You are on page 1of 17

A importância da prova pericial julho de 2013

A importância da prova pericial


Dorilene Bagio Kempner - dorilene@softhouse.com.br
Avaliação e Perícias da Engenharia
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
Rio do Sul, SC, 26 de outubro de 2012

Resumo
Demonstrar a importância das provas periciais de engenharia civil como ferramenta para
magistrados e advogados nos processos de litígio é o principal objetivo deste estudo. A falta de
conhecimento técnico e científico em áreas específicas, dificulta o trabalho do judiciário na
tomada de decisões; muitas vezes informações, fatos e dados sem fundamentação e sem
comprobabilidade, são levados aos autos e podem propiciar equívocos na tomada de decisões. É
neste momento que surge a necessidade e caracteriza-se a importância do perito judicial para
levar aos autos a prova com base em informações técnicas, no formato do laudo pericial . Os
profissionais de engenharia e arquitetura que atuam nesta específica área de perícia como
assistentes técnicos e peritos, muitas vezes desconhecem a legislação vigente e apresentam
informações que induzem juízes e advogados a erros. A ausência de disciplinas na maioria dos
currículos acadêmicos não preparam os profissionais de engenharia para atuar nas áreas de
perícias, ocasionando carência de especialistas. Desenvolvemos ampla pesquisa que através da
metodologia científica dedutiva, com base em bibliografias consagradas, artigos científicos,
monografias, legislação vigente e estudos de casos vivenciados pela própria autora, visando
caracterizar a importância da prova pericial e do conhecimento técnico dos peritos nos processos
judiciais. Os resultados encontrados demonstram que o papel do perito judicial é de suma
importância pois permitem aos juízes tomar decisões com maior segurança. Diante da importância
do trabalho do perito judicial é necessário que univesidades disponibilizem disciplinas acadêmicas
e de pós-graduação que venham a melhor preparar os profissionais de engenharia para atuar
nesta área.

Palavras-chave: Perícia. Prova pericial. Perito Judicial. Processo Judicial. Litígio.

1. Introdução
A relação entre direito e engenharia, resulta em uma atuação complementar nas duas áreas,
chegando a soluções que auxiliem os magistrados na solução dos litígios; esta função é exercida
pelos peritos ou pelos assistentes técnicos, preferencialmente com especialidade em perícias, que
em conjunto com advogados e juizes atuam nos processos judiciais. De acordo com o entendimento
de Maia Neto (2005:05) “Ao perito cabe assistir o juiz nas questões técnicas postas em julgamento,
que podem surgir dos mais diversos campos das ciências, médicas, tecnológicas, contábeis, etc.,
sendo um profissional da estrita confiança do magistrado que o nomeia para a função.”
Portanto, sempre que houver uma demanda judicial que envolver conhecimento em área específica
não abrangente na área de direito, juízes e advogados irão se assessorar por peritos e assistentes
técnicos especialistas na área em que a matéria se engloba. Estes profissionais por trabalharem na
interface advocacia-engenharia, devem conhecer noções desta relação para utilizá-las corretamente
em suas perícias.

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
Nem sempre as universidades oferecem disciplinas que preparam o acadêmico para atuar como
peritos ou assistentes técnicos. Muitas vezes estes conhecimentos são buscados ao longo da
carreira, somando estas técnicas aos conhecimentos já adquiridos na universidade e com a
experiência profissional.
Iniciaremos este trabalho apresentando conceitos importantes sobre prova pericial, perícia judicial e
outros elementos necessários para o entendimento deste assunto; apresentaremos as legislações que
regem esta atividade, demonstraremos as principais áreas que solicitam a perícia e daremos ênfase
para a importância da prova pericial nos litígios, bem como iremos caracterizar as dificuldades
encontradas no dia a dia pelos peritos na busca de informações sobre condutas periciais.

2. Definição de prova na linguagem jurídica


Entre as leis que regulamentam o uso de provas no Brasil, se destaca o C.P.C. - Código de Processo
Civil que no art. 131 prevê: “O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e
circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na
sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento”. Prova é todo meio destinado a
convencer o juiz, a respeito da verdade de um fato levado a julgamento. As provas fornecem
elementos para que o juiz forme convencimento a respeito de fatos controvertidos relevantes para o
processo. Logo, podemos então concluir que prova é o elemento que permite ao juiz ter convicção
sobre os fatos.
Elencamos alguns meios de prova, ou seja, instrumentos que trazem aos autos a prova;
a.Testemunha: A prova exclusivamente testemunhal tem um valor limitado e é conhecida como a
prostituta das provas, não podendo ser utilizada para provar a existência de contrato superior a 10
(dez) salários mínimos.
b.Perícia: O art. 145 do Código de Processo Civil disciplina que: “Quando a prova de fato depender
de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no artigo
421.”
c. Confissão: este é mais que um meio de prova, é a prova em si.
No entendimento de Maia Neto:

Ao solicitar a produção de uma prova, a parte busca não só a convicção da existência de um


fato, mas também de sua inexistência, assim o nosso C.P.C. enumera as seguistes provas
usuais:
- depoimento pessoal;
- confissão;
- exibição de documento ou coisa;
- prova documental;
- prova testemunhal;
- prova pericial;
- inspeção judicial. (MAIA NETO, 2005:15)

3. A prova pericial
Existem provas denominadas de pré-constituídas e as provas constituídas no decorrer do processo.
Como exemplo para o primeiro caso, citamos a prova documental, ou seja, são provas juntadas da
inicial ou na contestação, já a prova pericial se trata de prova constituída no decorrer do processo.
Na ausência de pontos controvertidos, quando a matéria envolvida depende somente de normas
jurídicas e as provas documentais apresentadas forem o suficiente para seu convencimento, o juiz

