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INTRODUÇÃO

A educação brasileira vive um clima de intensa efervescência. O mundo é varrido por


mudanças profundas. A revolução científica e tecnológica, enquanto fator global mudou os
paradigmas de produção e transformou, radicalmente, o cotidiano das pessoas. Diante dos
problemas educacionais as políticas públicas na área da educação em Minas têm apresentado
dados suficientes para mostrar-nos o quão distantes ainda estamos dos objetivos estabelecidos
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 (LDB): Acesso/permanência;
Liberdade de aprender, ensinar; Respeito à liberdade; Instituições pública e privadas.
Coexistência; Gratuidade do ensino publico; Valorização do profissional; Gestão democrática
do ensino publico; Padrão de qualidade nas escolas; Experiências extra escolares; Vinculação
educação escolar trabalho praticas sociais; Acompanhar a freqüência dos alunos,
principalmente no referente a educação obrigatória. Como vimos a lei garante em seus
princípios escritos que “todos” temos o direito a educação básica de qualidade, ou seja
qualquer que seja o tipo de sistema escolar, a qualidade é um fator primordial para a eficácia ,
eficiência do ensino nas escolas.

O presente trabalho objetiva registrar a ação do Inspetor Escolar praticada ontem e


hoje nas escolas públicas de Minas. Ressalta-se a importância da ação desse profissional, ao
longo dos anos, desde o caráter controlador e fiscalizador assumido com o fim de servir à
realidade político-econômico-social da época até o caráter mediador muito relevante para o
desenvolvimento de um processo educativo eficaz, atualizado e coerente com as exigências,
necessidades e anseios dos alunos, pais e professores da atualidade. Nesse sentido a função do
inspetor escolar aparece em uma nova perspectiva global, a de encontrar soluções para os
problemas que se colocam localmente para a implementação de novas finalidades
educacionais e a de introduzir a inovação para melhorar a qualidade do ensino nas escolas. O
termo inovação designa idéias novas e mudanças positivas que se ajustam aos esforços
visando à realização dos objetivos definidos nas políticas publicas para a edução. Sabe-se que
o controle da qualidade da educação, é uma garantia de efetivação de uma forma de cidadania
e tem sido“ferramenta” imprescindível para a concretização da educação nas escolas. Assim a
função do inspetor escolar é tornar efetivo esses direitos garantidos na LDB, assegurando e
cuidando para que a lei ao se tornar vida não seja outra.
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Procurou-se discutir à ação do inspetor escolar frente a essas novas exigências da


sociedade onde o processo de Nação e Civilização é indissociável. Buscou-se mostrar o
movimento de constituição da inspeção escolar em forma de ação institucionalizada como
parte integrante do projeto de construção de uma escola publica democrática e de qualidade
para todos. Pensar em qualidade no ensino público requer mais que apenas compreender e pôr
em prática os fundamentos legais que implementam as políticas públicas para educação em
Minas, para se efetivar essa intenção a figura do inspetor escolar é de suma importância.O
trabalho aqui analisado focou nas ações de participação no Projeto Político Pedagógico (PPP)
da escola que se viabiliza decorrente da assistência técnica, acompanhamento e mediação
pedagógica, necessitando continuar exercendo o acompanhamento e a reflexão sobre o
trabalho nas escolas e embutido neste, a ação de supervisão e inspeção.
A qualidade social que se pretende das instituições educativas exigem um controle,
porém, com base em novos significados, no processo e não no produto final, como antes. Ao
coordenar, isto é, mediar o trabalho pedagógico nas escolas o inspetor escolar tem nas leis
federais e estaduais o norteador dos princípios comuns de ação, estabelecendo enquanto
liderança com os profissionais a partir da totalidade, a especificidade do trabalho e no controle
coletivo a responsabilidade pelo cumprimento do que foi decidido por todos. A inspeção
escolar do Estado de Minas Gerais, órgão do governo, ligado à Secretaria de Estado da
Educação (SEE), visa descentralizar as ações para dar maior agilidade aos trabalhos dos
inspetores, com essa linha de trabalho o inspetor escolar, visa aperfeiçoar o processo de
inspeção do sistema educacional em Minas numa dinâmica eficiente e eficaz oferecendo
orientação e apoio, com o objetivo de melhoria do ensino nas escolas públicas.
Constata-se, portanto que, a inspeção escolar hoje se apresenta com (novo) significado
do controle especializado, burocrático e autoritário ao controle coletivo e democrático.
Fundamentado no estudo e na prática (práxis), a partir das demandas do trabalho das escolas,
situa-se a função de acompanhamento e mediação. Nesse sentido instituição deixa de ser
apenas um lugar que ocorre uma transmissão de conhecimento acabado e formal, e passa a ser
um lugar onde se reproduza conhecimento dominante ensinando o mundo e todas as suas
manifestações.
Nesse contexto se a educação se tornou mais complexa, o mesmo aconteceu com a
profissão do inspetor escolar, mudando radicalmente as estruturas científicas, sociais e
educativas que dão apoio e sentido ao caráter institucional do sistema educativo. Para que isso
ocorra é preciso que se reestruturem as instituições educativas alcançando uma educação mais
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democrática dos futuros cidadãos através de um conhecimento em construção e não imutável


para que a educação se aproxime mais dos aspectos éticos, coletivos, comunicativos,
comportamentais e emocionais. Os inspetores escolares precisam desenvolver as capacidades
de aprendizagem da relação, da convivência, da cultura, do contexto e da interação em grupo
com a comunidade que envolve a educação, pois ser um inspetor significará participar na
emancipação das pessoas.
Na sociedade democrática é importante a ação do inspetor escolar que atua na
mudança e para a mudança por meio do desenvolvimento das capacidades reflexivas em
grupo, abrindo caminho para a autonomia profissional compartilhada, pois o objetivo da
educação é tornar as pessoas mais livres e menos dependentes do poder econômico, político e
social. Para que isso ocorra à instituição de ensino deve ser o motor da inovação e da
profissionalização do inspetor escolar ora antes autocrático, burocrata e até autoritário.
Portanto, prosseguindo nestas reflexões, os novos paradigmas da educação nacional
encaminham a uma questão de ordem pratica, são os desafios que se colocam ao inspetor
escolar para a observância da legislação da educação junto às escolas pelo seu papel de
legitimo representante da administração central e regional do Sistema. Uma leitura mais
atenta a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) remete as competências que o
inspetor pode exercer em ação solidaria com as escolas e seus gestores, pedagogos e
professores e em interação com os setores das Secretarias Estaduais, Municipais e dos órgãos
Regionais de Educação, sendo um construtor de consensos, mas estando sempre aberto as
novas idéias e a diversidade, aceitando opiniões e novas propostas.
Sabe-se que o conhecimento do inspetor escolar especializado se autentica na prática
por meio dos processos de transmissão, através de características específicas como a
complexidade, a acessibilidade, a observabilidade e a utilidade social, já que um fator
importante na capacitação profissional é a atitude do inspetor, planejar sua tarefa baseando-se
em estabelecer estratégias de pensamento, de percepção, de estímulos e centrar na tomada de
decisões processando, sistematizando e comunicando as informações, como um facilitador de
aprendizagem, como um prático reflexivo, capaz de provocar a cooperação e participação dos
envolvidos com a educação. Este conhecimento consiste em descobrir, organizar,
fundamentar, revisar e construir a teoria, removendo todo o sentido pedagógico comum,
recompondo o equilíbrio entre os esquemas práticos predominantes e os teóricos que o
sustentam. Propondo assim um processo que proporcione conhecimentos, habilidades e
atitudes para criar profissionais reflexivos e, ou investigadores.
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É essencial para o inspetor escolar contemporâneo que seu conhecimento


profissional seja ativo e não passivo não dependente de um conhecimento externo nem
subordinado a ele. A ação do inspetor escolar ao interpretar a lei e acompanhar sua execução
nas instituições de ensino, precisa levar em conta esses diferentes interesses e valores que
refletem não só o texto legal como também as posturas dos profissionais da escola e as
atitudes de alunos e seus pais sendo um elo entre a Secretaria Estadual de Ensino e as
Superintendências Regional de Ensino (S RE) e escola, tem, assim a incumbência de ajudar a
interpretar o espírito da lei, isto é os valores e as normas mais genérica em sua adaptabilidade
a cada contexto. Isto, no entanto , sem deixar de observar os princípios básicos os objetivos e
as diretrizes fundamentais que os legisladores estabeleceram uma vez que tais fundamentos
também decorrem dos valores e dos fatos percebidos por eles na sua analise da sociedade
brasileira.
É nesse contexto que a atuação do inspetor escolar para aplicação do funcionamento
nas escolas as leis ele precisa estar suficientemente aberto e sensível para também
compreender outros valores. Fatos e normas que não raras vezes as presidem e compreender a
filosofia que perpassa a proposta pedagógica de cada unidade de ensino. Alem disso o
inspetor educador não será apenas a ponte entre os dois níveis do sistema de ensino o
macro:Secretaria Estadual de Educação ( SEE) e Superintendência Regional de Ensino (S R
E) e o micro escolas e instituições sociais locais mas o mediador também dos sistemas
valorativos vigentes nas normas na sociedade em geral e no contexto escolar. Para isso o
dialogo e a interatividade serão as formas de comunicação desejáveis.
Educação se faz com discernimento, ousadia, pesquisa, determinação, trabalho
participativo, visando dar aos educandos instrumentos educacionais que são importantes para
o exercício da cidadania. Portanto cabe ao inspetor escolar assessorar não só o gestor na área
administrativa, mas também no pedagógico analisando à metodologia do ensino e prestar
contínua assistência didático-pedagógica aos docentes, pois, o mundo está passando, num
ritmo acelerado, por grandes transformações e os educadores devem estar à frente dessa nova
realidade, com o desafio de transmitir conhecimentos, informações e valores que conduzirão o
aluno para uma sociedade mais culta, justa e consciente dos seus direitos e deveres. Portanto a
ação do inspetor escolar faz toda a diferença, no processo de orientação, organização e
implementação do projeto político pedagógico em atendimento as necessidades da
comunidade, proporcionando uma educação de qualidade onde a escola possa ser única de
igual padrão, assumida por uma gestão dependente de decisões repassadas pelo poder central
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vem cedendo lugar a participação e a possibilidade de incorporação de demandas especifica


