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de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção de aprovação na
elaborado por
Kate Formigoni Bogowicz Marcon
COMISSÃO EXAMINADORA:
Números Transcendentes? Algébricos? Que bichos são esses? Como diria o mate-
mático grego Pitágoras tudo é número. Temos os números naturais, os inteiros, racionais,
irracionais, primos, perfeitos e até imaginários! Em virtude de pouca (ou nenhuma) abor-
dagem sobre números algébricos e transcendentes para alunos do Ensino Médio e até
tes no seu contexto histórico, geométrico e algébrico. Além disso, mostrar a importância
destes números ao ajudar na solução dos três problemas clássicos da geometria: quadra-
Transcendent numbers? Algebraic? What are these bugs? How would say the Greek
rational, irrational, prime, perfect and even imaginary! Because little (or no) approach to
algebraic and transcendental numbers for high school students and even for undergraduate
students in mathematics, this work seeks to present and discuss the intriguing classica-
tion of real numbers in algebraic and transcendental numbers in historical, geometric and
algebraic context. Also, show the importance of these numbers to help solve three classi-
cal problems of geometry: squaring the circle, trisection of the angle and doubling the cube.
INTRODUÇÃO 6
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 9
1 OS NÚMEROS CONSTRUTÍVEIS 13
2 OS NÚMEROS ALGÉBRICOS 21
3 OS NÚMEROS TRANSCENDENTES 25
3.1 O Número e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2 O Número π . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS 49
REFERÊNCIAS 50
INTRODUÇÃO
que tais teorias foram desenvolvidas com a colaboração de diversas pessoas. Tal armação
pode ser ilustrada com o exemplo dos três problemas clássicos da geometria: a trissecção
do ângulo, a quadratura do círculo e a duplicação do cubo. Estes três problemas que resis-
tiram aos melhores geômetras gregos, passaram pela história trazendo uma innidade de
estudos que ajudaram a promover avanços para a Matemática, pois: a procura constante
de soluções para os três problemas durante tanto tempo forneceu descobertas espantosa-
mente frutíferas, às vezes achadas por sorte pura e que lançaram luz sobre tópicos bem
lósofo sosta, sistematizou uma curva que foi denominada quadratriz. Ela recebeu esse
nome por que também resolveria o problema da quadratura do círculo caso essa curva
Já por volta de 180 a.C., Diócles (240 - 180 a.C.) produziu a curva chamada
cissóide, com a qual foi possível realizar a duplicação do cubo, porém, também não era
construtível com régua não graduada e compasso. Entretanto, muitos matemáticos gregos
passaram sem proporcionar soluções. Somente no século XIX, os estudiosos provaram que
Esse fato também pode ser observado quando analisamos a organização dos núme-
ros ao longo da história. Eles começaram a ser usados a partir do momento em que existiu
a necessidade de contar coisas e objetos. Essa necessidade fez com que o homem desen-
diversos sistemas de numeração foram criados em todo o mundo, sendo os mais anti-
gos originários do Egito, Suméria e Babilônia. Podemos também citar outros sistemas de
etc. Quando levava seu rebanho para a pastagem ele relacionava uma pedra a cada animal
e, no momento em que ele recolhia os animais, fazia a relação inversa. Caso sobrasse
alguma pedra, signicava que faltava algum animal. Na busca por algo mais concreto,
7
que representasse de uma forma mais simples tais situações, o homem elaborou símbolos
mais simples são classicados como naturais e representados pela letra N. Fazem parte
envolvendo seus lucros e prejuízos. A maneira que eles encontraram para resolver tais
problemas foi utilizar os símbolos + (mais) e − (menos). Utilizando essa nova simbologia, o
método de contagem adquiriu técnicas operatórias capazes de expressar qualquer situação
representado pela letra Z, formado pelos números positivos (naturais) e seus respectivos
opostos, passando a ser escrito da seguinte forma: Z = {..., −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, ...}.
Ao usarmos razões de números inteiros, esses números formam uma classe cha-
mados números racionais e representados pela letra Q. Ao observarem que as frações não
cer outra classe de números: os irracionais. Os irracionais são denidos como números que
não podem ser expressos como a razão entre dois números inteiros. A união dos conjuntos
dos números racionais e irracionais formam o conjunto dos números reais, representado
pela letra R.
Dentro deste contexto estão os números algébricos e transcendentes. Resultado
nos do Ensino Médio e, até mesmo, para alunos de graduação em Matemática, neste
suas aplicações.
hoje se não se tiver pelo menos uma ideia sumária de sua história.
1 Jean Alexandre Eugene Dieudonné (1906 - 1992), matemático francês e membro do Grupo de estudos
Bourbaki. Considerado como o matemático enciclopédico, contribuiu para muitas áreas da Matemática
como análise funcional, a teoria de anéis e teoria de grupos de matriz sobre um corpo nito.
8
discutidos o conjunto dos números algébricos, dos números transcendentes, bem como, as
A escola fundada por Pitágoras de Samos (586 - 500 a.C.), por volta de 540 a.C. es-
teve voltada ao estudo da losoa, das ciências naturais e da Matemática. Apesar de seu
abstrato, acima da realidade física. Sua presença no mundo físico era percebida nos céus e
na Terra. Acreditavam que o mundo era feito de números e consideravam Deus o Grande
Geômetra do Universo.
