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Seminário Internacional de Direitos

Humanos e Lutas por Reconhecimento

Anais do Iº Seminário Internacional de Direitos Humanos e Lutas por Reconhecimento


realizado na UFRN, Natal, Brasil em 2017

Organizadora:
Lore Fortes

1ª Edição

Natal, 2018
EDUFRN
APRESENTAÇÃO DO EVENTO

O I Seminário Internacional Direitos Humanos e Lutas por Reconhecimento surgiu da


parceria entre três departamentos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN:
Ciências Sociais, Comunicação Social e Serviço Social, seis professores desses três
departamentos, dois doutorandos e de três mestres (PPGCS-UFRN). Importante é ressaltar que a
participação conjunta desses profissionais ocorreu na organização geral do evento, desde a
elaboração do projeto inicial até a realização final nas Mesas Redondas e na coordenação dos
Grupos de Trabalho (GTs). Mais nove instituições parceiras contribuíram para garantir a
realização e o êxito do evento: University John Jay College of Criminal Justice - CUNY/NY –
EUA, Universidad los Libertadores – Bogotá – Colômbia, Universidade de Brasília – UnB,
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, USP, Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas – INEP, Universidade Federal Fluminense – UFF, Universidade de São Francisco –
EUA, Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Universidade de São Paulo – USP, Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas – INEP, Universidade Federal Fluminense – UFF.
O objetivo geral era criar espaços de intercâmbio de experiências e diálogo entre ativistas e
pesquisadores e pesquisadoras. Desde o início definiu-se que o evento deveria ser mais qualitativo
que quantitativo.

Dentro dessa perspectiva a dinâmica do evento teve como objetivo acadêmico a discussão e o
aprofundamento de trabalhos de pós-graduação em construção e de trabalhos científicos de
professores e professoras. Nesse contexto ofereceu a oportunidade de participação de estudantes de
graduação que poderiam participar como coautores ou ouvintes de debates em nível mais
aprofundado. Nessa dinâmica pretendemos aprovamos inicialmente Resumos Expandidos que
foram apresentados por ocasião do evento e no período de inscrição assumiu-se o compromisso de
serem publicados em forma de Anais do I Seminário Internacional Direitos Humanos e Lutas
por Reconhecimento.

O conteúdo dos trabalhos é de exclusiva responsabilidade dos autores.

Foram realizadas 65 apresentações de Resumos Expandido aprovados pelos quatro GTs: GT1:
Teorias Feministas: diferentes perspectivas e debates, GT2: Mídia e Direitos Humanos, GT 3 -
Questões Raciais e Direitos Humanos e GT 4 - Lutas LGBTI e Direitos Humanos.
Todos os Resumos Expandidos apresentados no evento foram divulgados por ocasião do evento
no site FACEBOOK: @SEMINARIODHLR

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I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DIREITOS HUMANOS E
LUTAS POR RECONHECIMENTO

PERÍODO DE REALIZAÇÃO: 08 a 10 de novembro de 2017


LOCAL: Campus da UFRN - Natal-RN

PROMOÇÃO DO EVENTO:
Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Saúde, Gênero, Trabalho e Meio Ambiente –
SAGMA-UFRN
Núcleo de Estudos Críticos em Subjetividades Contemporâneas e Direitos Humanos –
NUECS-DH-UFRN
Grupo de Estudos e Pesquisas em Trabalho, Ética e Diretos – GEPTED/UFRN

INSTITUIÇÕES PARCEIRAS:
Departamento de Ciências Sociais - UFRN
Departamento de Comunicação Social - UFRN
Departamento de Serviço Social - UFRN
Universidade de Brasília – UnB
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Universidade de São Paulo - USP
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas – INEP
Universidade Federal Fluminense – UFF
Universidade San Francisco – EUA
Universidade John Jay College of Criminal Justice - CUNY/NY– EUA
Universidad de Bogotá Jorge Tadeo Lozano – Colômbia

COORDENAÇÃO GERAL
Profa. Dra. Lore Fortes - UFRN
Prof. Dr. Alípio de Sousa Filho - UFRN

COMISSÃO ORGANIZADORA
Professores(as)
Prof. Dr. Josenildo Soares Bezerra - UFRN
Prof. Dra. Fernanda Carrera - UFRN
Profa. Dra. Aline Lucena - UFRN
Profa. Dra. Daiany Dantas – UERN
Profa. Dra. Miriam de Oliveira Inácio - UFRN
Profa. Dra. Anna Christina F. Barbosa - UNEB
Doutorandos(as) e Mestres
Andressa Lidicy Morais Lima – UnB
Lady Dayana Oliveira - UFRN
Arkeley Xenia de Sousa - UFRN
Alyane Almeida de Araújo – UFRN
Erika Oliveira Maia Batalha - UFRN
MarllaSuéllen de Mello Dantas - UFRN
Rayane Dayse da Silva Oliveira – UFRN

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COMISSÃO CIENTÍFICA
Professores
Josenildo Soares Bezerra - UFRN
Fernanda Carrera - UFRN
Aline Lucena - UFRN
Daiany Dantas – UERN
Miriam de Oliveira Inácio - UFRN
Anna Christina F. Barbosa - UNEB
Luciana Xavier – UFF
Patricia Tovar – John Jay College of Criminal Justice - CUNY/NY
Doutorandos(as) e Mestres(as)
Andressa Lidicy Morais Lima –
UnB
Lady Dayana Oliveira - UFRN
Arkeley Xenia de Sousa - UFRN
Alyane Almeida de Araújo – UFRN
Erika Oliveira Maia Batalha - UFRN
Marlla Suéllen de Mello Dantas - UFRN
Rayane Dayse da Silva Oliveira – UFRN

TESOURARIA
Andressa Lidicy Morais
Lima – UnB
Lore Fortes – UFRN

PROGRAMAÇÃO

PERÍODO DE INSCRIÇÕES NO EVENTO: 01.09 a 31.09.2017

CREDENCIAMENTO E LOCAL DO EVENTO


Campus Universitário da UFRN
Local de inscrição:
1) Auditório I do Depto de Educação Física (só no dia 08 dez, conferência de
abertura CCHLA –
2) Sala de Convivência
PROGRAMAÇÃO

CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Profa. Dra. Lia Zanotta Machado – Profa. titular de Antropologia (UnB)
Data: 08.11.2017
Hora: 9h
Local: Auditório Educação Física da UFRN (reservado)
Título da Conferência: Gênero e Diversidade Cultural. Lutas por reconhecimento.

CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO
Profa. Dra. Cecília Mac Dowell Santos

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Data: 10.11.2017
Hora: 10h
Local: Auditório Educação Física da UFRN (reservado)
Título da conferência: "Reconhecer Interseccionalidades e/nos Direitos Humanos:
Possibilidades e Desafios das Lutas Feministas, Anti-Racistas e LGBTI"
Local: Auditório do Depto. de Educação Física da UFRN

MESAS REDONDAS

Mesa Redonda 1: Movimentos de Mulheres e Lutas por Reconhecimento: trajetórias


e processos sociais
Coordenação: Profa. Dra. Lore Fortes – DCS-UFRN
Data: 08/11 – 19h
Loca:: Auditório A – CCHLA (reservado)
Palestrantes:
1. Andressa Lidicy Morais Lima (UnB)
2. LainaCrisóstomo (ONG #TamoJuntas)
3. Marina Ganzarolli (USP; Cebrap; DeFEMde)
4. Anna Christina Barbosa (UNEB)

Mesa Redonda 2: Direitos humanos, lutas por reconhecimento e representações na


mídia
Coordenação: Aline Lucena – DECOM/UFRN
Data: 09/11 – 8h
Local: : Auditório E – CCHLA (reservado)

Palestrantes:
1. Aline Lucena –DECOM/UFRN
2. Daiany Dantas –DECOM/UERN
3. Patrícia Lora León – UCB - Universidade Central de Bogotá - Colômbia

Mesa Redonda 3: Questões raciais em Direitos Humanos


Coordenação: Prof. Dra. Fernanda Carrera - UFRN
Data: 09/11 – 10h
Local: : Auditório E – CCHLA (reservado)

Palestrantes:
1. Patricia Tovar – John Jay College of Criminal Justice - CUNY/NY
2. Fernanda Carrero–DECOM/UFRN
3. Luciana Xavier - UFF

Mesa Redonda 4: As Lutas LGBTI por Reconhecimento e Direitos


Coordenação: Prof. Dr. Alípio de Sousa Filho – UFRN
Data: 09/11 – 19h
Local: Auditório do Depto. de Educação Física da UFRN

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Palestrantes:
1. Alípio de Sousa Filho (UFRN)
2. Rogério Diniz Junqueira (INEP)

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GRUPOS DE TRABALHOS

Datas: 08, 09 e 10/11


Todos os GTs serão realizados no período da tarde, das 14h às 18h.
Locais: serão divulgados pela coordenação dos GTs.

GT 1: Teorias Feministas: diferentes perspectivas e debates

Coordenação: Andressa Lidicy Morais Lima (UnB) e Anna Christina F. Barbosa (UNEB),
ArkeleyXenia de Sousa (UFRN), AlyaneAlmeida de Araújo (UFRN)
Local: Auditório E – CCHLA

O Grupo de Trabalho tem como objetivo articular e promover reflexões acerca


das temáticas das mulheres, gênero, movimentos de mulheres e feminismos em
múltiplos contextos com ênfase nas Teorias Feministas. Desse modo, nosso GT
pretende acolher trabalhos que visem dar relevo às diferentes formas de agência e
organização política dos movimentos de mulheres, bem como o desenvolvimento das
Teorias Feministas, considerando a história do feminismo e sua revisão sistemática,
isto é, desde o surgimento como crítica ao sistema de dominação masculina na virada
do século XVIII para o século XIX até as lutas sociais que vem ganhando destaque na
esfera pública brasileira do presente. Assim, a partir de uma perspectiva
transdisciplinar, o GT propõe reunir pesquisas de diferentes áreas do conhecimento,
bem como incentivar os diálogos acadêmicos e ativistas, considerando aqui a
pluralidade das mulheres e seus diferentes lugares sociais. Além disso, cabe ressaltar a
perspectiva da interseccionalidade, isto é, o papel dos marcadores de raça/etnia,
classe, geração e gênero para compreender as especificidades das mulheres na
contemporaneidade.

GT 2: Mídia e Direitos Humanos

Coordenação: Prof. Dr. Josenildo Soares Bezerra (UFRN) Profa. Dra. Aline Lucena e
Lady Dayana Oliveira (Doutoranda - UFRN)
Local: Auditório “C”

A agenda da representatividade no campo midiático vem aumentando nos


últimos anos, sobretudo pelas possibilidades tecnológicas para ampliação das vozes
insatisfeitas e questionadoras. Estas, anteriormente emudecidas pela “espiral do
silêncio”, conseguem por meio de novos dispositivos técnicos expor a inadequação da
representação de si mesmas em relação àquelas imagens que estampam os diversos
meios e veículos de comunicação. Amparadas pelos artifícios da cibercultura e da
potência fortalecida dos movimentos sociais, estas vozes reivindicam para si o direito
sobre seus corpos, e é a partir do manuseio e da apropriação destes recursos que

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modificam os padrões de experiência e os sistemas de poder anteriormente
centralizados nos meios de massa.
Embora, portanto, o campo da produção midiática esteja sempre em contato
com investigações e pesquisas qualitativas e quantitativas a respeito dos indivíduos
consumidores de conteúdo, as implicações para as escolhas imagéticas de
representação ainda parecem estar subjugadas a padrões de estereotipia e
padronização em virtude da preocupação ainda majoritária com hábitos de consumo
tradicionais e audiência em detrimento da satisfação do sujeito com o qual se
comunica e do papel social imbricado na prática comunicacional. Nesse sentido, faz-se
necessário um aprofundamento das discussões sobre representatividade e
comunicação em suas mais diversas manifestações profissionais, como na prática
publicitária, jornalística, de relações públicas e entretenimento, buscando
compreender os processos e os sentidos que permeiam suas escolhas discursivas.
Admitindo que não há comunicação sem interlocutor, os estudos em comunicação
devem necessariamente reconhecer as diversas alteridades, sobretudo no âmbito das
discussões sobre identidade de gênero, problematizando as noções de feminino e
masculino, dos gêneros não-binários e da transgeneridade, compreendendo seus
embates, suas lutas e suas demandas de representação midiática. Assim, faz-se
necessário ampliar o debate sobre os lugares de fala, os saberes complexos e as
responsabilidades sociais da área da comunicação, uma vez que em seu seio
profissional reside uma constante negociação entre interesses mercadológicos e o
reconhecimento do poder de mediação para imagens, comportamentos e hábitos de
um corpo sociocultural.
O GT Mídia e Direitos Humanos, portanto, busca abarcar trabalhos que versem
sobre a problemática do gênero no âmbito comunicacional, com vistas à compreensão
dos discursos, das escolhas imagéticas, da representação, dos trâmites e dos processos
de produção midiática que dialogam com as questões de gênero e apontam para uma
complexificação dos saberes da área. Nesse sentido, busca contribuir tanto para a
ampliação das consciências a respeito do campo comunicacional, como para as
perspectivas de inclusão de pautas mais plurais para a pesquisa científica em
comunicação.

GT 3: Questões Raciais e Direitos Humanos

Coordenação: Profa. Dra. Fernanda Carrero – UFRN


Prof. Dr. Paulo Dantas – UERN
Profa. Dra. Aline Lucena- UFRN
Local: Auditório no setor II

As discussões sobre direitos humanos inevitavelmente perpassam em algum


grau na superfície e no aprofundamento das questões raciais. Como fruto da nossa
história e do nosso passado, a reivindicação dos direitos humanos surge como a

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“esperança de um horizonte moral”, pautada, sobretudo, pela noção de inclusão e de
reconhecimento de sujeitos que viram usurpados de si o direito de existência. Nesse
sentido, faz-se necessária uma compreensão do âmago das lutas por direitos humanos
em geral, e suas relações de embate com as fontes e os meios de propagação do
racismo, especificamente.
No debate em torno da questão racial, portanto, o apelo, por exemplo, à
naturalidade do corpo negro trata de uma construção ideológica de uma crítica às
relações de poder. E os partidários dessa concepção acreditam que, por meio da
politização da consciência racial, poderão chamar a atenção para a importância da
negritude e de ações reivindicatórias, que tenderão a diminuir as distâncias sociais a
eles impostas. Uma estratégia que se relaciona a uma demanda por reconhecimento
de uma autoimagem construída positivamente, em um contexto de segregação étnico-
racial e social. Dentro dessa perspectiva, as lutas pelo reconhecimento estético são
formas de construção política de afirmação e de reivindicação por direitos humanos.
Nesse contexto, diversas demandas surgem e se transformam, sobretudo
porque há relações evidentes com propostas progressistas de emancipação política,
que são ainda fundamentais em um mundo, marcado e dividido, ao mesmo tempo,
por arcaicas e novas formas de opressão que solicitam diferentes práticas e
manifestações de interesses políticos unidas às diferentes práticas, também, de
resistência negra. Há, portanto, estratégias de participação em alianças afetivas,
demarcação de fronteiras híbridas para a diferença cultural, propostas de ocupação de
espaços públicos, de educação e de mudança social. São estratégias que tensionam e
complexificam diferentes instâncias culturais em momentos de transformação social e
histórica.
O GT Raça e Direitos Humanos busca, portanto, abarcar estudos que deem
conta destas pluralidades de questões envolvendo a luta por reconhecimento racial e
os direitos humanos, visando a compreensão das demandas raciais no campo
midiático, sociocultural, político e econômico. Sendo assim, acolhe trabalhos que
versam sobre questões estéticas e da corporeidade negra; políticas públicas de
inclusão; consumo e construção da identidade negra; questões de gênero e raça;
violência e genocídio do povo negro; mídia e opressão; encarceramento da população
negra; dentre outras problemáticas importantes para o entendimento do contexto
racial, das suas materialidades e especificidades e dos esforços empreendidos em prol
dos direitos humanos.

GT 4: Lutas LGBTI e Direitos Humanos

Coordenação: Profa. Dra. Miriam de Oliveira Inácio (Docente - Departamento de


Serviço Social /UFRN)
Erika Oliveira Maia Batalha (Mestranda em Ciências Sociais/UFRN)
MarllaSuéllen de Mello Dantas (Mestranda em Ciências Sociais/UFRN)

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Rayane Dayse da Silva Oliveira (Mestranda em Ciências Sociais/UFRN)
Local: Sala A4 – Setor II (Auditório das Ciências Sociais)

O Grupo de Trabalho Lutas LGBTI e Direitos Humanos tem por objetivo a


realização de um espaço de debate e diálogo entre pesquisadoras e pesquisadores que
estudam as diferentes vertentes de lutas por reconhecimento no contexto LGBTI e
trabalham com a temática de Direitos Humanos nos domínios práticos das relações de
sexualidade e gênero. Nesse sentido, o GT busca abarcar trabalhos embasados
teoricamente pela literatura da filosofia do reconhecimento, estudos da sexualidade e
gênero e teorias críticas e culturais que evidenciam a análise dos Direitos Humanos.
Portanto, propomos viabilizar a partir desse GT a construção de um espaço para
discussão sobre pesquisas que evidenciem a luta por direitos LGBTI e Direitos
Humanos, pensando sobre a pluralidade de práticas sexuais, de gênero e as múltiplas
lutas por reconhecimento e direitos mobilizadas politicamente como lutas sociais.

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SUMÁRIO l

TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 01


Teorias Feministas: Diferentes Perspectivas e Debates 13

A seletividade do movimento feminista clássico brasileiro 13


O feminismo no corpo da mulher trans 15
Feminismo e a luta contra o sistema patriarcal-capitalista 18
Émile Durkheim e Karl Marx: A Questão da Mulher na Sociologia Clássica 20
Divisão Sexual do Trabalho: buscando chaves de sentido 23

Ascensão conservadora e desafios ao feminismo no Brasil atual 26


Mãe Trabalhadora: os efeitos das tarefas domésticas na vida profissional 28

Idosas e Assentamentos Rurais: Vivências de um Grupo Terapêutico 31


Arte urbana: a construção de narrativas sobre a imagem da mulher nas ruas de
Fortaleza 33
Mulheres invisíveis no campo da Ciência & Tecnologia: o resgate de uma
pioneira 35
MITOS E MITOLOGIAS DA CONTEMPORANEIDADE: O Lugar Da Mulher Nas
Narrativas Cinematográficas De Distopias Antropotecnológicas 38
Discursos Feministas no Cinema Brasileiro Contemporâneo: Olhares sobre a
obra das cineastas Laís Bodansky e Lúcia Murat 40
Think Olga: feminismo interseccional em rede no combate ao assédio
sexual 43
A luta pelo fim da violência contra a mulher no Brasil 45
Violência Contra a Mulher: O gênero e sociedade como agentes
responsáveis 48
Reconhecimento Jurídico do Direito ao Aborto no STF: o habeas corpus
124.306-RJ 50
A Advocacia de Causa Feminista no Brasil: Novas sensibilidades Morais a partir
da perspectiva interseccional 52
Contribuições dos grupos reflexivos com homens autores de violência
doméstica 56

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TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 02
Mídia e Direitos Humanos 58

Afros e Afins: Feminismo Interseccional e Identidade Negra 58


Espelhos, Vácuos e Vozes: Um ensaio sobre o insulto racial 59
Criminalização da Juventude na Cobertura Televisiva Policial 63
Comunicar é um direito: movimentos populares e contra hegemonia 65
Mídia e Feminicídio: o público e o privado no caso Mayara Amaral 67

Empoderamento feminino na campanha #LikeAGirl da Always 70


O machismo no futebol brasileiro pela ótica do The New York Times 73
Mulher e cerveja: empoderamento feminino e o reposicionamento da cerveja
Itaipava 76
Controle Social e Incidência: o monitoramento do programa Patrulha da
Cidade 79
De vagabundo ninguém tem pena: O discurso de ódio no programa Patrulha da
Cidade 81
A mídia e o medo: o jornalismo sensacionalista do Patrulha da Cidade 84
Tá achando que travesti é bagunça?; A cobertura de casos de transfobia em
Natal pelo site bichanatalense.com 86
Um estudo de comentários em portais de informação sobre a questão da
diversidade sexual 90

TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 03


Questões Raciais e Direitos Humanos 93

O paralelismo entre a democracia brasileira e os direitos do povo negro 93


O Conservadorismo, a Guerra às Drogas e o Genocídio da população negra 95
Experiências femininas (negras) em primeira e terceira pessoa: conexões 98
Ciganos Sedentários no Ceará e Imagens Estigmatizantes 103
Educação em direitos humanos e o ensino de história antirracista no Brasil 105

A importância de discutir as relações étnico-raciais na educação infantil 108


Racismo e Mídia: O marketing das lojas Riachuelo e suas consequências 112

11
Empoderamento crespo e direitos humanos das negras: análise da linha Tô de
Cacho 114
O mercado afetivo de um marombeiro pardo na cidade de Mossoró – RN 117

TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 04

Lutas LGBTI e Direitos Humanos 121

Preconceito contra homossexuais no mercado de trabalho 121


A relação entre precarização do trabalho e LGBT’s nas centrais de
teleatendimento 123
Gênero e sexualidade: concepções e práticas no espaço escolar 126
Visibilidade e reconhecimento da existência LGBT no espaço escolar 129
Tecnocontroles da subjetividade: o regime farmacopornográfico e a produção
de estereótipos em filmes interraciais gays 132
Representatividade LGBTI e “comusicação cidadã” D’as Bahias e a cozinha
mineira 135
Reconhecimento Sexual: Movimento LGBT e Ativismo Queer 137
Judiciário e cura LGBT: do retrocesso à resistência na luta por
reconhecimento 141
Papel do direito e a importância da persistente luta do movimento LGBT 143

Mostra Fotográfica 146

27 anos de luta 147


O belo disforme 153
A força e a beleza da juventude feminina negra 159

12
TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 01
Teorias Feministas: Diferentes Perspectivas e Debates
COORDENADORAS: Profa. Msa. Andressa Lídicy Morais Lima (UnB), Profa. Dra.
Anna Christina F. Barbosa (UNEB), Arkeley Xenia de Sousa (UFRN), Alyane Almeida
de Araújo (UFRN)

08.11.2017
Título do Trabalho: A seletividade do movimento feminista clássico brasileiro
Autora: Laina Crisóstomo Souza de Queiroz (ONG TamoJuntas)

RESUMO

A ideia central do texto é apresentar as principais conquistas do movimento feminista


clássico brasileiro e suas interfaces nas questões de raça. A pesquisa foi realizada a
partir da bibliografia existente que mostra os atuais números da violência e como o
patriarcado e misoginia incidem mais gravemente sobre os corpos das mulheres negras,
pelo próprio histórico escravagista brasileiro, mas pela falta de diversidade e inclusão
no movimento feminista.

PALAVRAS-CHAVE: Movimento Feminista Clássico; Questões de Raça; Brasil.

RESUMO EXPANDIDO

O texto pretende discorrer sobre a história do movimento feminista clássico que


participa do processo de luta histórica na conquista de direito das mulheres como o
Direito ao Voto em 1932, Estatuto da Mulher Casada em 1962, Lei do Divórcio em
1977, Constituição Federal de 1988, Ratificação da Convenção de Belém do Pará em
1994, Código Civil de 2002, Reforma do Código Penal Brasileiro especialmente nos
crimes sexuais em 2005, Lei Maria da Penha em 2006, Emenda Constitucional do
Divórcio em 2010, Lei Carolina Dieckman em 2011, Lei do Feminicidio em 2015, PEC
das Domésticas 2015, entre tantas outras. O objetivo principal da presente pesquisa é
refletir sobre a conquista de direitos das mulheres e o recorte de raça. Algumas
perguntas precisam ser respondidas, afinal como é possível lutar e conquistar o direito

13
ao voto em 1932 no pós abolição e somente em 2015 se garantir o tratamento digno às
trabalhadoras domésticas? Essas continuaram a servir de mucamas nas novas casas
grandes enquanto as feministas clássicas lutavam pelo seus egoístas direitos? Como é
possível analisar as ordenações filipinas para lutar pelo Estatuto da mulher casada, pela
Lei do Divórcio e posteriores legislações mais igualitárias, mas não perceber que a
mesma legislação entende que o corpo das mulheres negras não é dela e isso não alterar,
afetar ou repensar a luta? As pesquisas foram realizadas em bibliografia atual de
especialistas que dialogam sobre a temática e também textos de portais de mulheres
negras e comunicação negra que tem colocado o dedo na ferida e mostrado que não é só
vestir lilás que gera feminismo e sororidade, mas sim é a real solidariedade e
especialmente respeito ao lugar de fala que garantem o verdadeiro sentido ao
feminismo.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. O voto de saias: a Constituinte de 1934 e a


participação das mulheres na política. Estudos avançados, v. 17, n. 49, p. 133-150,
2003.
BIANCHINI, Alice; GOMES, Luiz Flávio. Feminicídio: entenda as questões
controvertidas da Lei 13.104/2015. 2015.
DIAS, Maria Berenice. A mulher no Código Civil. Portal Jurídico Investidura, 2015.
. Divórcio Já!: comentários à emenda constitucional 66 de 13 de julho de
2010.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.
AMARAL, ISABELA GUIMARÃES RABELO DO. Inferiorizando mulheres no
período
imperial brasileiro: a influência do direito. 2011.
DO PARÁ, Convenção de Belém. Convenção Interamericana para prevenir, punir e
erradicar a violência contra a mulher. GÊNERO E TRÁFICO DE MULHERES, p. 147,
2015.
LEITE, Maria Suzana Souza. LEI MARIA DA PENHA. Maranhão, 2013.
TODON, Sandra Mara. A constituição e a dissolução das entidades familiares no Brasil
colonial. Revista Jurídica Cesumar-Mestrado, v. 2, n. 1, p. 357-383, 2007.

MINI CURRÍCULO
Laina Crisóstomo, Advogada feminista, feminista interseccional, ativista pelo direito
das mulheres e presidenta da ONG TamoJuntas que presta Assessoria multidisciplinar
para mulheres em situação de violência. Especialista em Gênero e Raça, pós-graduada
em Violência urbana e insegurança desde um enfoque de gênero e mestranda em
Ciências Criminais. Escolhida no ano de 2016 como mulher inspiradora pelo site Think
Olga e em 2017 para a lista Under 30 da Revista Forbes Brasil pelo trabalho social que
desenvolve com mulheres em situação de violência.

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Título do Trabalho: O feminismo no corpo da mulher trans
Autora: Diana Dayane Amaro de Oliveira Duarte

RESUMO

Este trabalho de caráter bibliográfico é resultado de questionamentos produzidos através


da conclusão da dissertação de mestrado da autora em questão. Neste breve relato foi
abordado uma problemática acerca do feminismo no corpo mulher trans e como a
produção da existência de um corpo dissidente pode também produzir fissuras dentro
das lutas centrais do feminismo. Com esse objetivo foi utilizado referência teórica as
análises de discurso de Foucault, o corpo como processo de intervenção prostética de
Paul Beatriz Preciado e a teoria da performatividade ressignificada por Judith Butler.

PALAVRAS-CHAVE: Feminismo, Transexualidade, Sexualidade.

RESUMO EXPANDIDO

Como o feminismo se expressa no corpo da mulher transexual? Essa foi uma


pergunta gerada (e que hoje é gestada) por meio da conclusão da dissertação de
mestrado da autora deste trabalho. A dissertação teve como título: “Arte dos Parangolés,
confetos e resistência a heteronormativadade: uma pesquisa sociopoética.” O processo
de encerramento de uma pesquisa é, às vezes, oposto ao sentido de qualquer conclusão.
Ao estudar sobre resistência à heteronormatividade, a questão nunca foi circunscrita a
existência de um corpo despojado dos processos de sexualidade dominante. O poder e a
sexualidade estão intimamente relacionados, de modo tal que não se pode conceber uma
sexualidade subversiva e emancipada, livre de qualquer discurso normatizador. A
questão central da pesquisa foi, no entanto, como resistir aos sintomas de inferioridade
produzidos pela heteronormatividade contra os sujeitos que não preenchem as normas
de inteligibilidade do corpo. Com esse objetivo, utilizamos a abordagem metodológica
da Sociopoética de modo a fazer emergir, pelas técnicas artísticas do parangolé de Hélio
Oiticica, o fazer desse corpo fugidio e movediço por meio do grupo co-pesquisador. Um
fazer nem sempre consciente, mas que trouxe a cena o feminismo que não se encerra no
corpo da mulher biológica e nem se inicia nele, mas traz um sentido escapatório às
identidades sem necessariamente anulá-las. Abro aqui um parêntese aqui para esclarecer
como se faz a pesquisa Sociopoética. Esta se constitui por meio de cinco princípios

15
básicos norteadores. A formação do grupo pesquisador que deverá incluído em todos os
momentos da pesquisa, da escolha do tema gerador as análises dos dados. A pesquisa
deverá valorizar grupos não centrais, ou seja, aqueles que habitam na margem, que
sofrem os processos de sujeição, que produzem resistência, pois eles criam múltiplas
formas de compreender o mundo. Em terceiro está a consideração do conhecimento
como expressão emocional e intuitiva que age sobre o corpo todo, essa busca pela
produção de sentidos as linhas de fuga à universalidade racional que a tudo tenta
capturar. Assim, no campo da pesquisa, deve ser construído possibilidades criadoras
que façam expressar esses conhecimentos no terreno do inconsciente. Por último a
Sociopoética revela um compromisso ético, espiritual e político para a pesquisa, pois
não se coloca apenas no mundo acadêmico de modo a desconsiderar formas de habitar e
interpretar o mundo, mas busca essas formas como conhecimentos que devem penetrar
a academia, revelando devires inconstantes e imprevisíveis. biológica e nem se inicia
nele, mas traz um sentido escapatório às identidades sem necessariamente anulá-las.
Disto isso, é importante ressaltar que o movimento feminista foi construído a partir da
busca por uma modificação na estrutura interna da sociedade. Uma sociedade cuja
participação das mulheres na atividade política, científica e econômica era bastante
reduzida e depreciada. As vitórias políticas carregam seus sucessos e escorregam nos
seus excessos. Como toda luta política, o feminismo também ultrapassou os objetivos
aos quais se propôs. Se havia uma demanda por maior participação, como por exemplo,
a busca pela extensão do voto como pleno exercício de cidadania e reconhecimento de
direitos para a mulher reconhecido pelo próprio Estado, haveria de surgir um campo
científico de análise completamente novo, um campo que questionava a própria noção
de sujeito universal. O homem, branco e heterossexual tornou-se ponto de partida da
crítica feminista. A autoridade da posição masculina e sua constituição como sujeito
universal já não poderia ser fundamentado como essência reguladora de todos os corpos
ou mesmo premissa para análises daquilo que divergia dessa centralidade. Sobre esse
tema, Butler (1990) fará um exaustivo aparato teórico acerca da trajetória do feminismo
enquanto corrente epistemológica de crítica a esse sujeito universal. Ela destaca também
que, embora a teoria feminista considere a unidade da categoria de mulheres, acaba
introduzindo uma divisão nesse sujeito feminista por não conseguir romper com os
postulados universalistas aos quais criticaram. Ao contrário do que apregoa a
sororidade, a fragmentação da teoria feminista não representa necessariamente um
fracasso no campo político, mas demonstra que a multiplicidade é capaz de criar formas

16
de expansão da luta feminista para além de uma unidade que se transformou, muitas
vezes, em formas veladas de subcategorização do feminino não hegemônico. É
justamente por meio do conceito de performatividade desenvolvido por Judith Butler,
que o gênero será compreendido como sendo desenvolvido a partir de atos repetitivos
garantindo, portanto, a sua inteligibilidade. As afirmações de Butler ao teorizar o gênero
como sendo uma construção totalmente independente do sexo, este último passa a ser,
desse modo, livre de amarras, de tal forma que o homem masculino poderia se encontrar
num corpo feminino, como a mulher feminina poderia se encontrar num corpo
masculino. A problemática da análise do corpo e da constituição do gênero e da
identidade, não se dão apenas no campo do discurso, da metafísica da substância ou da
psicanálise, mas também no nível das tecnologias do corpo, das modificações
prostéticas. De acordo com Preciado (2011), há uma sexopolítica aliada ao biopoder que
territorializa os órgãos genitais, definindo suas funções e seus desejos. O que ele propõe
não é o desfazimento das marcas do gênero ou da heterossexualidade, mas as
modificações no posicionamento de enunciação. A mulher transexual, sobretudo
aquelas que possuem os meios necessários de acesso as tecnologias de mutabilidade
corpórea, mesmo sem necessariamente fazer parte de algum movimento político
feminista, produz dentro dessas correntes teóricas o questionamento de suas fronteiras,
denuncia a fragilidade das categorias dos corpos e anuncia a precariedade de uma
verdade universal. É preciso, portanto, compreender como o feminismo é expressado no
corpo da mulher transexual, quais são seus deslocamentos e desterritorializações. Quais
são suas propostas dentro de um contexto marcado por estigmas e exclusões e quais os
efeitos políticos e epistemológico para a teoria feminista. O feminismo teve como
estopim a crítica de uma sociedade dominada por homens e pelo sentido da
masculinidade e é justamente a potência de deslocamento da crítica que produziu
dissidências importantes no feminismo. Sem nunca tentar apagar a representação ou
anulá-la, as problematizações fizeram repensar as táticas de luta e contribuir para a
atuação dos demais espaços variados, ampliando o sentido da identidade e da
sexualidade.

REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Lourdes. A contribuição da crítica feminista à ciência. Revista de Estudos
Feministas Florianópolis. Vol. 16, n. 1, Jan./Abr. 2008.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

17
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In Rabinow P e Dreyfus. Foucault uma
trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
GAUTHIER, Jacques Zanidê. Notícias do rodapé do nascimento da sociopoética.
Mimeografado, 2003. PRECIADO, Beatriz. Manifiesto contra-sexual: prácticas
subversivas de identidad sexual.Madrid, Pensamiento Opera Prima, 2002.

MINI CURRÍCULO
Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte - UERN (2013). Pós-graduanda Stricto-senso (Mestrado) pela UERN.

Título do Trabalho: Feminismo e a luta contra o sistema patriarcal-capitalista


Autores: Janine Maria Araújo de Oliveira (UFPB), Luciana Batista de Oliveira
Cantalice (UFPB) e Maria Aparecida Ramos Meneses (UFPB)

RESUMO

A proposta deste ensaio circunscreve em analisar o movimento feminista classista a fim


de compreender como a teoria da práxis revolucionária (o marxismo) é incorporada por
esta organização política e social na luta contra o sistema patriarcal-capitalista. Desse
modo, destacamos que a luta do movimento feminista classista pauta, para além de
reinvindicações imediatas, o fim da sociedade baseada na exploração-dominação dos
seres genéricos na perspectiva de construção de uma sociedade livre das amarras das
opressões.

PALAVRAS-CHAVE: Feminismo classista. Patriarcado. Capitalismo.

RESUMO EXPANDIDO

O presente trabalho aborda um ensaio sobre o movimento feminista em sua vertente


classista e sua bandeira de luta pelo fim do sistema patriarcal articulado com a supressão
do capitalismo. O patriarcado constitui-se enquanto um sistema ideo-político baseado
em um pacto social, sexual e histórico (SAFFIOTI, 2015) que corporiza nas relações
sociais e que, inserido no processo de organização social, instaura a desigualdade de
gênero nas relações sociais e, consequentemente, a dominação e submissão das
mulheres pelos homens consistindo-se como uma máquina (SAFFIOTI, 2015) por
atingir a sociedade em sua totalidade, ou seja, tanto na vida privada, como a família,
quanto na vida pública, como Estado e religião. Situada no campo da reprodução (social
─ serviços do âmbito do lar, do ensino e dos cuidados ─ e o biológico), a construção
pelo patriarcado do ser mulher torna-se para o capitalismo uma justificativa para o
aprofundamento da marginalização e sujeição das mulheres, camuflando os obstáculos
que este impõe destas conceberem-se como sujeitos sociais. Destarte, no sistema

18
capitalista, o patriarcado acirra as desigualdades das relações de gênero resultando em
uma maior expansão da opressão de classe e de “raça”/etnia, fomentando a
hierarquização entre homens brancos, mulheres brancas, homens negros e mulheres
negra. (SAFFIOTI, 2015). Desse modo, o movimento feminista no movimento das
transformações sócio-históricas tem-se sido uma importante organização que levantam
pautas caras para as mulheres, como sexualidade, reprodução, corpo, autonomia. Além
disto, esse movimento possibilita desvelar a estrutura das normativas que perpassam na
condição da mulher na sociedade. Articulando a denúncia do sistema patriarcal, o
movimento feminista classista, no decorrer da sua trajetória, vem pautando a
necessidade de compreender a condição das mulheres alocadas dentro de um sistema
que configura-se enquanto um corpo social – o capitalismo. Assim, essa organização
combina luta contra a opressão feminina com a teoria que pauta a práxis revolucionária:
o marxismo. Portanto, desmitificando a opressão sofrida pelas mulheres no contexto da
exploração e dominação dos sujeitos, o feminismo classista evidencia os entrelace entre
as questões de gênero e capitalismo, apontando para a imprescindibilidade da
construção de uma nova ordem social em conjunto com uma nova relação de gênero.
Portanto, o objetivo deste trabalho circunscreve em apreender a importância da
incorporação de uma perspectiva crítica marxista na base teórico e metodológica deste
movimento na luta contra o sistema patriarcal-capitalista. Sendo assim, esse ensaio,
resultado dos estudos e pesquisas na pós-graduação em Serviço Social com
financiamento Capes/CNPq/UFPB, apresenta-se enquanto uma aproximação com a
temática proposta constituindo-se em uma pesquisa bibliográfica e qualitativa que tem
como direcionamento teórico-metodológico o materialismo histórico-dialético. A
pesquisa bibliográfica resulta na articulação de teóricos e teóricas marxistas, no intuito
de aprofundar os elementos trabalhados por estes, contribuindo para a compreensão do
feminismo de base materialista histórica-dialética. Nesse sentido, as teóricas e os
teóricos que são pedras angular na construção deste ensaio são: Marx e Engels (1998;
2009); Saffioti (2013; 2015); Cisne (2005; 2014).

REFERÊNCIAS
CISNE, Mirla. Marxismo: uma teoria indispensável à luta feminista. Anais IV Colóquio
Internacional Marx e Engels, 2005.
. Feminismo e consciência de classe no Brasil. São Paulo: Cortez, 2014.
MARX, K ; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo. Ed. Cortez,
1998.

19
. A ideologia Alemã. Tradução de Álvaro Pina. 1.ed. – São Paulo:
Expressão Popular, 2009.
SAFFIOTI, H. I. B.. A mulher na sociedade de classes: Mito e realidade. São Paulo:
Expressão Popular: 2013.
. Gênero, patriarcado e violência. São Paulo: Expressão Popular:
Fundação Perseu Abramo, 2015.
SEMPREVIVA ORGANIZAÇÃO FEMINISTA. A história esquecida da corrente
“feminista e classista”. 2011. Disponível em: <http://www.sof.org.br/2011/06/16/a-
historia-esquecida-da-corrente-feminista-e-classista/>. Acesso em 08 de março de 2017.

MINI-CURRÍCULOS
Janine Maria Araújo de Oliveira: Mestranda em Serviço Social pelo Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social/UFPB; integrante do GEPET/UFPB.
Luciana Batista de Oliveira Cantalice: Docente Dra adjunta do Departamento de
Serviço Social da UFPB, vice-lider do GEPET/UFPB e integrante do Grupo Temático e
de Pesquisas em Serviço Social: fundamentos, formação e trabalho profissional da
ABEPSS.
Maria Aparecida Ramos Meneses: Discente Dra adjunta do Departamento de Serviço
Social e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFPB; vice-líder do
SECTS/UFPB.

Título do Trabalho: Émile Durkheim e Karl Marx: A Questão da Mulher na


Sociologia Clássica
Autora: Luísa Medeiros Brito (UFRN)

RESUMO

Faz-se necessário estudar a questão da mulher enquanto sujeito e objeto das Ciências
Sociais. Além disso, manter esse debate em evidência é essencial para não corrermos o
risco de encarar como natural as construções sociais dos papeis de gênero e da
exploração e dominação das mulheres pelos homens. Entender a dominação masculina e
estudá-la à luz dos clássicos da sociologia tem um notável significado, tendo em vista
que as heranças de suas construções – com seus instrumentos de análises e técnicas de
observação da realidade – serviram de base para que os estudos da denominada
sociologia de gênero fossem constituídos. Este trabalho visa integrar as abordagens da
conhecida “questão da mulher” nos cânones da Sociologia Marx e Durkheim, uma vez
que eles desempenharam um papel de suma importância nos estudos sociais, até
chegarmos ao pensamento social contemporâneo.

PALAVRAS-CHAVE: Sociologia clássica. Questão da mulher. Dominação masculina.