da comunidade. Passar desse modelo centralizador, autoritário e burocrático para outro
descentralizado, democrático, menos controlador, é o desafio para os inspetores escolares
comprometidos com a exigência da sociedade contemporânea. A inspeção escolar, a partir
desses novos paradigmas, passa a ser fortalecida pela integração dos profissionais na
contribuição efetiva para a organização e funcionamento das escolas, exercendo competências
técnicas e políticas a serviço dos mais amplos objetivos da escola dentro de uma sociedade
democrática.
Finaliza-se o texto como já explicitado, o caráter ideologizante na esfera das políticas
educacionais para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas, tentando dessa
forma, elucidar que a lei ao se tornar vida não deve ser outra. A função do inspetor escolar é
tornar efetivo esses direitos garantido na LDB, ao assegurar o cumprimento dos onze
princípios estabelecidos nos princípios e fins da educação nacional o inspetor estará dando a
sua contribuição para a população em geral.

Educar é crescer. E crescer é viver.


Educação é assim, vida no sentido mais autêntico da palavra
Anísio Teixeira
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JUSTIFICATIVA

Educar é dar às pessoas as chaves do mundo, que são a independência


e o amor, e preparar as suas forças para que o percorram sozinhas,
com o passo alegre das pessoas livres e espontâneas.
José Martí

Este trabalho justifica-se pelo fato de que a qualidade da educação nas escolas
públicas continua sendo um desafio crucial a ser enfrentado em Minas Gerais. Acreditamos
que somente a educação pode transformar vidas, e é essencial para atender às necessidades do
país e para a construção de uma sociedade de conhecimento. A educação pode ser tomada
como um dos mais complexos processos constitutivos da vida social.
Para  KENSKI, “a exigência de um novo tempo, um novo espaço e outras maneiras
de pensar e fazer educação. O amplo acesso e o amplo uso das novas tecnologias condicionam
a reorganização dos currículos, dos modos de gestão e das metodologias utilizadas na prática
educacional”. ( 2003, p.92). 
Assim percebe-se que o desafio atual para a sociedade e para a educação escolar não
se situa mais em termos de democratização do acesso e sim na oferta de um ensino que atenda
a padrões mínimos de qualidade. O monitoramento sistemático do sistema educacional
realizado anualmente por meio do censo escolar e a cada dois anos pelo Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (SAEB) tem mostrado que a capacidade de atendimento das
redes de ensino já é suficiente para assegurar a matrícula a todas as crianças, embora ainda
existam déficits localizados em determinadas regiões do País. Dessa forma, o principal
objetivo passa a ser a promoção da permanência e da aprendizagem dos alunos, ou seja,
assegurar-lhes as condições de sucesso escolar. Para isso, torna-se indispensável para as
escolas públicas de Minas Gerais a elaboração de um projeto político pedagógico constituído
e planejado de forma participativa dando clareza à escola sobre que tipo de ensino deseja
ministrar para seus alunos, a ação e a participação do inspetor escolar nesse processo com
vista à eficácia social da instituição escolar são essenciais, antes o inspetor escolar era visto
como um fiscalizador, hoje sua atuação não é exercida apenas no administrativo, mas, e
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principalmente no pedagógico. Segundo VEIGA o projeto político - pedagógico “delineia de


forma coletiva a competência principal esperada do educados e de sua atuação na escola. Ao
delinear essa competência, o projeto político-pedagógico consolida a escola como lugar
central da educação básica numa visão descentralizada do sistema.” (2004, p. 38) E nele que
se definem como se podem organizar os processos de ensino-aprendizagem com vistos à
transformação da sociedade.
As reformas educacionais nas últimas três décadas adotaram entre as estratégias a
descentralização e a ampliação da autonomia das escolas, como políticas oriundas de
recomendações dos organismos internacionais aos países em desenvolvimento. Essas
orientações buscam garantir maior eficiência e qualidade na prestação de serviços
educacionais. Assim a inspeção escolar funciona como uma parte das chamadas ciências da
educação, os princípios gerais da educação podem servir de normas aos inspetores escolares,
que deverá ser um empreendimento de mutua cooperação entre professores, diretores e
inspetores e deve ocupar o centro do melhoramento da instrução.
A relevância do tema escolhido para o trabalho dá-se pela legitimidade e efetividade
da ação abrangente do inspetor escolar, onde sua ação funciona como um elo essencial para a
articulação, implementação e comprometimento com as diretrizes e bases da educação
nacional expressas na Lei n. 9.394/96. A Carta Magna nacional que “disciplina a educação
escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias”
(BRASIL, 1996, Art. 1º § 1º). Significa, pois, entender o imenso valor do ensino de qualidade
que deve ser desenvolvido na educação escolar como fundamental instrumento que habilita o
aluno à conquista da cidadania dos ideais propostos para a construção de uma sociedade livre
justa e democrática.
Procurando contribuir com as reflexões acerca do tema este trabalho se propõe a
aprofundar a analise sobre a ação do inspetor escolar sob o ponto de vista das políticas
públicas educacionais . Nossa intenção é a de compreender a ação do inspetor escolar frente
às exigências da sociedade contemporânea sua atuação na concepção dos fins para os quais o
sistema escolar existe e o trabalho que deve realizar através da sua ação mediadora nos
assuntos pedagógicos, dando a possibilidade do envolvimento de todos os integrantes da
comunidade escolar propugnano uma gestão democrática da educação cujo controle se faz
através da participação coletiva no processo de tomada de decisões e na gestão da organização
escolar.
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OBJETIVO GERAL

 Analisar a ação do inspetor escolar, na organização do trabalho pedagógico nas escolas


públicas de Minas Gerais, com ênfase no Projeto Político Pedagógico.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Focar a qualidade do Ensino como fator importante para a ação do inspetor escolar nas
escolas públicas de Educação Básica.

METODOLOGIA

Para realizar este estudo, escolheu-se a metodologia bibliográfica e documental,


utilizando nesse processo fontes primárias como as Leis Federais a Constituição Federal de
1988; Apostila da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais de 2005 Vol.02 –
Inspetor Escolar, livro: Gestão Educacional: uma questão paradigmática – Heloísa Luck;
livro:Os sete saberes necessários à educação do futuro – Edgar Moran.Apostila: Ação do
Inspetor Escolar; Livro: Educação: Um Tesouro A Descobrir - Jacques Delors; bem como
fontes secundárias, consubstanciadas em Pareceres do Conselho Nacional de Educação,
Pareceres de Instituições de Ensino, Documentos Ministeriais, artigos e outras publicações
veiculadas pelos periódicos da área.
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1.INSPEÇÃO ESCOLAR E AS POLÍTICAS PÚBLICAS: DESAFIOS


PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

“Trata-se, agora, de saber como vamos fazer pra realizar a


universalização e a democratização da educação básica, com
qualidade com uma nova qualidade.”
Moacir Gadotti (2006)

Nas últimas décadas, o país alcançou progressos significativos que permitiram


praticamente atingir a universalização do ensino fundamental obrigatório (93,8% em 2003
dados do SAEB). Todavia, o Brasil ainda apresenta deficiências no acesso à educação para a
primeira infância e ensino médio. Para o sociólogo ALMEIDA(2008, p. 23), acabar com a
evasão no ensino fundamental ainda é um desafio. Esse nível de ensino foi universalizado,
mas os índices de abandono antes de sua conclusão ainda são altos.

Além disso, destaca-se como urgente a qualidade da educação. O sistema


educacional brasileiro nem sempre é capaz de desenvolver habilidades cognitivas de
importância essencial para a vida cotidiana. Evidencia debilidades no fomento à formação de
valores que capacitem os cidadãos a uma participação ativa na sociedade, e também na
promoção do desenvolvimento humano sustentável.