ções, chegaram à conclusão de que alguns princípios básicos deveriam ser admitidos sem
prova. Estes princípios são chamados de axiomas. É provável que tenha surgido nesse
mesmo período a ideia de demonstrar teoremas de forma indireta, conhecido como Mé-
Uma das descobertas foi feita por Hipasus de Metaponto (ca. 445 a.C.). Utilizando o
método por contradição, ao estudar qual deveria ser a medida da diagonal de um quadrado
de lado 1 e supondo que ela pudesse ser expressa pela relação de dois inteiros, chegou a um
absurdo, signicando que existia outra classe de números com características diferentes
dos que já haviam sido encontrados. A gura (1) ilustra o cálculo através do teorema de
Pitágoras:
A raiz de dois não pode ser representada pela razão de números inteiros, os únicos
que os pitagóricos conheciam. Estes números foram classicados como irracionais, tam-
bém conhecidos como incomensuráveis: Outra forma de se referir a uma relação entre
grandezas que não possa ser expressa por um número racional é dizer que as duas gran-
dezas não admitem uma unidade comum de medida, ou seja, elas são incomensuráveis.
Isso causou um forte impacto para os estudiosos da época porque, até então, to-
das as demonstrações dos teoremas que envolviam proporções e semelhanças sugeria que,
dados dois segmentos, duas áreas ou dois volumes quaisquer, sempre existia entre suas
medidas uma relação que poderia ser representada por meio de números inteiros. A des-
coberta de casos em que isso não era verdade exigia que novas provas fossem feitas, mas
o problema maior era que ninguém sabia como fazer estas demonstrações.
Apenas um século depois, com a teoria das proporções desenvolvida por Eudóxio
2
de Cnidos (408 - 355 a.C.) e encontrada no livro V de Euclides , encontrou-se a solução
Esta teoria arma que um segmento de reta não pode ser comparado a uma área,
a c
< ⇔ a.d < b.c.
b d
por excesso). Por esse processo, podemos obter aproximações para um número irracional
√
com um erro tão pequeno quanto se queira. Assim, um segmento de comprimento 2, por
exemplo, e de comprimento 1 podem ser comparados, em termos de razão, desde que:
√ √
2 1 √ 2 2 √
> ⇔ 2.1 > 1.1 e < ⇔ 2.1 < 2.1
1 1 1 1
Uma restrição que lançou grandes desaos aos geômetras foi que, nas construções
geométricas somente dois instrumentos seriam permitidos: a régua não graduada e o com-
passo. Isso não signica que eles não usavam outros recursos, pois, se assim fosse, não
2 O livro V de Euclides faz parte de uma coleção conhecida como Os Elementos de Euclides. Neste
acervo constam 13 livros num total de 465 proposições organizadas como um conjunto de princípios
iniciais, denições, axiomas e postulados de que derivam todas as outras proposições.
11
Essa limitação gerou problemas que, na época e com tais restrições, não foram
encontradas soluções, como é o caso dos três problemas clássicos: a trissecção do ângulo,
Em suas tentativas de quadrar o círculo, por exemplo, Hipócrates (470 - 410 a.C.),
da ilha jônia de Quios, foi capaz de encontrar as áreas de lunas (guras delimitadas por
linhas curvas), as quais se pode construir, com régua e compasso, quadrados de mesma
área. Hipócrates foi o primeiro matemático da história a calcular rigorosamente áreas das
lunas. Neste caso, a área de S é dada pela soma da área das lunas L1 e L2 .
Observe a gura (2):
Figura 2: Lunas
A área total destas lunas é a área do triângulo ABC somada com as áreas dos dois
Por meio da quadratriz, sistematizada por Hípias, pode-se dividir qualquer ângulo
em qualquer número de partes iguais. Esta descoberta seria perfeita se não fosse por um
detalhe: innitos pontos da quadratriz podem ser construídos com régua e compasso, mas
outros innitos pontos não podem e, mesmo que pudessem, seria necessário um número
innito de operações. Isso contraria a denição de uma construção geométrica com régua
Mas a principal contribuição para este trabalho foi providenciada por Pierre Lau-
12
rent Wantzel (1814-1848), engenheiro e matemático francês, que, usando a álgebra, de-
monstrou teoremas que possibilitaram o m de uma busca que durou 23 séculos. Wantzel
mostrou que um elemento de uma gura geométrica é construtível com régua não gradu-
ada e compasso se, e somente se, os números que o denem derivam dos dados do problema
construtíveis são algébricos, sendo que um número é algébrico quando ele é solução de
equações algébricas com coecientes inteiros, podendo ser racional ou irracional. Assim, os
números reais podem ser classicados não apenas como racionais e irracionais, mas tam-
1984)
cendentes e como ela possibilitou aos matemáticos resolver os três problemas geométricos
clássicos. Além disso, mostraremos que tais construções são impossíveis de serem realiza-
OS NÚMEROS CONSTRUTÍVEIS
Como vimos anteriormente, uma restrição que lançou grandes desaos aos geôme-
tras foi que, nas construções geométricas somente dois instrumentos seriam permitidos: a
régua não graduada e o compasso. As construções geométricas feitas com régua não gra-
Nessas construções, um ponto só pode ser obtido como intersecção de duas retas,
Ax + By + C = 0 e A0 x + B 0 y + C 0 = 0
que são equações do primeiro grau em x e y . A solução deste sistema mostrará x e y como
sistema formado por uma equação do primeiro grau e uma do segundo grau. Os valores
visão e extração de raízes quadradas aplicadas a termos formados pelos parâmetros que
se expressa algebricamente por meio destas operações efetuadas sobre os parâmetros das
duas curvas.
compasso, os números que o denem derivam dos dados do problema através de uma
o conjunto dos números construtíveis é um subconjunto dos números reais contendo uma
segmento CB .
