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Teoria das Supercordas

Entrevista com Brian Greene nd Revista Época

Artigos - Ciência Atual

Escrito Por Brian Greene

Sáb , 13 de Dezembro de 2008 16:41

ÉPOCA - Como o senhor resumiria a teoria das supercordas?

Brian Greene - Ela materializa o sonho de Albert Einstein de criar uma teoria
única para explicar o Universo. No século XX, a Ciência desenvolveu duas
teorias que funcionam como pilares da Física.

A teoria geral da relatividade, criada por Einstein, explica como a gravidade


opera em grandes dimensões, em estrelas e galáxias. Já a mecânica quântica
explica como as leis da Física operam no extremo oposto, nas subpartículas
atômicas. Durante várias décadas, essas duas teorias só funcionavam nos
próprios campos, o pequeno e o grande. Quando cientistas tentavam juntá-las -
o que é indispensável, por exemplo, para entender o que se passa no centro de
um buraco negro , as equações se estilhaçavam.

ÉPOCA - Como as supercordas entram na história?

Greene - Elas surgiram como uma nova e fundamental entidade, a base para
tudo o que existe no Universo. Já faz algum tempo que conhecemos os átomos
e também as partículas subatômicas, como os elétrons, que giram ao redor dos
núcleos, e os prótons, que integram o núcleo dos átomos. Conhecemos
também algumas partículas subnucleares, como os quarks, que habitam os
nêutrons e prótons. Mas é aí que o conhecimento convencional empaca. A
teoria das supercordas diz que existe algo menor e mais fundamental: dentro
dos quarks, da mais ínfima partícula subatômica, existe um filamento de
energia que vibra como as cordas de um violino. E são os diferentes padrões
de vibração dessas cordas que determinam a natureza de diferentes tipos de
subpartículas. Isso permitiria unificar a teoria geral da relatividade com a
mecânica quântica.

ÉPOCA - Os últimos avanços na teoria das supercordas incluem um conceito


altamente perturbador, a existência de 11 dimensões.

Greene - Para que essa teoria possa existir, ela requer que o Universo não
tenha apenas as três dimensões com que estamos habituados. Os cientistas
que adotam a teoria das supercordas trabalham com a possibilidade de que o

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Universo tenha entre dez e 11 das chamadas dimensões de espaço-tempo. É
difícil de engolir, mas é o que a teoria prevê, de maneira consistente.

ÉPOCA - Ela também prevê universos paralelos a nossa realidade, idéia que o
senhor aborda em seu novo livro, O Tecido do Cosmos.

Greene - Todo o mundo enxerga claramente da direita para a esquerda, para a


frente e para trás e para cima e para baixo. Cadê as outras dimensões? Uma
das sugestões da teoria é que nós não conseguimos enxergá-las justamente
porque precisamos da luz para ver. E pode ser que a luz seja capturada, como
numa espécie de armadilha, apenas pelas três dimensões com as quais
estamos acostumados. Gosto de comparar o Universo que conhecemos e
enxergamos a uma fatia de pão. Mas todo o Universo, com suas realidades
paralelas, poderia incluir as demais fatias de um mesmo pacote de pão de
fôrma. E talvez tudo o que conhecemos e conseguimos enxergar aconteça
apenas nessa nossa fatia de realidade iluminada pela luz, que não consegue
viajar para as demais fatias do pacote.

ÉPOCA - Então clones de nós mesmos poderiam habitar esses universos


paralelos?

Greene - Sim, mas não necessariamente. É possível também que as demais


fatias desse pão nem contenham vida. O principal é que aquilo que durante
muito tempo julgamos ser o Universo pode ser apenas um pedaço dele.

ÉPOCA - Como o senhor se sente tendo dedicado 20 anos de sua vida a essa
teoria das supercordas, que ainda não tem nenhuma comprovação?

Greene - É um desconforto danado! Depois de tanto tempo e esforço, quero


saber a verdade. E todos nós, os cientistas especializados nesse campo,
temos uma necessidade premente de poder comprová-la ou derrubá-la com
experimentos físicos observáveis. Nossa esperança é que isso aconteça na
próxima década.

ÉPOCA - A teoria poderia ser testada a partir de 2007, quando o maior


acelerador de partículas do mundo, o Large Hadron Collider, ficará pronto, na
Suíça. Que tipo de evidências poderia sair de lá?

