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% Home » Artigos » O Código Penal de 1940: não parece que foi ontem? " #
RECENTES
“Pela nova ordem de coisas o período governamental será de 6 anos”. Existe algum membro do
Ministério Público com...
“Todos os ministros apresentaram pedido de demissão”. 6 de abril de 2017
também não vai bem, estamos vivendo uma recessão brava, precisamos de
uma mão forte, alguém que saiba lidar com quem produz riqueza nesse
país”, ponderavam outros. LIVROS JUSTIFICANDO
Mas dessa vez parecia ser mais preocupante: o Presidente da República havia
fechado o Congresso.
E não era só isso: entendeu que seria o momento de outorgar um novo texto
constitucional, à revelia de qualquer recomendação democrática de que se
respeitasse o Poder Constituinte. “Mas todo Poder emana do povo,
presidente! E em seu nome deve ser exercido!”
“Bobagem”, respondeu a Nossa Excelência da vez. Ele dizia saber muito bem
o que o povo queria, pra que essa firula de “poder constituinte” e processos
democráticos? O Brasil estava em crise, não dava tempo de pensar muito
nesses luxos não.
Luís XIV da França, inocente Rei- Sol, decerto se revirou em algum lugar do
Além ao se dar conta que o Estado não era ele coisa nenhuma[1]: Getulio
Vargas, como todo bom ditador, jogava nas onze, governando, coordenando,
executando, e, claro, legislando por meio dos Decretos-Leis, cuja
competência privativa da Presidência da República havia sido-lhe atribuída
por ele mesmo no artigo 74 da Constituição de 1937.
(…)
No item 15 do artigo 122, estava lá a censura prévia, que limitava por lei a
imprensa, o teatro e o cinema "com o fim de garantir a paz, a ordem e a
segurança pública”, bem como tomava "medidas para impedir as
manifestações contrárias à moralidade pública e aos bons costumes”.
Foi neste cenário de ilegalidade e de total privação das liberdades civis que o
Código Penal de 1942, inspirado no Código Penal da Itália fascista de 1930,
foi produzido e posto em vigor, e assim permanece até hoje, ressalvadas
alterações pontuais e uma grande reforma na sua Parte Geral no ano de 1984
(vale lembrar, no final da ditadura militar).
Desta forma, não é demais dizer que o Código Penal (e a legislação penal
como um todo) é um retrato bastante fiel do desenho do poder político de um
país: é nesta norma que encontramos os parâmetros do que se levará em
consideração para calcular por quanto tempo o Estado poderá encarcerar
uma pessoa (sua personalidade? seus antecedentes?). Ou que se colocam
termos como “pena suficiente para reprovação do crime”: será que todo
mundo reprova as mesmas condutas, e tem o mesmo entendimento sobre o
que é suficiente para demonstrar esse sentimento (se é que lei penal é o
melhor espaço para demonstrações sentimentais)?
Um Código Penal também mostra o que o seu autor – ou seja, quem quer que
tenha poderes para expedir normas – elegeu como os valores mais preciosos
, a ponto de encarcerar quem atente contra eles. Tendo isso em mente, que
mensagem nos passa o nosso Código Penal, que elenca quatro condutas como
crimes contra a liberdade individual, e outras vinte e sete condutas como
crimes contra o patrimônio? Ou, ainda, que embora já não ostente a vetusta
denominação “Crimes contra os costumes” para se referir aos crimes sexuais
(alteração ocorrida somente em 2009), mantém até hoje um capítulo com
“Crimes contra a Organização do Trabalho” (que podem implicar sérias
restrições ao direito de greve, por exemplo)?
Maíra Zapater é graduada em Direito pela PUC-SP e Ciências Sociais pela FFLCH-
USP. É especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Escola Superior do
Ministério Público de São Paulo e doutoranda em Direitos Humanos pela FADUSP.
Professora e pesquisadora, é autora do blog deunatv.
[1] Atribui-se a Luis XIV a frase “O Estado sou eu” (“L'etát c’est moi”), que
simboliza o Absolutismo monárquico europeu dos séculos XVII e XVIII.
[3] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D0001.htm
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