 592 700 855 6.5 7.7 9.4
7 9,621 1,002 380 919 10.4 3.9 9.6
8 10,268 676 316 1,055 6.6 3.1 10.3
9 12,268 979 458 1,436 8.0 3.7 11.7
10 16,033 1,020 135 1,836 6.4 0.8 11.5
Total 95,257 6,117 4,509 9,693 6.4 4.7 10.2
Media Pensão por agregado receptor Pensão como porcentagem do
(em Escudos Mensal) rendimento total por agregado
receptor
Decile Agregado Do Mínima Reforma Do Mínima Reforma
estrangeiro estrang.
1 6,548 2545.28 413.38 717.31 13.6% 2.2% 3.8%
2 7,095 2344.87 647.85 1021.75 10.3% 2.9% 4.5%
3 7,770 2729.62 475.86 998.97 11.3% 2.0% 4.1%
4 8,175 3109.67 705.08 1209.81 11.5% 2.6% 4.5%
5 8,422 3960.35 754.80 1821.54 13.2% 2.5% 6.1%
6 9,057 3133.88 634.19 1972.35 8.8% 1.8% 5.5%
7 9,621 4445.34 709.46 2801.96 11.4% 1.8% 7.2%
8 10,268 4493.17 3199.06 2557.23 10.3% 7.3% 5.8%
9 12,268 5741.67 1370.99 4827.52 11.5% 2.8% 9.7%
10 16,033 15250.00 9000.00 13166.67 16.6% 9.8% 14.4%
Total 95,257 4775.39 1791.07 3109.51 13.6% 2.2% 3.8%
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

C. AS R EFORMAS E SUSTENTABILIDADE A LONGO PRAZO 3

5.7. Na situação presente, o sistema de pensões poderá ter deficits de dinheiro a partir de
2007 e as reservas financeiras poderão esvaziar-se antes de 2028. Um número de pressupostos
foi utilizado nas simulações. A média dos anos das contribuições aumentam em um ano por cada
ano civil, de 16 anos em 2002 até um máximo de 35 anos para os homens e de 30 anos para as
mulheres. A inflação esperada é de 4%, o real crescimento dos salários é de 3%, e a taxa real de
juros é de 3.5% . O salário mínimo é fixado em 9% da média do salário. É assumido um
crescimento real do PIB de 4%. As dificuldades financeiras no cenário base será devido à rápida
maturação do sistema, o envelhecimento da população, e o pacote generoso de benefícios para as
actuais taxas de contribuição. Os deficits de liquidez seriam pequenos até o ano 2020 mas após
essa data cresceriam rapidamente. Em 2002, as reservas financeiras poderiam pagar por 15 anos
de despesas de pensão; isto reduziria para 5 anos em 2010. Um aumento imediato na taxa de
contribuição para 21% bastaria para cobrir as obrigações de pensão durante o horizonte da

3
Os resultados são baseados numa análise preliminar feita por Whitehouse (2003) utilizando o modelo
Prost do Banco Mundial

36
simulação (2003-2075) sem variações nos benefícios. Para a cobertura dos deficits, uma taxa de
23% seria requerida para 2050 e 38% para 2075.

5.8. Em 2001, a Lei de Base da Protecção Social foi aprovada pelo Parlamento, e uma
reforma paramétrica está sendo discutida. As propostas de reforma para o INPS só se
aplicariam aos novos contribuintes e podem ser resumidas como segue. O número mínimo de
anos de contribuições para qualificar para uma pensão de velhice seria aumentado de 3 para 15.
Além disso, seriam requeridos 5 anos de contribuições para uma pensão de sobrevivência e 10
anos para uma de invalidez. A fórmula actual de cálculo da pensão [pensão = salário base x (20%
+ 0.015% x anos de cobertura)] seria substituída por uma taxa de acréscimo constante de 2% por
ano para um máximo de 80% do salário base. A base do salário actualmente os 3 melhores dos
últimos 5 anos de salários nominais, seria substituída pelos 10 melhores dos 15 últimos anos de
salários. Algumas outras mudanças como a inclusão dos trabalhadores do sector bancário na
componente do sistema obrigatório e o estabelecimento de uma comissão para avaliar a
elegibilidade por invalidez podem ter um efeito importante.

5.9. Infelizmente, as propostas de reforma teriam pouco impacto antes de 2040 e por
conseguinte são insuficientes para trazer o equilíbrio financeiro ao sistema. A demora no
efeito da reforma surge pela não alteração das condições para os actuais contribuintes mas só para
os novos contribuintes. A reforma adia a depleção de reservas um par de anos. Para que o deficit
seja coberto por um aumento na taxa de contribuição, uma taxa de 15% será necessária antes de
2030, 20% antes de 2042, e 33% antes de 2075. Um aumento imediato na taxa de contribuição
para 17.3% poderia ser porém bastante para pagar todas as obrigações até 2075, não afectando os
benefícios. É importante notar que uma reforma que mudaria só para os novos contribuintes seria
injusto; os trabalhadores que entrarem no sistema de pensão depois de aprovada a reforma
enfrentariam condições completamente diferentes que os trabalhadores que entraram há pouco de
um ano.

5.10. Uma reforma alternativa que reduziria os benefícios aos actuais trabalhadores com
idade abaixo dos 55 anos poderia tornar o sistema mais viável. Só para ilustrar, poderiam ser
assumidas três mudanças básicas na reforma: 1) o número de anos exigido para qualificar para
uma pensão de velhice poderia ser aumentado um ano por ano civil para trabalhadores abaixo dos
55 anos de idade; 2) A taxa de acréscimo anual poderia ser diminuída gradualmente de 2% para
1,5%; 3) O número de anos utilizado no calculo do salário base poderia ser aumentado
gradualmente. As taxas de substituição resultantes para uma carreira de 40 anos seriam então
60% em vez de 80% na proposta actual da reforma. O anterior está perto da taxa média dos países
da OCDE. Os efeitos desta reforma alternativa poderiam ser vistos tão cedo em 2020. Para que o
gap remanescente fosse coberto através do aumento da taxa de contribuição, um amento de
menos de 20% seria necessário até 2055 e 25% até 2075. Se um aumento imediato fosse possível,
a taxa exigida seria de 14.4%.

