TV DESTINO

Central Destino de Produção Capítulo 05

MENINAS DO BRASIL
“O MOTIVO DA VOLTA”

UMA NOVELA DE
RAMON FERNANDES
IDEIA ORIGINAL
RYNALDO NASCIMENTO

ESCRITA POR
Ramon Fernandes

DIREÇÃO DE
Teresa Lampreia e Carlo Milani

DIREÇÃO GERAL
DENISE SARACENI

Personagens deste capítulo

BELINHA FREDERICO LAURO ROBERTA
CACAU GLÓRIA MANDRAKE TRIPÉ
CELESTINO HÉLIO MARCELA VICENZO
CENOURA HUGO MARINA VIÚVA-NEGRA
CLARICE HUMBERTO MURILO
DOROTÉIA JULIANO NELINHA
ELIANA JUVENTINA RAFAEL

Participação neste capítulo

TAXISTA/ REPÓRTER

Atenção
“Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA. e por conter informações
confidenciais, não poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer
meio, sem o prévio e expresso consentimento da mesma. No caso de violação do sigilo, a parte infratora
estará sujeita às penalidades previstas em lei e/ou contrato.”
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 2

CENA 01. CASA DE CLARICE. SALA. INTERIOR. NOITE

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR. LAURO RI.
LAURO — Calma minha ciumentinha. A Roberta uma vez me disse
que toda vez que nós estávamos juntos e a Marina tava perto,
ela se doía toda. Ou ela ficava com ciúmes por causa de
mim... Ou por sua causa. Vai saber né...
CLARICE — (ri) Cê tá insinuando que a Marina é lésbica?
OS DOIS RIEM.
LAURO — Não, não. É claro que era por minha causa, ninguém
resiste ao meu charme, eu sei, eu sei.
CLARICE — (bate em seu ombro) Ai, seu bobo. Convencido!
LAURO — Já pensou eu, casado com a presidente do Brasil? O
primeiro-cavalheiro?
OS DOIS RIEM. CLARICE BATE NELE DE BRINCADEIRA. OS DOIS SE BEIJAM
BEM APAIXONADOS. SOBE TEMA.
CORTA PARA:

CENA 02. APARTAMENTO DE ROBERTA. SALA. INTERIOR. NOITE

ROBERTA E DOROTÉIA VENDO TELEVISÃO. CONVERSAM.
ROBERTA — Eu sinto falta daquele tempo. Sinto falta da minha
mãezinha, da amizade de juventude com as meninas, até da
dona Irene, que Deus a tenha eu sinto saudades. E agora a
Marina se candidatando...
DOROTÉIA — Eu vi a tal reportagem, até achei legal uma presidente
mulher no Brasil. Diferente.
ROBERTA — Pois é. É a Marina, aquela minha amiga de antigamente,
enfim.
DOROTÉIA — Se é sua amiga, ela é do bem. Vou votar nela.
AS DUAS RIEM. ELIANA ENTRA NA SALA MEGA-PRODUZIDA. VESTIDO
VERMELHO, MAQUIAGEM QUE DESTACA O SEU ROSTO, CABELO PRESO.
MULHER FATAL. AS DUAS OLHAM.
DOROTÉIA — (surpresa) É a minha filha?
ELIANA SORRI. DOROTÉIA E ROBERTA SE ENTREOLHAM.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 3

ROBERTA e DOROTÉIA — (cantam) Ela é puro êxtase! Êxtase!

AS TRÊS RIEM.
ELIANA — Que delícia. Cai como diamante nos meus ouvidinhos.
ROBERTA — Diz aí prima, aonde você vai toda assim gata?
ELIANA — Vou sair com o meu namorado.
DOROTÉIA — O Vicenzo que se cuide, bonita assim... Juízo hein
menina.
ELIANA — Ai mãe, lição de moral há esta hora não né gata?! Beijos
mil fui. Não me espere para o almoço.
ELIANA RI E SAI RAPIDAMENTE. DOROTÉIA NEGA COM A CABEÇA E RI
JUNTO COM A SOBRINHA.
CORTA PARA:

CENA 03. CASA DE JULIANO. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

FRENTE DA CASA. ROLA SONOPLASTIA: “A THOUSAND MILES” –
VANILLA SKY. ELIANA E VICENZO SE BEIJAM SEM FÔLEGO,
ENCOSTADOS NO CARRO DO GAROTO. ELIANA RI.
ELIANA — Assim você acaba com todo o gás antes da hora.
VICENZO — É você que me deixa assim louco, com esse gás todo,
como você diz.
VICENZO RI. AGARRA A NAMORADA DE VOLTA E A BEIJA COM ARDOR.
ELES SUSSURRAM PALAVRAS COMO: “GOSTOSA” E “TESÃO” UM NO
OUVIDO DO OUTRO. BEIJAM-SE E RIEM BASTANTE. CORTA PARA O
CARRO DE JULIANO QUE VAI ADENTRANDO A CASA. ELE PARA DE LONGE
AO VER O CASAL. OS DOIS NÃO PERCEBEM QUE ESTÃO SENDO
OBSERVADOS. EM JULIANO. ELE SORRI MALICIOSO.
JULIANO — Garota gostosa...
JULIANO RI. VICENZO E ELIANA DO PV DE JULIANO.
CORTA PARA:

