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Estudos Bíblicos:

Profetas
Material Teórico
Profetas no Pós-Exílio I (538 a 165 a.C.)

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Elisabete Guilherme

Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
Profetas no Pós-Exílio I
(538 a 165 a.C.)

• O Retorno
• Contexto Histórico

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer o contexto e os novos atores do período do pós-exílio.
· Destacar as principais características dos profetas do período do
pós-exílio.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Profetas no Pós-Exílio I (538 a 165 a.C.)

O Retorno
A geração que viveu a experiência do exílio, de estar desterrada, de ver a queda
de sua cidade, de ter destruído o seu Templo e sentir-se abandonada até mesmo
por Deus já não existe mais. Tudo isso faz parte do passado e muitos dos que
foram deportados já estão mortos. Porém, os seus “filhos foram embalados em
berços com cantos de ódio à Babilônia e com versos repassados de esperança pelo
regresso à pátria”. (Sicre, 2002, p. 315)

Os atores políticos desse período são outros, é uma nova chance para a geração
que foi alentada pelas promessas do Dêutero- Isaías!

Contexto Histórico
Os profetas que atuam nos anos do pós-exílio são vários, com poucas diferenças
cronológicas entre eles. O contexto no qual exercem sua atividade nos ajuda a
compreender a mensagem transmitida, na maioria das vezes, por meio de oráculos.

No ano de 539 a.C, o poderoso império babilônio caiu diante da ascensão e do


poder de uma nova potência liderada por Ciro, o grande. Ele é considerado como o
fundador do império persa e será o seu líder até sua morte em 530 a.C. A atuação
política e religiosa de Ciro é diferente dos impérios anteriores, caracterizado por
um espírito guerreiro, munido de um caráter compreensivo e tolerante, herança
espiritual de Zoroastro. A atuação de Ciro se baseava num amplo respeito à religião
e aos costumes dos povos submetidos, sem tentar unificar o império a base de
impor sua religião.

No ano seguinte à conquista da Babilônia (538), Ciro promulga um edito*


(Es 1,1-4) que permite o retorno dos exilados e Sesbasar se ocupa de organizar o
retorno. O edito tinha três partes: a ordem de devolver os utensílios do templo,
a permissão de repatriação dos desterrados por ordem de Nabucodonosor e a
permissão para a reconstrução do templo. Atitudes compatíveis com o espírito e a
política do novo império.
*1No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para cumprir o que havia
anunciado por boca de Jeremias, o Senhor moveu Ciro da Pérsia a
promulgar oralmente e por escrito em todo o seu reino: 2“Ciro, rei da
Pérsia, decreta: O Senhor Deus do céu me entregou todos os reinos da
terra e me encarregou de lhe construir um templo em Jerusalém de Judá.
3Quem dentre vós pertence a esse povo, que seu Deus o acompanhe e
suba a Jerusalém de Judá para reconstruir o templo do Senhor Deus de
Israel. 4E a todos os sobreviventes, onde quer que residam, o povo do
lugar lhes providenciará prata, ouro, bens e rebanhos, além das ofertas
voluntárias para o templo de Deus em Jerusalém”.

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Os textos dão poucas informações sobre os motivos da escolha de Sesbasar
para liderar o grupo de retornados, bem como sobre suas origens e sua função.
Alguns acreditam que talvez ele não fosse judeu. Corrobora para esta opinião o
fato de que em alguns textos, como os de Zacarias e Ageu, sobretudo, a função de
reconstruir o templo seja atribuída a Zorobabel em detrimento de Sesbasar. O fato
é que ao chegar se depararam com uma situação “lamentável: cidades em ruínas,
campos abandonados ou em mãos de outras famílias, muralhas derrubadas, o
templo incendiado” (Sicre, 2002, p. 315). Ao que parece, serão pouco numerosos
os judeus que retornam a Judá nos primeiros anos.

