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Narrativas imaginárias

Trataremos de uma forma de pensamento que podemos chamar de Narrativas sobre a


Origem, ou narrativas míticas, ou ainda, como eu costumo chamar, de narrativas
imaginárias.
Antes de iniciarmos, porém, é necessário acentuar: devemos compreender que o
pensamento filosófico é apenas um, dentre outros – o pensamento do senso-comum, o
pensamento ideológico, que são formas de compreensão da realidade, como também o
são o pensamento estético, o religioso e o científico.

Narrativas
Narrar uma origem significa contar ou relatar para outro um acontecimento decisivo
ocorrido no início dos tempos, mas que orienta nossa existência atual. Uma narrativa
compartilhada por todos os membros da comunidade. Esse outro nada mais é que o
grupo social.
Não significa, porém, que essas narrativas queiram dar uma explicação racional para
esses acontecimentos, pois essas narrativas não precisam ser comprovadas, porque elas
têm um forte componente poético e sagrado. Elas são difundidas através da memória
dos poetas-ambulantes, os aedos (para os gregos), os griôs (para os africanos). A
memória coletiva da Origem do mundo, da vida, dos seres.

Sobre os griôs, leia:


http://www.acordacultura.org.br/artigos/01112013/a-memoria-dos-velhos-e-a-
valorizacao-da-tradicao-na-literatura-africana-algumas-leituras)

Eles percorriam as comunidades e revelavam os acontecimentos passados aos homens,


ou melhor, revelavam a origem de todos os seres, de todas as coisas, enfim, da própria
condição humana. Era esse privilégio de revelar sagrada e poeticamente a origem do
mundo, que garantia a autoridade de sua palavra. O poeta era inspirado pelas musas,
entidades divinas. Portanto, a linguagem simbólica, isto é, essa nossa atividade
genuinamente humana, que mostra a impossibilidade de haver uma identidade absoluta
entre o mundo (as coisas) e as palavras, essa linguagem simbólica desaparece: a palavra,
nessas narrativas, é sagrada, o mundo tem uma origem sagrada. Palavra e mundo não se
dissociam. A crença, então, é o que decide nossa aceitação (afetiva) das narrativas
míticas.
Entretanto, devemos acentuar o caráter coletivo e, por isso, cultural dessas narrativas.
São elas que, ao transmitirem todos os valores (principalmente os valores morais),
aqueles que uma cultura deve valorizar, realiza a identidade cultural daquela sociedade,
identidade que fornece um sentido para a existência de seus membros. É assim que
podemos entender a intenção dessas narrativas de alcançar uma compreensão da
totalidade das coisas.

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