Desta forma temos : med (OA) = med (CD) = med (BE) = a. Então, med (OE) =
b + a = a + b. O ponto E ∈ r corresponde ao número a + b.
15
segmento BO.
Proposição 1.3. Dados dois números a e b construtíveis com a > 1 e b > 1, então a.b
também é construtível.
Prova:
med (OB) = b.
16
CB .
nando o ponto D ∈ s.
OI OB 1 b
Desta forma temos : 4OBC ∼ 4OED. Então, = , ou seja, = ,
OA OE a med (OE)
o que nos dá med (OE) = a.b. O ponto E ∈ r corresponde ao número a.b.
1
Proposição 1.4. Dado a construtível, então também é construtível (sendo a > 1).
a
Prova:
segmento BI .
1
Figura 1.4: Construção do segmento
a
O.
circunferência o ponto C.
√
(med (AC))2 = med (OA) .med (AB) =⇒ (med (AC))2 = a.1 =⇒ med (AC) = a.
0 e de uma unidade, utilizando apenas régua não graduada e compasso, temos como
√
Figura 1.5: Construção do segmento a
assim como os simétricos −1, −2, −3, etc, e portanto, são construtíveis todos os números
inteiros. Concluímos também, que são construtíveis todos os quocientes de inteiros, ou
seja, todos os números racionais e por último, vimos que se a é construtível, então o
√
número a, que pode ser irracional, também é construtível.
Denição 1.2. Um conjunto X é chamado de corpo quando podem ser denidas duas
operações, adição (+) e multiplicação (.), satisfazendo:
1. Adição
2. Multiplicação
3. Distributividade
∀x, y, z ∈ X , tem-se x.(y + z) = x.y + x.z .
19
tulo é que:
de um corpo.
F = Q.
√
Proposição 1.8. O conjunto Q[ k] constitui um corpo em R.
Isso mostra que, começando com uma unidade e usando régua não graduada e
√
compasso, podemos construir qualquer número pertencente ao corpo Q[ k]. Podemos ir
√ √
um pouco mais longe e usar o corpo Q[ k], digamos Q[ 2], em vez de Q. Para vários k ,
√ √ √ √
temos o corpo Q[ 2][ k], que escreveremos mais concisamente Q[ 2, k]. Por exemplo,
√ √ √ √
Q[ 2, 3] são os números da forma a + b 3 onde a, b pertencem a Q[ 2]. Observe que
√ √ √
3 ∈ Q[ 2] enquanto que 3 ∈ / Q[ 2].
Para estender quadraticamente este corpo, escolhemos qualquer um de seus ele-
√ p √
mentos, cuja raiz quadrada não pertença ao corpo. Assim, 1 + 2 ou 5 − 2 2 podem
√
ser escolhidos para a extensão quadrática, por exemplo, de Q[ 2]. O processo pode ser
p p p
Q[ k1 , k2 , ..., kn ],
onde os números ki , com 1 < i < n, são tais que nenhum deles é um quadrado perfeito
√ √ p
na extensão Q[ k1 , k2 , ..., ki−1 ].
Prova:
Faremos apenas a implicação contrária, usando indução sobre n, já que a implicação
é imediata.
extensão de corpos.
√ √
O número 7 + 5 pertence a um corpo Q1 . O número 3 + 5 pertence a um
p
7+
Q2 .
rq
√
O número 3 + 7 + 5 pertence a um Q4 (duas raízes quadradas de um nú-
p
mero de um Q2 ).
√
Se somássemos a esse número de um Q4 , por exemplo, 2 que está em Q0 ou 5
√
que está em Q1 , e portanto, em Q4 , o resultado continuaria em Q4 . Mas 2 não está em
qualquer dos corpos pelos quais passamos. Portanto, o número em estudo pertence a um
Q5 .
OS NÚMEROS ALGÉBRICOS
A teoria dos números algébricos, de acordo com Stewart e Tall (1973 apud SIL-
VEIRA, p. 19), teve sua origem, em grande parte, devido aos estudos da teoria dos nú-
meros nos séculos XVII, XVIII e XIX. Segundo Endler (2012), a teoria dos números, que
resolução de equações diofantinas, que são equações que possuem como soluções números
naturais. Estas equações receberam esse nome em homenagem a Diofanto (250 a.C. ˘ 298
a.C.) que, ao estudar os números em si, também escreveu um importante tratado sobre
moderna teoria dos números, grande parte através de enunciados e notas escritos nas
mente como, por exemplo, o chamado último teorema de Fermat. Esse teorema arma
encontrado uma demonstração para esse fato, mas não foi possível explicitá-la ali devido
a pequenez da margem.