5.11. Embora não tenham sido quantificadas as responsabilidades/dividas da administração


pública devido à falta de dados disponíveis neste momento, acredita-se que o sistema seja
igualmente insustentável. A taxa de substituição para um trabalhador de tempo inteiro é provavelmente
muito alta em Cabo Verde comparado com os padrões internacionais, e o número de anos exigidos para se
qualificar para uma pensão de aposentação é mais baixo que em muitos outros sistemas de administração
publica. Porém, a lei aprovada em 2001 abre a possibilidade para trabalhadores de administração pública
serem incluídos no sistema compulsório do INPS. Assim, as condições existentes para os trabalhadores da
administração publica seriam alteradas para convergirem para o sistema do INPS. Isto faria sentido uma
vez que é injusto ter um grupo pequeno de trabalhadores com condições mais favoráveis que a maioria dos
outros trabalhadores pela simples afiliação num sistema diferente.

37
CAPÍTULO 6
EDUCAÇÃO, SAÚDE, E AS TRANSFERÊNCIAS DA PROTEÇÃO SOCIAL

Progressos significativos foram alcançados na educação, mas a um custo orçamental


relativamente alto devido a um elevado custo unitário sem contar com o grande número de
alunos matriculados. Para que maiores progressos sejam conseguidos na educação básica,
a equidade e a eficiência na prestação dos serviços de educação pública precisarão
provavelmente de melhorias. Uma maior eficiência requererá uma melhor utilização dos
recursos existentes e especialmente a redução da abertura das despesas entre os níveis
primário e secundário. O sector da saúde em Cabo Verde também conheceu avanços
significativos incluindo o controle e a erradicação de muitas doenças transmissíveis. Ao
contrário de muitos dos seus vizinhos africanos, Cabo Verde tem uma baixa incidência de
HIV/AIDS, e melhores resultados de saúde de uma forma geral. À semelhança da educação,
alcançar estes resultados foi graças a um importante custo orçamental. A nível dos
agregados familiares, porque as despesas públicas cobrem a maioria dos custos de
educação e saúde, as despesas privadas para ambos os sectores é baixa. Existem
igualmente questões distributivas nas despesas da educação e da saúde assim como para as
despesas com os programas de protecção social com os pobres obtendo uma parte limitada
dos benefícios.

A. PROGRESSOS E D ESAFIOS NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE: UMA B REVE R EVISÃO

6.1. A educação tem sido um dos pilares da estratégia de desenvolvimento de Cabo Verde
desde a independênc ia. Nma nação de ilhas com recursos naturais severamente limitados, o
capital humano tem sido considerado uma contribuição vital para o desenvolvimento económico.
Os Caboverdianos vêem na educação uma saída da pobreza e assim, como nação investem
pesadamente no sector. O PRSP acentua a necessidade de reduzir os desequilíbrios regionais ou
sociais no acesso à educação como uma via de melhorar os indicadores sociais e como parte de
uma orientação estratégica mais abrangente para diminuir as desigualdades no país. O Plano
Nacional de Desenvolvimento, como resumido nas Grandes Opções para o Desenvolvimento,
enfatiza a importância dos ganhos significativos já conseguidos na educação como via de
prosseguir o desenvolvimento e o crescimento. Estas Opções propõem uma estratégia alargada de
educação que novamente acentua a necessidade de colmatar as injustiças a todos os níveis dentro
do sistema de ensino, como também a necessidade de melhorar as infra-estruturas, os materiais
pedagógicos e a formação dos professores nas áreas pobres.

6.2. As taxas de matrícula são muito altas comparadas com os padrões da África Sub-
Sahariana. Em 1995, Cabo Verde assumiu a educação primária universal até 6 anos de
escolaridade. Hoje, como ilustra o quadro 6.1, a taxa de matrícula é alta para as crianças entre 5 a
15 anos de idade. Isto é especialmente verdade nos quintiles mais altos, mas até mesmo nos
quintiles mais pobres, 85 entre 100 crianças entre os 5 e 15 de idade são matriculados. De um
modo geral, as matrículas para o ensino primário aumentaram para mais de 110% até 2001 e a
matrícula líquida ultrapassou 98.5% para o mesmo ano. Mais que 80% de todas as crianças
matriculadas habitam a menos de meia hora longe da escola, o que mostra o acesso bastante bom
em termos de distâncias para escolas (a proporção das crianças que vivem mais que meio hora
longe da escola é maior entre os quintiles mais pobre e nas áreas rurais).

38
Quadro 6.1: Taxa de Matrícula por quintile (crianças idade 6-15), Cabo Verde 2001-02
Quintile mais Quintile mais
Matrícula pobre 2º quintile 3º quintile 4º quintile rico Total
Nacional 0.85 0.87 0.88 0.93 0.96 0.90
Urbano 0.83 0.89 0.93 0.95 0.98 0.92
Rural 0.84 0.87 0.87 0.89 0.91 0.88
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

6.3. Uma análise da regressão dos determinantes da matrícula escolar aponta diferenças
entre os agregados familiares. As crianças que trabalham têm uma mais baixa probabilidade de
estarem matriculadas. Nas áreas urbanas, as crianças (especialmente os meninos) de agregados
cujo chefe de família seja uma mulher têm uma taxa de matrícula mais alta, mas o contrário é
observado nas áreas rurais. As crianças dos agregados cujo chefe é trabalhador por conta própria
ou um trabalhador familiar não remunerado têm mais baixas probabilidades de serem
matriculadas quando comparadas com crianças cujo chefe seja um assalariado, enquanto que as
crianças de agregados cujo chefe seja empregado a tempo inteiro ou tenha um segundo trabalho
ter taxas de matrícula ligeiramente mais altas. Como esperado, as crianças dos agregados cujo
chefe enfrentou um desemprego de longo prazo são menos prováveis de serem matriculados
(como poderão ter que deixar escola para trabalhar para ajudar a família conter a redução do
rendimento devido ao desemprego do chefe). As crianças que têm o chefe ou cônjuge com níveis
mais altos de educação – primária e pelo menos alguma educação secundária quando comparado
com as crianças que têm um chefe ou cônjuge sem educação–têm probabilidades mais altas de
estarem na escola. O efeito da emigração do chefe/cônjuge na matrícula escolar é ambíguo. Mas
controlando todas as variáveis anteriores, a taxa de matrícula em Santiago é, com poucas
excepções, mais alta que em todas as outras ilhas o que aponta para as desigualdades persistentes
entre ilhas.