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
julga a lide com exclusividade, por ser de sua especialidade. Existindo fatos controversos, surge a
necessidade de provas e neste momento é que o juiz ou as partes solicitam a prova pericial.
De acordo com o entendimento de especialistas de direito, prova pericial seria: Theodoro Júnior
(1998:477): “(...) a prova pericial como o meio de suprir a carência de conhecimentos técnicos de
que se ressente o juiz para apuração de fatos litigiosos.”, já Santos (1998:472) define prova assim:
“É o meio pelo qual, no processo, pessoas entendidas verificam fatos interessantes à causa,
transmitindo ao juiz o respectivo parecer”.
Podemos então afirmar que prova pericial consiste num cuidadoso processo investigativo por parte
do perito que vai ao encontro da verdade, de fatos que demonstrem aos juízes caminhos para a
tomada de decisões. Consiste ao perito ter experiência, perspicácia, espírito investigativo e
persistência para buscar, muitas vezes em alternativas poucos indutivas, a comprovação da verdade
dos fatos.
Bonfim define como características da prova pericial:

São características da prova pericial.


a) é um meio de prova;
b) é o resultado da atividade humana, e não é uma atividade humana;
c) o destino da prova é o processo, ainda que a atividade se realize fora do processo;
d) deve ser realizada por experts no tema sobre o qual versa o laudo;
e) deve versar o laudo sobre fatos e não sobre questões jurídicas;
f) deve nascer de uma obrigação – investidura no cargo ou nomeação ad hoc -, portanto, se não existe
um vínculo legal ou judicial, não se pode falar em perícia, já que não existe perícia espontânea;
g) os fatos sobre os quais versam o laudo devem ser especiais, ou seja, devem requerer conhecimentos
especializados, cietíficos, artísticos ou técnicos;
h) o laudo é uma declaração da ciência, assim, o perito declara o que sabe e o juiz o valora como meio
de prova. (BONFIM, 2008:330)

Conforme art. 420 do Código de Processo Civil: “A prova pericial consiste no exame, vistoria ou
avaliação”.
No conceito de Ficker:

Sobre perícia pode ser dito que é um gênero, do qual o exame, a vistoria e a avaliação são espécies. De
um modo geral o exame é feito por pessoas, documentos e coisas móveis; a vistoria destina-se a
apurar fatos e estados de bens “in loco” e a avaliação a determinar tecnicamente o valor desses bens.
A perícia pode consistir em simples vistoria de constatação de fatos ou estado de um bem, mas pode
investigar as causas que conduziram ao estado observado, apresentado conclusões sobre elas.
(FICKER, 2001:91)

De acordo com Maia Neto:

A prova pericial encontra-se disciplinada no C.P.C. em seus arts. 420 a 439 do CPC, onde inicialmente
discrimina que a perícia se divide em exame, vistoria, ou avaliação, cujas definições jurídicas são as
seguintes:
-Exame é a inspeção judicial feita por peritos sobre pessoas, animais, coisas móveis, livros e
papéis, a fim de verificar algum fato ou circunstância relativa ao mesmo.
-Vistoria é a inspeção judicial feita por perito sobre um imóvel para verificar fatos ou
circunstâncias ao mesmo.
- Avaliação é o exame pericial destinado a verificar o valor em dinheiro de alguma coisa ou
obrigação. Costuma-se dar a denominação de arbitramento a essa perícia quando a verificação ou
estimativa tem por objetivo um serviço,ou compreende cálculo abstrato sobre indenizações ou sobre o
valor de alguma obrigação. (MAIA NETO, 2005:33)

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
Anteriormente ao art. 431-B do CPC, quando a prova pericial envolvia profissionais com
atribuições em áreas diferentes, se realizava perícias distintas com peritos distintos, ou se indicava
um perito e este solicitava auxilio de peritos de outras áreas ficando sob sua responsabilidade a
contratação. Atualmente, tratando-se de perícia complexa, o Juiz pode nomear mais de um perito
com base nas determinações do Código de Processo Civil: “Art. 431-B - Tratando-se de perícia
complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais
de um perito e a parte indicar mais de um assistente técnico.”.

3.1 A admissibilidade da prova pericial


O magistrado admitirá a perícia quando reconhecer a necessidade de conhecimentos técnicos e
específicos para produção da prova. Quando as partes apresentarem pareceres técnicos ou fatos que
o juiz julgar suficientes para sua decisão, a perícia pode ser indeferida pelo juiz, mesmo que
solicitada pelas partes. Assim, dispõe o art. 420, parágrafo único: “O juiz indeferirá a perícia
quando: I - a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico; II - for desnecessária
em vista de outras provas produzidas; III - a verificação for impraticável”.

3.2 A importância da prova pericial


O desequilíbrio sócio econômico muitas vezes provoca o surgimento de crises que por fim resultam
em litígios judiciais. Na busca da solução destes litígios, que podem envolver indivíduos entre si e o
estado, é que surge a demanda da prova pericial. Através de profissionais dotados de conhecimentos
técnicos e científicos e com utilização de métodos investigativos, profissionais que quando
nomeados pelos juízes para realizar as provas periciais são denominados peritos judiciais, é que as
partes buscam reestabelecer a verdade dos fatos originários destes litígios.
A prova pericial é fundamental para os casos em que as confissões, as provas documentais ou
outros elementos trazidos aos autos através de meios previstos em lei, não são suficientes para dar
subsídio ao julgamento, logo é a prova pericial que norteia a decisão judicial. Julgamos pertinente
afirmar que a prova pericial é a bússola do magistrado.