Figura 1 − Mapa do Império Persa


Fonte: Wikimedia Commons

Ciro será sucedido pelo filho Cambises I (530-522), que matará um dos irmãos
para assumir o trono do império da Pérsia. Ele será alvo da antipatia do povo e dos
dirigentes, e é apontado como um tirano cruel, caprichoso e doente. Seu governo
será marcado por revoltas internas e conflitos com os povos vizinhos. Após sua
morte – provavelmente assassinado – será sucedido pelo irmão Dario I. E será
sobre a administração deste que o projeto de reconstrução do templo será levado a
cabo. Temos notícias desta etapa do retorno pelos registros de alguns dos profetas
cuja atuação coincide com esse período.

Ageu
Ageu é um desses profetas de quem quase nada, ou muito pouco, se sabe. Não
existem registros sobre sua origem, se nasceu na Palestina ou se é um daqueles
que retornaram da Babilônia. Ele é mencionado, assim como Zacarias, no livro de
Esdras (5,1; 6,14).

A obra não tem título e considerando o conteúdo dos dois capítulos do livro é
possível datar o seu período de atuação. Sua atividade compreende o período entre
o primeiro dia do sexto mês do ano segundo de Dario até o dia vinte e quatro do

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mês nono. Os estudiosos divergem sobre o ano, enquanto uns apontam para as
datas entre 27 de agosto a 18 de dezembro de 520, outros acreditam que o ano
correto seja o de 521.

O período de atuação de Ageu coincidirá com o reinado de Cambises I. O profeta


será testemunha das revoltas como a que se produziu em 522 liderada pelo mago
Gaumata, que se fez passar por Bardia, irmão menor de Cambises, que havia sido
morto pouco antes pelo rei. Ao ser assassinado, Cambises será sucedido por Dario
que enfrentou brutalmente as revoltas, até que no ano de 520 restaurou a paz em
todo o império. Natural que diante deste cenário, Ageu espere uma intervenção
divina que faça tremer as nações (2,7), destrua o poder dos reinos pagãos (2,21s) e
de forma absoluta e definitiva liberte Judá. (Schökel, 2002, p. 1163)

O Livro
A primeira dificuldade encontrada pelos estudiosos é definir a quantidade de
oráculos no livro. Para uns são quatro enquanto outros afirmam que são cinco
oráculos no pequeno livro de Ageu.

A controvérsia está na interpretação do conteúdo de 2,10-19: como unidade ou


como dois fragmentos independentes (2,10-14; 2,15-19). Os partidários de uma ou de
outra teoria elencam uma série de razões tanto para confirmar sua opinião como
para desmentir as teses do grupo contrário. A despeito dessas discussões, para
Sckökel (2002), o livro apresenta estrutura muito bem pensada, com dois blocos
de temas que se repetem:

I II
Crítica ao povo 1, 1-5
2,10-14
Descrição da miséria 1,6-11 2,15-17
Volta à bênção 1,12-14 2,18-19
Oráculo messiânico 2,2-9 2,20-23

Há quem questione a autoria da redação final do livro e acredite que, por estar
redigido em terceira pessoa, possa ser obra de um dos discípulos do profeta.
Zacarias, assim como Ageu atuou no projeto de reconstrução do tempo*, e alguns
estudiosos entendem que a precisão em mencionar as datas é para demonstrar que
a atividade de Ageu é anterior à de Zacarias, porém este dedicou pouca atenção ao
templo e os outros registros não deixam transparecer rivalidades entre os profetas.

Você Sabia? Importante!

* Você sabia que existe um projeto para a construção de um novo templo em Jerusalém?
Pesquise e descubra como os idealizadores pretendem concretizar esta grandiosa obra!

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Dois temas envolvem a pregação de Ageu: o templo e a irrupção da era escatoló-
gica. A preocupação principal é com a reconstrução do templo, pois dele depende a
intervenção de Deus no mundo. E, seguindo a tradição de Ezequiel, Ageu preocupa-
-se com as questões práticas e não se limita a esboçar no papel o templo futuro,
glorioso, mas atua com realismo e se esforça por iniciar a tarefa. O cuidado que o
povo dedicará ao templo reflete a atitude que será adotada a favor ou contra Javé.
O povo, por várias razões, inclusive econômicas, não se preocupa com o atraso na
reconstrução, pois “ainda não era tempo” de executá-la (Ag 1,2).