6.4. As despesas públicas na educação aumentou significativamente com o passar do tempo.


As despesas per capita com a educação mais que duplicou em termos reais condições durante os
últimos dez anos, de US$38 em 1994 para $96 em 2004 (as estimativas estão em EUA $ de
1995). Existem várias razões para esse aumento.

• O aumento das matrículas no ensino primário e secundário: Grande parte das despesas
reflecte um aumento no número de estudantes que cresceu mais rápido do que o
crescimento da população. Mais especificamente, a força imprimida para a educação
primária universal aumentou a matrícula na educação secundária e, igualmente a onda de
construção de estabelecimentos do ensino secundário iniciada durante a primeira metade
dos anos noventa. A matrícula na educação secundária aumentou de 14,097 em 1993 para
46,119 durante o ano lectivo 2003/2004.

• Custos unitários ascendentes: o custo unitário por estudante matriculado na educação


primária mais que duplicou em termos reais durante os anos 90s, de US$60 em 1993 para
US$128 em 2000. O aumento ao nível do secundário é ainda maior, de US$125 em 1993
para US$334 em 2000. A maioria dos custos consiste dos ordenados e salários para
professores. Uma possível explicação para a parte significativa de salários e salários nas
despesas da educação poderá ser os altos custos associados com o provimento de pessoal
para as escolas em locais remotos e rurais nas ilhas. Em todo caso, considerando a
necessidade reconhecida de modernização do sistema de ensino, com professores
formados, livros escolares melhorados e melhores infra-estruturas, a estrutura de custo da
educação deverá ser monitorada de perto.

39
• Despesas mais elevadas com a educação superior: Até recentemente, Cabo Verde
ofereceu poucas opções para os estudantes que queiriam prosseguir uma educação
superior no próprio país. Aquando da independência, Cabo Verde não possuía uma única
universidade. Tendo como estratégia aumentar a capacidade para o desenvolvimento, o
governo embarcou numa po lítica de fornecer bolsas de estudos para o estrangeiro em
grande número para continuação dos estudos a nível universitário e de graduação. Esta
política ainda hoje continua com a vasta maioria dos estudantes que terminam o liceu
procurarem o ensino superior no estrangeiro às expensas do governo (apesar da abertura
da primeira universidade de Cabo Verde em 2000 e a existência de institutos técnicos e
vocacionais). Enquanto que a maior parte das despesas de educação é ainda alocada aos
níveis primários e secundários, a parte das despesas com a educação superior atingiu os
20% do total das despesas da educação em 2001. Isto reflecte tanto um aumento na
demanda para a educação superior (uma vez que os pupilos que beneficiaram da
educação primaria universal desde que 1995 estão atingindo idade para esse nível de
ensino) e altos custos médios unitários ($4,777 USA por estudante por ano em 2004.)

Figure 6.1: educação Pública que gasta e custos unitários através de nível, Cabo Verde,
1990s,
Total education expenditure per capita Expenditure per student, by level

120
400
100 334
350
80
1995 US$

300
60
250
1995 US $

40 Primary per student


200
20 125 128 Secondary per student
150 111
0
100 60
50 27
3

1
3
5
9

3
7

5
7
9

7
9
198

200
199
199
197

199

200
197

198

198
198
198

199
199

0
Year 1980 1993 2000
Year
Total education expenditure per capita

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial baseado nos dados do Ministério da Educação

6.5. O sistema de cuidados médicos em Cabo Verde é largamente descentralizado em termos


de serviços básicos. Cabo Verde tem dois hospitais centrais, um em São Vicente e outro na
cidade capital da Praia. Para além disso, existem clínicas locais de saúde que prestam os
primeiros cuidados básicos de saúde como imunizações ou algum serviço pré-natal. As
delegações, normalmente localizadas nas principais cidades prestam uma vasta gama de serviços
de saúde e também implementam iniciativas de saúde pública. Os dois hospitais centrais têm
recursos, pessoal e equipamento muito mais que as contrapartes regionais. Esses são os únicos
centros de cuidados médicos providos de especialistas em vários campos da medicina. Os
hospitais frequentemente também servem como clínicas médicas, fornecendo consultas a
pacientes externos para a população urbana. Os casos críticos ou casos de doenças sérias para as
quais Cabo Verde não possui especialistas ou equ ipamentos apropriados são frequentemente
evacuados para Portugal. Esta é uma prática cara, que cada vez mais assenta nas concessões e
cooperações dos doadores bilaterais. O Ministério de Saúde supervisiona a política de saúde e

40
coordenada os esforços nacionais visando epidemias específicas e os desafios dos cuidados da
saúde.

6.6. Assim como para a educação, os indicadores da saúde são melhores que os dos países
vizinhos. A esperança de vida à nascença é de 70.1 anos. A taxa de mortalidade infantil é de 42
por 1,000 nados-vivos rapazes e 30 por 1,000 nados -vivos para as meninas. O rácio de
mortalidade materna era 150 para 100,000 nados-vivos em 2000. Estas figuras reflectem o
rendimento per capita relativamente alto em Cabo Verde, como também o alto gasto público
dedicado à saúde. Os serviços de saúde reprodutiva são geralmente bons (88.5% dos nascimentos
foram assistidos por profissionais de saúde em 1998), embora existam diferenças regionais no
acesso – por exemplo na ilha de Maio, os partos com complic ações ou os que requerem cesariana
devem ser evacuados para um dos dois hospitais centrais, aumentando assim significativamente
os riscos para a mãe e para a criança. Apesar dos desafios impostos pela geografia, o país teve
sucesso no provimento de serviços básicos de saúde para a maioria dos habitantes em todas as
ilhas. Existe ainda um fosso na cobertura dos pobres e dos não-pobres, mas esse gap não é muito
grande. Como mostrado no quadro 6.2, entre os que se adoeceram no 1º quintile de consumo per
capita, 49% receberam tratamento médico ao invés de 59% no 4º e 5º quintiles (nem todos os
episódios de doença ou acidentes requerem tratamento médico o que explica que as proporções
sejam bem abaixo dos 100%). Também, 24% dos que receberam tratamento no 5º quintile, foram
assistidos para por um médico privado, ao contrário de menos que 1% no último quintile. Esta
discrepância é provavelmente devida a uma falta de seguro de saúde entre os pobres, mas não é
provável que isto seja significativo uma vez que os cuidados de saúde pública estão disponíveis a
baixo custo.