CENA 04. SÃO PAULO. EXTERIOR. NOITE

UM STOCK-SHOTS RÁPIDO DE SÃO PAULO. GAROANDO NA CIDADE.
SONOPLASTIA LEVE.
FUNDE PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 4

CENA 05. FAVELA DO URUBU. EXTERIOR. MANHÃ

VAI AMANHECENDO NA CIDADE DE SÃO PAULO E NA FAVELA, FOCADA
NESSA PASSAGEM DE TEMPO. ENTRA SONOPLASTIA: “BOM DIA” –
SCRACHO. AS LUZES DOS POSTES VÃO SE APAGANDO E PESSOAS DA
COMUNIDADE COMEÇAM A SAIR DE SUAS CASAS PARA IR TRABALHAR,
PARA A ESCOLA, ENFIM, REALIZAREM SUAS TAREFAS DIÁRIAS.
CORTA PARA:

CENA 06. SÃO PAULO. PONTO DE ÔNIBUS EXTERIOR. MANHÃ

LOCALIZAMOS UMA PARADA DE ÔNIBUS PERTO DA FAVELA, QUE
TAMBÉM FICA PERTO DA ONG DAS MENINAS DO BRASIL. NA PARADA
ESTÃO CACAU E A FILHA BELINHA. BELINHA BRINCA COM SUA
MOCHILA. CACAU DESATENTA OLHANDO SEU CELULAR.
BELINHA — Olha mãe, que gatinho lindo.
CACAU — (desatenta) Aham.
UM GATO BRANCO DO OUTRO LADO DA RUA. MOVIMENTO COMUM NA
RUA. SONOPLASTIA DE SUSPENSE. BELINHA LEVANTA-SE DO BANCO DA
PARADA E VAI FIXA NO GATO. CORTA PARA UM CARRO QUE VEM A
TODA VELOCIDADE NA RUA. BELINHA NÃO PERCEBE, CACAU MUITO
MENOS. O GATO LÁ E A MENINA INDO PEGÁ-LO. O CARRO VAI COM TUDO
PARA CIMA DA MENINA. CORTA PARA RAFAEL QUE VÊ A CENA E CORRE.
CACAU DESPERTA E VÊ A FILHA EM PERIGO. ELA GRITA. BELINHA
TAMBÉM, ASSUSTADA. RAFAEL PULA EM CIMA DA GAROTA A JOGANDO
PARA O OUTRO LADO DA RUA. O CARRO PASSA A TODA. RITMO DE CENA
VOLTA AO NORMAL.
CACAU — (grita) Minha filha!
RAFAEL LEVANTA BELINHA QUE CORRE PARA OS BRAÇOS DA MÃE.
CACAU — (chora) Ai, minha filha, pelo amor de Deus. Cê quer me
matar de susto?
BELINHA — (chora assustada) Eu não tive culpa mãe. Eu fui pegar o
gatinho.
CACAU VÊ RAFAEL E O AJUDA A LEVANTAR. ELE SE ARRANHOU UM
POUCO.
CACAU — Moço, obrigada por salvar a minha filha. Você está bem?
RAFAEL — É eu acho que sim.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 5

OS DOIS SE ENCARAM. ENTRA SONOPLASTIA: “TUDO DIFERENTE” –

MARIA GADÚ.
CACAU — Eu me distraí com o celular, sou uma irresponsável.
Deveria ficar de olho na Belinha. Sabendo como ela é louca
por bichos.
RAFAEL — Imagina. Isso acontece.
CACAU — Mas você tá todo machucado. Eu vou levar a Belinha para
a escola e nós vamos passar no posto para tratar desses
machucados.
RAFAEL — Não foi nada, moça. Só arranhões de nada.
CACAU — Não! Eu faço questão.
RAFAEL — Que seja então, mas só se você tomar um café comigo.
CACAU — Um suco então. Odeio café.
RAFAEL — (sorri) Tudo bem. (cumprimenta) Rafael, mas pode
chamar de Rafa.
CACAU — (cumprimenta) Cláudia mais conhecida por Cacau.
OS DOIS SORRIEM. BELINHA COM O GATINHO ALI PERTO. SORRI
BRINCANDO, BEM INOCENTE.
CORTA PARA:

CENA 07. SÃO PAULO. AEROPORTO DE GUARULHOS. INTERIOR/

EXTERIOR. MANHÃ
SONOPLASTIA DE SUSPENSE. ENTRE OS QUE DESEMBARCAM NO SALÃO,
CAM DÁ CLOSE EM HÉLIO QUE VEM EMPURRANDO AS SUAS MALAS.
ENTRA SONOPLASTIA: “HEARTBREAK WARFARE” – JOHN MAYER.
TIRA OS ÓCULOS. SÉRIO.
HÉLIO — São Paulo... Agora o assunto é entre nós dois.
HÉLIO VAI ANDANDO PELO AEROPORTO COM AS SUAS BAGAGENS.
CORTA PARA HÉLIO DESPONTANDO NA SAÍDA DO AEROPORTO. ACENA
PARA UM TÁXI E ENTRA RAPIDAMENTE.
CORTA PARA:

CENA 08. TÁXI. INTERIOR. MANHÃ

MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 6

HÉLIO NO BANCO DE TRÁS. TAXISTA NA DIREÇÃO. PAISAGENS DE SÃO

PAULO VISTAS DO PV DE HÉLIO. ELE LIGA PARA ALGUÉM DO CELULAR,
MAS NÃO CHEGA A FALAR. NELE.
CORTA PARA:

CENA 09. FAVELA DO URUBU. CASA DE JUVENTINA. QUARTO DE

JUVENTINA. INTERIOR. MANHÃ
JUVENTINA DEITADA NA CAMA ESTÁ ACORDADA. Atenção Sonoplastia:
Batidas na porta. ELA COM ASPECTO CANSATIVO SE LEVANTA PARA IR
ATENDER.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 10. FAVELA. CASA DE JUVENTINA. SALA. INTERIOR.