A escola deixa de ser vista como o único principal ambiente de aprendizagem, as


relações de tempo espaço já não são mais as mesmas. Assim, o professor encontra-se em um
contexto onde as antigas verdades já não existem mais e precisam considerar o fato da
incerteza como um potencial para a construção de novos saberes, processo que envolve novos
ambientes, novos saberes e novas visões. MORIN (2000), diz que “é preciso reeducar o olhar
para a incerteza” Nesse sentido afirma KENSKI(2003 p.92), “a exigência de um novo tempo,
um novo espaço e outras maneiras de pensar e fazer educação. O amplo acesso e o amplo uso
das novas tecnologias condicionam a reorganização dos currículos, dos modos de gestão e das
metodologias utilizadas na prática educacional”. A lógica educacional que prevalece na
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sociedade da informação é de compartilhamento, integração colaboração e participação


integrada entre pessoas e instituições, situação muito distante da forma estruturada,
burocraticamente hierarquizada e centralizada, existente nas atuais instituições educacionais.
De acordo com o artigo do jornalista e empresário BUENO (2007),
O problema da educação brasileira não é de forma, é de conteúdo. Cadê a
mesma preocupação que se tem em dotar a escola de infra-estrutura, quando
o modelo de ensino-aprendizagem, de exploração de conteúdos estão
defasados em décadas? Professores ainda ensinam que o Brasil foi
descoberto por Pedro Álvares Cabral quando deveriam estar discutindo as
condições fundamentais para nos arrancar do imobilismo histórico, da
ignorância crônica da população e da burrice epidêmica da classe política;
(...) Nossa educação carece de conteúdo em níveis absolutos: praticamente
todas as provas e exames são formatados em múltipla escolha, aonde o que
mais se exige é a habilidade de Mãe Diná para prever o futuro e marcar um
X em nome desse futuro. Não se discute se é o certo, e sim se dá para passar.
Um reducionismo tão cruel para avaliar a aprendizagem, que é digno do
Guiness Book como o pior método para aferir níveis confiáveis de
conhecimento. Nossa educação carece de conteúdo em níveis oficiais: (...)
insistem na manutenção de conteúdos há muito defasado, estruturas
pedagógicas antiquadas, que não promovem a discussão, a reflexão, à
inovação. Inovação? (...) Nossos professores são reféns do seu próprio
veneno, pois não conseguem alterar o status quo do sistema. Não têm
articulação, são tão submissos quanto os milhões que deles dependem e
replicam a pandemia de cérebros-dependentes. O país precisa de
empreendedores, as escolas cospem dependentes que só enxergam o
emprego como salvação, e não sabem o que é trabalho. (...)processo
educacional burro, retrógrado, desfocado da realidade mundial.

Através do diagnóstico da situação educacional, é possível conhecer o terreno onde


se esta pisando e evitar equívocos que podem comprometer um projeto educacional. O
acompanhamento e a avaliação constantes das ações realizadas permitem corrigir o rumo, ao
percebermos que, em vez de nos aproximarmos da “realidade desejada,” estamos nos
afastando cada vez mais dela, ou nos mexendo muito, mas sem sair do lugar.
Inúmeras pesquisas já provaram que, apesar dos significativos avanços das políticas
públicas em educação, ela ainda faz parte de um conjunto de problemas que persiste em nossa
sociedade, depende de diversas iniciativas políticas, com o agravante de ser o segmento
menos considerado e o que desperta menos interesse em nível de investimentos financeiro
pelo governo federal. Percebe-se, portanto que: “melhorar o nível de escolaridade da
população, que participará mais, estará mais apta a discutir a ação dos políticos com
consciência, deixando os patamares da dependência e da ingenuidade para alcançar os topos
da crítica, não tem sido prioridades para os governantes do Brasil. Mais educação significa,
sem duvida, mais cidadania.
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Aplicar o mínimo da receita recolhida dos impostos na educação, cumprindo as leis


em vigor, aumentarem as verbas municipais destinadas à educação e prestar contas dos
recursos repassados pela União é o mínimo que se espera dos governantes tanto de um estado
como de um país. Sabe-se que “a escola pública e gratuita, em primeiro lugar, é paga e bem
paga pelos impostos recolhidos. Ela precisa ter ordem, e essa ordem e qualidade pode ser
exigida pelas famílias através de suas respectivas associações; afinal, pagam impostos e têm
direito ao serviço. Esta participação faz parte dos direitos do cidadão que, participando, gera
mais participação e mais cidadania.”

E tudo isso só não basta. É evidente que a escola precisa preparar o educando para as
relações sociais e para o mundo do trabalho. Isto é legal e incontestável, no entanto, mais uma
vez, deparamos com um problema bem maior para a pedagogia do século XXI, que é adequar
às propostas pedagógicas e às práticas docentes a esse novo perfil de homem que a sociedade
do “conhecimento” deseja.

De acordo com NISKIER ( 2004, apud Bueno, 2007),


O Brasil tem 250 mil escolas e cerca de 50 milhões de alunos, observa
Arnaldo Niskier, educador (...). Mas ainda 14,7% da população acima de 15
anos é de analfabetos e 33 milhões de brasileiros não têm capacidade de ler e
escrever textos simples, tampouco de fazer operações de multiplicação ou
divisão. Outro dado desanimador: 59% dos alunos da quarta série do ensino
fundamental ainda não aprenderam a ler. Além disso, parte dos alunos
aprovados na oitava série não consegue interpretar de modo adequado os
textos lidos. Parte de professores também não. Enfim, 53% dos alunos têm
aprendido muito pouco em seus cursos. Essa é a triste conclusão de
sondagem, realizada com a chancela da UNESCO, abrangendo 50.740
estudantes em 673 escolas situadas em 13 capitais. Arnaldo Niskier sugere a
modernização de todo o sistema educacional brasileiro com o emprego das
tecnologias caracterizadoras da sociedade do conhecimento. A qualidade
deve ser o grande projeto nacional de aperfeiçoamento do ensino
fundamental. (Folha de S. Paulo, São Paulo, 28. set.2004, Sinapse, n.27, p.
4).

Para SOUSA, e PRIETO(2002, p.124), o que deve reger o planejamento de políticas


públicas de educação, “é o compromisso de viabilização de uma educação de qualidade, como
direito da população, que impõe aos sistemas escolares a organização de uma diversidade de
recursos educacionais.” Sabe-se que na região Sudeste, o tempo médio de permanência dos
alunos do ensino fundamental é de 9,2 anos (em função da repetência e evasão escolares). O
atendimento educacional precoce poderá, ao mesmo tempo, evitar o desgaste decorrente da
reprovação escolar, preparando o aluno para realizar seu percurso escolar com sucesso.
Nas escolas de educação básica predomina a mesmice, com um verniz de
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modernidade. Não basta colocar todas as crianças na escola, nem basta aumentar o número de
horas dentro dela. Uma má escola, com mais tempo de permanência, continuará sendo uma
má escola. As escolas ainda se sentem fortemente pressionadas pelas expectativas tradicionais
das famílias, pela pressão do acesso às melhores universidades, pelo cipoal de normas das
várias instâncias administrativas, pela força da cultura educacional convencional. Mesmo as
universidades mais avançadas tecnologicamente continuam apegadas às aulas com
transmissão de conteúdo, fragmentadas em disciplinas, com presença obrigatória e pouca
flexibilidade e inovação.

De acordo com 2º FÓRUM MINEIRO DE EDUCAÇÃO (2001),


A equidade de oportunidades educacionais (...) é diferente de igualdade de
oportunidades. (...) quando se universalizar no Brasil a oferta de vagas no
ensino fundamental – meta cuja consecução esta próxima. Ter-se - a atendido
ao preceito constitucional de escolarização obrigatória. (p.95)

Nesse sentido se o ensino brasileiro for estruturado para suportar as diferenças, talvez
possa ficar mais claro para nós que pátria se deseja. A transformação dependerá de cada um de
nós. Só com o poder transformador da educação continuada chegaremos ao crescimento. A
educação forma pessoas tecnicamente superiores e motivadas para assumir desafios, riscos e
atitudes inovadoras, além de dar condições às pessoas de entenderem o seu papel na sociedade
e melhoraram a sua qualidade de vida. Segundo a UNESCO (1998), “O analfabetismo
funcional é um problema significativo em todos os países industrializados ou em
desenvolvimento.”É importante sabermos que uma nação que investe na educação, contribui
ativamente no crescimento econômico e no desenvolvimento social e cultural da sociedade e
do país. Ainda tomando por base pesquisas da UNESCO, verifica-se que a educação é um
fator diferencial, uma vez que através dela os indivíduos têm maiores chances de conseguir
trabalhos qualificados, além de participação ativa na vida democrática podendo desta forma,
ter pleno conhecimento dos seus direitos e deveres e usufruir os mesmos. Infelizmente, vive-
se em uma profunda crise, principalmente no âmbito educacional, onde ainda grande parte da
população não tem acesso a educação público de qualidade e os que o têm não adquirem
conhecimentos considerados essenciais, por este apresentar insuficiências com relação a
investimentos, má remuneração aos docentes que nele atuam e inexistência de
comprometimento dos governantes com relação a esta causa.
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1.1 Educação e Escola: dilemas e desafios para as políticas públicas no


contexto brasileiro

"Estamos vivenciando um momento de transição social que se reflete em


mudanças significativas na forma de pensar e de fazer educação”.
KENSKI (2003).

