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Editorial
Ana Maña López Calvo de Feijoo, Adriana Benevides Soares, Alexandra Cleopatre
Tsallis, Deise Mancebo, Deise María Leal Fernandes Mendes, Rita María Manso de
Barros.
p. 702-705
Artigos
Psicología Fenomenológica, Psicanálise existencial e possibilidades clínicas
a partir de Sartre
André Barata Nascimento, Carolina Mendes Campos, Fernanda Alt
p. 706-723
Liberdade, alienacao e criacao literaria: reflexóes sobre o homem
contemporáneo a partir do existencialismo sartriano
Amana Rocha Mattos, Ariane Patricia Ewald, Fernando Gastal de Castro
p. 724-766
Um olhar sartriano para o especialismo "psi" contemporáneo
Michelle Thieme de Carvalho Moura
p. 767-791
O debate entre paganismo e cristianismo em duas obras de Kierkegaard:
contribuicóes para urna reflexao sobre os processos de subjetivacáo
Cristine Monteiro Mattar
p.792-816
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología | Rio de Janeiro | v. 12 | n. 3 | p. 700-701 | 2012
Atendimento psicológico em instituicóes: da tradicao á fenomenología
existencial
Juliana Vendruscolo
p. 897-910
Desdobramentos clínicos das propostas humanistas em processos de
promocao da saúde
Marcia Alves Tassinari
p. 911-923
Suicidio de universitarios: o vazio existencial de jovens na
contemporaneidade
Elza Dutra
p. 924-937
Mundo como fundamento da psicoterapia de grupo fenomenológica
Luís Eduardo Frangáo Jardim
p. 938-951
Reflexóes fenomenológico-existenciais para a clínica psicológica em grupo
Ana Tereza Camasmie, Roberto Novaes de Sá
p. 952-972
A clínica psicológica em urna inspiracao fenomenológica - hermenéutica
Ana Maña López Calvo de Feijoo
p. 973-986
Da crise do sujeito á superacao da confissao clínica
Alexandre Marques Cabral
p. 987-1006
A Clínica como poiética
Mónica Botelho Alvim
p. 1007-1023
Segao Clio-Psyché
Historia e reflexao sobre as políticas de saúde mental no Brasil e no Rio
Grande do Sul
Miriam Thais Guterres Días
p. 1024:1045
A experiencia de autores judeus da psicoiogia sobreviventes do holocausto
Milena Callegari, Marina Massimi
p. 1046:1062
Comunicagao de Pesquisa
Resénha
Deise Mancebo**
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ - Rio de Janeiro, RJ, Brasil
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 702-705 2012
perspectiva existencial e humanista; corpo e corporeidade. O primeiro
artigo é da autoría de um estudioso reconhecido em seu país de
origem, Portugal. Trata-se de André Barata que, em parceria com duas
brasileiríssimas, Carolina Campos e Fernanda Alt, escreveu um texto
sob o título Psicología Fenomenología, Psicanálise existencial e
possibilidades clínicas a partir de Sartre.
Sartre foi tema de outros artigos. Em Liberdade, alienagáo e criagáo
literaria: reflexoes sobre o homem contemporáneo a partir do
existencialismo sartriano, Amana Rocha Mattos, Ariane Patricia Ewald
e Fernando Gastal de Castro, inspirados na nogáo de liberdade
desenvolvida por Sartre, tratam dos aspectos sócio-históricos e
filosóficos do surgimento e consolidagáo da modernidade. Michelle
Thieme, também com base no pensamento de Sartre, discute os
especialismos em: Humano, científicamente humano? Um olhar
sartriano para o especialismo psi contemporáneo.
Dois artigos abordam a filosofía de Sóren Kierkegaard, trazendo á
Psicología a complexidade das reflexoes deste filósofo sobre a
existencia humana. Sao
eles: O debate entre paganismo e o cristianismo, de Cristine Monteiro
Mattar e Reflexoes sobre as bases para a edificagao de uma Psicología
kierkegaardiana, de Myriam Moreira Protasio.
Dentre os artigos que tratam da fenomenología encontramos em
Adriano Holanda um estudo histórico intitulado O método
fenomenológico em Psicología, uma leitura de Nilton Campos. Holanda
nos lembra como Nilton Campos introduziu no Brasil, no ano de 1945,
a fenomenología por meio de estudos serios e bem fundamentados. No
artigo de Carlos Tourinho, intitulado A consciéncia e o mundo na
fenomenología de Husserl: influxos e impactos sobre as ciencias
humanas, encontramos os fundamentos da fenomenología e uma
defesa da atitude fenomenológica em Husserl, com vistas á
consciéncia transcendental. Por fim, Roberto Kahlmeyer-Mertens traz a
discussáo sobre intencionalidade e Psicología, com o título
Intencionalidade: uma estrutura necessária para uma Psicología com
bases fenomenológicas.
Entre os artigos que tratam das práticas psicológicas que se
desenvolveram com base nos referenciais humanistas, existenciais e
fenomenologicos encontramos artigos que tratam da clínica psicológica
em saúde pública. Dentre eles, um artigo que articula com maestría a
clínica psicológica com as políticas públicas, cujo título é O plantáo
psicológico como possibilidade de interlocugao da Psicología clínica
com as políticas públicas, escrito em parceria por Emanuel Meireles
Vieira e Georges Daniel Janja Bloc Boris. Juliana Vendruscolo traz um
artigo que versa sobre Atendimento psicológico em instituigáo: da
tradigáo a fenomenología existencial. Márcia Tassinari discute em seu
Notas
*Professora Adjunta do Instituto de Psicología da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
**Professora Titular do Instituto de Psicología da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Fernanda A l t * * *
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brasil
RESUMO
Esse artigo visa clarificar o ámbito preciso em que se constituem tres
campos distintos de consideragao do pensamento de Sartre para o universo
da psicología. Em primeiro lugar, o campo de urna psicología fenomenológica
sartriana, particularmente aprofundado na fase inicial das investigagoes
fenomenológicas de Sartre. Em segundo lugar, o campo de urna proposta de
psicanálise existencial como alternativa e resposta á psicanálise freudiana.
Por fim, as possibilidades de urna clínica inspirada no pensamento de Sartre.
É crucial levar a cabo estas demarcagoes, ultrapassando incompreensoes, e
encorajando urna atitude cuidadosa, dialogante, sobretudo na busca por
obter consequéncias para a ideia de urna prática clínica inspirada em Sartre.
Com efeito, esta prática clínica a partir de urna perspectiva sartriana só pode
ser constituida através da exploragao heurística, no relacionamento entre
descoberta e invengao, dos legados que Sartre deixou na forma de urna
psicología fenomenológica original e de urna psicanálise existencial.
Palavras-chave: fenomenología, psicología, psicanálise, clínica, Sartre.
ABSTRACT
This paper aims to clarify trie precise scope in which three distinct fields of
consideration of Sartre's thought, to trie world of psychology, are
constituted. Firstly, the field of a Sartrean phenomenological psychology,
particularly extended in the initial phenomenological investigations of Sartre.
Second, the scope of a scheme for an existential psychoanalysis as an
alternative and a response to Freudian psychoanalysis. Finally, the idea of a
clinical practice inspired by Sartre's thought. It is critical to carry out these
boundaries, overcoming misunderstandings, and encourage a caring and
dialoguing attitude, especially with regard to aimed consequences to the
idea of a clinical practice inspired on Sartre. In fact, this clinical practice
from a sartrean perspective can only be build up based on the heuristic
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia | Rio de Janeiro | v. 12 | n. 3 | p. 706-723 | 2012
André Barata Nascimento, Carolina Mendes Campos, Fernanda Alt
Psic. Fenomenológica, Psicanálise exist. e possibilidades clínicas a partir de Sartre
1 Introducao
3.1 Emocóes
O mundo apresenta-se á consciéncia como obstáculos e dificuldades a
serem transpostos, que envolvem sempre algum coeficiente de
adversidade. As emogóes introduzem nestas relagóes um elemento
de modulagáo ñas significagóes com que os objetos mundanos se
apresentam a urna consciéncia, "temperando" a adversidade. Sartre
fornece um exemplo muito simples desta plasticidade: quando a
percepgáo de que um cacho de uvas nao está afinal ao alcance da
máo, a consciéncia transforma a sua relagáo com o mundo
emocionalmente. O cacho de uvas torna-se irrefletidamente menos
atraente - agora, cacho de uvas verdes -, resultando que a
adversidade do mundo fica, assim, amenizada pelo desinvestimento
emocional (SARTRE, 2007). Outros exemplos: urna emogáo como a
alegría é urna antecipagáo do gozo que as distancias e as
adversidades superadas adiante viráo a proporcionar, e a tristeza
traduz urna relagáo inibida com o mundo, inibindo, com isso,
adversidades que se adivinham frustrantes. Esta modulagáo plástica
altera nao tanto o mundo, na sua objetiva adversidade, mas a
maneira como o vivemos. Contudo, nao sendo possível ¡solar urna
significagáo do mundo da referencia á sua vivencia, tal como nao é
possível falar de urna adversidade do mundo a nao ser por referencia
a quem a sofra, na verdade a vida emocional, segundo Sartre (2007),
introduz um ingrediente de magia ñas relagóes com os objetos do
mundo.
3.2 Imaginagáo
Como a emogáo, também a imaginagáo é urna relagáo com o mundo,
mas urna relagáo pela qual a consciéncia faz aparecer, sobre um
mundo que nega, e, portanto, sobre a sua adversidade e resistencia,
irrealidades imaginadas. Na sua efetiva ausencia, ou mesmo
inexistencia, nada prende as imagens da imaginagáo ao mundo, ainda
que, como bem nota Sartre, nada nelas seja original, tudo nelas é
oriundo do "já conhecido", revelando na verdade urna pobreza
intrínseca que nada dá a conhecer. A sua fungáo é outra, bem mais
próxima da fungáo da emogáo, com que tende a cooperar. Por
exemplo, a emogáo de alegría pode fazer-se acompanhar pela
imagem da fonte dessa alegría, ou a emogáo da cólera pela imagem
de quem encoleriza.
3.3 Estados
A fina análise de Sartre dá conta que "estados" como o do odio ou o
do amor só se constituem através da reflexáo e de urna forma
dubitável, bem diversamente das emogóes, como a de atragáo ou a
de repulsa. Por exemplo, posso ser consciéncia de repulsa e da cólera
por Pedro e, no entanto, nao estar certo de que o odeie. A imediatez
emocional da repulsa e da cólera nao se estende ao "estado" de odio.
Com efeito, acrescenta Sartre, o odio é, entáo, objeto transcendente
que me aparace através da experiencia irrefletida de repulsa
(SARTRE, 1994). Os estados, de que o amor e o odio constituem
exemplo, sao objetos transcendentes para a consciéncia, revelándo-
se, por isso, de urna perspectiva de conhecimento, como realidades
falíveis, e ainda, de urna perspectiva existencial, como realidades
inertes, incapazes de qualquer determinagáo da vida da consciéncia.
3.4 Qualidades
Da mesma maneira que os estados se constituem reflexivamente
como se fossem a disposigáo psíquica de que emanariam as emogóes
- "sinto repulsa porque o odeio", por exemplo -, ou para usar urna
terminología mais técnica, unidade noemática de espontaneidades, as
qualidades se constituiríam, por seu turno, como substratos daqueles
estados, como potencialidades de que os estados seriam atualizagáo.
- "Amo porque tenho a qualidade ou defeito de ser urna pessoa
apaixonada", por exemplo.
3.5 Ego
A vida espontánea da consciéncia irrefletida seria, por lago mágico,
emanagáo de estados psíquicos, que, por seu turno, seriam
atualizagóes de potencialidades, a que Sartre chama qualidades, e
que, na unidade sintética desta pluralidade de objetos transcendentes
á consciéncia, vale como Ego de urna consciéncia. Toda esta projegáo
só sucede no momento em que a consciéncia se desdobra em
que a pessoa é uma totalidade e que cada uma de suas escolhas, das
menores as mais significativas, devem ser consideradas como
expressáo integral da pessoa em questáo, expressando sempre e
necessariamente um sentido transcendente. A psicanalise existencial
pretende, entáo, compreender o projeto fundamental do homem,
realizando uma comparagáo entre suas escolhas de modo a destacar
o fio condutor que as unifica, já que "em cada uma délas acha-se a
pessoa em sua inteireza" (SARTRE, 2001, p. 690).
