Professional Documents
Culture Documents
Resumo
Este artigo visa refletir não só sobre a persistência dos elementos do Realismo Clássico
nas relações internacionais, como também discutir acerca do problema da diferença, que
traz nova abordagem para as interações dos Estados no plano internacional. O intuito da
análise é demonstrar que os Estados que produzem relações internacionais não podem ser
compreendidos somente com um todo homogêneo e coeso; devem, todavia, ser
consideradas suas idiossincrasias e seus elementos autóctones no momento de interação,
lógica com a qual o problema da diferença trabalha. O eu e o outro – no caso, um Estado
em relação a outro – devem relacionar-se de modo que o reconhecimento seja mútuo, em
um processo de alteridade.
Introdução
1
As “Relações Internacionais” com letras iniciais maiúsculas são entendidas como a cátedra da área
científica das Humanidades, ao passo que as “relações internacionais” com letras iniciais minúsculas se
referem à relação estabelecida entre agentes internacionais, configurando o sistema internacional.
estudos do problema da diferença, que identifica a inter-relação entre o eu e o outro, em
um processo de reconhecimento mútuo. A essa lógica dá-se o nome de alteridade.
A falta de entendimento da diferença na relação entre os Estados, que são
analisados pela lógica de interação entre o eu e o outro, implica soluções divergentes. Na
teoria realista, a diferença pode ser equacionada pela assimilação ou eliminação do outro,
como tem frequentemente ocorrido; ao passo que, nos estudos acerca do problema da
diferença, esta será solucionada quando a alteridade se manifestar na relação do eu com
outro, investindo-se no conhecimento do outro para auxiliar na investigação da
constituição do próprio eu.
Realismo Clássico
Problema da Diferença
2
Essa expressão concerne à falta de soluções para o problema da diferença no encontro entre o eu e o outro
quando da formação do Estado moderno, uma vez que somente se transferiu o problema da diferença do
plano interno para o internacional.
de Relações Internacionais tem, portanto, dificuldade em lidar com a herança colonial, na
medida em que é produto e mecanismo reverberante do colonialismo.
As Relações Internacionais protelam o reconhecimento e o compromisso com
outro, em uma frágil relação de convivência entre os Estados. A dicotomia dentro-fora
implica clivagem, polarizando a diferença e sublimando o eu em relação ao outro, em
lugar de identificar a inter-relação entre o eu e o outro. Em regra, a comparação entre
culturas gerou conclusões que defendiam a assimilação do outro ao reprimir a diferença,
ou a eliminação do outro ao opor-se o eu e ao outro. Estes, caso apartados, resulta, por
conseguinte, na depreciação do diferente, caracterizado como bárbaro e imaturo
(INAYATULLAH; BLANEY, 2004)
Conforme Inayatullah e Blaney (2004), o outro é compreendido como estado
primitivo e obsoleto do eu. Verifica-se essa análise nas leituras europeias acerca dos
povos indígenas nas Américas, concedendo ao eu a missão de civilizar o outro, isto é, o
primitivo. Há, no entanto, processo de reverberação do eu colonizador com o outro
colonizado, visto que o outro serve de análise crítica sobre os elementos que constituem
o próprio eu colonizador. Uma das propostas para a solução do problema da diferença é,
portanto, tratar o outro como elemento de auto-análise, ensejando relações que permitam
inúmeras formas de existência humana, ao diminuir a ênfase no internacional à medida
que aumenta o foco nas relações.
3
A postura ativa diz respeito a posições conscientes, em que o Estado se manifesta não de maneira mecânica
e individualista, mas pensando nos reflexos de suas ações, a longo prazo, em toda a comunidade
internacional, ao almejar a convivência frutífera com os outros Estados.
4
A atitude reativa é uma postura inconsciente e instintiva, que não demanda reflexão profunda acerca da
repercussão das ações para os outros Estados. Portanto, a reprodução só gera mais do mesmo, não
construindo relações criativas e diferente na relação entre os agentes.
5
O ente racional pode ser entendido como aquele que busca satisfazer e maximizar seus interesses, sempre
se comportando de modo imparcial. Essa classificação vai de encontro com as iniciativas de alteridade.
Com a análise do problema da diferença, os Estados podem compreender mais
sobre as convulsões domésticas advindas das diferenças de dentro dos Estados,
supostamente homogêneos, e aprender a conhecer melhor as particularidades dos outros
Estados. Isso seria possível na medida em que se criam precedentes no processo de auto-
observação, ao perceber o espaço de atuação do outro. Ou seja, o caminho desconhecido
tornar-se-á familiar, propiciando o conhecimento dos processos, o que contribui para a
diminuição do medo do desconhecimento do outro. O Estado, todavia, deve estar cônscio
de que nem sempre os resultados advindos do espaço de interação serão promissores. O
aspecto relevante da análise dessa nova interação pela problemática da diferença é,
portanto, criar os precedentes que possibilitarão correções futuras de cada relação,
mantendo as ações positivas dos Estados e corrigindo as negativas.
Considerações Finais
MORGENTHAU, Hans (2002). A Política entre as Nações. São Paulo: Clássicos IPRI/
UnB.