Quadro 6.2: Incidência de doenças e tratamento prestado por quintile, Cabo Verde 2001-02
Você Você
esteve recebeu Médico Privado Centro Unid.
doente? tratamento? Quantas Hospital Saude Sanit. Farmácia Tradicional
(% sim) (% sim) visitas? (%) (%) (%) (%) (%) (%)
Mais pobre 18 49 1.62 52 1 25 16 1 0
2º quintile 20 52 1.63 57 3 24 11 2 0
3º quintile 20 56 1.65 62 4 21 9 1 0
4º quintile 20 59 1.72 64 8 14 8 2 0
Mais rico 24 59 1.77 49 24 14 8 1 0
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

6.7. O sistema de cuidados de saúde em Cabo Verde tem tido sucessos na erradicação da
maioria das doenças transmissíveis, mas houve uma derrapagem na taxa de vacinação nos
últimos anos da década de 90. A taxa de vacinação é muito alta e as epidemias tendem a ser
bastante raras. Porém, enquanto nos princípios dos anos 90 a cobertura de vacinações para a
maioria das principais doenças comunicáveis atingiram os 100%, o financiamento para as grandes
campanhas de vacinação diminuíram em meados dos anos noventa, resultando em algumas
erupções de doenças como o sarampo e a pólio. Em 2001, várias dúzias de pessoas também se
tornaram vítima de uma erupção de cólera. Estas epidemias aumentaram a consciência entre os
prestadores de cuidados médicos e os decisores políticos da necessidade de aumentar os esforços
para a cobertura continua de imunização, de forma que até finais de 2000, recuperassem
significativamente a taxa de cobertura de imunização, como mostra o Quadro 6.3.

41
Quadro 6.3: Cobertura de Imunização (OMS), Cabo Verde 1992-2002
1992 1997 1999 2000 2001 2002
BCG 99+ 80 75 92 84 92
DTP1 - - - 93 79 96
DTP3 99+ 78 69 86 78 94
MCV 91 82 61 80 72 85
Pol3 99+ 77 70 86 77 94
TT2+ 99 55 52 45 26 -
Fonte: OMS

6.8. As despesas com a saúde aumentaram nos finais de 1990s, mas foi estabilizado a partir
desse período. Como mostra a Figura 6.2, o total das despesas públicas com a saúde ascendeu a
$US 11.5 milhão em 2004 dos quais os ordenados e os salários constituem a porção mais
significante, seguidos de bens e serviços. Apesar do grande peso dos ordenados e salários no
orçamento do sector da saúde, Cabo Verde tem tido dificuldades em atrair e reter médicos e
enfermeiros qualificados. Incentivos e pacotes para o recrutamento de expatriados são oferecidos
aos chineses, cubanos e médicos russos como incentivos para exercerem a sua prática em Cabo
Verde. Uma vez que não existe nenhuma escola médica em Cabo Verde, a formação de novos
médicos é cara e requer o envio dos estudantes ao estrangeiro com bolsas de estudos durante uns
anos. A maioria das despesas de capital para infra-estrutura de saúde vêm dos doadores. Uma
grande doação de equipamentos médicos também veio do estrangeiro de doações privadas (um
exemplo recente de doação foi um equipamento completo de uma sala de cardiologia doado por
uma medico Caboverdiano de renome trabalhando em Nova Iorque). O acesso aos serviços de
cuidado médicos é alargado, mas os cuidados variam significativamente com o rendimento.

Figure 6.2: Despesas pública com a saúde total e por função, Cabo Verde
Total expenditure on health Health expenditures, by function

14.0 12.9 12.0


11.7 11.5
12.0 10.0
0.9

10.5
10.1 9.9
0.5
0.3
Millions of $US

10.0 8.0
0.5

Investment
0.4
Millions of US$

0.3

8.0 6.0 Goods and Services


Wages and Salaries
9.6

6.0
9.1
8.5

4.0
8.0
7.3

7.4

4.0 2.8 2.0


2.0
0.0
0.0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Year
Year

Fonte: Ministério de Saúde

6.9. Uma mudança significativa operando no sector da saúde é o papel crescente do sector
privado. Por muitos anos Cabo Verde encarou a prestação dos cuidados médicos como um bem
que deveria ser prestado exclusivamente pelo estado. Porém, os custos elevados de cuidados
médicos vêm aumentando, e a demanda de qualidade cada vez mais levaram o governo a
reavaliar sua proibição à pratica privada de prestação de cuidados médicos. Para além disso,
muitos médicos Caboverdianos argumentam que a proibição da prática privada torna o seu

42
trabalho em Cabo Verde muito menos atractivo e constitui uma exacerbação do cérebro. Em
1995, os médicos finalmente ganharam o direito de abrirem as suas próprias práticas privadas.
Até 2001, as despesas privadas com a saúde era de 16% do total das despesas de saúde em Cabo
Verde. Muitos aplaudiram esta nova estratégia como forma de aliviar a sobrecarga e a falta de
recursos no sector da saúde pública e melhorar a prestação de serviços de saúde para o pobre.
Porém, entrevistas com os funcionários locais e nacionais de saúde sugerem que o advento da
medicina privada pode também exigir cuidados adicionais para assegurar que os benefícios do
novo e duplo sistema sejam passados aos pacientes. Um problema existente que parece ser a
prática comum por alguns doutores é o de utilizar as instalações publicas, principalmente os
hospitais, para consultas dos pacientes privados para teste e para diagnósticos. Este hábito de
misturar a prática privada com a pública retira os recursos do sector de saúde pública e pode
significativamente ter um impacto na qualidade dos cuidados médicos prestados. Aqueles que não
podem pagar são frequentemente solicitados a esperar muito mais tempo enquanto os médicos
prestam atenção aos pacientes da sua prática privada, ou são-lhes dispensados menos tempo para
a sua consulta. É importante avaliar que medidas de protecção serão necessárias pôr em prática
para assegurar que as práticas médicas privadas sejam separadas da prestação de cuidados de
saúde pública.