O segundo tema era o da irrupção da era escatológica que restauraria o reino


davídico na pessoa de Zorobabel, governador de Judá. Embora pouco desenvolvido,
o tema está insinuado no oráculo final. “Depois de tantos anúncios de que um rei
ideal, que estabelecerá a justiça e o direito, há de trazer a paz paradisíaca, o profeta
concretiza estas esperanças em um personagem do seu momento histórico” (Sicre,
2002, p. 318). Zorobabel será o instrumento de ação de Deus para salvar o povo,
pois Deus é fiel à sua antiga promessa.

Zacarias
Com relação ao livro de Zacarias, a opinião de que a autoria não pode ser atribuída
a um único autor é consenso entre os estudiosos. A Zacarias, propriamente dito,
coube a redação dos oitos primeiros capítulos. As muitas diferenças de conteúdo,
de estilo, de objetivo dos capítulos nove ao catorze levam a crer na autoria de um
ou vários profetas distintos de Zacarias. Este grupo de texto é conhecido como
“coleções anônimas”.

Zacarias começou sua atividade poucos dias antes de Ageu concluir a sua e se
prolonga até o dia 4 do mês nono do ano quarto de Dario, ou até 7 de dezembro
de 518 (519). De qualquer forma, ele deve ter atuado por cerca de dois anos e
pouco se sabe a seu respeito. Em Zc 1, 1.7 lê-se que era filho de Baraquias e neto
de Ado. A despeito das discussões em torno das traduções de outros textos que
apresentam um Zacarias como filho e não neto de Ado, se este Zacarias é o mesmo
filho de Ado do qual se fala em Ne 12,16, este profeta teria origem sacerdotal.

Não se pode afirmar com certeza a idade de Zacarias e quando se deu sua vocação,
contudo sabe-se que sua atividade profética terminou por volta de dezembro de
518. As circunstâncias e o contexto em que atuou coincidem com o de Ageu e, por
isso, suas preocupações se assemelham: o templo e a restauração escatológica. A
diferença é que Zacarias dará ênfase ao segundo tema – a restauração escatológica,
pouco desenvolvido por Ageu. O que tornará Zacarias um autor célebre, porém,
será o seu esplêndido desenvolvimento literário do gênero das visões.

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Conteúdo e divisão do livro


O livro não apresenta um título e começa com a apresentação do profeta na
introdução do primeiro oráculo (Zc 1,1-6). A seção principal começa em 1,7 e se
estende até 6,15. Atualmente estes capítulos contam com oito visões e uma série de
pequenos oráculos inseridos entre elas. Porém, alguns estudiosos acreditam que o
número original de visões era de 7, pois a estrutura em 3,1-7 não corresponde à das
outras. (Sicre, 2002, p. 320)

Do ponto de vista literário as visões seguem geralmente o esquema trimembre:


descrição do visto - pergunta do profeta – resposta do anjo intérprete. O que torna
o texto de Zacarias peculiar é que este esquema pode ser repetido dentro de uma
mesma visão. As duas primeiras (1,8-16; 2,1-4) e as duas últimas visões (5,5-11; 6,1-8)
tratam dos países estrangeiros que maltrataram Judá. As três centrais – terceira,
quarta e quinta visões (2,5-9; 4, 1-6a.10b-14; 5,1-4) preocupam-se com a restauração
judaica, e tudo conflui para a quarta que fala dos dirigentes político e religioso do
novo povo de Deus.

Nas visões de Zacarias estão plasmadas as esperanças trazidas pelo povo que
viveu a experiência do exílio: “Deus torna-se benigno para com o seu povo, castiga
os adversários dele, enche de glória a Jerusalém, elimina os malfeitores e concede-
-lhe governantes dignos da nova situação” (Sicre, 2002, p. 320). A mensagem de
Zacarias inspira-se no profeta Ezequiel e desenvolve a temática de Ageu. Para ele,
não conta apenas o futuro, mas também o presente precisa ser mais do que cons-
truído materialmente. Para Zacarias é fundamental converter-se (1,1-6) e tal tarefa
exige um compromisso ético (7,9-10; 8,16-17), pois o culto por si só não é suficiente
(7,4-7). Ao observarmos todos os detalhes da obra de Zacarias, vemos que ele é um
ponto de cruzamento de diversas linhas proféticas – de Amós, Isaías ou Miqueias
com sua marcada tônica social, Ezequiel e sua preocupação com a restauração
política e cultual, e é isso que torna a sua pessoa e mensagem tão interessantes.