3.3 Tipos de ações no campo de atuação do perito de engenharia


Na engenharia o campo de atuação do perito é vasto. Destacamos os principais tipos de ações que
demandam perícias para esta área:
a) Ordinárias:
Envolvem indenização por vícios de construção ou danos causados a terceiros que possam ser
registrados através de verificação e parecer técnico de engenharia. Enquadram-se aí, também as
ações de Quanti Minoris, em que se apura a diferença entre a metragem da área constante no título
adquirido e a área de fato existente. São ações muito abrangentes e muitas vezes as de grande
complexidade para resolução.
b) Vistorias, cautelares e sumaríssimas:
Tem como objetivo preservar os direitos para uma futura ação indenizatória. Procura registrar as
características de uma edificação em determinado momento, por exemplo: executar exame prévio
em imóveis lindeiros antes da instalação de um canteiro de obras, atestar as características de uma
edificação com suspeita de desabamento, verificar os possíveis de danos causados por inquilinos,
investigação se o bem esta sendo utilizado de maneira inadequada, relatar os danos causados a uma
obra após ação de ventos ou alagamentos, enfim, objetiva comprovar o estado do imóvel esta em
determinado momento.
c) Renovatórias e revisionais:

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
Ocorrem um ano e seis meses antes do término do contrato de locação de, no mínimo, 05 (cinco)
anos quando o inquilino, segundo o decreto lei n˚. 24.150/34 - requer a decretação da renovação de
contrato por igual período. Geralmente, ocorre porque o proprietário pede maior valor e o inquilino
requer valor menor e o Juiz, então, designa um perito para avaliar o justo valor do mercado de
imóvel. Este profissional precisa utilizar muito do bom senso, pois tais decisões dependem, em
parte, da subjetividade e, por isso, podem causar polemica.
d) Nunciação de obra nova e embargos
Ocorre quando há risco ou danos já constatados a terceiros. Exige precisão e absoluta
imparcialidade do perito, podendo, caso contrário, ser responsabilizado pelos prejuízos decorrentes
de uma análise mal fundamentada. Por isso, o perito deve evitar expressões subjetivas pois podem
levar ao entendimento de parecer tendencioso. Citamos como exemplos: “tudo leva a crer” ou “é
provável que”.
e) Reintegração de posse
Ocorre quando da invasão ou esbulho de terras. O Código Civil através do art. 1.210 estabelece:
“Art. 1.210 – O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Parágrafo primeiro:
O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto
que o faça logo; os atos de defesa, ou de esforço, não podem ir além do indispensável à manutenção
ou restituição da posse. Parágrafo segundo: Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a
alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa”. Portanto, neste tipo de ação cabe ao
perito levar ao juiz informações a respeito de quem estava na posse, em que momento esta posse foi
esbulhada ou turbada e quem foi o causador do esbulho ou turbação.
f) Manutenção de posse
Quando quem exerce a posse de um imóvel sente-se oprimido por outro que esta alegando seus
direitos sobre a mesma área. É regida pela mesma regra jurídica da reintegração de posse.
g) Interdito provisório
Trata-se de ação que tem por objetivo proteger a posse quando ameaçada. Vejam o que diz o art.
932 do Código de Processo Civil a respeito: “O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio
de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente,
mediante mandado proibitório, em que se comina ao réu determinada pena pecuniária, caso
transgrida o preceito”. Este tipo de ação pode ocorrer até mesmo durante o decorrer de uma ação de
reintegração ou manutenção de posse. O perito ao ser nomeado não pode esperar por agendamento
no escritório, deve de imediato proceder à vistoria evitando que ocorra o esbulho ou a violência
contra o que o autor buscou socorro jurisdicional.
h) Usucapião
Ocorrem nos casos em que a posse do imóvel é caracterizada por um longo período e torna
necessária a avaliação de um perito sobre o que é de fato usufruído pelo requerente. São ações bem
abrangentes que solicitam muito análise.
i) Reivindicatória
O trabalho pericial tem como objetivo principal estudar os títulos apresentados pelas partes,
devendo percorrer os cartórios de registros de imóveis para formar o elo de cadeia sucessória
chegando assim a certeza de qual dos títulos é bom para a propriedade.
j) Demarcatórias
Mais comumente solicitadas para áreas rurais. Surgem quando há divergências entre os
limites/divisores físicos constantes dos títulos e o proprietário é impedido pelo confrontante de
caracterizar sua divisa. Normalmente, envolvem casos de superposição de imóveis e determinam

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
longas ações. Exigi-se para tais perícias um perito agrimensor e dois peritos arbitradores que
fiscalizariam o agrimensor.
k) Divisória
Conforme rege o art. 946 do C.P.C: “parágrafo segundo: a ação de divisão, ao condomínio para
abrigar os demais consortes, a partilha da coisa comum”. É o caso em que um imóvel deve ser
fracionado entre vários proprietários ou, por exemplo, herdeiros; onde não ficará localizada a área
de terreno, será uma fração. A perícia judicial transcorre nos mesmos termos das ações
demarcatórias.
l) Extinção de Condomínio
Ocorre pelos mesmos motivos da divisória, ou seja, quando um dos condôminos não deseja mais
partilhar do imóvel. Nestes casos a perícia ocorre para verificar a possibilidade de divisão ou avaliar
o imóvel.
m) Retificações de registros
Originam-se da omissão ou impropriedade nos títulos nominais de medidas e ocasionam as
retificações de registro ou metragem. São obrigatoriamente efetuadas por perito da área de
engenharia, que deve examinar com atenção o título original em confronto com a petição inicial
verificando sua filiação, se as características de sua descrição são coincidentes com os do local.
n) Desapropriações:
Visa mensurar a justa indenização devida ao proprietário que teve sua área expropriada pelo Poder
Público.
o) Discriminatória
São aquelas em que o Estado visa obter o domínio de áreas que se provem devolutas ou outras que
se declare este interesse.