A expressão sistema educacional refere-se desde a organização da educação


brasileira até a política pública para educação. Este segue um plano de educação que é a
expressão de um compromisso ético da sociedade. Mas, é fundamental que, para executar as
metas dos planos, tenha-se em vista o orçamento público, que deve investir mais na educação
pública.
Esclareçamos, inicialmente, as diferenças entre as noções de educação, educação
escolar e ensino. A educação, processo essencial para a formação do ser humano acontece nas
interações com as outras pessoas ao longo da vida de todos nós, e em vários locais, por
exemplo: família, igreja, trabalho, vida social e, naturalmente na escola. Envolve também a
formação de valores, hábitos e atitudes, estando numa dimensão ampla e voltando-se para a
formação do cidadão. Mas o termo “educação” também é utilizado como sinônimo de ensino
e aprendizagem onde será educado quem assimila um conjunto de conhecimentos, adquirindo
assim habilidades correspondentes. Para TEIXEIRA, “a educação é considerada uma
necessidade individual e não apenas uma vantagem”. (1976, p.316)
A educação, longe de ser um adorno ou o resultado de uma frívola vaidade,
possibilita o pleno desenvolvimento da personalidade humana e é um requisito indispensável
à concreção da própria cidadania. Com ela, o indivíduo compreende o alcance de suas
liberdades, a forma de exercício de seus direitos e a importância de seus deveres, permitindo a
sua integração em uma democracia efetivamente participativa. Em essência, "educação é o
passaporte para a cidadania". Além disso, é pressuposto necessário à evolução de qualquer
estado de direito, pois a qualificação para o trabalho e a capacidade crítica dos indivíduos
mostra-se imprescindíveis ao alcance desse objetivo. Para BRANDÃO (1995), a educação é
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um dos principais meios de realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de
adaptações das pessoas, em um mundo em mudança. Podendo, na atualidade, inclusive ser
vista como um investimento, mas ela ainda continua a provocar desigualdades. Regional e
global. Ele afirma que a educação é um dos meios que os homens lançam mão para
satisfazerem suas necessidades.
Segundo MORIN (2000), a sociedade contemporânea possui elementos
diversificados e complexos, isto significa que o ensino precisa estar atento à complexidade da
vida contemporânea. O ensino é um dos aspectos do processo educacional, mais voltado para
as questões da prática docente. Assim, tem objetivos específicos e trata da avaliação de
desempenho do aluno, dos conteúdos, das metodologias, enfim, do que e do como ensinar.
Caracteriza-se por ser uma atividade deliberada, sistemática e planejada, ocorrendo em
horários e locais determinados; faz parte da educação escolar, porém esta é mais do que
ensino.

De acordo com TEIXEIRA (1977),


Numa sociedade como a nossa, marcada de profundo espírito de classe e de
privilégio, somente a escola pública será verdadeiramente democrática e
somente ela poderá ter um programa de formação comum, sem os
preconceitos contra certas formas de trabalho essenciais a democracia. Na
escola pública, como sucede no exército, desaparecerá as diferenças de
classe e nela todos os brasileiros se encontrarão para uma formação comum,
igualitária e unificadora, a despeito das separações que vão, depois, ocorrer.
Exatamente porque a sociedade é de classe é que se faz ainda mais
necessário que as mesmas se encontrem em algum lugar comum, onde os
preconceitos e as diferenças não sejam levados em conta e onde se crie a
camaradagem e até a amizade entre os elementos de uma e outra. (p.72)

Sabe-se que a educação escolar é o processo formativo que acontece dentro da escola
e que também diz respeito à formação do cidadão, aos hábitos, às atitudes e aos valores. Tem
como especificidade o fato de influir sobre as pessoas durante um tempo grande e contínuo de
suas vidas. O processo educativo que se dá na escola relaciona-se aos outros processos que
ocorrem na sociedade, influenciando-os e sendo influenciado por eles. Para TEIXEIRA
(1977), promover a democracia, no campo da educação comum para todos, é oferecer
escolas dominantemente pública, mas de qualidade para todos. Esta é a fase que estamos a
viver na educação nacional.
Ora, a realidade de nossas escolas hoje deixa ao século XXI o desafio de colocar o
esforço pedagógico (o ensino) a serviço das metas educacionais, visando o equilíbrio entre o
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“ser saber” e o “saber ser”, isto é, entre o sujeito cognoscente e o sujeito social, consciente,
equilibrado e responsável. A revisão dos projetos pedagógicos e as reformas curriculares já
em andamento no país legitimam-se pela busca de uma nova relação entre homem e
conhecimento para democratizar o saber e fazer dele uma bússola capaz de nortear a formação
de posturas críticas e as tomadas de decisão.

Hoje a educação precisa ser reinventada, fazendo com que ela faça parte da vida e do
cotidiano dos alunos, incluindo-os na cultura das comunidades brasileiras. Por tudo isso, a
educação é essencialmente um apontar de possibilidades, de distinções, de relações e de
humanidade. Educar é abrir, erguer, questionar, duvidar e ensinar a duvidar, é ser modesto em
saber ajudar. É viver e aprender.

Para o sociólogo ALMEIDA ( 2008),


Educação é o caminho para reverter as deteriorizações dos valores
democráticos. A melhoria educacional leva o povo a ter valores mais
igualitários. As pessoas mudam seus conceitos, passam a ser contra a
corrupção, se mostram críticas em relação à violência policial e exigem seus
direitos. Resultado: a economia cresce com a produção de bens de maior
qualidade, o mercado de trabalho e os empregos melhoram nesse cenário, o
povo enriquece e o país se desenvolve. (p.23,24).

A Constituição de 1988 dispõe sobre a educação em seu artigo 205 ela prescreve: “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” ALVES (1997) considerando que a
educação é direito de todos e dever do estado, diz que é impositivo que, quando oferecida, sob
a forma de ensino sistematizado, esteja norteada por princípios básicos que calçam o mundo
dos valores e o chão das significações da organização escolar e dos ritos educativos ALVES
(2004, p.35). PIAGET (1998) advoga que esse direito não se restringe ao "pleno direito à
educação", mas que seja uma educação de qualidade e voltada para o pleno desenvolvimento
da personalidade humana, levando em consideração a paz entre as várias nações. O direito por
si só não é o bastante, e que a gratuidade somente do ensino de primeiro grau, com um olhar
de justiça social, não passa de uma mera afirmação social. Entretanto, para ele, não basta
ampliar o ensino de primeiro grau e implantar o segundo grau com caráter gratuito, mas é
preciso também programar uma relação aluno/escola/aprendizagem, em que haja tarefas que
levem o aluno a compreender e participar ativamente da vida social.
26

É do conhecimento de todos que a educação é o enriquecimento dos valores culturais


e morais comuns. São nesses valores que os indivíduos e a sociedade encontram sua
identidade e sua dignidade. Aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfação
das necessidades básicas de aprendizagem que compreendem tanto os instrumentos essenciais
para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de
problemas), quanto conteúdos básicos da aprendizagem como conhecimentos, habilidades,
valores e atitudes, necessários para que os seres humanos possam sobreviver e desenvolver
plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do
desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar
aprendendo. A amplitude das necessidades básicas de aprendizagem e a maneira de satisfazê-
las variam segundo cada país e cada cultura, e, inevitavelmente, mudam com o decorrer do
tempo. A satisfação dessas necessidades confere aos membros de uma sociedade a
possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herança
cultural, lingüística e espiritual. Ela também promove a educação de outros, de defender a
causa da justiça social, de proteger o meio-ambiente e de serem tolerantes com os sistemas
sociais, políticos e religiosos. Diferir dos seus, assegurados respeitando os valores humanistas
e os direitos humanos comumente aceitos, bem como de trabalhar pela paz e pela
solidariedade em um mundo interdependente.

1.2 Todos pela Educação

Se a escola como instituição produz o conformismo e a adesão dentro de


certas condições ela pode trazer um esclarecimento que contribui para a
elevação cultural da população. Gramsci: in Mochcovich:s/d
27

Nesse contexto falar de educação é falar de tentativas e de pressupostos, uma vez que
a educação, enquanto processo, refere-se a povos, lugares, épocas, culturas e histórias
diferentes – daí se ter, conseqüentemente, várias educações porque são vários os
determinantes, são vários os conceitos. De que educação falamos? De uma que liberta ou de
uma que escraviza? De uma que vivencia e se aprende nos grupos étnicos e familiares e/ou de
uma que se busca, porque se é dada em lugares determinados com conteúdos elencados em
ritos pré-assinalados? Formal ou informal, meio ou fim, produto ou processo, prática
individual ou prática coletiva, autoritária ou democrática, opressora ou libertadora,
reprodutivista ou crítica?

Para DELORS (1998),

O novo século é, em essência, sinônimo de horizonte de nova esperança.


Uma esperança que, por ser eminentemente humana e humanizadora, elege a
prioridade educativa como sua aliada incontornável na edificação de uma
nova ordem social onde todos contam e cada um possa ser capacitado para
participar ativamente num processo de desenvolvimento que, para o ser,
recupera a centralidade da pessoa na sua mais plena e inviolável dignidade.
(p.224)

No mundo de hoje, a maior violência que podemos cometer com a dignidade humana
é, sem dúvida, a inércia, o consentimento com a condição de milhares de brasileiros não
desenvolverem a capacidade de ler, escrever, acessar o conhecimento de forma que possa
desempenhar uma participação autêntica na sociedade. As pesquisas estão aí confirmando que
na sociedade letrada em que vivemos, quanto maior a participação do sujeito na cultura
escrita, maior será a convivência com domínios de raciocínio abstrato, maior será a
capacidade de realizar tarefas que exijam controle, inferências e ajustes constantes. O sujeito
que lê e escreve é uma pessoa mais participativa socialmente, mais responsável e solidária;
implica percepção mais aguda do sentido da vida e do fazer histórico humano.

Para a UNESCO ( 2008),

O Brasil só será verdadeiramente independente quando todos os seus


cidadãos tiverem acesso a uma Educação de qualidade. Partindo dessa idéia,
representantes da sociedade civil, da iniciativa privada, organizações sociais
e gestores públicos se uniram no movimento Todos Pela Educação: uma
aliança que tem como objetivo garantir Educação Básica de qualidade para
todos os brasileiros até 2022, bicentenário da Independência do País .
28

A UNESCO diz: “Todos pela Educação não é um projeto de uma organização


específica, é um projeto de nação. É uma união de esforços, em que cada cidadão ou
instituição é co-responsável e se mobiliza, em sua área de atuação, para que todas as crianças
e jovens tenham acesso a uma Educação de qualidade.” (2008)

De acordo com o MEC (2008),

O Termo de Adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação,


de caráter voluntário, que propõe a adoção de um conjunto de diretrizes,
conforme Decreto nº 6.094/2007, que estabelece a projeção do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB dos anos iniciais e finais do
ensino fundamental de seu município.