RESUMO EXPANDIDO

20
Entender a dominação masculina e estudá-la à luz dos clássicos da sociologia tem um
notável significado, tendo em vista que as heranças de suas construções – com seus
instrumentos de análises e técnicas de observação da realidade – serviram de base para
que os estudos da denominada sociologia de gênero fossem constituídos. As
características da dominação, em suas várias formas de abordagem, fizeram parte dos
temas privilegiados pela Sociologia. Neste trabalho pretendemos enxergar a maneira
como os cânones dessa ciência se debruçaram sobre as diferentes formas como homens
e mulheres estão localizados e vivenciam as relações de dominação. Nosso papel é
averiguar, por meio de uma análise bibliográfica, se a sociologia clássica, nas figuras de
Karl Marx e Émile Durkheim, se preocupou com a questão da mulher de forma
prioritária ou se foi apenas uma pauta secundária. Utilizamos a pesquisa bibliográfica
para fazer uma análise sobre a “questão da mulher” para os cânones da Sociologia,
Émile Durkheim e Karl Marx. O ofuscamento da participação das mulheres e a
marginalização da produção feminina são correspondentes ao caráter sexista de
pensamento, absorvidos do meio social existentes, onde os padrões existentes de
dominação masculina são legitimados pelo conhecimento científico. Para a sociologia
clássica, a questão da mulher era tratada de forma secundária, conforme veremos no
decorrer deste trabalho. Durkheim destinou seus estudos ao entendimento das categorias
sociais que permitiram a elaboração de uma metodologia positiva para a análise da
sociedade moderna com base nos fatos sociais. Como explicita Mariano (2016, p. 251),
“a Sociologia de Durkheim incorpora o viés sexista, androcêntrico, predominante à sua
época, na medida em que toma o homem como ator social”. Neste sentido também
Segnini (2010, p. 10) quando afirma que “Durkheim não compreende relevante
considerar as relações sociais de classe ou de sexo como diferenciações significativas na
análise sociológica”. Já Marx se preocupou com a singularidade do trabalho no sistema
capitalista, centrado na produção do valor e no comércio de mercadorias, fundamento
das relações sociais de classe que, para ele, era a base de toda exploração. Embora
inexista uma abordagem direta da questão da opressão da mulher nas obras de Marx, o
materialismo dialético do autor representa uma nova linha analítica da condição
feminina no sistema capitalista. As Ciências Sociais não trataram a questão feminina
como objeto de estudo em si. As mulheres eram excluídas socialmente e politicamente,
predominando as relações de dominação masculina. Isso favoreceu a construção do viés
sexista e androcêntrico na criação da Sociologia. Durkheim incorpora o viés sexista e
androcêntrico da sua época, na medida em que toma o homem como ator social e

21
apresenta diferenças nos comportamentos sociais de homens e mulheres como sendo
algo natural e biológico. A contribuição marxista para a questão da mulher acontece na
medida em que o materialismo dialético do autor representa uma nova linha analítica da
condição feminina no sistema capitalista. Todavia, há a necessidade dos teóricas
marxistas se desvincularem da ideia de que a questão feminina está contida na discussão
econômico-familiar e passem a encarar a opressão da mulher pelo homem de maneira
interpessoal e concreta.

REFERÊNCIAS

ALAMBERT, Zuleika. Feminismo: o ponto de vista marxista. São Paulo: Nobel,


1986.
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão Europeia do
Livro, 1960a.
DURKHEIM, Émile. A Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Ed. Abril
Cultural,1978.
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. 1. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
13.ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1995.
MARIANO, Silvana Aparecida. Modernidade e crítica da modernidade: a Sociologia e
alguns desafios feministas às categorias de análise. Cadernos Pagu, Campinas, SP, n.
30, p. 345-372, abr. 2016. ISSN 1809-4449. Disponível em: <https://goo.gl/EEoVWn>.
Acesso em: 25 ago. 2017.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: Feuerbach, a contraposição
entre as cosmovisões materialista e idealista. São Paulo: Martin Claret, 2006.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; BACKES, Marcelo. A sagrada família: ou crítica
da crítica contra Bruno Bauer e consortes. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2003.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista: São Paulo:
Martin Claret, 2014.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. 2. ed.
São Paulo: Abril Cultural, 1978.
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1980
MORAES, Maria Lygia Quartim de. Marxismo e feminismo: afinidades e diferenças.
Crítica Marxista, São Paulo, Boitempo, v.1, n. 11, 2000, p. 89-97.
PEDERSEN, Jean Elisabeth. Política sexual em Comte e Durkheim: feminismo, história
e a tradição sociológica francesa. [Tradução Denise Lopes de Souza]. REVER -
Revista de Estudos da Religião, [S.l.], n. 1, p. 186-218, 2006. ISSN 1677-1222.
Disponível em <https://goo.gl/4qHtq6>. Acesso em: 27 ago. 2017.
SCAVONE, Lucila. Dar a vida e cuidar da vida: feminismo e ciências sociais. São
Paulo: Editora Unesp, 2004.
SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Diferenças entre homens e mulheres traduzidas em
desigualdades nas relações de gênero. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 9-
10, jan. 2010. ISSN 1982-0259. Disponível em: <https://goo.gl/so5rb5>. Acesso em: 27
ago. 2017.

22
MINI CURRÍCULO
Formada em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, especialista em
Direitos Humanos pela Universidade Católica de Pernambuco e Mestranda em Ciências
Sociais -UFRN. E-mail: luisabrito89@gmail.com

Título do Trabalho: Divisão Sexual do Trabalho: buscando chaves de sentido


Autora: Heloisa Helena de Sousa Franco Oliveira (UFRN)

RESUMO

Este artigo discute as perspectivas teóricas que rondam o tema da divisão sexual do
trabalho, buscando estabelecer um panorama conceitual a respeito desta temática.
Buscaremos, a partir das várias terminologias utilizadas neste campo, trabalho
doméstico e de cuidados, trabalho reprodutivo, care, e as que se atém a problemática do
uso do tempo nestas atividades, estabelecer um diálogo entre estas vertentes,
objetivando identificar aproximações e diferenças entre elas.

PALAVRAS-CHAVE: divisão sexual do trabalho, teorias, trabalho doméstico,


trabalho reprodutivo, care.

RESUMO EXPANDIDO

A dimensão da divisão sexual do trabalho comporta um grande leque de teorias


relacionadas aos estudos que envolvem o mundo do trabalho e as relações de gênero na
sociedade. No entanto, há uma série de terminologias relacionadas a este campo de
estudo, com sentidos, significados e procedências distintas que merecem uma reflexão a
respeito. Neste sentido, podemos citar os termos: trabalho doméstico (remunerado e não
remunerado), trabalho de cuidados, trabalho reprodutivo e o care numa perspectiva
ligada à produção inglesa, como exemplos das muitas vertentes que designam de
maneira diferenciada esse campo de estudo.
Assim, iremos desenvolver nosso artigo partindo das várias terminologias que
rondam o tema da divisão sexual do trabalho, nos debruçando em revisar algumas
perspectivas teórico- conceituais, como as adotadas pela vertente francesa, a partir de
Helena Hirata e Danièle Kergoat, assim como os recentes estudos que abordam a
questão do care, ou seja, aquelas atividades relacionadas ao trabalho reprodutivo,
gratuito ou remunerado, que envolve vínculo afetivo ou não, que estão sempre a serviço
das necessidades dos outros (Engel, 2015). Uma outra escola dentro do tema da divisão
sexual do trabalho é o estudo específico sobre o uso do tempo na execução destas
atividades pelas mulheres e suas afetações (Bandeira, 2010; Ávila, 2014; Torns, 2002).

23
Somente nas últimas décadas do século XX o trabalho doméstico passou a ser
problematizado e incorporado aos estudos do trabalho (Sorj, 2004), isto porque
entendia-se que os princípios e as regras que regiam a produção para o mercado e o
trabalho doméstico seriam diferentes, sendo o trabalho doméstico um dote natural das
mulheres ao casamento pelo seu sustento, por esta razão a questão do trabalho
doméstico ficou durante muito tempo invisibilizado das questões sociológicas.
Os estudos feministas e de gênero foram fundamentais para apontar as relações
existentes entre trabalho e família e, portanto, visibilizar o trabalho doméstico no
interior dos arranjos familiares, provando que havia relação entre a esfera da produção
econômica (trabalho produtivo) e da reprodução (família). Esta constatação comprovou
que as responsabilidades domésticas assumidas pelas mulheres impunham a elas limites
relacionados ao mercado de trabalho, levando-as assumir empregos com salários
inferiores, carga horária reduzida e tornando sua presença no mercado insconstante.
Segundo Kergoat (2002, p. 234) a divisão sexual do trabalho surge
simultaneamente ao capitalismo e não seria possível a organização do trabalho
assalariado sem a existência do trabalho doméstico. Ainda que existisse divisão de
papéis entre os gêneros anteriormente ao surgimento do sistema capitalista, é com o
surgimento do capitalismo, que pela primeira vez, ocorre a separação da esfera
produtiva e reprodutiva. De acordo com Hirata e Kergoat (2007), a divisão sexual do
trabalho é a forma de divisão do trabalho social que decorre das relações sociais de
sexo, atribuindo hierarquia e valoração ao trabalho doméstico, majoritariamente
desenvolvido pelas mulheres, desvalorizado e invisibilizado, no entanto, sem ele seria
impossível a realização do trabalho assalariado.
No Brasil, há uma ausência de políticas voltadas aos cuidados, e pela história de
escravidão que marcou o país, as mulheres negras, que são as mais pobres, também
assumem a maior parte do trabalho doméstico e de cuidados (Engel, 2015; González,
1983; Sorj, 2013), é a racialização do trabalho reprodutivo no país.
Diante deste quadro se faz necessário traçar um panorama conceitual que
coloque em diálogo as escolas ligadas aos vários conceitos que abarcam os estudos em
torno do trabalho de reprodução social, buscando estabelecer as diferenças e as
aproximações entre estas terminologias, ora utilizadas como complementares e
similares, contribuindo assim na reflexão e delimitação do tema da divisão sexual do
trabalho.

24
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Betânia; FERREIRA, Verônica (orgs). Trabalho remunerado e trabalho
doméstico no cotidiano das mulheres. Recife: SOS Corpo, 2014.
BANDEIRA, Lourdes. Importância e motivações do Estado Barsileiro para pesquisas
de uso do tempo no campo de gênero. Revista Econômica, vol 12. n° 1, 2010, p. 47-63.
ENGEL, Cíntia; PEREIRA, Bruna C.J. A organização social do trabalho doméstico e de
cuidado: considerações sobre gênero e raça. Revista Punto Género, n° 5, 2015, p. 4-24.
HIRATA, Helena; KERGOAT, Danièle. Novas configurações da divisão sexual do
trabalho. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.37. n. 132, p. 595-609,set/dez 2007.
KERGOAT, Danièle. Percurso pessoal e problemática da divisão social e sexual do
trabalho. In: HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar voltado para
empresa e a sociedade. São Paulo: Boitempo, 2002, p. 236-247.
SORJ, Bila. Arenas de cuidado nas intersecções entre gênero e classe social no Brasil.
Cadernos de Pesquisa, vol. 43, n.149, 2013, p.478-491.

MINI CURRÍCULO
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Estudante no grupo de pesquisa Saúde,
Gênero, Trabalho e Meio Ambiente da UFRN. Mestre em Comunicação pela Faculdade
de Comunicação, na Universidade de Brasília (UnB), Programa de Pós-Graduação de
Comunicação. Possui graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal da
Paraíba (2005). Estuda atualmente o tema do trabalho doméstico e de cuidados no
Brasil.

Título do Trabalho: Ascensão conservadora e desafios ao feminismo no Brasil atual


Autora: Leidiane Souza de Oliveira (UFRN)

RESUMO

Nossa proposta nesse trabalho é apresentar e discutir os desafios postos para as


mulheres diante do acirramento do conservadorismo no Brasil atual. Demarcando o
início dos anos 2000, destacamos o contexto de desmonte de direitos sociais e crise
econômica e política na qual se encontra o país. Destacamos questões particulares para
as mulheres nesse cenário, sob pressupostos de novos desafios que se colocam para os
movimentos feministas.

PALAVRAS-CHAVE: Conservadorismo; Direitos Sociais; Movimentos Feministas.

RESUMO EXPANDIDO

Os anos 2000 trouxeram à tona um arsenal de contradições postas para a sociedade


brasileira, incluindo as dimensões econômica, política e social, apontando, na atual
conjuntura, inúmeros desafios que assombrosamente nos convocam a manter uma
necessária articulação com as lutas em defesa de direitos sociais que se desmontam e de
valores contrapostos ao conservadorismo que norteia o cenário parlamentar e se estende
aos distintos espaços institucionais e sociais. O ideário conservador se insere no

25
conjunto dessas transformações, apresentando-se como parte da totalidade das ideias
dominantes, relacionado às relações de produção, no campo da ação política das classes
e de seus sujeitos coletivos. A construção social de homens e mulheres, particularizada
pelo patriarcado, em uma tendência de se apresentar enquanto um processo natural,
quando reforçada pela defesa de manutenção da ordem, da tradição e da cultura,
corrobora para o fortalecimento do projeto conservador, no literal sentido de conservar
relações desiguais, contrapondo-se ao entendimento desta como um elemento
constitutivo dos sujeitos individuais e coletivos e, acima de tudo em um movimento de
criminalização das mulheres que se organizam na perspectiva de transformar as relações
desiguais nas quais vivem. Cotidianamente nos chocamos com elementos da realidade
que evidenciam as desigualdades que marcam a vida das mulheres, como os altos
índices de violência de tipos sobretudo física cometida majoritariamente por namorados
e ex-namorados, maridos e ex-maridos, mas também, expressões de agressões morais,
depredação patrimonial, violação dos direitos sexuais e reprodutivos, tortura
psicológica, que compõem um quadro de barbárie social, marcado pela violência.
Expressões atuais do conservadorismo para as mulheres são identificadas no desmonte
de direitos sociais anteriormente conquistados, como as reiteradas reformas da
previdência, com propostas de significativos aumentos na idade de aposentadoria, que
implica em aumento da quantidade de trabalho realizado pelas mulheres durante a sua
vida, para poder acessar o direito de se aposentarem; destacamos ainda desmonte de
conquistas anteriormente alcançadas como a extinção da secretaria especial de políticas
para as mulheres, no corrente ano; além de, atrelado ao desmonte e à precarização das
políticas sociais, encontra-se a insuficiência nos serviços de atenção às mulheres que
sofrem violência, sobretudo os serviços assistenciais e jurídicos preconizados na lei
11.340/2006, a lei Maria da Penha, que tem a finalidade de coibir a violência doméstica
praticada contra as mulheres. Algumas dessas investidas, são: Alteração no Código
Penal sobre a questão do aborto, criminalizando ainda mais as mulheres e profissionais
de saúde (PL 5069/2013 - Câmara); Retirada do texto das políticas públicas do termo
"gênero" e instituição do Tratado de San José como balizador das políticas públicas para
as mulheres. É um total retrocesso para todo ciclo das políticas (MPV 696/2015 -
Senado); Instituição do Estatuto do Nascituro - provavelmente maior ameaça aos
direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Seria concretizada a criminalização
generalizada das mulheres, inviabilizando, inclusive, o aborto previsto no Código Penal
(PL 478/2007 - Câmara); Instituição do Estatuto da Família - retrocesso para grupos

26
LGTBs e mulheres: não reconhecimento como família - ficam fora do alcance de
políticas do Estado (PL 6583/2013 – Câmara); Alteração da Constituição para que
entidades de cunho religioso possam propor Ações de Constitucionalidade perante o
STF (PEC 99/2001 – Câmara). Esse quadro enseja maiores desafios para os sujeitos
coletivos feministas, articulados à construção de um projeto de sociedade para o Brasil.

REFERÊNCIAS
ARTICULAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS – AMB. Políticas Públicas para a
Igualdade: balanço de 2003 a 2010 e desafios do presente. Brasília, CFEMEA, 2011.
BRASIL. Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha. Presidência da República, 2006.
. Lei 13.104/2015 – Lei do Feminicídio. Presidência da República, 2015.
CISNE, Mirla. Feminismo, Luta de Classes e Consciência Militante Feminista no
Brasil. Rio de Janeiro, UERJ, Tese de Doutorado, 2013.
DEMIER, Felipe. O barulho dos inocentes: a revolta dos “homens de bem”. IN:
DEMIER, Felipe e HOEVELER, Rejane. A onda Conservadora: ensaios sobre os
atuais tempos sombrios no Brasil. Rio de Janeiro, Mauad, 2016.
OLIVEIRA, Leidiane. Crise do Capital, limites à igualdade substantiva e os desafios
para as lutas feministas no Brasil. IN: Revista Universidade e Sociedade, nº 58, Brasília,
ANDES-SN, 2016.
PLATAFORMA POLÍTICA FEMINISTA. Brasília, Conferência Nacional de Mulheres
Brasileiras, 2002.

MINI CURRÍCULO
Leidiane Souza de Oliveira. Graduada e mestre em Serviço Social pela UFRN;
Professora Assistente do Departamento de Serviço Social da UFPB, integrante do
Grupo de Pesquisa sobre Economia Política e Trabalho - GEPET; Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFPE. Atualmente compõe a Gestão
do Conselho Regional de Serviço Social – CRESS, da Paraíba, no qual coordena a
Comissão Ampliada de Ética e Direitos Humanos.

09.11.2017
Título do Trabalho: Mãe Trabalhadora: os efeitos das tarefas domésticas na vida
profissional
Autora: Alyane Almeida de Araújo (UFRN)

RESUMO

O papel estereotipado da mulher como principal responsável pelas tarefas domésticas


tem impactado diretamente os índices no mercado de trabalho remunerado. A mulher
passou a ocupar espaços públicos, mas o homem não tem dividido as responsabilidades
no espaço privado. Esse estudo objetiva problematizar os dados de uma pesquisa
qualiquantitativa em trabalhadoras que passaram recentemente pela experiência da
maternidade e relacioná-los com as estatísticas do mercado de trabalho em âmbito
global, expostos no Relatório da Organização Internacional do Trabalho.

27
PALAVRAS-CHAVE: Mercado de trabalho; tarefas domésticas; igualdade de gênero.

RESUMO EXPANDIDO

O papel estereotipado da mulher como principal cuidadora e responsável pelas


tarefas domésticas, inclusive com “aptidões naturais” para trabalhos dessa natureza, tem
impactado diretamente os índices no mercado de trabalho remunerado. Essa divisão
ditou políticas e leis, reforçou estruturas e mecanismos sociais e foi determinante para
criar o fosso atualmente existente nas estatísticas sociais, econômicas e políticas quando
se procede ao recorte de gênero.
O estudo objetiva problematizar o resultado de uma pesquisa qualiquantitativa
em trabalhadoras que passaram recentemente pela experiência da maternidade e
relacioná-lo com os atuais dados a respeito da mulher no mercado de trabalho em
âmbito global, expostos no Relatório da Organização Internacional do Trabalho sobre
Mulheres no Trabalho.
Adverte-se que a reflexão sobre a intersecção multifatorial à questão de gênero
não pode ser ignorada por qualquer tipo de pesquisa sobre a situação da mulher na
sociedade, razão pela qual cabe destacar que a experiência revelada na pesquisa se
refere às especificidades do grupo social investigado, que são mulheres trabalhadoras,
na fase adulta, escolarizadas e que passaram recentemente pela maternidade. Esse
destaque é importante na medida em que se pretendeu investigar mulheres que já
tivessem quebrado o “teto de vidro” de todas as outras questões relacionadas ao (não)
acesso aos direitos à educação, à saúde, à alimentação, à moradia, ao transporte, à
segurança, dentre outros, para que, atingindo alto nível de escolaridade e margem de
planejamento familiar, descortinassem a validação da hipótese de que a questão de
gênero subsiste ainda quando eliminadas as questões econômicas, sociais e étnico-
raciais.
Foram coletadas amostras de um total de 30 questionários respondidos, com 35
questões abertas e fechadas. No presente artigo serão destacadas apenas três perguntas,
duas fechadas e uma aberta. As mulheres do grupo social investigado têm idade entre 29
a 42 anos, com uma maior concentração ente 32 e 38 anos (79%) e todas as
entrevistadas possuem idade superior à idade média da mulher brasileira para ter filhos
e possuem grau de escolaridade de nível superior, sendo 70% as que também têm pós-
graduação.

28
Às respostas foi aplicado o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)
((LEFÈVRE; LEFÈVRE; MARQUES, 2009), com a finalidade de resgatar a
Representação Social (RS) da coletividade entrevistada, preservando a dimensão
individual do sujeito representado, tendo em vista que é aplicado a partir de discursos
individuais. O resultado foi relacionado com as estatísticas fornecidas em âmbito global
com o relatório “Mulheres no Trabalho: Tendências 2016” (tradução livre de “Women
at Work: Trends 2016”), chegando-se à conclusão de que a ausência de divisão de
responsabilidade nas tarefas domésticas com o homem é refletido em três principais
implicações: a consideração de que a mulher seja a principal responsável no trabalho
não remunerado de tarefas domésticas e de cuidados de crianças e idosos representa
redução de tempo disponível para capacitação, entrada, crescimento ou ascensão na
carreira profissional; as mulheres são ampla maioria em ocupações em trabalhos
domésticos e de tarefas de cuidados, as quais possuem baixa remuneração e maior
informalidade e precarização; as mulheres que estão no mercado formal em outras
ocupações sobre discriminação direta e indireta em razão da visão estereotipada de
gênero, tendo, por vezes, que produzir o dobro ou mais que o gênero masculino para
obterem o mesmo reconhecimento, postos hierárquicos ou igualdade salarial.

REFERÊNCIAS
ABRAMO, Laís; RANGEL, Marta. Negociação coletiva e igualdade de gênero na
América Latina. Brasília – OIT SIT, 2005.
BUDIG, M.J. The fatherhood bonus and the motherhood penalty: Parenthood and
the gender gap in pay. Washington DC: Third Way, 2014.
DAVIS, Angela. Mulher, Raça e Classe. Tradução Livre. Lisboa, Plataforma Gueto,
2013.
GRIMSHAW; RUBERY, J. Motherhood pay gap: A review of the issues, theory and
international evidence. Geneva: ILO, 2015.
ILO – International Labour Organization. Women at Work: Trends 2016.
International Labour Office. Geneva: ILO, 2016.
LEVÈFRE, Fernando; LEVÈFRE, Ana Maria Cavalcanti; MARQUES, Maria Cristina
da Costa. Discurso do sujeito coletivo, complexidade e auto-organização. In: Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro: ABRASCO, v.14, n.4, 2009.
NOGUEIRA, Claudia Mazzei. A feminização no mundo do trabalho: entre a
emancipação e a precarização. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2004.
SEN, Amartya. The Many Faces of Gender Inequality. In: The New Republic, New
York, September, 2001.

MINI CURRÍCULO
Mestre em Direito (UFRN, 2017), especialista em Direito Internacional (UFRN, 2014) e
em Direito e Processo do Trabalho (UNIDERP, 2007), graduada em Direito (UFRN,
2006) e servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região.

29
Título do Trabalho: Idosas e Assentamentos Rurais: Vivências de um Grupo
Terapêutico
Autores: Alessandra Dantas (UFPB) e Edilane Bezerra (UFPB)

RESUMO

Este estudo analisou o funcionamento de um grupo terapêutico com mulheres idosas e


suas experiências em assentamentos rurais. Utilizou-se como ferramenta de pesquisa
entrevistas abertas, observações e técnicas de teatro. Verificou-se que os discursos das
participantes estavam associados a vida ativa e vivências subjetivas em comunidades
rurais. As experiências em assentamentos rurais revelou que a velhice é significada de
forma diferente, relacionada aos aspectos culturais, junto às histórias de vida das idosas
e da relação que estas estabelecem com o mundo e com os outros.

PALAVRAS-CHAVE: Mulheres; Idosas; Grupos Terapêuticos; Direitos Humanos;


Assentamentos Rurais.

RESUMO EXPANDIDO

Vislumbra-se um reconhecimento da população idosa como protagonista, como seres


ativos, capazes de dar respostas originais aos desafios que enfrentam em seu cotidiano,
redefinindo sua experiência de forma a se contrapor aos estereótipos ligados à velhice.
Atualmente, no Brasil, na medida em que existe uma nova sensibilidade social para a
velhice, quer considerada como um problema, quer como um desafio para os indivíduos
e para a sociedade. O aumento da consciência de que está em curso um processo de
envelhecimento populacional é fator que contribui para tal reconhecimento. Ocasionado
em parte por conta do aumento da visibilidade dos idosos, bem como por causa do
investimento de algumas instituições sociais na divulgação de informações sobre o
envelhecimento e na criação de oportunidades sociais para a pessoa idosa, vistos como
um novo mercado. Em segundo lugar, as mudanças sociais provocaram mudanças na
forma de as pessoas vivenciarem a velhice: os novos idosos brasileiros são mais
saudáveis, vivem mais e são mais produtivos do que os do passado ou do que os
refletidos pelos estereótipos. Não obstante, é notória a incipiência dos estudos com o
enfoque acerca do envelhecimento e das vivências subjetivas da pessoa idosa em
assentamentos rurais, no âmbito da saúde pública, principalmente, no que tange à saúde
mental de idosas. Neste sentido, objetiva-se analisar o funcionamento de um grupo
terapêutico com mulheres idosas, com o intuito de trabalhar aspectos decorrentes de

30
suas experiências em assentamentos rurais e demandas relacionadas ao envelhecimento.
Utilizando o teatro como ferramenta de apoio ao trabalho terapêutico e favorecendo a
convivência no grupo com maior coesão, empatia e vínculos, foram trabalhados temas
como à promoção da saúde, reconhecimento de suas necessidades emergentes e mulher-
idosa em assentamentos rurais. Desenvolveu-se o estudo em três etapas. Na primeira,
buscou-se conhecer as condições gerais de vida e perfil socioeconômico, por meio de
nove idosas participantes do estudo e escolhidas aleatoriamente. Na segunda etapa,
foram realizados encontros de convivência grupal com o objetivo de obter informações,
diálogos e interações entre as idosas sobre o tema em questão. Na terceira etapa, as
participantes foram convidadas a expressar suas reflexões para a comunidade, por meio
de apresentações artísticas no território de abrangência, com temas relevantes segundo
suas necessidades individuais, coletivas e na comunidade. Percebe-se que ainda é
grande a falta de informações sobre a saúde da pessoa idosa em contextos rurais,
reconhecendo suas reais necessidades sociais e promotoras do bem estar subjetivo e
garantia de direitos em territórios específicos e vivências subjetivas. A discussão sobre
as experiências de mulheres idosas de assentamentos rurais revelou que a velhice é
significada de forma diferente pelas participantes, são aspectos referentes as
determinações culturais, junto às histórias de vida das idosas e da relação que estas
estabelecem com o mundo e com os outros, bem como a preocupação com as gerações
futuras frente aos anos de luta pela moradia e pela terra.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, S. M. R. L. Envelhecimento Ativo: desafios dos serviços de saúde


para a melhoria da qualidade de vida dos idosos, São Paulo, 246f. Tese (Doutorado em
Ciências) Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2005.
BASSIT, A.Z. História de mulheres: reflexões sobre a maturidade e a velhice. In:
MINAYO, M.C. S.; COIMBRA JR., C.E.A (orgs.). Antropologia, Saúde e
Envelhecimento. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, p. 175-189, 2012.
BUTTO, A. Mulheres rurais e autonomia: formação e articulação para efetivar
políticas públicas nos Territórios da Cidadania. Brasília: Ministério do
Desenvolvimento Agrário, 2014. 132 p.
MINAYO, M. C. S. COIMBRA JR Antropologia, saúde e envelhecimento. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, Reimpressão: 2012.
NERI, A. L.; DEBERT, G. G. Velhice e Sociedade. Campinas, São Paulo: Papirus,
2009. (Coleção Vivacidade).
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação e
Realidade, v. 20, n. 2, p. 71-99, 1995.

31
MINI CURRÍCULO
Alessandra P. de A. Dantas – Psicóloga, Pesquisadora e Especialista em Direitos
Humanos. Desenvolve estudos na área dos Direitos Humanos, Envelhecimento e
Assistência Social.
Edilane N. R. Bezerra – Psicóloga, Docente, Pesquisadora, Mestre em Psicologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN e Doutora em Psicologia Social
pela Universidade Federal da Paraíba/UFPB. Desenvolve estudos na área da Saúde
Mental, Vulnerabilidades e Saúde Coletiva.

Título do Trabalho: Arte urbana: a construção de narrativas sobre a imagem da mulher


nas ruas de Fortaleza
Autora: Dahiana dos Santos Araújo (UFRN)

RESUMO

Este trabalho discute a inserção de imagens da mulher, por meio de intervenções de arte
urbana, em ruas de Fortaleza, dialogando sob as perspectivas de construções de
narrativas, protagonizadas por imagens grafitadas, e que nascem com caráter político e
poético e auxiliam na racionalização de demandas sociais. Com o auxílio de discussões
ligadas à cidade, mídia e feminismo, questionamos: como são construídas as narrativas
em torno das imagens de mulheres? A metodologia consiste em uma pesquisa
bibliográfica e análise de material na imprensa sobre os painéis Eva e Iracemas, do
Coletivo Acidum Project.
PALAVRAS-CHAVE: Mulher; arte urbana; narrativa; cidade; mídia

RESUMO EXPANDIDO

A rua é espaço material e imaterial de produção da subjetividade, é lugar de


constante construção de memória, social, coletiva. Ao pensar a cidade como espaço de
limites e fluxos, há de se refletir sobre a construção individual e cultural de sujeitos, que
não apenas interpretam, mas constroem-se e desconstroem-se a partir das relações que
erguem quando se deparam com uma cidade que se expressa por meio de incontáveis
códigos, a exemplo da arte urbana na cidade de Fortaleza (Brasil). A ideia deste artigo é
estudar a produção de narrativas protagonizadas por imagens grafitadas de mulheres,
adotando a arte urbana sob uma perspectiva político-poética.
Dialogamos com a história do feminismo, a partir das contribuições de Michele
Perrot (2006), quando discorre sobre a trajetória de perdas e avanços relacionados à
mulher ao longo dos últimos séculos. Utilizamos, ainda, para embasar as discussões
acerca da imagem da mulher nas ruas da cidade, os dados de uma espécie de linha do

32
tempo relatado pela pesquisadora sobre o poder da mulher, tanto relacionado a eventos
históricos relevantes na França, como no cotidiano da luta pela igualdade de gêneros.
Para a realização deste trabalho, levamos em conta que, enquanto forma de
expressão, a arte urbana ocupa espaços e mentes erguendo contextos comunicativos que
nem sempre se configuram da mesma forma entre um sujeito e outro; ergue-se sob a
forma de traços de narrativas em que há transformações relativas às diferentes partes do
que é contado. Assim, percebemos trocas de mensagens por meio de imagens, palavras;
códigos articulados entre sujeitos e objetos, que nascem a partir não apenas do espaço,
mas também do tempo, elemento preponderante para se pensar a dimensão urbana e
comunicativa entre indivíduos e objetos (COSTA, 2008).
A metodologia adotada consiste em uma pesquisa bibliográfica, assim como o
diálogo com duas imagens grafitadas na cidade de Fortaleza: os painéis Iracemas e Eva,
criados pelo Coletivo Acidum Project e que são inseridos neste trabalho como
protagonistas de narrativas acerca da imagem da mulher. Optamos também pela coleta
de material publicado na imprensa local, referenciando tanto as definições dos autores
sobre as imagens, como a abordagem dada pela mídia quando relaciona imagens,
mulheres e espaço urbano.
Por fim, diante das construções socioculturais possibilitadas pela arte urbana,
questiona-se neste trabalho: como são construídas as narrativas em torno das imagens
de mulheres na arte urbana da cidade de Fortaleza? Muros, textos, imagens. Tudo acaba
integrando uma série de narrativas que contam histórias, que se misturam com
realidade, ficção, fantasias e com discussões políticas, culturais e ideológicas frente ao
papel da mulher, à imagem da mulher, aos signos e significados relacionados a essas
intervenções urbanas nas ruas da capital cearense.

REFERÊNCIAS
CAMPOS, Ricardo. A pixelização dos muros: graffiti urbano, tecnologias digitais e cultura
visual contemporânea. In: Revista FAMECOS mídia, cultura e tecnologia, Porto Alegre, v. 19,
n. 2, pp. 543-566, maio/agosto 2012.
COSTA, Otávio. Memória e paisagem: em busca do simbólico dos lugares. In: Revista Espaço
e Cultura, UERJ, Edição Comemorativa, Rio de Janeiro, p. 149-156, 1993-2008.
PERROT, Michele. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Tradução
Denise Botmann – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Uma filosofia do código ferido: Paul Ricoeur. Estud. av. vol.11
no.30 São Paulo May/Aug. 1997.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Campinas, SP: Papirus, 1995.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora da Unicamp,
2007.

33
MINI CURRÍCULO
Dahiana dos Santos Araújo - Doutoranda em Estudos da Mídia no Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Mídia (PPgEM) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). Mestre em Estudos da Mídia pelo PPgEM da UFRN e graduada em
Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade de Fortaleza
(Unifor). Em redações, (impresso e online), de 2008 a 2017, passou por experiências
profissionais nos cargos de repórter (Cadernos Política e Cidade), redatora e editora
(Caderno Cidade).

Título do Trabalho: Mulheres invisíveis no campo da Ciência & Tecnologia: o resgate


de uma pioneira
Autoras: Lore Fortes (UFRN) Lady Dayana Silva de Oliveira (UFRN)

RESUMO

Quando se relaciona mulher e ciência imediatamente está aludida a sua exclusão, a


ausência das mulheres. Este artigo reflete sobre as práticas sociais de mulheres em
Ciência & Tecnologia, analisando o caso específico da luta desenvolvida pela primeira
estudante do curso de Engenharia Elétrica da UFPR, Christiane Di Scala, como ela
enfrentou o desafio de frequentar um curso em que era a única mulher entre somente
homens, numa proporção de uma entre cerca de quarenta colegas. Sua história reflete
preconceitos e discriminações como mulher imigrante da Argélia, adentrando em um
campo masculino. Trata-se de um caso de uma profissional, de uma mulher que abre
portas para outras mulheres tomarem coragem de realizar seu sonho de estudar
engenharia.

PALAVRAS-CHAVE: Invisibilidade. Mulheres. Ciência e Tecnologia

RESUMO EXPANDIDO

A invisibilidade das práticas sociais de mulheres em Ciência & Tecnologia tem sido
uma constante na história das mulheres. Quando se relaciona mulher e ciência
imediatamente está aludida a sua exclusão, a ausência das mulheres. No caso das
mulheres tecnólogas, muitas descobertas durante anos deviam ser registradas em nome
do marido ou de seu pai. Elas não tinham o direito ao reconhecimento de sua própria
descoberta, do seu invento, do registro de sua patente. Na verdade, o mundo da ciência
& tecnologia tem sido domínio dos homens. Mesmo quando essas mulheres têm trazido
contribuições notáveis, as circunstâncias familiares, destacando algumas características
econômicas e sociais que destacam que sua prática profissional acontece em ambiente
hostil. Muitos estudos foram realizados para buscar as razões dessa exclusão feminina
desses campos reconhecidamente masculinos. No entanto, esta segregação não se

34
fundamenta no baixo interesse das mulheres ou a uma atuação feminina de baixa
qualidade. O que se constata historicamente é que os valores socioculturais desde os
séculos XVI e XVII demonstram os fundamentos da ciência moderna dentro de padrões
políticos e ideológicos claramente masculinos. Dessa forma, a institucionalização da
ciência moderna se dá de modo a legitimar a exclusão social da mulher. Apesar da
mulher ter aumentado significativamente sua participação do mercado de trabalho ao
longo desses últimos séculos, ainda permanecem mecanismos de exclusão. As questões
que nos inquietam são: Por que ainda permanece a invisibilidade de mulheres e quais os
mecanismos que facilitam ou dificultam o acesso de mulheres a posições de poder em
instituições científico-tecnológicas? As instituições educacionais têm o modelo
masculino de fazer ciência, que considera tempo integral de trabalho ao trabalho
científico e na relação academicamente competitiva com seus colegas. A sociedade
científica espera que as mulheres se adequem a este modelo. Por outro lado, a sociedade
em geral espera que a mulher exerça sua função de maternidade. A contradição está no
reconhecimento social de que ter filhos é um fato natural e esperado para as mulheres e
o modelo masculino de fazer ciência não lhe daria tempo para realizar ambas as práticas
de forma plena (WOELLNER DOS SANTOS, ICHIKAWA, CARGANO, 2006, p.
XVII). No Brasil foi na passagem da década de 1960 a 1970 que as mulheres passaram
a aceder às universidades, também em cursos considerados masculinos, como a
engenharia, a física, química, astronomia, etc. Este campo reconhecido como das
ciências duras era até este período um campo de domínio praticamente absoluto dos
homens. De repente, começam as mulheres a adentrar nesse campo. Importante é
resgatar a luta dessas mulheres, pioneiras, procurando ver o que elas nos contam sobre
as dificuldades, os preconceitos, os mecanismos criados para impedir o seu
desenvolvimento e o acesso a funções de administração, de poder. Neste artigo,
procuramos revelar a luta da primeira estudante do curso de Engenharia Elétrica da
UFPR, Christiane Di Scala, como ela enfrentou o desafio de frequentar um curso em
que ela era a única mulher entre somente homens, numa proporção de uma entre cerca
de quarenta colegas. Nesse contexto, deve-se levar em conta que a sociedade científica
não favorecia a participação de mulheres, pelo contrário, isso significava que as
pioneiras enfrentaram muitos obstáculos em um curso universitário de cinco anos de
duração. Não se trata aqui de um caso de uma profissional que se destaca no campo
científico, mas sim de uma mulher que abre portas para outras mulheres tomarem
coragem de realizar seu sonho de estudar engenharia. Além da discriminação como

35
mulher em um campo de homens, vamos identificar outros obstáculos enfrentados na
sua vida, como migrante vinda da Argélia.

REFERÊNCIAS
DOS SANTOS, Lucy Woellner; ICHIKAWA, E.Y.; CARGANO, Doralice. Ciência
Tecnologia e Gênero. Desvelando o feminino na construção do conhecimento.
Londrina: IAPAR, 2006.
LOPES, Maria Margaret; DE SOUSA, Lia Gomes Pinto; SOMBRIO, Mariana Morais
de Oliveira. A construção da invisibilidade das mulheres nas ciências: A exemplaridade
de Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976). Gênero. Revista do Núcleo Transdisciplinar de
Estudos de Gênero – NUTEG. V.5. n.1, 2004.
OLIVEIRA, Eleonora Menicucci, A prática feminista e o gênero na construção do
conhecimento. Revista Sociedade e Estado. Volume XII, Número 2, Julho-dezembro,
1997.
VALLS-LLOBET, Carme. Mujeres, salud y poder. Madrid: Ediciones Cátedra, 2010.

MINI CURRÍCULO
Lore Fortes - Doutorado em Sociologia pela UnB(2000), Pós-doutorado pelo
CSIC/Espanha em Sociologia e Gênero (2013), atualmente é professora do
PPGCS/UFRN. Coordena o Grupo de Pesquisa Saúde, Gênero, Trabalho e Meio
Ambiente - SAGMA.
Lady Dayana Silva de Oliveira - Jornalista formada pela UFRN, doutoranda em Estudos
da Mídia pelo PPgEM-UFRN. Possui Mestrado pelo referido programa de Pós-
Graduação. Possui experiência na área de produção de TV, tendo atuado no Grupo
Bandeirantes de Comunicação, como editora de texto e produção. Desde 2013 atua
como docente no Departamento de Comunicação Social da UFRN. Atualmente pesquisa
Cinema, Estudos de Gênero e Produção Audiovisual. Atua com produção independente
no RN no Coletivo Caminhos Comunicação & Cultura.

Título do Trabalho: MITOS E MITOLOGIAS DA CONTEMPORANEIDADE: O


Lugar Da Mulher Nas Narrativas Cinematográficas De Distopias Antropotecnológicas
Autor: Carlos Eduardo Freitas (UFPB)

RESUMO
Este paper se propõe a oferecer um ensaio de sociologia da cultura a partir de análise do
“lugar” da mulher e do feminismo em narrativas cinematográficas de distopias
antropotecnológicas contemporâneas. Por meio de uma hermenêutica profunda das
produções cinematográficas Mad Max: Estrada da Fúria (2015), Ex Machine (2015) e
Westworld (2016), examinamos em que medida as mulheres exercem papeis de
protagonismo de revoluções antropotecnológicas, descritas muitas vezes como
“encarnações” do Übermensch pós-humano.

36
PALAVRAS-CHAVE: Sociologia da Cultura; Cinema; Distopias; Feminismo; Pós-
Humanismo

RESUMO EXPANDIDO
Quase esquecido atualmente nas ciências sociais do Brasil, o sociólogo paulistano
Octavio Ianni escreveu no ano de 2000 um interessante livro de ensaios sobre os
“enigmas da modernidade” explorados a partir dos olhares interpretativos das criações
artísticas, científicas e filosóficas de época. Na mesma obra, dizia Ianni (2000, p.285):
“alguns momentos excepcionais da modernidade estão presentes no teatro, romance,
poesia, pintura, escultura, música e cinema”. Para Ianni, nas criações artísticas,
particularmente, podem desfilar “mitos” e “mitologias” que habitam o imaginário social
de época. Posto isso, também inspirando na intuição de Octavio Ianni, o presente texto
se propõe a oferecer um ensaio de sociologia da cultura a partir da análise do “lugar” da
mulher e do feminismo em narrativas cinematográficas de distopias de ficção científica
contemporânea. Por meio de uma hermenêutica das produções cinematográficas Mad
Max: Estrada da Fúria (2015), Ex Machine (2015) e Westworld (2016), examinamos
em que medida as mulheres exercem papeis de protagonismo em revoluções
“antropotecnológicas”, descritas muitas vezes como “encarnações” do Übermensch pós-
humano. Nessas e em outras distopias antropotecnológicas, as mulheres são “acrobatas”
da resistência contra mundos de tiranias sistêmicas masculinas, assim como também
“ciborgues” ou “híbridos” que se apresentam como novas “deusas” de uma “utopia”
pós-humana. De modo resumido, os três filmes retratam seres híbridos de mulher e
máquina que lutam por transcender ordens sociotecnomasculinas. A fim de tratar dessas
similitudes entre narrativas cinematográficas e narrativas sociológicas, daremos atenção
especial aos estudos socioantropológicos de Donna Haraway e Peter Sloterdijk. Em
suma, procuramos demonstrar como uma série de problemáticas típicas das teorias
sociais contemporâneas (feminismo, antropotecnologia, tecnologias ciborgues)
encontram uma segunda morada nas narrativas cinematográficas e em que aspectos
essas narrativas revelam mitos da modernidade tardia.

REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo, WMF Martins Fontes,
2010.
. Vigiar e Punir. Rio de Janeiro, Petrópolis, Vozes, 2012.
. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Paz & Terra, 2015.

37
HABERMAS, Jürgen. O Discurso Filosófico da Modernidade. São Paulo, Martins
Fontes, 2002.
HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no
final do século XX in TADEU, Tomaz (Org.); HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari.
Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. 2. ed. – Belo Horizonte :
Autêntica Editora, 2009, p.33-118.
IANNI, Octavio. Enigmas da modernidade-mundo. Rio de Janeiro, Civilização
brasileira, 2000.
LAHIRE, Bernard. Sociologia y Literatura in El espíritu sociológico. Buenos Aires,
Manantial, 2006.
LEPENIES, Wolf. As três Culturas. São Paulo, Edusp, 1996.
SLOTERDIJK, Peter. You Must Change Your Life: On Anthropotechnics. Polity
Press, 2013.
TADEU, Tomaz (Org.); HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari. Antropologia do
ciborgue: as vertigens do pós-humano. 2. ed. – Belo Horizonte : Autêntica Editora,
2009.
Filmes
MILLER. George. Mad Max: Estrada da Fúria. Village Roadshow Pictures. USA,
2015.
GARLAND, Alex. Ex Machine. DNA Films, UK, 2015.
NOLA, Jonathan; JOY, Lisa. Westworld. Athena Wickam, USA, 2016.

MINI CURRÍCULO
Carlos Eduardo Freitas é doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação
em Sociologia da UFPB. Possui mestrado em Ciências Sociais pela Universidade
Federal do Rio Grande Norte (2013). Graduação em Ciências Sociais com bacharelado
em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(2005). Graduação em Ciências Sociais com bacharelado em Ciência Política e
licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(2003). Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase no desenvolvimento de
pesquisas em Teoria Sociológica, Sociologia da Moral e Sociologia Comparada.

Título do Trabalho: Discursos Feministas no Cinema Brasileiro Contemporâneo:


Olhares sobre a obra das cineastas Laís Bodansky e Lúcia Murat
Autores: Lady Dayana Silva de Oliveira e Maria Helena Braga e Vaz da Costa (UFRN)

RESUMO

O estudo faz uma breve análise sobre as produções contemporâneas do cinema


brasileiro, realizadas por mulheres, buscando entender a influência do discurso
feminista incorporado pela sociedade brasileira como um reforço na urgência de
discussão sobre o papel da mulher na sociedade. A análise deu enfoque a obras das
cineastas Laís Bodansky e Lúcia Murat, que apresentam nas narrativas de seus filmes
mais recentes representações de personagens com perfis feministas. Guiamo-nos
principalmente pelas escolhas temáticas das diretoras e análise dos elementos
discursivos nas obras das respectivas cineastas.

38
PALAVRAS-CHAVE: Cinema de Mulheres; Discurso; Feminismo.

RESUMO EXPANDIDO

O estudo tem como objetivo analisar as produções contemporâneas do cinema


brasileiro, realizadas por mulheres, buscando entender a influência do discurso
feminista incorporado pela sociedade brasileira, e visto muitas vezes como um reforço
na urgência de discussão sobre o papel da mulher na sociedade. A análise será feita com
enfoque na obra das cineastas Laís Bodansky e Lúcia Murat, que apresentam nas
narrativas de seus filmes mais recentes representações de personagens com perfis
feministas. Guiamo-nos principalmente pelas escolhas temáticas das diretoras e análise
dos elementos discursivos nas obras das respectivas cineastas. A análise está inserida na
pesquisa de doutorado que estamos desenvolvendo, e se volta para a prática social de
cineastas latinoamericanas na busca de entender as configurações e embates envolvidos
na direção de cinema e o preconceito de gênero existente na indústria cultural,
especificamente na cinematográfica.
Nesta análise consideramos a teoria do feminismo e suas vinculações com o cinema,
mais especificamente sobre o cinema brasileiro contemporâneo. Partimos de uma
reflexão guiada pela inquietação sobre a reduzida produção de obras cinematográficas
sob a direção de mulheres, com a perspectiva de entender a representação na obra de
duas cineastas que se destacam no cenário de produção nacional e que abordam
temáticas relacionadas ao feminismo. Analisando dados quantitativos sobre a indústria
cinematográfica do Brasil, percebemos ainda uma produção incipiente quando se trata
da presença da mulher atrás das câmeras. De acordo com a pesquisa A Cara do Cinema
Nacional: gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-
2012), realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, no Brasil cineastas do
gênero masculino representam 86,3% enquanto cineastas mulheres somam apenas
13,7%, e, ainda que haja uma presença feminina nas telas de cinema, elas estão
mormente em uma posição de objetos de representação e ocupam lugar minoritário na
construção dessas representações. Foster (2006) indica que para reconhecer a
configuração de um projeto feminista no cinema, devemos perceber o filme como uma
produção cultural que coloca em primeiro plano a história ou histórias de vida de
mulheres. Outro aspecto é que para ser feminista, a história não precisa ser,
necessariamente, contada por uma mulher. Mas para serem consideradas como
produções feministas, é preciso que haja mulheres envolvidas em todos os níveis, no

39
projeto de produção, na direção, no roteiro e, acima de tudo, no elenco, inclusive pode
haver homens envolvidos, até mesmo desempenhando papéis importantes, mas a equipe
de produção tem que ser, prioritariamente, de mulheres. Outra forma de verificar a
atuação de mulheres no cinema é o chamado teste de Bechdel3. O teste surgiu há 30
anos, em uma tira da cartunista Alison Bechdel, para ironizar como Hollywood sub-
representa as mulheres. Inspirada nas ideias de Virgina Woolf, Alison Bechdel escreveu
a tira chamada “A regra”, na história em quadrinhos Dykes to Watch Out For (1985).
Na tira uma personagem feminina sem nome diz só assistir a um filme se ele cumprir os
requisitos de (1) ter pelo menos duas mulheres; (2) elas devem conversar uma com a
outra; e (3) sobre alguma coisa que não seja um homem. Nessa reflexão analisaremos as
obras, Como nossos pais, dirigido por Lais Bodansky e Entre atos, de Lúcia Murat.
Nosso olhar analítico se voltará às abordagens que destacam discussões atuais,
principalmente sobre a representação dos conflitos que envolvem o universo feminino a
partir do olhar da mulher. Com base na análise de discurso, o objetivo é entender de que
forma a representação das mulheres está relacionada ao discurso da teoria feminista,
especificamente no que se refere às lutas por espaço e reconhecimento da mulher na
sociedade contemporânea.

REFERÊNCIAS

FOSTER, David William. Mulher e Cinema na América Latina, Revista Interin


Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, vol.1, n.1, Curitiba-PR, 2006.
GARGALLO, Francesca. Ideas feministas latinoamericanas. México. Universidad de la
Ciudad de México, 2006.
HASKELL, Molly. From Reverence to Rape: The Treatment of Women in the Movies.
Chicago: The University Press of Chicago, 1987.
KAPLAN, Ann E. A mulher e o cinema – os dois lados da câmera. Rio de Janeiro:
Rocco,1995.
LIPOVETSKY, Gilles. A terceira Mulher: permanência e revolução do feminino. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.
MULVEY, Laura. Cinema e Sexualidade. In: XAVIER, Ismail (Org.). O cinema no
século. Rio de Janeiro: Imago, 1996. NICHOLSON, L. Interpretando o gênero. Revista
Estudos Feministas, v. 8, n. 2, Florianópolis, 2000.
RICALDE. Maricruz Castro. Feminismo y teoria cinematográfica. Escritos. Revista del
Centro de Ciencias del Lenguage. Num 25. en./jun de 2002, pp 23-48.
STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. Campinas: Papirus, 2003.
CHARAUDEAU, P. Discurso das Mídias. São Paulo: Contexto, 2006.
Filmografia BODANSKY, Lais. (Dir.) Como nossos pais. Brasil, 2017. MURAT,
Lúcia. (Dir.). Em três atos. Brasil, 2015.

40
MINI CURRÍCULO
Lady Dayana Silva de Oliveira é jornalista formada pela UFRN, doutoranda em Estudos
da Mídia pelo Programa de Pós- Graduação em Estudos da Mídia - PPgEM-UFRN.
Possui Mestrado pelo referido programa. Possui experiência na área de produção de TV,
tendo atuado no Grupo Bandeirantes de Comunicação, como editora de texto e
produção. Desde 2013 atua como docente no Departamento de Comunicação Social da
UFRN.
Maria Helena Braga e Vaz da Costa é Pós-doutorada em Cinema pelo International
Institute - University of California at Los Angeles (UCLA) - USA; Doutorado e
Mestrado em Estudos de Mídia pela University of Sussex - Inglaterra; Graduação em
Arquitetura e Urbanismo pela UFPE. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
Professora Associada IV (DE) do Departamento de Artes UFRN; Coordenadora do
Grupo de Pesquisa Linguagens da Cena: Imagem, Cultura e Representação; Professora
permanente dos Programas de Pós-Graduação em Estudos de Mídia (PPGEM) e em
Geografia (PPGE) da UFRN. Vice-coordenadora do Curso de Especialização em
Cinema (UFRN) e atualmente é Coordenadora da Pós-Graduação em Geografia
(UFRN).

10.11.2017
Título do Trabalho: Think Olga: feminismo interseccional em rede no combate ao
assédio sexual
Autores: Mariana Lemos de Morais Bezerra (UFRN)

RESUMO

O objetivo desse trabalho é analisar os conteúdos presentes na fanpage do Facebook do


Think Olga sobre a temática do assédio sexual. A abordagem utilizada será a
interseccional com viés construcionista de Avtar Brah (2006), já que permite ampliar e
tornar mais complexo o olhar sobre a produção de desigualdades e diferenças em seus
contextos específicos, contribuindo para uma análise mais condizente com a realidade.
Para a compreensão das publicações se empregará à Análise de Conteúdo de Laurence
Bardin (1977). Como resultado, observa-se que as relações gênero se articulam com
outros marcadores sociais, como, classe e raça.

PALAVRAS-CHAVE: Estudos da Mídia; Feminismo Interseccional; Facebook.

RESUMO EXPANDIDO

Esta pesquisa objetiva analisar como as redes sociais na internet têm contribuído para o
impulsionamento e articulação dos movimentos feministas. Para isso, propõe-se
empregar a Análise de Conteúdo, de Bardin (1977), dos conteúdos postados no
Facebook do Think Olga, em Abril de 2017, mês de aniversário da ONG, sobre a
temática do assédio sexual. Ressalta-se, portanto, que tal problemática possui

41
implicações e desemboca nos campos das teorias de gênero e da Mídia. Este estudo tem
uma abordagem, principalmente, com viés qualitativo, mas também recorre a aspectos
quantitativos que formam uma relação de complementaridade. O foco dessa abordagem
se encontra nos processos, na interpretação de fenômenos e na atribuição de
significados, considerando que existe entre o mundo real e os sujeitos uma relação
dinâmica, que não pode ser explicada apenas em números. Inicia-se esta discussão a
partir de algumas ponderações sobre a interseccionalidade. Ainda que, com atenção
crescente à pesquisa histórica de seu curso teórico, assim como suas diferentes
vertentes, aparenta ainda ser pouco explorada em termos de análise e teorizações
sociais. Consequentemente, pode-se afirmar que as “últimas décadas têm marcado as
análises interseccionais a partir, principalmente (mas não apenas) de teóricas feministas
e dos estudos de gênero baseadas nos Estados Unidos e em alguns países europeus”
(HENNING, 2015, p.101). Portanto, é primordial salientar que esse desenvolvimento
não pressupõe coesão teórica, já que existem inúmeras visões contemporâneas acerca da
noção, a qual tende a ser vista, por exemplo, como teoria, método, abordagem,
paradigma e etc. (HENNING, 2015). Para realizar a discussão baseia-se em Piscitelli
(2008), Henning (2015) e Brah (2006). É importante ressaltar que para fazer um estudo
interseccional não é necessário desenvolver uma análise de infinidade de marcadores
em toda e qualquer análise social, mas observar o entrelaçamento daqueles que são
significativos contextualmente em termos específicos, históricos, localizados e políticos
(HENNING, 2015). Como o Brasil se construiu a partir de uma realidade multirracial,
multicultural, multirreligiosa e pluriétnica, os marcadores de análise utilizados foram:
raça, gênero e classe. A heterogeneidade brasileira constitui-se num item bastante
positivo, entretanto devido às marcas históricas de discriminação e de exclusão, as
diferenças sociais, culturais e raciais são frequentemente transformadas em
desigualdades, ligadas à má distribuição de riquezas (RIBEIRO, 2013). Por esse motivo,
é primordial analisar que a invisibilidade atribuída às mulheres é construída
historicamente, a partir de distintos padrões de hierarquização no campo das relações de
gênero e raça que, medidas pela classe social, causam intensas exclusões. Tendo em
conta, essencialmente, como os movimentos feministas passaram a articular-se em rede,
difundindo informações, trocando opiniões e coordenando estratégias de atuação,
também serão trazidas contribuições teóricas que irão respaldar essa questão. Como
resultado, observa-se que as mulheres têm utilizado as mídias digitais como meio
mobilizador. A análise realizada a partir dos marcadores de interseccionalidade, raça,

42
gênero e classe, mas também através indicadores qualitativos e quantitativos, formam
uma relação de complementaridade, que evidenciam a relevância da abordagem
interseccional, enquanto articuladora de categorias de “diferenças”. Isto significa que
tais situações são vivenciadas de formas diferenciadas se consideradas mulheres negras,
brancas, pardas e amarelas. A menção a desigualdades de gênero, considerando-se
apenas homens e mulheres, torna-se a partir desta perspectiva, bastante simplificadas, e
não reflete inteiramente o que de fato acontece.

REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.
BRAH, Avtar. Diferença, Diversidade, Diferenciação. Cadernos Pagu, Campinas, n.26,
p. 329-376, jan./jun. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf >. Acesso em: 05.abr17.
RIBEIRO, Matilde. A condição negra no mundo contemporâneo e a condição negra e
feminina no Brasil. In: GARCIA, Antonia Santos; JÚNIOR GARCIA, Afrânio Raul
(Orgs.). Relações de Gênero, Raça, Classe e Identidade Social no Brasil e na França.
Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013.
HENNING, Carlos Eduardo. Interseccionalidade e pensamento feminista. Mediações,
Londrina, v.20, n.2, p.97-128, jul/dez.2015. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/22900>. Acesso em:
15.jan.17.
PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidade, categorias de articulação e experiências de
migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura, Goiânia, v.11, n.2, p. 263-274, jul/dez. 2008.
Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/fchf/article/view/5247/0>. Acesso em:
23.fev.17.

MINI CURRÍCULO
Mestranda em Estudos da Mídia pela UFRN, MBA em Marketing Estratégico pela UNI-
RN. Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda
pela Universidade Potiguar. Participa, na UFRN, do PROCAD Comunicação e
Mediações em Contextos Regionais: Usos Midiáticos, Culturais e Linguagens
(USP/UFRN/UFMS, EDITAL N° 071/2013 - PROGRAMA
NACIONALDE COOPERAÇÃO ACADÊMICA). Integrante do grupo de pesquisa
Pragmática da Comunicação e da Mídia: teorias, linguagens, indústrias culturais e
cidadania, vinculado
ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia da UFRN.

Título do Trabalho: A luta pelo fim da violência contra a mulher no Brasil


Autoras: Joselma Ramos Carvalho (UFRN), Brenda Beatriz Silva (UFRN), Sabrina de
Lima Silva (UFRN) e Maria Ilidiana Diniz (UFRN)

RESUMO

43
Historicamente a violência doméstica e familiar contra as mulheres tem sido uma
realidade na sociedade brasileira, apesar das lutas para reverter tal situação e da
implantação de algumas políticas, como a Lei 11.340/06 que é um mecanismo de
proteção à mulher. Desse modo, o trabalho ora apresentado, através de revisão
bibliográfica e análise documental, busca observar os limites e possibilidades para a
efetivação da lei e influir para a reflexão sobre os condicionantes geradores desse tipo
de violência.

PALAVRAS-CHAVES: Violência doméstica; Relações de Poder; Lei Maria da Penha.

RESUMO EXPANDIDO

A realidade social brasileira tem demonstrado que a violência contra a mulher no


âmbito privado ainda é algo bastante recorrente e atinge todas as classes sociais, como
um elemento cultural que se expressa, dentre outros, no entrelaçamento patriarcado,
capitalismo e racismo, na medida em que a subordinação das mulheres se desdobra e se
conecta a outras dimensões, sendo elas a de raça e classe. (ALMEIDA, 2017). Essas três
dimensões interligadas potencializam os elementos de subordinação e exploração
agudizando os fatores legitimadores da desigualdade entre os homens e mulheres. Nesse
sentido, é de importância que se compreenda a interseccionadade que é uma forma de
entender as consequências da relação entre duas ou mais formas de subordinação, para
que se busque “lutar contra as múltiplas formas conjugadas de opressão”. (HIRATA,
2014, p. 69). Importante mencionar que o modo de enfrentamento da violência contra a
mulher é que diferencia entre as classes, tanto do ponto de vista da denúncia, como as
formas de silenciamento, que ocorre, por vezes, no seio das camadas mais elevadas da
sociedade por causa da “cumplicidade dos membros da família estabelecendo-se o sigilo
em torno dos fatos”. (SAFFIOTI, 2004, p. 26). Por fatores diferenciados, as famílias
tendem a esconder a ocorrência das múltiplas formas de violência para que não tenha a
sua “honra atingida’. A partir da década de 1970, iniciativas em defesa dos direitos da
mulher começam a ganhar visibilidade. A Organização das Nações Unidas (ONU)
institui o ano 1975 como o Ano Internacional da Mulher, produções intelectuais
feministas ganham notoriedade. (SILVA, 1992). Em cenário nacional, mobilizações
feministas denunciam as violências letais contra as mulheres pela justificativa de que se
matava ‘por amor’ ou em ‘defesa da honra’. E mais tarde é que foram surgindo serviços
em favor da mulher, como as DEAMs. (QUEIROZ, 2012). Sendo adotadas, inclusive,
ferramentas legais de amparo à mulher vítima de violência doméstica. A Lei Maria da
Penha (11.340/06), sancionada em 07 de agosto de 2006, é um marco histórico na luta

44
das mulheres brasileiras por direitos igualitários e carrega o nome de uma das tantas
vítimas de violência de gênero Maria da Penha, ao lutar por justiça em seu caso,
recorreu à corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados
Americanos (CIDH/OEA), e o Estado brasileiro foi responsabilizado pela omissão e
negligência e por não ter tornado efetivas as condenações interpostas ao agressor da
vítima. Isso incentivou a implantação da referida lei, como o principal dispositivo legal
para punições mais rígidas contra os agressores e, também com o massivo aparato para
vítimas de violência. A partir da promulgação da Lei, as mulheres em situação de
violência doméstica contam com a rede de enfrentamento tais como delegacias
especializadas e também com a rede de assistência, como Centros de Referência
Especializados, embora ainda seja dificultoso articular os serviços e políticas para
efetivar os direitos das mulheres. Nesse sentido, a legislação, que ainda é bem recente,
imperializa um aparelhamento mais eficaz. Todavia os números que retratam esse tipo
de violência contra a mulher ainda permanecem expressivos em todo país. Segundo o
Portal Brasil: Cidadania e Justiça, no primeiro semestre de 2016 a central de
teleatendimento (Ligue 180) contabilizou 555.634 atendimentos. Em média foram
92.605 atendimentos por mês e 3.052 por dia; destes, quase 68 mil, o equivalente a
12,23% do total de atendimentos, foram relatos correspondentes à: violência física
(51%), psicológica (31,1%), moral (6,51%), patrimonial (1,93%), sexual (4,30%),
cárcere privado (4,86%) e tráfico de pessoas (0,24%). Isto posto, o referido trabalho
busca reflexão acerca das relações de poder no âmbito familiar e sobre o
comportamento socialmente construído de subalternidade interposto às mulheres,
relacionando isso a mecanismos de proteção preconizados na Lei Maria da Penha.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Janaiky Pereira. Organismos Internacionais e enfrentamento à precarização
do trabalho das mulheres na América Latina. 2017. 262 f., il. Capítulo 2, p. 46-84. Tese
(Doutorado em Política Social)— Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
BRASIL. Portal Brasil: Cidadania e Justiça. Brasília: Ministério da Justiça, 2016.
Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2017.
HIRATA, H. Gênero, classe e raça Interseccionalidade e consubstancialidade das
relações sociais. Tempo Social: revista de sociologia da USP, v. 26, n. 1, p.61-71, 2014.
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2004.
SILVA, Marlize Vinagre. Violência contra a mulher: quem mete a colher? São Paulo:
Cortez, 1992. QUEIROZ, F. M. de, et al. Violência contra a mulher: o pessoal é

45
político. In: . (Coord.). Capacitação sobre a Lei Maria da Penha [...] no
município de Mossoró/R. Natal/RN, [s.n.], 2012. p. 1-8.

MINI CURRÍCULO
Joselma Ramos Carvalho - Graduanda em Serviço Social (Bolsista
PIBIC/CNPq/UFRN)
Brenda Beatriz Silva - Graduanda em Serviço Social (UFRN)
Sabrina de Lima Silva - Graduação em Serviço Social (UFRN); Coordenadora de
Políticas para as Mulheres (SEJUC/RN)
Profa Dra Maria Ilidiana Diniz - Departamento de Serviço Social (UFRN)

Título do Trabalho: Violência Contra a Mulher: O gênero e sociedade comoagentes


responsáveis
Autoras: Daniele de Medeiros Lima (UNIFACEX) Flávia Beatriz Silva Medeiros
(UNIFACEX)

RESUMO
Resultado de uma construção histórica, a violência à mulher é desenvolvida pela
sociedade desde o início das civilizações, estruturando a inferioridade incessante ao
homem e a vulnerabilidade à violência física, moral e psicológica. Nesse contexto,
temos o objetivo de tratar da dignidade da pessoa humana como referencial para que
seja dada a devida eficácia da aplicação da Lei Maria da Penha, evidenciando a sua
constitucionalidade e explanando argumentos para tratar dessa eficácia ou falta dela.

PALAVRAS-CHAVE: Violência contra a mulher; gênero; Lei Maria da Penha.

RESUMO EXPANDIDO

Resultado de uma construção histórica, a violência contra mulher é desenvolvida pela


sociedade desde o início das civilizações, estruturando a inferioridade incessante quanto
ao homem e a vulnerabilidade à violência física, moral e psicológica. Crueldade essa
dada à relação de poder que a sociedade julga ter de intervir desde as palavras ditas até
as atitudes da vítima; também se fazendo presente as questões físicas, de classe e raça –
todas estimuladas pela ideologia de gênero -. Sendo aqui aplicados os Princípios da
Dignidade da Pessoa Humana e da Isonomia, expressos na Constituição Federal
Brasileira; em conjunto com o estudo à Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) e a
constitucionalidade dela, também tratando de sua eficácia. Aprofundar o estudo sobre a
Lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha, bem como expor os mecanismos de amparo as

46
mulheres vítimas de violência de gênero, mostrar a suma importância sobre o assunto,
sendo de extrema relevância o conhecimento de sua aplicabilidade. Visando a dignidade
da pessoa humana como referencial de maior potencial para que seja dada a devida
eficácia da aplicação da Lei, evidenciando a sua constitucionalidade e explanando
argumentos para tratar do entendimento de sua eficácia ou da falta dela. Através do
método cartográfico, foram realizadas pesquisas bibliográficas, que resultaram na
obtenção de informações para um levantamento qualitativo, servindo para orientação e
entendimento do assunto abordado. Como também foi utilizado levantamento
quantitativo através dos dados disponibilizados pela Delegacia Especializada ao
Atendimento à Mulher da zona norte de Natal, nos orientando quanto às denúncias de
violência e nos permitindo comparar o número de ocorrências e inquéritos instaurados,
a fim de obter a quantidade de mulheres que retiram suas queixas. Cabe-nos tratar da
Lei Maria da Penha como forma de tratamento isonômico entre as partes, ou seja,
utilizando do tratamento “igual aos iguais e desiguais aos desiguais”, não trazendo, de
forma alguma, em seus objetivos, vantagens a um gênero sobre outro, e sim, uma forma
de equilibrar as relações desiguais existentes entre homens e mulheres, tão presentes na
sociedade. Dessa forma, temos a Lei como papel relevante na sociedade para conter a
violência contra as mulheres, sendo que a sua eficácia dependa não somente da
sociedade (grande influenciadora no processo), mas também a forma do tratamento dada
à Lei por seus aplicadores. Portanto, concluímos que a cultura machista, advinda dos
primeiros séculos da existência, a qual se faz presente na sociedade até os dias de hoje, é
a principal influenciadora dos atos referentes à violência à mulher, levando-se em
consideração os julgamentos a ela presentes nos discursos da sociedade. E como meio
de retratação, é criada a Lei Maria da Penha que, apesar das dificuldades que enfrenta
diante de seus aplicadores e quanto sua aceitação, ela traz o Princípio da Isonomia como
defesa da Dignidade da Pessoa Humana, na tentativa de desconstruir tal ideologia de
superioridade do homem à mulher.

REFERÊNCIAS
SOUZA, Sérgio Ricardo, Comentários à Lei de Combate à Violência Contra a Mulher,
2a edição, Curitiba: Juruá, 2008.
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da Lei
1.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, 2a Ed. Ver.
Atual. E ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

47
PULEO, Alicia. “Filosofia e gênero: da memória do passado ao projeto de futuro”. In:
GODINHO, Tatau; SILVEIRA, Maria Lúcia (Orgs.). Políticas públicas e igualdade de
gênero. 1. ed. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10a. edição revista,
Malheiro Editores, São Paulo, 1995.
LEI MARIA DA PENHA. Lei N.°11.340, de 7 de agosto de 2006.
BRASIL. Constituição Federal de 1988.

MINI CURRÍCULO
Daniele de Medeiro Lima: Empresária no ramo de prestação de serviços. Graduanda no
quarto período do curso de direito da Unifacex.
Flávia Beatriz Silva Medeiros: Estudante. Graduanda do quarto período do curso de
direito da Unifacex.

Título do Trabalho: Reconhecimento Jurídico do Direito ao Aborto no STF: o habeas


corpus 124.306-RJ
Autores: Emerson Erivan de Araújo Ramos (UFPB) e Jobênia Naath de Oliveira Souza
(ASPER)

RESUMO

Tomando por fundamento que o corpo da mulher foi colonizado pelas novas formas de
poder da modernidade institucional, surgidas a partir do século XVIII com a
consolidação do capitalismo industrial, este artigo objetiva realizar uma defesa da
decisão do Supremo Tribunal Federal em sede do Habeas Corpus 124.306-RJ, com base
na análise do voto-vista do ministro Luís Roberto Barroso. Na decisão, o STF pugnou
pela atipicidade das condutas relativas ao aborto provocado, até o terceiro mês de
gestação.

PALAVRAS-CHAVE: aborto; biopoder; poder disciplinar; reconhecimento; Supremo


Tribunal Federal.

RESUMO EXPANDIDO

A proibição do aborto consegue ser explicada sociologicamente de maneira


muito convincente: o avanço do capitalismo industrial e a consequente intensificação do
poder disciplinar (sobre o corpo) e do biopoder (sobre a população), frutos da nova
ordenação social que surge entre os séculos XVIII e XIX, fizeram do corpo da mulher
um grande campo de guerra. Porém, contra essas formas dominantes de poder exercidas
sobre o corpo e a vida das mulheres, surge(m) o(s) feminismo(s); o qual se apresenta
como um movimento social insurgente, reivindicando o direito destas pela livre fruição
do próprio corpo – usurpado pelo Estado, como parte dessa dinâmica política de

48
assimetria de gênero. A gramática do direito, nesse sentido, tem sido a aposta necessária
do(s) feminismo(s) para uma (re)conquista do próprio corpo pela mulher.
Inobstante o princípio basilar da modernidade institucional seja a autonomia da
vontade (liberdade negativa), isto é, a não ingerência do Estado nas escolhas pessoais do
indivíduo, o direito da mulher de fruir livremente do próprio corpo tem sido negado
sistematicamente pelo Estado liberal. Isso porque às mulheres sempre coube um
exercício de subcidadania, sobretudo pelo aprisionamento deliberado ao espaço
doméstico – afastando-as da condução dos negócios públicos. A consequência primeira
desse fato é o reconhecimento precário, por parte do Estado, das experiências
intrinsicamente femininas. E é nesse quadro político que se insere a luta pelo direito ao
aborto.
O reconhecimento jurídico do direito ao aborto é uma reivindicação que deriva
do chamado feminismo de segunda onda, que ascende na década de 1960. Em sua
gênese, encontram-se as demandas pelo exercício do direito ao planejamento familiar e
pelo domínio do próprio corpo.
No Brasil, o direito ao aborto possui forte rejeição popular e institucional, e
recentemente entrou novamente na pauta do dia em virtude da decisão da 1ª Turma do
Supremo Tribunal Federal no julgamento do Habeas Corpus 124.306-RJ. Por maioria
dos ministros, em 26 de novembro de 2016, nos autos desse processo, o STF decretou a
liberdade provisória de duas pessoas que haviam mantido clínicas clandestinas de
aborto (e, por essa razão, respondiam pelo crime de aborto provocado por terceiro e
formação de quadrilha), bem como (nessa mesma decisão) pugnou pela possibilidade do
aborto provocado até o terceiro mês de gestação, como direito fundamental da mulher.
Dado o exposto, o artigo discorrerá sobre o reconhecimento jurídico do direito
ao aborto na decisão referente ao Habeas Corpus 124.306-RJ, bem como de seus
fundamentos. Dividir-se-á em três partes que se correlacionam. A primeira delas narra,
com espeque no método genealógico desenvolvido por Nietzsche e Foucault, as
confluências de poder que geram a proibição do aborto. Trata-se de reconhecer o corpo
da mulher como um espaço sobre o qual e pelo qual há intenso exercício de poder, e
apresentar a criminalização do aborto como um efeito das relações de poder que movem
o capitalismo (pós-)industrial (sobretudo, o poder disciplinar e o biopoder). Em uma
segunda etapa, é preciso esclarecer como a narrativa liberal de autonomia da vontade e
de igualdade formal é construída de maneira a excluir as mulheres dos espaços de
tomada de decisão e negar o reconhecimento jurídico de experiências propriamente

49
femininas. Por fim, intenta-se analisar o julgamento do Habeas Corpus 124.306-RJ pela
1ª Turma do Supremo Tribunal Federal. Em especial, o voto do ministro Luís Roberto
Barroso, que se destaca pela defesa da atipicidade das condutas que envolvem o aborto
provocado (até o primeiro trimestre de gestação), como forma de exercício dos direitos
humanos das mulheres.

REFERÊNCIAS
DINIZ, Debora; MEDEIROS, Marcelo and MADEIRO, Alberto. Pesquisa Nacional de
Aborto 2016. Ciênc. saúde coletiva. 2017, vol.22, n.2, pp.653-660. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
81232017000200653&script=sci_abstract&tlng=pt>, acessado em 12 de outubro de
2017.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: Curso no Collège de France (1975-
1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999 [1976].
. História da sexualidade 1: A vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 2014
[1976].
. Microfísica do poder. 13ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998 [1979].
RAMOS, Emerson. Disciplinamento e biopoder. In: AVELINO, Nildo (et al., org.).
Anais eletrônicos do 2º Encontro Internacional de Estudos Foucaultianos: razão
política e acontecimento. João Pessoa: UFPB, 2016. Disponível em:
<http://gepan.org/ocs/index.php/estudosfocautianos/anais2017/schedConf/presentations
>. Acesso em 20 de agosto de 2016.
. Feminismo como Teoria Crítica do Projeto Liberal de Cidadania: A equidade
de gênero entre o universal e o diferenciado. Dissertação (Dissertação em Direito) –
UFPB. João Pessoa, 2014.

MINI CURRÍCULO
Emerson Erivan de Araújo Ramos – Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em
Sociologia pela mesma instituição (2015-), desenvolvendo pesquisas relacionadas ao
extermínio de travestis e transexuais na Paraíba. Professor Substituto no Departamento
de Ciências Jurídicas da UFPB, bem como da Associação Paraibana de Ensino
Renovado (ASPER). Tem experiência no desenvolvimento de projetos de pesquisa,
atuando principalmente nas seguintes áreas: Direitos Humanos, Direito Penal, Estudos
de Gênero e Teoria Política.
Jobênia Naath de Oliveira Souza – Graduanda em Direito pela Associação Paraibana de
Ensino Renovado (ASPER).

Título do Trabalho: A Advocacia de Causa Feminista no Brasil: Novas sensibilidades


Morais a partir da perspectiva interseccional
Autora: Andressa Lídicy Morais Lima (UnB)

RESUMO

O presente paper visa colocar em relevo algumas considerações acerca do fenômeno


conhecido como advocacia de causa feminista no Brasil. O texto é baseado em pesquisa
etnográfica para fins de tese de doutoramento com grupos de advocacia feminista.
Desse modo, procuro investir na apresentação de novos aportes históricos,

50
epistemológicos e políticos para refletir sobre os modos práticos de atuação de um
grupo de advogadas feministas que estão construindo o movimento social a partir da sua
atuação profissional. O paper demanda esforço de compreensão deste fenômeno pouco
estudado no campo científico brasileiro e busca conhecer de que maneira este ativismo
vem produzindo o que estou chamando de novas sensibilidades morais dentro do poder
judiciário.

PALAVRAS-CHAVE: Antropologia; Etnografia; Interseccionalidades; Advocacia de


Causa Feminista; Movimentos Sociais.

RESUMO EXPANDIDO

Atualmente, no Brasil, e também na América Latina (GOETZ, 2008; FRIES, 2010;


FACIO, 2015), destaca-se uma forte atuação e engajamento na esfera pública, em
particular, no espaço da esfera do direito, envolvendo operadoras do direito na produção
de um tipo de ativismo feminista dentro do judiciário. Observa-se a efervescência de
ações coletivas protagonizadas por juristas feministas em torno da construção de um
novo campo de estudos e lutas sociais. A partir disto, tenho trabalhado na investigação
etnográfica sobre a interface entre justiça de gênero, advocacia de causa e sentidos de
justiça, os movimentos sociais e suas lutas por reconhecimento em torno da
reelaboração de teorias do direito (FRASER, 2001; MUKOPADHYEE, 2008;
MALINEUX, 2010; TOVAR, 2015; HONNETH, 2003; CARDOSO DE OLIVEIRA,
2010). Interessa-nos destacar as experiências que têm surgido nos últimos anos no
Brasil acerca dos “feminist legal studies”, isto é, teorias feministas do direito, cujo
interesse e produção intelectual ainda é bastante restrito, todavia tem tido um importante
protagonismo na esfera pública brasileira através de juristas feministas que vem
formando uma rede de atuação dentro do próprio judiciário. Com base em estudos
etnográficos, o presente trabalho visa colocar em relevo os aportes históricos, teóricos,
epistemológicos e políticos desta nova modalidade de ativismo: o ativismo feminista
dentro do judiciário. Assim, o presente trabalho é um esforço para compreensão desse
novo fenômeno social a partir do ponto de vista de nossas interlocutoras – advogadas e
juristas feministas. Procuramos conhecer as gramáticas morais que guiam suas
estratégias de produção e atuação, e de que modo este ativismo vêm sendo alavancado
dentro do direito por meio das batalhas jurídicas destas operadoras do direito e do seu
ativismo jurídico feminista. Estas mulheres têm lido o sistema de justiça informadas por
novas sensibilidades morais, procurando colocar em debate as diferenças que persistem

51
nos discursos e nas práticas jurídicas. Os “feminist legal studies” tem como foco
privilegiado as práticas que estão arraigadas em concepções androcêntricas e sexistas de
conceber o mundo e que foram incorporadas na gramática jurídica e nos “modos de
fazer justiça”. Logo, nossa investigação etnográfica tenta compreender de que modo
estas juristas produzem novas sensibilidades morais e jurídicas nas teorias do direito a
partir de um enfoque feminista e de sua própria atuação na esfera pública midiática, nas
batalhas judiciais e na reelaboração de teorias do direito numa perspectiva
interseccional. Nesse sentido, procuro contribuir, do ponto de vista da antropologia,
para o debate teórico - metodológico sobre o processo de mobilização do direito a partir
das lutas por reconhecimento articuladas pelos novos movimentos sociais no Brasil.
Venho desenvolvendo pesquisa etnográfica com um grupo de operadoras do direito que
prestam assessoria jurídica pro bono para mulheres em situação de violência, ONG
TamoJuntas. O grupo surge a partir da rede social Facebook de uma dessas advogadas
em Salvador-Bahia/Brasil. Inicialmente procurei conhecer as operadoras do direito da
ONG TamoJuntas a partir do que elas pensam sobre os ideais de bem viver, justiça e
direito, assim foi possível mapear a gramática moral destas ativistas feministas do
judiciário brasileiro à luz da teoria do reconhecimento na perspectiva da
interseccionalidade. A realização desta pesquisa me permite estudar sobre os processos
de mobilização do direito alavancados por advogadas feministas interseccionais, no
intuito de conferir relevância e visibilidade aos grupos sociais envolvidos nesse
importante fenômeno que tem alterado o cenário brasileiro e de vários países no mundo
em virtude de uma advocacia engajada. Além de conhecer as gramáticas morais que
guiam as estratégias de produção e atuação das operadoras do direito da TamoJuntas,
compreendo de que modo estas feministas produzem novas sensibilidades morais e
jurídicas nas teorias do direito a partir de um enfoque feminista interseccional. Nesse
sentido, a etnografia se desenvolve na perspectiva da compreensão dos conflitos, dos
direitos e dos sentidos de justiça no processo de mobilização do direito e lutas por
reconhecimento através das batalhas judiciais com foco na interseccionalidade, isto é,
compreendendo o lugar social que se coloca para essas interlocutoras e como se constrói
sem indissociar gênero, classe e raça tanto na perspectiva das advogadas quanto das
assistidas. Reconheço que o mecanismo de acesso à justiça não é exatamente o mesmo
para todos os movimentos sociais, por isso este trabalho visa dar relevo a essa nuance a
partir da etnografia com o grupo de operadoras do direito da ONG TamoJuntas, mas
também incorporando algumas notas etnográficas a partir do estudo de casos de outros

52
dois grupos, qual sejam, a Rede Feminista de Juristas (DeFEMde) e o Coletivo Helenas,
de modo a fazer aparecer a diversidade de práticas de mobilização do direito e adensar
analiticamente a observação destes múltiplos contextos pesquisados. Dessa forma, o
presente trabalho é uma articulação contínua entre as questões teóricas e as questões que
o intenso trabalho de campo que vem sendo realizado apresenta, não só para a
elaboração da etnografia ora em andamento, mas para o potencial diálogo que o Grupo
de Trabalho potencialmente pode permitir ampliar acerca do tema proposto.

REFERÊNCIAS
CARDOSO DE OLIVEIRA, Luís Roberto. A dimensão simbólica dos direitos e a
análise de conflitos. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 53, n. 2, p. 451-473,
2010.
ENGELMANN, Fabiano. Sociologia do campo jurídico: juristas e usos do direito.
Porto Alegre: Sergio Fabris, 2006.
ISRAËL, Liora. La résistance dans les milieu judiciaires. Action collective et identités
professionnelles em temps de guerre. Genéses (nº45), p. 45-68, 2001.
MORAIS LIMA, Andressa Lídicy. TamoJuntas: Notas etnográficas sobre uma
experiência de cause lawyers em Salvador (BA). In: V Encontro Nacional de
Antropologia do Direito. São Paulo/SP, 2017.
SARAT, Austin; SHEINGOLD, Stuart. Cause lawyering: political commitments and
professional responsabilities. Oxford University Press, 1998.
. Cause Lawyers and Social Moviments. California, Stanford University Press,
2006.

MINI CURRÍCULO
Doutoranda em Antropologia Social no PPGAS/UnB. Mestra em Antropologia Social
pela UFRN (2012). Graduada em Ciências Sociais pela UFRN (2009). Tem experiência
em Antropologias Urbana, do Direito e da Moral, com ênfase em Direitos Humanos e
Interseccionalidades. Realizou pesquisas etnográficas com movimentos sociais, usuários
de crack, povos e comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, ciganos). É
membra do Laboratório de Estudos da Cidadania, Administração de Conflitos e Justiça
(UnB).

Título do Trabalho: Contribuições dos grupos reflexivos com homens autores de


violência doméstica
Autora: Juliano Beck Scott (UFRN)

RESUMO

A violência contra a mulher faz parte da história da humanidade. No entanto, nas


últimas décadas, tem-se demonstrado uma preocupação com a superação desse tipo de
violência. Pensando nisso, este estudo visa, por meio de estudo teórico, demonstrar as
contribuições dos grupos reflexivos com homens autores de violência no enfrentamento
da violência doméstica. Os resultados demonstram que apesar de ainda incipiente no

53
Brasil, os grupos reflexivos têm contribuído na diminuição dos índices de violência
contra a mulher por meio da responsabilização e reflexão dos homens.

PALAVRAS-CHAVE: Violência; Masculinidades; Grupos reflexivos.

