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2.1 Introdução
Elster faz uma tabela que ajuda a entender os próximos subcapítulos, envolvendo os motivos
para o pré-compromisso institucional e os dispositivos de pré-compromisso institucional:
1
Lembrar do capítulo 1 do livro onde Elster aborda as auto restrições e lembra de Ulisses se amarrando
contra as sereias.
Sobre os motivos para o pré-compromisso, o Elster trata deles no capítulo 1 só, mas
cabe lembrar para entender melhor o capítulo 2. Motivos para a auto-restrição2:
1) Paixão: definição aristotélica: “As emoções são as causas que alteram os seres
humanos e induzem mudanças em seus juízos”. Ou seja, são sentimentos capazes de alterar o
raciocínio das pessoas a respeito de suas ações, e incluem emoções típicas como raiva, medo,
amor, vergonha, etc. e também embriaguez, desejo sexual, desejo de drogas, entre outros.
- Pessoas, em geral, têm preferência pelo presente em relação ao futuro, pois querem
sua satisfação e sentem-se tentadas a obtê-la num prazo imediato.
2.2) Interação estratégica: está ligada à questão de uma pessoa realizar ameaças e
promessas a outra, caso esse em que as consequências futuras estão dentro do controle da
pessoa que os proferiu; e de proferir avisos e encorajamentos, sendo que a cadeia de
consequências, nesse caso, não está dentro do controle da pessoa.
- Estrategicamente, uma pessoa pode evitar receber essas informações, para induzir a
própria ignorância (cortando comunicação).
2
Essas anotações do cap. 1 não são minhas, peguei dos cadernos do primeiro ano.
- Ameaças e promessas devem gozar de credibilidade para serem consideradas pela
outra pessoa, que, mesmo assim, pode ignorar as consequências e ir contra o que o primeiro
disse.
Para Elster, transferir conceitos usados para estudar indivíduos3 para o comportamento
de coletividades, como se fossem indivíduos em escala ampliada, pode ser enganoso. Primeiro
porque constituições podem restringir os outros em vez de serem atos de auto-restrição e
segundo porque elas podem nem mesmo ter o poder de restringir.
Constituições podem não restringir de forma alguma – Constituições também não são
atos de auto-restrição em sentido rígido; as constituições são projetadas para tornar difícil mas
não impossível a mudança de suas disposições em comparação com a legislação ordinária. Faz
sentido, uma vez que Constituições muito rígidas não sobreviveriam à uma mudança na forma
de pensamento da população.
Apesar das falsas analogias entre casos individuais e coletivos, a ideia de pré-
compromisso constitucional (auto-restrição) não é sem sentido: i) em um sentido literal e
absoluto, quando assembleias constituintes (que esperam ser maioria na legislatura ordinária
seguinte) decidem unanimemente ceder parte de seus poderes a outras instituições
governamentais; ii) em um sentido amplo, quando assembleias restringem gerações futuras ao
esperar que os futuros agentes políticos teriam as mesmas razões para se auto-restringir
[questionável].
Constituições podem ser escritas e não-escritas (apesar da última ser rara atualmente,
tendo como maior exemplo a Grã-Bretanha). As Constituições escritas são feitas ao passo que
as não-escritas são desenvolvidas.
3
O Capítulo I inteiro do livro, que não cai na prova, trata de indivíduos, por isso a importância de frisar
bem isso.
não é universalmente válida; Elster menciona as convenções constitucionais, que às vezes são
criadas a partir de precedentes (ou um único precedente) ou a partir de legislação ordinária que
assume um status quase constitucional, ainda que essas convenções contrarime o disposto na
Constituição em um primeiro momento.
(o professor tomio nos materiais das aulas pula essa parte então vou resumir muito
sucintamente pra não perder tempo, ok?)
Elster ressalta que essas avaliações do poder legislativo só funcionam quando estão elas
próprias embutidas em restrições. Ou seja, se essa imposição de atrasos ou maioria qualificada
puder ser facilmente derrubada, elas tornam-se meramente fictícias.
(idem 2.4)
O sistema político ateniense nos séculos V e IV a.C. não era constitucional, no sentido
de não atender aos critérios e procedimentos enumerados no 2.3. Contudo, ao longo desse
período encontramos procedimentos estabelecidos cujo efeito – e, possivelmente, propósito –
era colocar obstáculos contramajoritários às paixões da maioria.
Esses dispositivos por sua vez poderiam eles mesmos criar problemas, podendo atingir
a eficácia ao lidar com questões urgentes ou utilizadas com fins privados. Apesar disso, Elster
considera que o sistema ateniense de freios e contrapesos era, no geral, muito bem-sucedido,
aliando a participação democrática com um grau razoável de eficiência e proteção contra
paixões majoritárias.
Elster esclarece alguns pontos antes de adentrar na matéria da tabela. Primeiro frisa que
as duas sociedades em questão (americana e francesa) não eram democracias diretas. Segundo,
correspondente a essa quádrupla classificação de motivos, esclarece que no ponto de vista das
constituintes do séc. XVIII, a Constituição tinha de ser construída com duas metas em mente:
eliminar ao máximo as forças destrutivas e irracionais da paixão e planejar instituições que
incentivariam os agentes políticos a agir de forma que também promovessem o bem público.
Terceiro, distingue paixão e interesse, dizendo que o primeiro tem vida curta e o segundo tem
visão curta.
O veto executivo enquanto solução para o problema das maiorias passionais: duas
maneiras principais de se manter uma forma de veto executivo mesmo que um veto absoluto
seja rejeitado. Por um lado, pode-se permitir que a assembleia anule o veto, mas com a exigência
de uma maioria qualificada (EUA). Por outro, pode-se permitir que a assembleia anule com
maioria simples, mas com a exigência de que a decisão seja postergada até uma legislatura
superior. Na constituinte francesa, se procurava justificar a questão do veto executivo, primeiro
por entender que seria um dispositivo de atraso e esfriamento dos ânimos e segundo pela
justificativa a seguir.