O trilho a percorrer na psicanalise existencial deve, entáo, ser um
trilho de escolhas, em que a significagáo de cada uma délas deve ser
encontrada em outras escolhas mais originarias. A presungáo da
proposta sartriana é de que as escolhas estejam concatenadas numa
rede de reenvíos de sentido, cabendo ao trabalho de análise fazer
esse percurso de modo a destacar tal sentido que as unifica. Desta
forma, a ambigáo sartriana de colocar em discussáo a possibilidade
de uma psicanalise existencial se sustenta para além de uma simples
descrigao empírica. O que o filósofo pretende é gerar um método de
decifragáo e elucidagáo das vivencias, tal como o de Freud e, para
isso, como afirma o próprio Sartre (2001), "convém sublinhar [...] em
que medida a psicanalise existencial irá inspirar-se na psicanalise
propriamente dita, e em que medida irá diferir radicalmente" (p.696).
Os pontos de aproximagáo elencados por Sartre dizem respeito ao
fato de que ambas as psicanálises tomam o homem como uma
"historizagáo perpetua", sendo inconcebível considerá-lo apartado de
sua situagáo. Além disso, ambos concordam que a própria pessoa nao
se encontra em uma posigáo favorável para se autoanalisar sendo a
relagáo de alteridade promotora de novas perspectivas e ,por esse
motivo, frutífera para quem deseja se conhecer. Também ambos
consideram que todo ato é simbólico, porém, na psicanalise proposta
por Sartre se faz importante manter essa simbólica sempre aberta e
flexível no intuito de nao impregnar a percepgáo do analista com a
rigidez e a "poeira" da teoría que embagam o seu olhar, recaindo em
uma descrigao pautada em dados abstratos e genéricos. Para Sartre,
esse é um dos principáis "erros" de Freud, o de ter estabelecido além
de uma simbólica rígida, um irredutível substancial também a priori,
a saber, a libido, contaminando assim toda a rica leitura simbólica
pelo viciado ángulo de interpretagóes semi-prontas que partem
sempre de um mesmo cenário de sentidos.
No entanto, a diferenga mais radical entre os dois autores reside na
incompatibilidade em relagáo ao ponto chave de toda edificagáo
teórica da psicanalise freudiana, o inconsciente. Para Sartre, somos
sempre consciéncia mas nem sempre conhecimento, o que nao
significa, de modo algum, considerar que haja uma instancia
inconsciente. Essa discordancia fundamental acontece como um
desdobramento coerente e derivado de toda a ontologia estabelecida
desde a introdugáo de O Ser e o Nada. Uma vez que Sartre vé a
Referencias
Recebidoem: 31/05/2012.
Reformulado em: 30/11/2012.
Aceito para publicagao em: 30/11/2012.
Acó m pan ha mentó do processo editorial: Ana Maria López Calvo de Feijoo
Notas
^Filósofo, Professor Doutor em Filosofía pela Universidade de Lisboa, Portugal
**Psicóloga Doutoranda em Psicología Clínica pela Pontificia Universidade Católica do
Rio de Janeiro- PUC-Rio
***Psicóloga, Doutoranda em Filosofía pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
- UERJ
RESUMO
O presente artigo reúne reflexoes a respeito de tres diferentes temas da
contemporaneidade, tendo como referencial comum o pensamento do
filósofo francés Jean-Paul Sartre. O artigo inicia com a discussao sobre os
sentidos de liberdade que sao compartilhados em nossa sociedade atual; em
seguida, discute as relagoes de trabalho na contemporaneidade que isolam o
homem no produtivismo serial; e por fim, elabora urna reflexao sobre o
status do imaginario e sua relagao com o mundo da vida, a literatura e a
ciencia. A discussao dessas temáticas é feita tendo como paño de fundo os
aspectos sócio-históricos e filosóficos do surgimento e consolidagao da
modernidade, pensados sob o ponto de vista da ideia de liberdade sartriana.
Palavras-chave: Liberdade, Alienagao, Imaginario, Existencialismo, Jean-
Paul Sartre.
ABSTRACT
This paper presents the discussion on three different themes related to
contemporaneity, having as common referential the thought of the French
philosopher Jean-Paul Sartre. The paper initiates with the discussion on the
meanings of freedom that are shared in our society; then, it duscusses the
contemporary work relations that isolate men in serial productivism; finally,
it brings a reflexión on the status of the imaginary and its relation with the
world of life, literature and science. The background of these discussions are
the social, historical and philosophical aspects of the upcoming and
consolidation of Modernity, considered by the perspective of the Sartrean
idea of freedom.
Keywords: Freedom, Alienation, Imaginary, Existentialism, Jean-Paul
Sartre.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 724-766 2012
Amana Rocha Mattos, Ariane Patricia Ewald, Fernando Gastal de Castro
Liberdade, alienagao e criagao literaria
1 Introdugao
próprio sujeito livre. Mas do outro que desconhego, que nao posso
antecipar, prever, controlar, e com o qual tenho que me haver no
exercício de minha liberdade. É essa relagáo com o outro que Sartre
pretende enfatizar:
de fragmentagao gue esse grupo pode sofrer. Esses perigos nao sao
necessariamente de origem externa ao grupo, mas surgem
justamente porgue o grupo é formado por sujeitos livres:
JACK KIRA
A Verdade Dividida
Carlos Drummond de Andrade
Temos que ter claro, infelizmente, como diz Maurice Blanchot, que
"[...] a obra de ficgáo nada tem a ver com honestidade: ela trapaceia
e só existe trapaceando" (1997, p. 187). É um eterno engodo. "Sua
realidade, continua ele, é o deslizamento entre o que é e o que nao é,
sua verdade, um pacto com a ilusáo. Ela mostra e retira; vai a
algum lugar e deixa crer que o ignora. É no modo imaginario que
encontra o real, é pela ficcao que se aproxima da verdade"
(1997, p. 187, grifos meus).
Isto nao transforma textos como A Metamorfose de Kafka e A Fome
de Knut Hansum, por exemplo, em menos aflitivos e verdadeiros. Nos
emocionamos com o imaginario produzido pela literatura nao porque
os tomamos erróneamente por realidades, afirmava Samuel Johnson,
um grande especialista em Shakespeare, mas porque esta
"representagóes" trazem realidades á nossa mente \apud Wood,
2011, p. 204). A arte, para George Eliot, pseudónimo da romancista
Mary Ann Evans que viveu no século XIX, "é a coisa mais próxima da
vida; é um modo de aumentar a experiencia e ampliar nosso contato
com os semelhantes para além do nosso destino pessoal" (apud
Wood, 2011, p. 205).
Se eu sou eu e meus arredores, meu imaginario é parte constitutiva
deste meu mundo e disto que sou. A significagáo que constituímos é
resultado desta interagáo, que conecta homem e mundo no processo
de construgáo de sentidos. O social, desta forma, se produz através
de urna verdadeira rede de sentidos, de marcos de referencia, que
também sao simbólicos, através dos quais os homens se comunicam,
criam urna identidade coletiva e designam o seu lugar frente as
instituigóes de poder desta dada sociedade. Através de suas
representagóes ideológicas, exprimem seus desejos e aspiragóes,
justificam seus objetivos, concebem o passado como o deseiam
recordar, constituindo-o para si, e criam utopias para o seu futuro. É
assim que constituímos o passado que desejamos recordar e onde as
coisas ganham a espessura que passamos a Ihes atribuir
transformando e assimilando o passado e o heterogéneo, permitindo-
nos cicatrizar nossas feridas, reparar nossas perdas, reconstituir
forgas perdidas, inventar e reinventar, a partir daí, futuros possíveis,
como urna narrativa que deve ser continuamente repetida para nao
nos perdermos de nos mesmos.
No mundo real, diz Simone de Beauvoir,
5 Consideragóes fináis
Referencias
CEP: 22290-140
Enderego eletrónico: fernandogastal@gmail.com
Notas
*Professora Adjunta do Instituto de Psicología da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil; doutora em Psicología.
**Professora Adjunta do Instituto de Psicología e do Programa de Pós-Graduagao
em Psicología Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil; doutora
em Comunicagao e Cultura.
***Professor Adjunto do Instituto de Psicología da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Brasil; doutorado em Psicología.
^efinigao proposta por V. De Gaulejac, & I. Leonetti no livro "La lutte des places"
e que defini o tecido social da sociedade contemporánea por urna luta individualiza
e competitiva por postos de trabalho e contra a exclusao em substituigao á luta
social entre classes ocorrida até meados da década de setenta na Europa ocidental.
2
História relatada no livro de Paul Moreira e Hubert Prolongeau "Travailler a en
mourrir: quand le monde de la entrepñse méne au suicide" op, cit.
3
Utilizo aqui a nogao, já consagrada, do sociólogo Charles Writgh Mills em seu livro
Sobre o Artesanato Intelectual e outros ensaios (2009).
4
Ver, especialmente, o trabalho de Lucian Boia, Pour une histoire de l'imaginaire,
que fornece um ampio panorama crítico das perspectivas relacionadas ao
imaginario. Confrontar também com o capítulo de Evelyne Patlagean (1993), como
também com os trabalhos de Sandra Jatahy Pesavento (1992 e 1999).
5
"Resposta á pergunta: 'Que é Esclarecimento?"', de Immanuel Kant, é um texto de
1783 no qual ele responde a pergunta: "que é esclarecimento?", desafio langado
por um jornal. Neste texto ele aponta para dois conceitos caros ao existencialismo
sartriano: autonomía e liberdade. E importante lembrar que o sentido de
"esclarecimento" vem do verbo esclarecer, de uso cotidiano, como quando vocé
esclarece a alguém, por exemplo, como chegar a um lugar específico; apontar
caminhos, diregoes e sentidos. Logo no inicio do texto, Kant sitúa o
"esclarecimento" como maioridade, isto é, como busca, por parte do individuo, de
tirar suas dúvidas e tomar decisoes a partir do esclarecimento délas; isto é,
esclarecer para poder melhor escolher. Em contraposigao á maioridade, ele usa o
termo menoridade, para designar o conformismo, aquele individuo que por preguiga
ou covardia no uso da reflexao, deixa que os outros decidam sua vida e até seus
pensamentos.
6
Este poema de Drumond foi originalmente publicado no livro Corpo (1984, p.41).
Mas Drummond deu nova versao á ele, fazendo algumas mudangas no poema e no
título, que se chamou "A verdade dividida", publicado em Contos Plausíveis.
Informagao retirada do site Memoria Viva, disponível em:
<http://memoriaviva.digi.com.br/drummond/poema072.htm>. Acesso em: 20 nov.
2005.
RESUMO
Este artigo busca discutir como as ideias, as quais fundamentam o
especialismo "psi" de redugoes cientificistas, tais como: a busca por
verdades generalizantes e a consequente substancializagao dos objetos das
ciencias humanas, acabam sendo hegemónicos ñas formas com que lidamos
com as contingencias da vida na contemporaneidade. Para isso, a autora
pretende buscar no pensamento de Jean-Paul Sartre elementos para
compreender tal fenómeno, e também para pensar urna proposta de saber
psicológico, que fuja da formatagao dos sentidos feita pela cultura dos
especialismos. Se o homem nao pode ser reduzido a urna aparigao
individual, nem a um mero universalismo, seria um grande equívoco os
psicólogos reduzirem a vida e as emogoes humanas a explicagoes
generalizantes ou a teorías subjetivistas. Tal dialética universal-singular
pode ser vista, portanto, como urna rica ferramenta que Sartre pode nos dar
no sentido de repensar a questao do saber psicológico na atualidade.
Palavras-chave: Saber psicológico, Especialismo, Jean-Paul Sartre.