MANHÃ
JUVENTINA ABRE A PORTA. É HÉLIO. ELA SE EMOCIONA. OS DOIS
TROCAM OLHARES MAREJADOS. MÃE E FILHO SE ABRAÇAM
EMOCIONADOS.
JUVENTINA — Meu filho. Meu Hélio, você voltou!
HÉLIO — Ô mãe, que saudades eu senti longe da senhora.
JUVENTINA — (chora) Ocê nem sabe, eu senti muito mais.
ELA ESFREGA O ROSTO DO RAPAZ, COM CARINHO, MAS COM FORÇA,
PARA VER SE ELE REALMENTE ESTÁ ALI.
JUVENTINA — Diz que você não vai mais fazer isso de novo com a sua
velha mãe?
HÉLIO — Nunca mais, mãe. Nunca mais.
UM NOVO ABRAÇO APERTADO. JUVENTINA VAI PUXANDO O FILHO PARA
SENTAR-SE EM UMA CADEIRA ALI.
JUVENTINA — Vem cá, me conta. (pausa) Porque você voltou da Europa
assim tão repentino? Tem algum motivo?
HÉLIO — (sério) Tem sim. A senhora sabe o motivo da minha volta.
JUVENTINA FICA PREOCUPADA. HÉLIO SEGURA A SUA MÃO.
HÉLIO — Eu voltei para fazer justiça mãe. Justiça com o meu
passado, com o passado da senhora... E quem sabe com o
passado de tanta gente desse Brasil.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 7

JUVENTINA PASSA A MÃO PELO ROSTO DO FILHO QUE BEIJA A SUA MÃO.
CORTA PARA:

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 11. RIO GRANDE DO SUL. PORTO ALEGRE. EXTERIOR.

NOITE
UM STOCK-SHOTS DE PORTO ALEGRE À NOITE. OS PONTOS DA CIDADE
BEM DESTACADOS. ENTRA SONOPLASTIA: “A BOY WITH A DREAM” –
DAN TORRES.
CORTA PARA:

CENA 12. SEDE DO PARTIDO PTS. SALA DE FREDERICO.

INTERIOR. MANHÃ
MARINA PEGANDO SUA BOLSA E DANDO UM BEIJO EM FREDERICO.
MARINA — Já estou indo então, meu amor. Mas não esquece hein!
Quero os meus dólares na conta até a tarde.
FREDERICO — Vou tentar Marina.
MARINA — (corta) Você vai conseguir! (se controla/ afável) Você não
é homem de tentar meu amor, você é um sucesso!
Conseguirá, eu sei disso.
FREDERICO CONCORDA MESMO CONTRARIADO E ESPERA ALGUNS
SEGUNDOS. PEGA O TELEFONE.
FREDERICO — (tel.) Dona Nelinha, pode vir até a minha sala?
FREDERICO DESLIGA. SEGUNDOS DEPOIS. ABRE-SE A PORTA DE SUA
SALA. ROLA SONOPLASTIA: “SUPER MULHER” – ANA CAÑAS. ENTRA
NELINHA, EM UM MODELO JUSTÍSSIMO, DE ONCINHA.
NELINHA — Chamou chefinho?
FREDERICO SORRI MALICIOSO. VAI ATÉ A FRENTE DE SUA MESA E
SENTA-SE SOBRE ELA.
FREDERICO — (batendo na coxa) Vem cá vem, senta aqui um pouquinho.
Vem discutir as próximas eleições, nossas propostas de
campanha, minha oncinha particular.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 8

NELINHA — (maliciosa) Ai, será que eu devo, chefinho? Aliás, eu acho

que o senhor é que não deve, não está merecendo.
FREDERICO — Ah, eu mereço sim, To sendo tão bonzinho.
NELINHA VAI ATÉ FRED E SENTA-SE NO SEU COLO. OS DOIS RIEM E SE
BEIJAM COM ARDOR. ELE A AGARRA E VAI JOGANDO AS COISAS DE SUA
MESA NO CHÃO. ELA VAI TIRANDO A ALÇA DO MICRO-VESTIDO E SE
JOGANDO SOBRE ELE. OS DOIS SE AGARRANDO E SE BEIJANDO COM
MUITO TESÃO E ENTREGA.
NELINHA — Meu tesudo!
FREDERICO — Você ainda não viu nada.
FREDERICO MORDE A ORELHA DE NELINHA QUE GEME DE PRAZER.
CORTA PARA A ENTRADA NA SALA DE HUMBERTO. ELE ENTRA E SE
ESPANTA. FORÇA UMA TOSSE. FREDERICO SE DÁ CONTA E EMPURRA
NELINHA NO CHÃO. FREDERICO ASSUSTADO. ENCERRA SONOPLASTIA.
NELINHA LEVANTA-SE E VAI SE ARRUMANDO RAPIDAMENTE.
HUMBERTO —Interrompo?
FREDERICO — Não, imagina!
FREDERICO VAI ARRUMANDO A CAMISA E INDO SENTAR EM SEU LUGAR.
FREDERICO — Eu e a dona Nelinha estávamos aqui repassando as nossas
estratégias para a campanha da Marina.
HUMBERTO — Que estratégias, hein! Assim vamos vencer fácil.
FREDERICO — (sem graça) Pode ir, dona Nelinha.
NELINHA — (ri) Com licença.
NELINHA SAI. O POLÍTICO SENTA EM SEU LUGAR.
FREDERICO — Mas porque se abalou de São Paulo até aqui?
HUMBERTO — Como assim, Frederico?! Você não se lembra da nossa
reunião? A nossa reunião mensal do partido, cara. Mas
também, com tantas estratégias. Qualquer homem esquece.
FREDERICO — (ri) Olha lá hein! Estratégias sérias.
OS DOIS RIEM. VÃO FALANDO FORA DE ÁUDIO.
CORTA PARA:

CENA 13. CASA DE CLARICE. SALA DE JANTAR. INTERIOR.

MANHÃ
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 9

CLARICE E ROBERTA TOMAM CAFÉ DA MANHÃ. CONVERSA JÁ INICIADA.

ROBERTA — O Lauro e a Marcela estão em casa?
CLARICE — Não, não. O Lauro saiu cedo para a clínica e a Marcela
aproveitou a carona para o colégio. Foi resolver os últimos
preparativos para a formatura.
ROBERTA — Nossa, eu nem lembrava. Já é agora, não é?
CLARICE — No fim da semana que vem. Resolveram adiar perto das
festas de fim de ano para o colégio comemorar o
cinqüentenário.
ROBERTA — E ano que vem faculdade! Como o tempo passa rápido,
minha amiga. Ela já sabe que faculdade vai fazer?
CLARICE — Ela me disse que quer entrar para Sociologia.
ROBERTA — Olha, o mesmo que você fez.
CLARICE — (ri) Realmente... E você, quando vai arrumar alguém,
casar e ter uns filhinhos para se preocupar também, hein?
CLARICE RI. ROBERTA SEM GRAÇA.
ROBERTA — Ai, Clarice, o meu tempo já passou, já foi.
CLARICE — O que é isso, Roberta? Não é assim que se fala. Você é
jovem ainda, linda e cheia de vida. Tem que casar com um
homem lindo e cheiroso (ri) e ter vários filhinhos. Uma prole!
Ah, e me convidar para madrinha.
ROBERTA — (ri) Pode deixar, eu convido você e a Marina também.
(pausa) Só falta encontrar essa doida.
CLARICE — Bom, nesse caso eu acho mais fácil encontrá-la, já que a
Marina vai ser o principal assunto no próximo ano aqui no
Brasil e quem sabe no mundo.
ROBERTA — Que loucura, não é menina? A Marina, aquela pirralha que
era a nossa amiga presidente da República!
CLARICE — Pois é.
AS DUAS CONTINUAM O CAFÉ. CLARICE DÁ UM PULO DA CADEIRA,
EMPOLGADA.
CLARICE — Hei, eu tive uma ideia, tá, é meio louca, mas...
ROBERTA — (empolgada) Fala.
CLARICE — Vamos para Porto Alegre visitar a Marina?
ROBERTA — (ri) Hoje?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 10

CLARICE — Sim, pode ser hoje. Agora que nós sabemos onde ela está,
sabemos como está não custa nada a gente correr atrás e
resgatar aquela velha amizade.
ROBERTA — Talvez ela até nos ajude com a ONG.
CLARICE — Talvez, mas eu não quero pedir nada á ela. Não quero
favorecimento político.
ROBERTA — Claro, é um direito seu não querer pedir nada, mas eu
quero sim. Eu quero ir atrás da Marina, conversar com ela.
Reviver o passado quem sabe.
CLARICE — Está certo então. (empolgada) Vou comprar as passagens
para Porto Alegre ainda hoje.
ROBERTA — Que emoção, Clarice! As três juntas de novo.
ROBERTA E CLARICE EMPOLGADAS COM A IDEIA.
CORTA PARA:

CENA 14. LANCHONETE. FRENTE. EXTERIOR. MANHÃ

EM UMA DAS MESINHAS DA FRENTE DA LANCHONETE, CACAU E RAFAEL
TOMAM UM SUCO, ENQUANTO CONVERSAM.
RAFAEL — Então você mora na favela do Urubu? Engraçado, nós
nunca nos cruzamos por lá.
CACAU — Pra você ver como é a vida. Precisou acontecer essa quase
tragédia pra nos conhecermos.
RAFAEL — (sem graça) Sim. Foi bom te conhecer. (pausa) Novas
amizades são sempre bem vindas.
CACAU — Com certeza. Mas me diz o que você faz da vida?
RAFAEL — Sou professor de cursinho, mas fica na Zona Leste, longe
pra caramba.
CACAU — (ri) Sei bem, conhecida como “zona Lost”.
OS DOIS RIEM.
RAFAEL — E você faz o que? Só tem a Belinha?
CACAU — Só a Belinha, sou muito nova pra ter mais filhos. Eu na
verdade estou procurando emprego. Sabe como é difícil
darem emprego para uma ex-detenta né...
RAFAEL — (surpreso) Você já foi presa?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 11

SEGUNDOS E CACAU CAI NA GARGALHADA. RAFAEL NÃO ENTENDE.