teorema. O interesse pela demonstraçao tornou-se ainda maior quando Paul Wolfskehl,
para que fosse dado como prêmio para a primeira pessoa a demonstrar completamente o
dos matemáticos avançando para a teoria dos números algébricos que, atualmente, tem-se
mostrado importante com aplicações não somente na Teoria dos Números, mas também
contribuições que ajudaram a mostrar que todos os números construtíveis são algébricos,
√ √ 2 √
q q
2
x= 2+ 3 ⇒ x = 2+ 3 ⇒ x2 = 2 + 3
√
x2 = 2 + 3
√
⇒ x2 − 2 = 3
2 √ 2
⇒ x2 − 2 = 3
⇒ x4 − 4x2 + 4 = 3
⇒ x4 − 4x2 + 1 = 0
23
√
Exemplo 2.4. Todo número da forma b, com b ∈ N, é um número algébrico. De fato,
√ 2
√ 2
x= b ⇒ x = b ⇒ x2 = b ⇒ x2 − b = 0
vimos serem construtíveis. No entanto, existem números construtíveis que não são raci-
√
onais. Um exemplo disso seria o número 2 que, embora seja construtível e portanto,
2
algébrico (solução da equação x − 2 = 0), não é um número racional e sim um número
irracional.
meros algébricos construtíveis dos não construtíveis é através do teorema a seguir proposto
por Wantzel:
Teorema 2.3. Se nenhuma das raízes de uma equação do terceiro grau com coecientes
racionais é racional, então nenhuma delas é construtível.
Prova:
Supondo que a equação x3 + ax2 + bx + c + 0, com a, b e c contidos no conjuntos dos
construtíveis racionais Q, tenha uma ou mais raízes construtíveis pertencentes aos corpos
√ √ √
Q[ k1 , k2 , ..., ki ] com 1 ≤ i ≤ n pois, por hipótese, elas não são racionais.
√
Seja m o menor inteiro tal que alguma das raízes do tipo r1 = p + q w pertença
√ √ √ √ √ p √
a um Q[ k1 , k2 , ..., km ], com p, q e w em Q[ k1 , k2 , ..., km−1 ] mas w não.
√ 3 2
Substituindo r1 = p + q w em x + ax + bx + c + 0 temos:
√ 3 √ 2 √
p + q w + a p + q w + b p + q w + c = 0.
√
p3 + ap2 + 3pq 2 w + aq 2 w + bp + c + w 3p2 q + q 3 w + 2apq + bq = 0.
24
Fazendo
também é raíz desta equação. Como a soma das três raízes é −a, podemos considerar que
√ √
a terceira raiz será r3 = −a − (p + q w) − (p − q w) = − (a + p + q).
Como p e q estão em
p p p
Q[ k1 , k2 , ..., km−1 ]
e a é racional, r3 está em
p p p
Q[ k1 , k2 , ..., km−1 ],
o que é um absurdo pois contraria a hipótese de que m é o menor inteiro para o qual uma
√ √ √
das raízes da equação de terceiro grau está em Q[ k1 , k2 , ..., km ].
Como vimos, todos os números construtíveis são algébricos, mas através do teorema
anterior podemos constatar que o contrário não é verdade, ou seja, nem todo número
√
algébrico é construtível, como é o caso do número
3
5 que é raiz da equação x3 − 5 e
1 1
portanto, algébrico. As raízes racionais possíveis seriam , − , 5 e −5, mas nenhuma
5 5
delas satisfaz a equação, pois, usando o resultado demonstrado por Wantzel, a condição
necessária para que as três raízes de uma equação de terceiro grau de coecientes racionais
truídos, usando apenas régua não graduada e compasso, e outros não, discutiremos, a
seguir, uma outra classe dos números reais onde não encontramos nenhum construtível:
os números transcendentes.
Capítulo 3
OS NÚMEROS TRANSCENDENTES
adjetivo e signica algo que excele em seu gênero; superior: espírito transcendente. Para
cendem o poder dos métodos algébricos. Euler morreu sem conseguir provar sua conjec-
tura, mas a designação dos nomes em números algébricos e transcendentes foi dada por
ele.
Até 1844, porém, ninguém sabia se existiam números transcendentes. Nesse ano, o
matemático francês Joseph Liouville (1809-1882) construiu números não algébricos e de-
monstrou um teorema que tem como consequência que números irracionais algébricos não
podem ser bem aproximados por racionais, isto é, ao procurar aproximações de números
algébricos por racionais, ele teve que escolher esses números com denominadores muito
grandes.
Dizer que um número irracional α pode ser aproximado com qualquer grau dese-
√
cada vez mais precisas de 2 :
1 14 141 1414 14142 141421 1414213 14142135
, , , , , , , , ...
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000
Nesta sequência de aproximação racional utilizamos denominadores 10, 102 , 103 ,....
No entanto, demonstra-se que todo número irracional pode ser aproximado por um número
∞
X
10−k! = 0, 1100010000000000000000010000...
k=1
e passou a ser chamado de constante de Liouville. Este número deveria satisfazer a equação
esta equação.
A ideia de Liouville para construir números transcendentes foi ecaz: encontrar uma
propriedade que fosse satisfeita por todos os números algébricos. Depois, bastava construir
um número que não satiszesse tal propriedade. Vejamos alguns pontos importantes sobre
Denição 3.2. Um número algébrico α é de grau n se ele for raiz de uma equação polino-
mial com coecientes inteiros de grau n e não existir nenhum polinômio com coecientes
inteiros, de grau menor que n, que contenha α como uma de suas raízes.
c
|qα − pk | < .
q n−1
27
Uma vez que {pk } assume apenas valores inteiros, pode-se concluir que para um
ville:
pm
Teorema 3.1. Se α é um número algébrico real de grau n > 1 e se αm = ∈ Q, com
qm
p 1
pm , qm ∈ Z, qm 6= 0 é uma sequência tal que αm → α, então α − > n+1 para m
m
qm qm
sucientemente grande.