4. Perícia Judicial
4.1 Histórico
Nos povos antigos as lides eram decididas com exclusividade pelos reis que de certa forma
exerciam o papel dos juízes, muitas vezes sem nenhum conhecimento e desta forma com grandes
probabilidades de cometer injustiças. Aos poucos foram percebendo que era prudente buscar apoio
de pessoas com conhecimentos específicos sobre os temas em questão e assim melhor solucionar os
litígios, iniciando-se assim a caractererização da perícia técnica. A partir do século IX a Igreja
Católica começou a incentivar o trabalho de técnicos nos processos através das práticas realizadas
pelas ordenações Afronsinas q vigorando uma coletânea de leis no reinado de Afonso V quando se
instituiu a prova pericial do Direito e depois nas Ordenações Manuelinas, quando D. Manuel em
1521 realizou a revisão das leis que substituíram as leis Afonsinas, onde determinavam que nos
casos não aboradados, deveria ser consultado o direito romano. Estas leis se referiam mas
especificamente as questões de direito marítimo, contratos, mercadores e problemas advindos da
expansão marítima e de grandes navegações.
No Brasil colônia, quando existia influência das Ordenações Filipinas, há referência clara aos
peritos, inclusive com regulamentação sobre perícias. Com o surgimento do Código Comercial, no
século XIX tivemos maiores referências às perícias. Em 1939, no Código de Processo Civil, as
perícias receberam tratamento mais detalhado e foi neste momento que se formalizou a existência
da perícia no processo civil. O código previa a nomeação de um perito da livre escolha do juiz,
permitindo a indicação pelas partes de assistentes técnicos, que poderiam acompanhar os trabalhos
do perito e impugnar as conclusões trazidas em seu laudo. Três anos depois uma alteração feita

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
através do Decreto-Lei nº 4.565 determina ao juiz nomear um perito somente na hipótese de as
partes não chegarem a um consenso sobre a escolha de um nome comum.
Em 1946, surge outra alteração no texto legal, e este vigorou até a publicação do Código de
Processo Civil de 1973, surge a figura do perito desempatador, que só era nomeado caso as partes
não indicassem um perito comum, ou, na hipótese de cada parte indicar o seu perito, se as
conclusões não satisfizessem o juiz, o que invariavelmente ocorria, pois eles transformavam-se em
"advogados de defesa" das partes que os haviam indicado.
O Código de 1973 traz mudanças que retroage ao dispositivo previsto no Código de 1939, inovando
apenas no que se referia a determinados requisitos exigidos dos assistentes técnicos, no tocante à
sua imparcialidade, pois, ao contrário da concepção anterior, estes não eram mais os auxiliares da
parte que os indicava, mas, antes de tudo, auxiliares do juiz.
Essa foi à sistemática adotada até a edição da Lei nº 8.455, ocorrida em 1992, que retirou essas
características, uma vez que o assistente técnico, na prática, nunca pautou pela imparcialidade, pois
ninguém contratava um profissional senão com o intuito de demonstrar o acerto de suas posições,
baseado nos elementos técnicos obtidos.
Seguindo o processo evolutivo do instituto da perícia, no final do ano de 2001, Lei nº 10.358,
trouxe algumas novidades, especialmente no tocante a definições sobre a marcação da perícia,
comunicação desta data às partes para que possam acompanhar a vistoria pericial e a prazos para
manifestação das partes a cerca do laudo pericial. Estas definições provocaram e ainda provocam
polêmicas, mas de maneira geral regulamenta de forma mais clara a conduta de peritos e assistentes
técnicos.

4.2 A pericia
Vejamos o que diz a respeito Bonfim (2008:328): “Perícia é o exame realizado por pessoa que
detenha “expertise” sobre determinada área de conhecimento – o perito – a fim de prestar
esclarecimentos ao juízo acerca de determinado fato de difícil compreensão, auxiliando-o no
julgamento da causa.”.
A perícia surge da necessidade da apuração de provas, ela envolve a apuração de um fato. É o meio
no qual, profissionais habilitados e qualificados verificam fatos pertinentes à decisão da causa, e
levam ao juiz a prova através do laudo pericial, demonstrando comprovação técnica e
imparcialidade. A perícia é a prova que define os fatos. São requerentes da perícia as partes ou
exclusivamente pelo juiz. As pericias classificam-se segundo vários critérios:
a. Judiciais ou extrajudiciais: as perícias quando realizadas no decorrer de uma lide, por
determinação do juiz, são denominadas como judiciais e quando realizadas por iniciativa dos
interessados, por vias não judiciais, são definidas como extrajudiciais;
b. Necessárias ou facultativas: se exigidas ou não pela lei ou pela natureza do fato probando;
c. Oficiais ou requeridas: determinadas de ofício ou por solicitação das partes;
d. Cautelares ou preparatórias: as decorrentes no curso do processo.

4.3 Critérios normativos e bases científicas e tecnológicas


A prática da perícia obedece a todo conhecimento técnico que envolve a matéria objeto da perícia,
incluindo os critérios normativos estabelecidos na ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas – tanto da matéria da lide como os da prática de perícia em si, ao código de ética e a
legislação processual. Esta fundamentação é importante para garantir ao laudo maior confiabilidade
e incontestabilidade.
Daremos destaques às principais normas e regulamentos que reguem esta atuação:

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
a) A NBR 13.752/1996 da ABNT é a norma que trata das perícias. Ela determina as diretrizes
básicas, conceitos, critérios e procedimentos para a realização das perícias de engenharia. A
referida norma determina que, a realização de trabalhos de periciais de engenharia são de
responsabilidade e competência de profissionais legalmente habilitados pelo CREA, em
conformidade com a Lei Federal no 5.194/1996. Cita como documentos complementares: a Lei
6.496/1997, que institui a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), Resoluções do CONFEA
nos 205 (que adota o Código de Ética Profissional), 218 (que fixa atribuições dos profissionais nas
diversas modalidades) e 345 (que dispõe quanto ao exercício de profissionais de nível superior das
atividades de engenharia de avaliações e perícias de engenharia).
b) Se a perícia envolver assuntos relacionados a avaliações as normas que orientam esta área
seriam:
- NBR-14.653-1 – Avaliação de Bens – Parte 1:Procedimentos Gerais
- NBR-14.653-2 – Avaliação de Bens – Parte 2:Imóveis Urbanos
- NBR-14.653-3 – Avaliação de Bens – Parte 3:Imóveis Rurais
- NBR-14.653-4 – Avaliação de Bens – Parte 4:Empeedimentos
- NBR-14.653-5 – Avaliação de Bens – Parte 5:Máquinas e Equipamentos
- NBR-14.653-6 – Avaliação de Bens – Parte 6:Recursos Naturais e Ambientais
- NBR-14.653-7 – Avaliação de Bens – Parte 7:Patrimonios Históricos
c) Agora, se a perícia exigir conhecimentos nas áreas de patologias, falhas estruturais, concepção de
projetos ou outras áreas relacionadas aos temas de engenharia , devem ser seguidas as orientações
técnicas estabelecidas pelas normas da ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas
respectivas a cada área.
d) No Código de Processo Civil os principais artigos que regem a pratica pericial estão
compreendidos entre art.420 a art.443. Francisco Maia Neto publicou em seus livros um fluxograma
que representa cada artigo em todas as etapas do processo pericial, conforme vemos a seguir:

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013

Figura 1: Fluxograma da Prova Pericial no CPC

Fonte: Ibape/SP (2008)

4.4 Esclarecimentos e Nova Perícia


Ao concluir os trabalhos periciais formalizado com a entrega do laudo, as partes tem 10(dez) dias
para se manifestarem a cerca do laudo, trazendo aos autos os pareceres técnicos elaborados por seus
assistentes técnicos. Neste momento podem ser solicitados esclarecimentos ao perito, apresentados
sob a forma de quesitos.
Se com o laudo pericial e com esclarecimentos prestados pelo perito ainda restarem pontos
duvidosos, por solicitação das partes ou por próprio entendimento o juiz, poderá ser determinado
realização de nova perícia de acordo com previsto no art. 437 do C.P.C.: “O juiz poderá determinar,
de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer
suficientemente esclarecida.”.

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
A segunda perícia tem como objetivo os mesmos fatos que ensejaram a primeira, servindo para
corrigir eventual omissão ou inexatidão. Esta nova perícia não substitui a primeira, podendo o juiz
apreciar a que entender ser a melhor.

4.5 Da inspeção Judicial


É uma prova autônoma, podendo ocorrer em qualquer fase do processo, quando o juiz necessitar
esclarecer um fato, procedendo a uma inspeção no local. A ocorrência mais usual é a da perícia.
A lei processual faculta ao juiz, ao realizar a inspeção, ser assistido por peritos, além de estabelecer
as situações em que deverá ocorrer: quando julgar necessário, para melhor verificação e
interpretação dos fatos, quando não puder ser apresentada ao juiz ou resultar em graus de
dificuldade ou consideráveis despesas, e nos casos em que determinar a reconstituição dos fatos.
Quando se encerram os trabalhos de inspeção, faz-se necessário a elaboração do auto de inspeção,
que se trata de um resumo de tudo o que foi constatado e for útil ao julgamento da causa, inclusive
desenhos e fotos. Este auto é lido e assinado por todos.

4.6 Mediação, conciliação a Arbitragem


A prática da mediação, conciliação e arbitragem, que vem ganhando espaço na solução de conflitos.
São maneiras mais rápidas de resolver as lides, muitas vezes evitando que as mesmas cheguem às
vias judiciais. Vamos rapidamente conceituar estes procedimentos:
Mediação se trata de uma alternativa extrajudicial para a resolução de conflitos e se trata de uma
medida preliminar para a solução do litígio. O mediador após expõe os procedimentos da mediação
aos mediandos, coleta as informações a respeito do conflito e posteriormente apresenta alternativas
para a solução e conduz para a negociação. Por fim, quando as partes chegam a um consenso é
firmado o acordo em contrato configurando a conclusão da mediação. O procedimento de mediação
pode ser interrompido em qualquer momento, por decisão do mediador ou dos mediandos.
Conciliação é o processo pelo qual o conciliador procura fazer com que as partes entrem em acordo,
por livre espontânea vontade, isto para evitar que ocorra a jurisdição. O conciliador não decide o
conflito, somente sugere soluções para que as partes tomem as decisões.
Arbitragem é uma alternativa para a resolução de conflitos estabelecida pela lei pela lei no
9.307/1996. A arbitragem decorre da vontade expressa das partes, formalizada por escrito, pela qual
decidem submeter os litígios sugeridos ou relacionados com determinada relação jurídica. O árbitro
analisa e julga o mérito da causa, obedecendo às normas estabelecidas na convenção arbitral. Não
podem ser árbitros juízes ou pessoas impedidas e suspeitas. O encerramento da arbitragem é
configurado com a emissão da sentença arbitral por escrito. Os efeitos da sentença arbitral são
semelhantes ou equivalentes ao de uma sentença judicial. Não é permitido nenhum tipo de recurso
após a emissão da sentença.
Árbitros, mediadores e conciliadores são espaços que na maioria das vezes são ocupados por
profissionais com experiência como peritos e assistentes técnicos.

5. O trabalho pericial
5.1 Funções de peritos e assistentes técnicos
Perito é um profissional com formação universitária, inscrito no respectivo órgão da categoria,
nomeado pelo juiz no decorrer de um processo judicial. Este profissional, uma vez nomeado, passa
a exercer a função de auxiliar da justiça com o encargo de assistir ao juiz na prova do fato que
depender do seu conhecimento técnico ou científico. É dever do perito, comprovar sua qualificação
técnica através de certidão do órgão profissional ao qual pertencer, conforme art. 145 do código de