ABSTRACT
This article discusses how the ideas underlying the expertism "psi" of
scientistic reductions, such as the search for generalizing truth and
subsequent objetivation of the human knowledge, wind up being hegemonic
in the ways that we deal with the contingencies of contemporary life. For
this, the author intends to search in the thought of Jean-Paul Sartre
elements to understand this phenomenon and also to think about a proposal
of psychological knowledge that escape from the formatting of meaning
developed by the culture of the expertism. If man can't be reduced to a
single appearance, ñor a mere universalism, it would be a mistake
psychologist to reduce life and human emotions into generalized
explanations or subjectivist theories. This "universal-unique" dialetic theory
would be seen, therefore, as a rich tool which Sartre can give us in order to
review the question of psychological knowledge at the present time.
Keywords: Psychological knowledge, Expertism, Jean-Paul Sartre.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 767-791 2012
Michelle Thieme de Carvalho Moura
Um olhar Sartriano para o especialismo "psi" contemporáneo
1 Introdugao
"Será que compete somente á ciencia nos explicar e nos dizer o que
devemos fazer, o que devemos crer, aquilo que é relevante ou sem
importancia, o que é bom ou mau, justo ou injusto, verdadeiro ou
falso?", nos pergunta Japiassu (1991, p.8). "Claro que nao. Mas em
todos esses dominios ela intervertí.", responde ele mesmo a sua
pergunta. Essa intervengáo nem sempre acontecería enquanto saber
oficial, mas enquanto instancia cultural, espontáneamente
reconhecida por todos nos. É justamente tal reconhecimento que
possivelmente ajuda a garantir o sucesso desse tipo de saber no
modo de vida contemporáneo.
Japiassu (1991) ainda lembra que devido ao prestigio cultural que
goza a ciencia, nao sao poucas as ideias que sao fácilmente acolhidas
pelo simples fato de serem produzidas por um "dentista" ou
5 Consideragóes fináis
Referencias
Notas
*Doutoranda em Psicología Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), mestre em Psicología social pela mesma Universidade e especialista em
Psicología Clínica Fenomenológico-Existencial pelo IFEN.
instituto de verificagao de circulagao.
2
Sartre originalmente publicou esse título no plural como Questions de méthode.
RESUMO
O artigo apresenta o debate entre paganismo e cristianismo a partir de duas
obras kierkegaard ¡anas: Migalhas Filosóficas ou um bocadinho de filosofía
assinada por Johannes Climacus e Doenga Mortal, assinada por Johannes Anti-
Climacus. A primeira mostra a diferenga entre a mestria socrática e a mestria
crista, defendendo a superioridade da última. Refere-se "ao deus" que se
subentende ser o próprio Cristo, um mestre diferente que nao apenas pretende
levar o discípulo á reflexáo, mas, também, á transformagao decisiva de si
mesmo. Na segunda, Anti-Climacus descreve o paganismo como desespero.
Embora admitindo a superioridade do paganismo em relagao á cristandade e
ainda que Doenga Mortal postule que seria muito útil retomar o espirito grego e
comegar por ele em meio á farsa do cristianismo paganizado, em ambas a
superioridade do ideal cristao se destaca. Tais temáticas sao trazidas para urna
reflexáo sobre os modos de subjetivagao valorizados em tempos de
preocupagoes pagas.
Palavras-chave: Paganismo, Cristianismo, Kierkegaard, Processos de
subjetivagao.
ABSTRACT
The article presentes the debate between Paganismo and Christianism
departing from two kierkegaardian works: Philosophical Fragments, signed by
Johannes Climacus and Sickness Unto Death, signed by Johannes Anti-
Climacus. The first one shows the difference between the socratic and the
Christian mastership, defending the superiority of the latter. It refers "to the
god" that is understood as Christ himself, a diferente máster who does not only
intend to take the disciple to reflection, but also the decisive transformation of
his own self; in the second, Anti-Climacus describes paganismo as desperation.
Even though he admits the superiority of paganism in relation to Christianity
and even though Sickness Unto Death preaches that it would be very useful to
return to the Greek spirit and start from it in the middle of the farce of
paganized Christianism, in both the superiority of the Christian ideal stands out.
Such themes are brought to reflection about the modes of subjectivation valued
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 792-816 2012
Cristine Monteiro Mattar
O debate entre Paganismo e Cristianismo em duas obras de Kierkegaard
1 Introdugao
2 Migalhas Filosóficas
Mas falar apenas de tais faltas "é esquecer fácilmente que, até certo
ponto, se pode estar em tudo isso em regra com os homens", sem que
por isso a vida deixe de ser pecado, (ibidem, p. 77).
Os chamados "pecados da carne" representam, para Anti-Climacus, urna
obstinagáo; logo, desespero de ser si próprio, categoría do espirito,
(ibidem, p. 77). O pecado, adverte o autor pseudonímico, "nao é o
desregramento da carne e do sangue" em si mesmo, "mas o
consentimento dado pelo espirito a esse desregramento", estando ele
perante Deus. (ibidem, p. 77). Conseqüentemente, nao cabe dizer que a
carne é fraca.
O contrario do pecado nao é a virtude, como se costuma pensar, mas a
fé. Há entáo um face-a-face entre cada homem ¡solado e Deus. Anti-
Climacus critica os filósofos que procuram "unlversalizar
imaginariamente os individuos na especie." (ibidem, p. 78).
O escándalo está em que Deus veio ao mundo, se deixou encarnar,
sofreu e morreu, e ainda pede ao homem que aceite o socorro que Ihe é
oferecido. Por nao compreender este oferecimento, o homem se
escandaliza. "Em sua estreiteza de coragáo, o homem natural é incapaz
de se conceber o extraordinario que Deus Ihe destinava." (ibidem, p.
80). Anti-Climacus nega que seja necessário defender o cristianismo.
Defendé-lo seria fazer dele algo lamentável a ponto de precisar que o
advogassem. Defender o cristianismo é algo próprio da cristandade, que
assim o trai. "Advogar desacredita sempre." (ibidem, p. 81). É incrédulo
aquele que defende o cristianismo, visto que o entusiasmo da fé nunca é
urna defesa, sempre "um ataque, urna Vitoria." (ibidem, p. 82).
Na definigáo socrática - aqui no sentido de homem pagáo -, pecar é
ignorar. Anti-Climacus pretende servir-se de tal definigáo "táo
profundamente grega." (ibidem, p. 82) para salientar ángulos do
cristianismo. Aponta como defeito na definigáo socrática o fato de deixar
vago o sentido preciso da ignorancia e sua origem. Seria ela original ou
adquirida? Se adquirida, é fruto de urna atividade íntima do homem que
obscurece a consciéncia; no caso, porém, nao se trata de ignorancia,
mas da vontade. Para o cristianismo, nem o pagáo nem o homem
natural sabem o que é o pecado. Ao ver de Anti-Climacus, o que falta á
definigáo socrática é a vontade, o desejo.
6 Consideragóes fináis
Referencias
Notas
*Professora Adjunta do Departamento de Psicología da Universidade Federal
Fluminense - Rio de Janeiro - Niterói/Brasil; doutora em Psicología Social pela UERJ.
^á o Sócrates irónico de O Conceito de Ironía (1841); e o Sócrates pagao de Migalhas
Filosóficas (1844) e de O Desespero Humano (1849).
2
.Joao Clímacus, na tradugáo para o portugués empreendida por Ernani Reichmann e
Alvaro Valls. Optou-se por citá-lo conforme o original.
3
Apresentada nos diálogos platónicos: Menon, Fédon e Fedro.
4
O deus era a expressao grega que queria dizer "o divino", "a divindade". Climacus
retoma a expressao, dando a entender, sem dizé-lo diretamente, que é do Cristo que
fala. No Post-Scriptum (1846/1949), a referencia será direta.
5
As tradugóes francesa e brasileira nao mantiveram o título original da obra,
intitulando-a respectivamente Tratado do Desespero (1949) e O Desespero Humano
(2002).
6
Quase ao final da obra, na página 95, aparece a expressao anticlímax, com a qual o
autor Anti-Climacus define a situagao daquele que pretende provar a eficacia da oragao
através de razóes objetivas; mas tais razóes sao vazias diante de algo que supera o
entendimento. Pode-se pensar que o desespero é o anticlímax, e o pseudónimo
escolhido realga tal situagao.
7
Edificante, na concepgao kierkegaardiana, "é tudo aquilo que pode ajudar um
individuo, dentro da sua interiorizagao, a apropriar-se de valores éticos ou religiosos"
(PAULA, 2007, p. 63).
8
Filisteu - no sentido nao-histórico, refere-se á pessoa deficiente na cultura das Artes
Liberáis, um oponente intolerante do boémio que exibe um código moral restritivo,
desaprecia as idéias artísticas. A partir do século XIX, na Europa, a palavra filisteu
passou a designar pessoas de comportamento acovardado, que tém ojeriza a questóes
políticas maiores, nao valorizam a arte, a beleza ou o conteúdo intelectual e
satisfazem-se com o cotidiano da vida privada pacata e confortável. O filisteu nao seria
adepto de ideáis, mas apenas de propostas práticas passíveis de serem contabilizadas
em melhorias para sua vida privada ¡mediata.
9
Mateus 06: 24-34. (PAULA, 2007, p. 65).
RESUMO
A obra kierkegaardiana vem sendo objeto de ampios estudos a partir de
diferentes áreas de investigagao: filosofía, teología, política e estética.
Ocorre-nos perguntar: qual o espago possível para se pensar urna psicología
em Kierkegaard? Este trabalho quer buscar, a partir da pesquisa acerca do
sentido da escolha efetuada por Kierkegaard em dialogar com Sócrates e
Cristo, as bases iniciáis ñas quais podemos pensar o projeto de urna
psicología existencial em Kierkegaard. Para tanto, pretende responder as
seguintes questoes: o que levou Kierkegaard a construir suas investigagoes
iniciando-as pela figura de Sócrates e do "Conceito de ironia" para, em
seguida, assumir como contraponto de todo o seu pensamento a figura de
Cristo? Qual o sentido da sua investigagao, na voz do pseudónimo Johannes
Climacus, sobre a diferenga entre o mestre Sócrates e o mestre Cristo? Qual
o espago possível para urna psicología surgida a partir dessa investigagao?
Palavras-chave: Kierkegaard, Sócrates, ironia, Cristo, paradoxo, psicología
existencial.
ABSTRACT
The Kierkegaard's work has been the subject of extensive studies from
different research áreas: philosophy, theology, politics and aesthetics. It
occurs to ask ourselves: in what space is possible to think a psychology in
Kierkegaard? This work intends to seek, from the research about the
meaning of the choice made by Kierkegaard in dialogue with Sócrates and
Christ, the foundation on which we can start thinking about the design of an
existential psychology in Kierkegaard. To do so, intends to answer the
following questions: what led Kierkegaard to build their investigations by
starting the figure of Sócrates and the "Concept of Irony" to then take as a
counterpoint of all his thought and the figure of Christ? What is the meaning
of its investigation, the voice of the pseudonym Johannes Climacus, about
the difference between the master and the master Sócrates Christ? What
space is possible for a psychology that emerged from this research?
Keywords: Kierkegaard, Sócrates, irony, Christ, paradox, existential
psychology.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 817-832 2012
Myriam Moreira Protasio
Reflexoes sobre as bases para a edificagao de urna psicología Kierkegaardiana
1 Introdugao
3 Cristo e o cristianismo
6 Consideragóes fináis
Referencias
Recebidoem: 06/12/2011
Reformulado em: 30/09/2012
Notas
*Doutoranda em Filosofía no Programa de Pos Graduagao em Filosofía da UERJ,
Mestre em Filosofía pelo Programa de Pos Graduagao em Filosofía da UERJ.
^mbora Climacus nao se refira, em seu Migalhas filosóficas, ao mestre como sendo
o Cristo, ele afirma que se passaram "mil oitocentos e quarenta e tres anos entre o
discípulo contemporáneo e essa nossa conversa", do que denotamos que o mestre
em questao é o Cristo. (KIERKEGAARD, 1995, p. 128).