Prova:
Seja α um número algébrico de grau n > 1, então α é raiz de
α, pois
am 1 am 10m 1 bm am .10m + bm
αm = + m = . m + m. = ∈ Q,
bm 10 bm 10 10 bm bm .10m
sendo (am .10m + bm ) ∈ Z e (bm .10m ) ∈ Z − {0}.
am .10m + bm pm pm
Fazendo
m
= , temos αm = ∈ Q, com pm , qm ∈ Z, qm 6= 0 e
bm .10 qm qm
αm → α de tal forma que, qualquer que seja M > 0, existe um valor de m∈N tal que
qm > M .
28
n n−1 2 1
f (αm ) = f (αm ) − f (α) = (an αm + an−1 αm + ... + a2 αm + a1 α m + a0 )
2
f (α) a1 .(αm − α) a2 .(αm − α2 ) n−1
an−1 .(αm − αn−1 ) an .(αm
n
− αn )
= + + ... + + .
αm − α αm − α αm − α αm − α αm − α
n
Fatorando αm − αn temos:
n
αm − αn = (αm − α).(αm
n−1 n−2 1
+ αm n−3 2
.α + αm 2
.α + ... + αm .αn−3 + αm
1
.αn−2 + αn−1 ).
Portanto,
n
αm − αn n−1 n−2 1 n−3 2 2
= αm + αm .α + αm .α + ... + αm .αn−3 + αm
1
.αn−2 + αn−1 .
αm − α
αm − α
=1
αm − α
2
αm − α2 (αm − α).(αm + α)
= = (αm + α)
αm − α αm − α
3
αm − α3 2
(αm − α).(αm + αm .α + α2 ) 2
= = (αm + αm .α + α2 )
αm − α αm − α
.
.
.
n−1
αm − αn−1 n−2
(αm − α).(αm n−3
+ αm n−4 2
.α + αm .α + ... + αm .αn−3 + αn−2 )
=
αm − α αm − α
n−2 n−3 n−4 2
= αm + αm .α + αm .α + ... + αm .αn−3 + αn−2 .
2
f (α) a1 .(αm − α) a2 .(αm − α2 ) n−1
an−1 .(αm − αn−1 ) an .(αm
n
− αn )
= + + ... + + ,
αm − α αm − α αm − α αm − α αm − α
a seguinte igualdade:
f (α) 2
= a1 + a2 .(αm + α) + a3 .(αm + αm .α + α2 ) + ... + an .(αm
n−1
+ ... + αn−1 ).
αm − α
ou seja,
Da mesma forma
2
| αm + αm .α + α2 | 6 | αm |2 + | αm | . | α | + | α |2
= 3. (| α | +1)2
ou seja,
2
| αm + αm .α + α2 |< 3. (| α | +1)2 .
Analogamente
3 2
| αm + αm .α + αm .α2 + α3 | < | αm |3 + | αm |2 . | α | + | αm | . | αm |2 + | αm |3
= 4. (| α | +1)3
ou seja,
3
| αm 2
+ αm .α + αm .α2 + α3 |< 4. (| α | +1)3 .
n−1
| αm + ... + αn−1 | 6 | αm |n−1 +...+ | α |n−1 < (| α | +1)n−1 + ... + (| α | +1)n−1
= n. (| α | +1)n−1 .
Voltando à expressão
f (αm ) 2
= a1 + a2 .(αm + α) + a3 .(αm + αm .α + α2 ) + ... + an .(αm
n−1
+ ... + αn−1 ),
αm − α
temos que:
f (αm ) 2 2 n−1
n−1
= a1 + a2 .(αm + α) + a3 .(αm + α m .α + α ) + ... + a n .(α m + ... + α ) .
αm − α
30
f (αm ) 2 n−1
αm − α < | a1 | +2. | a2 | . (| α | +1)+3. | a3 | . (| α | +1) +...+n. | an | . (| α | +1) .
podemos escrever
f (αm )
αm − α < M, sendo M uma constante.
Como
f (αm )
αm − α < M, então:
| f (αm ) |
< M
| αm − α |
| f (αm ) | < M. | αm − α |
| f (αm ) |
| αm − α | > .
M
pm
Seja agora, um valor para m xo sucientemente grande tal que em αm = seja
qm
maior do que M.
| f (αm ) |
Como qm > M então | αm − α | > .
qm
| f (αm ) | | f (αm ) |
Da igualdade | αm − α |=| α − αm | temos | α − αm | > > .
M qm
n n−1 2 1
| f (αm ) |=| an αm an−1 αm + ... + a2 αm + a1 αm + a0 | .
pm
Tomando αm = , temos:
qm
n n−1 2 1
pm pm pm pm
| f (αm ) |=| an + an−1 + ... + a2 + a1 + a0 | .
qm qm qm qm
pnm pn−1
m p2m p1m
| f (αm ) |=| an n
+ a n−1 n−1
+ ... + a 2 2
+ a 1 1
+ a0 | .
qm qm qm qm
an pnm + an−1 qm pm
n−1 n−2 2
+ ... + a2 qm n−1 1
p m + a1 q m n
pm + a0 qm
| f (αm ) |=| n
|.
qm
31
pm
O número racional αm = não pode ser raiz de f (x) = 0 pois se fosse poderíamos
qm
fatorar (x − αm ) de f (x) e neste caso α (que é um número algébrico de grau n) satisfaria
n−1
an pnm + an−1 qm pm n−2 2
+ ... + a2 qm n−1 1
p m + a1 q m n
p m + a0 q m
| f (αm ) |=| n
|
qm
1 1 1 1
| αm − α | > . | f (αm ) | > . n = n+1 , ou seja,
qm qm q m qm
1 1 pm 1
| αm − α | > . | f (αm ) | > n+1 ⇒| αm − | > n+1 .
qm qm qm qm
Supomos agora, que α seja um número algébrico de grau n, para algum n > 1.