Para alcançar a educação que o Brasil precisa, foram definidas 5 Metas específicas
simples, compreensíveis e focadas em resultados mensuráveis, que devem ser atingidas até 7
de setembro de 2022:

Meta 1. Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola.

Meta 2. Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos.

Meta 3. Todo aluno com aprendizado adequado a sua série.

Meta 4. Todo jovem com o Ensino Médio concluído até os 19 anos.

Meta 5. Investimento em Educação ampliado e bem gerido.

As metas do (PNE) para o Brasil, com o apoio de parceiros como a UNESCO, que
vem promovendo projetos e ações em prol da melhoria da qualidade da educação pública
podem passar da intenção a realidade. A sociedade precisa assimilar positivamente o seu
papel nesse processo de mudança, em que a melhoria da qualidade do ensino é a meta de
todos. Os pais estão cobrando melhores serviços educacionais para seus filhos, e a avaliação
sistêmica, seus processos de realização e seus resultados têm sido fartamente utilizados pelos
usuários do sistema escolar nessa sua postura de consumidor atento de um serviço que vai
interferir decisivamente no futuro de seus filhos, estudantes da escola pública.

“O sinal dado pela avaliação, de que o desempenho não está bom,


pode ser o elemento a provocar a mudança.” MEC 2008
29

1.3 PNE - Plano Nacional da Educação

Está em vigência o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 10.172,
de 09 de janeiro de 2001, com duração estipulada em dez anos. O PNE é mais que um plano
da União. Os objetivos e metas traçados são da nação brasileira. É para todo o Brasil que se
quer o novo panorama educacional. Cada estado, o Distrito Federal e cada município estão
presentes, como parte constitutiva. Ele contempla as questões das verbas, a dedicação e
formação dos professores, a infra-estrutura das escolas. Mas a meta mais importante é a de
“Universalizar o acesso a “Educação Básica no Ensino Fundamental”.

O PNE não é resultado de uma decisão isolada de alguma autoridade, de um grupo


de pessoas ou de forças políticas ou educacionais mobilizadas há poucos anos, que se queira
impor a toda a Nação. Ele tem uma longa história. Há mais de 60 anos, em 1932, educadores
e intelectuais brasileiros lançaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, no qual
recomendaram a necessidade da elaboração de um plano amplo e unitário para promover a
reconstrução da educação no País. A vigência de um PNE é uma previsão antiga em nossas
Cartas Magnas. A Constituição Federal (CF)de 16 de julho de 1934, em seu artigo 150, já
declarava ser competência da União “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do
ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua
execução, em todo o território do país”. Todas as constituições posteriores, com exceção da
Carta de 1937, incorporaram, implícita ou explicitamente, a idéia de um PNE.

Historicamente, o primeiro PNE surgiu em 1962, elaborado já na vigência da


primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 4.024, de 1961. Ele
não foi proposto na forma de um projeto de lei, mas apenas como uma iniciativa do Ministério
da Educação e Cultura, iniciativa essa aprovada pelo então Conselho Federal de Educação.
Era basicamente um conjunto de metas quantitativas e qualitativas a serem alcançadas num
prazo de oito anos.

De acordo com a CONSTITUIÇÃO FEDERAL, Artigo 214 (1988),

A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual,


visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos
30
níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam à: I –
erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar;
III – melhoria da qualidade do ensino; IV – formação para o trabalho; V –
promoção humanística, científica e tecnológica do País.

Em 1996, entra em vigor a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de1996. A nova LDB,


consideradas condição prévia de um PNE nos artigos 9 e 87, determinou que coubesse à
União a elaboração do mesmo, em “colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios,” (LDB,1996). Foram mais de oito anos de discussões até ser aprovado a nova
LDB Lei nº 9.394/96. Nesse tempo, realizou-se a Conferência Mundial de Educação para
Todos (Jomtien, Tailândia, 1990), promovida pela Unesco e co-patrocinada pelo Pnud, Unicef
e Banco Mundial, com vários outros organismos internacionais e a participação de 155 países
e centenas de organizações da sociedade civil. Com uma decorrência prática entre eles, eram
os países com maior número de analfabetos, e apresentavam os maiores déficits no
atendimento da escolaridade obrigatória, esses países elaborariam planos decenais de
educação para todos. O Brasil era um deles. Esse importante documento formalizou
compromissos fundamentais para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de todas
as pessoas.

O PNE é um plano global, que atende toda a educação brasileira, tanto no que se
refere aos níveis de ensino e modalidades de educação, quanto no envolvimento dos diversos
setores da administração pública e da sociedade. Ao ser sancionado em 9 de janeiro de 2001,
esse plano consolida um desejo e um esforço histórico de mais de 60 anos de história da
educação brasileira, e é a realização do sonho de diversos educadores.

Para ALVES (2004), as fontes de inspiração da Educação são conquistas da


humanidade consagradas em estatutos universais como a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (dezembro de 1948), a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
(março de 1948), as várias constituições nacionais e a atual Constituição Brasileira de 1988;
que legaliza a educação como um direito universal de todas as pessoas. O direito à educação
fundamental foi considerado uma parcela indissociável de uma existência digna de tantos
quantos viva em território brasileiro, integrando o que se convencionou chamar de mínimo
existencial.
31

É notória a constatação de que o ensino é um serviço público. Não importa quem


preste tais serviços (União, estados-membros e municípios ou particulares). Na forma do
artigo 209 da C.F. a educação pode ser exercida pela iniciativa privada, observado o
atendimento de duas condições: 1- o cumprimento das normas gerais da educação nacional; 2-
autorização e avaliação de qualidade pelo poder público.

Não há como construir uma sociedade livre, justa e solidária sem uma educação,
pautada pela construção da autonomia, pela inclusão e pelo respeito à diversidade. Só é
possível garantir o desenvolvimento nacional se a educação for alçada à condição de eixo
estruturante da ação do Estado, de forma a potencializar seus efeitos. Reduzir desigualdades
sociais e regionais se traduz na equalização das oportunidades de acesso à educação de
qualidade para todos. Anísio diz que “a educação é de interesse público,” pelo fato de ser a
educação considerada uma necessidade individual e não apenas uma vantagem.

De acordo com ALVES (2004),

A LDB dá ao termo educação um sentido abrangente. Fala-se em educação


formal, educação não formal, educação continuada, educação à distância,
educação ambiental, educação sexual, etc. Sob o ponto de vista legal,
educação tem, quase sempre, sentido limitado. Na legislação anterior, por
exemplo, era sinônimo de ensino. Seja de ensino regular, seja de ensino
supletivo. Portanto, referia-se, sempre, à educação formal embora a lei
estatuísse que pudesse ser dada no lar e na escola, de fato, a ação educativa
verdadeiramente certificada pelos cânones legais era aquela incorporada na
modalidade ensino. (p. 31)

A Lei nº9394 de 20 de dezembro de 1996, no Art. 1º §1º e 2º estabelece que:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida


familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais. 1º Esta lei disciplina a educação escolar, que se
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições
próprias. 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a
pratica social.

Sabemos que a educação, embora não seja condição suficiente, é de importância


fundamental para o progresso pessoal e social. Uma educação básica adequada é fundamental
para fortalecer os níveis superiores de educação e de ensino, a formação científica e
tecnológica e, por conseguinte, para alcançar um desenvolvimento autônomo do indivíduo.
32

A oferta, tanto em quantidade como em qualidade, é insuficiente para atender aos


direitos de acesso e permanência no ensino para grande parte da população. Conquistar uma
educação de qualidade, que garanta a permanência de todos na escola, com a apropriação e
produção de conhecimento, passou a ser um paradigma de produção e transformação radical
no cotidiano das pessoas, ou seja, aprender a lição passou a ser pensar, criar, imaginar e, não
memorizar apenas. No horizonte deste novo tempo da educação brasileira, ALMEIDA afirma
que: “só a escola garante uma sociedade ética e próspera.” (2008, p.24 ).

1.4 PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação Básica

De acordo com o Ministério da Educação e Cultura 2008 (MEC) , “O Plano de


Desenvolvimento da Educação Básica (PDE) inclui metas de qualidade para a educação
básica, as quais contribuem para que as escolas e secretarias de educação se organizem no
atendimento aos alunos.” Também cria uma base sobre a qual as famílias podem se apoiar
para exigir uma educação de maior qualidade.

De acordo com MENDONÇA (2000),


A democratização da escola, em especial dos seus processos decisórios, não
ocorreria apenas pelo aumento da participação daqueles que já são atuantes
por força de seus deveres profissionais, mas pela inclusão dos que ainda são
postos de lado em função dos mais variados argumentos. (p. 63)

Por isso a concepção do PDE idealiza a formação de uma cultura de planejamento na


escola, ou seja, depois de cumpridas todas as suas etapas, as escolas estarão habilitadas para
continuar trabalhando com a metodologia do planejamento estratégico. As escolas definem
seus valores e sua missão. Fazem um diagnóstico de seu desempenho, estabelecem seus
objetivos, as estratégias, metas e planos de ação para alcançá-los. O PDE tem como objetivo
final fazer com que as escolas adquiram competência e condições físicas, materiais e humanas
para assegurar que: Os alunos permaneçam na escola; Não repitam séries; Concluam o ensino
básico; Tenham um ensino de qualidade.
Observa-se que o PDE, é um instrumento de planejamento e gestão. Tem como
33

objetivo tornar a gestão escolar mais eficiente e eficaz, voltada à aprendizagem de todos os
alunos.

