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Brian Greene - Ela materializa o sonho de Albert Einstein de criar uma teoria
única para explicar o Universo. No século XX, a Ciência desenvolveu duas
teorias que funcionam como pilares da Física.
Greene - Elas surgiram como uma nova e fundamental entidade, a base para
tudo o que existe no Universo. Já faz algum tempo que conhecemos os átomos
e também as partículas subatômicas, como os elétrons, que giram ao redor dos
núcleos, e os prótons, que integram o núcleo dos átomos. Conhecemos
também algumas partículas subnucleares, como os quarks, que habitam os
nêutrons e prótons. Mas é aí que o conhecimento convencional empaca. A
teoria das supercordas diz que existe algo menor e mais fundamental: dentro
dos quarks, da mais ínfima partícula subatômica, existe um filamento de
energia que vibra como as cordas de um violino. E são os diferentes padrões
de vibração dessas cordas que determinam a natureza de diferentes tipos de
subpartículas. Isso permitiria unificar a teoria geral da relatividade com a
mecânica quântica.
Greene - Para que essa teoria possa existir, ela requer que o Universo não
tenha apenas as três dimensões com que estamos habituados. Os cientistas
que adotam a teoria das supercordas trabalham com a possibilidade de que o
-1-
Universo tenha entre dez e 11 das chamadas dimensões de espaço-tempo. É
difícil de engolir, mas é o que a teoria prevê, de maneira consistente.
ÉPOCA - Ela também prevê universos paralelos a nossa realidade, idéia que o
senhor aborda em seu novo livro, O Tecido do Cosmos.
ÉPOCA - Como o senhor se sente tendo dedicado 20 anos de sua vida a essa
teoria das supercordas, que ainda não tem nenhuma comprovação?
-2-
ÉPOCA - E se a teoria for derrubada?
Greene - Em primeiro lugar, nada garante que o Hadron Collider será potente o
bastante para provar ou derrubar a teoria. Há quem pense que eu me sinto feliz
ou aliviado com isso, o que não é verdade. Você acha que eu quero me dedicar
a uma teoria equivocada? Se ela estiver furada, quero ser o primeiro a saber! É
claro que eu ficaria bastante decepcionado, porque é uma teoria maravilhosa.
As idéias que ela sustenta são melhores do que qualquer coisa que temos visto
em ficção científica. Mas, se ela estiver errada, vou ficar de luto por uns dois
dias e então voltar a trabalhar normalmente.
Greene - Trata-se de um tipo de matéria que não emite luz ou não responde a
ela, daí seu nome. Mas existem evidências de que há uma boa quantidade
desse troço escuro espalhado pelo Universo. Ainda que não possamos ver a
matéria escura através da luz, podemos observá-la pela influência gravitacional
que exerce. Podemos observar objetos sensíveis à luz e que sofrem o efeito da
matéria escura. Mas existem explicações alternativas para os padrões
excêntricos desses objetos. Talvez o que aconteça é que nós não entendemos
direito como a gravidade funciona. Mas pessoalmente eu não acredito que
essas alternativas sejam convincentes. Acredito na existência da matéria
escura porque ela provém de diversas fontes de evidências cosmológicas.
Greene - A Ciência não tem como provar ou negar a existência de Deus. Mas
tem contribuído para responder a algumas perguntas que se fazem a ele,
questões sobre como o Universo se formou. A Ciência não tem nada a dizer, e
jamais terá, sobre a existência ou não de um Deus por trás disso tudo. Eu me
pergunto até mesmo se há alguma porta dos fundos entre o cenário e os
bastidores do que chamamos Universo. Talvez o filme Matrix sirva como uma
boa imagem para isso. Nele, os personagens têm o cérebro estimulado para
viver uma existência comum. Como podemos saber se isso não está
acontecendo conosco agora mesmo? Em minhas entranhas não acredito nisso.
E elas também me dizem que Deus não existe, mas não tenho como provar.
Eu me sint o feliz com um Universo sem Deus, regido apenas pelas leis da
Física, porque ela é tão rica e nos possibilita compreender tanto! Acredito
também no valor da vida. Nesse sentido talvez eu seja um existencialista.
-3-
Greene - Ainda não vi os cálculos de Hawking. Mas, durante vários anos, os
especialistas em supercordas têm reunido argumentos próprios para acreditar
que a informação não é perdida dentro dos buracos negros. Logo, acredito nos
resultados de Hawking.
ÉPOCA - O que o senhor acha de ser comparado ao cientista Carl Sagan, que
nos anos 70 e 80 estrelava o seriado de TV Cosmos?
Greene - Fico lisonjeado, porque cresci assistindo aos programas dele e boa
parte da minha inspiração em me tornar um cientista veio do Sagan. Recebi
mais de 16 mil e-mails desde que meus programas estrearam na TV. A maior
parte é enviada por garotos.
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Brian Greene - Ela materializa o sonho de Albert Einstein de criar uma teoria
única para explicar o Universo. No século XX, a Ciência desenvolveu duas
teorias que funcionam como pilares da Física.