6.10. Hoje, devido ao alto nível das despesas públicas com a educação e a saúde, as despesas
privadas dos agregados familiares tendem a ser baixas. O Quadro 6.4 apresenta estimativas
das despesas privadas com a educação e a saúde baseado nos dados do inquérito de 2001-02. Os
níveis globais de despesas são bastante baixos. Em média, os agregados nos últimos quatro
quintiles gastam menos que um por cento do seu consumo total em educação, e menos que dois
por cento na saúde. Para a educação, tirando as despesas com a educação secundária, gastos com
cadernos, uniformes, e livros representam as maiores despesas. Na saúde, as despesas com os
medicamentos representam mais que 70% do total das despesas privadas com a saúde para os
agregados nos primeiros quatro quintiles. As consultas representam uma parte mais elevada (14 e
24%) do total das despesas com a saúde entre os agregados nos quintiles mais rico (quarto e
quinto quintiles respectivamente).

Quadro 6:4: Despesa Privada com Educação e Saúde por quintile, Cabo Verde 2001-02
Gasto privado como%
Parte das despesas privada com a educação por categoria de consumo total
" Não zero
Pré- Todos os " para
Quintile Uniformes Livros Cadernos escolar Primário Secundário Super. Outro Agregados educação
Mais
pobre 10.7 13.8 29.4 14.1 16.0 16.1 0.0 0.0 0.6 1.3
2 13.9 7.8 38.6 7.5 9.6 19.7 0.0 2.9 0.6 1.4
3 8.8 7.7 19.8 12.7 4.8 43.9 0.0 2.3 0.8 1.7
4 14.2 11.6 21.5 10.6 5.8 21.8 13.8 0.8 0.7 1.3
Mais rico 7.7 3.1 4.0 9.3 8.2 24.1 37.7 6.0 1.5 2.8
Despesas
Enfermeiras / Outro Saúde Medicamen Todos " Não zero "
Quintile Hospital Fisioterapeuta Dentista Consultas Paramédico Inventa to agregados para saúde
Mais
pobre 0.1 0.0 2.2 5.5 4.1 0.0 88.1 1.2 3.3
2 0.8 0.1 1.5 4.2 4.4 1.2 87.9 1.2 2.9
3 0.8 0.0 1.3 7.2 3.0 2.0 85.5 1.3 2.7
4 1.6 0.0 3.2 13.8 4.8 3.2 73.5 1.6 3.0
Mais
rico 3.1 4.5 3.5 24.2 8.5 10.0 46.3 2.1 3.3
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

43
B. A NALISE DA INCIDENCIA DOS B ENEFÍCIOS DAS DESPES AS PUBLICAS NOS SECTORES
SOCIAIS

6.11. É importante apresentar uma análise comparativa das características distributivas das
transferências públicas. A Figure 6.1 mostra uma visualização da incidência e cobertura das
transferências públicas em Cabo Verde baseado nos dados do inquérito de 2001-02. À
semelhança do que foi feito para as transferências privadas no capítulo 4, três indicadores são
apresentados na Figura: a parte dos pobres que beneficiam da fonte de rendimento, a parte do
total do rendimento que chega ao pobre, e o tamanho-grandeza da fonte (que é proporcional ao
tamanho da bolha - uma bolha maior indica uma fonte maior). As despesas públicas com a
educação primária, secundária, e terciária (educação superior) incluído, são apresentadas à
semelhança do apresentado para as pensões (pensões de reforma, e pensões mínimas; veja
capítulo 5 para uma discussão). O inquérito inclui também informações sobre as bolsas (bolsas de
estudo), outros subsídios públicos (abonações e subsídios diversos), e a ajuda social (prestações
de assistência social pelas administrações publicas em género). Os principais resultados são os
seguintes:

• Tamanho-dimensão das várias transferências: a educação primária, secundária, terciária


(superior), a saúde, como também a pensão de reforma todos representam grandes
transferências públicas para os agregados. Os ganhos para a pensões mínima, as bolsas de
estudo, a ajuda social e outros subsídios públicos são muito menores.

• Cobertura: O eixo vertical na Figura apresenta dados sobre a parte dos pobres que
beneficiam das várias transferências. Para a educação primária e secundária como
também para saúde, as partes são muito altas. Para as outras transferências, as partes
estão na ordem dos 10-15% ou mais baixo. A cobertura para a educação superior entre os
pobres é virtualmente zero.

• Segmentação: O eixo horizontal mostra a parte dos vários tipos de transferências que
alcançam os pobres. Os indicadores sobre a segmentação são mais favoráveis para a
educação primária do que para a educação secundária e para a saúde, com virtualmente
nenhuma despesas na educação terciária (superior) que alcança os pobres. A parte das
pensões de reforma que alcança os pobres é igualmente baixa. Cerca de um terço do
dispêndio para o sistema de pensões mínima alcança os pobres mas os pobres continuam
obtendo uma parcela mais baixa do que a da população em geral. Aproximadamente 40%
dos gastos da ajuda social alcançam os pobres, mas o indicador de segmentação é muito
mais baixo para outros subsídios públicos e as bolsas de estudo.

• Erradicação da pobreza : Como no capítulo 4, a bolha grande no canto superior direito da


Figura 4.3 representa o tamanho de uma transferência perfeitamente segmentada que
seria suficiente para erradicar a pobreza. Agrupando todos os recursos dos vários tipos de
dinheiro transferido poderia percorre um longo caminho na redução da pobreza se todos
esses recursos fossem bem direccionados para os pobres (o que é difícil em alguns casos,
como para as pensões de reforma). No entanto, como só uma pequena parte das
transferências alcança o pobre, o seu impacto na pobreza é limitado. A Figure 6.4 ilustra
o aumento da pobreza caso as transferências fossem suprimidas dos agregados familiares
receptores. As pensões (por causa da sua dimensão) teriam o maior impacto reduzindo a
pobreza, seguido dos subsídios públicos, fundos para estudos, e a assistência social.