RESUMO EXPANDIDO

Introdução: De acordo com Scott (1989), gênero é um primeiro modo de dar


significado às relações de poder que sustentam as relações entre homens e mulheres.
Segundo a autora, o gênero não está constituído pelas diferenças sexuais, mas pelas
relações de poder produzidas pela constatação oriunda das diferenças sexuais.
Conforme Saffioti (2004), o gênero, socialmente construído, corporifica a sexualidade e
a exerce como uma forma de poder. Além disso, a relação de dominação dos homens
sobre as mulheres está baseada numa fundamentação biológica construída socialmente
que cria e retroalimenta a dominação, onde quem possui poder e controle é o homem
(Saffioti, 2004). Segundo Connell e Messerschimdt (2013), o poder de dominação
concedido aos homens sobre outras categorias pode se expandir inclusive sobre outros
homens. De acordo com os autores, existe um conceito, denominado masculinidade
hegemônica, que incorpora diferentes categorias ou elementos que determinam a
hegemonia masculina. O conceito de masculinidade hegemônica possibilitou uma
ligação entre os estudos sobre homens, posição feminista do patriarcado e modelos
sociais de gênero, trazendo a possibilidade de transformação das relações de gênero e do
padrão dominante de masculinidade aberto à contestação (Connell & Messerschimdt,
2013). Metodologia: O presente estudo visa demonstrar, por meio de estudo teórico, as
contribuições dos grupos reflexivos com homens autores de violência no enfrentamento
da violência doméstica contra a mulher. Resultados e Discussão: De acordo com dados
da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2013), estima-se que 35% das mulheres de
todo o mundo já tenham sofrido algum tipo de violência praticada por parceiro íntimo
ou por um não parceiro em algum momento de suas vidas. Diante de tal quadro, o Brasil
tem investido em ações no campo legislativo e de políticas públicas para as mulheres
em situação de violência. A pressão internacional fez com que o Brasil aumentasse o
rigor das suas punições para os crimes de violência doméstica e criasse uma legislação
específica para os casos de violência contra a mulher (Balbé & Pessôa, 2013). Assim,
surge em 2006, como principal instrumento jurídico de proteção à mulher em situação
de violência doméstica e familiar, a Lei 11.340/2006 (Brasil, 2006), também conhecida
como Lei Maria da Penha. A referida lei inova ao prever a criação de centros de

54
educação e de reabilitação para os agressores, bem como o comparecimento destes aos
centros e programas de recuperação e reeducação como forma de contribuir na
diminuição dos casos de violência contra a mulher (Brasil, 2006). Os documentos
oficiais indicam que existe ainda uma tendência maior a se investir em práticas voltadas
às mulheres em situação de violência, esquecendo-se do autor da violência. No entanto,
a evolução dos estudos na área e a implementação de programas e projetos de atenção a
homens autores de violência doméstica têm demonstrado o grande potencial e
efetividade dessa modalidade de intervenção para prevenir novas agressões. Conforme
Beiras e Cantera (2014), apesar de já se ter passado alguns anos da promulgação da Lei
Maria da Penha, ainda se recomenda a criação de políticas específicas para a violência
contra a mulher e a necessidade de mais pesquisas, avaliações, debates e discussões
sobre intervenções com homens autores de violência (Beiras & Cantera, 2014).
Considerações Finais: A importância da intervenção por meio de grupos reflexivos
com homens autores de violência contra a mulher aparece expressa pela possibilidade
de sua contribuição no enfrentamento da violência doméstica oportunizado
principalmente pela reflexão e responsabilização sobre as atitudes violentas praticadas
pelos homens. Compreender a dinâmica existente nas relações conjugais entre homens e
mulheres possibilita pensar em ações e estratégias para refletir sobre intervenções que
possibilitem pôr fim às relações violentas.

REFERÊNCIAS
Balbé, C. H. & Pessôa, E. M. (2013). A Lei Maria da Penha e a violência intrafamiliar
contra a mulher no município de Santo Antônio das Missões. In Krüger, K. B. &
Oliveira, C. F. (Orgs.). Violência intrafamiliar: discutindo facetas e possibilidades.
Jundiaí: Paco Editorial.
Beiras, A. & Cantera, L. M. (2014). Feminismo pós-estruturalista e masculinidades:
contribuições para a intervenção com homens autores de violência contra mulheres. In
E. A. Blay. (Coord.). Feminismos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a
violência contra a mulher. São Paulo: Cultura Acadêmica.
Brasil (2006). Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Brasília: DF.
Connell, R. W. & Messerschmidt, J. W. (2013). Masculinidade hegemônica: repensando
o conceito. Estudos feministas, 21(1), 241-282. doi: 10.1590/S0104-
026X2013000100014
Organização Mundial de Saúde/OMS (2013). Estimativas globais e regionais de
violência contra mulheres.
Saffioti, H. I. B. (2004). Gênero, Patriarcado, Violência. São Paulo: Editora Fundação
Perseu Abramo.
Scott, J. (1989). Gender: a useful category of historical analyses. Gender and the
politics of history. New York: Columbia University Press.

MINI CURRÍCULO

55
Juliano Beck Scott possui Graduação e Mestrado em Psicologia, pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente é doutorando do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Possui como principais temáticas de pesquisa: gênero, masculinidades, violência contra
a mulher, políticas da assistência social.

56
TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 02
Mídia e Direitos Humanos
Coordenadores(as): Prof. Dr. Josenildo Soares Bezerra (UFRN), Profa. Dra. Aline
Lucena(UFRN) e Lady Dayana Oliveira (Doutoranda - UFRN)

08.11.2017
Título do Trabalho: Afros e Afins: Feminismo Interseccional e Identidade Negra
Autora: Géssica de Castro Silva Viana/UFRN - Mestranda no Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Mídia da UFRN.
E-mail: gessicaadecastro@gmail.com

RESUMO

A pesquisa se propõe analisar como a temática do feminismo negro vem contribuindo


para discussão acerca da aceitação da identidade negra, tendo como objeto de estudo o
canal Afros e afins da youtuber Nátaly Neri. A pesquisa tem caráter qualitativo e utiliza-
se também da análise de conteúdo (Bardin, 2011) como procedimento metodológico, a
partir da análise de 05 vídeos que discutem a temática em questão. Compreende-se que
a apropriação do Youtube como um canal de difusão e discussão do feminismo negro é
pertinente e está estimulando e fortalecendo uma rede de mulheres negras.

PALAVRAS-CHAVE: Feminismo negro; Identidade negra; Youtube.

RESUMO EXPANDIDO

Introdução
Ser negra e mulher levantam vários questionamentos numa sociedade racista e
machista, questionamentos que por muitos anos permaneceram invisíveis na mídia
tradicional. Atualmente algumas mulheres negras estão usufruindo das redes sociais
para debater a respeito do seu lugar na sociedade, além de trazer suas reflexões e
histórias de vida para empoderar outras mulheres através de seus perfis pessoais, blogs,
páginas no Facebook ou canais no Youtube.
As discriminações de raça e gênero produzem efeitos imbricados, ainda que
diversos, promovendo experiências distintas na condição de classe e, no caso, na
vivência da pobreza, a influenciar seus preditores e, consequentemente, suas estratégias

57
de superação. Neste sentido, são as mulheres negras que vivenciam estas duas
experiências, aquelas sempre identificadas como ocupantes permanentes da base da
hierarquia social (SILVA, 2013, p. 109).
Dessa maneira compreende-se que as mulheres negras sofrem com a
desigualdade de gênero e raça em vários aspectos da sociedade, e muitas vezes não se
reconhecem ou não aceitam a sua raça/etnia. A presente pesquisa se propõe analisar de
que modo a temática do feminismo negro abordada em alguns canais no Youtube, vem
contribuindo para a discussão acerca da aceitação da identidade negra de algumas
mulheres. O canal escolhido para análise é o Afros e afins, que discute em seus vídeos
através de vlogs, a importância do debate acerca do feminismo interseccional e a
aceitação da identidade negra.
Metodologia
O procedimento metodológico utilizado na pesquisa é a de análise de conteúdo,
que para Bardin compreende-se num conjunto de técnicas de análise de comunicação
que tem como objetivo descrição do conteúdo das mensagens. O objeto de estudo da
pesquisa é o canal Afros e Afins que pertence a paulista e cientista social em formação
Nátaly Neri, que em quase dois anos produziu 112 vídeos e possui mais de duzentos mil
inscritos. Segundo Nátaly o canal foi criado com a intenção de poder falar para outras
meninas e mulheres negras o que a youtuber não ouviu durante sua infância e
adolescência. Dentro da temática discutida aqui em questão, foram selecionados 05
vídeos que discutem o feminismo negro, empoderamento da mulher negra, identidade e
aceitação.
Resultados e discussões
Utilizando um discurso em alguns momentos de denúncia social, a youtuber
Nátaly Neri aproveita de seu espaço midiático dentro das redes sociais também para
enaltecer características de sua etnia, afirmando em alguns momentos que é preciso
buscar conhecimento de sua identidade negra para aprender a lidar com o racismo
estrutural.
Para Castells é preciso utilizar dessas novas ferramentas como método
transformador, dando um poder além de representatividade. A conexão entre
ciberespaço e espaço urbano é fundamental nesse processo de mudança, é preciso não
só levar a discussão para o campo midiático, mas também propor mudanças e
participação na agenda pública das políticas afirmativas.
Conclusões

58
A youtuber Nátaly Neri utiliza do seu canal para conversar com seus inscritos
sobre as subjetividades da mulher negra. Com teor crítico e autobiográfico, Nátaly
expõe alguns aspectos dessas questões de gênero e raça que tanto atingem essas
mulheres. O objetivo da criação do canal vem sendo executado de forma coerente, a
youtuber discute temas que dificilmente são exibidos na mídia tradicional, buscando
sempre conversar com seus inscritos sobre a importância da aceitação de sua identidade
negra. Tendo em vista as dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras em obter
visibilidade midiática, o canal Afros e Afins vem através do Youtube, utilizando-se de
um diálogo simples e direto, estimulando, criando e fortalecendo uma rede de debates
para as mulheres negras e suas subjetividades.

REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. Disponível
em:<http://pt.slideshare.net/alasiasantos/analise-de-conteudo-laurence-bardin> Acesso
em: 15 de setembro de 2017.
CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da
internet. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
DAVIS, Angela. As Mulheres Negras na Construção de uma Nova Utopia. Disponível
em <https://www.geledes.org.br/as-mulheres-negras-na-construcao-de-uma-nova-
utopia-angela-davis/#gs.FlVWDuI > Acesso em: 15 julho 2017.
SILVA, T. T. (org.). Identidade e Diferença: perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis: Vozes, 2000. SOUZA,
Neusa Santos. Tornar-se negro: ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em
ascensão social. Rio de Janeiro: Graal, 1990.
SILVERSTONE, Roger. Por Que Estudar A Mídia? São Paulo: Loyola, 2002.

MINI CURRÍCULO:
Géssica de Castro Silva Viana - Mestranda no Programa de Pós-graduação em
Estudos da mídia na UFRN, Graduada em Produção Cultural pelo IFRN
Título da pesquisa: O uso das mídias sociais no cenário cultural da Ribeira: Uma análise
do Circuito Cultural Ribeira Natal/RN. Interesse na área de concentração: identidade
negra; cibercultura; feminismo negro.

Título do Trabalho: Espelhos, Vácuos e Vozes: Um ensaio sobre o insulto racial


Autores: Diego Leonardo Barreto Pereira e Patricia Rilliane Gomes da Silva

RESUMO

Buscamos realizar um debate em torno do insulto racial a partir de autores como Michel
Foucault, Goffman, Guimarães, Maussentre outros. Utilizamos casos veiculados nas
mídias para refletir sobre as representações, impactos e resistências aos insultos. Nesse

59
sentido, a metodologia é essencialmente qualitativa, objetivando promover um debate
no tocante ao racismo, insulto racial, estigma e suas implicações, também sobre
identidades, reconhecimento e resistências, pensando, as redes sociais e o poder
judiciário no que se refere aos crimes virtuais às pessoas negras.

PALAVRAS-CHAVE: Insulto racial; Estigma; Reconhecimento; Justiça.

RESUMO EXPANDIDO

O objetivo do insulto racial seria de instituir, a partir de certas marcas de


inferioridade um lugar ao qual os sujeitos estariam postos no caráter físico, moral e
social, ou seja, numa estrutura assimétrica de relações. Agressões que não seriam
apenas de ordem física, mas também de ordem simbólica: quando se agride o corpo, são
acarretados traumas psicológicos e diversos problemas no tocante a autoimagem dos
sujeitos que vivenciam essas experiências.

Apresentaremos algumas análises acerca do corpo enquanto um campo de


estudo nas ciências sociais, focando no que diz respeito às dinâmicas em que essas
corporalidades são produzidas/pensadas, as técnicas de transformação e significados
sociais que envolvem corpo, cabelo e beleza negra. Também sobre a noção de raça e
porque se faz importante debatê-la. Desta forma, contextualizamos historicamente como
os sentidos atribuídos às pessoas negras foram inventados.

As palavras, sozinhas, não possuem concepções discriminatórias, mas sim a


intencionalidade de quem as profere, assentadas em conceitos que as pessoas atribuem
ao mundo e como classificam e hierarquizam esse mundo social.

Assim como o racismo produz efeitos na vida humana, não seria diferente
também que tais efeitos se projetassem na internet. Iremos analisar posteriormente a
dinâmica do racismo – no que diz respeito aos insultos raciais – nas redes sociais e
como o terceiro poder do estado brasileiro lida com as demandas processuais de racismo
e insulto racial.

O sistema jurídico estaria sintonizado com as questões referentes ao racismo no


ciberespaço? E os afetados pelos crimes, de que modo as pessoas mobilizam as redes
sociais enquanto resistência? Frequentemente apresentado em mídias (na internet, rádio
e televisão), vemos a ascensão do ambiente virtual como um lócus de disputas por

60
representação e afirmação das mais diversas visões e significados. No tocante aos casos
de intolerância encontrados via web, encontram-se ataques às pessoas mascarados por
“opiniões” que versam sobre as mais complexas tônicas racistas.

Assim, escolhemos dois casos principais, que envolvem pessoas famosas para
pensar a temática supracitada. O caso da cantora carioca Ludmila, que foi vítima de
insultos por parte de um homem com passagem na polícia por tentativa de homicídio. A
cantora tratou o caso como uma “questão de honra”. Nesse sentido, o que se percebe é
que a autoimagem dela teria sido atingida de modo a produzir sofrimento. Todavia,
recebendo apoio de seus fãs dentro da própria rede social, decidiu denunciá-lo de modo
a não silenciar o ocorrido e, de maneira política, pôs em xeque a ideia comumente
empregada de “a internet é a terra de ninguém”.

E, o segundo caso diz respeito a Repórter Maria Julia Coutinho (MAJU)1, no


qual pode-se exemplificar as ações de maneira coordenada, não-aleatória, de grupos que
veicularam insultos na página do Jornal Nacional numa rede social. De acordo com a
notícia apresentada em canal aberto e na internet, o grupo possuía cerca de 20 mil
integrantes.

As reações aos crimes virtuais de injúria racial apresentados nesses exemplos


foram feitos a partir do reconhecimento dos criminosos e de instâncias jurídicas,
também apoio midiático. No campo simbólico, a resistência se estabelece no cotidiano,
dentro dos ciberespaços. No tocante a Maju, criou-se uma hashtag “#Somostodosmaju”
entre os internautas, ao qual se difundiu de modo a produzir uma percepção de
solidariedade e resistência.

Importante pensar o lugar social (CERTEAU, 1982) onde Maria Julia e Ludmila
estão inseridas, para compreender também a forma como as mesmas reagiram aos
insultos nas redes sociais. As duas são mulheres bem-sucedidas profissional e
economicamente, figuras públicas e que, direta ou indiretamente, são espelhos para
muitas mulheres negras brasileiras.

Em termos conclusivos, seria no corpo e no cabelo negro que estaria a


centralidade do insulto verbal, pois são os símbolos que compõem a identidade negra, as

1
Notíciaveiculada em http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/06/mp-de-sao-paulo-denuncia-quatro-
por-crimes-de-racismo-contra-maju.html. Acessado em: 23-09-2016 às 15:58.

61
referências identitárias acerca das pessoas negras, mestiças, pardas, indígenas foram
construídas historicamente. Assim, para se combater o racismo e o insulto racial, faz-se
necessário compreender o papel que todos nós desempenhamos dentro de nossa esfera
de atuação, para a promoção ou desconstrução. É no campo de disputas simbólicas que
construímos agência no sentido de tecer outros bordados para a história nacional e
garantir melhor inclusão, representatividade e respeito às diferenças, sejam elas quais
forem.

BIBLIOGRAFIA

ADORNO, Sérgio. Racismo, criminalidade violenta e justiça penal: réus brancos e


negros em perspectiva comparativa. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 18, 1996.
FOUCAULT, Michel. O Nascimento da clínica. Editora Forense-Universitária, Rio de
Janeiro. 1977, 231 p.
. PODER – CORPO. Revista Quel Corps? junho de 1975.

. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel.


Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987.
GOFFMAN, E. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de
Janeiro: LTC Editora, 1988.
GUIMARÃES, A. S. A. Classes, Raças e Democracia. São Paulo: Fundação de Apoio
a Universidade da São Paulo; Ed. 34, 2012.
MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo:
Cosac Naify, 2003, p.399-422.
MUNANGA, Kabengele. Negritude: Usos e Sentidos. Editora Autêntica. Coleção
Cultura Negra e Identidade. 3ª edição. 2009, 90 p.
TAYLOR, Charles. A política do reconhecimento. In: . Argumentos filosóficos.
São Paulo: Loyola, 2000.

MINI CURRÍCULO
Diego Leonardo Barreto Pereira - Cientista Social pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte e Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais -
UFRN. Pesquisou questões étnico-raciais, voltando-se para o insulto e seus
desdobramentos. Atualmente pesquisa sobre Cyberespaços, Reconhecimento e
Sociabilidade de pessoas com deficiência na Internet.
Patricia Rilliane Gomes da Silva - Cientista Social pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da
UFRN. Busca focar seus estudos no campo da Complexidade, com interface em
comunicação, mídias e movimentos sociais.

62
Título do Trabalho: Criminalização da Juventude na Cobertura Televisiva Policial
Autores: Daniel Meirinho e Beatriz Pires (UFRN)

RESUMO

A infração de Direitos Humanos somada à marginalização de grupos juvenis é uma


prática recorrente da mídia e da cobertura televisiva policial. Desta forma, utilizando
como objeto de estudo o programa policial Patrulha da Cidade, veiculado na TV Ponta
Negra, esta pesquisa objetivou fazer uma análise qualitativa de dados monitorados,
dando enfoque à “Identificação de adolescentes em conflito com a lei”, uma das nove
violações estabelecidas pelo Guia de Violações da Mídia Brasileira (VARJÃO, 2015).

PALAVRAS-CHAVE: Mídia. Direitos Humanos. Programas Policiais. Infância e


Juventude. Marginalização.

RESUMO EXPANDIDO
A estigmatização (GOFFMAN, 1988) dos grupos juvenis opera de forma privilegiada
com o auxílio da mídia que frequentemente se coloca no papel de fomentadora de uma
criminalidade que, não raras vezes, é por ela mesma incitada e forçada à normatização.
Visivelmente são nas coberturas midiáticas policiais sobre crimes em que crianças e
adolescentes são acusados de estarem envolvidos que se pode observar a ação de
indignação social, sentimento de vingança e que desencadeia uma crescente opinião
acerca da mudança na legislação brasileira quanto a dimensão punitiva deste grupo
etário (QUEIROZ-PESSOA et al, 2013).
O contexto desperta na sociedade uma demonização destes jovens indesejáveis que
corrobora para a criminalização deste grupo social e fortalece o debate sobre um sistema
punitivo, em oposição ao socioeducativo estabelecido pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
A atual conjuntura midiática, com enfoque nos programas policiais televisivos, é
historicamente responsável por violar os Direitos Humanos a partir de conteúdos que
ficcionam e dramatizam a realidade de forma de forma discriminatória e preconceituosa.
Este é o caso do programa Patrulha da Cidade, veiculado na TV Ponta Negra, emissora
afiliada do SBT no estado do Rio Grande do Norte. O comunicador Cyro Robson leva
ao ar diariamente o programa líder de audiência da emissora que constantemente viola
os direitos dos indivíduos custodiados pelas forças de segurança locais, sugerindo a
repressão penal e incitando o ódio e a violência particularmente à adolescentes e jovens
suspeitos de envolvimento em delitos.
Esta pesquisa pretende isolar e analisar o modo com o qual o programa Patrulha da
Cidade, juntamente com seu apresentador e repórteres, violam o ECA e o impacto
significativo destas violações no desenvolvimento psicológico, social e educativo de
crianças e adolescentes em conflito com a lei, no estado. Segundo Marinoski e Moraes
(2015), estas violações não ferem apenas o que é assegurado pelo ECA, como também
contempla a falta de entendimento da sociedade para com as especificidades da fase
infanto-juvenil. Os condicionantes agravam com o estigma dos envolvidos nestas
exposições indevidas serem crianças e adolescentes em sua maioria, pobres, negros e
periféricos, deixando claro que essa marginalização é fruto de preconceitos,
reproduzindo um discurso excludente que não leva em consideração a responsabilidade

63
ética e social do programa e a influência da mídia na formação da opinião pública.
Tendo este problema de pesquisa, esta comunicação apresenta os resultados do projeto
de pesquisa “Afinal, quem paga a conta? O monitoramento das violações de direitos dos
programas policiais” no qual, justifica-se pelo entendimento dos modelos discursivos
midiáticos de exposição das crianças e adolescentes pelo programa Patrulha da Cidade.
Como instrumento metodológico foi realizado o monitoramento de 12 transmissões do
programa policialesco, em abril de 2017, baseado no Guia de Violações da Mídia
Brasileira (VARJÃO, 2015) produzido pelo Coletivo Intervozes de Comunicação Social
que estabelece nove violações, sendo a sétima caracterizada como “Identificação de
adolescentes em conflito com a lei”. Esta computa o recorte de pesquisa desta proposta
de trabalho. Das 399 violações encontradas no monitoramento, a que identifica crianças
e adolescentes apresentou um percentual de 4%. Este dado, apesar de aparentar ser
baixo é extremamente significativo pela característica da violação e social dos
indivíduos envolvidos. O objetivo desta proposta passa por refletir o baixo percentual
desta violação cometida pelo programa televisivo, bem como as consequências do
desrespeito legal. Contudo, este trabalho amplia as análises acerca dos impactos da
exposição deste grupo etário em termos dos riscos físicos, morais e psicológicos nos
indivíduos envolvidos, seus familiares, na cultura punitiva da juventude, entre outros
problemas como o justiçamento.

Bibliografia
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio
de Janeiro, 1988. LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Estatuto da criança e do
adolescente .Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>.
MARINOSKI, Laura Duarte; MORAES, Denise Rosana Da Silva. Eca e mídia:
diálogos interdisciplinares. Edapeci, v. 15, n. 3, 2015. Disponível em:
<https://seer.ufs.br/index.php/edapeci/article/view/3774> QUEIROZ-PESSO; Carlos,
YLDRY-SOUZA Ramos SILVA-FERRAZ, Adildon. "Redução da maioridade penal no
Brasil: a construção simbólica da criminalidade pela mídia." pag. 63-75, 2013.
VARJÃ O, Suzana. Violações de direitos na mídia brasileira: ferramenta prática para
identificar violações de direitos no campo da comunicação de massa. Brasília, DF:
ANDI, 2015. 80p.; (Guia de monitoramento de violações de direitos; v.1

MINI CURRÍCULO:
Daniel Meirinho é Doutor em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa
e professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da – Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN).
Beatriz Pires é Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e bolsista PIBIC do projeto “Afinal, quem
paga a conta? O monitoramento das violações de direitos dos programas policiais”.

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Título do Trabalho: Comunicar é um direito: movimentos populares e contra
hegemonia
Autores: Marcos Paulo Gomes Barbosa e José Feliciano de Lima Júnior (Nome social:
Janaina Lima)

RESUMO

A pesquisa pretende localizar teoricamente os processos comunicativos desenvolvidos


pelos movimentos populares em enfrentamento à mídia hegemônica. O resultado
constatado nessa pesquisa foi que, apesar da comunicação popular ser um importante
meio de expressão utilizado pelos movimentos populares, o Direito Humano à
Comunicação só será garantido e efetivado com uma reforma na base da estrutura dos
sistemas de comunicação, ou seja, um rompimento real com a produção capitalista dos
meios.

PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Direitos; Movimentos Populares; Hegemonia;

RESUMO EXPANDIDO

A pesquisa pretende localizar teoricamente os processos comunicativos


desenvolvidos pelos movimentos populares, em enfrentamento à mídia hegemônica.
Para chegar a isso, apresentaremos as semelhanças e distinções entre os conceitos de
Liberdade de Expressão e de Direito Humano à Comunicação e realizaremos estudo
sobre o modo como a mídia hegemônica está estruturada, que pode corresponder a uma
violação à Liberdade de Expressão e ao Direito Humano à Comunicação dos
movimentos sociais. Também pretendemos identificar de que forma a comunicação
desenvolvida pelos movimentos populares pode ser compreendida como mídia contra-
hegemônica, a partir do conceito de aparelhos privados de hegemonia proposto por
Antonio Gramsci (2001);e relacionaremos essas experiências contra-hegemônicas aos
conceitos de Liberdade de Expressão e Direito Humano à Comunicação.
Apresentaremos, ademais, o que trazem os Sistemas de Proteção Global e
Interamericano de Direitos Humanos acerca do exercício da Liberdade de Expressão e
do Direito Humano à Comunicação. Em nosso trabalho, utilizaremos, sobretudo, a
pesquisa bibliográfica como principal metodologia. Uma vez que também nos
debruçaremos sobre documentos oficiais e documentos normativos internacionais,
também utilizaremos do método da análise documental.
As reflexões sobre a Liberdade de Expressão e o Direito Humano à
Comunicação, em suas dimensões teóricas, políticas e críticas, serão exploradas através
de Desmond Fischer (1982), Raimunda Aline Lucena Gomes (2007) e os problemas da

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Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação (NOMIC) apresentados no
Relatório MacBride, da Unesco (1993).
O principal alicerce do nosso trabalho é a teoria da comunicação dialógica
proposta por Paulo Freire (1983), sua concepção da comunicação como condição da
existência humana e de interação com a realidade, ação educativa, dialética,
transformadora e prática libertadora. Em conformidade ao pensamento freireano,
encontramos apoio na teoria marxista do jornalismo engendrada por Genro Filho
(1987); bem como na defesa de uma teoria socialista dos meios de comunicação de
Hans Magnus Enzensberger (1979), cujo processo tem como pontos norteadores a
coletividade, a participação, a mobilização, o feedback e a emancipação.
Nos estudos sobre os direitos humanos, a análise da formação do discurso desses
direitos e sua contextualização sócio histórica é importante aporte teórico das reflexões
críticas de Boaventura de Sousa Santos (2013) e Marilena Chauí (2009), que também
traz importantes contribuições a partir da sua leitura crítica
Fundamos nossa análise sobre as injustiças sociais apoiados na teoria crítica
marxista (MARX; ENGELS, 1997), a partir da proposta de divisão social em classes
antagônicas no sistema capitalista, origem do processo de luta de classes. Os estudos
desenvolvidos pelas cientistas sociais Gohn (2003) e Scherer-Warren (1987) são nossa
principal base para o aprofundamento teórico acerca dos movimentos sociais.
Os resultados constatados nessa pesquisa foi que a comunicação popular,
enquanto meio de expressão utilizado pelos movimentos sociais de recorte classista, é
capaz de garantir (ainda que em condições desiguais) a Liberdade de Expressão da
classe subalterna no contexto de luta de classes, mas, ainda assim, não é um meio capaz
de garantir a efetivação do Direito Humano à Comunicação. Para que o Direito Humano
à Comunicação seja garantido e efetivado, é necessária uma reforma na base da
estruturados sistemas de comunicação, um rompimento real com a produção capitalista
dos meios.

Bibliografia
CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia. Salvador: Secretaria de Cultura,
FundaçãoPedro Calmon, 2009.
ENZENSBERGER, Hans Magnus. Elementos para uma teoria dos meios
decomunicação. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979.
FISCHER, Desmond. O direito de comunicar: expressão, informação e liberdade.
SãoPaulo: Editora Brasiliense, 1982.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação?. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

66
GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista
dojornalismo. Rio Grande do Sul: Editora Tchê, 1987.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere - Os Intelectuais. O Princípio
Educativo.Jornalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
GOHN, Maria da Glória Marcondes. História dos movimentos e lutas sociais:
aconstrução da cidadania dos brasileiros. São Paulo: Loyola, 2003.
GOMES, Raimunda Aline Lucena. A comunicação como um direito humano:
umconceito em construção. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de
Pernambuco.
Recife, Programa de Pós-graduação em Comunicação, 2007, 206 folhas.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 2. ed.
Lisboa:Avante, 1997.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Direitos Humanos: Ilusões e desafios. In:
Santos,Boaventura de Sousa. Direitos humanos, democracia e desenvolvimento. São
Paulo:Cortez, 2013.
SCHERER-WARREN, Ilse. Movimentos sociais: um ensaio de
interpretaçãosociológica. 2ª ed. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1987.
UNESCO. Un solo mundo, vocesmúltiples: comunicación e
informaciónennuestrotiempo. Distrito Federal do México: Fondo de Cultura
Económica, 1993

MINI CURRÍCULO
Marcos Paulo Gomes Barbosa - Graduado em Comunicação Social - Jornalismo, na
UFRN, com mobilidade na Universitat de València em 2014.1 através do Programa de
Bolsas Ibero-Americanas - Santander Universidades. Mestrando em Comunicação Com
Fins Sociais: Estratégias e Campanhas (2017-2018), na Universidad de Valladolid, por
meio do Programa de Bolsas Iberoamérica + Asia - Banco Santander. (E-mail:
mpgb1994@gmail.com)
José Feliciano de Lima Júnior - Nome Social: Janaína Lima. Graduanda em
Comunicação Social – Jornalismo, na UFRN. Foi pesquisadora em diversos projetos de
extensão e investigação científica, envolvendo as questões sociais. (E-
mail:janainalimaaxe@gmail.com)

09.11.2017
Título do Trabalho: Mídia e Feminicídio: o público e o privado no caso Mayara
Amaral
Autora: Daiany Ferreira Dantas (UERN)

RESUMO
O presente trabalho analisa a retórica entre texto e imagem da imprensa de Campo
Grande (MS) na cobertura do assassinato da violonista Mayara Amaral. Utiliza, para
este debate, as questões entre o público e o privado pautadas na obra de Hannah Arendt
(2010) e nas reflexões de Nancy Fraser (2002), aproximando-as da discussão acerca da
comunicação como um Direito Humano. Para tanto, considera o papel da mídia na

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cristalização de um feminino apenas possível se situado numa das polaridades que
caracterizam mulheres como santas ou pecadoras, desumanizando-as e desistoricizando
também o debate social em torno do feminicídio.

PALAVRAS-CHAVE: mídia, feminicídio, violência de gênero, Mayara Amaral

RESUMO EXPANDIDO
O feminicídio, nomenclatura que qualifica o assassinato de mulheres, é assim
tipificado a partir de legislação vigente no Brasil com a aprovação da Lei 13.104/2015,
que altera o código penal, prevendo que homicídios praticados contra mulheres em
situação de violência conjugal ou de discriminação seriam tratados como crimes
hediondos, portanto qualificados. Promovendo uma intervenção no texto do código
penal de 1940 e um impacto social sobre a sociedade brasileira, no intuito de que esta
reconheça a desigualdade de gênero como um elemento estruturante de sua constituição.
A lei do feminicídio, tal como a Lei Maria da Penha – 11.340/2006, emerge da
organização dos movimentos de mulheres no Brasil, mobilizados no intuito de expor os
componentes patriarcais e escravocratas que ainda permeiam a justiça no país.
Intensificadas nos anos 1970, as lutas sociais feministas contra a violência de gênero
buscam incidir no campo dos direitos para evitar a impunidade recorrente dos chamados
crimes de honra, praticados sob o escudo do machismo e com a chancela ou negligência
das instituições.
Crimes de honra eram também rotulados de “passionais”, que alegavam violenta
emoção ou legítima defesa de seus cônjuges, sempre contanto com coberturas de forte
apelo à opinião pública, pautadas frequentemente na degradação social e moral das
vítimas. No discurso midiático, por vezes se reproduz a narrativa da passionalidade,
mesmo no contexto de crimes torpes, com qualificações de crueldade, dificultando a
interpretação da violência de gênero como componente cultural relevante. Muitas vezes
ratificando o discurso da vingança, da paixão e da honra como normas que interpelariam
mulheres de conduta remotamente vista como desviante.
Neste texto, buscamos analisar o embate em torno da nomenclatura no
feminicídio no caso da morte de Mayara Amaral, musicista e professora de música de
27 anos residente em Campo Grande, MS, morta em 24 de julho de 2017 por dois
homens acusados de também a estuprar, queimar e desovar seu corpo, apropriando-se,

68
em seguida, do carro que ela guiava na ocasião. Um deles estava afetivamente
envolvido com a vítima.
Embora já haja um debate frontalmente colocado no direito pela consideração da
desigualdade de gênero e uma série de estudos sociológicos e etnográficos abordando o
tema da conjugalidade como um fator a ser observado nos casos de violência contra as
mulheres, casos como o de Mayara Amaral nos possibilitam refletir acerca da relutância
em engendrar esse debate como parte da cultura midiática.
Prova disso é que o assassinato brutal de Mayara foi, a priori, qualificado como
latrocínio pelo delegado responsável, o que foi repercutido sem grandes rechaços pela
mídia local, ignorando os agravantes do estupro, tortura com marteladas na cabeça, o
corpo carbonizado e o fato de que havia relações de afetividade entre a vítima e um de
seus algozes. Sendo a vida de uma mulher secundarizada mediante o roubo de um carro
usado, ano 1992.
Utilizamos as matérias veiculadas no portal Campo Grande News, observando
suas manchetes, a escolha de fotografias e as descrições de Mayara no contexto da
elucidação de seu assassinato. Além disso, consideramos em nossa pesquisa documental
os contra discursos que possibilitam analisar a construção cristalizada da persona da
musicista, de modo a destituir-lhe o lugar de vítima: uma carta aberta de sua irmã, a
jornalista Pauliane Amaral, em sua rede social, pontuando as incoerências e
desvirtuações de manchetes, apurações e imagens da mídia local; somadas a publicações
do El País, HuffPost Brasil e Marie Claire, veiculadas entre os meses de julho e agosto
de 2017, que repercutiram o caso após a denúncia, com ênfase na omissão da apuração
quanto ao tema do feminicídio.
Em nossa análise, contextualizamos o tema da violência doméstica no país, a
partir das contribuições de Teixeira (2009) e Machado (1998), além das análises de
Arendt (2010) e Fraser (2002), que buscam analisar a constituição das esferas pública e
privada - a primeira autora. E a dicotomia de um feminino que é ancorado no privado e
punido, de modo simbólico e disciplinar, quando se alça ao mundo público, a segunda.
Além disso, enveredamos pela semiologia social barthesiana, nos conceitos de retórica
da imagem e mitologias, para comentar a desumanização e apropriação das imagens de
Mayara, a maioria delas retiradas sem autorização de seus álbuns pessoais em redes
sociais, na codificação das notícias, que serviram a mitificação de um feminino
personificado por espectros descontextualizados, cerceando seu direito à justiça e

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julgando-a em vez de defendê-la, ao pressupor escolhas de alteridade fora do ideal
normatizador que polariza santas e pecadoras.

Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
BARTHES, Roland. Mitologias. São Paulo: Difel, 2009.
FRASER, Nancy. Políticas feministas na era do reconhecimento: uma abordagem
bidimensional da justiça de gênero. In: BRUSCHINI, C.; UNBEHAUM, S. Gênero,
democracia e sociedade brasileira. São Paulo: Editora 34, 2002.
TEIXEIRA, Analba Brazão. Nunca você sem mim: homicidassuicidas nas relações
afetivoconjugais. São Paulo: Annablume, 2009.
MACHADO, Lia Zanotta. Violência conjugal: os espelhos e as marcas. Brasília:
Universidade de Brasília, 1998.
MINI CURRÍCULO
Daiany Ferreira Dantas é graduada em Comunicação Social pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, com habilitação em Jornalismo, em 2001, e docente do
Departamento de Comunicação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
desde 2010. Concluiu, em 2015, o doutorado em Comunicação no Programa de Pós-
graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, com a tese
Corpos visíveis: matéria e performance no cinema de mulheres. E em 2006, na mesma
instituição, defendeu a dissertação Sexo, Mentiras e HQ: representação e auto-
representação das mulheres nos quadrinhos. Pesquisa a relação entre mídia, estética e
cultura, partindo da política da arte e da cultura visual, tendo como objeto o cinema,
suas estéticas e questões de autoria e diáspora.

Título do Trabalho: Empoderamento feminino na campanha #LikeAGirl da Always


Autoras: Wislla Cristina Baltazar de Farias e Maria Aparecida Ramos da Silva (UFRN)

RESUMO

O presente trabalho consiste na análise sobre a maneira como o discurso publicitário


contemporâneo utiliza a imagem feminina com ênfase na abordagem dos estereótipos de
gênero. Para isso, a pesquisa conceitua os termos publicidade e discurso e discute como
os estereótipos de gênero feminino, juntamente com os arquétipos, são reforçados pela
publicidade, salientando a importância no rompimento dessa estereotipia e como o
discurso publicitário vem se reposicionando em favor do empoderamento feminino.

PALAVRAS-CHAVE: Empoderamento; Publicidade; Feminismo; LikeAGirl; Always

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RESUMO EXPANDIDO

O trabalho traz um estudo de caso da campanha #LikeAGirl da Always,


mostrando como a marca, ao longo de seu histórico, incentiva a autoconfiança feminina.
A campanha analisada mostra como a sociedade vem sofrendo mudanças com a ruptura
de estereótipos de gênero e como a publicidade vem acompanhando essas
transformações.
Historicamente, a publicidade utiliza de artifícios para que o público para quem
comunica se sinta representado. Assim, desde o seu surgimento, a publicidade utiliza
como um desses artifícios as imagens estereotipadas de indivíduos e grupos sociais.
Apesar de ser entendido como fator depreciativo, o estereótipo é uma ferramenta na
construção do entendimento social que auxilia os indivíduos a compreenderem e
identificarem determinados grupos e agentes sociais. É fato que os estereótipos com o
auxílio dos arquétipos, que criam mitos e idealizações, em dados momentos, reforçam
ideias desfavoráveis sobre grupos e indivíduos, nos quais se incluem as mulheres.
A publicidade em seu discurso, em diversos momentos reforça esse
entendimento pejorativo que existe no entorno da imagem feminina devido aos
amplamente propagados estereótipos de gênero.
O fenômeno crescente que é o feminismo traz a necessidade dessa ruptura como
uma de suas lutas e na sociedade contemporânea, podemos ver mulheres sendo
empoderadas nos mais diversos setores sociais.
Esse empoderamento feminino é notável também em algumas produções
publicitárias. Existem marcas que estão em processo de reposicionamento, que estão
mudando seus discursos em favor da ruptura dos estereótipos de gênero. Nesse sentido,
algumas campanhas publicitárias, recentemente, vêm quebrando esses paradigmas e
mudando o discurso publicitário, se apropriando de abordagens como o empoderamento
feminino. Existem também outras marcas que desde o princípio de suas atuações no
mercado trazem o empoderamento feminino em seus discursos, assim como ocorre com
a marca de absorventes Always.
Nesse contexto, este trabalho analisou o discurso publicitário contemporâneo
com ênfase na abordagem da imagem feminina, com a realização de um estudo de caso
da campanha #LikeAGirl da marca Always, a fim de verificar como a imagem feminina
foi utilizada na campanha.

71
A metodologia consistiu na pesquisa bibliográfica sobre temas como estereótipo,
arquétipo, gênero e imagem do feminino para servir de base na compreensão da
construção do estereótipo feminino e de como ele vem sendo desconstruído nos dias de
hoje. Também foi analisado o discurso publicitário no entorno da imagem feminina,
com foco em como esse discurso vem sendo utilizado na contemporaneidade,
analisando os vídeos veiculados pela campanha #LikeAGirlda marca de absorventes
higiênicos Always. Essa campanha teve o objetivo de romper o estereótipo de sexo
frágil voltado a mulher e mostra personagens, a grande maioria do sexo feminino
mostrando como elas entendem por fazer algo como uma garota.
Como resultado, a pesquisa mostrou que, na campanha #LikeAGirl, para
algumas pessoas, inclusive mulheres, o fato de fazer algo “como uma garota” é algo
desfavorável e que é sinônimo de fraqueza e fragilidade. Porém, algo também
perceptível na campanha é que as garotas mais jovens tendem a retratar ações de garotas
de maneira positiva. A fragilidade não é algo tão notável quanto o que é visto nos
demais participante do comercial de idade um pouco mais avançada.
Com essa campanha, a Always obteve resultados positivos. O comercial
#LikeAGirl tornou-se um viral, ou seja, foi amplamente compartilhado nas mídias
sociais em variados lugares do mundo, fazendo com que a marca fosse divulgada de
forma espontânea. Essa ampla divulgação gerou maior interesse do público,
principalmente feminino, pela marca e trouxe também impacto social, mudando a
percepção depreciativa que muitas pessoas têm sobre fazer algo como “uma garota”.