RESUMO
Este trabalho de Historia da Psicología é parte de um projeto maior, o qual
se propoe a construir a historia da fenomenología no Brasil. Nilton Campos é
o responsável pela primeira publicagao que relaciona diretamente
Fenomenología ao campo da Psicología em nosso país. O trabalho procura
igualmente langar luzes sobre as possíveis razoes que justificariam o
desenvolvimento tardio do pensamento fenomenológico no Brasil. Partindo
da leitura de sua tese de concurso, de 1945, intitulada O Método
Fenomenológico na Psicología, o trabalho procura ¡solar as influencias e os
autores envolvidos no desenvolvimento de seu trabalho, buscando
esclarecer os primeiros caminhos da psicología fenomenológica no País. Sao
apontadas as relagoes com o pensamento de Brentano e da Escola de
Berlim, e finaliza por apontar a contemporaneidade do trabalho de Nilton
Campos, seu lugar no contexto da historia da psicología brasileira, bem
como seu legado em autores mais recentes, como Antonio Gomes Penna.
Palavras-chave: Fenomenología, Psicología, Historia da psicología.
ABSTRACT
This work in the perspective of the History of Psychology is a part of a larger
project, that aims to build the history of phenomenology in Brazil. Nilton
Campos is responsible for the first publication that directly relates to the
field of psychology Phenomenology in our Country. The work also seeks to
shed light on the possible reasons that would justify the late development of
phenomenological thought in Brazil. Based on a reading of his thesis
competition and entitled The Phenomenological Method in Psychology, the
work seeks to isolate the influences and authors involved in the
development of their work, seeking to clarify the first ways of
phenomenological psychology in the country. We point out relations with the
thought of Brentano and the School of Berlin, and concludes by pointing out
the contemporary work of Nilton Campos, its place in the history of
psychology in Brazil, as well as his legacy in more recent authors such as
Antonio Gomes Penna.
Keywords: Phenomenology, Psychology, History of psychology.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 833-851 2012
Adriano Furtado Holanda
O método fenomenológico em psicología
1 Introdugao
4 Consideragóes Fináis
Referencias
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sua constituigáo. Sao Paulo: Unimarco/Educ, 1998.
BORING, E. A History of experimental psychology. New York:
Appleton-Century-Crofts, Inc., 1929.
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1995.
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Librairie Philosophique J.Vrin (Original publicado em 1874), 2008.
CABRAL, A. Nilton Campos (1898-1963). Jornal Brasileiro de
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CAMPOS, N. O Método fenomenológico na psicología. 96f. Tese
de Concurso apresentada á Cátedra, Universidade do Brasil, Rio de
Janeiro, 1945.
CENTOFANTI, R. Laboratorio de Psicología da Colonia de Psicópatas
do Engenho de Dentro - 1924-1932. In: JACÓ-VILELA, A. M. (Org.).
Dicionário histórico de instituicóes de psicología no Brasil [pp.
355-356]. Rio de Janeiro: Imago / Brasilia: Conselho Federal de
Psicología, 2011.
DEPRAZ, N. Compreender Husserl. Petrópolis: Vozes, 2007.
GOMES, W. B.; HOLANDA, A. F.; GAUER, G. Historia das Abordagens
Humanistas em Psicología no Brasil. In: MASSIMI, M. (Org.).
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GOTO, T. A. Introducao á psicología fenomenológica. Sao Paulo:
Paulus, 2008.
GUIMARÁES, A. C. Farias Brito e as origens do existencialismo
no Brasil. Sao Paulo: Editora Convivio, 1984.
GUIMARÁES, A. C. O Pensamento Fenomenológico no Brasil. Revista
Brasileira de Filosofía, v. L, Fase. 198, p. 258-267, 2000.
HOLANDA, A. F.; FREITAS, J. L. Fenomenología e Psicología.
Vinculagóes. In: PEIXOTO, A. J. (Org.). Fenomenología. Diálogos
Possíveis Campiñas: Alinea / Goiánia: Editora da PUC Goiás, 2011, p.
97-112.
Notas
*Doutor em Psicología pela PUC-Campinas e Professor Adjunto do Departamento de
Psicología e do Programa de Pós-Graduagao em Psicología da Universidade Federal
do Paraná.
fundada em 1910. O Laboratorio de Psicología é posteriormente transformado em
Instituto de Psicología, subordinado - em 1932 - ao Ministerio da Educagao e
Saúde Pública, e em 1937, é incorporado á antiga Universidade do Brasil.
2
Asseverativa, que contém afirmagao.
3
Merece destaque o fato que o segundo volume das Ideen, que trata da questao da
constituigao e tem implicagoes fundamentáis em problemas como subjetividade,
intersubjetividade e corporeidade, e que é central para a compreensao do sentido
do "mundo-vida" na obra de Husserl, somente veio a público em 1952, com sua
primeira tradugao francesa em 1982.
RESUMO
O presente artigo busca, inicialmente, esclarecer o problema fenomenológico
da relagao entre a consciéncia e o mundo. A fenomenología de E. Husserl
adota, do ponto de vista metodológico, a suspensao do juízo em relagao á
posigao de existencia do mundo, para recuperá-lo, na consciéncia, de modo
indubitável, na sua pura significagao. O artigo procura esclarecer a
especificidade da atitude fenomenológica, bem como da estrategia
metodológica adotada pela fenomenología para fazer da filosofía urna
"ciencia rigorosa". O artigo aborda ainda a crítica da fenomenología á visao
positivista ñas ciencias humanas. Se a adogao do programa positivista ñas
ciencias humanas limita-nos á urna lógica indutiva e probabilística, o método
fenomenológico ñas ciencias humanas convida-nos a exercer urna atitude
reflexiva e analítica acerca do que há de mais originario na coisa sobre a
qual retornamos.
Palavras-chave: Consciéncia, Mundo, Fenomenología, E. Husserl, Ciencias
humanas.
ABSTRACT
The present paper has as objective clarify the phenomenological problem of
the relation between the consciousness and the world. The phenomenology
of E. Husserl adopts of a methodological point of view the suspensión of the
judgement in relation to the position of the world's existence, recovering it
in the consciousness, in an indubitable way, in his puré meaning. The paper
tries to explain the specificity of the phenomenological attitude and the
methodological strategy adopted by the phenomenology to do of philosophy
a "rigorous science". The article also discusses the critical of the
phenomenology to positivist view in the human sciences. The adoption of
the positivist program in the human sciences limits us to an inductive and
probabilistic logic, while the phenomenological method in the human
sciences invites us to exercise a reflective and analytical attitude about what
is most essential in the thing on which we return.
Keywords: Consciousness, World, Phenomenology, E. Husserl, Human
sciences.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 852-866 2012
Carlos Diógenes Cortes Tourinho
A consciéncia e o mundo na fenomenología de Husserl
1 Introducao
absoluta.
A intengáo primaria de constituir a filosofía como urna "ciencia de
rigor" é, portanto, em Husserl, a expressáo do anseio maior que
moverá, ñas primeiras décadas do século XX, os rumos da
fenomenología. Vé-se, claramente, um esforgo continuado de Husserl
em retomar, em suas principáis obras, a discussáo acerca dos
fundamentos da filosofía e, por conseguinte, das demais ciencias.
Afinal, o diagnóstico de Husserl sobre o seu tempo era o de que o
comego do século XX anunciava, de certo modo, com a expansáo de
urna abordagem naturalista (tanto ñas ciencias naturais como ñas
ciencias do espirito), um quadro crescente de crise na filosofía que,
por sua vez, implicaría diretamente em urna crise de seus
fundamentos. A énfase neste ideal de urna fundamentagáo absoluta
para a filosofía busca, conforme destacado, urna forte inspiragáo no
projeto da filosofía cartesiana do século XVII (reforma total da
filosofía para fazer desta urna ciencia de fundamentos absolutos),
cujo contexto também era de crise, marcado pela redescoberta do
ceticismo antigo e por urna atmosfera de dúvidas e de incertezas.
No § 2 de Meditagóes Cartesianas, Husserl afirma-nos que:
"Desenvolveremos as nossas meditagóes dum modo cartesiano, como
filósofos que principiam pelos fundamentos mais radicáis..."
(HUSSERL, 1931, p. 5). Husserl busca em Descartes esta inspiragáo.
Porém faz-se necessário ressaltar que a radicalizagáo da qual resultou
a fenomenología transcendental apenas se tornou possível a partir de
urna certa superagáo da filosofía cartesiana, ou como prefere Husserl:
"....devido a um desenvolvimento radical de temas cartesianos"
(HUSSERL, 1931, p. 21). Afinal, era preciso ir além da certeza do
cogito, da chamada "evidencia da cogitado", do que Descartes
apenas intuiu sem, no entanto, adentrar, deixando de explorar as
"riquezas" de sua grande descoberta, nao apreendendo o verdadeiro
sentido e, consequentemente, nao ultrapassando os portáis da
genuína filosofía transcendental. Daí o próprio Husserl comparar
humorísticamente Descartes a Colombo:
4 Conclusao
Referencias
Notas
*Doutor em Filosofía pela PUC-Rio. Professor Adjunto de Filosofía da Faculdade de
Educagao da UFF. Professor do Programa de Pós-Graduagao em Filosofía da UFF.
Membro do GT de Filosofía Francesa Contemporánea e do GT de Fenomenología da
ANPOF.
Roberto S. Kahlmeyer-Mertens*
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brasil
RESUMO
O artigo toma por tema o conceito de intencionalidade. Questiona a posigao
deste conceito no ámbito de urna psicología fundada em bases
fenomenológicas. Para respondermos a esta questao, objetivamos
apresentar o conceito de intencionalidade segundo a fenomenología,
reconstruir brevemente sua génese histórica ñas filosofías de Brentano,
Husserl e Heidegger e indicar a importancia deste conceito em autores da
assim chamada Daseinanalyse (Binswangen e Boss). Abordada
fenomenologicamente, tomamos a intencionalidade como trago fundamental
de urna consciéncia; julgamos poder sustentar que esta estrutura viabiliza
urna interpretagao do psiquismo diversa daquela promovida pela leitura
tradicional que reduz a consciéncia a sujeito. Considerando a
intencionalidade a estrutura que permite a correlagao ¡mediata da
consciéncia com seus fenómenos, julgamos lícito afirmar que urna
Daseinanalyse, entendida como psicología e psicopatologia fenomenológica,
apenas se viabiliza no espago aberto pela consciéncia intencional.
Palavras-chave: consciéncia, intencionalidade, Daseinanalyse, Heidegger.
ABSTRACT
The article takes the concept of intentionality as theme. We inquired into the
position of this concept in the context of a phenomenological psychology. To
answer this question, we aim to introduce the concept of intentionality
according to Phenomenology, briefly reconstruct its historical génesis in the
philosophies of Brentano, Husserl and Heidegger, and indícate the
importance of this concept in the so-called Daseinanalyse (Binswangen and
Boss). Treated phenomenologically, we understand intentionality as a
fundamental feature of a consciousness; we judge it to be sustainable that
this structure enables a different interpretation of the psyche that promoted
by the traditional reading that reduces consciousness to the subject.
Considering the intentionality the structure that allows immediate correlation
of consciousness with its phenomena, we should judge Daseinanalyse,
understood as phenomenological psychology and psychopathology,
phenomenological psychology and psychopathology, has viability only in the
space opened by the intentional consciousness.
Keywords: consciousness, intentionality, Daseinanalyse, Heidegger.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 867-882 2012
Roberto S. Kahlmeyer-Mertens
Intencionalidade
1 Introducao
4 Ser-aí e intencionalidade
existencia tanto quanto a sua vida desperta, [...] que a sua sujeigáo
as coisas que encontra [...] nao só existe no seu mundo como urna
relagáo [...] ao externo, mas também como trago característico de
sua própria existencia" (p. 42).
Dito isso, a Daseinanalyse com Boss empreende um exercício de
compreensáo dos sonhos, de modo que os fenómenos do mundo do
sonho se conservem exatamente como sao quando se revelam ao
ser-aí sonhador. Isto porque,
6 Consideragóes fináis
Referencias
Recebidoem: 09/11/2011
Aceito para publicagao em: 30/11/2012
Acompanhamento do processo editorial: Ana Maria López Calvo de Feijoo
Notas
*Doutor em filosofía pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Membro
efetivo da Sociedade Brasileira de Fenomenología - SBF
*O que, grosso modo, tomamos como sinónimo de Daseinanalyse.