44
Figure 6.3: Incidência e cobertura das despesas públicas, Cabo Verde 2001 -02,

1,00

Educação
Primária
Alcance entre os Pobres

Transferência
0,70 Perfeita
Educação
Secundária

0,40 Saúde

Pensão de
Reforma

Pensão Mínima
Fundo Públicos
0,10 para Estudos

Assistência Social
Subsídios Publicos
Ensino Superior
-0,20
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00

Segmentando os Pobres

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

Figure 6.4: Aumento da pobreza caso as transferências públicas fossem suprimidas, 2001-02

Minimum Pension 0.94%

Reform Pensions 4.13%

Social Assistance 0.10%

Public Study Fund 0.40%

Public Subsidies 0.56%

0.00% 0.50% 1.00% 1.50% 2.00% 2.50% 3.00% 3.50% 4.00% 4.50%

Percentage Increase in the Headcount

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

45
CAPÍTULO 7
TRIBUTAÇÃO INDIRECTA E TARIFAS DE SERVIÇOS

O Imposto sobre Valor Acrescentado foi introduzido em 2004. Este capítulo faz uma
primeira apreciação do impacto deste imposto nos pobres. Considerando que muitos dos
produtos consumidos pelos pobres são afectados por este imposto, para que haja um
impacto positivo na redução da pobreza será importante assegurar essa mudança no lado
do consumo, e que os recursos adicionais gerados pela introdução do IVA sejam gasto s de
forma a favorecer os pobres. O capítulo apresenta depois evidências do impacto da
estrutura de tarifas (e os subsídios implícitos) para água e electricidade sobre a pobreza. Os
resultados aqui apresentados são preliminares e pretenderam simplesmente lançar o debate
sobre essa problemática.

A. O IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO, AS RECEITAS PÚBLICAS E O IMPACTO NA


POBREZA

7.1. Em 2004, o Governo implementou uma reforma alargada do sistema de tributação que
incluiu a introdução do IVA. De acordo com as projecções do FMI (2004), as receitas internas
deveriam aumentar em 20% do PIB em 2004 graças às reformas nos mecanismos de cobrança dos
impostos (incluindo a introdução do IVA), como também maiores dividendos das empresas
públicas, especialmente da empresa pública de autoridade aeroportuária. A taxa do IVA em
efectividade desde 1 de Janeiro de 2004 é de 15%, com algumas isenções assim como algumas
taxas mais altas para licores, comidas de luxo (como caviar) e veículos, entre outros. Como
apresentado no Quadro 7.1, a projecção da cobrança do IVA em 2004 é calculada em 4.32 bilhões
de ECV, representando um quarto de todas as receitas de impostos em Cabo Verde. Em
contrapartida, a previsão das receitas das taxas de importação foram calculadas 3.88 bilhões de
ECV para 2004, abaixo do nível alcançado em 2002 de 6.13 bilhões de ECV, em parte devido à
diminuição das tarifas de importação. O aumento da tributação dos bens de consumo e do
comércio entre 2002 e 2004 é de cerca de 1.2 bilhões de ECV.

46
Quadro 7.1. Receitas do Governo em Cabo Verde, 2001 -2004 [em bilhões de ECV]
2000 2001 2002 2003 2004
Programa 1 Prel. Programa 1 Rend. Proj.
/ /
Receitas, donativos e empréstimos 17.14 18.94 22.98 23.24 21.91 23.27 24.52
líquidos
Receitas internas 13.24 14.83 16.66 17.59 17.51 18.39 19.63
Receitas Fiscais 11.76 12.99 14.68 15.71 15.46 16.55 17.18
Receitas e impostos de lucro 3.91 4.79 5.13 5.54 5.30 6.08 6.34
Imposto do salário pessoal 2.95 3.07 3.20 2.97 3.79
Imposto dos lucros empresas 0.95 1.72 1.94 2.33 2.55
Impostos de consumo 1.89 2.10 2.47 2.50 2.50 2.69 5.99
Impostos em bens e serviços 1.89 2.10 2.47 ... 2.50 ... 1.67
de qual: impostos de petróleo 0.03 0.12 0.31 ... 0.22 ... 0.44
Imposto valor acrescentado 0.00 0.00 0.00 ... 0.00 ... 4.32
Impostos do comércio internac. 4.81 5.34 6.13 6.79 6.76 6.83 3.88
Outros impostos 1.16 0.76 0.95 0.87 0.90 0.94 0.97
Receitas Não Fiscais 1.48 1.54 1.76 1.33 1.51 1.58 2.19
Taxas e penalidades 0.37 0.34 0.32 0.41 0.36 0.47 0.64
Outras rendas de não fiscais 1.10 0.56 0.61 0.74 0.87 0.86 1.00
Transferências de lucro 0.01 0.65 0.83 0.60 0.29 0.70 0.55
Participação importante 0.00 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
doméstica
Rede emprestando 0.00 0.29 0.22 0.55 0.54 0.26 0.26
Concess ões externas 3.90 4.11 6.32 5.65 4.40 4.88 4.88
Concessões importantes 3.90 4.11 5.16 4.88 3.63 4.88 4.88
Orce apoio 0.00 0.00 1.16 0.77 0.77 0.00 0.00
Fonte: FMI (2004)

7.2. A parte do IVA e as taxas de importação pagas pelos pobres é de aproximadamente três
quartos do seu consumo desses bens. Utilizando as informações do consumo do IDRF 2001/02
as estimativas da parte do consumo de cada produto sujeito a tributação do IVA e outras taxas
estima-se que foi obtido um total de cobranças do IVA de 3.9 bilhões (isto comparado com a
projecção de 4.3 bilhões no Quadro 7.1 acima). Um método semelhante para as taxas de
importação dá-nos uma estimativa de cobrança de 3.5 bilhões de ECV (contra os 3.8 bilhões no
Quadro 7.1). A parte do IVA e impostos de importação pagos pelos pobres (como também a parte
dos bens consumidos pelos pobres) é representada nas Figuras 7.1 e 7.2, onde o tamanho das
bolhas é proporcional ao consumo. Globalmente, enquanto que o pobre consume 10.34% de
consumo total em Cabo Verde, eles pagam só 7.32% da conta do IVA e 8.13% das tarifas de
importação. Isto significa que o pagamento dos impostos pelos pobres é menor do que o
pagamento dos impostos pelos não pobres, mas mesmo assim, o montante dos impostos que os
pobres pagam é ainda elevada, essencialmente porque muitos dos bens são importados e
tributados. No caso de comida especialmente (o maior artigo em termos de impostos pagos), a
parte dos impostos indirectos pagos pelos pobres eleva-se a mais de 12%. Uma melhor apreciação
sobre os bens e a revisão das taxas poderia reduzir o peso que o IVA e o imposto de importação
impuseram aos pobres.