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
processo civil: “§ 2º - Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão
opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos.”. O perito nomeado
não pode se eximir do cargo sem que tenha motivo justo; art. 339 do C.P.C.: “Ninguém se exime do
dever de colaborar com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade.”.
Segundo Abunahman (2008:256): “Cabe ao perito fornecer ao juízo elementos técnicos de
convicção para que o julgamento possa ser apreciado sem dúvidas da parte do Magistrado
formando-se, assim um sistema proporcionador de dados para o convencimento que gerará a
decisão (sentença).”.
O perito é a figura de confiança do juiz, portanto é importante que ambos tenham absoluto
entrosamento. Sua função é de grande responsabilidade, podendo até de maneira figurada dizer que
o perito é os olhos e ouvidos do juízo em campo.
O assistente técnico é o auxiliar da parte, aquele que tem por obrigação concordar, criticar ou
complementar o laudo do perito, por meio de seu parecer, cabendo ao juiz, pelo princípio do livre
convencimento, analisar seus argumentos, podendo fundamentar sua decisão em seu trabalho
técnico; é livremente escolhido pelas partes e sua indicação deve ser feita até no máximo 05(cinco)
dias após a nomeação do perito. Sua função é de orientar a parte que o contratou na formulação de
quesitos, orientar o advogado na formulação das petições e acompanhar o trabalho pericial. Acerca
do laudo pericial devem os assistentes técnicos ofertar seus pareceres em até 10(dez) dias para que
sejam anexados aos autos, procurando destacar os pontos relevantes a seu favor colhidos e
criticando aqueles que não lhe pareçam corretos, ou mesmo apontando os equívocos em que tenha
incorrido o trabalho pericial. Os assistentes técnicos têm o dever de defender, sob a ótica técnica, a
parte que lhe contratou.
Perito e assistentes técnicos devem se valer de seu espírito investigativo aliados aos seus
conhecimentos técnicos, para buscar a prova do fato objeto da lide. Para melhor e com maior
agilidade alcançar seus objetivos, peritos e assistentes técnicos podem se valer do previsto no art.
429 do C.P.C: “Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-
sede todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando
documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo
com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.”

5.2 O laudo pericial


Relatório onde o perito judicial apresenta com clareza, objetividade, concisão, coerência e sem
rasuras - evitando prolixidade, a constatação de uma situação existente descrevendo-a e
fundamentando-a com comprovação técnica, traduzindo sua possível origem e eventual
consequência e quando necessário apresentado as possíveis medidas corretivas. É a peça na qual o
perito relata o que observou ou avaliou e dá suas conclusões.
Faz parte do laudo a descrição dos fatos ou objetos a serem periciados, narrativas sobre os dados
coletados nas vistorias, ocorrências e fatos verificados nas diligências, bem como uma conclusão
clara, imparcial e bem fundamentada. Anexo ao laudo pericial deve ser apresentado documentação
que comprove a vistoria e outros elementos que serviram de base para as conclusões apresentadas.
Não há uma padronização para a apresentação do laudo pericial, contudo sua redação deve contar
com a criatividade, eficácia e bom senso profissional de seu autor. O laudo deve ser objetivo e
transmitir com organização e detalhamento como o trabalho foi realizado.

5.3 A estrutura do laudo

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
Não há critério normativo que estabeleça um modelo oficial para a estrutura de um laudo pericial,
entretanto a prática nos mostra que:
Deve iniciar com um direcionamento ao juiz que o nomeou, fazendo menção ao número dos autos e
enunciação dos no mês das partes.
Em seguida pode-se abrir um capítulo para o histórico, onde com concisão se relata as alegações
iniciais e contestação.
No capítulo seguinte passar-se-á a tratar da vistoria, descrevendo detalhadamente e tudo o que foi
constatado na vistoria ao local, relatando os fatos relatados por quem esteve presente nesta vistoria
inclusive mencionando os nomes, descrevendo as características físicas e geométricas do
vistoriando, enfim, tudo o que pode ser apurado na ocasião.
Na sequencia devem ser apresentados os estudos realizados, as fundamentações técnicas e
conclusões formalizadas a respeito das questões.
Por fim apresenta-se a resposta aos quesitos do juízo e das partes.
Sugere-se como tópicos para a apresentação de um bom laudo pericial:
a) Capa: Folha inicial contendo a indicação do título do laudo, ex: pericial, avaliação, vistoria,
arbitramento, etc., número do processo, natureza da ação e partes do litígio.
b) Identificação do solicitante: descrever os dados de que esta solicitando trabalho.
c).Vistoria: relatar data, horário, quem acompanhou a vistoria e todos os elementos constatados por
ocasião da vistoria.
d) Descrição dos elementos: relatos sobre o objeto da perícia, exemplo: descrição do imóvel a ser
periciado ou a ser avaliado, relatando todas as suas características construtivas e de estado de
conservação, bem como localização e outras características importantes para entendimento das
partes e do magistrado.
f) Descrição dos fatos: aqui se faz menção detalhada de todos os fatos que levaram o bem à lide e
tudo o que foi analisado, investigado e estudado.
g) Conclusão: apresentar opiniões imparciais, fundamentadas à luz das normas técnicas
profissionais, dos documentos analisados e/ou anexados, que possam permitir ao juízo o
entendimento dos fatos e assim lavrar sua decisão.
h) Resposta aos quesitos: apresentar com clareza e objetividade as respostas aos quesitos
formulados pelas partes, transcrevendo-os.
i) Encerramento: indicar nome do responsável pelo laudo, a data de sua elaboração, o número de
páginas que o compõem e a relação dos anexos.
j) Anexos: Fotografias, projetos, croquis, mapas, enfim, quaisquer documentos que tenham sido
objeto de estudo devem ser anexados ao laudo. Faz também parte dos anexos; planilhas
orçamentárias, memórias de cálculos, fichas de pesquisas e outros que tenham sido elaborados para
fundamentar o laudo, bem como a ART- anotação de responsabilidade técnica e certidão de registro
profissional.
O laudo pericial pode não ser o suficiente para o entendimento do magistrado ou das partes, e assim
sendo ao perito pode ser solicitado, o comparecimento em audiência para esclarecimentos em
conformidade com o art. 435: “A parte, que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico,
requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando desde logo as
perguntas, sob forma de quesitos.
Parágrafo único - O perito e o assistente técnico só estarão obrigados a prestar os esclarecimentos a
que se refere este artigo, quando intimados 5 (cinco) dias antes da audiência.”