Greene - Elas surgiram como uma nova e fundamental entidade, a base para
tudo o que existe no Universo. Já faz algum tempo que conhecemos os átomos
e também as partículas subatômicas, como os elétrons, que giram ao redor dos
núcleos, e os prótons, que integram o núcleo dos átomos. Conhecemos
também algumas partículas subnucleares, como os quarks, que habitam os
nêutrons e prótons. Mas é aí que o conhecimento convencional empaca. A
teoria das supercordas diz que existe algo menor e mais fundamental: dentro
dos quarks, da mais ínfima partícula subatômica, existe um filamento de
energia que vibra como as cordas de um violino. E são os diferentes padrões
de vibração dessas cordas que determinam a natureza de diferentes tipos de
subpartículas. Isso permitiria unificar a teoria geral da relatividade com a
mecânica quântica.
Greene - Para que essa teoria possa existir, ela requer que o Universo não
tenha apenas as três dimensões com que estamos habituados. Os cientistas
que adotam a teoria das supercordas trabalham com a possibilidade de que o
Universo tenha entre dez e 11 das chamadas dimensões de espaço-tempo. É
difícil de engolir, mas é o que a teoria prevê, de maneira consistente.
ÉPOCA - Ela também prevê universos paralelos a nossa realidade, idéia que o
senhor aborda em seu novo livro, O Tecido do Cosmos.
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enxergamos a uma fatia de pão. Mas todo o Universo, com suas realidades
paralelas, poderia incluir as demais fatias de um mesmo pacote de pão de
fôrma. E talvez tudo o que conhecemos e conseguimos enxergar aconteça
apenas nessa nossa fatia de realidade iluminada pela luz, que não consegue
viajar para as demais fatias do pacote.
ÉPOCA - Como o senhor se sente tendo dedicado 20 anos de sua vida a essa
teoria das supercordas, que ainda não tem nenhuma comprovação?
Greene - Em primeiro lugar, nada garante que o Hadron Collider será potente o
bastante para provar ou derrubar a teoria. Há quem pense que eu me sinto feliz
ou aliviado com isso, o que não é verdade. Você acha que eu quero me dedicar
a uma teoria equivocada? Se ela estiver furada, quero ser o primeiro a saber! É
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claro que eu ficaria bastante decepcionado, porque é uma teoria maravilhosa.
As idéias que ela sustenta são melhores do que qualquer coisa que temos visto
em ficção científica. Mas, se ela estiver errada, vou ficar de luto por uns dois
dias e então voltar a trabalhar normalmente.
Greene - Trata-se de um tipo de matéria que não emite luz ou não responde a
ela, daí seu nome. Mas existem evidências de que há uma boa quantidade
desse troço escuro espalhado pelo Universo. Ainda que não possamos ver a
matéria escura através da luz, podemos observá-la pela influência gravitacional
que exerce. Podemos observar objetos sensíveis à luz e que sofrem o efeito da
matéria escura. Mas existem explicações alternativas para os padrões
excêntricos desses objetos. Talvez o que aconteça é que nós não entendemos
direito como a gravidade funciona. Mas pessoalmente eu não acredito que
essas alternativas sejam convincentes. Acredito na existência da matéria
escura porque ela provém de diversas fontes de evidências cosmológicas.
Greene - A Ciência não tem como provar ou negar a existência de Deus. Mas
tem contribuído para responder a algumas perguntas que se fazem a ele,
questões sobre como o Universo se formou. A Ciência não tem nada a dizer, e
jamais terá, sobre a existência ou não de um Deus por trás disso tudo. Eu me
pergunto até mesmo se há alguma porta dos fundos entre o cenário e os
bastidores do que chamamos Universo. Talvez o filme Matrix sirva como uma
boa imagem para isso. Nele, os personagens têm o cérebro estimulado para
viver uma existência comum. Como podemos saber se isso não está
acontecendo conosco agora mesmo? Em minhas entranhas não acredito nisso.
E elas também me dizem que Deus não existe, mas não tenho como provar.
Eu me sint o feliz com um Universo sem Deus, regido apenas pelas leis da
Física, porque ela é tão rica e nos possibilita compreender tanto! Acredito
também no valor da vida. Nesse sentido talvez eu seja um existencialista.
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Greene - Ainda não vi os cálculos de Hawking. Mas, durante vários anos, os
especialistas em supercordas têm reunido argumentos próprios para acreditar
que a informação não é perdida dentro dos buracos negros. Logo, acredito nos
resultados de Hawking.
ÉPOCA - O que o senhor acha de ser comparado ao cientista Carl Sagan, que
nos anos 70 e 80 estrelava o seriado de TV Cosmos?
Greene - Fico lisonjeado, porque cresci assistindo aos programas dele e boa
parte da minha inspiração em me tornar um cientista veio do Sagan. Recebi
mais de 16 mil e-mails desde que meus programas estrearam na TV. A maior
parte é enviada por garotos.
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