47
Figura 7.1: Grandeza do Pagamento e parte do IVA pagos pelos pobres.

0,18

0,16

0,14
Consumido pelos Pobres

Comida
0,12
Habitação

0,10
Álcool e Tabaco
Telecom
0,08
Entretenimento
Vestuário
0,06
Outros
Serviços
0,04
Bens de Consumo

0,02
Educação e Saúde

0,00
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16
% IVA pago pelos Pobres

Figura 7.2: Grandeza do Pagamento e parte dos impostos de importação pagos pelo pobre.

18,00%

16,00%

Comida
14,00%
Consumido pelos Pobres

Habitação
12,00%

10,00%
Álcool
Tabaco
8,00%
Vestuário
Telecom
6,00%
Bens de Consumo

4,00%
Outros Serviços
Entretenimento
2,00%

0,00%
0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00%
% taxa de importação pago pelos pobres

7.3. As estimativas baseadas no inquérito IDRF 2001/02 sugerem que a introdução do IVA
aumentou a percentagem da população na pobreza. O Quadro 7.1 apresenta medidas da
pobreza com e sem o IVA. As medidas sem o IVA são baseadas nas estimativas obtidas com o
inquérito de 2001-02. As medidas com o IVA são obtidas subtraindo do consumo do agregado o
que eles têm que pagar pelo IVA. As estimativas sugerem que o IVA pode ter levado a um
aumento da população na pobreza em 3.02 pontos percentuais, contra uma situação na qual os
agregados não teriam que pagar tal taxa. Claro está que este aumento é exagerado uma vez que os

48
impostos de importação foram reduzidos aquando da introdução do IVA. Mesmo assim, o grande
impacto na pobreza das sub- componentes do IVA (especialmente a tributação da comida) requer
uma revisão das taxas para testar se específicos bens são consumidos essencialmente pelos pobres
e assim poderem merecer uma isenção do IVA. Para além disso, porque os agregados mais ricos
tendem a consumir mais, e por conseguinte pagam mais impostos indirectos, o IVA (assim como
também as taxas de importação) contribuem para uma redução da desigualdade como medido
pelo índice de Gini de respectivamente 0.64 pontos percentuais e 0.43 pontos percentuais.

Quadro 7.2. Impacto do IVA na pobreza, Cabo Verde 2001-02


Álcool
Pobreza Base Comida Tabaco Habitação Vestuário Bens
Total 37.02% 38.50% 37.09% 37.40% 37.17% 37.17%
Gap da pobreza 13.50% 14.27% 13.53% 13.66% 13.56% 13.57%
Quadrado do Gap 6.37% 6.83% 6.38% 6.46% 6.40% 6.41%
% Consumo dos pobres - 14.76% 8.48% 12.02% 5.51% 4.84%
% IVA pago pelos pobres - 12.25% 8.48% 7.12% 5.48% 4.87%
Saúde Outros
Base Telecom Educação Lazer serviços Total
Total 37.02% 37.39% 37.05% 37.18% 37.11% 40.04%
Gap Pobreza 13.50% 13.67% 13.51% 13.56% 13.53% 14.99%
Quadrado do Gap 6.37% 6.46% 6.37% 6.40% 6.39% 7.24%
% Consumo dos pobres - 5.49% 3.59% 3.94% 3.22% 10.34%
% IVA pago pelos pobres - 4.67% 4.14% 3.97% 2.97% 7.32%
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

B. AS TARIFAS DAS U TILIDADES E CUSTOS DA ELECTRA


7.4. Em parte devido às condições geográficas, o fornecimento de água e serviços de
electricidade é caro em Cabo Verde, com a companhia nacional de água e electricidade
operando com prejuízos. Os agregados familiares obtêm água e electricidade principalmente do
único fornecedor: a Electra. Em 1999, a Electra foi privatizada e comprada por um consórcio
português (a Electricidade de Portugal e a Água de Portugal). A Electra fornece electricidade ao
país inteiro e água na Praia, no Mindelo, e na Boavista (também faz o tratamento de águas
residuais na Praia e no Mindelo.) O sistema de electricidade (e em certa medida a água) é
inerentemente caro porque a demanda é espalhada pelas várias ilhas e alguns dos lugares são de
difícil acesso o que complica a operação e a manutenção dos equipamentos de geração e
distribuição. Para além disso, os baixos níveis de procura em algumas ilhas limita as
possibilidades de se alcançar economias de escala e pela instalação de geradores que funcionam a
um custo mais baixo. Por exemplo, à excepção da Praia, São Vicente, e Sal, a demanda de
electricidade pode ser fornecida usando unidades de gás-óleo pequenos com custos operacionais
altos. Em 2002, as estimativas sugerem que a Electra teve prejuízos de operação de metade do
total da sua receita bruta. Esses prejuízos podem ter agora aumentado devido aos altos preços de
combustível. Aquando da privatização, as projecções apontavam para um “break-even” em 2005,
mas isso não parece provável de ser alcançado.

49
Quadro 7.3: Contas da Electra em milhões de ECV
2000 2001 2002 2003
(estimativa) (projecção)
Receitas de operação 1842 1961 2339 3455
Venda Electricidade 1328 1418 1735 2340
Venda de Água 436 465 523 928
Outra Renda de Operação 78 78 81 187
Custo total 2381 3055 3773 4545
Combustível 1058 1536 2001 2459 um
Pessoal 577 630 665 646
Amortizações 429 506 748 1081
Prejuízos de operação 539 1094 1434 1090
Renda excepcional 163 168 281 273
Total dos prejuizos 376 926 1153 817
Fonte: Electra, GOCV, pessoal do BM. Nota: 1: light fuel representa 40% de custos aproximadamente, e
diesel 60%.

7.5. A estrutura de tarifas para a electricidade e água para os clientes residenciais tendem a
favorecer os agregados que consomem menos. A parte de despesa com a água e a electricidade
entre usuários é aproximadamente 7% do total do consumo (4.12% para electricidade e 3.06%
para água) o que é relativamente importante. O Quadro 7.4 apresenta a estrutura das tarifas
existentes em Cabo Verde. Os agregados que consomem menos electricidade ou água pagam uma
taxa por kwh ou metro cúbico de água ligeiramente mais baixa taxa que os clientes que
consomem mais. As tarifas de electricidade foram aumentadas em 2002. As estimativas sugerem
que esse aumento elevou a parte da população na pobreza em de 0.16 pontos percentuais. Porém,
esse aumento não foi suficiente para a Electra cobrir os seus custos. Um aumento maior poderia
afectar ainda mais a pobreza. Assim, torna-se necessária uma análise detalhada do impacto da
estrutura das tarifas de electricidade e água nos pobres. (tal análise está em curso).