Greene - Existe algo chamado supersimetria, um conceito que emerge das


supercordas e sugere que, para cada subpartícula atômica conhecida, haja
uma subpartícula complementar, simétrica. Essas partículas ainda
desconhecidas deveriam ser mais pesadas que as conhecidas, o que faz com
que elas necessitem de mais energia para ser criadas. É possível que o Large
Hadron Collider seja um acelerador potente o bastante para provocar colisões
subatômicas suficientemente fortes para gerar tais subpartículas. Esses
experimentos seriam uma evidência indireta de que estamos no caminho certo.
Outra possibilidade é que as colisões entre subpartículas altamente
energizadas venham a produzir o que chamamos de grávitons, pequenas
partículas da força da gravidade, que teoricamente são pequenas cordas na
forma de um laço, sem extremidades. Se existirem, os grávitons poderiam
escapar a nossas dimensões, pertencendo a outros universos - ou a outras
fatias do pão.

-2-
ÉPOCA - E se a teoria for derrubada?

Greene - Em primeiro lugar, nada garante que o Hadron Collider será potente o
bastante para provar ou derrubar a teoria. Há quem pense que eu me sinto feliz
ou aliviado com isso, o que não é verdade. Você acha que eu quero me dedicar
a uma teoria equivocada? Se ela estiver furada, quero ser o primeiro a saber! É
claro que eu ficaria bastante decepcionado, porque é uma teoria maravilhosa.
As idéias que ela sustenta são melhores do que qualquer coisa que temos visto
em ficção científica. Mas, se ela estiver errada, vou ficar de luto por uns dois
dias e então voltar a trabalhar normalmente.

ÉPOCA - Como o senhor explica o conceito de matéria escura para o público


leigo?

Greene - Trata-se de um tipo de matéria que não emite luz ou não responde a
ela, daí seu nome. Mas existem evidências de que há uma boa quantidade
desse troço escuro espalhado pelo Universo. Ainda que não possamos ver a
matéria escura através da luz, podemos observá-la pela influência gravitacional
que exerce. Podemos observar objetos sensíveis à luz e que sofrem o efeito da
matéria escura. Mas existem explicações alternativas para os padrões
excêntricos desses objetos. Talvez o que aconteça é que nós não entendemos
direito como a gravidade funciona. Mas pessoalmente eu não acredito que
essas alternativas sejam convincentes. Acredito na existência da matéria
escura porque ela provém de diversas fontes de evidências cosmológicas.

ÉPOCA - De que maneira descobertas científicas em Astrofísica e Cosmologia


afetam a vida das pessoas?

Greene - O primeiro passo para encontrar nosso lugar no Universo é conhecê-


lo, saber do que é feito e de que maneira funciona.

ÉPOCA - Stephen Hawking diz que essas descobertas permitiriam à


humanidade compreender a 'mente de Deus'. Mas quanto tempo será preciso
para que a Ciência consiga ver a 'face de Deus' ou negar sua existência?

Greene - A Ciência não tem como provar ou negar a existência de Deus. Mas
tem contribuído para responder a algumas perguntas que se fazem a ele,
questões sobre como o Universo se formou. A Ciência não tem nada a dizer, e
jamais terá, sobre a existência ou não de um Deus por trás disso tudo. Eu me
pergunto até mesmo se há alguma porta dos fundos entre o cenário e os
bastidores do que chamamos Universo. Talvez o filme Matrix sirva como uma
boa imagem para isso. Nele, os personagens têm o cérebro estimulado para
viver uma existência comum. Como podemos saber se isso não está
acontecendo conosco agora mesmo? Em minhas entranhas não acredito nisso.
E elas também me dizem que Deus não existe, mas não tenho como provar.
Eu me sint o feliz com um Universo sem Deus, regido apenas pelas leis da
Física, porque ela é tão rica e nos possibilita compreender tanto! Acredito
também no valor da vida. Nesse sentido talvez eu seja um existencialista.

ÉPOCA - O senhor concorda com a nova posição de Hawking sobre os


buracos negros? Ele diz agora que a superfície de um buraco negro deixa
escapar 'informação', ou seja, matéria e energia engolidas por ele.