32
pm pm
Fazendo = αm = m! , temos que αm → α e pelo Teorema de Liouville, existirá
qm 10
um m ∈ N, tal que
pm 1
|α− | > n+1 .
qm qm
Assim,
1
| α − αm | >
(10m! )n+1
ou seja,
1
| α − αm | >
10(n+1).m!
para m sucientemente grande.
1
De | α − αm |< 10.10−(m+1)! e <| α − αm |, temos
10(n+1).m!
1 101 1
< 10.10−(m+1)! = = (m+1)!−1 ,
10(n+1).m! 10(m+1)! 10
ou seja,
1 1
<
10(n+1).m! 10(m+1)!−1
Essa última desigualdade implica em (n + 1).m! > (m + 1)! − 1, para todos os
Esta desigualdade não é verdadeira para qualquer valor de m maior que n. Se fosse,
teríamos:
Como n>1 e k ≥ 1, então k.(n + k)! ≥ 1.2 > 1, o que é uma contradição. Logo α
é um número transcendente.
3.1 O Número e
O número e que vale, aproximadamente, 2, 718281828459... é um dos números mais
frequentemente usados como base de um sistema de logaritmos chamados de logaritmos
acontece com e2 e com outras potências inteiras, o que o fez pensar que eram números
√ √
diferentes de todos até então estudados, pois, os outros irracionais como 2 ou 5 7 se
√ √
tornavam racionais quando elevados a certas potências inteiras, e 2 + 3 2 que é raíz
6 4 3 2
de uma equação algébrica de coecientes inteiros x − 6x − 4x + 12x − 24x − 4 = 0.
Isso o fez supor que a irracionalidade do número e era mais profunda do que as outras
irracionalidades até então conhecidas e que os números reais estariam divididos em duas
classes: a dos que são raízes de equações algébricas de coecientes inteiros e a dos que não
Falar que um número é transcendente é fácil, mas, provar de fato que é um nú-
mero transcendente, não é uma tarefa trivial. Conforme dito anteriormente, Liouville foi
tes, pouca coisa foi acrescentada à teoria dos números transcendentes. Mas, em 1873, os
estudos do matemático francês Charles Hermite (1822 - 1901) sobre as funcões contínuas
No Cálculo Diferencial e Integral, por exemplo, que estuda a variação das grande-
tuível. Para ilustrarmos como ele aparece, vamos supor que seja emprestado a alguém a
quantia de 1 real a juros de 100% ao ano. Ao nal do ano, o devedor pagaria 2 reais: 1
que tomou emprestado e 1 de juros. Mas isso não seria justo, pois, o correto é que fosse
pago o número e de reais. Ou seja, se o cliente pagar seis meses depois do empréstimo o
1
ador deveria receber 1+ reais. Isso quer dizer que o cliente, nesta ocasião, estava com
2
1
1+ reais e cou com esse dinheiro mais seis meses, à taxa de 100% ao ano. Logo, deveria
2
34
2
1 1 1 1 1 1
pagar 1+ + 1+ = 1+ × 1+ = 1+ reais no m do ano. Isto
2 2 2 2 2 2
daria 2,25 reais mas, mesmo assim, não seria justo.
n
1
lim 1 + = e reais.
n−→∞ n
3.2 O Número π
O número π é conhecido, ou como a área de um círculo de raio 1, ou como o
Nos tempos antigos não havia uma notação padronizada para representar a razão
527 algarismos. A partir disso, π foi calculado com 808 algarismos decimais exatos com
auxílio de uma máquina manual. Com a vinda dos computadores, em 1967, na França,
π foi calculado com 500.000 algarismos decimais exatos e, em 1984, nos Estados Unidos,
Uma razão prática para o uso do número π com o máximo de algarismos exatos
possíveis é quando os computadores, como toda máquina, precisam ser testados contra
possíveis defeitos antes de começar a funcionar e uma maneira de fazer isso é mandar o
o que já se conhece.
Na prática, não é preciso conhecer o valor de π com tantas casas decimais. Na maio-
ria das aplicações, um valor aproximado com quatro casas decimais é suciente. Como, por
deles. Euler acreditava na irracionalidade de π, mas quem provou isso foi seu conterrâneo
Lambert, em 1761. Pouco depois, como vimos anteriormente, Euler conjecturou que π
também seria transcendente, ou seja, não poderia ser raiz de uma equação algébrica com
coecientes inteiros.
Este fato foi demonstrado em 1882 por Ferdinand Lindemann (1852 - 1939).
Baseando-se no que fora feito por Hermite, ele provou que os números algébricos for-
mam um corpo e que o produto de um número algébrico não nulo por um transcendente
é sempre transcendente. Assim, usando a equação de Euler, eπi + 1 = 0 concluiu que eπi
πi
é algébrico pois e = −1 e −1 é algébrico já que é raiz da equação x + 1 = 0. Logo, πi é
πi
transcendente porque se fosse algébrico e seria transcendente pois e elevado a qualquer
número algébrico não nulo é transcendente. Se πi é transcendente então π não pode ser
2
algébrico pois i é algébrico (é solução da equação x + 1 = 0) e o produto πi também
algum tempo tentando mostrar que certos números, assim como π e e, eram ou não trans-
cendentes. Vejamos mais alguns:
1961 - MAHLER
0, 1234567891011121314... a constante de Champernowne
∞
P 1
s
n=1 F2n−1
2003 - SONDOW
P∞ 1
S= = 1, 61111492580837673611...,
n=1 an
fatorial.