REFERÊNCIAS
BAUDRILLARD, J. Significação da publicidade, 1990. In: LIMA, L C. Teoria da
cultura de massa, 2000.
BIROLI, F. É assim, que assim seja: mídia, estereótipos e exercício de poder. IV
encontro da Com Política, UERJ, Rio de Janeiro, 2012.
BOSI, E. Entre a opinião e o estereótipo. Contexto, v. 2, 1977.
DRUMONT, M P. Elementos para uma análise do machismo. Perspectivas: Revista
de Ciências Sociais, v. 3, 2009.
FISCHER, R M B. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de
pesquisa, v. 114, 2001.
LYSARDO-DIAS, D. A construção e desconstrução de estereótipos pela
publicidade brasileira. Stockolm Review of Latin American Studies, 2007.
MALANGA, E. Publicidade: uma introdução. Atlas, São Paulo, 1979.
MARCONDES, P. Uma história da propaganda brasileira: as melhores campanhas,
gênios da criação, personagens. Ediouro, 2002. In: FREITAS, S. A Mulher e Seus

72
Estereótipos: Comparando 50 Anos de Publicidade Televisiva no Brasil e Portugal.
Braga, Portugal, 2014.
PINTO, C J. Participação (representação?). Política da mulher no Brasil: limites e
perspectivas. In: SAFFIOTI, H; MUÑOZ-VARGAS, M (Org.). Mulher brasileira é
assim. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; Brasília: UNICEF, 1994.

MINI CURRÍCULO
Wislla Cristina Baltazar de Farias - Graduada do Curso de Comunicação Social –
Habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). E-mail: wisllacristina@hotmail.com.

Maria Aparecida Ramos da Silva - Professora do Curso de Comunicação Social da


UFRN. Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Atua nas áreas de Comunicação e Sociologia, com ênfase nos seguintes temas:
comunicação e sociedade, participação política e mídias pós-massivas, novas
tecnologias de informação e comunicação, processos midiáticos e direitos humanos. E-
mail: cidaramoss@gmail.com.

Título do Trabalho: O machismo no futebol brasileiro pela ótica do The New York
Times
Autoras: Isa de Oliveira Teixeira e Maria Aparecida Ramos da Silva (UFRN)

RESUMO

Este artigo traz reflexões sobre algumas problemáticas envolvendo a mídia internacional
e a questão dos direitos humanos, notadamente a representatividade da mulher brasileira
no esporte e a identidade nacional.

PALAVRAS-CHAVE: Machismo; Futebol; The New York Times

RESUMO EXPANDIDO

Quando falamos em Brasil dentro de um contexto internacional, imediatamente


certos estereótipos, tradicionalmente, estão vinculados à imagem do país, como: futebol,
carnaval e mulatas. São conceitos que embora não sejam uma invenção, não
representam a imagem completa do país, pelo contrário, são limitados por um ponto de
vista. Nesse caso, o ponto de vista dos jornais que permeia desde critérios de
noticiabilidade estabelecendo as prioridades de temáticas a serem noticiadas e as quais
assuntos sobre o Brasil não são normalmente vistos como uma prioridade, até noções
culturais dos países de origem dos jornais.
Nesse contexto, o presente trabalho volta-se para o noticiário internacional, aqui
representado pelo The New York Times, tendo como intuito analisar o modo como o

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jornal abordou a relação entre o Brasil e o machismo no esporte, durante os Jogos
Olímpicos de Verão Rio 2016. Com isso, objetiva-se contribuir para uma discussão
mais ampla sobre a relação entre a mídia e os direitos humanos.
Assim, este trabalho volta-se para o noticiário internacional, tendo como
principal objetivo compreender como o jornal representou o machismo no futebol
brasileiro durante as Olimpíadas de Verão Rio 2016. Com isso, pretendeu-se discutir a
identidade cultural brasileira, se os velhos estereótipos permaneceram ou foram
substituídos por novos conceitos.
Em se tratando de jornalismo internacional uma questão muito importante é o
contexto geopolítico, nesse caso, a importância a nível mundial que cada país detém.
Por essa razão, normalmente notícias relacionadas aos EUA e a países europeus
costumam ter mais espaço no noticiário internacional. Enquanto regiões consideradas
menos importantes nesse contexto, como América Latina e África, detém uma
participação significativamente menor.
A consequência disso costuma ser negativa, gerando muitas vezes uma
generalização dessas regiões consideradas menos importantes e, por consequência, uma
visão estereotipada daquilo que é.
Quando falamos de Brasil, logo nos remetemos as já típicas características que
definem o país, como belas mulheres, praias e futebol. Se, por um lado, somos o país do
futebol, do povo acolhedor, das festas e animação, por outro, somos o país da violência,
da desigualdade social e das favelas.
É bem verdade que o país já há algum tempo busca se desvencilhar desses
antigos estereótipos. Sua perceptível ascensão econômica que o colocou em 2011, como
a sexta maior economia do mundo, embalou o desejo de mudança, atrelado à
confirmação do país como sede dos dois maiores eventos esportivos do mundo: Copa do
Mundo FIFA 2014 e as Olímpiadas de Verão Rio 2016. Ambos eram considerados
oportunidades de o país poder ampliar a sua imagem para além dos velhos estereótipos.
O trabalho consistiu na análise de matérias extraídas do website do jornal The
New York Times referentes às Olimpíadas de Verão Rio 2016, evento ocorrido durante
os dias 05 e 21 de agosto de 2016. Tendo como propósito principal identificar como a
identidade cultural brasileira foi representada pelo jornal. Para o desenvolvimento do
trabalho foi adotada a metodologia de Análise de Conteúdo, segundo os preceitos de
Bardin (2009). Este autor define análise de conteúdo como “o conjunto de técnicas de

74
análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2009, p. 40).
Na pesquisa, o arco ‘Machismo no Esporte’ está inserida na categoria ‘Esporte e
Sociedade”. Os resultados da pesquisa mostraram que o futebol, anteriormente tão
relacionado à noção estereotipada de grande paixão da nação, ganha novas facetas
revelando aspectos até então não comumente relacionados à identidade cultural
brasileira no exterior. Também foi possível inferir que o Times constrói um ethos do
Brasil e dos brasileiros como uma sociedade machista, ampliando a relação
estereotipada do brasileiro com o futebol, alcançando novos níveis, nesse caso, a
questão do machismo.
Sendo assim o jornal adiciona aspectos negativos a uma temática até então
sempre relacionada como uma característica positiva brasileira, a paixão das pessoas
pelo futebol. Dessa forma, o Times altera a noção anteriormente formulada que se tinha
sobre uma característica brasileira, o futebol.

REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.
BUARQUE, Daniel.One Country, Two Cups – The International Imageof Brazil in
1950 and in 2014: A Study of the Reputation and the Identity of Brazil as Projected by
the International Media During theTwo FIFA World Cups in the Country. Londres,
King’s College London: International Journal of Communication, 2015.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: editora LTC, 1989.
LIPPMANN, Walter. Opinião Pública, Rio de Janeiro: editora Vozes, 2010.
MARTINO, Luís Mauro Sá. Comunicação e identidade: Quem você pensa que é?, São
Paulo: editora Paulus, livro digital, 2010.
NAFRÍA, Ismael. La reinvencíon de The New York Times: Cómo la “dama gris” del
periodismo se está adaptando (com éxito) a la era móvil. Universidade do Texas em
Austin: Knight Center for Journalism in the Americas, 2017.
NATALI, João Batista. Jornalismo Internacional, Edição digital, São Paulo: editora
Contexto, livro digital, 2004.
NEW York Times. NYtimes.com. Disponível em: https://www.nytimes.com/.
PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: editora Contexto, 2013.

MINI CURRÍCULO
Isa de Oliveira Teixeira - Graduada do Curso de Comunicação Social – Habilitação
em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail:
isa.teixeira2007@hotmail.com.

Maria Aparecida Ramos da Silva - Professora do Curso de Comunicação Social da


UFRN. Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Atua nas áreas de Comunicação e Sociologia, com ênfase nos seguintes temas:
comunicação e sociedade, participação política e mídias pós-massivas, novas

75
tecnologias de informação e comunicação, processos midiáticos e direitos humanos. E-
mail: cidaramoss@gmail.com.

Título do Trabalho: Mulher e cerveja: empoderamento feminino e o reposicionamento


da cerveja Itaipava
Autoras: Larissa Rayane Coêlho Costa e Maria Aparecida Ramos da Silva (UFRN)

RESUMO

A desigualdade de gênero está presente em nossa sociedade desde sua formação. Ao ter
o patriarcalismo como base para a estruturação da organização familiar, foi imposto à
mulher o papel de subserviência, o que fez com que as famílias se configurassem tendo
o homem como a figura central da sociedade. A mulher era tida como figura secundária
a quem eram destinadas as tarefas domésticas, a criação e educação dos filhos e a
obediência, primeiro aos pais e depois ao marido. Esse modelo de sociedade foi
enfraquecendo em meados do século XX, com a entrada da mulher no mercado de
trabalho e sua consequente conquista de direitos advindas de sua independência
financeira (FREITAS, 2010).

PALAVRAS-CHAVE: Mulher; Cerveja; Itaipava; Empoderamento

RESUMO EXPANDIDO

Uma forma de ilustrar essa desigualdade é quando observamos criticamente a


maneira como a mulher é retratada pela publicidade. Entre os mais diversos produtos
oferecidos pelas propagandas, está a figura feminina utilizada como atrativo para a
venda dos mais diversos produtos. Retratada de maneira estereotipada, servindo de
objeto sexual, e enquadrada em certos padrões de beleza que não condizem com a
realidade de grande parcela das mulheres brasileiras, é dessa forma que a mulher é vista
na publicidade.
Por se tratar de um meio de comunicação de massa, a publicidade desempenha
papel importante na sociedade e na concepção da realidade por parte de quem entra em
contato com a sua mensagem. Ao reproduzir determinados estereótipos, a publicidade
está reforçando antigos preconceitos e visões deturpadas acerca das mulheres.
Naturalizando a sexualização e reforçando o sentimento de posse ao vender a imagem
da mulher como uma figura servil e sensual, a publicidade contribui para a
inferiorização feminina em nossa sociedade.
A maneira como a mulher é representada na publicidade se reflete em nossa
sociedade de forma bastante desfavorável. No entanto, algumas marcas já atentaram
para essa realidade, motivadas por consumidores mais conscientes e críticos, com as

76
redes sociais estreitando essa relação. Isso tem possibilitado o diálogo, a interação e a
reação em tempo real desses consumidores, e as marcas estão adequando seu discurso e
se reinventando em relação à imagem feminina para fortalecer o vínculo com o público,
em especial o público feminino.
A reavaliação e o reposicionamento por parte das marcas em relação a
representação da imagem da mulher em sua publicidade, representa um passo
importante na luta das mulheres por igualdade de gênero. E quando essa figura se
transforma em um sujeito relevante, importante na publicidade, isso colabora com essa
luta e dá forças às mulheres em sua constante luta por equidade numa sociedade tão
desigual.
Com o presente trabalho, se busca analisar como esse fenômeno vem ocorrendo
na publicidade da cerveja Itaipava, em relação ao papel desempenhado pela personagem
Verão, garota propaganda da marca. A escolha dessa marca se deu ao constatar que, por
influência das transformações sociais citadas anteriormente, a marca Itaipava, sob a
ótica da representação feminina, alterou a forma com que a personagem Verão era
tratada em sua publicidade. Para isso, foi feita a análise de conteúdo das campanhas
publicitárias da marca, visando mostrar o posicionamento inicial da cerveja, em seguida,
são analisadas as peças publicitárias que ressaltam a mudança e o reposicionamento da
Itaipava.
Os resultados mostraram que a sociedade está passando por um momento de
mudanças sociais, e que essas mudanças são refletidas na publicidade. Por ocupar e
desempenhar um papel de destaque em nossa sociedade, a publicidade é diretamente
afetada por essas mudanças, e com o surgimento de novas demandas por parte de
consumidores mais conscientes em relação às causas sociais, e mais precisamente em
relação ao uso da imagem da mulher na publicidade, as marcas precisam adequar suas
propagandas para fortalecer o vínculo com esse consumidor.
Ao analisar as campanhas publicitárias da cerveja Itaipava, observando-se o
papel desempenhado pela personagem Verão em suas propagandas, percebe-se que
ocorreu uma mudança devido uma série de questionamentos por parte dos
consumidores, acerca da constante objetificação sexual da mulher presente nas
campanhas da marca, o que acarretou, inclusive, na suspensão de peças publicitárias por
hipersexualizar a garota propaganda da cerveja.
A Itaipava reproduzia em sua propaganda a imagem feminina ligada ao ato de
servir, fomentando a importância da beleza, resumindo a mulher a um ser submisso e

77
para ser apreciado, refletindo e fortalecendo a visão machista existente em nossa
sociedade, usando o humor como justificativa para a subvalorização da mulher. Após ter
que retirar peças publicitárias de circulação devido ao apelo excessivo à sensualidade, a
marca passou a reposicionar a mulher em sua publicidade e a personagem Verão se
tornou porta-voz da marca, com personalidade, força e papel importante nas
propagandas.

REFERÊNCIAS
BIANCHINI, Alice. A luta por direitos das mulheres. ed 71. Carta Forense, São Paulo,
2009.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Edições BestBolso, 2014.
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
DUNCAN, T.; MORIARTY, S. Drivingbrandvalue. New York: McGraw-Hill, 1997.
DRUMONT, Mary Pimentel. Elementos para uma análise do machismo. Perspectivas:
Revista de Ciências Sociais, v. 3, 2009.
FREITAS, Taís Viudes. O cenário atual da divisão sexual do trabalho. São Paulo: SOF,
2010.
KAPFERER, J. Strategicbrand management: New approaches tocreating and
evalualing. New York: Free Press, 1992.
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no ser humano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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publicidade brasileira. StockolmReviewofLatin American Studies, 2007.
McKENNA, Regis. Marketing de relacionamento: estratégias bem-sucedidas para a era
do cliente. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
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Pioneira, 1996.
SANT’ANNA, Armando. Propaganda: teoria, técnica e prática. 7ª ed. São Paulo,
Pioneira Thomson Learning, 2002.

MINI CURRÍCULO
Larissa Rayane Coêlho Costa - Graduada do Curso de Comunicação Social –
Habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). E-mail: larissarccoelho@gmail.com.
Maria Aparecida Ramos da Silva - Professora do Curso de Comunicação Social da
UFRN. Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Atua nas áreas de Comunicação e Sociologia, com ênfase nos seguintes temas:
comunicação e sociedade, participação política e mídias pós-massivas, novas
tecnologias de informação e comunicação, processos midiáticos e direitos humanos. E-
mail: cidaramoss@gmail.com.

78
10.11.2017
Título do Trabalho: Controle Social e Incidência: o monitoramento do programa
Patrulha da Cidade
Autores: Daniel Meirinho e Andressa Karla Milanez Tinoco (UFRN)

RESUMO
Os programas policiais se posicionam como grandes colaboradores sociais, porém na
prática a estrutura narrativa se fundamenta no ódio e intolerância. O programa televisivo
Patrulha da Cidade é um exemplo da crescente exposição dessas barbáries de uma mídia
que surge como violadora. Nesse viés, o controle social da sociedade civil se faz
essencial, contudo estereotipado como censura. Discutir esses conceitos apresenta o
controle social como ferramenta de incidência social.

PALAVRAS-CHAVE: Programas Policiais; Patrulha da Cidade; Direitos Humanos;


Censura. Controle Social; Monitoramento.

RESUMO EXPANDIDO

A participação social se faz fundamental na regulação e controle dos meios de


comunicação, tendo em vista como produções midiáticas apresentam fortes efeitos no
cotidiano das pessoas por ser parte estrutural do espaço público e por isso devem refletir
acerca da garantia de direitos e a diversidade social existente. A Constituição brasileira
de 1988 estabelece que a programação televisiva atenda às finalidades artísticas,
culturais, educativas e de respeito aos valores éticos da pessoa e da família. Nos últimos
anos, porém, tais princípios não têm sido respeitados pelas emissoras comerciais
regionais de TV que exibem programas policias que violam os direitos dos indivíduos e
dos documentos que regulamentam uma conduta ética segundo critérios de audiência e
lucratividade.
Mas como estes conteúdos midiáticos podem ser compreendidos como um
instrumento público de controle social? Estes submetem “os indivíduos a determinados
padrões sociais e princípios morais” (CORREIA, 2009, p. 66), que influenciam o
comportamento em sociedade com fins de manutenção de uma determinada ordem
social.
Por muitas vezes o controle social da mídia é colocado como indicador de censura. Mal
interpretado, o que deveria ser tido como contribuição para toda uma sociedade, passa a
ser visto como repressor, principalmente através dos discursos manipuladores dos
grandes influenciadores midiáticos. Segundo Moraes (2011), “a opinião pública é

79
induzida a pensar que só tem relevância aquilo que os veículos divulgam” (2011, p.
144).
É sob a ótica do controle social que este trabalho propõe refletir os impactos da
cobertura midiática em torno da segurança pública no estado do Rio Grande do Norte,
efetivamente realizada pelo programa Patrulha da Cidade, veiculado diariamente na TV
Ponta Negra (filiada da emissora SBT no Rio Grande do Norte). Os dados analisados
foram obtidos através do monitoramento de doze programas em abril de 2017 realizado
pelo projeto de pesquisa “Afinal, quem paga a conta? O monitoramento das violações
de direitos dos programas policiais”. Esta comunicação visa analisar e diferenciar os
conceitos de censura e controle social, pautando-se no monitoramento, exemplo
concreto e prático de controle social pautado na exposição da violência e indignação
social em torno de uma moralidade propagada (MALAGUTI BATISTA, 2003).
O Patrulha da Cidade diariamente expõe as babáries cotidianas a nível local e o
apresentador entra como forte figura participativa na construção e no reforço de
preconceitos, ódios e intolerâncias. Visivelmente são os argumentos discursivos e
opiniões acerca das coberturas sobre segurança pública no Rio Grande do Norte que se
pode observar a ação de indignação social, sentimento de vingança e punição restritiva
aos indivíduos envolvidos. O programa televisivo, em certa medida amparado pela
audiência, assume a função de guardião da moralidade e da ordem pública ao mesmo
tempo que viola direitos ao expor pessoas custodiadas e suspeitas de envolvimento a
partir de uma narrativa que beira a desumanidade, muitas vezes com detalhes
desprezíveis do ponto de vista noticioso, para intensificá-los e enquadrá-los como
extraordinários.
Levando em consideração a influência que esse tipo de programa exerce perante
seus telespectadores, o monitoramento surgiu como forma de propor mudanças na
forma de sua condução, tendo em vista que diversos Direitos Humanos são violados
nessas transmissões.
Além de discutir os conceitos de censura e controle social nos propomos a expor
a relevância e resultados do monitoramento realizado, com a finalidade de analisar quais
as estratégias de combate a este controle social podem ser desenvolvidas a partir da
sociedade civil organizada, pesquisas universitárias e ações sistemáticas a alertar
telespectadores diante dos conteúdos televisivos (PUDDEPHATT, 2011) com fins de
promoção e defesa dos direitos humanos na mídia televisiva.

80
BIBLIOGRAFIA
MALAGUTI BATISTA, V. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma
história. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003a.
PUDDEPHATT, Andrew. A importância da autorregulação da mídia para a defesa da
liberdade de expressão. UNESCO. Série Debates CI No 9, Fevereiro de 2011.
MORAES, Dênis de. Vozes abertas da América Latina: Estado, políticas públicas e
democratização da comunicação. Rio de Janeiro: Mauad X Faperj, 2011.
CORREIA. Maria Valéria Costa. Controle Social. Rio de Janeiro: 2009.

MINI CURRÍCULO
Daniel Meirinho - Doutor em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa
e professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da – Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN).
Andressa Karla Milanez Tinoco - Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Título do Trabalho: De vagabundo ninguém tem pena: O discurso de ódio no


programa Patrulha da Cidade
Autoras: Marcela da Costa Chacel e Marcela Freire Oliveira da Costa (UFRN)

RESUMO
Este artigo pretende examinar como é construído o discurso de ódio e preconceito no
programa policial Patrulha da Cidade utilizando a análise qualitativa através do
monitoramento de doze programas em abril de 2017, focando-se nos comentários
opinativos de seu apresentador. A base metodológica utiliza a análise de conteúdo
(BARDIN, 1979), realizando um exame dos recursos empregados na elaboração das
opiniões enunciadas dentro do programa, e como os discursos elaborados para comentar
sobre os indivíduos e grupos destacados pelo Patrulha da Cidade extrapolam os limites
da liberdade de expressão, caracterizando-se como discurso de ódio e preconceito,
violando Direitos Humanos e desrespeitando o ordenamento jurídico nacional.

PALAVRAS-CHAVE: Programas Policiais; Patrulha da Cidade; Direitos Humanos,


Monitoração, Discurso de Ódio.

RESUMO EXPANDIDO
O artigo tem como objetivo examinar como é construído o discurso de ódio e
preconceito no programa policial Patrulha da Cidade a partir da análise qualitativa do
monitoramento de doze programas em abril de 2017, focando-se nos comentários
opinativos de seu apresentador. Tomando como base metodológica a análise de

81
conteúdo (BARDIN, 1979) é feito um exame dos recursos empregados na elaboração
das opiniões enunciadas dentro do programa, e como os discursos elaborados para
comentar sobre os indivíduos e grupos destacados pelo Patrulha da Cidade extrapolam
os limites da liberdade de expressão, caracterizando-se como discurso de ódio e
preconceito, violando Direitos Humanos e desrespeitando o ordenamento jurídico
nacional.
A reportagem sobre um assalto é finalizada informando que um dos suspeitos foi
encontrado morto no local e, em seguida, o apresentador comenta de forma enfática:
“Assaltante é assaltante, bandido é bandido. Quem vai chorar é a mãe, a esposa e os
filhos. O povo que ele tava assaltando, ninguém tem menor pena, menor dó. Essa é a
realidade. Não vale a pena nem comentar. Ele caiu todo torado (sic)". Esta fala, do
apresentador Cyro Robson, o Papinha, foi ao ar no dia 07 de abril de 2017, no programa
Patrulha da Cidade, exibido pela TV Ponta Negra, afiliada do SBT, no Rio Grande do
Norte. O Patrulha da Cidade é exibido de segunda a sexta, ao meio dia, valendo
salientar que o programa é líder de audiência na emissora, abrangendo telespectadores a
partir dos quatro anos de idade. Em paralelo, o Patrulha da Cidade atinge, apenas em
Natal, capital do Rio Grande do Norte, cerca de 300 mil pessoas*.
Esse tipo de discurso agressivo e preconceituoso é recorrente no Patrulha da
Cidade, programa cuja pauta destaca temas relacionados à criminalidade e violência no
RN. Seu apresentador é o maior responsável por proferi-los, ferindo cotidianamente os
Direitos Humanos sob a justificativa de estar apenas fazendo uso de sua liberdade de
expressão. Contudo, na legislação brasileira a liberdade de expressão não é um direito
absoluto e nem está acima de outras garantias constitucionais, como a dignidade da
pessoa humana, o programa, porém, abusa dessa liberdade para atacar, ridicularizar e
agredir minorias sociais excluídas com o intuito de criar notícias sensacionalistas e
atrair atenção.
Assim, o objetivo deste artigo passa por identificar como o discurso de ódio e
preconceito se manifesta no programa Patrulha da Cidade, principalmente nas opiniões
de seu apresentador, analisando o contexto de suas falas e como são construídas. Para
isso, foram monitoradas 12 edições do programa durante o mês de abril de 2017, de
modo a formar um corpus que permitiu obter dados quantitativos, bem como material
para uma análise qualitativa dos discursos de Cyro Robson, possibilitando realizar uma
análise de conteúdo do Patrulha da Cidade. O Guia de Violações da Mídia Brasileira
(VARJÃ O, 2015) caracteriza o discurso de ódio e preconceito, quando “o apresentador

82
discrimina, ofende ou incita à ofensa, à discriminação ou à prática de violência contra a
pessoa, ou grupo de pessoas, em virtude da sua raça, cor, etnia, religião, orientação
sexual, condição socioeconômica, nível de escolaridade, idade, procedência nacional ou
qualquer outra característica” (VARJÃ O, 2015, p. 16).
Considerando o discurso de ódio sob essa perspectiva, bem como de acordo com
as diretrizes do Guia de Monitoramento de violações de direitos, consideramos ainda a
lição de Sarmento (2006, p. 54-55), que o conceitua como “manifestações de ódio,
desprezo ou intolerância contra determinados grupos, motivadas por preconceitos
ligados à etnia, religião, gênero, deficiência física ou mental ou orientação sexual,
dentre outros fatores". Nessa perspectiva, foram identificadas 62 ocorrências de
discurso de ódio e preconceito, parte das 399 violações de Direitos Humanos
encontradas nos programas analisados.
Observou-se que 97% dos discursos de ódio no Patrulha da Cidade foram
proferidos pelo seu apresentador, ou seja, das 62 violações identificadas, 57 foram
cometidas em falas de Cyro Robson, e suas vítimas foram indivíduos ou grupos
vulneráveis, como idosos, moradores da periferia e, ostensivamente, qualquer suspeito
de algum crime. Apresentando-se como uma figura de autoridade, Robson utiliza uma
série de recursos para legitimar suas opiniões como corretas, banalizando os Direitos
Humanos e invalidando posições divergentes. Dessa forma, o presente artigo busca
apresentar os expedientes usados pelo apresentador que caracterizam suas opiniões
como discursos de ódio e preconceito.

*Dados de Audiência fornecidos pela TV Ponta Negra. Pesquisa Kantar Ibope Media,
realizada em Natal entre os dias 25/11/16 e 01/12/16.

BIBLIOGRAFIA
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
CORREIA, P. L. R.; DE ALMEIDA, I. N. S. A Liberdade De Expressão À Luz Da
Declaração Universal De Direitos Humanos Proposta Na Campanha Quem Financia A
Baixaria É Contra A Cidadania. [s.d.].
SARMENTO, Daniel. A liberdade de expressão e o problema do hate speech. Revista
de Direito do Estado, Rio de Janeiro, ano 1, n. 4, out./dez. 2006.
SCHÄFER, Gilberto; LEIVAS, Paulo Gilberto Cogo; SANTOS, Rodrigo Hamilton dos.
Discurso de ódio: Da abordagem conceitual ao discurso parlamentar. Revista de
Informação Legislativa. N. 207. Brasília, 2015.
VARJÃO, Suzana. Violações de direitos na mídia brasileira: ferramenta prática para
identificar violações de direitos no campo da comunicação de massa (Guia de
monitoramento de violações de direitos; v.1). Brasília, DF: ANDI, 2015

83
MINI CURRÍCULO
Marcela da Costa Chacel - Doutora em Comunicação Social e professora adjunta do
Departamento de Comunicação Social da – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
Marcela Freire Oliveira da Costa - Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e bolsista do projeto “Afinal,
quem paga a conta? O monitoramento das violações de direitos dos programas
policiais”.

Título do Trabalho: A mídia e o medo: o jornalismo sensacionalista do Patrulha da


Cidade
Autores: Tálison Felipe Ferreira de Sena e Maria do Socorro F. Veloso (UFRN)

RESUMO
O presente estudo decorre do monitoramento de 12 edições do programa policial
Patrulha da Cidade (TV Ponta Negra), realizado em abril de 2017. Das 12 edições,
quatro foram analisadas à luz do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (FENAJ,
2007), e serão objeto deste trabalho. A partir da metodologia utilizada, observou-se que
o referido programa viola um conjunto de instrumentos de autorregulação do trabalho
profissional do jornalista, a partir de um modelo que incorpora humilhação, incitação à
violência, caráter mórbido e sensacionalista, entre outras características.

PALAVRAS-CHAVE: Sensacionalismo, jornalismo sensacionalista, mídia e medo,


Patrulha da Cidade.

RESUMO EXPANDIDO

Com o crescente aumento dos indicadores de criminalidade no Rio Grande do


Norte, nos últimos anos, cresceu, também, a atenção aos casos de violência e às suas
formas de representação, nos programas televisivos locais. Entre as atrações da TV
potiguar que dedicam espaço a conteúdos de caráter policialesco, o exemplo mais
notório é o Patrulha da Cidade, da TV Ponta Negra, afiliada do SBT no Estado, e cuja
marca principal é a espetacularização da cobertura noticiosa a eventos relacionados à
segurança pública.
O programa é apresentado de segunda à sexta-feira, ao meio-dia, por Cyro
Almeida da Costa, mais conhecido como Papinha. É o líder de audiência do canal, com
alcance de mais de 55 mil domicílios na capital, segundo dados* fornecidos pela
emissora.
No Patrulha da Cidade, seu apresentador comporta-se de forma autoritária e
intimidadora, como um “justiceiro” que advoga contra indivíduos acusados de toda a

84
sorte de crimes. Ao analisar a performance de radialistas que trabalham com o mesmo
formato de programa, Araújo (2003) diz que tais comportamentos “desinibem traços do
patriarcalismo, do autoritarismo e do personalismo, característicos da herança ibérica
(Portugal e Espanha)”.
Segundo Araújo (2003), a grande audiência alcançada por esses apresentadores
confere-lhes um poder simbólico extraordinário, dadas as características singulares do
suporte que é utilizado para exercê-lo: “(...) o palanque eletrônico do rádio, mídia de
massa, espaço privilegiado de produção e difusão de bens simbólicos, levando a
construção de sentido e consenso”. Essa percepção de Araújo guarda conexão com os
programas de televisão que trabalham com o mesmo conteúdo e formato.
Mas quem concebe esses produtos midiáticos? Como a significativa audiência
em torno desses produtos se justifica? Como esse tipo de programa televisivo pode se
apresentar como jornalístico, visto que investe em narrativas que exploram o medo e os
estigmas sociais, e viola constantemente os direitos humanos? Estas são algumas das
questões do projeto de pesquisa “Afinal, quem paga a conta? O monitoramento das
violações de direitos dos programas policiais”, do Departamento de Comunicação
Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que tem por base o
acompanhamento e análise do referido programa.
O presente estudo decorre do monitoramento de 12 edições do Patrulha da
Cidade, realizado no mês de abril de 2017. Das 12 edições, quatro foram analisadas
qualitativamente e quantitativamente, à luz do Código de Ética dos Jornalistas
Brasileiros (FENAJ, 2007), e serão objeto deste trabalho.
A partir da metodologia utilizada, observou-se que o referido programa viola um
conjunto de instrumentos de autorregulação e outros parâmetros do trabalho profissional
do jornalista que estão sintetizados no Código de Ética. O modelo discursivo incorpora
coloquialidade, desrespeito às pessoas mencionadas, incitação à violência, caráter
mórbido e sensacionalista, agressividade, humilhação, humor pejorativo repleto de
gírias, palavras de baixo calão, ludicidade dramática. São mecanismos, segundo
Siqueira, Souza e Nobre (2013), cujo intuito é “criar uma falsa sensação de proximidade
e intimidade com o telespectador”.
Os resultados a serem apresentados neste estudo já foram incorporados à
plataforma “Mídia sem violações de direitos”, do Coletivo Intervozes – Coletivo Brasil
de Comunicação Social, em uma ação que envolve a sociedade civil organizada, a partir

85
de pesquisas como a que demanda este estudo, e de iniciativas do Ministério Público
Estadual, poderes legislativos estadual e municipal, entre outras instâncias.

* Pesquisa Kantar Ibope Media realizada entre os dias 25/11/16 e 01/12/16. Disponível
em: https://www.kantaribopemedia.com/. Acesso em: 11 out 2017

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. J. de. Programas policiais: fenômenos de audiência no rádio. 2003. 137 f.
Dissertação (Pós-graduação) - Universidade Federal de Pernambuco. Disponível em:
http://repositorio.ufpe.br/bitstream/handle/123456789/3304/arquivo4569_1.pdf?sequenc
e=1&isAllowed=y. Acesso em: 11 out 2017.
CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS. Fenaj, 2007. Disponível
em: http://fenaj.org.br/wp-content/uploads/2014/06/04-
codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf. Acesso em 11 out 2017.
PATRULHA DA CIDADE. TV Ponta Negra, 2017. Disponível em:
https://www.tvpontanegra.com.br/programa/patrulha-da-cidade. Acesso em: 09 out
2017
SIQUEIRA, A.C.; SOUZA, E.R.A., NOBRE, I.M. A Abordagem do movimento
#ForaMicarla no programa televisivo policial Patrulha na Cidade. Revista Anagrama
(USP), v. 06, p. 1, 2013.

MINI CURRÍCULOS
Tálison Felipe Ferreira de SENA -Estudante de Jornalismo da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte e bolsista voluntário de IC. E-mail: felipe@avantecom.com.br.
Maria do Socorro F. VELOSO - Orientadora do trabalho. Pós-doutora em Ciências da
Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Professora adjunta do curso do curso
de Comunicação Social (Jornalismo) e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da
Mídia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Integrante dos grupos de
pesquisa Ecomsul e Pragma (UFRN). E-mail: socorroveloso@uol.com.br.

Título do Trabalho: Tá achando que travesti é bagunça?; A cobertura de casos de


transfobia em Natal pelo site bichanatalense.com
Autores:Allyson Darlan Moreira da Silva (UFRN) e Kelvis Leandro do Nascimento
(PPGCS-UFRN)

RESUMO
Este artigo analisa a cobertura realizada pelo site Bicha Natalense de um caso de
transfobia ocorrido no hipermercado Carrefour, Zona Sul de Natal, em agosto de 2016.
O caso seria apenas mais um, em meio a tantos outros sofridos corriqueiramente por
pessoas trans no Brasil, caso um vídeo do episódio não tivesse sido postado nas redes
sociais na internet e ganhado uma cobertura extensiva pelo Bicha, expondo para a
opinião pública a violência sofrida pelas jovens travestis e pressionando o
estabelecimento a se posicionar sobre o ocorrido.

PALAVRAS-CHAVE: Bicha Natalense; transfobia; Mídias Sociais; Opinião Pública

86
RESUMO EXPANDIDO

O desenvolvimento de redes sociotécnicas e popularização do acesso à conexão


banda larga, que atualmente alcança pouco mais da metade da população brasileira
(cerca de 57,8% dos domicílios, segundo pesquisa internacional ICT Facts and Figures
2016, realizada pela ONU*), permitiram a proliferação de inúmeros sites, blogs e
comunidades virtuais nacionais voltados para o público LGBT, ao longo da última
década, com o objetivo, dentre outros, de constituir uma contra-hegemonia ao discurso
heteronormativo dominante difundido pelas grandes corporações midiáticas.
No Rio Grande do Norte, um dos estados brasileiros com maior índice de crimes
cometidos contra homossexuais e pessoas trans no Brasil, de acordo com relatórios
anuais divulgados por organizações ligadas ao movimento LGBT, sobretudo o Grupo
Gay da Bahia (GGB), a juventude gay e trans têm se utilizado de sites de redes sociais
para denunciar casos de LGBTfobia, expressar opinião, compartilhar conteúdos de
humor e empreender no circuito audiovisual de videoclipes, web séries e curta
metragens. Um dos principais meios de comunicação de representatividade LGBT local,
o site BichaNatalense.com possui uma média mensal de 500 mil acessos e acumula
mais de 32 mil seguidores nas redes sociais na internet, onde suas publicações chegam a
alcançar semanalmente mais de 1 milhão de pessoas.
Em agosto de 2016 o BichaNatalense.com atuou na cobertura de um caso de
discriminação contra transexuais no supermercado Carrefour, Zona Sul de Natal, um
dos episódios de maior repercussão nos últimos anos no estado. Na ocasião, duas
transexuais foram expostas ao constrangimento por clientes ao tentar utilizar o banheiro
feminino do supermercado, na noite do dia 12 daquele mês. Incomodada pela presença
das jovens, uma senhora que utilizava o banheiro deu início a um bate-boca, atenuado
do lado de fora pelo seu marido, enfurecido. Rapidamente vídeos circularam nas redes
sociais e foram parar no site Bicha Natalense, mostrando a revolta dos presentes e da
população com as agressões verbais sobre as vítimas e o descaso do supermercado e da
polícia na resolução do caso. A repercussão foi tamanha que, em menos de 24h, foram
mais de 100 mil acessos ao site e milhares de visualizações do vídeo publicado no canal
da Bicha Natalense no YouTube, além de compartilhamentos nos principais sites de
redes sociais e a criação de um evento no Facebook para um ato marcado no
estacionamento do supermercado na semana seguinte.

87
Figura 1 Caso de transfobia ganha destaque no site BichaNatalense.com

Neste sentido, este trabalho se propõe a analisar a cobertura desse caso pela
Bicha Natalense e seus desdobramentos por meio do acervo de matérias e conteúdos
audiovisuais publicados na época, discutindo a importância da representatividade LGBT
no campo midiático para articulação de ações de combate a LGBTfobia e na difusão de
denúncias, demandas sociopolíticas e cobertura de ações afirmativas, possibilitada
atualmente pela penetração crescente dos dispositivos digitais de comunicação e
informação entre a população brasileira.
Pretende-se, portanto, trazer à tona a discussão sobre a LGBTfobia no estado do
Rio Grande do Norte e a importância da representatividade no campo midiático desses
sujeitos marginalizados socialmente como instrumento de emancipação, na promoção
de debates sobre os caminhos que precisamos percorrer para garantir a todos um
tratamento igualitário e justo, bem como o resgate da cidadania e da dignidade da
pessoa humana.
Todos os dramas sofridos pelas transexuais retratadas nas matérias produzidas
pela Bicha Natalense e abordadas neste trabalho, bem como muitas outras questões em
diferentes publicações, nos permitem refletir sobre a heteronormatividade e o machismo
incutidos em nossa cultura, motivadores de violências de gênero e orientação sexual,
que ainda permeiam os espaços públicos, nas tomadas de decisões políticas. As matérias
evidenciam o grito por mudança dos sujeitos transexuais, renegados pelo Estado e a
sociedade como um todo, na consolidação de instrumentos de inserção social, desde o
direito à adoção do nome social em documentos oficiais, até o respeito à livre expressão
das diversidades culturais, raciais e de gênero existentes.

88
Atuando no campo jornalístico, na Bicha Natalense não se pretende levantar
teses que comprovem o funcionamento da sociedade: levanta-se problemas do nosso
tempo, que cabem à discussão de nossa sociedade, e traz histórias do passado para
estimularmos modalidades reflexivas sobre nossos fatos e eventos sociais.

*Apesar de expansão, acesso à internet no Brasil ainda é baixo. Matéria publicada pela
revista Exame em 22 de dezembro de 2016. Acesso em 10 de outubro de 2017.

REFERÊNCIAS
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contemporânea. In: INTERCOM, 2004. Disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/errata/RosaPedroFernandaBruno.pdf
. Acesso em: 10 março de 2016.
DUARTE, Jorge. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. Organizado por
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Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
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FRANÇA, Vera Veiga; ALDÉ, Alessandra; CÉSAR RAMOS, Murilo (orgs) FRANÇA,
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TRAVANCAS, Isabel. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. Organizado
por Jorge Duarte e Antônio Barros. Rio de Janeiro – RJ: Ed. Atlas, 2010.

MINI CURRÍCULO
Allyson Darlan Moreira da Silva - Jornalista, mestre pelo Programa de Pós-graduação
em Estudos da Mídia da UFRN (PPgEM-UFRN) e membro do Núcleo Interdisciplinar
Tirésias de Estudos em Gênero, Diversidade Sexual e Direitos Humanos da UFRN.
Desenvolve pesquisas sobre mídia, corpo, gênero e sexualidade. E-mail:
allysonjornalista@hotmail.com.

Kelvis Leandro do Nascimento - Cientista social, mestrando pelo Programa de


Ciências Sociais da UFRN (PPgCS-UFRN) e membro do Núcleo de Estudos Críticos
em Subjetividades Contemporâneas (NUECS-UFRN) e do Grupo de Pesquisa Saúde,
Gênero, Trabalho e Meio Ambiente (SAGMA-UFRN)

89
Título do Trabalho: Um estudo de comentários em portais de informação sobre a
questão da diversidade sexual
Autores: Clebson Luiz de Brito e Leandro Lima Ribeiro (DECOM-UFRN)

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal analisar a forma pela qual os enunciadores
compreendem e/ou problematizam os Direitos Humanos, quando relacionados à questão
da diversidade sexual, nos portais de informação. Ainda nessa esteira, buscou-se
compreender as estratégias argumentativas e as marcas enunciativas utilizadas pelos
usuários desse espaço virtual. A abordagem baseou-se nas perspectivas teóricas da
Análise do Discurso (AD) de linha francesa, dos estudos da argumentação e da
Semiótica Discursiva. Os resultados parciais mostram que os Direitos Humanos são
relativizados quando relacionados à questão da diversidade sexual.