2
Veja-se mais a este respeito em Dreyfus (1993); Moran (2000).
3
Para essas duas acepgóes, reservam-se os termos "gegenstand" e "gegenwurf",
respectivamente.
4
Após este argumento, nao é preciso dizer, que o ser-aí nao é apenas urna palavra
para substituir consciéncia, tampouco a representa: trata-se de um ente pensado
num contexto radicalmente diverso do antropológico e mesmo do psicológico.
5
Nesse ponto, Binswanger (1973) nos lembra que mais teria a contribuir com urna
fenomenología psicopatológica as investigagoes minuciosas sobre o fenómeno da
simpatía elaboradas por fenomenólogos como Max Scheler, do que as teorías das
escolas associacionistas.
RESUMO
Este trabalho visa a discutir acerca da insergao do psicólogo clínico ñas
políticas públicas a partir de urna experiencia de plantao psicológico. Como
aporte para as reflexoes desenvolvidas, recorre a autores que discorrem
sobre o papel atual do psicólogo clínico e que reconhecem que a clínica
remete ao contato com o outro em sua inteireza. Além disso, diante da
insuficiencia da simples oferta da escuta, aponta a necessidade deste
profissional tornar-se um parceiro na busca de alternativas para as
demandas. Aponta a necessidade de conhecimento das políticas públicas,
que podem servir como espago de acolhimento á queixa apresentada pelos
clientes. Aponta, também, a deficiente formagao do psicólogo no que tange
a essas questoes e o modelo privatista em que atuam as clínicas-escolas de
Psicología no Brasil. O plantao surge como um espago questionador deste
modelo e introduz a necessidade de contato com questoes, até há bem
pouco tempo, alheias ao campo psi.
Palavras-chave: Plantao Psicológico, Políticas Públicas, Psicología Clínica.
ABSTRACT
This work aims, from an experience of Psychological Emergency Attendance
Service, to discuss trie insertion of clinical psychologists in public policies. As
a contribution to the reflections developed hiere, trie text is supported by
authors who discuss the clinical psychologist's current role and recognize
that the clinical space refers to the contact with the other in its entirety.
Furthermore, since the inadequacy of a mere proposition of listening, the
text points out the need of this professional to become a partner in the
search for alternatives to the demands. It highlights, too, the need for
knowledge of public policy, which can serve as a host space to customers'
complaints. The text points out, also, the poor training of psychologists in
regard to these issues and the privatist model in which opérate the clinics-
school of psychology in Brazil. The Psychological Emergency Attendance
Service arises as a query space for this model and introduces the need to
have contact with questions that, until recently, were beyond the psi field.
Keywords: Psychological Emergency Attendance Service, Public Policies,
Clinical Psychology.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 883-896 2012
Emanuel Meireles Vieira, Georges Daniel Janja Bloc Boris
O plantao psicológ. como possibil, de interl. da psic. clínica com as políticas públicas
1 Introdugao
5 Consideragóes fináis
Referencias
Recebidoem: 20/10/2011
Aceito para publicagao em: 31/05/2012
Acó m pan ha mentó do processo editorial: Ana Maria López Calvo de Feijoo
Notas
*Mestre em Psicología pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Doutorando em
Psicología pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Professor da
Faculdade de Psicología da Universidade Federal do Para (UFPA) Belém/Brasil, onde
coordena o servigo de Plantao Psicológico na Clínica-Escola
**Psicólogo, Professor titular do Programa de Pós-Graduagao em Psicología da
Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Doutor em Sociología pela Universidade de
Fortaleza. Coordenador do APHETO - Laboratorio de Psicopatologia e Psicoterapia
Humanista Fenomenológica Crítica
^oderíamos aqui citar as Filosofías de Nietzsche e Marx, entre outras, como
exemplos de correntes de pensamento que ilustram bem a desilusao humana
quanto ao nao cumprimento de expectativas geradas no estabelecimento do
período Moderno. Todavía, por urna questao de foco do trabalho, limitar-nos-emos
a apenas descrever características gerais do período.
Juliana Vendruscolo*
Universidade de Ribeirao Preto - UNAERP, Ribeirao Preto, Sao Paulo, Brasil
RESUMO
A delimitagao do lugar da Psicología como ciencia continua sendo trilhada na
atualidade, gerando embates relativos á classificagao. Um importante campo
de discussao foi aberto com a insergao do psicólogo em novos espagos de
atuagao. Como deve ser a intervengao no contexto institucional? Diferentes
técnicas de atendimento psicológico foram desenvolvidas. O objetivo desse
trabalho é apresentar nomenclaturas que diferenciem algumas modalidades
de atendimento psicológico, utilizadas em instituigoes, e, posteriormente,
desconstruir tal concepgao presente na tradigao da psicología científica.
Abre-se espago para compreensao fenomenológico-existencial do
atendimento do psicólogo institucional. Nesse artigo um caso foi relatado e
discutido a partir da questao norteadora (nao formulada aos participantes)
"Como se dá a relagáo terapéutica?" Conclui-se que a relagao
terapéutica, no ámbito clínico ou institucional pode ser concebida apenas
pela pré-ocupagao por anteposigao libertadora. Nao há necessidade de
classificagoes e diferenciagoes técnicas para especificar as modalidades de
atendimento psicológico possíveis no cenário contemporáneo.
Palavras-chave: Psicología Institucional, Psicología da Saúde, Psicología
Fenomenológico-Existencial.
ABSTRACT
The delimitation of the place of Psychology as a science is still
being
drawn in the present days, generating discussions relatively to classification.
An important field of discussion was opened with the insertion of the
Psychologist in new operating spaces. How should thePsychologist
intervention be in the institutional context? Different psychological care
techniques have been developed. The objective of this work is to present
nomenclatures that distinguish some psychological care modalities, used in
institutions, and, eventually, deconstruct such conception, present in the
scientific psychology. A space is being opened for an existential
phenomenological understanding of the institutional psychologist care. In
this study, a case was reported and discussed, departing from the guiding
question (not exposed to the participants) "How does the therapeutic
relation happens?" We get to the conclusión that the therapeutic relation,
in the clinical or institutional scope can be conceived only by the pre-
occupation with a liberating preplacing. There is no need of classifications,
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 883-896 2012
Juliana Vendruscolo
Atendimento psicológico em instituigoes
4 Caminho metodológico
5 Resultados e Discussao
Qual é o tempo em que Joáo está? Tanta gente dizendo o que ele
deve fazer, como deve ser, qual é a dieta permitida, quais sao as
restrigoes. Podemos questionar: Quais sao suas possibilidades? Quais
restrigoes de sentido experiencia? É preciso nao saber para
compreender.
A conduta mais terapéutica nesse caso foi acreditar que Joáo existia.
No espago terapéutico, que no hospital é estabelecido ao lado do
leito, em pé, com gente passando o tempo todo, comega a surgir
Joáo como ser em abertura, com possibilidade de vir-a-ser. Um
existente.
É preciso mudar o conceito saúde-doenga. Associar saúde ao estado
de bem-estar total é estático e ilusorio; o ser humano é mutável,
dinámico, funciona com irregularidades e variagóes.
A doenga surge como algo inesperado, fora do controle do sujeito,
rompendo com seu caminho pessoal; gera sensagáo de
vulnerabilidade, de medo, de perplexidade. Na psicología da saúde é
esperado que o atendimento psicoterapéutico controle síntomas e que
dé seguranga ao paciente com alguma enfermidade grave.
Entretanto, o sujeito atribuí um sentido á doenga, de acordó com
suas possibilidades e limites. Se a compreensáo dos profissionais da
saúde for ampia e integrada frente a qualquer adoecimento será
possível transcender o aspecto técnico. Nao há receitas, as atitudes
devem ser caracterizadas por urna atengáo á pessoa que adoece e
nao á doenga em si.
Para Sá (2002) a técnica moderna tem como principáis características
controle e seguranga. O autor continua e afirma:
6 Consideracóes fináis
Referencias
Notas
*Profa. Dra Juliana Vendruscolo, Docente na Universidade de Ribeirao Preto e na
Universidade Paulista.
^s atendimentos foram realizados pelos estagiários.
RESUMO
O texto propoe urna articulagáo entre a concepgáo da Psicología clínica
contemporánea e seu desdobramento nos servigos de Plantao Psicológico.
Apresenta-se um breve histórico da Psicología Clínica, desde os primordios
da avaliagao psicológica, passando pela compreensao clássica de clínica
como tratamento psicoterápico, para delimitar a concepgao atual de clínica
ampliada e seu paradigma da promogao da saúde. Na comparagao entre as
dimensoes patogénica e salutogénica, enfatiza-se a visao humanista,
particularmente a proposta pela Abordagem Centrada na Pessoa, que
mostra-se potente para lidar com o sofrimento humano em seus diferentes
matizes de intensidade e profundidade. A autora apresenta as principáis
compreensoes de Plantao Psicológico: como recepgao, como triagem e como
processo de atendimento á urgencia psicológica. O artigo aponta as
potencialidades do diálogo como restaurador da saúde e atualizador da
cidadania. A proposta da clínica ampliada mostra-se pertinente para acolher
urna parcela significativa da populagáo brasileira em diversos contextos.
Palavras-chave: Promogao da Saúde, Plantao Psicológico, Abordagem
Centrada na Pessoa, Psicología Clínica.
ABSTRACT
This paper proposes a link between the conception of contemporary clinical
Psychology and its unfolding within the services of psychological duty. It
presents a brief history of clinical psychology since the early days of
psychological assessment, through the clinical classical understanding as
psychotherapeutic treatment, to define the current concept of amplified
clinic and its paradigm of health promotion. In comparison between the
pathogenic and salutogenic dimensions, it emphasizes the humanistic visión,
particularly the one held by the Person-Centered Approach, which is
powerful to deal with human suffering in its different shades of intensity and
depth. The author presents the major understandings of psychological duty:
as reception, assessment and as a process of emergency psychological care.
The article points out the potential of dialogue as a restorer of health and
citizenship updater. This proposal appears to be relevant to welcome a
significant portion of the Brazilian population in different contexts.
Keywords: Health Promotion, Psychological Emergency Attendance,
Person-Centered Approach, Clinical Psychology.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 911-923 2012
Marcia Alves Tassinari
Desdobramentos clínicos das prop. humanistas em proces. de promogao da saúde
1 Introducao
4 A Clínica Ampliada
5 Plantao Psicológico
Acreditamos que esta preferencia teórica nao seja por acaso, mas
que expresse a amplitude e a potencialidade desta Abordagem. Os
psicólogos que se inspiram e utilizam esta abordagem sentem-se
desafiados a responder as novas demandas da contemporaneidade e
encontram no jeito de ser proposto por Rogers (1997; 1998/2008;
2000) e reorganizado por Wood (2008) como urna possibilidade
potente.
Wood (Op.cit.) propóe a ACP como um jeito de ser (e nao de fazer),
permeado por sete aspectos interdependentes, a saber: urna
perspectiva, de modo geral, positiva; urna crenga numa tendencia
formativa direcional; urna intengáo de ser eficaz; um respeito pelo
individuo e sua autonomía e dignidade; urna flexibilidade de
pensamento e agáo; urna tolerancia quanto as incertezas ou
ambiguidades e senso de humor, humildade e curiosidade (p. 4).
Entendemos que o jeito de ser proposto por Wood (2008) a partir das
condigóes necessárias e suficientes, propostas por Rogers (2008),
formam o alicerce teórico-metodológico que norteiam o pronto
atendimento conceituado em seguida como Plantáo-processo ou
Plantáo Interventivo.
Das seis condigóes necessárias e suficientes, propostas por Rogers
em 1957 (WOOD, 1998) e revisitadas no livro Um Jeito de Ser
(1983), destacamos o conjunto atitudinal das condigóes de
autenticidade, consideragáo positiva incondicional e compreensáo
empática, amplamente definidas na literatura rogeriana, que
garantem a criagáo de um clima seguro e permeiam as intervengóes
no Plantáo Psicológico.