1.5 PPP - Projeto Político Pedagógico

“À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo


complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que
permite navegar através dele”. Jaques Delors

O projeto pedagógico é o componente do PDE, que estabelece as orientações


relativas ao processo de ensino-aprendizagem, com o intuito de conferir maior eficácia à
atividade fim da escola. É construído, pois com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino,
garantindo a aprendizagem efetiva dos alunos. Sabe-se que a identidade também se define no
universo das unidades escolares e constrói-se na elaboração do projeto escolar. O projeto
escolar expressa o pensamento, a cultura da comunidade escolar, composta por pais, alunos,
professores, coordenador(es), gestor(es) e inspetores escolares. Essa participação legitima na
elaboração do projeto é que torna toda a comunidade responsável pela sustentação do que ele
propõe, criando um espaço para a participação e reflexão coletiva sobre o seu papel junto a
comunidade. Ao ser formalizado, esse projeto define os rumos e objetivos do trabalho a ser
desenvolvido: o que ensinar; para que ensinar; como ensinar; quais os materiais mais
adequados e mais estimulantes para que o aluno se motive e aprenda. O PPP construído
coletivamente, expressa as prioridades, metas e estratégias da escola e orienta os esforços de
todos a favor da melhoria.

De acordo com RANGEL(2003),


Projeto é algo que se quer alcançar, aponta a meta, mas também indica o
caminho; é algo de hoje e, como tal, expõe e explica o que se faz no
presente; é algo do passado porque nele encontram os fundamentos, os
percalços, os fatores de avanços; é algo do futuro porque, aproveitando o
passado e contemplando o presente, faz uma projeção do amanhã. (p. 93,94)

Para RANGEL (2003), ao elaborar seu projeto, a escola expressa necessidades,


34

desejos e objetivos que definem, afinal, sua identidade. Uma reavaliação periódica desse
projeto permite um atendimento mais afinado com o perfil da clientela da escola, amplia a
eficácia do trabalho e contribui para o crescimento de quem trabalha nele. Entende-se que a
avaliação do PPP deverá ser como bússola que reorientará o trabalho da comunidade escolar.
A conquista da qualidade exige enfrentar este desafio. RANGEL, diz que: “O PPP da escola
será, então, mais uma referencia mais uma fonte de estudo, integração do trabalho, pesquisa,
estimulados pelos setores da escola.” (2003, p. 94).
Para Salmaso (2008),
(...) torna-se importante reforçar a compreensão cada vez mais ampliada de
projeto educativo como instrumento de autonomia e domínio do trabalho
docente pelos profissionais da educação, com vistas à alteração de uma
pratica conservadora vigente no sistema publico de ensino. E essa concepção
de projeto político pedagógico como espaço conquistado que deve construí o
elemento diferencial para o aparente consenso sobre as atuais formas de
orientação da pratica pedagógica.

Conclui-se que a melhor forma de viabilizar que o PPP da escola seja atualizado no
cotidiano da escola e de operacionalizá-lo, na prática, é, contraditoriamente, esquecer, de
início, a sua dimensão conceitual. O importante não é o seu conceito, mas sim a sua vivência
no interior da escola e da comunidade escolar. Para VASCONCELOS, (2008, p. 54)
“Articular o Projeto Político Pedagógico e a Proposta Curricular é um desafio constante a ser
enfrentado pelos educadores. O inspetor escolar nesta ótica contribui para o resultado do
sucesso desta inter-relação de uma escola pública de qualidade para todos e acima de tudo
democrática.” Assim, a escola, vista como uma organização que congrega a comunidade
escolar em geral tem como objetivo principal o sucesso da aprendizagem de seus alunos,
formando cidadãos aprendentes e co-participantes de uma sociedade em mudanças destinada
ao bem-comum. Dessa maneira a participação efetiva do inspetor escolar supõe a convivência
com a pluralidade de idéias que garante o poder decisório. Nesse caso, participar significa
apoiar, orientar, colaborar, enfim, fazer o que já esta previsto para favorecer o
desenvolvimento humano pleno de todos, não só de seus alunos, mas também de professores,
e comunidade escolar. A questão pedagógica é o eixo central da proposta de construção da
autonomia escolar no novo modelo de inspeção da reforma educacional de Minas Gerais. A
descentralização pedagógica tem como objetivo principal trazer para o espaço da escola a
reflexão sobre o ensino e a busca de alternativas para superar o fracasso escolar, situação
crônica nas redes de ensino publico do País. Na perspectiva da reforma educacional de Minas
Gerais, é o projeto pedagógico que define a identidade da instituição escolar e a posição da
35

escola em relação à melhoria da qualidade do ensino. A tese da autonomia escolar só é factível


na medida em que a própria escola seja incorporada a um projeto político radicalmente novo
em sua natureza democrática e que por isso mesmo, seja instaurado com a implosão das atuais
estruturas e hierárquicas. Cabe ao inspetor escolar, a tarefa magna de planejamento,
acompanhamento, avaliação e aperfeiçoamento de oportunizar o curso de tais ações,
garantindo a eficiência do processo educacional e a eficácia de seus resultados.
36

2. PARADIGMAS DA AÇÃO DO INSPETOR ESCOLAR: CONCEPÇÃO


DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE QUALIDADE

O mais importante e bonito do mundo é isso: as pessoas não são sempre


iguais... Não foram terminadas... Mas estão sempre mudando... Afinam ou
desafinam... Verdade maior que a vida nos ensinou.
João Guimarães Rosa

Hoje se defende e propugna uma inspeção participativa, democrática da educação


cujo controle se faz através inspetor/pedagogo e é concebido como um profissional em
condições de atuar conscientemente na coordenação pedagógica, na administração escolar, na
gestão de sistemas e na docência, em classes especiais e curso normal. Independente do
campo de atuação, o inspetor escolar deve ter uma compreensão geral da realidade e ser
sensível às necessidades do nosso tempo, para possibilitar a formação de cidadãos cada vez
mais responsáveis socialmente, favorecendo o trabalho coletivo. Mas nem sempre foi assim.
O caráter controlador, fiscalizador e burocrático, que era assumido por esse profissional,
fazem parte da própria historia da educação no Brasil.

Para NERICI, (1973)

(...) inspeção Escolar, interessada mais no cumprimento das leis de


ensino, condições do prédio, situação legal dos professores,
cumprimento de datas e prazos de atos Escolares, como provas,
transferências, matrículas, férias, documentação dos educandos, etc.
( p. 30-31).

De acordo com a Wikipédia, enciclopédia livre (2008),

O funcionário está completamente voltado para dentro da organização, para


as suas normas e regulamentos internos, para as suas rotinas e
procedimentos. Com isso a burocracia torna-se esclerosada, fecha-se ao
cliente, que é seu próprio objetivo, e impede totalmente a inovação e a
criatividade.
37
As causas das disfunções da burocracia residem basicamente no fato dela
não levar em conta a chamada organização informal que existe fatalmente
em qualquer tipo de organização, nem se preocupar com a variabilidade
humana (diferenças individuais entre as pessoas) que, necessariamente,
introduz variações no desempenho das atividades organizacionais.

Em face da exigência de controle que norteia toda a atividade organizacional


é que surgem as conseqüências imprevistas da burocracia .

Constata-se portanto que a inspeção escolar surge e é fruto de uma gama de fatores
que advem das relações estabelecidas entre o Estado burocratico e o sistema capitalista de
produção da epóca.Ela se revela então como um instrumento burocratico que traduz um
modelo politico social que é utilizado pelo Estado como um dos elementos de controle. O
Estado intervem no processo educacional atraves do planejamento e da legislação, fazendo
com que a educação exerça um papel que favoreça o proprio Estado. Essa legitimação ocorre
atraves da imposição da lei estabelecida pelo Estado utilizando de mecanismos de controledo
cumprimento da lei o que na educação muitas vezes muitas vezes é solicitado ao serviço de
inspeção. Esse controle normalmente é feito no sentido de verificar se as determinações
prescritas estão sendo cumpridas de acordo com o que foi definido.

Segundo a apresentação da apostila da SEE/MG (2005),

A educação sofre o processo de controle sob a mais diversa forma e


locais. Para o controle do processo de escolarização que ocorre,
sobretudo na escola, o sistema organizou uma estrutura administrativa
e nela colocou mecanismos e pessoas agindo independentemente ou
em conjunto. O inspetor escolar ou qualquer outro nome que seja dado
à pessoa encarregada de controlar e o elemento do sistema escolar que
atua junto à escola. Torna-se necessário então para melhor
conhecimento dos métodos de atuação, proceder a um
reconhecimento, mesmo que breve da estrutura e funcionamento da
escola. (p. 138)

Contata-se portanto que a existencia do controle na educaçao ocorre desde a


antiguidade. Na idade média por exemplo a igreja inspecionava as escolas exercendo uma
função de controle e ensino ao mesmo tempo. Apos a reforma protestante o poder civil passou
a ter o direito de abrir as escolas e inspeciona-las. Sendo assim a inspeção surge no Brasil e
permanece por um longo periodo encarregada da função de controle tornando o inspetor
escolar num burocrata e muitas vezes numa pessoa assustadora e indesejavel dentro das
Escolas. Nesse sentido os tempos e os alunos mudam, nossos conhecimentos em matéria de
38

pedagogia progridem e os inspetores, professores e gestores devem enfrentar os novos


desafios, para não se cristalizarem. Há que resolver constantemente novos problemas e
adaptar-se ao meio. Uma escola deve ser capaz de perceber as adaptações as melhorias que
são necessárias e realizáveis, ela deve ter a capacidade interna de mudar e progredir. Inspeção
significa descrição objetiva de realidades concretas, exame de condições e resultados,
primeiro passo para toda e qualquer investigação de maior vulto. Quando bem compreenda
suas funções, será o inspetor, antes de tudo, um investigador operacional, mais preocupado
em verificar as razões por que os serviços a seu cargo encontram tais ou quais dificuldades, do
que fazer valer a sua autoridade formal, decorrente das leis e regulamentos. E, quando assim
faça, estará também estabelecendo um melhor sistema de comunicação entre os serviços
operativos e os administrativos.
De acordo com a apresentação da apostila da SEE/MG (2005) o significado do termo
inspeção:

1-ato de olhar. 2-ação de examinar de observar com cuidado. 3-


exame, vistoria. 4- encargo de vigiar, superintendência. 5- tribunal,
junta ou repartição publica encarregada de inspecionar, de fiscalizar
ou de dar o seu parecer sobre assuntos especiais. 6- cargo ou emprego
de inspetor. 7- exame feito por um ou mais inspetores ou por uma
junta inspetora. Alem das ações de olhar examinar, observar, vigiar,
fiscalizar, aparece o verbo inspecionar para significar inspeção.
(p.130)

Portanto o exame dos fundamentos da educação em Minas nos leva ao problema dos
fins da inspeção que para ser eficaz devera responder a uma necessidade real e resolver os
problemas reais, harmonizando a teoria com a prática num principio utilitário de inspeção
escolar e realidade. Como já se fez notar, os serviços chamados de inspeção, (ou de modo
geral, os de ação intermediária), devem revestir-se do duplo aspecto de oferecer informações e
recebê-las, de ajudar a decidir no plano operativo e levar a bem decidir nos escalões mais
altos. Quanto a este último aspecto, os inspetores, ou funcionários assemelhados, num serviço
qualquer, recolhem dados e devem sistematizá-los e interpretá-los, quanto isso lhes seja
possível. Assim, os serviços de inspeção passam a representar também funções de controle e
pesquisa. Controle, antes de tudo, significa balanço; refere-se a um confronto entre o que se
tenha planejado e o que efetivamente se tenha produzido. A origem do vocábulo põe em
destaque essa idéia. Controle (do francês, controle) significa o confronto entre papéis
diferenciados de diferentes órgãos, atividades ou pessoas delas encarregadas.
39

2.1 A prática da Inspeção escolar

Não é a ferramenta que é importante, na organização humana,


mas a energia que a move e a inteligência que a orienta.
Heloisa Luck 2007

A partir da aprovação da LDB 9394/96, os sistemas e as instituições precisaram


organizar as formas de participação da comunidade escolar. Essa organização foi expressa em
leis que estabeleciam e regulamentavam conselhos escolares, eleições de gestores, conselhos
de classe e inspeção escolar. A autogestão e a formação de gestores escolares implicaram em
uma ruptura com modelos tradicionais de gerenciamento e impuseram mudanças em âmbito
das escolas e dos sistemas de ensino. A co-responsabilização da equipe escolar na oferta de
serviços educacionais de qualidade recriou o padrão de planejamento, as formas de
organização desse espaço educativo e enfatizou a necessidade da participação coletiva de
todos os seguimentos da escola.
Essa reconstrução exigiu tempo, aperfeiçoamento contínuo e decisão política. Pode-
se identificar, nas políticas publicas para a educação, a renovação no papel do inspetor escolar
do Estado e da legislação da educação nacional, como um novo imperativo para os conceitos
e ressignificações do homem, do mundo e da sociedade para reorganizar então o espaço e o
contexto educacional.
De acordo com SYRIA (2008),
Urge ter esperança de um mundo mais humano, porque a história dos
homens e de suas instituições é feita pelos homens que fazem a vida e
constroem o seu mundo. Esperança porque esta construção – que é sua, que é
nossa – está agora, novamente, apenas começando, repleta de novos
significados. E, desta forma, a esperança é possibilidade. Possibilidade de
fazer, de continuar, de fazer acontecer. Não existe esperança sem um
horizonte, e este horizonte é o futuro que necessita ser construído por todos
nós sob a firme e sábia direção dos profissionais da educação – dignos desse
nome - que desenvolvem o ensino como um ato de libertação.
40

Para MENDONÇA, como “[...] um processo que se constrói no dia-a-dia, mediante


ação coletiva competente e responsável, realizada mediante a superação de naturais
ambigüidades, contradições e conflitos” (2000 p.25). Nessa perspectiva, a profissionalização
do inspetor escolar, a modernização dos procedimentos administrativos, a revisão das funções,
o realinhamento das decisões e a participação dos diversos segmentos da escola no seu
gerenciamento, tornaram-se o cerne do novo estilo da inspeção escolar.
Atualmente o processo de administração e organização, pressupõe a inclusão de
todos os elementos envolvidos no cotidiano escolar, onde responsabilidades e esforços são
atitudes coletivas e ativas, otimizando-se ações sociais, políticas, culturais e educativas,
propiciando-se a disseminação de reflexos positivos por toda a comunidade escolar.
Para ALVES (2003),
Mais do que qualquer outro domínio da atividade humana, a supervisão em
educação, se apresenta como um instrumento vital de controle da qualidade
do produto no que este conceito tem de mais nobre. Por outras palavras ela
deve ser entendida como o ver critico construtivo, vitalizador das ações
educativas colocadas a serviço dos indivíduos e dos grupos, tendo-se em
vista seu desenvolvimento e transformação para melhor. (p.63)

Percebe, portanto que a profissionalização e modernização de procedimentos


administrativos, referentes à nova concepção de inspeção escolar, o realinhamento de funções
e relações de trabalho e a integração de todos os participantes da escola na definição e
encaminhamento das decisões quanto ao seu gerenciamento técnico-pedagógico, tornam-se
fatores decisivos para a inspeção na concretização de uma educação escolar mais democrática.
De acordo com ALVES (2003), para “(...) garantir a eficiência do processo
educacional e a eficácia de seus resultados.” (p.63) a inspeção escolar deverá estar associada
ao compartilhamento de responsabilidades e fixação de relações de confiança, exigidas pela
crescente complexidade dos processos sócio-educacionais que surgem no cotidiano escolar.
Nesse sentido a inspeção da educação escolar surge como elo entre o possível e o real
recolocando as questões de qual homem quer formar, qual conhecimento faz-se pertinente,
qual espaço para a educação e qual sociedade temos a intenção de planificar para a dimensão
humana existir realizada de forma coletiva na escola.

2.2 Pilares da inspeção escolar: qualidade na educação em mudança


41

Na nova óptica do trabalho de inspeção escolar, a organização e norteamento das


ações de organizações educacionais, com objetivos de promover o desenvolvimento do
ensino, voltado para a formação de aprendizagens significativas e formação dos alunos lembra
a necessidade e importância de que as decisões a respeito do processo de ensino e das
condições especificas para realizá-lo sejam tomadas na própria instituição. O envolvimento
tanto de quem vai realizar a pratica como de seus usuários, na tomada de decisão constitui-se
com condição básica da gestão democrática efetividade de ações e autonomia da escola. No
entanto, essa proposição de autonomia não elimina e não deve se sobrepor a vinculação da
unidade do ensino com o sistema que a mantém, organiza e da direcionamento ao conjunto
todo, de acordo com os estatutos sociais e objetivos gerais da educação. Portanto autonomia
não é soberania e é, em conseqüência, limitada uma vez que ações mobilizadoras da energia
do conjunto só são possíveis mediante uma liderança e coordenação geral efetiva e
competente, a normatização entendida em seu espírito maior em não em sua letra menor em
associação com a necessária flexibilidade.
De acordo com SYRIA (2008),
As políticas educacionais são diretrizes ou linhas de ação que definem ou
norteiam o trabalho educacional e lhe dão sentido, e é a gestão da educação
que coloca em prática os objetivos das políticas educacionais, a fim de
concretizar as direções traçadas, como processo de coordenação da execução
de uma linha de ação que vai gerar novas políticas na interação com a
realidade. Dessa forma, pensar em políticas de formação significa
comprometer-se com as diretrizes e bases da educação nacional expressas na
Lei n. 9.394/96. A Carta Magna nacional “disciplina a educação escolar, que
se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições
próprias” (BRASIL, 1996, Art. 1º § 1º). Significa, pois, entender o imenso
valor do ensino de qualidade que deve ser desenvolvido na educação escolar
como fundamental instrumento que habilita o aluno à conquista da
cidadania. Significa entender que a nossa Carta Magna da Educação
Nacional expressa uma política de ensino que não se reduz, nem se
circunscreve ao tratamento do ensino de forma restrita, específica e isolada,
mas que prescreve todas as diretrizes e bases que possam garantir um ensino
de qualidade que prepare para o “exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho” (BRASIL, 1996, Art. 2º), tendo com base a ética.