CACAU — Cê precisava ter visto a tua cara agora. (pausa) É claro que
não. Nunca fui presa.
RAFAEL RI SEM GRAÇA. SOBE TEMA DOS DOIS. O CASAL CONVERSANDO
ENCANTADO UM COM O OUTRO. TOMAM SUCO, BEM ANIMADOS.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 15. FAVELA DO URUBU. EXTERIOR. MANHÃ

TAKES DA FAVELA. MOVIMENTO NO LOCAL. ENTRA SONOPLASTIA:
“HIM” – LILY ALLEN. CORTA PARA OS MORADORES ENTRANDO NA
KOMBI DIRIGIDA POR TRIPÉ. ELE VAI FALANDO COM OS PASSAGEIROS
EM OFF. A KOMBI PERCORRENDO DIVERSOS PONTOS DA FAVELA.
EXPLORAR BEM O LOCAL. VAI BRIGANDO AO LONGO DO TRAJETO COM
ALGUMAS PESSOAS. CUMPRIMENTA OUTROS NA RUA. A KOMBI VAI
FAZENDO SEU CAMINHO.
CORTA PARA:

CENA 16. FAVELA. BORRACHARIA DE HUGO. FRENTE.

INTERIOR/EXTERIOR. MANHÃ
TRIPÉ E SUA KOMBI NA BORRACHARIA. HUGO REVISA A MESMA ALI E
VAI FALAR COM O AMIGO. NA BORRACHARIA, VÁRIOS PÔSTERES DE
MULHERES PELADAS NAS PAREDES. UM AMBIENTE BEM COMUM. TRIPÉ
OLHANDO ALGUMA REVISTA DE CARROS.
HUGO — Olha, é aquele problema de sempre. O escapamento tá
furado de novo.
TRIPÉ — Pô, um dia eu ainda jogo essa lata velha por qualquer beco
aí da favela e compro uma nova.
HUGO — (ri) Quando acertar na loteria, meu amigo.
TRIPÉ — (desanimado) É.
OS DOIS OLHAM PARA A RUA. MURILO PASSA POR ALI COM ALGUMAS
SACOLAS DE COMPRAS. GLÓRIA TAMBÉM VAI VINDO, MAS UM POUCO
DISTANTE DO GAROTO E MAIS PRÓXIMA DA BORRACHARIA, ENQUANTO
MURILO ESTÁ DO LADO CONTRÁRIO DO LOCAL.
HUGO — Ó lá, lá vai o viadinho.
TRIPÉ — Cê acha mesmo, cara?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 12

GLÓRIA SE APROXIMA SEM SER NOTADA.

HUGO — Se eu acho o que? Que o Murilo vira a mão desmunheca?
TRIPÉ — É, é. Se tu acha que o Murilo é gay?
GLÓRIA ESPANTADA.
HUGO — Cara, eu tenho certeza. Já viu o jeitinho dele todo, todo? E
nos cultos mesmo, ele fica secando os rapazes, eu já o vi me
secando.
TRIPÉ — Um rapaz cheio de vida e não querendo mulher. (ri) O
bom é que sobra mais pra quem curte mulher de verdade né?
HUGO — (ri) Pois é. Se o pai dele não se preocupa com o filho ser
baitola, quem somos nós?!
OS DOIS RIEM. GLÓRIA CHOCADA COM A MÃO NA BOCA.
CORTA PARA:

CENA 17. FAVELA. SOBRADO DE CELESTINO. SALA. INTERIOR.

MANHÃ
CELESTINO LEVANTA-SE FURIOSO. GLÓRIA ALI.
CELESTINO — Como é que é?!
GLÓRIA — Pastor, o senhor sabe que eu não gosto de fofoca, mas foi
isso mesmo que eu acabei de conta pro senhor. Eles
comentaram isso quando viram o Murilo passando em frente
da borracharia.
CELESTINO FURIOSO ANDA PELA SALA. GLÓRIA PREOCUPADA.
CELESTINO — (grita) Esses hereges, filhos de Satanás! Como ousam falar
isso do meu filho, de um menino como o Murilo?
NESSE MOMENTO MURILO ENTRA VINDO DA RUA COM AS SACOLAS.
CELESTINO — Murilo!
MURILO — Quê foi pai?
CELESTINO — (alterado) Vem aqui agora. (pausa) A dona Glória veio me
contar uma coisa que eu não estou acreditando até agora.
MURILO — (nervoso) E o que é?
GLÓRIA — Murilo. Eu espero que não seja verdade. Ia ser um
desgosto enorme para o seu pai que não merece isso.
MURILO — Fala pai, tá me assustando.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 13

CELESTINO — Mas é pra assustar mesmo. (calmo/ respira fundo) O Hugo

da borracharia e o tal do Tripé comentaram que você...
(altera-se) Que você é viado!
MURILO — (assustado) O que?!
MURILO NERVOSO. CELESTINO ALTERADO, QUERENDO EXPLICAÇÕES.
CORTA PARA:

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 18. FAVELA. RUA. EXTERIOR. MANHÃ