Esta visáo faz eco com Amatuzzi (2010), ao propor a Abordagem
Centrada na Pessoa como urna ética: "... como urna maneira de ser
que permite um determinado olhar e gera urna maneira de fazer." (p.
58).
Os diferentes contextos aqui elencados apontam alguns tipos
diferenciados de compreensáo de urna escuta pontual. Na USP,
inicialmente, ele foi concebido como recepgáo diferenciada aos
clientes que procuravam o Servigo de Aconselhamento, o que foi, na
época, urna alternativa para dar conta da ¡mensa fila de espera.
Outras instituigóes que oferecem o Servigo de Plantáo Psicológico
objetivam urna recepgáo diferenciada á sua clientela, para avahar a
adequagáo da pessoa aos encaminhamentos futuros. Esse
entendimento de Plantáo aproxima-se da triagem rápida, visando
encaminhamento para algum tipo de psicoterapia.
Vasconcelos (2009) em sua dissertagáo de mestrado, acrescenta o
Plantáo burocrático, como sendo aquele
6 Consideragóes fináis
Referencias
Notas
*Psicóloga, Especialista em Psicología Clínica, Doutora em Psicología,
^inda que interessante, nao temos espago para discutir a concepgao de Saúde,
definida pela Organizagao Mundial da Saúde (OMS) como um completo estado de
bem estar físico, mental e social e nao meramente a ausencia de doenga (WHO,
1946). Esta concepgao, avangada para a época, mostra-se desatualizada e é
desconstruída e criticada por Segre (1997), provocando-nos em sua conclusao, ao
propor: "saúde é um estado de razoável harmonía entre o sujeito e a sua própria
realidade" (p. 542). Adotamos neste trabalho esta concepgao provisoria, indicando
que a Psicología Clínica dialoga com outros campos do saber, anteriormente
restritos á Medicina.
Elza Dutra*
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Natal, Rio Grande do Norte,
Brasil
RESUMO
Estudos realizados na regiao nordeste com estudantes universitarios dos
cursos de medicina e de psicología evidenciam um alto índice de ideagao e
de tentativas de suicidio entre eles. Ao mesmo tempo, nao sao incomuns as
noticias de suicidio de estudantes em instituigoes de ensino superior, em
universidades da regiao nordeste e sudeste, como por exemplo, Pernambuco
e Rio de Janeiro. Partindo dessas evidencias, este trabalho desenvolve
reflexoes acerca do contexto académico, social e existencial em que tal
fenómeno ocorre. Para isso recorre-se a algumas ideias da Analítica
Existencial, tais como angustia, tedio e técnica. Espera-se que as discussoes
empreendidas possam acrescentar ao campo de estudo, bem como
despertar as instituigoes académicas para a importancia desse fenómeno e,
assim, favorecer a criagao de estrategias de cuidado e solicitude que possam
acolher o aluno em sua dimensao existencial.
Palavras-chave: suicidio de universitarios, suicidio e analítica existencial,
tedio e suicidio, fenomenología heideggeriana.
ABSTRACT
Studies conducted in Brazilian Northeast región with medicine and
psychology university students show a high rate of suicidal ideation and
suicide attempts among them. At the same time reports of suicidal attempts
in higher education institutions in northeast and southeast región such as
Pernambuco and Rio de Janeiro are not uncommon. Based on these data,
this work relies on some existential analysis ideas such as anguish, boredom
and technique to understand the academic, social and existential contexts
where the phenomenon occurs. It is hoped that the discussion on the
subject calis attention to the relevance of the problem and foster the
development of strategies for care and acceptance of the student's
existential dimensión.
Keywords: student's suicide, suicide and existential analysis, suicide and
boredom, Heideggerian phenomenology.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 924-937 2012
Elza Dutra
Suicidio de universitarios
1 Introducao
5 Consideragóes fináis
Tal modo de pensar a filosofía nos faz acreditar que cada passo que
dermos, por menor que seja, em diregáo a um diferente modo de
Referencias
Recebidoem: 09/11/2011
Reformulado em: 16/10/2012
Aceito para publicagao em: 20/10/2012
Acó m pan ha mentó do processo editorial: Ana Maria López Calvo de Feijoo
Notas
^Docente do Programa de Pós-graduacao em Psicología PPgPsi/UFRN.
RESUMO
Neste trabalho pretendemos relacionar o mundo da fenomenología de Martin
Heidegger as características de psicoterapia de grupo, enquanto fundamento
essencial para essa modalidade terapéutica. Mundo abarca a totalidade do
ser-com os outros, ser junto aos entes e ser si mesmo. Nao há como pensar
o Dasein destituido de mundo, tampouco mundo sem Dasein. Inserido em
urna rede de significagoes compartilhadas, somos nosso próprio mundo, no
qual nos relacionamos e conhecemos. Somos constituidos a partir das
relagoes com os outros e somente ñas relagoes que acessamos nosso modo
de ser. Em grupo, abre-se a possibilidade de entrarmos em contato com
nossas próprias referencias de mundo, que constituem nosso existir e nossa
compreensao de si mesmo. Nesta modalidade de atendimento, estabelece-
se um mundo compartilhado terapéutico a partir de urna disponibilidade
específica á escuta de si mesmo e do outro.
Palavras-chave: psicoterapia de grupo, fenomenología, mundo, Martin
Heidegger.
ABSTRACT
In this paper we intend to relate the Martin Heidegger's phenomenology
world to the characteristics of group therapy, as basis for this therapeutic
modality. World encompasses the totality of being with others, being-
alongside and being yourself. There is no Dasein without world, ñor world
without Dasein. Inserted into a network of shared meanings, we are our own
world in which we relate and know. We are constituted from relationships
with others and only in the relations we access our ways of being. In a
group, it is possible to get in touch with our own reference of world, which
determines our existence and our understanding of ourselves. In this
modality of therapy of care, a therapeutic shared world is established from
an availability to listen to yourself and others.
Keywords: group psychotherapy, phenomenology, world, Martin Heidegger.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 938-951 2012
Luís Eduardo Frangao Jardim
Mundo como fundamento da psicoterapia de grupo fenomenológica
É só quando esquecemos
todos os nossos conhecimentos
é que comegamos a saber
Clarice Lispector
É só quando esquecemos
todos os nossos conhecimentos
é que comegamos a saber
Referencias
Notas
*Mestre em Psicología Clínica pela PUC-SP e doutorando do Instituto de Psicología
da USP-SP. Membro pesquisador do Laboratorio de Estudos do Imaginario (LABI-
USP) da Universidade de Sao Paulo-SP. Membro e Coordenador da área de Pesquisa
Académica de Fenó&Grupos e é professor e supervisor clínico de Fenomenología na
Universidade Paulista UNIP em Sao Paulo.
^ptou-se por fazer modificagoes da tradugao brasileira de Heidegger (1998) e
utilizagao do termo original alemao Dasein (ou a tradugao literal ser-aí) ao invés de
pre-senga, com o intuito de evitar distorgoes de sentido. O mesmo se aplica para os
termos afinagao (Stimmung), ao invés de humor e ai (Da) ao invés de pré. As
modificagoes foram feitas com base no texto original Heidegger (2001), embora
tenha sido mantida a paginagao da versao brasileira para o viabilizar o acesso para
o leitor.
RESUMO
A modalidade grupo na clínica psicológica parece habitar um lugar instável
ñas práticas clínicas, urna vez que sua validade e legitimagáo sao
questionadas principalmente em comparagáo com a modalidade individual. E
por estarmos imersos em urna perspectiva contemporánea de privilegiar
métodos que afirmem tudo o que é da ordem do individual e da
autossuficiéncia, essa prática clínica pode restringir-se apenas a espagos de
grandes demandas de atendimento psicológico, correspondendo á lógica da
produtividade e comprometendo sua finalidade clínica. A fim de afirmar essa
modalidade clínica na abordagem fenomenológico-existencial, este artigo
pretende aproximar a fenomenología hermenéutica de Martin Heidegger á
experiencia clínica a fim de refletir sobre dois aspectos importantes do
cotidiano psicoterápico: o diálogo clínico e o vínculo psicoterapéutico,
diferenciando das abordagens que partem de teorías essencialistas sobre
grupos.
Palavras-chave: Psicoterapia, Grupo, Fenomenológico-existencial, Clínica,
Martin Heidegger.
ABSTRACT
The group modality in the psychologic clinic seems to inhabit an instable
place in the clinical practice, since its validation and legitimacy are
questioned mainly in comparison with the individual modality. Due to being
overwhelmed by the contemporary perspective of granting privilege to
methods that affirm everything that concerns the individual and the self-
sufficiency, this clinical practice may restrain itself to spaces of great
demands of psychological treatment, corresponding to the productivity logic
and compromising its clinical purpose. Aiming at affirming this clinical
modality in the phenomenological-existential approach, this article means to
bring the hermeneutic phenomenology of Martin Heidegger closer to the
clinical experience in order to reflect upon two important aspects of the
psychotherapeutic routine: the clinical dialogue and the psychotherapeutic
link, differentiating it from the approaches that are based in essentialist
theories about groups.
Keywords: Psychotherapy, Group, Phenomenological-existential, Clinic,
Martin Heidegger.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 952-972 2012
Ana Tereza Camasmie, Roberto Novaes de Sá
Reflexoes fenomenológico-existenciais para a clínica psicológica em grupo
1 Introducao
5 Cuidado
7 A Questao do Vínculo
"ponto zero", isento, de onde ele poderia emitir suas percepgoes, pois
elas surgem do contexto ao qual o terapeuta também o constituí. O
simples fato de estar presente ao grupo, já modifica sua percepgáo e
vice-versa, pois o grupo também se modifica tanto com a ausencia
quanto com a presenga de quem quer que seja na sessao.
Spinelli também aponta para a importancia do modo da relagáo
terapeuta-paciente como sendo um diferenciador de outras
abordagens:
olhar que nao seja julgador, mas nao há a possibilidade de ser como
um ponto fora da experiencia.
E ao mesmo tempo em que olhamos, somos olhados. E nesse
encontró sem precedencia, constituímos e somos constituidos pelos
outros. Esse outro, tanto pode ser imaginado como tocado, mas nao
há olhar sem a presenga emocionada desses tantos outros que nos
acompanham. Assim, cada um de nos é um olhar langado no mundo,
atravessado e construido por este, por sermos também visíveis ao
mundo.
Essa condigáo de visibilidade, que nenhum de nos pode se apartar,
transcende o órgáo da visáo, pois também olhamos através da
palavra, do pensamento, dos gestos de nosso corpo inteiro. E nos
diversos sentidos que um olhar pode se manifestar, como o de
acolhimento, de vigilancia, de advertencia, de protegáo, ele ainda
pode acontecer ao modo da tristeza, da alegría, do alivio, da
indiferenga. Ou seja, é modalizado, colorido afetivamente, revelando
o modo de ser do ser-aí. Fechar os olhos para nao ver torna-se
assim, o modo de olhar que está presente naquele contato.
Fechamento, negagáo, exclusáo, é também um modo de olhar. E esse
modo diz de nos mesmos, diz do modo como somos afetados pelo
mundo e como nos relacionamos com os outros. É que ver é olhar
para tomar conhecimento, e muitas vezes é justamente disto que
desviamos o olhar, pois, ver confere existencia.
O sentido de reconhecimento que um olhar pode conferir, abre a
possibilidade de mudanga numa relagáo, pois é um olhar de respeito
(a palavra respeito vem de re = de novo e spicere = olhar,
considerar). Considerar pode ser entendido entáo, como olhar alguma
coisa na sua relagáo com o contexto mais ampio.
Sentir-se desrespeitado, entáo, é o mesmo que sentir-se nao visto, e
se nao sou visto a sensagáo é de nao existencia. E sendo assim,
como pode ser reconhecido? Diante dessa falta de reconhecimento,
dessa sensagáo de exclusáo, muitas vezes ser violento (latim
violentia = tratar com forga contra o direito alheio) é urna das
possibilidades para sair do anonimato, da negagáo do olhar do outro.