PALAVRAS-CHAVE: Portais; Diversidade Sexual; Mídia;

RESUMO EXPANDIDO
Os Direitos Humanos podem ser entendidos como a expressão do que se
considera básico e inerente ao ser humano: o direito à vida, à integridade física, à
liberdade, além de uma série de direitos ditos sociais, como o direito ao trabalho, à
saúde, à educação, sem os quais os primeiros ficam em perigo. Apesar disso, é
perceptível o caráter controverso do tema na sociedade brasileira, na qual variados
problemas não apenas dificultam a efetiva proteção a esses direitos, como também
impedem o desenvolvimento de uma cultura de zelo em relação a eles. Trata-se de
problemas como o severo quadro de desigualdades sociais no país; os números
alarmantes de crimes contra a vida; tanto uma seletividade da Justiça quanto uma
brutalidade do sistema carcerário; além de um histórico de violações dos Direitos
Humanos na sociedade brasileira durante a ditadura militar, algo que no momento atual
tem inclusive sido abertamente defendido por diferentes atores sociais e agentes
políticos.
É objetivo desse estudo contribuir com esse debate a partir de uma perspectiva
discursiva, analisando como esses direitos são compreendidos e/ou problematizados nas
interações polêmicas realizadas em ambiente virtual, mais especificamente em

90
comentários em portais de informação. Pretende-se compreender, pela argumentação
desenvolvida em debates em torno do tema dos direitos humanos em comentários em
portais de informação, as representações discursivas que circulam em nossa sociedade
em relação a esse tema, privilegiando, nesse estudo, as representações por meio de
estratégias argumentativas sobre a questão da diversidade sexual.
Objetivos: Analisar a argumentação em torno do tema dos Direitos Humanos, tendo
como subtemática a questão da diversidade sexual, nos comentários de portais de
notícia; Explicitar as representações sobre os Direitos Humanos, quando relacionados à
comunidade LGBT, que circulam na sociedade brasileira.
Metodologia
Para a composição do corpus, serão contemplados aqui os comentários que repercutem
informações que envolvam o desrespeito aos Direitos Humanos no âmbito da
problemática da diversidade sexual. Para esse estudo, optou-se por comentários
relacionados a duas notícias do portal G1, tendo em vista a expressiva quantidade de
comentários. Isso permitirá identificar as regularidades em relação aos recursos
argumentativos aí empregados e, consequentemente, chegar às diferentes representações
que circulam sobre o objeto contemplado. Cabe dizer, por fim, que essas análises têm
como base os aportes teóricos provenientes da relação entre, de um lado, os estudos da
argumentação e, de outro, a Análise do Discurso (AD) de linha francesa e a Semiótica
Discursiva.
Resultados
Como resultados parciais da pesquisa, pode-se relatar que os comentários
analisados até o presente momento, em diversos casos, ancoram-se no discurso
religioso, sendo observado, por meio da heterogeneidade discursiva, estratégias
argumentativas que denotam uma posição contrária às pautas da comunidade LGBT e,
muitas vezes, aos Direitos Humanos.
Nesse sentido, podemos observar certa regularidade na utilização da estratégia
argumentativa do modelo, com a qual enunciadores defendem suas teses, relativizando
os Direitos Humanos quando tratado sobre o prisma da diversidade sexual e da luta da
comunidade LGBT.
Além disso, no campo enunciativo, observamos, com frequência, a utilização de
dêiticos que determinam uma polarização, divisão entre os agentes sociais,
linguisticamente proposta por um nós exclusivo (ligado à heteronormatividade), do qual
um tu (entendido como o diferente) é excluído e desrespeitado.

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Considerações finais
Diante do exposto, observamos que a temática dos Direitos Humanos, quando
relacionada à diversidade sexual e às lutas por reconhecimento e garantia de direitos
para a comunidade LGBT, é relativizada e até mesmo violada, tendo em vista a
regularidade dos comentários analisados.
Dessa forma, quando não há consonância entre os discursos, não só constatamos
conflitos, formas de segregação aberta ou velada, mas também preconceito, intolerância,
violência, violações aos direitos e garantias. Sendo necessário, portanto, debater essas
pautas, nos eventos e nas práticas sociais, com o intuito de esclarecer e garantir o
respeito ao diferente e, consequentemente, a efetivação dos Direitos Humanos.

REFERÊNCIAS
CHARAUDEAU, Patrick . O signo entre o sentido de língua e o sentido de discurso. In:
Idem. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008, pp. 23-
42.
BRANDÃO, Helena Nagamini. Enunciação e construção do sentido. In: FIGARO,
ROSELI (org.). Comunicação e Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2012. pp.
19-43.
FIORIN, José Luiz. Argumentação e discurso. In: Idem. Argumentação. São Paulo:
Contexto, 2015, pp. 15-30.
BARROS, Diana Luz P. de. Estudos do discurso. In: FIORIN, José Luiz (org.)
Introdução à Linguística II. Princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2002, pp. 187-
219.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. de Carlos Nelson Coutinho. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2004 (Primeira parte: pp. 15-78)
RODRIGUES, Maria Alice. O direito à diversidade sexual: a contribuição do
ensinojurídico na concretização dos direitos humanos. In: POCAHY, Fernando (org.)
Rompendo o silêncio: homofobia e heterossexismo na sociedade contemporânea. Porto
Alegre: Nuances, 2007, p. 63-70.
SANTOS, Boaventura de Souza. Por uma concepção multicultural de direitos humanos.
Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 48, junho de 1997. Disponível em: <
http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Concepcao_multicultural_direitos_
humanos_RCCS48.PDF>

MINI CURRÍCULO
Clebson Luiz de Brito é docente de Língua Portuguesa (UFRN) com mestrado e
doutorado em Estudos Linguísticos (UFMG). Atualmente, é coordenador do curso de
Letras – Língua Portuguesa e Literaturas da UFRN e coordenador da base de pesquisa
sobre as representações discursivas dos Direitos Humanos em comentários em portais
de informação.
Leandro Lima Ribeiro é discente do curso de Jornalismo (UFRN) e de Iniciação
Científica do Departamento de Letras (UFRN), desenvolvendo estudos sobre Análise do
Discurso (AD) de linha francesa, argumentação e Semiótica Discursiva.

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TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 03
Questões Raciais e Direitos Humanos
Coordenadores(as): Profa. Dra. Fernanda Carrero (UFRN), Prof. Dr. Paulo Dantas
(UERN)

08.11.2017

Título do Trabalho: O paralelismo entre a democracia brasileira e os direitos do povo


negro
Autores: Ângela Mercedes Facundo Navia
José Rolfran de Souza Tavares
Email: srolfran@hotmail.com

RESUMO

Entendendo que no vasculhar da história podemos encontrar muitas pistas do que está
estruturando algumas das realidades do povo negro brasileiro, nos propomos neste
artigo a mapear dois elementos na construção do Brasil: a raça e a democracia; isso nos
permitirá averiguar se existe um paralelo entre os direitos das pessoas negras e o modelo
democrático em curso, para assim ir refletindo sobre possíveis efeitos de tais
constructos na biografia de indivíduos não brancos.

PALAVRAS-CHAVE: Questão racial; Direitos Humanos; Lutas por Reconhecimento.

RESUMO EXPANDIDO

A chegada de Michel Temer a presidência da República em 2016, sem passar


por um processo eleitoral, gerou um debate acalorado, ainda em curso, sobre a
legitimidade do seu mandato. A narrativa que denuncia os interesses que levaram ao
impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff chama de golpe a ascensão do seu vice
ao atual cargo. Sua argumentação se orienta pela afirmação de que interesses privados
ditaram os rumos do legislativo e com isso o regime político instituído – a democracia –
foi violada. No meio desta tensão, em torno da degradação ou não da democracia
brasileira, o movimento negro vem fazendo das discussões raciais mais um elemento
para refletir sobre o que seria o ethos democrático do país. Seu questionamento se

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embasa no difícil acesso da população negra aos direitos instituídos constitucionalmente
e evidencia que eles só podem ser utilizados por setores específicos, os quais
comumente não englobam as pessoas não brancas, particularmente as mais pobres.
Nesse contexto se torna pertinente perguntar sobre como a articulação histórica
do presente cenário sociopolítico estabelece conexões com tradições políticas e
administrativas de outros momentos do Brasil. Entendemos que somente incluindo a
análise desses regimes de governo de populações poderemos avançar nas leituras sobre
alguns dos enclaves da atual conjuntura. O objetivo principal é evidenciar as linhas
relacionais de poder entre os marcadores afixados para observação (democracia e gestão
das questões raciais no Brasil) e seus cruzamentos ao longo de diferentes regimes de
governo nacionalmente.
A partir de uma revisão bibliográfica que enfatizou na forma em que a “questão
racial” tem sido abordada nas propostas de consolidação de um regime democrático no
Brasil, encontramos conexões com a maneira em que dito assunto era tratado na época
colonial. Diferentes tecnologias de dominação de corpos percebidos como perigosos
foram, desde então, desdobradas para conter o que alguns sociólogos do começo do
século XX chamaram de conflito racial. A abordagem proposta permite analisar que ao
tempo que a luta contra o racismo, as políticas de inclusão e igualdade social são
enunciadas como a via para a garantia de redemocratização e consolidação democrática
do Brasil, são mantidas formas coloniais de dominação, de tratamento diferenciado
segundo o pertencimento étnico-racial e segundo a situação de classe dos sujeitos. Essas
formas de dominação e regimes de poder mantêm uma ordem social hierarquizada em
que os direitos, inclusive aqueles positivados em leis, são um horizonte inatingível para
uma parcela considerável da população negra do Brasil.

BIBLIOGRAFIA

AGAMBEN, G. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: UFMG,
2007. FERNANDES, F. O Negro no Mundo dos Brancos. Petrópolis: Vozes, 1979.

FOUCAULT, M. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.


. Nascimento da Biopolítica. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1997. KANT DE
LIMA, R. Direitos Civis e Direitos Humanos: uma tradição judiciária prérepublicana?
São Paulo: São Paulo em Perspectiva, nº18, p.49-59, 2004. SCHWARCZ, L. Nem
Preto Nem Branco, Muito pelo Contrário. São Paulo: Claro Enigma, 2013.

MBEMBE, A. Necropolítica Seguido de Sobre El Governo Privado Indirecto. Santa


Cruz de Tenerife, Melusina, 2011.

94
PACHECO, J. Pacificação e Tutela Militar na Gestão de Populações e Territórios. Rio
de Janeiro: Revista Mana, 20[1], p. 125-161, 2014.

SEYFERTH, Giralda. A invenção da raça e o poder discricionário dos estereótipos.


Anuário Antropológico. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, p. 175-203, 1993.

MINI CURRÍCULO

Ângela Mercedes Facundo Navia


Possui graduação em Antropologia pela Universidade Nacional de Colômbia (2003),
mestrado em Ethnologie et Anthropologiesociale -
ÉcoledesHautesEtudesenSciencesSociales de Paris (2006) e doutorado em antropologia
social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2014). Atualmente realiza um
estágio pós-doutoral na Fundação Casa de Rui Barbosa e é professora da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. 2 Graduando do curso de Ciências Sociais da UFRN.

José Rolfran de Souza Tavares


Graduando do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.

Título do Trabalho: O CONSERVADORISMO, A GUERRA ÀS DROGAS E O GENOCÍDIO DA


POPULAÇÃO NEGRA
Autora: Samya Katiane Martins Pinheiro

RESUMO

As políticas sobre drogas no Brasil são sustentadas por um discursos que anunciam um
mundo “livre de drogas”. Influenciada por um modelo estadunidense e sustentada por
uma prática de repressão, a política de “guerra às drogas” não se apresentou eficiente na
redução do consumo de substâncias psicoativas, ao mesmo tempo que o seu
investimento por parte do Estado significa a negligência para questões econômicas
convergentes. O presente estudo tem como objetivo analisar as interfaces do
conservadorismo nas políticas sobre drogas no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Conservadorismo; Guerra às Drogas; População Negra.

RESUMO EXPANDIDO

A “Guerra às Drogas”, orientada pelo modelo estadunidense, que prega a ideia


de “um mundo livre de drogas”, por meio da repressão, tem como saldo a elevação de
prisões e da perseguição penal a usuários e traficantes de substâncias psicoativas no
Brasil. Múltiplas características da agudização das expressões da questão social e do
aumento da barbárie relacionam-se direta ou indiretamente ao estatuto do comércio de

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substâncias psicoativas ilícitas na sociedade contemporânea, como o aumento da
violência urbana, do número de encarcerados e da corrupção das forças militares
envolvidas com o narcotráfico.
Esse modelo se apresenta não só na legislação brasileira sobre psicoativos, mas
também no imaginário social. Assim, o discurso em nome da “segurança” com ações
contra cidadãos, diga-se de passagem, grande parte, negros (as), pobre e jovem, pelo
fato de comercializarem tais substâncias nos mercados ilícitos, criados pela proibição,
não reduziu o consumo, tampouco à oferta de drogas no Brasil, enquanto o Estado deixa
à mercê as questões econômicas e interesses políticos que estão por trás do
proibicionismo. Não obstante, de acordo com o Relatório da Comissão Parlamentar de
Inquérito, destinada a apurar as causas, razões, consequências, custos sociais e
econômicos da violência, morte e desaparecimento de jovens negros e pobres no Brasil,
morre um jovem negro a cada vinte e três minutos. Dentre as inúmeras causas de
mortes, às vítimas de violência relacionada ao narcotráfico.
Diante disso, este estudo objetiva analisar as interfaces do conservadorismo nas
políticas sobre drogas no Brasil, dando ênfase ao genocídio e aprisionamento massivo
da população pobre e negra nas periferias brasileiras. Tendo em vista que no atual
contexto de crise do sistema capitalista a lógica proibicionista e o conservadorismo se
retroalimentam e tem sido uma das estratégias ideológicas da classe dominante para
manutenção do status quo, o proibicionismo, enquanto uma das expressões do
conservadorismo, também se expressa na forma de controle sobre os hábitos e sobre o
corpo dos indivíduos. Do mesmo modo, o conservadorismo se apresenta como uma
ferramenta ideológica de manutenção dos padrões da sociabilidade burguesa.
Ademais, a massificação ideológica acerca do uso de substâncias psicoativas,
por meio da mídia, dissemina o estigma do uso e dá ênfase à disseminação de práticas
que agride a autonomia e a liberdade dos indivíduos usuários de psicoativos, como a
internação compulsória desenfreada. Portanto, esta análise se destina à problematização
da política estadunidense de “Guerra às Drogas” enquanto uma expressão do
conservadorismo e suas refrações no cenário brasileiro, sobretudo, nas políticas públicas
sobre “drogas”.
Ressalta-se que este ensaio é parte integrante da dissertação de mestrado
intitulada “A FUNÇÃ O SOCIAL DAS ‘DROGAS’ NO CAPITALISMO
CONTEMPORÂNEO: Uma análise do Serviço Social nos CAPS AD de Natal/RN”
vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade

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Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A metodologia utilizada para sistematização
desta abordagem foi a revisão bibliográfica, assim como análises documentais das
políticas públicas sobre drogas no Brasil, numa perspectiva de apreensão da totalidade
das relações sociais.

BIBLIOGRAFIA

BARROCO, M. L. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. 8.ed. São Paulo,


Cortez, 2010.

BOITEUX, L. “A reforma da Política Internacional de Drogas virá de baixo para cima”.


In: ARGUMENTUM, Vitória (ES), v. 7, n.1, p. 17-20, jan./jun. 2015.

BRITES, C. M. Ética e Drogas: uma contribuição da ontologia social para o campo da


saúde pública e da redução de danos. Tese Doutorado. (PUC –SP), 2006.

CARNEIRO, H. e VENÂNCIO, R. P. Álcool e Drogas na História do Brasil. São


Paulo: Alameda, 2005.

CFESS. Série o Assistente Social no Combate ao Preconceito: o estigma do uso de


drogas. Brasília, 2016.

CINCO, R. “O debate sobre a legalização das drogas: a falência da política


proibicionista”. In: Conselho Federal de Serviço Social. Rev. Inscrita. n. 14. Brasília,
2013.

MÉSZÁROS, I. Atualidade histórica da ofensiva socialista. São Paulo: Boitempo,


2010.

. Marxismo e Direitos Humanos. Dublin, Irish School of Ecumenics, 1980.

WACQUANT, L. As prisões da miséria. São Paulo: Coletivo Sabotagem, 2004.

MINI CURRÍCULO
Assistente Social do Centro-Dia de Referência para Pessoa com Deficiência, mestre em
Serviço Social pelo Programa de Pós-graduação em Serviço Social (PPGSS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e membro do Grupo de Estudos
e Pesquisa - Trabalho, Ética e Direitos (GEPTED/UFRN) vinculado ao PPGSS/UFRN.

97
Título do Trabalho: Experiências femininas (negras) em primeira e terceira pessoa:
conexões
Autores: Vilma Aparecida de Pinho – PPGEDUC/UFPA / Paulo Santos Dantas –
DCSP/FAFIC/UERN
Email:vilmaaparecidadepinho@gmail.com
Email: paulodantasbr@yahoo.com.br

RESUMO
O presente texto trata de memórias e narrativas acerca da identidade social
negra. Trata-se de um estudo que apresenta narrativas sobre a sua infância,
tanto da autora, quanto do coautor do texto. O trabalho analisa as memórias
sobre o universo feminino negro, começando pela autora, em primeira pessoa,
a partir de Rosário-Oeste - MT. Depois, em terceira pessoa, a partir do
coautor, que recupera e dá significados a sua memória sobre a infância e
adolescência nos anos de 1980, na cidade de Aracaju – SE.
PALAVRAS-CHAVE: narrativas; identidade negra; trajetórias; memórias.

RESUMO EXPANDIDO
Numa chave complementar, este artigo se ocupa de reflexão acerca de
experiências femininas, negras, nas cidades de Rosário Oeste, interior do Mato Grosso,
e em Aracaju, capital de Sergipe. De um lado, temos as narrativas, em primeira pessoa,
de Vilma Pinho, autora do texto, que descreve e analisa a sua infância do ponto de vista
de suas memórias nos dias atuais. De outro, temos as narrativas, em terceira pessoa, de
Paulo Dantas (coautor do trabalho) sobre a infância e adolescência de suas irmãs nos
anos 1980. Os contextos aqui narrados e analisados do ponto de vista e da posição
social (negra) e acadêmica dos dois autores se aproximam no momento que reconhecem
as experiências materialmente problemáticas, enquanto acionam uma identidade social
negra cuja maneira como a utilizam remete-se à noção de agência de Bourdieu (1994b),
isto é, de experiências individuais acumuladas no âmbito de suas trajetórias.
Como conceito, a categoria agência tem se mostrado produtiva para explicar os
fenômenos socioculturais no interior dos quais os comportamentos, bem como as
percepções dos agentes, são considerados para além daquilo proposto pela coletividade,
quer dizer, pela estrutura. Junto a esta perspectiva, os conhecimentos objetivista e o
fenomenológico se posicionaram um em oposição ao outro, sendo retomados por
Bourdieu, através de uma articulação dinâmica e dialética. (BOURDIEU, 2004).
Este texto trata da memória da autora e do seu coautor acerca das experiências e
expectativas no universo feminino negro. Antes de serem comparativas, suas memórias
são complementares. O artigo trata das vivências, em primeira pessoa, de sua autora no

98
universo da cidade de Rosário - Oeste, interior do Mato Grosso, enquanto o seu coautor,
em terceira pessoa, trata das vivências de suas irmãs na cidade de Aracaju. Os autores,
que são amigos e engajados na luta antirracista, dividem perspectivas muito próximas
acerca das desigualdades raciais. Essas proximidades representam o mote para sentirem-
se provocados e motivados a produzir este primeiro texto em coautoria, embora, dadas
as especificidades dos contextos, as suas análises se desenvolvam de forma autônoma.
O objetivo do trabalho é, então, realizar uma análise sobre as experiências
específicas na infância da autora do trabalho na cidade de Rosário – Oeste/Mato Grosso,
enquanto, do ponto de vista do coautor, essas experiências são pensadas a partir das
vivências na infância e adolescência de suas irmãs, na cidade de Aracaju – Sergipe.
Do ponto de vista metodológico os autores utilizaram, cada um a sua maneira, o
recurso histórico e cultural de suas memórias, enquanto reconhecem que tal recurso é
também recortado por suas experiências de vida e visões de mundo. As suas posições,
enquanto acadêmica negra e acadêmico negro (ela professora na Universidade Federal
do Pará, ele professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte) são também
levadas em conta. De maneira alguma, entretanto, o texto perde legitimidade. A
bibliografia utilizada responde ao diálogo que os seus autores produziram em relação às
suas memórias e narrativas. Ou seja, a apropriação da literatura utilizada também
corresponde a uma expectativa peculiar à forma como o universo da infância (e
adolescência) foi tratado no trabalho.
A autora do texto, que abre a discussão, produz o seu olhar sobre a sua própria
experiência e de sua família, especialmente sinalizando para a presença e a importância
de sua mãe no ambiente familiar. De outro lado, o coautor produz o seu olhar e
ressignifica a sua memória enquanto (irmão e) antropólogo interessado, cúmplice de
uma produção de conhecimento crítica do sistema político-social e racial, cuja base
reitera a posição cultural e simbólica da mulher negra na posição de subalternidade.
A posição e a análise do coautor é construída do ponto de vista de quem vê no
sistema racial brasileiro a dimensão perversa de um argumento socialmente produzido
em vista do qual a imagem da mulher negra deve ser reiterada sob o signo da
subalternidade e rejeição. Nesses termos, antes de serem tomadas como “vencidas”
pelas desigualdades raciais, o texto procura demonstrar como essas mulheres levam
adiante, do seu jeito e à sua maneira, as suas próprias vidas, apesar das práticas racistas
de que são vitimadas. Ou seja, para elas, amanhã, além de ser outro dia, estará colorido
com as suas cores e desejos.

99
Nossa compreensão de memória se fundamenta nos pressupostos de Halbwachs,
para quem a memória é coletiva “ainda que se trate de eventos em que somente nós
estivemos envolvidos e de objetos que somente nós vimos”. (Halbwachs, 2006: 52). É
importante destacar que o sentido de memória coletiva para o autor decorre das
relações, mas também da necessidade da reconstituição das lembranças com a
rememoração presencial do espaço, do objeto, das pessoas, dos sentimentos, os quais
são reconhecidas pelo indivíduo e pelo grupo.
A lembrança é, então, a transformação do ambiente em uma imagem rica de
consciência. Entretanto, a reorganização interna decorre do reencontro, ou seja, da
associação da matéria a lógicas de representações coletivas. Por isto, a lembrança é uma
unidade interna que se destaca de combinações de diversos ambientes e se transforma
em imagem. Mas isso só é possível devido às forças dos contatos que permanecem. Para
Halbwachs, “esse encontro é em si um fato objetivo, não apenas um jogo de imagens,
mas o encontro efetivo de representações e sentimentos (...)” (HALBWACHS, 2006, p.
59).
As nossas memórias são memórias subterrâneas, contadas a partir dos sujeitos,
[in]visibilizados na história oficial. O processo de lembrar implica numa releitura das
experiências que são evocadas por nós. Por isso, as memórias compreendem uma
dimensão política dos sujeitos, como força que aglutina e que os liga à história e à
sociedade. Dessa maneira, embora a memória seja uma reconstrução espontânea
(culturalmente organizada), é dirigida pelos significados que a compreensão coletiva
engendra em determinado tempo/espaço. Estamos tratando pois, do que chamamos
visão de mundo.
Para falar de visão de mundo, Bourdieu utiliza a metáfora da vida e experiência
de um velho marceneiro. Segundo ele, a ética escrupulosa e impecável de trabalho do
velho marceneiro descreve a maneira como aquele gere o seu orçamento, o seu tempo, o
seu corpo e a sua linguagem. Neste contexto, as suas escolhas estão, todas elas,
envolvidas e mesmo protegidas pela ética do trabalho (e dos cuidados) que, nos termos
daquele autor, faz o agente “medir a beleza de seus produtos pelo cuidado e paciência
que exigiram”. (BOURDIEU, 1976, p. 2-3). O cuidado que minha mãe tinha com a
casa, os filhos e o trabalho mantinha um zelo constante e apropriado para a visão de
mundo que ela construiu e nos influenciou, não exatamente a despeito das carências
materiais que tivemos, mas também por causa delas.

100
A discussão a seguir diz respeito a experiências femininas, negras, no universo
da cidade de Aracaju – Sergipe. Trata-se de um diálogo e uma conexão entre duas
realidades brasileiras.
A chamada Educação Primária dos anos 1980 na cidade de Aracaju era
basicamente reguladora, disciplinadora e pautada na autoridade. Na verdade, todo o
sistema educacional era regulado e objetivamente disciplinado, desde a formação em
fila indiana até as práticas alusivas à Bandeira e ao Hino Nacional. Tratava-se de uma
linguagem própria daquele momento histórico. A adequação ou não àquelas linguagens,
todas elas muito influenciadas pelos valores propostos e impostos pelo Regime Militar
(1964 - 1985), representava a primeira resposta em direção à possibilidade de ter e ver
na educação formal o recurso através do qual os segmentos populares, especialmente as
populações negras, podiam alterar seu destino em relação ao destino dos seus pais e
avós.
Na literatura sociológica que trata do Brasil Quinhentista é possível observar que
a noção de criança estava voltada para o trabalho, sendo que este contexto atingia de
maneira exclusiva as crianças escravizadas, migrantes e imigrantes. Esse adestramento
histórico funcionou como um instrumento por meio do qual aquelas crianças eram
iniciadas no trabalho, enquanto as crianças bem-nascidas, brancas, não o conheceriam.
(BERNARTT, 2009: 4230 - 33).
A construção de uma identidade social capaz de funcionar como uma agência para
os indivíduos, enquanto os situava dentro do grupo familiar, tinha como efeito uma
expectativa capaz de fazer acreditar que a superação das dificuldades materiais poderia
ser possível através da formação, embora, naqueles meios, a orientação e a ordem era
convencer crianças e adolescentes majoritariamente pretas e pardas de que os espaços
de trabalho, as ocupações e os cargos estavam, todos eles, marcados pelo destino e pelas
origens dos indivíduos. O destino, do ponto de vista do imaginário social, era
racialmente determinado. Nesse sentido, Stolcke (1991: 109) considera que onde quer
que a categoria raça funcione como recurso ou sirva como indicador de diferença e
desigualdades sociais, aí reside uma construção social e histórica. Ou seja, na medida
em que a raça é fruto de uma construção social, os dados e as análises diversas parecem
confirmar que incide tal categoria incide sobre os grupos, de um lado desprestigiando
alguns, de outro, naturalizando as desigualdades de outros.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNARTT, Roseane Mendes. “A infância a partir de um olhar sócio-histórico”. In: IX
Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. III Encontro Sul Brasileiro de
Psicopedagogia, 2009.

BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense.Tradução de Cássia R. da


Silveira. Revisão teórica de Paula Montero, 2004.

. GOSTOS DE CLASSE E ESTILOS DE VIDA. Reproduzido de BOURDIEU,


P. e SAINT-MARTIN, M. Goftts de classe et styles de vie. Traduzido por Paula
Montero. (Excerto do artigo "Anatomie du goftt".) Actes de Ia Recherche en Sciences
Sociales, n° 5 , out. p. 18-43, 1976.

HALBWACHS, M. Memória Coletiva. São Paulo: Centauro: 2006.

STOLCKE, Verena. “Sexo está para gênero assim como raça para etnicidade?”. In:
Estudos Afro-Asiáticos, nº 20, 1991.

MINI CURRÍCULO
Vilma Aparecida Pinho
Possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso
(1994), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (2004) e
doutorado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2010). Atualmente é
professora - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E CULTURA -
PPGEDUC UFPA CAMETÁ, e professora da Universidade Federal do Pará. Fez Pós-
Doutorado em Educação Física, no Programa de Pós-Graduação em Educação Física ?
PPG-EF/UFMT (2014/2015). É coordenadora do GEABI - Grupo de Estudos Afro-
brasileiros e Indígenas.

Paulo Santos Dantas


Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo pelo PPGAS/USP. É
Professor do Departamento de Ciências Sociais e Política da UERN – Campus Central
de Mossoró/RN. Atua na área de Antropologia Social, com ênfase em relações afetivas,
raciais e de poder. Atuamente desenvolve estuda processo de formação acadêmcia e
identidades sociais de estudantes de jornalismo na Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, a partir do Grupode Pesquisa Comunicação e Sociologia do
Jornalismo / Identidades, rotinas e produtos jornalísticos.

102
09.11.2017

Título do Trabalho: Ciganos Sedentários no Ceará e Imagens Estigmatizantes


Autor: Lailson Ferreira da Silva

RESUMO

Nesse trabalho, pretendo discutir como se constroem os discursos e imagens


estigmatizantes utilizadas para definir os ciganos que vivem em Limoeiro do Norte e
Sobral. Apesar de serem sedentários e compartilharem os modos de vida presentes entre
a população local, os ciganos continuam sendo definidos por meios de discursos que os
associam a imagens negativas, promovendo de forma sútil ou mais aberta a segregação
social, bem como interferindo no seu processo de reconhecimento em termos étnicos.

PALAVRAS-CHAVE: Ciganos, discursos, estigmas e etnicidade.

RESUMO EXPANDIDO

Os ciganos em Limoeiro do Norte e Sobral se identificam e são idenfiticados


pelos outros, não ciganos, como ciganos. Tal condição na perspectiva de Fredrik Barth
(1998) nos possibilita tratá-los como grupo étnico. Nessa perspectiva, não devemos
tomar a cultura como definidora da identidade, mas como os atores sociais escolhem
diante do contexto, interlocultores e necessidades os elementos que expressão
objetivamente sua identidade.
Por volta da década de 1980, os ciganos passaram a morar nas respectivas
cidades e aos poucos começaram a compartilhar modos de vida presentes entre a
população local, entre os quais podemos destacar: endereço fixo, uso de documentos
oficiais perante o Estado brasileiro, os homens têm empregos formais e/ou informais, as
mulheres cuidam das atividades domésticas, as crianças em idade escolar estão
matriculadas em escolas públicas entre outros. Além disso, foram deixando de lado
práticas tidas como compositores de uma ciganidade, principalmente o uso de uma
língua própria, pois essa não era bem vista aos olhos dos não ciganos.
Contudo, isso não foi suficiente para que deixassem de serem tratados de modo
diferenciado em decorrência de sua condição étnica, gerando assim, formas de
preconceitos expressas, na maioria das vezes, em situações de fala em que os moradores
expõem pontos de vista a respeito dos ciganos, bem como associados a determinadas
marcas sociais de cunho negativo que são utilizadas para defini-los nos dois contextos.
Dito de outra maneira, o preconceito que há em relação aos ciganos não se refere apenas

103
à presença de opiniões pré-concebidas, mas associado a estigmas. Segundo Goffman
(1963), isso acontece porque a sociedade estabelece os meios para classificar as pessoas
e os atributos tido como naturais, comuns, aceitáveis. E, toda vez que os indivíduos ou
grupos não se encaixam nessas categorias, são considerados indesejáveis e, por
conseguinte diz-se que possuem um estigma. O estigma é, portanto, um atributo
profundamente depreciativo, utilizado para identificar os indivíduos através de
estereótipos que correspondem às “desvantagens sociais”.
Os ciganos, nesse sentido, são considerados como indivíduos que apresentam
uma predisposição para prática de determinadas atitudes, tais como: roubar, matar,
enganar, promover conflitos entre outros; mesmo sendo essas ações passíveis de serem
realizadas por qualquer um não cigano (a). Logo, esse conjunto de imagens presente
entre a população local é utilizado para qualificá-los e defini-los. E, por conseguinte,
expressam uma sensação de insegurança de que, a qualquer momento, os ciganos
possam agir de maneira inesperada, principalmente em situações de conflito com não
ciganos ou se forem motivo de comentários depreciativos.
Essa associação dos ciganos a estigmas proporcionou uma série de
transformações socioculturais com o objetivo de corresponder a determinada imagem
esperada pela população local, principalmente entre os ciganos em Limoeiro do Norte.
Levando-os a construir uma forma de identificação para os outros a partir da
normalidade, mesmo mantendo internamente, o sentimento de serem ciganos.
Isso nos leva a perceber que a identidade enquanto um processo dinâmico é
utilizado pelos atores sociais para aquilo que lhes é importante. Em Limeiro do Norte ao
se apresentarem como normais ou iguais para os outros, os ciganos procuram minimizar
os efeitos das imagens negativas a que são associados. Enquanto isso, entre os ciganos
em Sobral isso se dá com menos intensidade, tendo em vista o fato de viverem em uma
região do município mais afastada da parte urbana.
Sendo assim, essas imagens são construídas e transmitidas a partir de um
conjunto de valores e condutas fornecidos pelo meio sociocultural que os ciganos
compartilham com a população local. Ao fazer isso, a população não-cigana reafirma
constantemente, para si e para os outros, uma determinada imagem do que é ser
indivíduo em sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

104
BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philipe;
STREIFF-FENART, Jocely. Teorias de etnicidade. Seguido de Grupos étnicos e suas
fronteiras de Frederik Barth. São Paulo: Fundação Editora UNESP, 1998.

GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4.


ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1963.

SILVA, Lailson F. da. “Aqui todo mundo é da mesma família”: parentesco e relações
étnicas entre os ciganos na Cidade Alta, Limoeiro do Norte – Ce. Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, 2010.

SILVA, Lailson F. da. A vida em família: parentesco, relações sócias e estilo de vida
entre os calons em Sobral - Ce. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015.

SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferenças: a perspectiva dos estudos


culturais. Petrópolis; RJ: Vozes, 2000.

MINI CURRÍCULO

Doutor (2015) e Mestre (2010) em Ciências Sociais pela UFRN. Graduado em História
UECE (2007). Atualmente é professor Adjunto A da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Curso de Antropologia e Bacharelado em
Humanidades). Tem experiência na área de Antropologia e História, estudando famílias
ciganas no estado do Ceará, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos
ciganos, história, memória, identidade, oralidade, família, relações étnicas.

Título do Trabalho: Educação em direitos humanos e o ensino de história antirracista


no Brasil
Autor: Jefferson Pereira da Silva

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar como o ensino de história dialoga com os
princípios norteadores dos documentos que direcionam as políticas públicas voltadas
para a Educação em Direitos Humanos e a Educação das Relações Étnico-Raciais, bem
como o ensino de história e cultura da África e dos afro-brasileiros, na busca pela
efetivação de uma educação antirracista no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino; políticas públicas; educação antirracista.

RESUMO EXPANDIDO

105
Um dos princípios norteadores da educação em direitos humanos (EDH) na
Educação Básica é que a EDH deve estruturar-se na diversidade cultural e ambiental,
garantindo a cidadania, o acesso ao ensino, permanência e conclusão, a qualidade da
educação e, dentre outras coisas, a equidade, seja ela étnico-racial, religiosa, cultural,
territorial, físico-individual, de gênero, de orientação sexual, etc. (BRASIL, 2007). O
ensino de História na Educação Básica dialoga diretamente com este princípio,
principalmente, no que diz respeito à relação que se deve fazer presente entre a
sociedade e a instituição escolar.
Em sua tese de doutorado, Margarida Dias de Oliveira – utilizando como
referência Emília Viotti da Costa ao tratar sobre a relação sociedade/escola –, dá ênfase
ao “caráter intrinsecamente educativo da História”. Segundo a autora, é esse caráter que
dirige o trabalho do professor de História, uma vez que, essa discussão é definidora, a
partir da relação entre a sociedade e a escola, “[...] do que todo cidadão tem o direito e o
dever de saber sobre História para entender seu mundo, ler sua realidade e nela atuar”
(OLIVEIRA, 2003:188). Além disso, os valores também fazem parte da aprendizagem
histórica, uma vez que eles constituem parte de nosso cotidiano, estão postos. Nas
palavras de Itamar Freitas, “esse valor é também conteúdo histórico” (FREITAS,
2016:109). Assim, cabe a disciplina de História um importante papel, o de contribuir de
forma direta com a formação cidadã, finalidade maior da educação brasileira e que
também se encontra presente na EDH.
No caso brasileiro, a formação cidadã e a EDH dialoga diretamente com a luta e
o combate ao racismo ainda presente em nosso meio. Embora desde 2003, por
intermédio da Lei de nº 10.639 (que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB), seja obrigatório em todas as instituições de ensino da rede básica,
sejam elas privadas ou públicas, o estudo da história e cultura da África e dos afro-
brasileiros (BRASIL, 2003), ainda encontramos uma série de questões que dificultam a
efetivação da referida lei, tais como a formação de professores, a recusa de muitos
docentes em trabalhar com temas que girem em torno das religiões de matrizes
africanas, além da própria visão e atuação de muitos gestores envolvidos com a própria
efetivação da lei, entre outras.
Realizada essa contextualização, apontamos que este trabalho tem por objetivo
fazer uma análise dos documentos norteadores que direcionam as políticas públicas que
dizem respeito tanto à Educação em Direitos Humanos (em especial ao Plano Nacional
de Educação em Direitos Humanos, publicado em 2007, e ao Caderno de Educação em

106
Direitos Humanos – Diretrizes Nacionais, publicado em 2013); quanto à Educação das
Relações Étnico-raciais e o ensino de história e cultura da África e afro-brasileira (em
espacial às Diretrizes Curriculares Nacionais, publicadas em 2004, e ao Plano Nacional
de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana,
publicado em 2013). Com isso, pretendemos problematizar como o ensino da disciplina
de História dialoga com os princípios que compõem os documentos mencionados e qual
sua contribuição para com uma educação em direitos humanos e, em especial,
antirracista.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de


Educação em Direitos Humanos. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.
Brasília: SEDH, MEC, Ministério da Justiça, UNESCO, 2007.

BRASIL. Lei n. º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9394/96, de 20 de


novembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e inclui
no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira” e dá outras providências.

FREITAS, Itamar. Valores como objeto da aprendizagem histórica. In: BUENO, A.;
ESTACHESKI, D.; CREMA, E. [orgs.]. Para um novo amanhã: visões sobre
aprendizagem histórica. Rio de Janeiro/União da Vitória: Edição LAPHIS/Sobre
Ontens, 2016. p. 107 – 116.

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. O direito ao passado: Uma discussão necessária
à formação do profissional de História. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação
em História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003.
Referência bibliográficaBRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Comitê Nacional de Educação em
Direitos Humanos. Brasília: SEDH, MEC, Ministério da Justiça, UNESCO, 2007.
BRASIL. Lei n. º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9394/96, de 20 de
novembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e inclui
no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira” e dá outras providências.

FREITAS, Itamar. Valores como objeto da aprendizagem histórica. In: BUENO, A.;
ESTACHESKI, D.; CREMA, E. [orgs.]. Para um novo amanhã: visões sobre
aprendizagem histórica. Rio de Janeiro/União da Vitória: Edição LAPHIS/Sobre
Ontens, 2016. p. 107 – 116.

107
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. O direito ao passado: Uma discussão
necessária à formação do profissional de História. Tese (Doutorado). Programa de Pós-
Graduação em História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003.

MINI CURRÍCULO

Licenciatura em História pela UFRN (2015), bacharel pela mesma instituição (2017)
com a defesa do trabalho intitulado O valor da capoeira na educação: uma análise da
produção acadêmica brasileira (2002 - 2014), e atualmente é mestrando do Programa
de Pós-Graduação em História da UFRN. Foi bolsista do PIBID e PIBIC, o que o
ajudou no desenvolvimento, apresentação e publicação de trabalhos na área do Ensino
de História, com foco nas relações étnico-raciais, currículo e livro didático de História.

Título do Trabalho: A importância de discutir as relações étnico-raciais na educação


infantil
Autor: Maria Auxiliadora Oliveira da Silva
Email: auxiol@yahoo.com.br

RESUMO

O presente trabalho trata de um relato de experiência desenvolvido a partir do Estágio


Supervisionado II na Educação Infantil, apresentado ao curso de Pedagogia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O Estágio foi realizado na Escola
Municipal Professor José Gurgel de Araújo, na turma do IV ano, com crianças de 4 a 5
anos do Ensino Infantil, tendo como objetivo discutir as relações étnico-raciais no
ambiente escolar através de contação de história com obras da literatura infantil,
brincadeiras, músicas, vídeos, confecção de brinquedos, pinturas e desenhos.

PALAVRAS-CHAVE: Relações raciais; educação infantil; contos.

RESUMO EXPANDIDO
Mesmo sendo criada a Lei 10.639/03, muitas instituições escolares ainda não
têm conseguido atingir as prerrogativas da mesma. Sendo assim, torna-se indispensável
que as instituições de ensino estabeleçam em seus currículos de forma transversal a
discussão sobre a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana. Sabemos que muitos professores, por não terem sido
preparados para trabalhar tais temáticas, têm ignorado a discussão. Assim, diante de tal

108
realidade, este artigo traz um relato de experiência desenvolvido no Estágio
Supervisionado II na Educação Infantil, tendo como objetivo discutir as relações étnico-
raciais no ambiente escolar através de contação de história com obras da literatura
infantil, brincadeiras, músicas, desenho e pinturas, a partir da história e da cultura da
África e afro-brasileira, enfatizando o respeito à diversidade e no combate ao
preconceito e discriminação racial, mostrando a importância de respeitar as diferenças
étnico-culturais desde os primeiros anos de escolaridade.
Não obstante, torna-se primordial o trabalho do professor em sala de aula com os
alunos, através de atividades que promovam a inclusão social das crianças
afrodescendentes, já que a evasão em sala de aula tem se dado principalmente por
crianças negras. Há situações em que alunos negros se sentem constrangidos por serem
minorias em sala. Assim, em um espaço majoritário de alunos brancos, em muitos
casos, o aluno negro enfrenta dificuldades de relacionamento com seus colegas.
Portanto, diante das mais diversas situações que possam vir a surgir em sala de aula, o
professor deve estar preparado para lidar. Ignorar, fazer de conta que não viu ou ouviu,
já não é mais solução, os professores precisam promover práticas pedagógicas
promotoras de inclusão e igualdade racial no ambiente escolar.
O ambiente escolar é um espaço responsável em desenvolver ações que
contribuam na eliminação de qualquer forma de preconceito, racismo ou discriminação
racial. Para isso, é preciso que, desde cedo, as crianças compreendam e valorizem a
importância dos diferentes grupos étnico-raciais e compreendam o porquê de termos no
país pessoas com tons de pele diferentes e que o fato de sermos “diferentes”, branco,
preto, negro ou mulato, amarelo, indígena ou termos cabelos lisos, encaracolados ou
crespos não nos fazem menos importantes e que devemos respeitar as pessoas
independente de sua cor, classe social ou crença religiosa, e que, mesmo na diversidade,
somos todos iguais e portadores de direitos, contribuindo, assim, na promoção dos
princípios de igualdade racial. Assim, é primordial o trabalho do professor em sala de
aula com os alunos, através de atividades que promovam a inclusão social das crianças
afrodescendentes, já que a evasão em sala de aula tem se dado principalmente por
crianças negras.
Sendo assim, pretendemos mostrar, a partir do tema escolhido para o estágio, que
o fato de sermos “diferentes”, branco, preto, negro ou mulato, amarelo, indígena ou
termos cabelos lisos, encaracolados ou crespos não nos faz menos importantes e que
devemos respeitar as pessoas e que, mesmo na diversidade, somos todos iguais e

109
portadores de direitos. A questão étnico-racial, infelizmente, ainda é algo que pouco
vem sendo trabalhado em sala.
O papel da escola é fundamental para a construção de uma sociedade mais
democrática, sendo a educação um instrumento importante de mudança de mentalidade.
O projeto de ensino teve como propósito discutir as relações étnico-raciais na Educação
Infantil, enfatizando o respeito à diversidade e o combate ao preconceito e
discriminação racial no ambiente escolar. Muitas escolas e professores ainda têm
resistido a trabalhar conteúdos ligados à temática, pois muitos não tiveram em suas
licenciaturas formação para trabalhar tal discussão, o que tem contribuído para que as
crianças negras sejam vítimas de insultos, piadas ou “brincadeiras” racistas e
preconceituosas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para


o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: DF, Outubro, 2004.