A TURMA DE MANDRAKE REUNIDA EM FRENTE À UMA CASA. USAM
DROGAS, VENDEM ARMAS, TRAFICAM, TUDO AO AR LIVRE. SEM
PREOCUPAÇÃO NENHUMA. CORTA PARA CENOURA QUE VEM VINDO
MAIS ADIANTE. VÊ O GRUPO DE MANDRAKE E PENSA EM RECUAR, MAS
SEGUE CAMINHO. VIÚVA-NEGRA AO VER O GAROTO, CUTUCA
MANDRAKE QUE RI.
MANDRAKE — E aí moleque! Quer dar um pega?
MANDRAKE OFERECE UM CIGARRO. CENOURA ASSUSTADO.
CENOURA — (tímido/ medroso) Não senhor, obrigado.
VIÚVA-NEGRA — Que isso, Cenoura! Tua coroa nem precisa ficar sabendo.
Aquela crente besta.
TODOS NA RODA RIEM. CENOURA AINDA COM MEDO. MANDRAKE RI E SE
APROXIMA.
MANDRAKE — Nóis tá precisando de um pivete assim novinho pra fazer a
nossa boca fora do morro. Tá afim?
CENOURA TRANSPIRA FRIO. MANDRAKE SE APROXIMA DO SEU ROSTO E
RI BAIXINHO. OLHA-SE COM OS OUTROS TRAFICANTES.
CENOURA — (já saindo) Eu tenho que ir.
CENOURA SAI DALI CORRENDO. MANDRAKE E A SUA TURMA RIEM.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 19. FAVELA. SOBRADO DE CELESTINO. SALA. INTERIOR.

MANHÃ
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 14

CONTINUAÇÃO DA CENA 17. CELESTINO QUASE TENDO UM ATAQUE.

MURILO ASSUSTADO RECUA. GLÓRIA SEM SABER O QUE FAZER.
CELESTINO — (grita) Fala Murilo! Isso é verdade? Você é gay? Você é
essa aberração da natureza?
MURILO — É claro que não pai. Esses caras estão loucos, falam de
tudo e de todos.
GLÓRIA — (aliviada) Eu sabia. O Murilo é um servo do Senhor,
nunca ia se desvirtuar, pastor.
MURILO OLHANDO PARA CELESTINO QUE SE APROXIMA O OLHANDO
NOS OLHOS.
CELESTINO — Tem certeza Murilo?
MURILO — Poxa, pai. Você vai dar ouvido ao que os outros falam de
mim? Na certa, as pessoas falam pelo meu jeito, criado nas
regras de Deus, dentro da santa igreja. É isso, ando sempre
com essas roupas sociais. Eu falei, se o senhor me deixasse
andar com roupas normais./
CELESTINO — (corta) Estas são roupas normais de rapaz direito que
segue os preceitos. (pausa/ calmo) Bom, é isso. Mas esses
hereges, filhos do Demônio vão pagar no fogo do Inferno
pelas línguas ferinas.
GLÓRIA — (incita) Isso mesmo, pastor Celestino!
CELESTINO — Eu vou proibir a entrada deles dentro do templo do Senhor
e eu mesmo vou cobrar explicações deles.
MURILO —(preocupado) Por favor, pai. Não vamos criar caso por
isso.
GLÓRIA — Por isso, Murilo? Eles mancharam o seu nome e o nome
imaculado do seu pai!
MURILO — Mas é arrumar confusão por nada. Eu não ligo para o que
as pessoas falam de mim. Eu sei que eu não sou isso que eles
falam.
MURILO SAI RUMO AO QUARTO. SOBE AS ESCADAS. GLÓRIA O
ACOMPANHA COM OS OLHOS.
GLÓRIA — Pastor, não fica assim. Estes pecadores vão ter o castigo
divino. Não faça nada que poderá manchar o nome do nosso
templo.
CELESTINO PENSA ALGUNS SEGUNDOS.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 15

CELESTINO — (confirma) Está certo. Eu não vou fazer nada, mas da

próxima vez eu juro para a senhora, dona Glória, que eu
mesmo faço justiça em nome do meu filho.
GLÓRIA CONCORDA COM A CABEÇA. EM CELESTINO.
CORTA PARA:

CENA 20. FAVELA. CASA DE JUVENTINA. QUARTO DE HÉLIO.

INTERIOR. MANHÃ
HÉLIO FOTOGRAFA COM SUA CÂMERA A PAISAGEM DA SUA JANELA QUE
DÁ PARA A FAVELA. ELE PEGA ALGUNS ÂNGULOS. JUVENTINA ENTRA
TRAZENDO UM PRATO DE COMIDA.
JUVENTINA — Filho. Trouxe o seu almoço.
HÉLIO — Oi mãe. A senhora não precisava se incomodar, eu comia
com a senhora lá na cozinha.
JUVENTINA — Eu não vou almoçar, só fiz pra ocê. Nem tenho fome.
JUVENTINA ENTREGA O PRATO PARA HÉLIO QUE DEIXA A CÂMERA EM
CIMA DA CAMA E SENTA PARA ALMOÇAR EM UMA ESCRIVANINHA.
JUVENTINA SENTA-SE NA CAMA, PREOCUPADA. HÉLIO PERCEBE.
HÉLIO — A senhora quer me perguntar alguma coisa, não é?
JUVENTINA — Na verdade eu quero. É uma coisa que tá me intrigando e
só você pode me deixar mais calma, Hélio.
HÉLIO — É sobre aquele assunto?
JUVENTINA CONFIRMA COM A CABEÇA. HÉLIO PARA DE COMER. CLIMA
DE TENSÃO NO AR, ATÉ O FIM DA CENA.
HÉLIO — O assunto que a senhora nunca quis me contar. (pausa)
Sobre o meu pai.
JUVENTINA — Mas eu quero contar agora. Eu estou pronta, você me
julgando ou não, eu sou a sua mãe e acho que cê tem o direito
de saber da verdade.
HÉLIO — Pode falar mãe. Estou preparado.
JUVENTINA NERVOSA OLHA PARA O FILHO.
JUVENTINA — O que eu vou falar agora é sobre o meu passado e pode
significar o seu futuro, meu filho. (pausa) Cê sabe que eu
anos atrás trabalhei como empregada na casa de uma família
muito rica.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 05 PÁG.: 16