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
6. Os novos rumos da perícia judicial
A perícia judicial esta inserida no contexto da engenharia legal. O termo engenharia legal existe
desde 11 de dezembro de 1933, quando foi sancionado o decreto 23.569 que regulamentou o
exercício profissional do engenheiro. Em 31 de outubro de 1997 quando a ABNT publicou a NBR
13.752 – Perícias de engenharia na construção civil conceituou-se engenharia legal: “Ramo de
especialização da engenharia dos profissionais registrados nos CREA que atuam na interface
direito-engenharia, colaborando com juízes, advogados e as partes, para esclarecer aspectos técnico-
legais envolvidos nas demandas.”.
Mas este conceito esta permanentemente sendo estudado, discutido por experientes e renomados
profissionais de engenharia e já se fala em novas terminologias e novos conceitos.
A engenharia diagnóstica é um dos conceitos que esta ganhando grande espaço. Em 2008 é que
surgiu o termo e conceito de engenharia diagnóstica e de lá para cá seu espaço é crescente, inclusive
com procedimentos rotineiros, padronizados e obrigatórios para determinadas áreas como o caso da
inspeção predial que já é uma realidade em muitas cidades do nosso país.
Conforme representado na figura 2, a engenharia diagnóstica aliada com a engenharia de avaliações
compõe as duas linhas que embasam a moderna engenharia legal, assim denominada nas literaturas.

Figura 2 - Quadro sub-divisão da engenharia Legal

Fonte: Tito Lívio Ferreira Gomide (2009)

Juridicamente a perícia é definida como exame, vistoria e avaliações, e esta definição esta de acordo
com o que dispõe o art. 420 do Código de Processo Civil. Entretanto, na pratica a perícia não se
restringe somente a estas classificações, indo mais além, incluindo muitas outras atividades o que
torna justo comparar a perícia de engenharia com a medicina em vários aspectos. Todo o trabalho
pericial engloba diagnósticos, prognósticos, patologia e outros procedimentos técnicos parecidos
com o da medicina, porém voltados para a natureza construtiva.
Gomide ousa sugerir nova terminologia para perícia de engenharia:

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
Portanto, analisando a perícia de engenharia em sua abrangência técnica, destacando sua finalidade de
qualidade total e olhando suas ferramentas com foco exclusivamente científico, entende-se
recomendável a alteração da designação do estudo de perícias e patologia das edificações para
Engenharia Diagnóstica em Edificações, pois esta é a terminologia mais adequada ao mister. Gomide
(2009:09)

Ainda segundo conceitos de Gomide:

Sabendo-se que Engenharia é a arte da transformação de matérias primas em produtos de utilidade,


pode-se, de forma similar, conceituar a Engenharia Legal como a arte de aplicar conhecimentos
científicos, técnicos, legais e empíricos nas perícias e avaliações dos diversos ramos da Engenharia,
para criar provas jurídicas. GOMIDE (2009:10)

Estes temas são discutidos em seminários, congressos e nas entidades de classe. Fala-se muito no
quão é importante que os profissionais tenham entendimento destas evoluções e na necessidade que
sejam inseridas nas grades curriculares disciplinas que proporcionem ao universitário conteúdo
sobre avaliação, perícia, engenharia legal e de acordo com o exposto neste capítulo, engenharia
diagnóstica. A sociedade esta cobrando do profissional postura que necessita de conhecimento
nestas áreas e muitas vezes o tema é pouco conhecido ou até mesmo desconhecido.

7. Estudo de caso
Apresenta-se o resumo da inicial e alegações de uma Ação de Indenização por Desapropriação
Indireta movida na Vara de Feitos da Fazenda da Comarca de Rio do Sul por Carmelito Cunha e
Maria Capistrano Cunha contra o Município de Rio do Sul.
Inicial: Os autores são proprietários do imóvel matriculado sob n° 23798, com área escriturada de
315,00 m², localizado na Avenida Oscar Barcellos, imóvel que foi por eles adquirido no dia 27 de
maio de 2004, conforme R-5 da referida matrícula. Com o alargamento da rua Oscar Barcellos e
realização de obras de infra-estrutura, notadamente pela construção de calçadas fronteiriças pela
requerida , o imóvel sofreu redução de 64,60 m², passando a contar com apenas 237,65 m². Os
autores alegam que a requerida até o presente momento não promoveu o ressarcimento dos
prejuizos a eles causado e por conta disto utiliza o caminho judicial para tal. Os autores apresentam
seus fundamentos e fazem o pedido.
Contestação: O município de Rio do Sul contesta a ação afirmando que a Avenida Oscar Barcelos,
deriva de uma obra realizada no ano de 1981, diferenciando-a de hoje somente quanto a camada
asfaltica executada em 2006. Afirma a requerida que a via não sofreu qualquer modificação com a
implantação do novo setor viário estabelecido, que somente foi executado camada asfáltica, não
sofrendo alargamento como querem fazer crer os autores. A requerida também afirma que o projeto
inicial da via é datado de 1981 e que desde então a via não sofreu modificações quanto a suas
dimensões e que os autores quando adquiriram o imóvel, isto em 2004 ja o encontraram com as
mesmas caracteristicas adquiridas em 1981.
O juiz julgou procedente o pedido dos autores, fixou os pontos controvertidos e deferiu pela
produção prova testemunhal e pericial, fixando o prazo de 10 (dez) dias para que as partes
apresentassem seus quesitos e indicassem os assistentes técnicos. Nomeou como perita judicial
Dorilene Bagio Kempner e solicitou que à perita nomeada se manifestasse em 10 dias se aceitaria o
encargo e indicasse seus honorários. Aos autores foi solicitado a realização do depósito dos
honorários e à perita, no caso de aceitar o encargo apresentar a indicação de data e hora para a
realização da perícia, comunicando os assistentes técnicos para que querendo acompanhassem a
perícia. O juiz também deixou determinado o prazo de 30 (trinta) dias após a realização da vistoria
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
pericial para a entrega do laudo. Inicial, contestação e despacho saneador seguem anexo – anexo A-
01.
A requerente não indicou assistente técnico e a requerida indicou como assistente técnico o
engenheiro civil Ednei Sandri. Nenhuma das partes apresentaram quesitos, ficando somente os
quesitos do juizo a serem respondidos.
A pericia tinha 02 (dois) objetivos principais: Apurar se a via que faz frente com o imóvel dos
autores foi alargada e se esta teria sido a causa da redução de área do imóvel dos autores e avaliar o
valor comercial por m² de terra nua para o imóvel sob perícia.
A vistoria pericial foi realizada na presença do requerente e do assistente técnico da requerida. Todo
o processo investigativo e de avaliação realizado segue detalhado no laudo pericial que segue anexo
na íntegra – ver anexo A-02. Vale ressaltar que não foi possível ter acesso ao projeto original da via,
que seria a prova principal para a conclusão , que seria o projeto original da via, pois o mesmo, se
existir, esta em posse da requerida que consegiu manter inacessível. Foram encontrados outras
evidências como fotografias antigas e levantamentos topográficos de imóveis que permitiram ao
juiz promover a sentença com segurança.
As partes apresentaram suas alegações a cerca do laudo pericial sendo que os autores solicitaram
audiência de instrução e julgamento alegando que os pontos controvertidos reconhecidos pelo juizo
no despacho saneador não foram dirimidos pela perita, é que seria necessário obter oitiva da perita
para esclarecimentos. O requerido optou pela impugnação do laudo pericial julgando-o
inconclusivo.
O juiz então determinou pela audiência de instrução e julgamento, solicitando que as partes
apresentassem os quesitos a serem esclarecidos pela perita. Passado o prazo limite para a
apresentação dos quesitos de esclarecimentos as partes não os apresentaram, então somente o juiz
promoveu questionamentos à perita que foram pela própria respondidos em audiência. Com base
no laudo pericial e nos esclarecimentos prestados da perita na audiência o juiz sentenciou o
processo, conforme anexo A-03.
Consideração a respeito da conduta e desfecho do processo: a prova principal do processo seria o
projeto original da via que o requerido acusa ter sido alargada, pois a partir deste projeto
poderíamos verificar suas dimensões originais e se segue o traçado previsto no projeto. Entretanto
esta prova não foi localizada, quando partiu-se em busca de provas fotográficas, depoimentos de
moradores antigos, arquivos da rede ferroviária visto que antes da atual via, naquele local passava a
linha férrea. Com as informações encontradas neste processo investigativo foi possível juntar
indícios que permitiram ao magistrado a decisão com total segurança. Este processo demonstra a
dificuldade muitas vezes encontrada na busca da prova que permite a conclusão pericial, o quanto é
importante o processo investigativo e principalmente a importância da prova pericial para a tomada
da decisão judicial.