O veto executivo enquanto solução para o problema dos legisladores com interesses
próprios: ideia do Legislativo procurando defender a liberdade e por isso concedendo
prerrogativas ao Executivo. As Câmaras queriam defender o povo contra elas mesmas; queriam
impedir toda opressão e limitar a liberdade de acorrentar todos os opressores. Para estabelecer
esses controles, devem-se solucionar dois problemas que são inerentes a qualquer sistema de
freios e contrapesos. Primeiro há a questão de “quem deve guardar os guardiões”, ou seja, esses
freios devem ser eles mesmos mantidos sob freios (como a possibilidade de derrubar o veto).
Segundo, há a questão de quem deve indicar os guardiões e, se necessário, removê-los de seus
cargos, no sentido de que não pode o responsável pelo veto ser indicado pelo próprio legislativo;
dos freios devem ser genuinamente independentes das instituições contra as quais agirão.
Tabela 2.1: Criação de atrasos para i) superar a paixão e o interesse; ii) superar o
desconto hiperbólico.
Os atrasos têm sido introduzidos para conter a paixão, não para compensar o desconto
hiperbólico. Mas, embora essa ideia não possa servir de exemplo de pré-compromisso
intencional, sugere que alguns procedimentos de atraso podem servir de restrições incidentais
que impedem uma conduta de inconsistência temporal (desconto hiperbólico).
Pré-compromisso com um orçamento equilibrado: caso dos EUA que demanda não
apenas por um orçamento equilibrado, mas por uma emenda sobre orçamento equilibrado na
Constituição. Sem a constitucionalização dessa meta, o Congresso não será capaz de resistir aos
muitos grupos de interesses que fazem lobby para esta ou aquela atividade. Além disso, permite
superar o desconto hiperbólico, que faz pensar que equilibrar o orçamento é uma boa ideia, mas
no futuro (e depois adia esse futuro).
Tabela 2.1: separação de poderes para i) superar o desconto hiperbólico; ii) superar a
inconsistência temporal estratégica; iii) assegurar a eficiência.
Ideia de que o poder, para ser eficaz, precisa ser dividido e de que a onipotência, longe
de ser uma benção, pode ser uma maldição.
2.10 Eficiência
Os pré-compromissos podem não ser desejáveis: mesmo quando possível e eficiente, o pré-
compromisso constitucional pode não ser desejável. Dois problemas principais – um criado pelo
potencial conflito entre o pré-compromisso e a eficiência e o outro pelo potencial de um conflito
entre o pré-compromisso e a democracia. O primeiro problema diz respeito às auto-restrições
constitucionais fortes que podem ser incompatíveis com a flexibilidade de ação exigida em uma
crise (uma guerra, por exemplo). Nesse caso seria possível apelar para disposições de
emergência, mas apesar destas estabilizarem a constituição, podem também colocá-las em risco
ao ampliar os problemas que deveriam solucionar. Além disso, certas emergências não têm
nenhum sentido constitucional enquanto emergências, mas ainda sim são importantes o
suficiente para que uma previsão rígida tenha um impacto desastroso, como questões de
política monetária. O segundo problema surge quando os agentes que exercem as funções de
pré-compromisso estão isolados do controle democrático; quando decisões tomadas por um
tribunal constitucional ou um banco central são eficientes nos sentidos técnicos do termo, mas
são radicalmente inapropriadas em relação às preferências de uma ampla maioria de cidadãos.
Escotilhas de fuga: (tomio não foca nesse ponto nas aulas) Elster volta para a questão dos bancos
centrais. Se a separação dos poderes cria um risco de os presidentes dos bancos centrais serem
rígidos, dogmáticos ou democraticamente irresponsáveis, ela pode ter de ser aumentada por
meio de freios e contrapesos, por exemplo, permitindo uma maioria qualificada do legislativo
dispor sobre o presidente.
2.12 Ulisses liberto
Elster reforça a ideia de que as sociedades não são indivíduos em escala ampliada.
Sociedades não são unitárias, sendo compostas por vários indivíduos, nenhum dos quais, nem
nenhum de seus subconjuntos estando “no comando”. Nenhum grupo tem a pretensão inerente
de representar o interesse geral; a sociedade não tem ego nem id. Além disso, há a questão de
afirmar que as constituições são “auto-restrições” quando se tem uma maioria impondo sua
visão constitucional sobre uma minoria – muitos atos aparentes de auto-restrição acabam sendo
na verdade motivados por razões partidárias.
Quanto a esse problema da minoria, Elster afirma que uma minoria na assembleia
constituinte pode não ter a força para conseguir que a proteção de seus interesses seja escrita
na constituição. Existe a possibilidade da negociação, da troca de favores, mas para isso é
necessário que a maioria aceite negociar e que a minoria esteja devidamente representada na
assembleia.
Por último, Elster menciona que uma constituição é similar ao superego, consistindo em
regras rígidas e inflexíveis que podem impedir o comportamento sensato mais adequado em
ocasiões específicas. O autor lembra dos diversos pontos desse capítulo que demonstram que
os problemas criados por uma regra privada podem ser piores do que aqueles que a regra
deveria solucionar e como a própria constituição poderia armar escotilhas de fuga para lidar
com esses problemas de segunda ordem (como a questão da emergência), mas essas cláusulas
de válvula de escape podem interferir no impacto da constituição sobre os problemas de
primeira ordem. Termina afirmando que se os constituintes tentarem impedir a constituição de
se tornar um pacto suicida, ela pode perder sua eficácia como um dispositivo de prevenção do
suicídio.