-3-
Greene - Ainda não vi os cálculos de Hawking. Mas, durante vários anos, os
especialistas em supercordas têm reunido argumentos próprios para acreditar
que a informação não é perdida dentro dos buracos negros. Logo, acredito nos
resultados de Hawking.

ÉPOCA - De que maneira a política interfere nas descobertas científicas de


hoje, bancadas por governos de países ricos e suas universidades?

Greene - De forma limitada. Nos Estados Unidos, o governo federal determina


o montante total a ser investido em Ciência, mas, a partir daí, o destino final do
dinheiro é decidido por um sistema de especialistas e comissões que se atêm
ao mérito científico dos projetos.

ÉPOCA - O que o senhor acha do projeto do presidente Bush de enviar uma


missão tripulada a Marte?

Greene - A idéia das missões tripuladas é excitante para o grande público. E


reconheço que é importante manter as pessoas excitadas em relação à
Ciência. Mas, do ponto de vista estritamente científico, é difícil entender as
justificativas para isso. Com um orçamento muito menor seria possível, por
exemplo, financiar mais sondas espaciais não-tripuladas, como as que têm
visitado Marte e Saturno.

ÉPOCA - Qual a importância delas?

Greene - Certamente essas duas missões, especialmente a enviada a Marte,


podem esclarecer mistérios sobre as condições necessárias ao
desenvolvimento da vida e de que maneira o sistema solar se formou. Muito
mais importantes, entretanto, são as coisas que podemos aprender e que
nenhum de nós ainda conseguiu antecipar a respeito dessas duas missões.
São problemas que ainda não foram sequer formulados.

ÉPOCA - O que o senhor acha de ser comparado ao cientista Carl Sagan, que
nos anos 70 e 80 estrelava o seriado de TV Cosmos?

Greene - Fico lisonjeado, porque cresci assistindo aos programas dele e boa
parte da minha inspiração em me tornar um cientista veio do Sagan. Recebi
mais de 16 mil e-mails desde que meus programas estrearam na TV. A maior
parte é enviada por garotos.

ÉPOCA - Em que projetos o senhor está envolvido?

Greene - Quero me aprofundar nos aspectos cosmológicos das supercordas.


Além disso, estou trabalhando com o Lincoln Center num projeto de encenação
teatral que deverá estrear em 2005. Combina a teoria das supercordas com um
concerto de cordas.

ÉPOCA - Como o senhor resumiria a teoria das supercordas?

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Brian Greene - Ela materializa o sonho de Albert Einstein de criar uma teoria
única para explicar o Universo. No século XX, a Ciência desenvolveu duas
teorias que funcionam como pilares da Física.

A teoria geral da relatividade, criada por Einstein, explica como a gravidade


opera em grandes dimensões, em estrelas e galáxias. Já a mecânica quântica
explica como as leis da Física operam no extremo oposto, nas subpartículas
atômicas. Durante várias décadas, essas duas teorias só funcionavam nos
próprios campos, o pequeno e o grande. Quando cientistas tentavam juntá-las -
o que é indispensável, por exemplo, para entender o que se passa no centro de
um buraco negro , as equações se estilhaçavam.

ÉPOCA - Como as supercordas entram na história?

Greene - Elas surgiram como uma nova e fundamental entidade, a base para
tudo o que existe no Universo. Já faz algum tempo que conhecemos os átomos
e também as partículas subatômicas, como os elétrons, que giram ao redor dos
núcleos, e os prótons, que integram o núcleo dos átomos. Conhecemos
também algumas partículas subnucleares, como os quarks, que habitam os
nêutrons e prótons. Mas é aí que o conhecimento convencional empaca. A
teoria das supercordas diz que existe algo menor e mais fundamental: dentro
dos quarks, da mais ínfima partícula subatômica, existe um filamento de
energia que vibra como as cordas de um violino. E são os diferentes padrões
de vibração dessas cordas que determinam a natureza de diferentes tipos de
subpartículas. Isso permitiria unificar a teoria geral da relatividade com a
mecânica quântica.

ÉPOCA - Os últimos avanços na teoria das supercordas incluem um conceito


altamente perturbador, a existência de 11 dimensões.

Greene - Para que essa teoria possa existir, ela requer que o Universo não
tenha apenas as três dimensões com que estamos habituados. Os cientistas
que adotam a teoria das supercordas trabalham com a possibilidade de que o
Universo tenha entre dez e 11 das chamadas dimensões de espaço-tempo. É
difícil de engolir, mas é o que a teoria prevê, de maneira consistente.