8. Conclusão
Como os fatos litigiosos muitas vezes não são da inteira compreensão do juiz e nem sempre é
possível permitir-lhe concluir sobre a lide através dos meios de provas usuais (testemunhal e
documental) é que surge à necessidade da perícia - peça fundamental que representa a prova levada
aos autos em forma de laudo, demonstrando a verificação de fatos que interessam à decisão da
causa. Os resultados obtidos com a prova pericial na solução dos litígios demonstram a importância
desta prova para a tomada da decisão e especialmente a certeza de que a solução é justa.
É crescente a demanda e variedade de litígios na área de engenharia que dependem de perícias
judiciais para serem solucionados. Esta demanda oportuniza que profissionais habilitados

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
aumentem suas áreas de atuação. As habilitações profissionais são exigências mínimas necessárias
para que engenheiros possam atuar como peritos, porém não suficientes atuar em perícias judiciais,
pois estas cada vez mais interagem de forma interdisciplinar, requerendo atualizações,
aperfeiçoamentos e aquisição de novos conhecimentos correlacionados.
Com a evolução nos conceitos dos temas relacionados à engenharia legal, a necessidade de
profissionais com maior conhecimento e mais atualizados é ainda maior exigindo ainda mais a
necessidade de aperfeiçoamento. Partindo da premissa que as universidades devem visar suprir as
carências do mercado, é pertinente concluir que inserir disciplinas de engenharia legal nas grades
curriculares dos cursos de graduação de engenharia é de grande relevância e significância.

9. Referências
ABUNAHMAN, Sérgio Antonio. Curso básico de engenharia legal e de avaliações. São Paulo:
Pini, 2008.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13752: Pericias de


engenharia na construção civil. Rio de Janeiro, 1996.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14653: Avaliação de


Bens – parte 1: Procedimentos Gerais. Rio de Janeiro, 2001.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14653: Avaliação de


Bens - parte 2: Avaliação de Imóveis Urbanos. Rio de Janeiro, 2011.

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processual penal. São Paulo: Saraiva, 2008.

DEUTSCH, Simone Feigelson. Perícia de engenharia: a apuração dos fatos. São Paulo: Liv. e
Ed. Universitária de Direito, 2011.

FICKER, José. Manual de avaliações e perícias em imóveis urbanos. São Paulo: Pini, 2001.

GOMIDE, Tito Livio Ferreira. Engenharia Legal3. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito,
2009.

IBAPE/SP. Perícias de engenharia. São Paulo: Pini, 2008.

LIPORINI, Antonio Sérgio. Posse e domínio: aspectos pertinentes à perícia judicial / Antonio
Sérgio Liporini e Odair Martins Benite . São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2008.

MAIA NETO, Francisco. A prova pericial no processo civil. Belo Horizonte: Delrey, 2005.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva,
1998.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Rio do Janeiro: Forense,
1998.

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
A importância da prova pericial julho de 2013
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, vol. II. Rio do Janeiro:
Forense, 2012.

YEE, Zung Che. Manual prático de perícia civil. Curitiba: Juruá, 2008.

YEE, Zung Che. Modelos de petição para peritos & vocabulário jurídico básico. Curitiba:
Juruá, 2007.

YEE, Zung Che. Perícias de engenharia: análise e crítica. Curitiba: Juruá, 2006.

YEE, Zung Che. Perícias indenizatórias & de desapropriações. Curitiba: Juruá, 2008

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013

You might also like