Quadro 7.4. Tarifas para utilizadores domésticos em ECV, Cabo Ve rde 2001/02 e 2003
ELETRICIDADE
<= 40 kWh > 40 kWh
Taxa doméstica 2003 16,5 (14,0) 20,5 (17,0)
(2001/02)
Estabelecimentos públicos 12,0 12,0
Monofásico Trifásico
Normal Urgente Normal Urgente
Custo de ligação 650 2.000 650 2.000
Custo médio fixo 45 (32) 45 (32) 45 (32) 45 (32)
ÁGUA
<= 6 m3 >6 e <= 10 m3 > 10 m3
Taxa doméstica 200 280 350
Custo de ligação 650 650 650
½” para ¾” 1” para 1½” 1½” para 2” > 2”
Custo fixo 65 195 260 650
Fonte: Electra. Nota: O consumo mínimo de electricidade é 10 kWh.

7.6. O acesso à electricidade e à água é muito mais alto entre deciles mais altos,
especialmente em termos de agregados que pagam as suas contas na Electra. O acesso à
electricidade e agua canalizada é elevado pelos padrões da Africana, mas um terço de todos os
usuários de água e electricidade nos últimos 8 deciles não pagam a Electra pelos serviços (de

50
acordo com os dados do inquérito de 2001-02). Se o não pagamento observado no inquérito é
devido á fraude, isso significa que a Electra perde em receitas cerca de 27% para a electricidade
residencial e 23% para a água. Uma investigação mais detalhada deveria ser levada a cabo com as
informações apropriadas por forma a melhor entender esta questão.

Quadro 7.5. Acesso da população ah Electricidade e Agua por Decile, Cabo Verde 2001-02,
Electricidade Água
Agregados que não Casas que não
Percentagem dos declaram pagamento declara m pagamento
Agregados com como parte do Parte do Agregado como parte do
acesso agregado com acesso agregado
Decile com acesso com acesso
1 0.207 0.444 0.083 0.4578
2 0.358 0.316 0.141 0.2766
3 0.406 0.416 0.158 0.4051
4 0.581 0.250 0.220 0.1818
5 0.523 0.258 0.251 0.2948
6 0.626 0.235 0.255 0.2549
7 0.692 0.244 0.388 0.1211
8 0.775 0.227 0.429 0.2075
9 0.839 0.186 0.576 0.1649
10 0.913 0.169 0.735 0.1796
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

7.7. Enquanto uma pequena parte da população beneficia do bloco invertido da estrutura
de tarifa para a electricidade, um benefício maior teria do bloco invertido da estrutura de
tarifa para a água. O Quadro 7.6 apresenta as despesas per capita como também por kilowatt-
hora de electricidade e metros cúbicos de água consumidos pela população por decile. Como já
anteriormente mencionado , a despesa total de água e electricidade é de cerca de 7% do total do
consumo. De acordo com os dados do inquérito, (que poderia ser comparado com dados da
Electra), só os agregados no primeiro decile consomem em média menos de 40 kwh de
electricidade por mês. Em contraste, os agregados nos primeiros sete deciles consomem em
média menos água que o mínimo actualmente estabelecido de 6 m3 por mês. Isto sugere que para
melhor segmentar os pobres, a estrutura de tarifa de água poderia ser mudada para taxas mais
baixas somente para os de baixos níveis de consumo. Uma alternativa a ser utilizada poderia ser
“o teste da média” para segmentar os subsídios aos pobres. Por exemplo, as informações sobre as
características do agregado poderiam ser utilizadas para diferenciar as tarifas. Tal modelo
identifica melhor os pobres do que o nível de consumo dos agregados. No entanto, os subsídios
para reduzir os custos de ligação dos novos agregados à rede (ou para facilitar a expansão da
rede) poderiam até serem melhores na segmentação dos pobres. Hoje, de entre a população com
acesso á electricidade, somente 20% são pobres. Para a água canalizada, a figura correspondente
é ainda mais baixa em 11%. Subsidiando o consumo de electricidade ou água aos agregados
actualmente ligados á rede é uma política que não favorece os pobres do que apoiar os agregados
que não estão ligados á rede a fazerem essa ligação.

51
Quadro 7.6. Despesas/consumo mensal de água e electricidade, Cabo Verde 2001-02,
Todos os Agregados Somente os Usuários
Electricidade
ECV Kwh/mes por % Consumo ECV Kwh/mes por % Consumo per
Decile per capita agregado per capita
per capita agregado capita
1 5.02 3.43 0.38% 43.88 29.92 3.33%
2 18.76 11.78 0.89% 76.61 48.12 3.56%
3 31.61 17.32 1.15% 133.67 73.23 4.86%
4 63.84 31.56 1.83% 146.17 72.25 4.21%
5 77.09 34.94 1.80% 198.40 89.92 4.64%
6 117.59 51.40 2.20% 245.59 107.36 4.58%
7 178.05 69.85 2.67% 340.05 133.41 5.11%
8 227.72 81.99 2.65% 380.41 136.97 4.37%
9 343.06 102.13 2.71% 502.40 149.56 3.95%
10 703.96 154.92 2.01% 927.14 204.04 2.59%
Média 176.67 55.932 1.83% 299.432 104.478 4.12%
Água
ECV m3/mes por % Consumo ECV % Consumo per
Decile per capita agregado per capita per capita m3/mes por casa capita
1 2.27 0.10 0.17% 50.62 2.29 3.61%
2 7.67 0.37 0.36% 74.83 3.60 3.54%
3 12.25 0.48 0.44% 131.03 5.10 4.70%
4 16.50 0.65 0.47% 91.67 3.62 2.63%
5 21.37 0.71 0.50% 121.19 4.02 2.83%
6 26.67 0.83 0.50% 140.52 4.36 2.62%
7 78.21 2.29 1.17% 229.41 6.72 3.42%
8 85.56 2.43 0.99% 251.51 7.15 2.89%
9 154.38 3.35 1.22% 320.95 6.95 2.51%
10 409.98 6.83 1.17% 679.35 11.32 1.85%
Média 81.49 1.80 0.70% 209.11 5.51 3.06%
Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

[Referências para o relatório serão fornecido]

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