ÉPOCA - Ela também prevê universos paralelos a nossa realidade, idéia que o
senhor aborda em seu novo livro, O Tecido do Cosmos.

Greene - Todo o mundo enxerga claramente da direita para a esquerda, para a


frente e para trás e para cima e para baixo. Cadê as outras dimensões? Uma
das sugestões da teoria é que nós não conseguimos enxergá-las justamente
porque precisamos da luz para ver. E pode ser que a luz seja capturada, como
numa espécie de armadilha, apenas pelas três dimensões com as quais
estamos acostumados. Gosto de comparar o Universo que conhecemos e

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enxergamos a uma fatia de pão. Mas todo o Universo, com suas realidades
paralelas, poderia incluir as demais fatias de um mesmo pacote de pão de
fôrma. E talvez tudo o que conhecemos e conseguimos enxergar aconteça
apenas nessa nossa fatia de realidade iluminada pela luz, que não consegue
viajar para as demais fatias do pacote.

ÉPOCA - Então clones de nós mesmos poderiam habitar esses universos


paralelos?

Greene - Sim, mas não necessariamente. É possível também que as demais


fatias desse pão nem contenham vida. O principal é que aquilo que durante
muito tempo julgamos ser o Universo pode ser apenas um pedaço dele.

ÉPOCA - Como o senhor se sente tendo dedicado 20 anos de sua vida a essa
teoria das supercordas, que ainda não tem nenhuma comprovação?

Greene - É um desconforto danado! Depois de tanto tempo e esforço, quero


saber a verdade. E todos nós, os cientistas especializados nesse campo,
temos uma necessidade premente de poder comprová-la ou derrubá-la com
experimentos físicos observáveis. Nossa esperança é que isso aconteça na
próxima década.

ÉPOCA - A teoria poderia ser testada a partir de 2007, quando o maior


acelerador de partículas do mundo, o Large Hadron Collider, ficará pronto, na
Suíça. Que tipo de evidências poderia sair de lá?

Greene - Existe algo chamado supersimetria, um conceito que emerge das


supercordas e sugere que, para cada subpartícula atômica conhecida, haja
uma subpartícula complementar, simétrica. Essas partículas ainda
desconhecidas deveriam ser mais pesadas que as conhecidas, o que faz com
que elas necessitem de mais energia para ser criadas. É possível que o Large
Hadron Collider seja um acelerador potente o bastante para provocar colisões
subatômicas suficientemente fortes para gerar tais subpartículas. Esses
experimentos seriam uma evidência indireta de que estamos no caminho certo.
Outra possibilidade é que as colisões entre subpartículas altamente
energizadas venham a produzir o que chamamos de grávitons, pequenas
partículas da força da gravidade, que teoricamente são pequenas cordas na
forma de um laço, sem extremidades. Se existirem, os grávitons poderiam
escapar a nossas dimensões, pertencendo a outros universos - ou a outras
fatias do pão.

ÉPOCA - E se a teoria for derrubada?

Greene - Em primeiro lugar, nada garante que o Hadron Collider será potente o
bastante para provar ou derrubar a teoria. Há quem pense que eu me sinto feliz
ou aliviado com isso, o que não é verdade. Você acha que eu quero me dedicar
a uma teoria equivocada? Se ela estiver furada, quero ser o primeiro a saber! É

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claro que eu ficaria bastante decepcionado, porque é uma teoria maravilhosa.
As idéias que ela sustenta são melhores do que qualquer coisa que temos visto
em ficção científica. Mas, se ela estiver errada, vou ficar de luto por uns dois
dias e então voltar a trabalhar normalmente.

ÉPOCA - Como o senhor explica o conceito de matéria escura para o público


leigo?

Greene - Trata-se de um tipo de matéria que não emite luz ou não responde a
ela, daí seu nome. Mas existem evidências de que há uma boa quantidade
desse troço escuro espalhado pelo Universo. Ainda que não possamos ver a
matéria escura através da luz, podemos observá-la pela influência gravitacional
que exerce. Podemos observar objetos sensíveis à luz e que sofrem o efeito da
matéria escura. Mas existem explicações alternativas para os padrões
excêntricos desses objetos. Talvez o que aconteça é que nós não entendemos
direito como a gravidade funciona. Mas pessoalmente eu não acredito que
essas alternativas sejam convincentes. Acredito na existência da matéria
escura porque ela provém de diversas fontes de evidências cosmológicas.