Sobre Zacarias, Sicre (2002, p. 321) conclui: “sua abertura a todas as correntes,
sua capacidade de unificá-las e sintetizá-las sem simplismos, fazem dele um modelo
para não interpretar de forma unilateral a tradição profética”.

Joel
O livro de Joel inicia um período de difícil datação na história da profecia em
Israel. Embora a abertura do livro atribua sua autoria a Joel ben Fatuel, nada
menciona sobre a pessoa dele ou em que período atuou. A partir da leitura dos textos
deixados por ele deduz-se que era judeu, pregou e atuou em Jerusalém. O fato de
demonstrar um profundo conhecimento da vida no campo não confirma que era
camponês, e quando se consideram suas qualidades poéticas, seu conhecimento
dos profetas que o precederam é possível situá-lo num ambiente bastante elevado
culturalmente. Há até quem o considere um profeta cultual, dado o seu interesse
pelo templo e pelo clero.

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As divergências na datação da obra levam os estudiosos a situá-lo em diferentes
períodos. Porém a tendência dominante é a de situá-lo na época pós-exílica. Muitas
opiniões admitem a possibilidade de serem os últimos anos da monarquia (fins do
século VII e começos do VI) os tempos de sua atuação.

Conteúdo e estrutura do livro


Uma praga de gafanhotos em uma sociedade agrícola (1,2-13) é considerada
como catástrofe nacional e o ponto de partida para o livro de Joel. A esta praga
acrescenta-se uma outra catástrofe não menos terrível, a seca (1,14-20), e juntas
obrigam a pensar em um futuro ainda pior, “porque está próximo o dia de Javé”
(1,15). A catástrofe nacional incita a atitude de conversão profunda, uma jornada
de jejum e penitência para implorar a misericórdia divina (2,12-17). E os traços da
religiosidade israelita vão surgindo, tudo culminando no “oráculo com o qual Deus
responde ao povo (2,19-27), anunciando a libertação da praga, o fim da seca e as
bênçãos tradicionais que retornam sobre a terra”. (Schökel, 2002, p. 957)

Nos capítulos seguintes, Joel atribui todo o sucesso ao “dia de Javé”, quando Deus
realiza castigos públicos, castigando ou salvando. Os temas dos sinais no céu e na
terra (3,3-4; 4,15-16a), da salvação de Judá (3,5; 4,16b), da manifestação a nível político
na libertação dos estrangeiros (4,17) e a nível econômico na prosperidade e bem-estar
do país (4,18) são prescindidos pela efusão do espírito. Por fim, no vale de Josafá, no
vale da Decisão, as nações estrangeiras que oprimiram e dispersaram o povo serão
julgadas e condenadas por Deus (4,1-3.9-14), podendo também ser ali inseridos os cas-
tigos a Tiro, Sidônia e Filistéia em 4,4-8 e contra o Egito e Edom em 4,19.

Para Schökel (2002, p. 957)


Assim é o livro de Joel: obra de grande poeta, que constrói com rigor
que sabe desenvolver coerentemente uma transposição imaginativa, que
renova com breves imagens a tradição literária bem como os motivos
poéticos comuns.

Os estudiosos dividem essa obra em duas partes sem, no entanto, concordarem


no ponto onde acaba a primeira e começa a segunda. A melhor alternativa é adotar a
postura dos que dividem o texto em 1-2/3-4. O primeiro quadro centrado na história
(a praga de gafanhotos e a solução), e o segundo, nos acontecimentos posteriores.

Jonas
Dentre os personagens do Antigo Testamento, Jonas talvez tenha uma das
biografias mais conhecidas, o que não significa dizer que as pessoas saibam,
exatamente, quem foi este profeta. As afirmações sobre ele se resumem à história
de um homem que, em viagem para uma cidade – Nínive, foi engolido por uma
baleia e viveu dentro dela.

