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Parashat Vayakhel – Pekudei

Porque
é

proibido acender fogo no Shabat?


Por: Rabino Eliahu Birnbaum

«E reuniu Moisés toda a congregação dos filhos de Israel e disse-lhes: “Estas


são as coisas que o Eterno ordenou fazer: Seis dias trabalharás e no sétimo dia
descansarás, pois será dia santo, quer dizer, dedicado ao Eterno. Todo aquele
que fizer um trabalho nesse dia será morto. Não acendereis fogo nas vossas
moradas no dia de Sábado.» (Êxodo, 35, 1-4)
O cumprimento da ordem bíblica de respeitar o Shabat exige abster-se de todo
o trabalho. Esta abstenção de trabalhar em Shabat não tem só por objetivo
dar-nos tempo para levar a cabo outro tipo de atividades; ela é em si mesma o
conteúdo básico do dia.
O Shabat é um dia no qual não se trabalha. De’s descansou da sua tarefa da
Criação durante o Shabat, e o Homem deve descansar com Ele. Ordena-se ao
judeu que considere que a experiência do descanso sabático possui grande
valor educativo. Para respeitar o Shabat é necessário evitar conscientemente a
execução de certas atividades, analisando para isso cada atividade, para poder
decidir se se trata de um trabalho ou não. Este ato de análise forma parte da
experiência sabática.
A pergunta que surge neste contexto é a seguinte: pode existir valor num
preceito meramente negativo? Numa proibição? O existirá também um aspeto
positivo nesta proibição de trabalhar?
O trabalho é um fim em si mesmo, e sem ele desintegrar-se-iam tanto a
personalidade do Homem como a própria sociedade. No entanto, não podemos
ignorar o facto de que em certas condições socio-históricas, o trabalho
transforma-se numa forma de exploração do Homem, constituindo a causa do
seu esgotamento físico e espiritual.
Deste ponto de vista, o descanso sabático não tem por único objetivo recordar
o descanso Divino, mas também devolver ao Homem o sentido da sua
existência como ser livre, libertando-o do trabalho esgotador. É este o
significado do Shabat no contexto do êxodo do Egito.
O conceito básico do Shabat como dia de descanso é a abstenção de todo o
trabalho. O que é “trabalho” de acordo com a Torá? Por um lado, pode definir-
se o trabalho como uma atividade que provoca fadiga. Por outro lado,
podemos definir “trabalho” como uma atividade pela qual se recebe uma
retribuição monetária. O Talmude, no entanto, define de forma diferente o
conceito de trabalho no Shabat. O trabalho que não se pode realizar no Shabat
não está relacionado com o grau de fadiga que provoca, nem com o ser pago
ou gratuito. Mas é proibido levar a cabo qualquer trabalho que provoque uma
criação voluntária no mundo físico. Assim como De’s descansou do Seu
trabalho da criação do mundo no Shabat, durante esse dia o Homem deve
evitar todo o trabalho criativo no mundo.
O Talmude elabora um modelo básico das atividades proibidas em Shabat,
baseado na construção do Tabernáculo (Miscán) no deserto. As atividades que
era necessário levar a cabo para a construção do Tabernáculo denominam-se
“os trinta e nove Avot Melachá”; trinta e nove diferentes tipos de trabalho,
como por exemplo a escrita, a construção, etc.
Os tipos de trabalho dividem-se em três categorias principais: os trabalhos da
terra, a preparação da comida e a atividade artística.
As atividades destinadas à construção do Tabernáculo exigiam planeamento,
análise e criação, sem exigirem necessariamente esforço físico. A Torá proibiu
o trabalho que exigisse pensamento e atividades criativas.
Quando o Homem, como consequência da investigação científica, aprendeu a
usar a energia elétrica para obter energia, a Halachá (lei judaica) teve que
enfrentar novos desafios. Será que a eletricidade pertence ao tipo de fogo
mencionado na Torá e por isso quando uma pessoa carrega num botão e
acende uma lâmpada elétrica está a violar o mandamento de “não acendereis
fogo nas vossas moradas em dia de Sábado”? O talvez este fogo, que não nos
apresenta material ardente diante dos olhos, seja diferente daquele que a Torá
proibe?
O descanso prescrito no Shabat está relacionado com o descanso Divino depois
de ter completado a criação do mundo. Mas, assim como a criação do mundo
não consistiu num esforço físico corporal, mas sim numa atividade criativa,
pois foi levado a cabo através da palavra, no Shabat é proibida a criação de
um objeto a partir do nada, toda atividade que seja fruto do pensamento e da
inspiração, ou seja, toda atividade criativa.
Por isso compreendemos que a causa da proibição não está relacionada de
modo algum com a fadiga, nem com o facto de recebermos ou não
compensação monetária. A causa da proibição é o estilo do descanso Divino a
seguir à Criação.
O pensamento e o planeamento são elementos constitutivos do acendimento
do fogo, seja esfregando duas pedras, acendendo um fósforo ou carregando
num botão, e tudo isto não tem relação com o grau de esforço exigido por
cada uma destas atividades. Ao carregar num botão de plástico, unem-se dois
fios elétricos, produz-se uma faísca que fecha um circuito elétrico composto
por um polo positivo e outro negativo, coloca-se em atividade uma fonte de
energia, calor e luz, turbinas e fábricas. Trata-se aqui de uma criatividade
sofisticada e, por isso, proibida no Shabat.
Mas, se em certas circunstâncias tivéssemos que deslocar móveis pesados em
Shabat, dentro de casa, é permitido fazê-lo, apesar do esforço e do suor que
daí advêm. Segundo a Halachá, esta atividade não exige pensamento nem
criatividade, por isso é permitida.
Nos nossos dias produziram-se modificações no conceito de trabalho. Uma
criança pequena é capaz de acender fogo usando dois dedos, e, com um só
dedo, pode pôr em funcionamento uma complicada maquinaria, que produz
elementos sofisticados. Mas estas atividades, que não exigem esforço algum,
deixam de estar incluídas no conceito de trabalho?
O respeito pelo Shabat, de acordo com as leis e preceitos, não é tarefa fácil.
No entanto, tem por objetivo assegurar-nos que o povo não se esqueça de si
mesmo devido a um excesso de trabalho, pensamento e ação. Através do
excesso de atividade, o Homem pode chegar a um estado no qual está
permanentemente exposto a um nível tão alto de estímulos, que chegue a
esquecer-se de si mesmo, da sua família e do seu povo. As numerosas
proibições e prescrições que limitam a sua atividade ajudam-no, assim, a
transformar o Shabat num dia de criação espiritual, familiar, cultural e
nacional.

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