ÉPOCA - De que maneira descobertas científicas em Astrofísica e Cosmologia


afetam a vida das pessoas?

Greene - O primeiro passo para encontrar nosso lugar no Universo é conhecê-


lo, saber do que é feito e de que maneira funciona.

ÉPOCA - Stephen Hawking diz que essas descobertas permitiriam à


humanidade compreender a 'mente de Deus'. Mas quanto tempo será preciso
para que a Ciência consiga ver a 'face de Deus' ou negar sua existência?

Greene - A Ciência não tem como provar ou negar a existência de Deus. Mas
tem contribuído para responder a algumas perguntas que se fazem a ele,
questões sobre como o Universo se formou. A Ciência não tem nada a dizer, e
jamais terá, sobre a existência ou não de um Deus por trás disso tudo. Eu me
pergunto até mesmo se há alguma porta dos fundos entre o cenário e os
bastidores do que chamamos Universo. Talvez o filme Matrix sirva como uma
boa imagem para isso. Nele, os personagens têm o cérebro estimulado para
viver uma existência comum. Como podemos saber se isso não está
acontecendo conosco agora mesmo? Em minhas entranhas não acredito nisso.
E elas também me dizem que Deus não existe, mas não tenho como provar.
Eu me sint o feliz com um Universo sem Deus, regido apenas pelas leis da
Física, porque ela é tão rica e nos possibilita compreender tanto! Acredito
também no valor da vida. Nesse sentido talvez eu seja um existencialista.

ÉPOCA - O senhor concorda com a nova posição de Hawking sobre os


buracos negros? Ele diz agora que a superfície de um buraco negro deixa
escapar 'informação', ou seja, matéria e energia engolidas por ele.

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Greene - Ainda não vi os cálculos de Hawking. Mas, durante vários anos, os
especialistas em supercordas têm reunido argumentos próprios para acreditar
que a informação não é perdida dentro dos buracos negros. Logo, acredito nos
resultados de Hawking.

ÉPOCA - De que maneira a política interfere nas descobertas científicas de


hoje, bancadas por governos de países ricos e suas universidades?

Greene - De forma limitada. Nos Estados Unidos, o governo federal determina


o montante total a ser investido em Ciência, mas, a partir daí, o destino final do
dinheiro é decidido por um sistema de especialistas e comissões que se atêm
ao mérito científico dos projetos.

ÉPOCA - O que o senhor acha do projeto do presidente Bush de enviar uma


missão tripulada a Marte?

Greene - A idéia das missões tripuladas é excitante para o grande público. E


reconheço que é importante manter as pessoas excitadas em relação à
Ciência. Mas, do ponto de vista estritamente científico, é difícil entender as
justificativas para isso. Com um orçamento muito menor seria possível, por
exemplo, financiar mais sondas espaciais não-tripuladas, como as que têm
visitado Marte e Saturno.

ÉPOCA - Qual a importância delas?

Greene - Certamente essas duas missões, especialmente a enviada a Marte,


podem esclarecer mistérios sobre as condições necessárias ao
desenvolvimento da vida e de que maneira o sistema solar se formou. Muito
mais importantes, entretanto, são as coisas que podemos aprender e que
nenhum de nós ainda conseguiu antecipar a respeito dessas duas missões.
São problemas que ainda não foram sequer formulados.

ÉPOCA - O que o senhor acha de ser comparado ao cientista Carl Sagan, que
nos anos 70 e 80 estrelava o seriado de TV Cosmos?

Greene - Fico lisonjeado, porque cresci assistindo aos programas dele e boa
parte da minha inspiração em me tornar um cientista veio do Sagan. Recebi
mais de 16 mil e-mails desde que meus programas estrearam na TV. A maior
parte é enviada por garotos.

ÉPOCA - Em que projetos o senhor está envolvido?

Greene - Quero me aprofundar nos aspectos cosmológicos das supercordas.


Além disso, estou trabalhando com o Lincoln Center num projeto de encenação
teatral que deverá estrear em 2005. Combina a teoria das supercordas com um
concerto de cordas.

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