BATISTÃ O, Marci. “Estágio Supervisionado em Gestão da Educação Escolar”. In:


Pro-docência: Revista Eletrônica das Licenciaturas/UEL, 4 ed., vol. 1, jul-dez, 2013.

CRIANÇAS, Universidade das. “Por que cada pessoa tem um tom de pele?” Disponível
em: http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2015/09/por-que-cada-pessoa-tem-um-
tom-de-pele. Acessado em 20 de novembro de 2016.

GIL, Carmem. Por que somos de cores diferentes? São Paulo: grafinha, 2006.

MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. 7 ed. São Paulo: Ática,
2000.(Coleção Barquinho de Papel)Ana Maria. Menina bonita do laço de fita.

UNIVERSIDADE DAS CRIANÇAS. “Por que eu nasci dessa cor?”


http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2015/09/por-que-cada-pessoa-tem-um-tom-
de-pele. Texto e vídeo. Acessado em 24 de novembro 2016.

MINI CURRÍCULO
Graduação em História e especialização em História e Cultura da África e afro-
brasileira. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Professora da Faculdade Católica Santa Teresinha no curso de Serviço Social na
cidade de Caicó/RN. Aluna concluinte do curso de pedagogia da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte.

110
111
10.11.2017

Título do Trabalho: RACISMO E MÍDIA: O MARKETING DAS LOJAS


RIACHUELO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Autor: Fernanda Monteiro Cavalcanti

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo levar à reflexão sobre a necessidade de combate ao
racismo, e de como o mesmo se encontra no cotidiano pós-moderno. Para tanto, se
utilizará como estudo de caso a propaganda de Dia das Mulheres do ano de 2013 das
lojas Riachuelo, de conteúdo claramente racista. Será demonstrado como a propaganda
apresenta material discriminatório, ferindo diretamente os Direitos Humanos.

PALAVRAS-CHAVE: Racismo; mídia; cotidianos; Direitos Humanos.

RESUMO EXPANDIDO

É de conhecimento geral de que o racismo trata da discriminação social baseada


no conceito de que, dentre as raças humanas existentes, algumas são superiores às
demais. Desta feita, há concordância pela área acadêmica do absurdo desta
discriminação, tendo em vista a cristalina violação aos direitos humanos e o direito à
igualdade.
Assim, tendo em vista a existência da referida violação e a necessidade de
combate ao racismo, foi redigida, no território brasileiro, a Lei n. 7.716, de 5 de janeiro
de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Como diz
seu artigo 20, é crime previsto por lei “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” de uma pessoa. A
criação da referida lei realmente apresenta certo auxílio no combate ao racismo no
Brasil, mas ainda há muito o que fazer para eliminar esta discriminação no país.
Desta forma, apesar de já haver até legislação a respeito do assunto, existem
pessoas que afirmam não haver mais racismo na sociedade. No entanto, este tipo de
discriminação está impregnado na sociedade, e, apesar de já haver combate ao racismo
no cenário brasileiro, ainda há muito a ser feito. Exemplo disso é o caso da propaganda

112
da loja Riachuelo em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, que foi ao ar em
março de 2014 e causou grande repercussão.
Em resumo, a propaganda, que se dizia democrática, mostrava imagens de uma
mulher branca usando roupas e acessórios da loja, contracenando com braços e mãos de
uma mulher negra que tocavam sua pele. Logo, houve grande polêmica nas redes
sociais acusando a loja de reproduzir material racista, tendo em vista a exibição de um
conteúdo que demonstrava as mãos das negras apenas para servir a mulher branca.
Sendo assim, o vídeo foi excluído do canal oficial do YouTube, tendo em vista a
verdadeira falta de noção da empresa em não se preocupar com a ofensa às mulheres
negras.
Desta forma, reforça-se aqui a tese de que o racismo ainda está presente na vida
cotidiana, mesmo em pleno século XXI, numa sociedade pós-moderna. Para reafirmar a
violação aos direitos humanos, cita-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
em seu artigo 2º: “Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades
proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de
cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou
social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. (…)”
Por fim, observa-se como a discriminação é palpável, e que deve ser combatida.
Não é justo nem humano privar determinados seres humanos de seus direitos pela
simples cor de sua pele. Não faz o menor sentido.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das


Nações Unidas em Paris. 10 dez. 1948. Disponível em: http://www.dudh.org.br/wp-
content/uploads/2014/12/dudh.pdf

O GLOBO. Campanha da Riachuelo para o Dia da Mulher é acusada de racismo.


Disponível em:
http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Dilemas/noticia/2014/03/campanha-
da-riachuelo-para-o-dia-da-mulher-e-acusada-de-racismo.html

MINI CURRÍCULO

Fernanda Monteiro Cavalcanti


Advogada
Especialista em Direito Internacional (UFRN)
Pós-graduanda em Direito Civil (PUC-Minas)

113
Título do trabalho: EMPODERAMENTO CRESPO E DIREITOS HUMANOS DAS
NEGRAS: ANÁLISE DA LINHA TÔ DE CACHO
Autoras: Raimunda Aline Lucena Gomes / Lígia Ferreira Carvalho

RESUMO

Esse trabalho apresenta um grupo social que tem forte histórico de opressão e de luta: as
mulheres negras, com interesse na mobilização do Empoderamento Crespo. Entendendo
esse histórico e suas representações, o trabalho busca desvelar o discurso desenvolvido
pela marca Salon Line na linha Tô de Cacho, em suas redes sociais digitais.
Analisaremos se a narrativa é empoderadora e representa as mulheres negras. A
presente pesquisa analisa igualmente a importância da publicidade na difusão de
conteúdos que respeitem, principalmente, os Direitos Humanos das mulheres negras.

PALAVRAS-CHAVE: Mulheres negras; empoderamento; representações; narrativa.

RESUMO EXPANDIDO

No mundo, os movimentos feministas cresceram e ganharam espaço e voz na sociedade.


O feminismo é um movimento político que busca equidade entre os gêneros e as suas
primeiras manifestações desafiaram uma sociedade conservadora. No Brasil, o
movimento feminista foi ganhando espaço em meio à ditadura militar com todas as
repressões e censuras vividas no período. Em 1932, durante o governo Getúlio Vargas,
as mulheres conquistaram o direito do voto, de trabalhar, fazendo com que o feminismo
se tornasse um dos movimentos de maior força em nossa sociedade, com as mulheres
organizadas e questionando seu papel. Ademais, em 1988 as mulheres conquistaram por
meio da Constituição, os Direitos Humanos das Mulheres (ALVES apud MOURA,
2013, p. 15).
Como uma vertente do movimento feminista, o Feminismo Negro surge, no
país, pautando temáticas silenciadas até então por um feminismo hegemonicamente
branco, não livre do racismo enraizado na sociedade brasileira. A escravidão ainda
refletida nas desigualdades sociais; a ausência das mulheres negras no mercado de
trabalho; a invisibilidade dos direitos reprodutivos; a carga de violência sexual, o
paradigma de beleza baseado no padrão branco abordado pela mídia, são algumas
questões trazidas ao debate público (ARRAES, 2017). É no bojo dessa herança
histórico/cultural de lutas que emerge, na contemporaneidade, o discurso do
“empoderamento crespo”, um conjunto de demandas do movimento negro ligadas às
questões de identidade, representatividade e alteridade, enquanto sujeitos de raízes
crespas e cacheadas.(MATTOS, 2015, p. 49).

114
Com a crescente divulgação desse movimento, marcas de produtos de beleza
mobilizaram-se para atender às necessidades de consumidores e consumidoras que, até
então, pareciam não existir. A americana Deva Curl1 e as nacionais Lola Cosmetics2 e
Bio Extratus3, por exemplo, investiram em desenvolver produtos voltados para cabelos
cacheados. A marca Salon Line, totalmente nacional e há mais de 20 anos no mercado,
não ficou atrás e lançou sua linha denominada Tô de Cacho!.
Analisaremos o discurso da linha de produtos da marca brasileira Salon Line em
suas redes sociais digitais, especificamente no Facebook, com foco nos direitos
humanos das mulheres negras. Centraremos na pesquisa a linha Tô de Cacho, partindo
da hipótese de que a referida marca utiliza o discurso da diversidade capilar, sem voltar
o foco para o empoderamento crespo e feminino, trazendo uma pluralidade superficial,
apenas como estratégia mercadológica e não como política de promoção e proteção dos
direitos das mulheres negras.
Ou seja, as mulheres negras não fazem parte dessa estratégia de mercado e a
marca não apoia efetivamente projetos ligados ao movimento negro ou ao feminismo
negro no Brasil, política defendida pelo Estatuto da Igualdade Racial, que busca garantir
à população negra a efetiva igualdade de oportunidades. Para isso, iremos ter como
corpus de pesquisa 5 postagens da linha Tô de Cacho, realizadas durante o período de 1º
a 15 de abril de 2017, no Facebook. Também é apresentada uma pesquisa realizada, na
plataforma online Google Forms entre 15 de 30 de abril de 2017, com consumidores da
marca, sobre a importância da marca desenvolver ou apoiar políticas de incentivo ou
projetos sociais voltados ao movimento negro no Brasil.
O trabalho pretende, portanto, contribuir com a produção de conhecimento
científico sobre a construção e desconstrução da imagem da mulher negra pela mídia
brasileira, sobretudo através da publicidade; com a luta pelo empoderamento crespo,
com o aprofundamento das discussões sobre publicidade e cidadania para além dos
interesses de mercado, mas à luz do respeito e efetivação dos Direitos Humanos das
mulheres negras.

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Branca M.; PITANGUY, Jaqueline. O que é feminismo. 4. ed. Abril Cultural,
1985.

115
ARRAES, Jarid. Feminismo negro: sobre minorias dentro da minoria. Revista Fórum.
Disponível em: < http://www.revistaforum.com.br/digital/135/feminismo-negro-
sobreminorias-dentro-da-minoria/>. Acesso em: 26 mai. 2017.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo: Loyola, 1996.

. Estratégia, Poder-Saber. 2 ed. Tradução: Vera Lúcia Avellar Ribeiro. Rio


de Janeiro: Forense Universitária, 2010 (Ditos e Escritos; IV).

. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. 8 ed. Rio de


Janeiro: Graal, 1989.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MATTOS, Ivanilde G. de. Estética Afro-Diaspórica e o Empoderamento Crespo.


Revista da uneb, v. 5, n. 2, 2015.

MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: Investigação em psicologia social. 10.


ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.

RIBEIRO, Matilde. As políticas de igualdade racial no brasil: análises e propostas. São


Paulo, 2009.

WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos da mulher. Tradução Ivania


Pocinho Motta. – 1. ed. – São Paulo: Boitempo, 2016.

MINI CURRÍCULO
Raimunda Aline Lucena Gomes

É professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio


Grande do Norte (UFRN), com doutorado e mestrado em Comunicação pelo Programa
de Pós Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de
Pernambuco/UFPE (2015 / 2007); especialização em História e Estética da
Cinematografia pela Cátedra de História y Estética de la Cinematofrafia de la
Universidad de Valladolid, Espanha (1999); e Graduação em Comunicação Social -
Hab. em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco (1993). Tem como
principais áreas de interesse os estudos sobre políticas e sistemas de comunicação, ética
e legislação da comunicação, com foco no direito humano à comunicação, na
democratização das mídias tradicionais e das novas tecnologias, e nos conteúdos
midiáticos como espaços de promoção e violação dos direitos humanos.

Lígia Ferreira Carvalho

116
Possui graduação em Comunicação Social - Radialismo pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (2017). Tem experiência na área de Mídia Digital e Jornalismo
Esportivo, com ênfase em Comunicação.

Título do Trabalho: O mercado afetivo de um marombeiro pardo na cidade de


Mossoró – RN
Autor: Paulo Santos Dantas – DCSP/FAFIC/UERN
Email: paulodantasbr@yahoo.com.br

RESUMO

Utilizando-se de etnografia realizada numa academia de musculação da cidade de


Mossoró-RN, analisa-se as posições pessoais e os discursos de um praticante de
musculação, no âmbito de sua separação conjugal. O artigo busca demonstrar como o
agente se apresenta no mercado afetivo e, aí inserido, percebe-se cortejado. O objetivo
do trabalho será analisar como, a partir de uma academia de musculação, o referido
agente circula no mercado dos afetos, à medida que se resigna no cuidado e na educação
do seu filho menor.

PALAVRAS-CHAVE: Masculinidade, mercado afetivo, sistema racial.

RESUMO EXPANDIDO

No Brasil, as atividades de ginástica e musculação não descrevem uma trajetória


linear. A maior parte dos textos atesta que o final da década de 1970 e início 1980
descrevem o surgimento das academias de musculação tal como a conhecemos
atualmente, embora haja muitas controvérsias. Um número menor de autores sinaliza
para a presença de atividades físicas em ambientes fechados na década de 1940, embora
seja possível reconhecer atividades semelhantes no final do século XIX. A
regulamentação da atividade da musculação só aconteceria, entretanto, na década de
1980 (OLIVEIRA, 2012: 5; CAPINUSSÚ, 2006).
O presente texto tem o objetivo de analisar o mercado afetivo na cidade de
Mossoró – RN, do ponto de vista das experiências de um praticante de musculação. Tal
praticante, aqui também descrito a partir da categoria nativa marombeiro, apresentou-se
naquele contexto e para o presente autor como alguém com a vida profissional bem-
sucedida e consolidada, como também inserido em redes sociais (VERMELHO, 2015)
privilegiadas de amizades e namoros. Neste último aspecto, o referido agente participa
de um mercado afetivo dinâmico, na medida em que se estende por redes sociais que

117
funcionam como recursos eficientes para mantê-lo conectado às novidades do dia a dia
e a propostas afetivas, enquanto utiliza a atividade física para quebrar a sua rotina.

O referido espaço de atividades físicas está situado onde são reconhecidas as


fronteiras com os bairros Doze Anos, Boa Vista e Paredões - região central da cidade.
O interesse pela produção deste trabalho apareceu no momento em que o presente autor,
que também pratica amadoramente e despretensiosamente a musculação, foi abordado
de forma inesperada por outro praticante que, segundo ele próprio, viu em mim aquilo
que chamou de perfil parecido com o dele. A questão que me arrebatou dizia respeito às
respostas que eu teria produzido, já que nunca tínhamos trocado mais que duas
palavras, como uma boa noite para lá e uma boa para cá. Recordo que eu estava no
aparelho de treinamento de coxas (o leg press), enquanto o colega amistoso, a quem
chamarei de Silas (nome fictício), treinava no voador – um dos aparelhos de peitoral
como chamamos no meio.
Como de costume, após higienizar com uma toalha embebecida em álcool cada
aparelho que vai utilizar, Silas se apresenta para as suas redes sociais (virtuais) e,
obviamente, para as pessoas que o tem como colega, amigo, confidente e também
amante. Enquanto a maior parte dos praticantes da academia chega ávida para treinar os
grupos musculares daquele dia, e permanece focada nas atividades até a sua finalização,
Silas pode ocupar um aparelho por cinco, oito ou dez minutos sem utilizá-lo, senão
como assento. Na posição de um homem de meia idade, cujo corpo dá sinais de uma
vivência desprovida de experiências anteriores no universo da musculação, o agente
quase nunca é questionado sobre a falta de dinâmica e subutilização do aparelho.
É nesse contexto de uma prática pouco ortodoxa de musculação que Silas (nome
fictício) deixa o banco do aparelho em que estava e se dirige a mim, com o celular à
mão, depois que concluía uma das séries e me recuperava da exaustão. As suas
primeiras palavras foras as seguintes: Você não quer conhecer essa menina aqui, não?.
Antes de responder, ainda que o tivesse acolhido amistosamente, eu me perguntava
como Silas (um homem cuja idade gira em torno dos 55 anos) teria me caçado e me
encontrado no meio tantos marombeiros.

O agente integra redes de amizades que se desenvolve inclusive a partir das


redes sociais virtuais. Nesse contexto o agente reuniria um determinado número de
amizades com mulheres, entre as quais criou um padrão de preferências. Conforme me
informaria, as suas amigas estavam (todas elas) interessadas em passear e ir à praia. O

118
marombeiro amistoso se apresentava, portanto, como um coroa sedutor, capaz de
mobilizar o interesse afetivo de mulheres muito jovens e cheias de vida. Todas as
mulheres apresentadas por Silas, através de fotos, eram saradas, sedutoras, na medida
em que tal atributo remetia a um perfil inquestionável de jovialidade e de formas físicas
entre as quais não caberiam mulheres acima do peso ou muito abaixo. Tratava-se de
corpos delineados, por vezes trabalhados em academia de musculação, como a que nos
encontramos quase que diariamente.

Todas elas, porém, dentro do perfil esperado e desejado por Silas, o qual não
parecia abrir mão de padrões femininos socialmente esperados. Isto é, do ponto de vista
estético, as mulheres no rol de suas amizades e paqueras eram brancas, loiras e por
vezes morenas – embora a morena é um tipo incapaz de se enquadrar como um padrão
aceito para todo e qualquer contexto na sociedade brasileira (cf. MOUTINHO, 2004b).
Ou seja, a morena remete-se a um modelo que se modifica e se refaz na cultura
brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPINUSSÚ, José Maurício. “Academias de ginástica e condicionamento físico –


origens’. In: ATLAS D O ESPORTE N O BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006.

MOUTINHO, L. “Discursos normativos e desejos eróticos: A arena das paixões e dos


conflitos entre ‘Negros’ e “Brancos’”. Sexualidade. Gênero e Sociedade. Ano XI, n. 20,
maio de 2004 b.

OLIVEIRA, Naldo Batista de. “ASPECTOS HISTÓRICOS DA GINÁSTICA DE


ACADEMIA EM PORTO VELHO”. Trabalho de Monografia apresentado ao Curso de
Educação Física da Universidade Federal de Rondônia, como requisito parcial para
colação de grau em Licenciatura Plena em Educação Física, 2012.

VERMELHO, SÔNIA et al. “Sobre o conceito de redes sociais e seus pesquisadores”.


Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 4, p. 863-881, out./dez. 2015.

MINI CURRÍCULO:

Paulo Santos Dantas


Doutor em Antropologia Social pelo PPGAS/USP
Professor do Departamento de Ciências Sociais e Política da UERN – Campus Central
de Mossoró/RN. Pesquisa relações afetivas e identidade racial. Atualmente desenvolve

119
estuda processo de formação acadêmica e identidades sociais de estudantes de
jornalismo na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, a partir do Grupo de
Pesquisa Comunicação e Sociologia do Jornalismo/Identidades, rotinas e produtos
jornalísticos.

120
TRABALHOS APRESENTADOS NO GRUPO DE TRABALHO 04
Lutas LGBTI e Direitos Humanos
Coordenadores(as): Profa. Dra. Miriam Inácio (UFRN), Erika Oliveira Maia Batalha
(Mestra em Ciências Sociais - UFRN), Marlla Suéllen de Melo Dantas (Mestra em
Ciências Sociais - UFRN) e Rayane Dayse da Silva Oliveira (Mestra em Ciências
Sociais - UFRN).

08.11.2017
Título do Trabalho: Preconceito contra homossexuais no mercado de trabalho /
Autoras: Jailza Teixeira da Silva / Antoinette de Brito Madureira

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo refletir em torno da relação entre a orientação sexual
dos homossexuais e o seu acesso ao mercado de trabalho. Tendo como lócus da
pesquisa a cidade de Ceará-Mirim/RN. A metodologia utilizada teve abordagem
qualitativa, fundamentando-se em pesquisas bibliográficas e aplicação de um roteiro de
perguntas aos entrevistados. Os resultados mostraram que todos os entrevistados já
sofreram algum tipo de discriminação e preconceito, inclusive no mercado de trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Homossexual. Preconceito. Mercado de trabalho. Serviço
Social.

RESUMO EXPANDIDO
O presente trabalho trata da discriminação e preconceito enfrentados pelos
homossexuais no que se refere à sua inserção no mercado de trabalho, com enfoque na
cidade de Ceará-Mirim, bem como ao modo como são vistos na sociedade, a partir da
sua orientação sexual. Analisando o histórico, em comparativo com a atualidade,
percebemos poucos avanços, entretanto, o que se observa nitidamente é a precarização
trabalhista deste ser social, quando este consegue ser inserido, o que dificilmente ocorre
até mesmo pelo fato dele está inserido em uma sociedade capitalista excludente. Mas,
de modo geral, podemos perceber que as situações discriminatórias e preconceituosas,
não ocorrem apenas no campo trabalhista mas, em todo meio social em si e até mesmo,
nos próprios segmentos de Lésbica, Gay, Homossexuais e Travestis (LGBT), sendo isso

121
reflexo escancarado da perpetuação e acentuação do preconceito. Historicamente, os
homossexuais foram levados a viver à margem da sociedade, considerados criminosos
por demonstrarem uma orientação sexual oposta à disseminada pela Igreja Católica e
pelo meio social. Aos poucos surgem movimentos que se engajam na luta por igualdade
de direitos, liberdade e respeito à diversidade. Um outro avanço marcante foi a retirada
da homossexualidade da lista de doenças e ainda, a criação do termo homofobia, para
tornar nítido o preconceito enfrentado pelos homossexuais, atribuindo ao termo um
sentido de criminalidade. No campo trabalhista, nos últimos anos, com a diminuição nos
postos de trabalho, torna-se cada vez mais visível, a maneira desigual como são tratados
os homossexuais em relação aos demais funcionários, considerados heterossexuais. E
isso é característica marcante de uma sociedade que enfatiza os padrões
heteronormativos ou heterosexistas amplamente disseminados. É neste cenário que o
assistente social irá atuar, desempenhando papel fundamental na luta pelos direitos dos
homossexuais, não somente no mercado de trabalho mas, em meio à sociedade, pois o
que faz de uma pessoa ser um bom profissional e cidadão, não depende da orientação
sexual que ele assume mas sim, das suas capacidades e potencialidades como
trabalhador e ser humano. Enfim, podemos perceber que ao longo do tempo, tivemos
grandes avanços mas, também muitos retrocessos, em relação as condições de trabalho e
vida na sociedade por parte dos homossexuais, contudo, devemos sempre compreender
que vivemos em um mundo repleto de diversidade, em que deve prevalecer o respeito à
vida e ao ser humano.

BIBLIOGRAFIA

CARRIERI, Alexandre de Pádua; CAMILLO AGUIAR, Ana Rosa; DINIZ, Ana Paula
Rodrigues. Reflexões Sobre o indivíduo Desejante e o Sofrimento no Trabalho: o
assédio moral, a violência simbólica e o movimento homossexual. Cad. EBAPE. BR, v.
11, no 1, artigo 10, Rio de Janeiro, Mar. 2013.
CFESS/ Conselho Federal de Serviço Social, CRESS/ Conselho Regional
de Serviço Social. Assistente Social na luta contra o preconceito: campanha pela livre
orientação e expressão sexual.PROJETO DA CAMPANHA PELA LIBERDADE DE
ORIENTAÇÃO E EXPRESSÃO SEXUAL. Brasília/DF, Maio de 2006.
CFESS/ Conselho Federal de Serviço Social. Assistentes sociais contra a
violência e por direito de pessoas LGBT. (CFESS MANIFESTA) Seminário Nacional
de Serviço Social e Diversidade Trans www.cfess.org.br

122
HOMOSSEXUAIS DIZEM SOFRER PRECONCEITO NO MERCADO DE
TRABALHO EM MINAS GERAIS.
Disponível:<http://g1.globo.com/minasgerais/triangulomineiro/noticia/2012/08/homoss
exuais-dizem-que-sofrem-preconceito-no-mercado-de-trabalho-em-mg.html>. Acessado
em 07 de out. 2016.
MELO, Heloyse Ferreira da Silva. Direitos Humanos Diversidade Humana e Serviço
Social. Para Além do Arco-Íris; breves considerações sobre a homofobia. (S/d)
NARDI, Henrique Caetano; SILVEIRA, Raquel da Silva; MACHADO, Paula Sandrine.
Diversidade Sexual Relação de Gênero e Políticas Públicas. Porto Alegre: Sulinas,
2013.
PRATA, Marcelo Ricardo. Serviço Social e homossexualidade. Em Debate 05 (2007)
Ver. Do Depto. De Serviço Social PUC-RIO. Disponível:
<http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br>. Acesso em: 05 de out. 2016.
SOUZA, Eloisio Moulin de; PEREIRA, Severino Joaquim Nunes. (RE) produção do
Heterossexismo e a Heteronormatividade nas Relações de Trabalho: a discriminação de
homossexuais por homossexuais. RAM, REV. ADM. MACKENZIE, V. 14, N. 4 • SÃ O
PAULO, SP • JUL./AGO. 2013 • ISSN 1518-6776 (impresso) • ISSN 1678-6971 (on-
line) •Submissão: 11 set. 2011. Aceitação: 6 mar. 2013. Sistema de avaliação: às cegas
dupla (doubleblindreview). UNIVERSIDADE PRESBITERIANA bMACKENZIE. Ana
Silvia Rocha Ipiranga (Ed. Seção), Walter Bataglia (Ed.), p. 76-105. Disponível:
<http:www.scielo.br/pdf/ram/v14n4/v14n4a04.pdf>. Acesso em: 7 de out.2016.

MINI-CURRÍCULO

Jailza Teixeira da Silva - Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade


Federal do Rio Grande do Norte/UFRN (Jailza447@gmail.com).
Antoinette de Brito Madureira - Assistente Social, especialista em Antropologia
Urbana; mestre em Serviço Social, doutora em Antropologia, docente dos cursos de
graduação e pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte/ UFRN e membro do grupo de pesquisa GEPTED (abmadureira@gmail.com).

Título do Trabalho: A relação entre precarização do trabalho e LGBT’s nas centrais de


teleatendimento / Autoras: Jéssica Juliana Batista da Silva / Cláudia Maria Costa Gomes
/ Luciana Batista de Oliveira Cantalice.

RESUMO: A proposta desse trabalho é discutir sobre as principais mudanças ocorridas


no mundo do trabalho no contexto de crise e reestruturação do capital e as estratégias de
sua reorganização. Estas, desencadearam particularidades na classe trabalhadora,
caracterizadas pelo rebaixamento dos custos da força de trabalho, onde a sua forma de
consumo é marcada pela precariedade, que tem características pautadas na divisão
sexual do trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho. Divisão Sexual do Trabalho. Precariado.

123
RESUMO EXPANDIDO:

Este trabalho é resultado dos estudos e pesquisas na pós-graduação em Serviço Social


com financiamento Capes/CNPq/UFPB. Parte da problematização de que no atual
estágio do capitalismo, observamos que tem se forjado no contexto de crise, a retomada
do crescimento econômico incluindo mediações com a ascensão do precariado
(BRAGA, 2012). Nesse sentido, o contexto de reestruturação dos mercados e
restauração do capital trouxe consigo “[...] características sexuadas da flexibilidade”
(SOARES, 2010, p. 13), com forte apelo ao trabalho feminino, caracterizados pela
precarização nos planos social, do trabalho e da organização. Mais recentemente,
podemos nos atentar às estratégias no “recrutamento” da população LGBT nesses
mercados, apontando como lócus de análise as Centrais de Teleantendimento. O
objetivo deste trabalho, então, consiste em analisar como as relações sociais de sexo
estruturam a divisão sexual do trabalho e a conformação do precariado brasileiro a partir
da inserção de LGBT’s em Centrais de Teleatendimento, buscando identificar as
configurações atuais do Sistema Capitalista no contexto de restauração do capital,
informatização do mundo do trabalho e como estas determinam a funcionalidade do
precariado no capitalismo contemporâneo; apreender como as relações sociais de sexo
organizam o mundo do trabalho e se imbricam à conformação do precariado no Brasil e
investigar as mediações entre a precarização do trabalho nesse setor e as opressões
patriarcais e heterossexistas contra o segmento LGBT. Defendemos o pressuposto que o
precariado é marcado pela divisão sexual do trabalho, portanto, não podemos conceber a
classe trabalhadora de forma sexualmente cega (SOUZA-LOBO, 2011). Sobre esse
aspecto, situamos nesta abordagem os estudos sobre o patriarcado (SAFFIOTI, 2015) e
o heterossexismo (FALQUET, 2013), instituídos enquanto determinantes na
conformação desse perfil com base no sexo, sendo uma relação social que não trata
somente das diferenças entre os trabalhos realizados por ambos os sexos, mas
fundamenta-se “[...] nas assimetrias e nas hierarquias contidas dessa divisão, que se
expressam nas desigualdades existentes nas carreiras, nas qualificações, e nos salários
[...]” (CISNE, 2015, p. 89). O percurso teórico-metodológico conduz-se mediante
rastreamento bibliográfico e documental sobre a temática, seguido pelo estudo efetuado
ao longo das pesquisas, orientada pela teoria social crítica marxista. As categorias de
análise do objeto de estudo serão: Crise e reorganização do capital; precariado; divisão
sexual do trabalho, patriarcado e heterossexismo. Por aproximação sucessiva ao real,

124
nosso trabalho parte da problematização de que em épocas de profundas crises existem
“[...] respostas positivas a demandas das classes subalternas [que] podem ser oferecidas
na medida exata em que elas mesmas podem ser refuncionalizadas para o interesse da
maximização dos lucros”. (NETTO, 2011, p. 29). Nesta direção, os setores mais
precarizados da economia, incluídos na “superpopulação relativa”, tornam-se peça
chave para a problematização sobre a conformação do precariado. Braga (2012) põe
elementos que ratifica a tendência do capital em superar as expectativas de crescimento
apropriando-se de uma força de trabalho barata disponível ao mercado. O Setor de
Teleatendimento, pois, tem uma característica que lhe é peculiar: “[...] além de mulheres
e não brancos, é muito comum encontrarmos entre os(as) teleoperadores(as) brasileiros
inúmeros trabalhadores portadores de necessidades especiais, além de um expressivo
contingente formado por gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros
[...]” (BRAGA, p. 197, grifos nossos), análise também capturada na pesquisa elaborada
por Venco (2009). Esta assertiva nos propõe que as transformações do mundo do
trabalho e o rebaixamento da força de trabalho encontra nexos com a precariedade
dos(as) sujeitos(as) que se inserem nesses espaços, partindo da especificidade inserção
de LGBT’s.

BIBLIOGRAFIA
BRAGA, Ruy. A política do precariado – Do populismo à hegemonia lulista. São Paulo:
Boitempo, 2012.
CISNE, Mirla. Feminismo e consciência de classe no Brasil. São Paulo: Cortez, 2014.
FALQUET, Jules. O capitalismo financeiro não liberta as mulheres - análises feministas
e imbricacionistas. Revista Crítica Marxista no 36: São Paulo, 2013.
NETTO, José P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2011.
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Expressão Popular:
Fundação Perseu Abramo, 2015.
SOARES, Vera. Apresentação. In: COSTA, Albertina et al. Divisão Sexual do
Trabalho, Estado e Crise do Capitalismo. Recife: SOS Corpo, 2010.
SOUZA-LOBO, Elisabeth. A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e
resistência. 2a Edição. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2011.
VENCO, Selma. Centrais de teleatividades: o surgimento dos colarinhos furta-cores?
In:

125
ANTUNES, R.; BRAGA, R. (Org.). Infoproletários: degradação real do trabalho virtual.
São Paulo: Boitempo, 2009.

MINI-CURRÍCULO

Jéssica Juliana Batista da Silva - Graduada em Serviço Social pela Universidade


Federal da Paraíba (UFPB). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social pela mesma IES. Integra o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Economia
Política e Trabalho (GEPET/UFPB). Atualmente compõe a gestão do Conselho
Regional de Serviço Social na Paraíba (CRESS/PB), no qual é membro da Comissão
Ampliada de Ética e Direitos Humanos.

09.11.2017
Título do Trabalho: Gênero e sexualidade: concepções e práticas no espaço escolar
Autora: Karla Danielle da Silva Souza/UFRN - Doutoranda no Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da UFRN.Co-autor: Mário Remi Marques
Moreira/UFRN – Licenciando em Ciências Sociais.

RESUMO
Este resumo tem o objetivo de discutir sobre concepções e práticas no âmbito escolar a
partir da temática gênero e sexualidade com foco nas questões relacionadas à
homofobia. Como fontes teóricas, utilizamos Butler (2003), Scott (1995), Louro (1999;
2004), Junqueira (2009), Rosato e Oliveira (2011). Até o momento do desenvolvimento
do trabalho, notamos que a escola ainda é um espaço onde são reproduzidas práticas
atreladas à heteronormatividade e dessa forma, propomos pensar alternativas para
estabelecer uma pedagogia que possa oferecer espaço e reconhecimento à diversidade.

PALAVRAS-CHAVE: Escola; Gênero, Sexualidade; Concepções; Práticas.

RESUMO EXPANDIDO

Propomos discutir as questões de sexualidade na sua transversalidade do gênero


e também problematizar valores heteronormativos, que determinam para gays, lésbicas
e trans a ideação suicida, levando-os muitas das vezes a mutilações físicas e emocionais,
que determinam sua tentativa desesperada de chegarem ao ato extremo. A partir disso,
procuramos desmistificar aquilo que foi chamado por Judith Butler de
heteronormatividade abissal, bem como a heterossexualidade compulsória (BUTLER,
2002, 2008, 2010 apud ROSATO, 2011, p.15).

126
O significado social atribuído às identidades não-heterossexuais (homoafetivos),
tem se relacionado com a marginalidade, a doença ou o pecado, na medida em que o
significado tende a ser construído e mantido por lógicas hegemônicas, como a presente
na heterossexualidade compulsória, conforme conceituado por Judith Butler (2010).
Tem-se considerado que o sentido pessoal representa, não uma consciência individual
oposta à consciência social (significados), mas sim minha consciência social
(LEONTIEV, 1992, apud AGUIAR, 2009).
A partir da ideia sobre a performance de gênero como marcador do
masculino/feminino (BUTLER, 2010), podemos sinalizar que a noção de performances
generificantes nos convida a considerarmos o gênero, por exemplo, como um estilo
corporal, um ato, por assim dizer, que tanto é intencional como performativo, no qual
performativo sugere como construção dramática e, ficção sugere impositivamente que o
sexo biológico determinaria o gênero a ser performatizado: sexo biológico feminino,
seria igual a performance essencialmente feminina. Do mesmo modo, sexo biológico
masculino seria igual a performance essencialmente masculina.
É possível considerar o currículo como uma arena de invenções/reiterações
sociais, como lugar de regulação social e de vivência de diferentes posicionamentos
frente à heteronormatividade. Existem muitos obstáculos, tanto nas nossas mentes,
quanto na estrutura da escola, que impedem uma abordagem cuidadosa e ética da
sexualidade na educação. Uma organização curricular integrada, que possa transgredir
aspectos controladores do currículo e que construa constantemente seus lugares
contingentes, pode ser uma alternativa para a criação de uma educação sexual crítica e
questionadora de estruturas hegemônicas.
Políticas socioeducacionais que possam enfatizar à promoção dos direitos
sexuais, ao reconhecimento da diversidade sexual e à igualdade de gênero, possuem um
potencial transformador que ultrapassa os limites da escola, lançam as bases para uma
nova agenda pública e uma nova modalidade de pactuação social e, enfim, contribuem
de maneira marcante para a construção de um novo padrão de cidadania. Sexismo,
misoginia, homofobia, heterossexismo, racismo, entre outros, estão fortemente
associados e, por isso, jamais teremos êxito ao enfrentá-los se não nos dotarmos de
instrumentais teórico-metodológicos que dêem conta dessas vinculações e não fiquem
reféns da indignação narcísica (noção freudiana de “narcisismo das pequenas
diferenças”), que nos leva a solidarizarmos apenas com a vítima pertencente ao “nosso
grupo”.

127
Sabendo-se que subjetividades, identidades, corpos, sexualidades e padrões
culturais não constituem realidades imutáveis, mas são construções, há espaço para o
questionamento e a reconsideração permanente do trabalho de indivíduos e sociedade
sobre si mesmos. Uma pedagogia que valoriza as relações, procura multiplicar
intercâmbios, incentiva experimentações e prioriza o conversar com e não se limita ao
falar sobre. Uma pedagogia que valoriza olhares que não vêem por meio do estereótipo
e do preconceito, envolvida com o aprendizado permanente, o reconhecimento e o
respeito mútuos, comprometida com o alargamento da democracia e a dissolução de
certezas opressivas.
A “educação para a diversidade sexual” que emerge daí é algo a ser pensado e
constantemente reinventado segundo uma lógica criativa, instigante, insurgente e aberta
a questionamentos. Uma educação voltada para afinar olhares e escutas, estimular
inquietações, promover sensibilidades, ensejar atitudes dialógicas e anticonformistas e
desestabilizar doutrinas vigentes. Atenta a possíveis mecanismos de opressão que o
próprio enfrentamento pode vir a produzir, empenhar-se na construção de uma cultura
de reconhecimento radical, ético e emancipatório da pluralidade e da multiplicidade das
manifestações humanas, das quais a diversidade sexual é autêntica expressão.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Wanda (et al.).Reflexões sobre sentido e significado. In. BOCK, Ana Mercês
(et al.). A dimensão subjetiva da realidade: uma leitura sócio-histórica. São Paulo:
Cortez, 2009.

BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. São Paulo: Marcos Zero, 1983.

. A dominação masculina. Tradução Maria Helena Kültner – 2ª Edição – Rio


de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução


Renato Aguiar. 3ª Edição, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

DURKHEIM, Émile. O Suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes,


2000 (Coleção Tópicos).

GIROUX, Henry. Cruzando as fronteiras do discurso educacional: novas políticas


em educação. Porto alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

128
JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Diversidade sexual e homofobia: a escola tem tudo a ver
com isso. In: XAVIER FILHA, Constantina (Org.). Educação para a sexualidade,
para a equidade de gênero e para a diversidade sexual. Campo Grande: UFMS,
2009, PP. 111-142.

LOURO, Guacira Lopes. (Org.). Um corpo estranho. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

. Gênero, sexualidade e educação. 7ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2004.

. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:


Autêntica, 1999.

MOREIRA, Antonio Flavio; CANDAU, Vera Maria (Orgs.). Multiculturalismo:


diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

ROSATO, Tatine Penariol de; OLIVEIRA, O. V. Política de currículo, identidades


sexuais e performances de gênero. Cuiabá: EdUFMT, 2011.

SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade20 (2): 71-99 – jul/dez. 1995.

MINI CURRÍCULO: Karla Danielle da Silva Souza


Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais pela UFRN
Mestra em Ciências Sociais pelo PPGCS da UFRN

Mário Remi Marques Moreira


Licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Orientando da Professora Doutora Berenice Bento e do Professor Dr. Paulo Victor, na
temática de sexualidade, religião e preconceito, pesquisando sobre O que leva o Jovem
Gay ao suicídio

Título do Trabalho: Visibilidade e reconhecimento da existência LGBT no espaço


escolar
Autor: José Ricardo Marques Braga/ Mestrando em Antropologia Social pela UFRN.

RESUMO

Nosso intento é compreender como o espaço escolar lida com sujeitos desviantes de um
padrão hegemônico de sexualidade e como estes são tratados no cotidiano da escola
pelos agentes sociais que a compõem, bem como analisar como os conteúdos escolares
tratam a existência desses sujeitos. Tendo como campo empírico uma escola pública de
Fortaleza/CE e uma abordagem qualitativa de pesquisa, nossos dados apontam para a
invisibilidade no trato de aspectos ligados à (homo) sexualidade e a reprodução do
arbitrário cultural que legitima a heterossexualidade como padrão naturalizado.

129
PALAVRAS-CHAVE: LGBT; ESCOLA; VISIBILIDADE.

RESUMO EXPANDIDO

A presente pesquisa, em fase de andamento, é realizada numa escola pública de


Fortaleza/CE, que atende jovens do 9ª ano do Ensino Fundamental ao 3ª ano do Ensino
Médio, oriundos de bairros localizados na periferia deste centro urbano. À luz de
Bourdieu & Passeron (1982), entendemos a escola como lócus da reprodução do
ordenamento social, refletindo, portanto, no seu cotidiano as normas e regras do
binarismo de gênero e dos padrões hegemônicos da sexualidade (BUTLER, 2012), que
estruturam e regem a sociedade. Esta instituição é, destarte, lugar central no controle,
classificação e produção de corpos e de subjetividades (FOUCAULT, 1999; LOURO,
2000; SANTOS, 2010; BENTO, 2011). A escola, a família e a igreja funcionam como
sustentáculos para produção e manutenção da heterossexualidade compulsória (RICH,
2010). Partindo desse princípio e das bases teóricas já erguidas neste campo de estudos,
nossa investigação pauta-se na compreensão de como a escola e seu cotidiano vêm
tratando os aspectos de gênero e sexualidade, e consequentemente, como os sujeitos de
uma “sexualidade disparatada” (FOUCAULT, 1999) vêm construindo suas
subjetividades neste espaço. OBJETIVOS Compreender como a escola e os agentes
sociais que a compõem lidam, no seu dia-a-dia, com os jovens alunos desviantes de um
padrão sexual e como estes se constroem neste espaço.