Quem sabe assim pode-se garantir que existe, mesmo que seja ao
modo do sofrimento?
Olhar para tomar conhecimento. Reconhecimento, conhecer de novo
e a cada vez. Para ver de um outro modo e assim poder descobrir o
que antes ainda nao havia sido possível ver. Nao é que já está lá no
outro ou em mim mesmo o que me falta ver. Mas é exatamente no
modo de olhar que se abre o novo de mim e do outro. Nasce deste
encontró, desta abertura, desta disponibilidade. Olhar para ver. Ver
o que se mostra, tal como é.
Ricoeur (2009) aponta o respeito como sendo o que estabelece a
relagáo fundamental da alteridade. O autor sugere que ao invés da
empatia, que Husserl (2006) propóe como sendo foco central da
9 Consideragóes fináis
A modalidade grupo requer que seu lugar ñas práticas clínicas seja
constantemente reconfigurado por se tratar de urna estrategia que
pode perder-se de sua própria finalidade, quando atende ás
demandas de produtividade técnica de assistir um maior número de
pessoas no menor tempo possível. A abordagem fenomenológico-
existencial, atenta ao que é mais próprio á existencia, a liberdade,
propóe que a modalidade em grupo seja atualmente um dispositivo
para refletir sobre os modos impessoais de se corresponder ás
demandas contemporáneas. Refletir nao é negar nem se opor a essas
demandas, mas se manter despertó para tomar posigáo diante délas
de modo mais singular. Entendemos que o trabalho psicoterapéutico
em grupo pode oferecer oportunidades privilegiadas para esse tipo de
experiencia, por se configurar como um campo onde os modos de
convivencia tendem a se evidenciar mais e onde as possibilidades de
controle e produtividade por parte do especialista tendem a ser
menores, pelo alto grau de imprevisibilidade que urna sessáo em
grupo apresenta, se comparada a urna sessáo individual. Nao foi o
objetivo deste trabalho fazer urna comparagáo valorativa ou
privilegiar urna modalidade psicoterapéutica em detrimento da outra,
mas apenas considerar os sentidos das contribuigoes específicas que
a clínica em grupo pode trazer para as práticas psicológicas.
Referencias
Roberto Novaes de Sá
Programa de Pós-Graduagao em Psicología da Universidade Federal Fluminense -
Campus do Gragoatá - Rúa Prof. Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n, bloco O,
sala 214, CEP: 24210-201, Gragoatá, Niterói, RJ, Brasil
Enderego eletrónico: roberto novaes@terra.com.br
Recebidoem: 09/11/2011
Reformulado em: 14/07/2012
Aceito para publicagao em: 24/07/2012
Acó m pan ha mentó do processo editorial: Ana Maria López Calvo de Feijoo
Notas
*Doutoranda em Psicología - Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói/RJ,
Brasil; Mestre em Filosofía - PUC, Sao Paulo/SP, Brasil; Especialista em Psicología
Clínica - PUC, Belo Horizonte/MG, Brasil; Psicóloga - UERJ, Rio de Janeiro/RJ,
Brasil.
**Professor Titular do Programa de Pos Graduagao em Psicología da
UFF, Niterói/RJ, Brasil.
*A expressao alema mitdasein para a qual a tradugao brasileira utilizou o termo co-
presenga, será por nos traduzida por co-existéncia.
2
A fenomenología que Ricoeur desenvolve sobre os sentimentos, aproxima-se da
concepgao heideggeriana sobre a tonalidade afetiva, como aparece no seguinte
trecho: "Mas como essas qualidades (as qualidades sentidas) nao sao objetos em
face de um sujeito, mas a expressao intencional de um vínculo indiviso com o
mundo, o sentimento vai aparecer ao mesmo tempo como um colorido de alma,
como urna afecgao" (RICOEUR, 2009, p. 296).
RESUMO
Na tentativa de apresentar urna proposta de psicología clínica diferente dos
modelos de psicoterapia que se pautam ñas ciencias naturais, serao
apresentados argumentos em defesa de urna perspectiva clínica em
psicología com base na fenomenología hermenéutica tal como desenvolvida
por Martin Heidegger. Para tanto, serao consideradas: 1- a indissociabilidade
e nao a dicotomía homem e mundo; 2- o caráter epocal em que a
existencia se dá em oposigao ao caráter ahistórico da constituigao do
homem. 3- a técnica nao mais como um meio para atingir um fim, mas
como horizonte histórico de determinagao das crises existenciais. Por fim,
mostrará que a clínica que tem como base a existencia consiste apenas em
urna tentativa de pensar a psicología como um espago de tematizagao das
questoes trazidas pelo analisando, para quem as transformagoes existenciais
apontam como possibilidades e nao como necessidades.
Palavras-chave: Fenomenología-hermenéutica; Heidegger; existencia;
psicología clínica.
ABSTRACT
In an attempt to present a proposal for a clinical psychology of different
models of psychotherapy that are implemented in natural sciences, our
intention is to bring arguments in defense of a perspective of clinical
psychology based on phenomenological hermeneutics as developed by
Martin Heidegger. To do so, will be: 1-the inseparability and not the
dichotomy man and world; 2-the epochal character in that existence is in
opposition to the not history of the constitution of man's character. 3-To
think the technique no longer as a means to an end, but as a historical
horizon in that existential crisis happen. Finally, it will show that the clinic
which is based on the existence consists only in an attempt to think
psychology as an área of thematization of the issues brought by analyzing,
for whom are possible and necessary the existential transformations.
Keywords: Phenomenology hermeneutics; Heidegger; Existential; clinical
psychology.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 973-986 2012
Ana Maria López Calvo de Feijoo
A clínica psicológica em urna inspiragao fenomenológica - hermenéutica
1 Introdugao
2 A retomada da existencia
4 Consideragóes fináis
Referencias
Recebidoem: 12/06/2012
Reformulado em: 26/07/2012
Aceito para publicagao em: 11/11/2012
Acompanhamento do processo editorial: Ana Maria Jaco Vilela
Notas
*Doutora em psicologia pela UFRJ, Professor Adjunto do Departamento de
Psicologia Clínica e do Programa de Pos- Graduagao em Psicologia Social do Estado
do Rio de Janeiro
RESUMO
O presente artigo objetiva inicialmente assinalar como Ana Maria Calvo de
Feijoo, no livro A existencia para além do sujeito, inscreve a nogao de
existencia, pertencente ao pensamento fenomenológico de Martin
Heidegger, como eixo em torno do qual gira urna nova proposta para a
prática clínica em psicología. Em um segundo momento, deve-se dizer por
que sua proposta desconstroi o caráter confessional norteador das práticas
clínicas tradicionais na psicología. Para tanto, o texto reconstruirá
operadores conceituais presentes na obra de Feijoo que viabilizem alcangar
tais objetivos, além de explicitar certos pressupostos tácitamente presentes
em seu pensamento que viabilizem as propostas aqui almejadas. Neste
sentido, será necessário mostrar como a nogao heideggeriana de existencia
subsidiada pelo conceito husserliano de intencionalidade desconstroi o
conceito tradicional de verdade, pressuposto de toda prática confessional da
clínica tradicional, prática esta que sempre imprimiu na psicología as marcas
da moralidade.
Palavras-chave: existencia; sujeito; clínica; confissáo.
ABSTRACT
The present article aims firstly at highlighting the way (how) Ana Maria
Calvo de Feijoo uses the notion of Existence in her book The existence
beyond the subject. Such notion belongs to the phenomenological thought
of Martin Heidegger, as an axis around which a new proposal for the clinical
practice in psychology rotates. Secondly, the article focus on showing why
her proposal deconstruets the leading confessional character of the
traditional clinical practices in psychology. In order to reach its target, the
text not only rebuilds the conceptual operators found in Feijoo's work,
which make the goal possible to be reached, but it also makes explicits
some principies present in her thought . To do so, it must be explained how
the Heideggerian notion of existence and the Husserl concept of
intentionality deconstruct the tradicional concept of truth. Such concept
designs every confessional practice in traditional clinic. This is the practice
which has always marked psychology with morality..
Keywords: existence; subject; clinic; confession.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicología Rio de Janeiro v. 12 n. 3 p. 987-1006 2012
Alexandre Marques Cabra I
Da crise do sujeito á superagao da confissao clínica
1 Introducao
dos entes em geral. O que subjaz pode ser dito em latim subjectum
(sujeito), que se identifica inteiramente com a nogáo também latina
de substantia (o subjacente). Como tal instancia ontologicamente
está posicionada "para além" do devir e da singularidade dos
fenómenos, os discursos que sempre pretenderam dar conta déla se
caracterizaram por ser dotados de universalidade e por pretenderem
subsumir (subjugar) o múltiplo por meio do uno que com ele nao se
identifica. Devido ao fato de pretender se estruturar por meio de um
deslocamento do múltiplo em diregáo ao uno ou de urna saída do
devir em diregáo ao imutável, o discurso que sempre visou descrever
o supósito dos entes é caracterizado a um só tempo como meta-
narrativa metafísica. Pode-se dizer entáo que o pensamento
ocidental, desde a sua aurora até o seu ocaso, determinou-se pelas
sucessivas tentativas de descrever a "subjetividade" dos fenómenos,
para que estes pudessem ser fundamentados e tivessem assegurada
sua inteligibilidade derradeira. Por isso, o Ocidente sempre supós um
corte ontologico no real, que os gregos (sobretudo Platao) chamaram
de chorismós. A cisáo do real funda urna compreensáo binaria do
mundo, onde diversas oposigóes sao possíveis enquanto sao
consideradas variagóes do mesmo tema: as dicotomías metafísicas
sempre reproduziram e reinscreveram a relacao
fundamento/fundado, sendo que o primeiro dos polos foi considerado
o substrato ontologico condicionador e justificador do segundo.
Considerou-se tal polo como previamente constituido - por isso o seu
caráter substantivado. Ora, se a crise que nos assola diz respeito á
estruturagáo das meta-narrativas que vieram estruturando o
Ocidente, entáo, o que está em jogo nela é a derrocada do modo
mesmo como o Ocidente compreendeu o real até entáo. Como
entendé-la?
Nietzsche assinalou a crise que nos acomete com a famosa expressáo
"Deus está morto". Apesar de a morte de Deus aparecer em diversas
páginas significativas de sua obra, a passagem mais conhecida,
presente no aforismo 125 de A gaia ciencia, diz expressamente que a
causa mortis de Deus é deicídio. Deus foi assassinado nao por um
homem, mas pelo homem ocidental na modernidade de sua historia:
"Para onde foi Deus?, gritou ele, *já Ihes direi! Nos o matamos -
voces e eu'. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso?
Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a
esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nos, ao desatar a térra
do seu sol?" (NIETZSCHE, 2002, § 125). Deus morreu assassinado
por nos. Nao se trata de um grito a mais no coro dos ateísmos
ocidentais, que nada mais sao que um tipo de teísmo invertido parido
no seio da modernidade. Como percebeu Heidegger: "O dito 'Deus
morreu' significa: o mundo supra-sensível está sem forga atuante. Ele
nao irradia nenhuma vida" (HEIDEGGER, 2002, p. 251). A morte de
Deus é a imagem nietzschiana para caracterizar a crise da metafísica
Referencias
Recebidoem: 30/03/2012
Reformulado em: 24/07/2012
Aceito para publicagao em: 25/07/2012
Acompanhamento do processo editorial: Ana Maria López Calvo de Feijoo
Notas
* Doutorado em filosofía na UERJ. Vinculagao institucional: Colegio Federal Pedro
I I , Instituto Metodista Bennett e Instituto de Psicologia fenomenológico-existencial.
Clinic as a poietic
RESUMO
Um dos temas fundamentáis na clínica diz respeito á produgao de sentido.