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O que poucos sabem é que essa biografia não pertence a um personagem real.
Atualmente poucos discordam que Jonas sequer existiu como figura histórica e
que a personagem foi uma obra de ficção, como já sugeriam figuras como São
Gregório Nazianzeno (século IV). A maioria dos estudiosos atuais vê o livro como
uma parábola, embora ainda não estejam de acordo sobre o que se quer ensinar no
livro. Em meios a várias sugestões, uma parece se impor: aquela que apresenta o
livro de Jonas como chamado ao universalismo, ante o nacionalismo e à xenofobia
do período pós-exílico.

Sua Mensagem
Na mensagem do livro há dois aspectos a serem destacados, o primeiro deles
trata-se de um convite para converter-se e outro para aceitar que Deus os perdoe.
O primeiro diz respeito aos opressores e o segundo a Israel. O autor insiste no
segundo tema, pois, depois de tanto sofrimento, dor, exploração e exílio, o povo
foi se habituando a fomentar o ódio e espera que Deus intervenha de forma terrível
contra os inimigos. Mas isto não acontecerá e, por isso, Jonas, que na parábola
representa o povo, prefere morrer a aceitar que Deus perdoe os opressores.

A escolha de Nínive* também é importante para compreender a mensagem do


livro. Esta cidade era a capital do império assírio a partir de Senaquerib e figurava
na consciência de Israel como símbolo do imperialismo, da agressividade mais
cruel contra o povo de Deus (Is 10,5-15, Sf 2,13-15); ela representa os opressores de
todos os tempos. E Jonas tem a missão de exortar este povo à conversão, Deus irá
conceder-lhes o perdão pelos males. A mensagem do livro é, portanto, mais dura
e difícil de ser aceita: Deus ama também os opressores.

Figura 2 − Mapa do Império Assírio com a localização de Nínive, sua capital


Fonte: wol.jw.org

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Malaquias
Entre os últimos livros dos Doze Profetas Menores, aparece o livro de Malaquias.
Ele faz parte de três coleções de textos que começam com o mesmo título:
“Oráculo. Palavra do Senhor...” (Zc 9,1; 12,1; Ml 1,1). Malaquias* porém, não é
nome de profeta, mas sim um título que significa “meu mensageiro”. Os estudiosos
concluem, portanto, que o editor dos doze acrescentou ao último profeta (Zacarias)
três coleções de oráculos anônimos e a terceira delas acabou por se tornar o livro
de “Malaquias”.

* O termo hebraico mal’aky significa simplesmente “meu mensageiro”; título que


aparece em 3,1 e que passou posteriormente para 1,1. A tradução grega dos LXX
ainda interpretou este termo como simples título. (Schökel, 2002, p. 1241)

Originalmente, o livro de Malaquias era uma das coleções dos textos de Zacarias
11,4-7 e 13,7-9 e que, utilizando a alegoria dos dois pastores, tem como tema o mal.
Este grupo de textos é bem diferente das duas outras coleções cujos autores também
são desconhecidos, mas que se configuram como parte do livro de Zacarias: a
primeira (9,1-10,2) que desenvolve os temas típicos do hino ao Deus guerreiro e a
segunda (10,3 – 11,3) que repete temas parecidos.

Na alegoria dos dois pastores, a temática é bem diferente, o mal é apresentado


como algo que está dentro do povo e a teoria mais aceita é que estes versículos
foram produzidos entre os fins do século IV e durante o III, tendo como ponto de
partida as campanhas de Alexandre Magno. Houve quem identificasse o autor
anônimo como sendo o próprio Esdras ou um ajudante dele durante a reforma,
entretanto as discrepâncias não permitem sustentar tal hipótese.