HÉLIO — Braga Motta.

JUVENTINA — Isso. (pausa) Sabe que eu tive um caso com o meu patrão,
ele me seduziu e eu apesar de ser mais velha, me deixei
levar./ (corta) Eu vou confirmar as suas suspeitas, Hélio meu
filho. (pausa) O seu pai tem grandes chances sim de ser o
homem que você sempre pensou que era. Sales Motta!
JUVENTINA ENGOLE SECO. LEVANTA-SE ATÔNITA.
JUVENTINA — Me perdoa meu filho?
JUVENTINA CHORAMINGA. HÉLIO ENCARA A MÃE E A ABRAÇA.
HÉLIO — Ô, dona Juventina. Eu não tenho nada o que perdoar. Você
me escondeu isso esse tempo todo por medo, insegurança, ou
sei lá o que, mas eu posso te entender.
JUVENTINA — (chora) Eu fui covarde, Hélio.
HÉLIO — Para com isso, mãe. Para, porque a senhora nunca foi
covarde nessa vida, não fala isso!
HÉLIO VEM TRAZENDO A MÃE PELA MÃO.
HÉLIO — Vem senta aqui que como a senhora abriu o seu coração,
eu também quero te contar o porque de eu estar aqui. Os
meus motivos de voltar da Itália depois desses anos todos.
JUVENTINA — Conta filho.
HÉLIO VAI ATÉ UMA MALA SUA E TIRA LÁ DE DENTRO UM ENVELOPE
COM ALGUNS PAPÉIS E ESPALHA SOBRE A CAMA. JUVENTINA ATENTA.
ENTRE OS PAPÉIS, TEM FOTOS DE SALES MOTTA, DE MARINA CRIANÇA,
IRENE, ENFIM, DE ALGUMAS PERSONALIDADES DA DÉCADA DE 1970.
HÉLIO — Quando eu trabalhava em Roma, recebi uma ligação de
Veneza de um homem, um empresário, marcando um
encontro comigo. (pausa) Ele queria me passar informações
que eu já estava pesquisando já alguns anos.
JUVENTINA — Informações sobre o seu pai?
HÉLIO — (confirma) É. Sobre o Sales Motta. Lembra quando a
senhora uma vez deixou escapar isso quando tivemos uma
briga?
JUVENTINA — E me arrependo até hoje por ter dito aquilo naquele
momento. Não era a melhor hora, meu filho.
HÉLIO — É passado, mãe. Não guardo mágoas, nem a senhora deve
se culpar. (pausa) Eu encontrei com esse homem em Veneza,
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o nome dele é Humberto Pitangueira, ele é deputado

conhecido. Ele levou documentos da época em que o Sales
mantinha contato com várias empresas brasileiras, inclusive,
muitas delas ligadas ao órgão do governo.
JUVENTINA — O governo metido nisso?
HÉLIO — Pra senhora ver. Mas enfim, o que me chamou a atenção
foi que dentre esses documentos tinha uma caderneta com
codinomes, apelidos... Eu fui pesquisando as
“personalidades” da época e alguns destes nomes eram de
traficantes famosos no Rio, em São Paulo e outras capitais.
Tinha até traficante do Uruguai. E tinha convidados na festa
que sabiam disso.
CLIMA DE TENSÃO. CLOSE DE JUVENTINA CHOCADA.
HÉLIO — O Sales era visado por muita gente perigosa. Quando eu
voltei para Roma eu logo fiz contato com um velho amigo
jornalista de Belo Horizonte que tinha feito alguns favores da
época da Ditadura porque apoiava os militares, enfim, e ele
conseguiu para mim uma das informações mais importantes
conseguidas nessa minha pesquisa.
JUVENTINA — O que foi?
HÉLIO — No necrotério, eles ocultaram que o Sales na verdade tinha
morrido por envenenamento, não por morte natural.
JUVENTINA — Como assim, meu filho? Cê tá querendo me dizer que./
HÉLIO — Não estou querendo dizer mãe, eu estou afirmando. O
Sales foi envenenado, ele foi assassinado por um dos
convidados na noite da festa na sua casa.
JUVENTINA COLOCA A MÃO NA BOCA, MUITO ASSUSTADA. EM HÉLIO.
CORTA PARA:

CENA 21. CASA DE CLARICE. SUÍTE DE CLARICE E LAURO.