A partir da via qualitativa da pesquisa, elegemos o método etnográfico como


direção a ser trilhada, estruturado pela técnica da observação participante
(MALINOWSKI, 1984) e por entrevistas compreensivas (KAUFFMANN, 2013)
semiestruturadas com alunos assumidamente homossexuais e professores da referida
escola. A pesquisa ainda encontra-se em fase de andamento, com aproximadamente dois
meses de observação diária in loco por todos os ambientes escolares, inclusive salas de
aula.

A literatura produzida na interface entre educação, gênero e sexualidade no


Brasil (BENTO, 2011; JUNQUEIRA, 2012; GROSSI & SALA, 2013) aponta que, se
aqueles que ousam desafiar as normas de gênero e/ou adotar uma sexualidade
disparatada (FOUCAULT, 1999) na sociedade sofrem com práticas discriminatórias,

130
essa realidade também é vista e experimentada no ambiente escolar. Desafiar a norma
cisgênero heterossexual impõe aos sujeitos itinerários de exclusão implícita – através do
silenciamento e invisibilização de jovens LGBT – ou explícita, através de tratamento
discriminatório que se materializa em piadas, insultos e ritos de suplício na convivência
escolar e na sala de aula. É em nome da manutenção de tais verdades tidas como
naturais e cristalizadas que os profissionais da educação expulsam quaisquer outras
possibilidades de realidades, como ocorre nos dados obtidos até então. Observa-se como
a escola invisibiliza e marginaliza sujeitos homossexuais em seu seio, de forma
implícita ou explícita. Aqueles que não se ajustam às idealizações do arbitrário cultural
heteronormativo, portanto, são ora mantidos no seio da escola como marginalizados, ora
expulsos abertamente. Assim, como Leuça Duarte (2015) aponta em sua pesquisa de
doutorado, a escola configura-se como lócus do fracasso na discussão das questões
referentes ao gênero e à sexualidade. A autora, portanto, conclui que o ambiente escolar
nega-se a ser o lugar plural que oficialmente se propõe a ser e mais do que isso, sua
prática político-pedagógica vem legitimando a violência e a exclusão para atores
sociais, gays, lésbicas e travestis. É o que observamos em nossa pesquisa, onde a
violência simbólica e, muitas vezes, física é legitimada pela própria instituição,
sobretudo na falta de reconhecimento com que são tratados os alunos homossexuais.

A escola esvazia-se de sentido, tornando-se o mais cruel dos infernos para quem
desobedece o padrão hegemônico de sexualidade. Abandonar o espaço escolar
involuntariamente, enxergar a escola como insignificante e lugar de tortura são direções
que nossa pesquisa aponta.

BIBLIOGRAFIA

BENTO, Berenice. Na escola se aprende que a diferença faz a diferença. In: Estudos
Feministas, Florianopólis, 19 (2): 336, p. 549-559, maio/agosto, 2011.
DUARTE, Maria Leuça Teixeira. Escola: lugar político da diversidade sexual e de
gênero. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, 2015.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro.
Edições Graal, 1999.

131
JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Pedagogia do armário e currículo em ação:
Heteronormatividade, heterossexismo e homofobia no cotidiano escolar.
MILSKOLCI, Richard (Org.). Discursos fora da Ordem. São Paulo: Annablume, 2012.
KAUFMANN, Jean Claude. A entrevista compreensiva. Tradução de Thiago Abreu e
Lima Florencio. Petrópolis, RJ: Vozes, Maceió, Edufal, 2013.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Editora
Abril, 1984.
RICH, Adrienne. Heterossexualidade compulsória e existência lésbica. Bagoas,
Natal, v. 5, p.18-44, 2010.

MINI CURRÍCULO
José Ricardo Marques Braga- Graduado em Ciências Sociais e especialista em Gestão
Social pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UEVA). Mestrando em
Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Integrante do Grupo Gênero, Corpo e Sexualidade (GCS/UFRN), cadastrado no
Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq.

Título do Trabalho: Tecnocontroles da subjetividade: o regime farmacopornográfico e


a produção de estereótipos em filmes interraciais gays
Autores: Kelvis Leandro do Nascimento/ Allyson Darlan Moreira da Silva / Lore
Fortes / Rodrigo Barros

RESUMO: A discussão proposta por esse trabalho baseia-se na definição do regime


farmacopornográfico descrito por Paul B Preciado, mais especificamente, na atuação da
pornografia como ferramenta de captura das subjetividades e reprodutora de
estereótipos raciais e sociais. Agindo como pedagogia das práticas sexuais, a
pornografia reproduz através dos filmes pornôs gays com temática interracial o
imaginário do interdito sexual das raças, alimenta a hipersexualização e a virilidade
obrigatória do homem negro, além de produzir um modelo de masculidade que beira a
bestialidade. Historicamente subjugado e desprovido de direitos básicos de
sobrevivência, o lugar do negro sempre foi o das margens. Desprovido de trabalho e
vivendo em condições de vida precárias, o negro foi empurrado para o lugar social da
exclusão, do crime e da prostituição. Mesmo com os avanços na desmistificação do
sexo interracial e com políticas afirmativas para negros e pardos, a sexopolítica ainda
faz uso desses estereótipos como mercadoria ofertada na internet pelas produtoras
pornôs.

PALAVRAS-CHAVE: Tecnocontroles; Farmacopornográfico; Interraciais; Gays;

132
RESUMO EXPANDIDO

O controle farmacopornográfico, descrito por Paul B. Preciado (2002;2008)


surge com a sociedade científica e colonial do século XIX, todavia, se desenvolve pós
Segunda Guerra Mundial, com a corrida tecnológica espacial e se efetiva, como vemos
hoje, com o desmantelamento da economia fordista nos anos 1970. Esse regime
farmacopornográfico se alimenta de um lado pela farmacologia e de outro pela
pornografia. A primeira se tornando o saber-poder responsável pela proliferação da
pílula feminina que, desde sua invenção, se configura não como técnica de controle
reprodutivo, mas sim como instrumento de controle de gênero, como afirma Preciado
(2002). A segunda produzindo uma “conspiração masturbatória” que produz e reproduz
performances sexuais agindo para normalizar e naturalizar a utilização dos órgãos
sexuais, a relação entre os corpos no sexo, ou seja, opera como máquina performativa
do sexo.
Funcionando como uma pedagogia da sexualidade, esses dispositivos não
representam tão somente o sexo, mas também, legitimam as práticas sexuais baseadas
no arcabouço representativo do que seria próprio do masculino e do feminino. A
pornografia, braço do mecanismo biotecnológico, age no processo de sedimentação das
práticas sexuais, por vezes reforçando estereótipos, como pretendemos mostrar, quando
utiliza um tipo predominante de discurso sexual em torno do corpo do homem negro
gay em filmes com temática interracial.
Os filmes retratam em grande maioria atores negros assumindo um papel
unicamente de dominadores, representados como trabalhadores de atividades braçais
que ultrapassam a proibição do sexo entre raças dominando o passivo branco num
processo de inversão da lógica de dominação da sociedade. Funcionando como
estratégia de manipulação e criação de estereótipos, utilizam o erotismo da diferença
racial como marketing, disseminando fetichização em torno desse tipo de sexo.
Além disso, a grande maioria dos filmes com temática interracial gay reforça a
heterossexualidade obrigatória, criando nas cenas a ideia de uma prática sexual
proibida, efetuada no silêncio, anormal e vexatório. Muitas cenas reproduzem o homem
branco bem sucedido que acaba por se deixar “contaminar” pelo erotismo viril do
homem negro dos trabalhos braçais. Essa transgressão que a pornografia aborda,
reproduz essa exposição irresistível que deve ser mantida em segredo. Além disso, as
posições representadas nesses filmes reproduzem a lógica da própria ordem sexual

133
heterossexista na simulação de uma hipermasculinidade, representadas pelos lugares
tradicionais do masculino. Com isso, é fácil encontrar filmes com policiais,
trabalhadores braçais urbanos, homens moradores das favelas, etc. Desse modo, a partir
da contribuição teórica de Preciado, esse trabalho pretende avaliar a produção de
estereótipos e práticas sexuais nos filmes interraciais com temáticas gays, como mais
um recurso do capitalismo biotecnológico para domesticação e normalização dos
corpos.

BIBLIOGRAFIA

PRECIADO, Beatriz. Manifiesto contra-sexual: prácticas subversivas de identidad


sexual. Madrid: Opera Prima, 2002.
. Testo Yonqui. Madrid: Espasa, 2008.

MINI CURRÍCULO:

Kelvis Leandro do Nascimento - Cientista social, mestrando pelo Programa de Ciências


Sociais da UFRN (PPgCS-UFRN) e membro do Núcleo de Estudos Críticos em
Subjetividades Contemporâneas (NUECS-UFRN) e do Grupo de Pesquisa Saúde,
Gênero, Trabalho e Meio Ambiente (SAGMA-UFRN)Email:
kelvis_nascimento@hotmail.com

Allyson Darlan Moreira da Silva - Jornalista, mestre pelo Programa de Pós-graduação


em Estudos da Mídia da UFRN (PPgEM-UFRN) e membro do Núcleo Interdisciplinar
Tirésias de Estudos em Gênero, Diversidade Sexual e Direitos Humanos da UFRN.
Desenvolve pesquisas sobre mídia, corpo, gênero e sexualidade. E-mail:
allysonjornalista@hotmail.com.

Lore Fortes - Professora doutora do departamento de Ciências Sociais – UFRN.


Coordenadora do Grupo de Pesquisa Saúde, Gênero, Trabalho e Meio Ambiente
(SAGMA-UFRN).

Rodrigo Barros - Cientista social, mestrando pelo Programa de Ciências Sociais da


UFRN (PPgCS-UFRN).

134
Título do Trabalho: Representatividade LGBTI e “comusicação cidadã” D’as Bahias e
a cozinha mineira
Autor: André Araújo Silva

RESUMO

A presente pesquisa busca discutir as relações e tensões existentes entre as lógicas da


indústria fonográfica frente às representações LGBTI na música brasileira, visando
identificar os espaços que a indústria cultural reserva para artistas dessa comunidade,
tendo como recorte empírico a obra e as estratégias midiáticas da banda As Bahias e a
Cozinha Mineira. Interessa observar e problematizar as estratégias midiáticas da banda e
como esses atores sociais se articulam para fortalecer suas identidades, cidadania
cultural e o seu protagonismo social através da música.

PALAVRAS-CHAVE: Representatividade; LGBTI; Comusicação; Cozinha Mineira;

RESUMO EXPANDIDO

A música, enquanto produto cultural simbólico, exerce um importante papel nos


processos de formação das identidades. E, devido todas as diversidades – cultural, social
e econômica – a música popular é mobilizadora dos corpos, sentimentos e sentidos em
diversas dimensões no Brasil. Em consonância com as ideias de Jiani Bonin,
entendendo que “a cidadania articula-se cada vez mais com a questão da afirmação das
diferenças, com as políticas de reconhecimento e de promoção da diversidade cultural”
(BONIN, 2011, p. 154), a presente proposta de pesquisa visa compreender as relações e
tensões existentes entre as lógicas da indústria fonográfica frente às representações
LGBTI na música brasileira, objetivando discutir os espaços midiáticos reservados para
artistas LGBTI na indústria cultural, tendo como recorte empírico a obra da banda As
Bahias e a Cozinha Mineira e suas estratégias midiáticas de divulgação. Encarando a
música brasileira como fonte de prazer e conhecimento de grande parte da população
nacional, o presente estudo visa traçar subsídios teóricos, estender e aprofundar
discussões sobre questões relacionadas às aproximações e tensões entre a música e a
mídia sem, de modo algum, esgotar as dimensões sobre os diversos assuntos que regem
as práticas e lógicas da indústria fonográfica e as representações sociais como a causa
LGBTI.

É por meio da música que muitas pessoas constroem e fortalecem suas


identidades e cidadania cultural, criam memórias afetivas, produzindo e apropriando-se

135
das técnicas e dos conteúdos dos meios de comunicação. Muitas vezes, a música é uma
forma de protestar e falar o que a mídia tradicional de massa e a política silenciam.
Vozes, lutas e grupos marginalizados são excluídos dos espaços midiáticos e buscam
outras formas de expressarem suas ideias e defenderem seus ideais. A indústria cultural
fonográfica trabalha na lógica da mass media. Segundo Gonçalves (2016), a
representatividade LGBTI permeia a música brasileira desde, pelo menos, a década de
1970 - mesmo sendo possível observar essa representatividade em canções de décadas
anteriores, como é o caso do Noel Rosa em “Mulato Bamba” (1931), um samba em
homenagem a Madame Satã, famoso capoeirista e malandro homossexual da Lapa – RJ.
Desde então, a música tem um papel fundamental na formação de identidades e
da cidadania cultural coletiva de grupos marginalizados pelos grandes veículos de
comunicação e informação. É claro que artistas vanguardistas como Ney Matogrosso,
Marina Lima, Chico Buarque, Caetano Veloso e tantos outros abriram espaço para a
representatividade LGBTI na mídia, com letras provocativas e que retratam, de formas
diversas, a vida desse grande grupo em suas canções, dando voz e representando-os. No
entanto, ao repararmos o cenário musical brasileiro nessa segunda década dos anos
2000, percebe-se uma emergência de novos artistas multifacetados e empoderados que
retratam em suas canções e performances as realidades e a representatividade dos
LGBTI.

Representação essa, cidadã, uma vez que tais artistas são a voz de uma
comunidade carente de políticas públicas, sendo esquecida não só pela mídia, mas pela
sociedade em geral e pela política. Seja nos palcos, nas plataformas digitais, nas letras
das canções, a representação LGBTI por meio da música chega à mídia de massa como
uma pauta necessária a ser discutida. Ao longo da história, a noção de cidadania
enfrentou mudanças. Na década de 1960, os movimentos sociais ganharam força com
sua representatividade intensa na arte, ampliando a noção de cidadania, como é o caso
da intensificação das lutas feministas, dos negros, dos homossexuais, das populações
marginalizadas (LIMA e OLIVEIRA, 2012). A busca por representatividade encontra
na música uma possibilidade de comunicação para promover a “cidadania cultural”
(LIMA e OLIVEIRA, 2012) e discutir os direitos LGBTI: a comusicação cidadã. Tais
artistas são representantes de seus pares, tendo cada vez mais, ou pelo menos lutando
por, visibilidade na mídia de massa e mexendo no sistema de formas alternativas, como
é o caso da produção independente, com selos e gravadoras próprias.

136
REFERÊNCIAS

ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento:


fragmentos filosóficos. Tradução Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar,
1985, p. 99-138.
BONIN, Jiani Adriana. Coletivos culturais e espaço público midiatizado: deniliamentos
para investigar as configurações dos usos, apropriações e produções de mídias em
grupos étnicos. In: MALDONADO G., A. Efendy, BARRETO, Virgínia de Sá,
LACERDA, Juciano de Sousa (orgs.). Comunicação, educação e cidadania: saberes e
vivências em teorias da pesquisa na América Latina. Natal: Editora da UFPB, Editora
da UFRN, 2011, p. 143-167
DIAS, Márcia Tosta. Os donos da voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização
da cultura. São Paulo: Boitempo, 2000.
GONÇALVES, Renato. Nós Duas: as representações LGBT na canção brasileira. São
Paulo: Lápis Roxo, 2016.
LIMA, Marcelo Fernando de; OLIVEIRA, Eliane Basilio de. Cibercultura e cidadania
cultural: considerações teóricas. Revista Temática, Ano VIII, Nº 09 – setembro de 2012.
Disponível em . Acesso em 29 ago. 2017.
SODRÉ, M. As Estratégias Sensíveis: Afeto, Mídia e Política. São Paulo: Ed. Vozes,
2006.

MINI CURRÍCULO
André Araújo da Silva, mestrando em Estudos da Mídia (PpGEM-UFRN), graduado em
Comunicação Social – Jornalismo pela UFRN. Participante do grupo de pesquisa
Pragmática da Comunicação e da Mídia (PRAGMA), da UFRN, registrado na
PropesqUFRN e CNPq.

10.11.2017
Título do Trabalho: Reconhecimento Sexual: Movimento LGBT e Ativismo Queer
Autoras: Erika Oliveira Maia Batalha / Marlla Suellen de Melo Dantas / Rayane Dayse
da Silva Oliveira.

RESUMO: Este artigo objetiva problematizar a atuação do movimento social LGBT a


partir do contexto das pautas de luta e de afirmação identitária do sujeito, para
compreender por quais aspectos dá-se a luta para ser reconhecido socialmente. O
movimento LGBT articulado utiliza-se de categorias identitárias baseadas no
determinismo biológico, que compreende as manifestações do gênero e da sexualidade

137
como expressões determinadas biologicamente, apoiadas em mecanismos genéticos e
substancializados, utilizando-se assim do argumento do essencialismo estratégico
(Gaytri Spivak) para embasar a máxima do “eu nasci assim” como argumento para
aceitação social. Com isso, questionamos, a partir do ativismo queer e dos estudos
críticos de sexualidade, sobre o debate das lutas por reconhecimento no âmbito da
identidade essencializada, e a possível tensão que a temática provoca. Para isso,
discutiremos a teoria do reconhecimento em Nancy Fraser, articulando com a
perspectiva do reconhecimento queer em Judith Butler, além de trabalhar com autores
dos estudos críticos de sexualidade.

Palavras-chave: Gênero. Lutas por reconhecimento. Movimento LGBT. Sexualidade.

RESUMO EXPANDIDO

É inegável a importância dos movimentos de luta pela afirmação da


“identidade” homossexual, os quais surgiram no Brasil desde o final da década de 1970.
Estas militâncias buscavam dar visibilidade ao homossexual a partir de novas
representações que fossem contrárias àquelas que associavam a homossexualidade à
anormalidade, à doença, ao pecado. Nesse sentido, a necessidade de consolidar, em
termos políticos, uma expressão que caracterizasse a homossexualidade de forma
positiva fez com que o Grupo Triângulo Rosa debatesse, durante dois anos, sobre a
definição do termo “orientação sexual”, na década de 1980. À época, o sentido dado
para este termo propunha “a valorização e expressão do desejo próprio, que é construído
socialmente e não do objeto do desejo” (CÂMARA, 2012, p. 103). Contudo, com o
passar do tempo esta definição modificou-se. Nos debates atuais do movimento LGBT a
expressão “orientação sexual” adquiriu um sentido que pouco tem a ver com a acepção
dada nos anos 80. Sendo assim, no tocante ao aspecto da identidade, quais perspectivas
foram suscitadas para caracterizar a homossexualidade?
A argumentação apresentada pelo movimento LGBTI para a efetivação e
garantia de direitos se situa no campo do determinismo biológico, à medida em que faz
uso da naturalização dos comportamentos sociais como maneira de legitimar as suas
lutas por reconhecimento. A atitude em questão, numa perspectiva sociológica crítica,
pode ser compreendida como um essencialismo estratégico, que ocorre como uma
espécie de resposta derivada do fato de vivermos de um contexto social em que a
possibilidade do livre exercício do desejo é menos bem vista do que uma determinação
biológica contra a qual não se pode lutar. Os indivíduos, eles próprios, para terem uma
garantia de maior chance de aceitação social, acabam se apropriando do discurso de que

138
a sexualidade corresponde a uma configuração inata imutável, assim, na busca de uma
maior aceitação e justificação para a sua orientação sexual, apegam-se a argumentos
naturalizadores da realidade social.

A aceitação de muitos LGBT (incluindo importantes lideranças do


movimento) da ideia segundo a qual a homossexualidade,
travestilidade e transexualidade são “orientações sexuais” fixas,
fincadas em cada um antes do nascimento, correspondendo a
realidades biológicas, ou que seriam substâncias psicológicas
absolutas e estáveis, não deixa dúvida do quanto o essencialismo tem
sido abraçado (SOUSA FILHO, 2009, p.64).

Tais argumentos que sustentam a homossexualidade como manifestação


determinada biologicamente são cooptados pela estigmatizada vinculação de que as
sexualidades que diferem de uma ordem considerada natural e normal, que seria a
heterossexualidade, são na verdade, desvios, problemas e até patologias, e que, se não é
escolha do indivíduo, tal sexualidade desviante deveria ser aceita. A
aceitação, nesse sentido, não ocorre pela compreensão de que as pessoas podem e
devem exercer seu livre desejo sexual, mas a partir de um apelo que serve aos mais
conservadores, de que não se escolheria viver na marginalidade da sexualidade normal
e, logo a homossexualidade estaria acima de qualquer exercício livre da sexualidade,
estando, portanto, determinada por alguma diferenciação biológica, psíquica ou
fisiológica, que tem como parâmetro normal a pessoa heterossexual.
As categorizações de sexualidade normal versus sexualidade desviante
funcionam como uma tecnologia de controle que serve a heteronormatividade. A
sexualidade é uma “[...] grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a
intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o
reforço dos controles e das resistências encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas
grandes estratégias de saber e de poder” (FOUCAULT, 2015, p.115). Sendo, portanto,
um constructo social, a homossexualidade não está vinculada a uma determinação
biológica, mas é forjada a partir do discurso, da linguagem e do simbólico, articulado ao
saber e poder.
Nesse sentido, considerando como principal problemática a atuação do
movimento social LGBTI no contexto das lutas por reconhecimento e os aspectos em
que se dão estas lutas, o nosso objetivo é problematizar o modo como o movimento faz
uso do essencialismo estratégico como maneira de garantir reconhecimento. Para isso,
iremos tecer uma análise teórica acerca deste fenômeno utilizando como base

139
referencial a teoria do reconhecimento de Nancy Fraser, articulada à perspectiva do
reconhecimento queer em Judith Butler, além de trabalharmos ainda com alguns autores
dos estudos críticos de sexualidade. A perspectiva dos estudos críticos de gênero e
sexualidade, aliado à teoria queer, além de compreender que as sexualidades são
construções sociais, culturais e históricas, entende ainda, que a luta por ser reconhecido
socialmente nos moldes do essencialismo estratégico, ou seja, na incorporação do
discurso de que as sexualidades são de ordem natural para que haja fácil aceitação
social ao contexto heteronormativo, se dá de forma equivocada e serve aos setores mais
conservadores, seja do contexto político, religioso ou da sociedade.

BIBLIOGRAFIA

BUTLER, Judith. Al lado de uno mismo: en los limites de la autonomia sexual. In:
BUTLER,
Judith. Deshacer el género. Barcelona: Paidos, 2006.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. vol. I: a vontade de saber. 2aed. São
Paulo: Paz e Terra, 2015.
SOUSA FILHO, Alipio. A política do conceito: subversiva ou conservadora? - crítica à
essencialização do conceito de orientação sexual. Bagoas: estudos gays, gêneros e
sexualidade, Natal, v. 3, n 4, p. 59-77, 2004.
. Por uma teoria construcionista crítica. Bagoas: estudos gays,
gêneros e sexualidades, Natal, v. 1, n. 1, jul./dez. 2007.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o sulbaterno falar? Belo Horizonte: Editora da
UFMG, 2010.

MINI CURRÍCULOS

Erika Oliveira Maia Batalha - Mestra em Ciências Sociais (PPGCS-UFRN). Membro


do grupo de pesquisa SAGMA. Áreas de interesse: Gênero, sexualidade e identidade
(erika_batalha@hotmail.com).
Marlla Suéllen de Melo Dantas - Mestra em Ciências Sociais (PPGCS-UFRN).
Membro do grupo de pesquisa SAGMA. Áreas de interesse: Gênero e sexualidade
(marllasuellen@gmail.com).
Rayane Dayse da Silva Oliveira - Mestra em Ciências Sociais (PPGCS-UFRN).
Membro do grupo de pesquisa SAGMA. Áreas de interesse: Gênero, sexualidade e
direitos humanos (rayaneoliveirasocial@yahoo.com).

140
Título do Trabalho: Judiciário e cura LGBT: do retrocesso à resistência na luta por
reconhecimento
Autores: Beatriz Amâncio de Paiva Freitas/ Fernanda Júlia Amorim de Almeida/
Úrsula Bezerra e Silva Lira

RESUMO

O artigo trata acerca da decisão liminar na qual o juiz Waldemar de Carvalho contraria a
Resolução nº 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia e autoriza a reorientação
sexual de pessoas LGBT. Pretende-se demonstrar que a decisão é formal e
materialmente inconstitucional. Reflete-se, ainda, acerca dos limites da interferência
estatal na vida privada. Para tanto, usa-se de artigos, dados e entrevistas.

PALAVRAS-CHAVE: Cura LGBT. Justiça. Decisão liminar. Inconstitucional.


Retrocessos sociais.

RESUMO EXPANDIDO:

No dia 15 de setembro de 2017, na 14ª Vara Federal da Seção Judiciária do


Distrito Federal, o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho proferiu uma decisão liminar na
qual contraria a Resolução nº 01 de 1999 do Conselho Federal de Psicologia e autoriza a
“reorientação sexual” de pessoas LGBT.
Embora existam diversos argumentos a favor do entendimento proferido,
alegando, dentre outros, a defesa constitucional do princípio da liberdade científica e ao
direito a livre escolha da pessoa LGBT de procurar orientação profissional para reverter
a sua orientação sexual, é necessário analisar a falta de ponderação em face do direito
fundamental da dignidade da pessoa humana, bem como as falhas formais processuais e
as consequências sociais e psíquicas.
A decisão inicia-se, mostrando seu caráter LGBTfóbico, ao utilizar o termo
“reorientação sexual”, induzindo que haja uma orientação sexual considerada correta, e
outra orientação distinta que foge a esse padrão, e por tal, deve ser “reorientada”.
Não suficiente a utilização de um termo preconceituoso, a decisão é
formalmente equivocada no que tange a essência processual da ação popular. Isto
porque essa modalidade de ação somente é cabível quando há violação ou ameaça “ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural”, nos termos da
Constituição Federal. Nesse sentido, o magistrado argumenta que há violação explícita
ao patrimônio cultural, entretanto, a própria Carta conceitua-o como sendo bens “de

141
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira”. Assim, não há respaldo legal no argumento utilizado pelo juiz
Waldemar de Carvalho.
Há de se falar, ainda no tocante à formalidade da ação, sobre a finalidade da
liminar proferida, sabendo que esse tipo de instrumento é utilizado quando há
necessidade emergencial de uma tutela antecipada sem que se julgue a causa.
Considera-se aqui, que uma decisão de tamanha importância e debate para toda a
sociedade, sobretudo para a comunidade LGBT, já tão flagelada pela negação de
direitos, não deveria ter-se dado em caráter de urgência, mas com a participação de
diversos atores e instituições sociais, observando também a propriedade técnica do
Conselho Federal de Psicologia e da própria comunidade LGBT, uma vez que o
protagonismo na luta e a vivência cabe apenas a esse grupo social.
Partindo para uma análise material, a decisão contraria os princípios implícitos e
explícitos da Constituição Federal e do ordenamento jurídico internacional, uma vez que
fere a dignidade da pessoa humana e dificulta o desenvolvimento de uma sociedade
livre de preconceitos. Para isso, a ponderação entre a liberdade científica e a dignidade
da pessoa humana LGBT deve ser limitada pelo ônus causado a este grupo social. Ora,
se nenhum direito é absoluto, tampouco uma liberdade poderá ser desenfreada ao ferir o
princípio basilar dos direitos humanos fundamentais reconhecido internacionalmente.
Verificando a formação histórico-cultural brasileira, marcada por traços
colonialistas e patriarcais, machistas, e LGBTfóbicos, o estereótipo moral do brasileiro-
padrão é perpetuado através da discriminação social e da violência física e psicológica.
O que pressupõe que, se mantida a decisão liminar nas seguintes instâncias e liberada a
prática da reversão sexual, a comunidade LGBT, que hoje é agredida e assassinada
unicamente por divergir do padrão construído culturalmente enquanto correto, será
também patologizada, além de coagida principalmente no ambiente familiar. Nesse
caso, se hoje pais expulsam seus filhos de casa ao se declararem enquanto pessoas
LGBT, haverá legitimidade para que os levem forçadamente a psicólogos.

REFERÊNCIAS

PLANALTO. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 29. setembro.


2017.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/>.


Acesso em: 30. setembro. 2017.

HACHEM, Daniel. As entrelinhas da liminar da cura gay: homofobia disfarçada de


liberdade. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/09/22/as-
entrelinhas-da-liminar-da-cura-gay-homofobia-disfarcada-de-liberdade/>. Acesso em:
29. setembro. 2017.

142
SANTANA, Leonardo. Três considerações sobre a decisão liminar que ressuscita a
“cura gay”. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/09/19/tres-
consideracoes-sobre-decisao-liminar-que-ressuscita-cura-gay/>. Acesso em: 30.
setembro. 2017.

MINI CURRÍCULO
Beatriz Amâncio de Paiva Freitas- Graduanda de Direito da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, no quarto período. Diretoria administrativa no Centro Acadêmico
Amaro Cavalcanti. Participação no Programa Motyrum de Educação Popular em
Direitos Humanos. E-mail: amanciobea@gmail.com
Fernanda Júlia Amorim de Almeida - Graduanda de Direito da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, no quarto período. Diretoria Financeira no Centro Acadêmico
Amaro Cavalcanti. Participação no Programa Motyrum de Educação Popular em
Direitos Humanos. E-mail:fjuliaamorim@gmail.com
Úrsula Bezerra e Silva Lira -Graduada em Direito pela Universidade Federal da
Paraíba (1999-2004). Pós-graduação em Jurisdição e Direito Privado pela Universidade
Popular (2007). Mestre em Direito Constitucional pela UFRN (2013). Doutoranda em
Ciências Jurídico-civis pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Título do Trabalho: Papel do direito e a importância da persistente luta do movimento


LGBT
Autores: Jackeline Emília da Silva Albuquerque; Lucas Alencar Bezerra; Ângelo José
Menezes Silvino

RESUMO

Frequentemente colocados à margem da sociedade, a população de lésbicas, gays,


bissexuais e transexuais perpassa por um histórico de enfretamento de lutas e
perseguições que, em alguns países, têm seus direitos massacrados e são expostos à
situações de vulnerabilidade. Visando o debate do tema, o presente artigo busca, através
de resgate histórico e estudo aprofundado de legislações e convenções mundiais,
apresentar as dificuldades encontradas no âmbito jurídico para garantia dos direitos
fundamentais dessa população.

143
PALAVRAS-CHAVE: Papel de Direito; Lutas; LGBT;

RESUMO EXPANDIDO

O Direito de uma sociedade passa por uma construção histórica e, ao falar do


direito, admite-se que ele corresponde ao todo, o que, em questões práticas, não se faz
presente para algumas populações que estão à margem de uma sociedade construída
com preceitos patriarcais e idealizada com padrões inúmeras vezes não alcançáveis.

Dentro de grandes discussões em dias atuais, concerne falar a respeito dos


direitos humanos e, precisamente, dos direitos da população LGBT, que é, em linhas
históricas, correntemente ofuscada e tem seus direitos arrancados. São inúmeros os
países que tratam essa população até mesmo de forma criminalizada, enraizados por
culturas de ódio que são mantidas através de discursos discriminatórios, ferindo toda
uma comunidade.

Retirando da Declaração Universal dos Direitos Humanos que em sua abertura


afirma que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito”,
procura-se nesse trabalho apresentar os avanços e retrocessos em âmbito mundial e
nacional à respeito dos direitos dessa população, e a importância do meio jurídico para
desconstrução do preconceito formalizado em longos anos enfrentados pela comunidade
LGBT.

Trata-se de estudo e análise bibliográfica de documentação indireta e de


abordagem dedutiva. Diz respeito às pessoas LGBTI e se preocupa, sobretudo, com a
abordagem dessa questão dentro do Direito Internacional. No tocante aos métodos de
procedimento desse presente artigo, utiliza-se dos métodos histórico, comparativo e
funcionalista.

O resultado parcial se firma na observação de um Direito ainda muito tímido no


que diz respeito à proteção dos Direitos LGBT. Nesse sentido, no Brasil em especial, a
questão jurídica LGBT é fundamentalmente escassa, mesmo diante de relativos avanços
no âmbito internacional.

144
Portanto, observa-se que o avanço dos direitos LGBT ainda é dificultado por
questões religiosas e crenças pessoais. Nesse sentido, no Brasil, isso se torna ainda mais
nítido diante da forte influência da bancada religiosa no Congresso Nacional, grupo que
se mantém ligado a conceitos e ideias conservadores. É mister observar, no entanto, que
no âmbito internacional, o Brasil tem-se mostrado exemplar em relação a essa questão,
ao ter tido participação essencial na Resolução da ONU que reconheceu os Direitos
LGBTI e ao ser um importante receptor de refugiados LGBTI. Urge, por conseguinte, a
criação de políticas públicas e legislações concretas que possam defender de forma mais
efetiva as pessoas inseridas na comunidade LGBTI.

REFERÊNCIAS

ASSUMPÇÃO, Guilherme Kern. Stonewall Uprising: Origem das paradasLGBTQI,


subcultura no crime organizado e desobediência civil. RevistaMemória LGBT, Rio de
Janeiro, v. 3, n. 7, p. 16-19, abr./mai. 2015.

CARROL, Aengus. A World Survey of Sexual Orientation Laws:Criminalisation,


Protection and Recognition. Disponível
em:<http://ilga.org/downloads/02_ILGA_State_Sponsored_Homophobia_2016_ENG_
WEB_150516.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2016.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, ONU, 1948.

MINICURRÍCULO

Jackeline Emília da Silva Albuquerque - Graduanda em Direito pela UFRN. Tem


experiência na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos com ênfase em
Agroindústria.

Lucas Alencar Bezerra - Graduando em Direito pela UFRN. Bom domínio da


comunicação escrita. Curso de inglês completo pelo Senac Idiomas.

Ângelo José Menezes Silvino - Graduado em Direito pela UFRN. Mestre em Direito
Constitucional e Econômico pela UFRN. Doutorando em Direito Humanos e
Desenvolvimento pela UFPB.

145
Mostra Fotográfica
08, 09 e 10 de Novembro, 2017
COORDENADORES: Alexandre Santos (UFRN), Filipe Cabral (UFRN);

Panorama e contextualização

O I Seminário de Direitos Humanos e Lutas por Reconhecimento se propôs a


promover um amplo debate sobre Direitos Humanos, focando as lutas por
reconhecimento dos movimentos de mulheres, de LGBTI, raciais e sua
divulgação nos meios de comunicação e mídias. Esses debates foram trazidos a
partir das experiências práticas e avanços acadêmicos de estudos sobre os temas
de relevância enfocados no Seminário.
Baseado nisso, o evento foi pautado na necessidade de se utilizar linguagens que
abranjam e exprimam um pouco dessa experiência, sendo construído com
debates em mesas redondas, discussões em Grupos de Trabalho, acesso à
reflexão nas conferências e, por fim, a apreciação e oportunidade de usar a arte
como ferramenta de dar voz às lutas e pautas sociais através de ensaios
fotográficos.
Foram dois fotojornalistas que submeteram e expuseram suas fotografias, em três
ensaios ao todo.

146
Título: 27 anos de luta
Autora: Luisa Ambrosina de Medeiros

RESUMO
O MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, é um movimento
social em constante luta pela Reforma Agrária e o direito à terra e trabalho para
todos. O MST esteve envolvido na história das lutas progressivas no Brasil por
30 anos. As fotografias trazem o registro do aniversário de 27 anos do
movimento no Rio Grande do Norte (ou I Circuito Cultural e Mostra de Feira da
Reforma Agrária). Realizado no Centro de Formação Patativa do Assaré, em
Ceará-Mirim, o evento contou com apresentações culturais, debates políticos e
uma mostra de produtos da reforma agrária. Foram registradas desde a
preparação e limpeza do espaço, até os produtos trazidos das diversas regiões do
estado. Vítima de uma incessante criminalização, o movimento encontra
barreiras para sua atuação em todo o país, onde a indústria midiática é um dos
principais fatores para a deturpação da imagem do MST.

147
ENSAIO FOTOGRÁFICO
FOTO 1– Preparativos para o I Circuito Cultural e Mostra de Feira da Reforma
Agrária.

FOTO 02: Militantes realizando a limpeza do Centro de Formação Patativa do Assaré.

148
FOTO 03: Sala decorada para o início do primeiro debate político do evento, voltado
para a luta das Trabalhadoras Rurais. Na extremidade superior direita da imagem, pode
ser observada a mensagem “Sem Feminismo não há socialismo”.

FOTO 04: Finalizando a montagem das tendas para a mostra dos produtos saudáveis
vindo dos diversos assentamentos do estado.

149
FOTO 05: Companheiras Elisângela e Elismara mostrando e vendendo os produtos de
seu assentamento “Retomada Camponesa”, localizado em São Paulo do Potengi.

FOTO 06: Companheira Mauricélia mostrando os produtos de seu assentamento


localizado em João Câmara, chamado “Tomás Baldoíno”. Aqui, as peças foram
produzidas a partir da reciclagem de roupas doadas.

FOTO 07: Aqui os Sem Terrinha se uniram às suas mães para a fotografia da tenda.
Desde pequenos, os filhos dos assentados aprendem a dinâmica da vida no campo, onde

150
sua educação se baseia na busca por uma sociedade justa onde haja terra e trabalho para
todos.

FOTO 08: Durante "mística", uma espécie de prática cultural e política pela qual os
Sem Terra representam o que constitui sua maneira de ser. Na fotografia, a cruz traz
“Dorothy Stang”, uma freira que passou a vida ao lado dos povos nativos da Amazônia
defendendo suas terras. Sendo assassinada por isso.

151
FOTO 09: Sem Terrinha, durante um momento de mística do movimento, trazendo
informações acerca das marchas realizadas pelo movimento no estado.

FOTO 10: Placa localizada na horta comunitária do Patativa do Assaré. Para o


MST, a justiça social e a ecológica andam lado a lado.

152
Título: O belo disforme
Autora: Luisa Ambrosina de Medeiros

RESUMO
O presente ensaio se trata de um recorte do projeto fotográfico “O Belo
Disforme”, produzido pelo grito de uma mulher negra diante dos sufocantes
padrões de beleza impostos social e culturalmente.

"O Belo Disforme" é um projeto de nu artístico idealizado através da busca por


representatividade diante de uma mídia que não é feita, de fato, para mostrar a
diversidade do povo brasileiro. A indústria midiática, em seu histórico, exalta a
imagem da pessoa branca, heteronormativa, e a imagem da mulher enquanto
objeto sexual, provocando uma marginalização e exclusão dos que se encontram
alheios à tais características. Viso usar esse trabalho como uma ferramenta capaz
de exaltar a beleza existente em todos os corpos, buscando a representatividade
dos que comumente são distanciados do quesito de “beleza”, bem como viso
apresentar um estilo de nu conceitualmente belo, que não tenha a sexualidade
como objetivo único, mas que remeta à beleza única de ser o que se é. O projeto
é uma reação aos padrões de beleza racistas e misóginos propostos (e impostos)
pelos grandes canais de comunicação do país, canais que constroem os moldes
que nos comprimem. Enquanto eles vendem as formas que nos enquadram,
enquanto eles capitalizam o padrão... eu socializo a beleza.

153
ENSAIO FOTOGRÁFICO
Fotografia 01: Serei Ar - Jana

Fotografia 02: Serei Ar - Jana

154
Fotografia 03: Nu todo - Giullia

Fotografia 04: Margem - Gil

155
Fotografia 05: Margem - Gil

Fotografia 06: Pedacinho - Gabriel

156
Fotografia 07: Brisar – Paula

Fotografia 08: Palosà margem

157
Fotografia 09: Palosà margem

Fotografia 10: Voltar - Sabrina

158
Título: A força e a beleza da juventude feminina negra
Autor: Filipe Cordeiro Cabral (UFRN)

RESUMO:
O presente ensaio artístico teve como proposta principal registrar e empoderar as
jovens mulheres negras, tentando captar um pouco de suas essências – seja
individual ou coletivamente.

As modelos convidadas para a produção são as Allyne Paz, Beatriz Cordeiro,


Beatriz Cordeiro, Milka Moura e Vitória Santos, ambas jovens
afrodescendentes (alunas de jornalismo) que toparam o desafio do seu primeiro
ensaio e ser sobre o poder que cada uma delas já possui.

O conceito explorado é o jogo de contrastes – pinturas étnicas claras na pele


negra e planos de fundos preto/branco, para na pós produção a edição fechar com
os enquadramentos focalizados nas protagonistas e nos tons que compõem as
fotografias.
No final, o ensaio se resumiu em captar a sororidade delas e suas mútuas
cooperações. Uma informação importante é que as modelos foram
convidadas pouco antes de entrarem no estúdio, logo, foram ainda mais
espontâneas e solidárias com o ensaio e umas com as outras do que já seriam
naturalmente. Através de alguns cliques já se podia perceber o quanto elas
estavam se amando: seus corpos, suas curvas, seus cabelos, seus sorrisos, suas
caras e bocas. A timidez deu lugar a ousadia e ao florescimento.

A escolha da temática se deu pelos ainda latentes números de racismo e


misoginia, sendo algo ainda mais impressionante como isso se dá no mundo da
Comunicação – nas redações, nas agências e nos estúdios – e trabalhar com
juventude é ter oportunidade de moldar o futuro, logo, nada melhor do que
mostrar para essas jovens-mulheres-negras-futuras-jornalistas o quanto poder
elas possuem para mudá-lo.

159
ENSAIO FOTOGRÁFICO

FOTO O1: Todas - abraço

FOTO 02: Todas - sorriso

160
Foto 03 e 04: Vitória

161
Foto 05 e 06: Beatriz Cordeiro

162
FOTO 07 e 08: Beatriz Nascimento

163
FOTO 09 e 10: TODAS - sororidade

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