Os dados relacionados ao funcionamento do templo, aos sacerdotes e levitas e


a ausência do entusiasmo inicial ajudam na datação dos textos. Outra característica
é o uso do diálogo que reflete as controvérsias do profeta com sua plateia e que
tem a seguinte estrutura: “a) afirmação inicial do profeta, ou de Deus através
dele; b) objeção dos ouvintes e c) o profeta justifica a afirmação inicial e tira as
consequências”. (Sicre, 2002, p. 331)

Mensagem
Os problemas da época, teóricos ou práticos, estão presentes na obra de
Malaquias e, justamente por isto, ele está inserido na linha dos antigos profetas.
Schökel (2002, p. 1243), assim resume a mensagem do texto:

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Se a sua mensagem não atinge, por vezes, horizonte tão vasto como o
daqueles, isso se deve, em grande parte, ao fato de a época não oferecer
mais dados de si própria. Ao lermos esta obra temos a impressão de
que a Palavra de Deus se torna pequenina, que ela se adapta às míseras
circunstâncias de seu povo. Como se ela não tivesse nada de novo e
importante a dizer, limitando-se a recordar a pregação do Deuteronômio
ou a dos antigos profetas.

E mesmo assim, este opúsculo é um dos mais citados no Novo Testamento.

Abdias
Pouco se sabe sobre o texto do profeta Abdias e muito se discute sobre os 21
versículos a ele atribuídos. As controvérsias passam pela relação com Jeremias 49,
pois muitos estudiosos sustentam que Abdias copiou Jeremias. Porém há quem, ao
discutir a autoria desse capítulo de Jeremias, defenda que o texto original seja o de
Abdias. E há ainda os que defendem que ambos os textos dependem do oráculo
contra Edom que era transmitido oralmente, no qual se denunciava, sobretudo, o
orgulho desse país.

Discute-se também a divisão da obra. Os temas diferentes, as marcas formais


que abrem ou fecham distintos oráculos exigem uma análise sensata – inclusive
com a possibilidade de várias autorias – e também de divisão do texto. Nesta
querela o número de oráculos varia entre um e oito. A opinião da divisão em dois
oráculos principais (1-14-15b e 15a.16-18) e um oráculo acrescentado em prosa
(19-20) é a que prevalece. Para os argumentos de defesa sugerem que: no primeiro
oráculo, as nações são o instrumento de castigo, apenas Edom é ameaçada e são
as nações que punem Edom - Deus quem fala a Edom. No segundo elas são o
objeto do castigo e as ameaças se dirigem a todas as nações, embora Edom ocupe
o lugar fundamental e é Israel quem executa a punição – Deus fala aos israelitas.
“O oráculo acrescentado em prosa (19-20) desenvolve a ideia anunciada no v. 17:
“a casa de Jacó recobrará as suas possessões”. O livro conclui com marcha triunfal,
que abre passagem ao reinado de Deus (21)”. (Schökel, 2002, p. 1027)

Outro elemento que causa divergências entre os estudiosos é a data de redação do


texto. A depender do dado que for julgado como fundamental (queda de Jerusalém,
punição de Edom, reinado de Deus), a datação do livro pode variar de 586 a.C. até
o século IX ou III.

Ao retornar do exilio, os desterrados encontraram uma realidade diferente


daquela sonhada e das memórias transmitidas por seus pais. Porém, a atuação
profética continuou a guiar o povo no desejo de construir sua própria identidade.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, faça uma pesquisa
sobre os profetas bíblicos chamados de “Doze Profetas Menores” e veja os motivos
dessa nomenclatura.
Para aprofundar seus estudos sobre os profetas, confira as sugestões abaixo:
Profetismo em Israel: O Profeta, Os Profetas
SICRE, José Luis. Profetismo em Israel: o profeta, os profetas. A mensagem. Petró-
polis: Vozes, 2002.
Introducción al Profetismo Bíblico
SICRE, José Luis. Introducción al profetismo bíblico. Estella (Navarra), Espanha:
Editorial Verbo Divino, 2011.

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UNIDADE Profetas no Pós-Exílio I (538 a 165 a.C.)

Referências
BALANCIN, Euclides Martins. História do Povo de Deus. 2ª ed. São Paulo:
Paulinas, 1989.

LACY, J. M. Albrego. Los Libros Proféticos. Estella (Navarra): Editorial Verbo


Divino, 1993.

SCHÖKEL, Alonso L. e DIAZ, J. L. Sicre, Profetas II – Grande Comentário


Bíblico. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2002.

SCHÖKEL, Alonso L. e DIAZ, J. L. Sicre, Profetas I – Grande Comentário Bíblico.


São Paulo: Paulinas,1988.

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