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Riscos
Os trabalhadores rurais estão expostos a riscos químicos (inseticidas,
herbicidas, maturadores...); físicos (calor, frio, umidade, radiação solar);
mecânicos (atrito, pressão, vibração, fricção, EPIs inadequados); biológicos
(bactérias, fungos, vírus e animais peçonhentos); e organizacionais (turno,
jornada excessiva, pagamento por produção, falta de vínculo empregatício...).
Os riscos também podem ser classificados como operacionais (postura, força,
movimento repetitivo e carregamento de pesos) e acidentários (quedas de
caminhão, carretas e trator, quedas no ambiente de trabalho, perfurações,
torsões provocadas por agentes mecânicos em todo corpo, intoxicações por
agrotóxicos, ataque de animal peçonhento).
“Os trabalhadores rurais estão expostos aos riscos, de forma sinérgica, pois o
trabalho em todas as fases da produção normalmente é executado sem proteção
física e social”, avalia a engenheira agrônoma Cristina Gonzaga. “É um trabalho
manual intenso e exaustivo com sobrecarga física e mental”, completa.
Para a engenheira da Fundacentro, a NR 31 foi criada para minimizar esses
riscos, criando proteção social, vínculo de trabalho formal, proteção física mais
adequada, tempo de jornada, pausa, alimentação, hidratação, EPIs adequados.
Já o auditor fiscal, Antônio Avancini, retratou os desafios para melhorar as
condições de transporte, alimentação e áreas de vivência. Tudo está disciplinado
na NR 31, mas no dia a dia da fiscalização são encontradas situações de
descumprimento como Kombi e ônibus com bancos de madeira adaptados,
transporte em carrocerias de caminhões, abrigos para refeições e instalações
sanitárias inadequadas. Há até mesmo o não fornecimento de água potável.
Também foram apresentados exemplos de atendimento a esses quesitos da
norma regulamentadora.
Precarização
Durante o evento, Cristina Gonzaga chamou atenção para o Projeto de Lei n°
6.442, que institui normas reguladoras do trabalho rural. O PL propõe a extinção
do acidente de trajeto; remuneração não-salarial: comida (20%) e moradia
(25%), além de aceitar que o pagamento seja feito com parte da produção e
concessão de terra; torna facultativo banheiro, água potável e local de descanso
para frentes de trabalho de difícil acesso; reduz adicional noturno; permite
trabalho contínuo por até 18 dias. “É a regulamentação da precarização do
trabalho no Brasil”, critica a engenheira.
Na avaliação da pesquisadora, o PL 6442 desobriga os empregadores de
fornecer aos empregados condições salubres para o exercício de suas
atividades, equipamentos de segurança que garantam a integridade física do
trabalhador e de cumprir normas sanitárias para o uso de agrotóxicos e
fertilizantes.
Também estabelece que as inspeções sobre as condições de trabalho tenham
um caráter “educativo e preventivo”, observando “o critério da dupla visita em
todos os casos”. “Na prática significa que se a saúde do trabalhador estiver
sendo colocada em risco, nada acontecerá com o contratante quando for feito o
flagrante em uma primeira inspeção”, alerta Gonzaga.
A engenheira ainda traçou um panorama da fiscalização em relação à NR 31 no
Brasil. Houve queda no número de regularizações pela ação fiscal, que foi de
40.116 em 2007 para 4.148 em 2016, e de notificações, de 17.577 em 2007 para
6.115 em 2016. Os dados são do Sistema Federal de Inspeção no Trabalho, da
SIT/MT (Secretaria de Inspeção do Trabalho/Ministério do Trabalho). Alguns
motivos para a queda são: drástica redução no número de auditores do Ministério
do Trabalho; greve dos auditores; problemas na alimentação de dados; e falta
de infraestrutura física para realizar a fiscalização rural como carros danificados,
falta abastecimento e de motoristas.
Para Avancini, é preciso aumentar número de auditores. Além disso, muitas
vezes o empregador prefere pagar a multa a fazer a modificação, já que a maior
multa na área de SST do Ministério do Trabalho é de 6 mil reais, o que ainda
pode ter desconto de 50%.
Outra questão ressaltada pela engenheira da Fundacentro é que as condições
de trabalho encontradas pelo interior do país são ainda mais preocupantes do
que a do estado de São Paulo. Um exemplo disso é o caso de crianças que
trabalham na colheita do açaí no Pará, muitas vezes vítimas de acidentes graves.
Consulte a NR 31