Quando Merleau-Ponty enfatiza a nogao de carne, propoe urna especie de
passividade do eu ao campo, a um ser bruto que comporta eu e outro,
cultura, historicidade, temporalidade. Afirma a necessidade de passar da
erlebnisse (vivencia) á stiftung (instituigao), colocando acento num tipo de
produgao de sentido que é génese espontánea, diferenciagao, criagao a
partir da diferenga. Neste trabalho discutimos a clínica da estalt-terapia em
diálogo com essas propostas e as questoes contemporáneas, para propor a
clínica como lugar de criagao, que visa permitir o nascimento espontáneo do
sentido como fala falante e desviante; a génese do sentido como instituigao
que nos garante o pertencimento com o outro a um mesmo mundo. É nesse
sentido que podemos pensar em urna ética da criagao na diferenga - urna
clínica como poiética.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, Merleau-Ponty, Instituigao, sicología
clínica, Corpo.
ABSTRACT
A key tríeme of trie clinic relates to trie production of meaning. When
Merleau-Ponty emphasizes the notion of flesh, proposes a kind of passivity
of the self to the field, a brute being who holds self and other, culture,
history, temporality. Affirms the need to move from Erlebnisse (experience)
to Stiftung (institution), placing emphasis on a kind of sense produced by
spontaneous génesis, differentiation, creation from the difference. We
discuss the clinical gestalt therapy in dialogue with these proposals and
contemporary issues, to propose the clinic as a place of creation,designed to
allow spontaneous birth of meaning as deviant speech; the génesis of the
sense as an institution guarantees belonging with the other to the same
world. In this sense we can think of an ethics of creation from the difference
- clinic as a poietic
Keywords: GestaIt-Therapy, Merleau-Ponty, institution, clinical psychology,
body.
1 Introdugao
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia | Rio de Janeiro | v. 12 | n. 3 |p. 1007-1023) 2012
Mónica Botelho Alvim
A clínica como poiética
Paulo Leminski
2 Experiencia e expressáo
3 Corpo e intercorporeidade
5 Consideragóes Fináis
Referencias
Notas
*Doutora em Psicología - Universidade de Brasilia - UnB.
1
Artista brasileira que fez parte do movimento neoconcreto no Rio de Janeiro
(1959) e que exerceu um papel importante na formulagao de concepgoes
instituintes para a arte contemporánea, como a participagao do espectador e a
implicagao do corpo do espago da arte.
2
O termo é utilizado na GestaIt-Terapia para indicar um tipo de relagao sujeito-
mundo que funciona em um modo medio, ou seja, nem ativo, nem passivo. Provém
da lingüística, de um modo verbal medio que desapareceu da maior parte das
línguas, onde sobrevivem apenas os modos verbais ativo e passivo. Ver Perls,
Hefferline e Goodman (1997) , Robine (2006) e Alvim (2007).
RESUMO
O presente trabalho analisa a constituigao da política de saúde mental no
Brasil e no estado do Rio Grande do Sul, contextualizada na trajetória das
políticas de saúde no Brasil, com suas conexoes com o sistema económico,
político e social do país, na perspectiva teórica dialético-crítico. O momento
histórico analisado foi entre o Imperio e o final do século XX, período de
significativas transformagóes na modelagem das políticas sociais,
decorrentes das mudangas ocorridas no papel do Estado. A análise teórica
considerará os movimentos presentes ñas articulagoes entre o campo do
conhecimento e o campo económico e político, determinado a constituir e
consolidar um estado nacional e desenvolvimentista. Quadros e sínteses
apresentarao os acontecimentos mais relevantes nos períodos analisados,
para melhor contextualizagao e análise dos mesmos.
Palavras-chave: Historia da saúde mental, Políticas de saúde mental,
Brasil, Rio Grande do Sul.
ABSTRACT
The present work analyzes the constitution of mental health care policy in
Brazil and in the state of Rio Grande do Sul. It will evalúate the trajectory of
the mental health care policies in Brazil, with its connections to the
country's economic, politic and social system, in theory perspective
dialectical-critic. For that, it will be studied the period comprised from the
Empire until the end of the 20th century, a period of significant changes in
the mould of social policies, caused by modifications occurred in the role of
the State. Henee, the theoretical analysis will take into account the actions
presented in the articulations between the technical knowledge and the
economic and politic field in order to construct and consolídate a national
and developmental state. Synthesis charts will present the most relevant
events occurred in the evaluated period in order to better understand and
analyze them.
Keywords: History of mental health care politics, Mental health care
policies, Brazil, Rio Grande do Sul.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia | Rio de Janeiro | v. 12 | n. 3 |p. 1024-1045) 2012
Miriam Triáis Guterres Dias
Hist. e reflex. sobre as políticas de saúde mental no Brasil e no Rio Grande do Sul
1 Introdugao
ANO ACONTECIMENTOS
1930 Criagáo do Ministerio da Educagáo e Saúde Pública.
1931 Clínica Olivé Leite, hospital psiquiátrico privado em Pelotas, RS.
Criagáo dos Institutos de Aposentadorias e Pensóes - IAP's, que
1933 instituí a política de assisténcia médica previdenciária, destinada a
grupos de trabalhadores urbanos mais organizados.
Clínica Sao José, hospital psiquiátrico privado em Porto Alegre, RS.
1934 Lei n°. 24.559, que dispóe sobre a Assisténcia e Protegáo á Pessoa e
aos Bens dos Psicópatas.
1935 Secretaria de Educagáo e Saúde Pública , no RS.
Reforma do Ministerio, que passa a se denominar Ministerio da
1937 Educagáo e Saúde.
4 Período Desenvolvimentista
7 Consideragóes Fináis
Referencias
Notas
*Professora Doutora em Servigo Social; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Instituto de Psicología - Departamento de Psicología Social e Institucional
- Curso de Servigo Social.
Marina Massimi**
Universidade de Sao Paulo - USP, Sao Paulo, Sao Paulo, Brasil
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi o de abordar o tema "trauma e memoria" na
literatura de autores judeus da Psicología, que viveram na Europa no
período da Segunda Guerra Mundial/Holocausto e analisar possíveis
repercussoes do trauma em suas vidas e teorías. O trauma psicológico é
relacionado á vida de todo ser humano e tem merecido maior atengao de
diversas disciplinas. Violencia, catástrofes e más condigoes de vida afetam a
vida de muitos direta e indiretamente. Os autores escolhidos foram Kurt
Lewin, Viktor Frankl e Bruno Bettelheim. Utilizou-se o método
historiográfico, específicamente da área de historia da psicología. Os
resultados apontaram que a situagao traumática vivida modificou a maneira
s se posicionarem na teoria elaborada e na vida. Nos relatos
encontram-se recursos pessoais, de teor psicológico e cultural, utilizados
para vivenciar ou superar o trauma. Em suma, existe urna significativa
relagao dos estudos por eles realizados com a vivencia do trauma.
Palavras-chave: trauma psicológico, Holocausto, Kurt Lewin, Viktor Frankl,
Bruno Bettelheim.
ABSTRACT
The aims of this research were: to approach the theme "trauma and
memory" in Psychology author's literature, who were Jews and lived in
Europe at Second World War and Holocaust period, and to analyze the
possible trauma's influence in their lives and theory. The psychological
trauma is related to the life of every human and has received increasing
attention from various disciplines. Violence, disasters and poor living
conditions affect many people directly and indirectly. The authors chosen
were Kurt Lewin, Viktor Frankl and Bruno Bettelheim. The method utilized is
historiographyc, of history psychology área. The results indicated that lived
traumatic situation changed the way they elabórate themselves in the
developed theory and life. In those author's reports and articles,
psychological, cultural and their own resources were used to experience and
overeóme trauma; in conclusión, there is a significant relationship between
their studies and the trauma 's experience. (CNPq/CAPES/FAPESP)
Keywords: psychological trauma, Holocaust, Kurt Lewin, Viktor Frankl,
Bruno Bettelheim.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia | Rio de Janeiro | v. 12 | n. 3 |p. 1046-1062) 2012
Milena Callegari Cosentino, Marina Massimi
A experiencia de autores judeus da psicología sobreviventes do holocausto
1 Introdugao
4 Os Judeus e o Holocausto
De modo geral, o fato da historia do povo judeu ter sido marcada por
guerras e perseguigóes fez com que algumas características
passassem a fazer parte de sua cultura, como a rememoragáo em
festas das perseguigóes e dos "livramentos", a grande quantia de
publicagóes referentes ao Holocausto e outras publicagóes das
diversas áreas da ciencia de autores judeus, que carregam de alguma
forma a influencia cultural da qual eles participam.
6 Resultados
Referencias
Recebidoem: 18/01/2012
Reformulado em: 03/09/2012
Aceito para publicagao em: 27/11/2012
Acó m pan ha mentó do processo editorial: Ana Maria Jaco Vilela
Notas
*Psicóloga, Mestranda em Psicología pela Faculdade de Filosofía, Ciencias e Letras
de Ribeirao Preto.
**Professora Titular da Faculdade de Filosofía, Ciencias e Letras de Ribeirao Preto.
Departamento de Psicología.
Alexandre Trzan-Ávila*
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brasil
RESUMO
O objetivo deste trabalho é construir um relato histórico da emergencia da
Abordagem Centrada na Pessoa no Brasil (ACP), visando responder as
seguintes perguntas: como esta abordagem chega ao Brasil; com quem
chega; como se desenvolve; quais influencias de ámbito nacional esta
abordagem recebe. Estas questoes se fazem pertinentes pela constatagao
que a ACP entra no Brasil em urna época atravessada por movimentos
libertarios, como a contracultura, movimentos de minoria, antipsiquiatria e
as batalhas pela democracia no Brasil. A ACP é urna das primeiras vertentes
da Psicología Humanista e deve sua sistematizagao ao psicólogo norte-
americano Carl Rogers, que aponta para urna perspectiva de homem e das
relagoes humanas e valoriza a potencia de desenvolvimento do ser humano.
O presente trabalho utiliza o método historiográfico, que consiste em um
processo de reconstrugao da historia.
Palavras-chave: Historia da Psicología, Abordagem Centrada na Pessoa,
Historiografía.
ABSTRACT
The objective of this study is to develop a historical account of the
emergence of Person-Centered Approach in Brazil (PCA), to answer the
following questions: how this approach arrives at Brazil, with whom it
comes, how does it develop and which nationwide influences does this
approach receive. These issues become relevant due to the fact that the PCA
enters Brazil at a time crossed by liberation movements, such as the
counterculture, minority movements, anti-psychiatry and the struggles for
democracy in Brazil. The PCA, first currents of the Humanist Psychology,
owes its systematization to the American psychologist Carl Rogers, who
points to a view of man and of human relations, who valúes the power of
human development. This paper uses the historiographical method, which
consists in a process of reconstructing the history.
Keywords: History of Psychology, Person Centered Approach,
Historiography.
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia | Rio de Janeiro | v. 12 | n. 3 |p. 1063-1069) 2012
Alexandre Trzan-Ávila, Ana Maria Jacó-Vilela
Uma historia da Abordagem Centrada na Pessoa no Brasil
Referencias
Notas
*Mestrando do Programa de Pós-Graduagao em Psicología Social (PPGPS) da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro - Brasil. Graduado
em Psicología pela Universidade Veiga de Almeida.
**Professora Associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de
Janeiro - Brasil.
Roberto S. Kahlmeyer-Mertens*
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brasil
ISSN 1808-4281
Estudos e Pesquisas em Psicologia | Rio de Janeiro | v. 12 | n. 3 |p. 1070-1077) 2012
Roberto S. Kahlmeyer-Mertens
Resenha do livro A existencia para além do sujeito
Referencias
Recebidoem: 28/09/2012
Aceito para publicagao em: 18/10/2012
Acó m pan ha mentó do processo editorial: Ana Maria López Calvo de Feijoo
Notas
*Doutor em filosofía pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Membro
efetivo da Sociedade Brasileira de Fenomenología - SBF
^ f . Bibliografía.
2
Ideia latente na psicologia empírica de escolas como o estruturalismo de Titchner,
o funcionalismo de James e o comportamentalismo com Watson e Skinner.
3
Veja-se mais a este respeito em Boss. Cf. Bibliografía.
4
Em nota ao terceiro capítulo, a autora diz que os relatos sao ficticios, estabelecidos
a partir de sua experiencia como psicoterapeuta (FEIJOO, 2011, p. 89).