Convém destacar que existe ainda uma série de números como, por exemplo, e + π,
e e π
e.π , π , 2,2 entre outros, sobre os quais nada se conhece acerca de sua natureza.
dentes
Uma consequência natural do que foi explorado até este ponto é de que nenhum
número transcendente é construtível. Mas, um fato curioso e talvez, não tão óbvio, é de
que o conjunto dos números transcendentes possui a mesma cardinalidade (mesmo número
ouville, George Cantor (1845 - 1918) usou sua teoria dos números cardinais transnitos
veis. Esse conjunto S pode ser nito ou innito. Tomemos, por exemplo, o conjunto dos
S = {2, 3, 5, 7} .
37
S = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7...} .
podem ser escritos em forma de uma sequência a1 , a2 , a3 , a4 ..., de modo que qualquer
2, 4, 6, 8, 10, ...
é enumerável mas não conhecemos uma fórmula especíca como uma máquina de produzir
A partir desse conceito podemos ver algumas denicões e alguns resultados preli-
minares que trazem suporte para a demonstração de existência dada por Cantor que nos
f : A −→ N.
ou seja, se os seus elementos podem ser dispostos em uma sequência (permitindo repeti-
ções).
Exemplo 3.3.0.1. Seja [0, 1]∩Q, os números racionais em [0, 1]. Este conjunto é enume-
rável pois, se agruparmos estes números de acordo com os denominadores comuns, estes
podem ser ordenados da seguinte maneira:
1 1 2 1 2 3 1 2 3 4 1
0, 1, , , , , , , , , , , , ...
2 3 3 4 4 4 5 5 5 5 6
1 2 3
O fato de que = = não tem importância . Podemos omitir qualquer número
2 4 6
que esteja na sequência de tal forma que cada racional em [0, 1] seja obtido de uma única
forma. Analogamente, pode-se obter uma sequência de números racionais nos intervalos
[-1,0], [1,2], [-2,1] e assim, sucessivamente.
38
Assim, podemos formar uma sequência {a11 , a21 , a12 , a13 , a22 , a31 , ...} de maneira
que todos os elementos do conjunto A estejam na lista. Sendo f (n) o n-ésimo termo,
Denição 3.3.2. Seja p(x) = an xn + an−1 xn−1 + ... + a0 um polinômio não constante com
coecientes inteiros. Denimos a altura deste polinômio como sendo o número natural
Note que não existe equação de altura 1. A altura mínima seria 2, pois p(x) = x
seria | p |=| 1 | +1 = 2.
coecientes mas também o grau de p(x). Dado um número inteiro qualquer existe somente
um número nito de polinômios que tem como altura este número dado. Consideremos
coecientes inteiros e com altura igual a n. Seja também a família de conjuntos {An }
números algébricos.
Aj também é nito.
S
Seja A=An . Observe que os elementos de A são algébricos. Assim, pelo Te-
n∈Z
orema 3, podemos armar que A é enumerável. O conjunto A também coincide com o
associado uma única altura, logo g(x) ∈ Pk para algum k ∈ N. Assim, pela denição da
nada mais é do que o conjunto de todos os números algébricos. Portanto, o conjunto dos
todos os seus elementos usando a forma decimal innita dos números pertencentes a B:
40
concluir que γ não está na lista, o que é um absurdo pois γ ∈ B . Logo B é não enumerável.
Como B ⊂ R é não enumerável segue que o conjunto dos números reais é não enumerável.
A = {x ∈ R | x é algébrico} e T = {x ∈ R | x é transcendente}.
absurdo, que T também é enumerável. Teríamos assim que R = A∪T como sendo
uma união enumerável de conjuntos enumeráveis. Logo concluímos que o conjuntos dos
merável e como o conjunto dos números reais transcendentes não é enumerável, conclui-se
que existem mais números transcendentes do que algébricos. A explicação lógica para esta
sequência innita, mas existem números transcendentes a mais para uma representação
sequencial.
ou seja, ao invés de considerar 2,1 vamos considerar 2,099999... . Como vimos anteri-
ormente, o conjunto dos números algébricos é enumerável. Então, podemos fazer uma
41
lista,
A = {x1 , x2 , x3 , x4 , ...},
lista. Portanto t1 não está na lista que contém todos os algébricos. Logo t1 é transcendente.
Sejam agora
Zenão de Elea. Nesta época, surgiram os três problemas clássicos da Matemática grega já
álgebra, que não podiam ser resolvidos utilizando apenas régua não graduada e compasso.
(transformar uma gura em um quadrado de mesma área) é bem antiga, pois os gregos
Para realizar a quadratura de um retângulo dado, por exemplo, pode ser feito o
seguinte procedimento:
1. Seja ABCD o retângulo dado. Faça uma circunferência com centro em D e raio CD.
circunferência maior.
Da gura, temos:
AD = AM + M D
DN = M N − M D = AM − M D
Assim:
Mas M E = AM , logo:
Aretângulo = Aquadrado
1. Seja ABC o triângulo dado. Trace sua altura CK e encontre o ponto médio M deste
segmento.
