A Constituição é o fundamento de validade de todo ordenamento jurídico.
Considerada a Lei Fundamental de um Estado, cuida da organização de seus componentes
fundamentais: conjunto de normas jurídicas que dispõe sobre a organização, estrutura, forma do Estado, sistema de governo, direitos e deveres fundamentais e correspondentes garantias individuais, a forma de aquisição e o funcionamento do poder, fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais, ou seja, assuntos considerados relevantes para uma determinada sociedade, em determinado tempo.
A ideia de Constituição é o tema central tratado por Ferdinand Lassale e Konrad
Hesse. Ambos trabalham com a concepção de Constituição de maneiras diferentes para refletir a sociedade na época em que viviam, levando em consideração a importância do contexto histórico.
Lassalle chega à conclusão de que a Constituição escrita deve refletir os fatores
reais de poder existentes na sociedade. Dentro dessa perspectiva, a Constituição jurídica não passa de um pedaço de papel e como tal sucumbe à realidade de um determinado contexto. Sendo assim, nesse embate entre a Constituição jurídica e os fatores reais de poder só restaria ao Direito Constitucional justificar as relações de poder dominante, sem, contudo, alterar o estado das coisas e o embate entre as forças reais de poder da sociedade.
Contrapondo o pensamento de Lassale, Hesse entende que a Constituição não
deve ser um subproduto mecanicamente derivado das relações de poder dominantes. Sua força normativa não deriva unicamente de uma adaptação à realidade, mas, antes, de uma vontade de constituição, sendo ela dotada de uma força normativa, que advém de dois fatores: do conteúdo e da práxis. Dessa forma, É conferido um papel de destaque à interpretação construtiva, como condição fundamental da força normativa da Constituição e, por conseguinte, de sua estabilidade.
Ocorre um sentimento de frustração constitucional, passando a haver um
divórcio latente do mundo normativo do mundo real. Os maiores problemas com relação à Constituição vigente no Brasil dizem respeito à falta de sua aplicação, à ausência de regulamentação de inúmeros de seus dispositivos e ao desrespeito aos seus princípios basilares, quando não da própria literalidade do texto fundamental.
De tudo se conclui que as normas constitucionais possuem força imperativa, e
como tal permite sanção pelo seu descumprimento. No entanto, a sociedade deve buscar realizar a vontade dessa Constituição. Essa realização se dá na dialética, nos confrontos entre pessoas que lutam pelos seus direitos, no argumento usado pelo advogado para fazer valer o direito de seu cliente, no convencimento do juiz, enfim, é simplesmente assim que se cria o direito. Os enunciados vinculantes, os julgados iterativos, as súmulas, os precedentes geram as mutações constitucionais, de modo que esse talvez seja o melhor e mais fácil modo de se fazer a vontade da constituição, que é a realização dos direitos fundamentais e de todos os seus outros dispositivos.
TONETTO FILHO and FREGONESI. (2010) - CONGRESSO USP - Análise Da Variação Nos Índices de Endividamento E Liquidez E Do Nível de Divulgação Das Empresas Do Setor de Alimentos