INTERIOR. TARDE
CLARICE PEGANDO SUAS ROUPAS NO CLOSET E COLOCANDO DENTRO DA
MALA. MARCELA ENTRA NO QUARTO.
CLARICE — Marcela! Foi Deus que te mandou aqui, minha filha.
MARCELA — (ri) Credo, mãe. O que aconteceu?
CLARICE — Me ajuda com essas malas?
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AS DUAS RIEM.
MARCELA — Ah, mãe. Eu sou péssima em arrumar qualquer coisa que
seja, desculpa. Pede pra Nita, ela te ajuda.
CLARICE — Não vou tirar a Nita do trabalho dela para me ajudar com
as malas, não é Marcela? Não sou assim.
SENTA NA CAMA.
MARCELA — Tem certeza que vai viajar para Porto Alegre?
CLARICE DEIXA A MALA ALI E SENTA PERTO DA FILHA.
CLARICE — Se eu não fizesse esse favor pra mim mesma, eu não
estaria sendo coerente com as minhas ideias, filha. Eu tinha
uma amizade com a Marina e agora que eu vi uma chance de
encontrá-la e nós resgatarmos aquela fase, porque eu não
faria?
MARCELA PENSATIVA.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 22. APARTAMENTO DE ROBERTA. QUARTO DE ROBERTA.

INTERIOR. TARDE
ROBERTA E DOROTÉIA. ROBERTA JÁ COM AS MALAS PRONTAS.
CONVERSA JÁ INICIADA.
DOROTÉIA — Não sei filha. É estranho querer retomar uma amizade
assim depois de tantos anos.
ROBERTA — Mas se não tentarmos como vamos saber se vai ser difícil?
DOROTÉIA — Realmente, isso é.
DOROTÉIA ACARINHA A SOBRINHA.
DOROTÉIA — Eu fico preocupada com você, Roberta.
ROBERTA — Porque tia? Eu já sou bem grandinha, sei me cuidar (ri).
DOROTÉIA — Eu sei filha, mas na ausência da sua mãe, eu que estou
tomando conta de você e não quero que nada mal te aconteça
nesta viagem.
ROBERTA — (sorri) Não vai acontecer nada, tia.
ROBERTA APERTA A MÃO DA TIA. AS DUAS SORRIEM.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
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CENA 23. FAVELA. CASA DE JUVENTINA. QUARTO DE HÉLIO.

INTERIOR. TARDE
CONTINUAÇÃO DA CENA 20. JUVENTINA ESTUPEFATA.
JUVENTINA — O que é isso, Hélio?! Isso não pode ser verdade, pelo amor
de Cristo./
HÉLIO — É verdade sim, mãe. Infelizmente, ou felizmente, uma das
pessoas que estava na festa na casa do Sales naquela noite da
morte dele o envenenou. É isso que eu vim fazer em São
Paulo, eu quero desvendar esse mistério todo que cerca a
morte do meu pai.
JUVENTINA — Cuidado, meu filho. Se for isso mesmo, se a pessoa que
matou o Sales estava envolvida com o tráfico como você
disse, sabia da ligação dele com isso tudo, você corre perigo
se ocê se meter nessa história.
HÉLIO — (confiante) Eu não tenho medo do que possa acontecer,
dona Juventina. Eu só tenho raiva pelo que aconteceu com a
senhora. (pausa) Quero ser reconhecido como filho deste
homem, eu quero a minha identidade de volta.
HÉLIO DECIDIDO ENCARA JUVENTINA.
JUVENTINA — Senso de justiça às vezes se paga caro, Hélio.
HÉLIO — E às vezes nunca se paga. Eu quero a minha identidade, é
uma coisa minha. A senhora não vai poder me impedir, mãe.
E eu passo por cima de quem for para conseguir isso!
JUVENTINA PASSA A MÃO PELO ROSTO DE HÉLIO. NEGA COM A CABEÇA.
JUVENTINA — Eu não vou.
HÉLIO — Então, me deixa continuar a história para a senhora.
JUVENTINA — Sim, pode falar.
HÉLIO — Como eu disse pra senhora, muita gente sabia que o Sales
mantinha esses contatos com o tráfico e os órgãos do
governo, mas eu ainda não sei se a pessoa ou as pessoas que
fizeram isso estão também metidas em toda a jogada. (pausa/
triste) Aliás, eu não sei se nem elas estão vivas mais.
JUVENTINA — É um risco que se corre. De você nunca conseguir provar
nada.
HÉLIO — Tenho confiança que vou conseguir mãe. (pausa) A viúva
dele, a tal Irene Braga Motta, por exemplo, já faleceu. Se por
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um acaso ela tiver sido a assassina do marido, nunca

saberemos, mas eu vou investigar mais a fundo o caso. Tenho
muita coisa a fazer a respeito.
JUVENTINA — Será que a própria esposa tinha motivos pra isso?
HÉLIO — Tinha o lance da herança. O Sales era riquíssimo, não só
graças aos negócios como ao tráfico. Mas eu descobri através
de registros da época, que a própria Irene era um alvo fácil.
JUVENTINA — Como assim?
JUVENTINA FAZ UMA EXPRESSÃO CHOCADA. EM HÉLIO. CONGELA.
CORTA PARA:

EFEITO FINAL: O ROSTO DE HÉLIO FICA CINZA, ENQUANTO O PLANO

DE FUNDO É PREENCHIDO COM AS CORES DA BANDEIRA DO BRASIL.

FIM DO CAPÍTULO 05

Créditos sobem ao som de: “Como Nossos Pais – Elis Regina”.