2. Construa o retângulo ABDI com base AB passando por M. Este retângulo ABDI
possui mesma área que o triângulo ABC .
Construído o quadrado com a mesma área do triângulo dado, temos:
b.h AB.CK
Atriângulo = = = AB.HK = Aretângulo
2 2
Da gura, temos:
ID = IH + HD
DN = HN − HD = IH − HD
45
Assim:
Aretângulo = Aquadrado
Assim,
Atriângulo = Aquadrado
46
mente resolveu o evasivo problema. (EVES, 1997, p. 136 apud SOUSA, 2001,
p.14).
Para demonstrar que é possível quadrar qualquer polígono, como observamos nos
exemplos anteriores, basta mostrar que um polígono de n lados pode ser transformado em
um polígono equivalente de n−1 lados. Assim, para os matemáticos, pela lógica, como
era possível quadrar qualquer polígono, seria natural tentar realizar esta atividade com a
expresso por meio de um número nito de operações racionais e raízes quadradas. A par-
Ele surgiu na mesma época da quadratura do círculo, por volta de 428 a.C., provavelmente,
nas tentativas de construir um polígono regular de nove lados, pois, para a construção
é a de que tenha surgido como uma extensão da atividade relativamente fácil e possível,
com régua não graduada e compasso, de dividir um ângulo em duas partes iguais.
Esse fato tem levado muitos a não aceitarem a prova de sua impossibilidade:
Geometry College, colocada por uma pessoa anônima. Ela não aceita a prova da impossi-
foram usados pelo matemático Wantzel, através do Teorema (2.2), mostrando não ser
particulares, como, por exemplo, os de 360o e 90o , podem ser trissectados recorrendo a
uma régua não graduada e a um compasso, pois recaem em equações do terceiro grau com
raízes racionais. Mas, no caso geral, é impossível dividir um ângulo em três partes iguais.
construtivel com régua e compasso, seu cosseno também é. Entretanto fazendo θ = 20◦
na formula geométrica cos(3θ) = 4 cos3 θ − 3 cos θ temos cos 60 = 4 cos3 20 − 3 cos 20,
1
ou ainda, = 4 cos3 20 − 3 cos 20. Assim, por construção, cos 20◦ será raiz do polinômio
2
8x3 − 6x − 1 de grau 3, que é irredutível sobre o conjunto dos números racionais. Portanto,
◦
pelo Teorema 2.3, cos 20 não é construtível com régua e compasso e, por conseqüência,
◦
o ângulo de 20 também não é.
Este terceiro problema consiste em, dado um cubo, construir, com régua sem mar-
cas e compasso, o lado de outro cubo cujo volume seja o dobro do volume do primeiro,
ou seja,
x3 = 2a3 .
2007), pois, teria surgido na ilha jônia de Delos, onde um altar em forma de cubo cava na
entrada do oráculo de Apolo. Esta lenda (existem outras) diz que uma epidemia assolou a
cidade de Atenas. Ao consultarem o oráculo sobre esse assunto, a resposta foi que a doença
deixaria a cidade somente se fosse construído um novo altar com o dobro do seu volume.
uma das dimensões do altar antigo, tornando o volume oito vezes maior. Os matemáticos
√
3
deveriam multiplicar o lado do cubo por 2 e não duplicar o lado (MEES, 1999, p.12).
duplicar um quadrado (no sentido de área) bastava apenas considerar para o lado do
quadrado que se queria obter, a diagonal do quadrado original, seria natural para eles
duplicar guras sólidas, começando pelo cubo. Mas, não foi como o esperado, pois na
cubo de aresta a, o seu volume é a3 . Para duplicar este cubo queremos obter um outro,
com aresta x, com o dobro do volume, ou seja 2a3 . Obtém-se, então, x3 = 2a3 . Assim,
√
3
x = a. 2 .
√
3
De fato, uma vez que a é construtível, devemos descobrir se 2 é também um
√
3
número construtível. Pelo critério de construtibilidade basta vericar se 2 é raiz de
n
√
3
um polinômio irredutível de grau 2 com coecientes construtíveis. Mas, 2 é raíz do
polinômio
p(x) = x3 − 2,
√
3
que é irredutível sobre os racionais. Desta forma, temos que o número 2 não pode ser
construído, e consequentemente, não é possível fazer a duplicação do cubo com régua não
graduada e compasso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dos Números, um deles. Este, por sua vez, também possui várias ramicações dentro do
Não há dúvidas de que a busca pela solução dos problemas geométricos clássicos,
geometria com uma grande relevância para esta formação em Matemática - Licenciatura.
e da Teoria de Números.
até mesmo professores do ensino médio que procuram aumentar o conhecimento. Desta
maneira, será possível, até mesmo, repassar a seus alunos todos estes fatos interessantes
aplicação.
vimos que todo número é obtido a partir de adição, subtração, multiplicação, divisão
com este conhecimento, sugerimos que a discussão sobre quais medidas de segmentos
são construtíveis utilizando apenas régua e compasso pode ser abordada em sala de aula
fácil manipulação.
Vale ressaltar, ainda, que o presente trabalho constitui ponto de partida para novas
ENDLER, Otto. Teoria dos corpos. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e
Aplicada, 2012.
GARBI, Gilberto. A rainha das ciências. São Paulo: Livraria da Física, 2007.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas,
2008.
de 2014.
de 2014.