Constata-se, portanto que, o termo inspetor escolar tem sido muitas vezes utilizado
como se correspondesse à simples substituição ao termo administração e controle. Essa
situação é observada em trabalhos que apresentam as mesmas concepções e enfoques
convencionais da administração sob a denominação de inspeção escolar e, sobretudo, a
alteração de princípios valores concepções orientações e posturas que vem ocorrendo em
42

todos os âmbitos e que contextualizam as alterações no âmbito da educação e no modo de sua


organização e liderança concluem-se que a mudança é significativa, uma vez que
paradigmática isto é caracterizada por mudanças profundas e essenciais em seu modo se ser e
de fazer mediante uma mudança de visão do conjunto todo. Destaca-se notar que a idéia de
inspeção escolar corresponde a uma mudança de paradigma, desenvolve-se associada a outras
idéias globalizantes e dinâmicas em educação como, por exemplo, o destaque a sua dimensão
política e social ação para a transformação, participação, práxis, cidadania, autonomia
pedagogia interdisciplinar, avaliação qualitativa e organização do ensino entre outras.
Para ANDRADE (2008),
(...) a escola vivencia uma realidade onde se busca vencer o desafio de
garantir o acesso e a permanência do aluno, com sucesso, bem como a
qualidade dos serviços prestados por ela, visto que a sociedade esta
cada vez mais exigente em relação à formação plena do cidadão
consciente critica e participativo, em consonância com o que pauta a
LDB 9394/96. (p.23)

Portanto o controle da qualidade da educação, como garantia de efetivação de uma


forma de cidadania tem sido “ferramenta” imprescindível para a concretização da educação.
Acompanhar nas escolas o atendimento e a aplicação das políticas públicas bem como seus
princípios previstos na LDB e na CF onde estabelecem e ou, garanti o “direito de todos” a
uma educação de qualidade é um desafio para toda a sociedade. Para ANDRADE,
proporcionar uma educação de qualidade, “implica e envolve uma pratica pedagógica
contemporânea, pois pensar um projeto de educação implica pensar o tipo e qualidade de
escola, a concepção de homem e de sociedade que se pretende construir.” (2008, p.20)

Como se pode ver a inspeção escolar como fiscalizadora já não é mais aceita.
Dimensionar o trabalho de inspeção para a construção de uma escola democrática. Propondo a
realização de um trabalho realizado em conjunto, com a participação de todos os seguimentos
da escola, de forma responsável é um desafio para todo profissional dessa área. Entretanto os
trabalhos desenvolvidos nas escolas públicas de Minas Gerais nos revelam que, nas escolas,
hoje, ainda existem inspetores burocráticos, tradicionais, que relutam em acompanhar uma
educação mais transformadora, inovadora e atualizada, porém existem muitos profissionais
que estão lutando por reciclar-se, por tornar a sua profissão e a sua pessoa, em agente
contribuidor de um mundo melhor, que se acredita conseguir através da Educação, embora a
realidade nacional aponte diversos outros problemas de diversas naturezas que interferem na
43

formação do aluno como sujeito humanizador e cidadão. É preciso, ainda, que o profissional
responsável pela ação de inspeção escolar continue buscando ressignificar sua ação e
empreenda, de forma mais atualizada, em um agir coletivo, visando à melhoria da qualidade
de “Ensino” ao aluno e uma “Escola” mais eficaz aos novos tempos.

2.3 A qualidade da escola pública e os processos de avaliação externa: uma


construção coletiva

“Se quisermos ter Educação de qualidade para todos,


precisamos ter todos pela qualidade da Educação”
(Declaração de Jomtien)

A qualidade da educação pública é um tema polêmico, mas essencial para se garantir


uma política educacional de qualidade para todos. De acordo com ALVES (1997, p.64), “sem
que a sociedade brasileira assuma a escola como uma questão fundamental, continuaremos
sem direção para o próprio sistema de produção e para o próprio sistema político”. Nessa
perspectiva, entende-se que para alcançar a qualidade, é preciso uma conscientização
compartilhada. E para compartilhar, é necessário construir redes humanas, com trabalhos
coletivos conscientes sobre o contexto educativo.

Para BEDAQUE (2007),

Nosso país está entre aqueles que mais reprovam. Segundo dados da
UNESCO e do INEP, de 1995 para 1996, o Ensino Médio reprovou 30,2%
dos alunos, um número que beira a um terço da população estudantil. Tal
porcentagem caiu de 2001 para 2002 para 20,2%, correspondendo a um
quinto da população estudantil. Já no Ensino Fundamental a porcentagem foi
de 26,7% de 1995 para 1996 e de 20,0% de 2001 para 2002. São números
absurdamente altos quando nos comparamos a outros países. Entre 107
países pesquisados na passagem de 2000 para 2001 no Ensino Fundamental,
ocupamos a incômoda 100ª posição. Enquanto reprovamos cerca de 20%, a
China reprova 1%, Cuba 1%, Alemanha 2%, Chile 2% e Argentina 6%. E
nem por isso, nossos alunos aprendem. Não sou daqueles que acredita que
haja uma relação direta entre índice de reprovação e qualidade do
aprendizado. Se fosse assim, teríamos uma educação muito mais eficiente
44
que a Alemanha e a Suíça, só para citar dois exemplos. E não é o que
acontece. Provas como o PISA (prova internacional da OCDE) e o SAEB
(INEP, Brasil) mostram que nossos estudantes não têm se saído bem. Ao
contrário, têm se saído muito mal. Se de um lado a equação “altos índices de
repetência = aprendizagem efetiva” não é verdadeira, tampouco o é a
equação “baixos índices de repetência = aprendizagem efetiva”. Não
podemos importar dos países desenvolvidos apenas a estatística favorável e
“esquecer” de cuidar da qualidade da escola. Por que não pensar em outra
equação? Algo como “escola de qualidade = aprendizagem efetiva com
baixos índices de repetência.

Assim percebe-se que, a avaliação externa da educação pública é uma política de


reflexão e debate sobre a escola pública brasileira. Foi pensada para atender as demandas dos
educadores e para ser um instrumento de apoio para quem enfrenta os desafios cotidianos da
vida escolar. É uma política de comunicação direta entre o Ministério da Educação (MEC) e a
sociedade. No início da década de 1990, o Brasil apresentava o maior índice de repetência
escolar no ensino fundamental e a menor taxa de sobrevivência de seu corpo discente. Diante
desses dados, a preocupação com a qualidade da educação toma o status de prioridade central
das políticas educacionais. Portanto, especialmente na década de 1990, a avaliação
consolidou-se como um dos elementos estruturante na elaboração e implementação de
políticas públicas como: reformas no âmbito nacional, o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (SAEB), e no âmbito estadual de Minas Gerais o Sistema Mineiro de
Avaliação da Educação Pública (SIMAVE).

Constata-se, portanto que o SAEB foi uma das primeiras iniciativas na América
Latina de conhecimento dos problemas e das deficiências do sistema educacional. Seu
principal objetivo é orientar as políticas governamentais de melhoria da qualidade do ensino.
Criado em 1990, teve seu segundo ciclo de aplicação em 1993. A partir de 1995 adquiriu um
papel central e estratégico no monitoramento do sistema educacional, ao buscar oferecer
informações para subsidiar o aperfeiçoamento de programas e projetos já em desenvolvimento
e a adoção de novas intervenções para a promoção de maior eqüidade e efetividade dos
sistemas de ensino. Além disso, passou a ser o termômetro da qualidade do aprendizado
nacional, comparando o desenvolvimento de habilidades e competências básicas entre anos e
entre as séries escolares investigadas, 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3º ano do ensino
médio.

Segundo ALVES (1997),

O Brasil é o 6º país entre os piores do mundo, em matéria de evasão escolar.


45
Apenas 39% dos que ingressam na 1ª série atinge a 5ª série. Os
companheiros recordistas em expulsão escolar (expressão que arranca esta
realidade do eufemismo usual, que é a evasão escolar) são pequenos países
africanos, alguns com recentes processos de independência política, muitos
em guerra interna e com economia absolutamente insignificante, portanto em
nada comparáveis ao Brasil. Vale a pena reconhecê-los: Guiné Bissau 20%,
Etiópia 31%%, Moçambique e Angola 34%%, Madagascar 38%%. (p.65)

Os dados produzidos pelo SAEB reiteram a constatação de que transformar a


realidade brasileira implica um sistemático e bem orientado investimento na qualidade do
ensino, considerando-se diversas dimensões, tais como as condições de funcionamento das
escolas, a capacitação e a valorização dos profissionais, o desenvolvimento de sistemas para
melhor gerenciamento das políticas educacionais, a implementação de práticas educacionais
eficientes na promoção do desenvolvimento do conhecimento em sala de aula e o
fortalecimento da cultura escolar das famílias brasileiras. O baixo rendimento dos alunos nas
escolas públicas brasileiras vem ocorrendo insistentemente há muitas décadas; hoje, porém,
esse rendimento se configura de forma inusitada. Anteriormente ele se revelava em avaliações
internas à escola, sempre concentrado na etapa inicial do ensino fundamental, traduzindo-se
em altos índices de reprovação, repetência e evasão. Hoje, o rendimento revela-se em
avaliações externas à escola. As informações obtidas nas avaliações permitiram acompanhar
a evolução da qualidade da educação ao longo dos anos no Brasil visando o desenvolvimento
do sistema educacional brasileiro e à redução das desigualdades nele existentes. No entanto, o
longo período de desatenção à universalização da educação básica e a não-priorização da
melhoria paralela da qualidade da educação, concomitante com o aumento da matrícula,
implicam, ainda, a existência de enormes desafios.

Entende-se, portanto que a melhoria da qualidade da educação pública demanda uma


atuação consistente sobre inúmeras variáveis que, apenas quando combinadas, podem surtir
efeitos duradouros na formação dos alunos para a cidadania. A necessidade do governo,
inspetores e gestores de contar com um sistema de informação confiável para enfrentar os
desafios educacionais contemporâneo, consolidaram de forma eficiente o SAEB, que, com o
diagnóstico das avaliações tem ajudado as redes de ensino a dimensionar e compreender o
problema da educação brasileira. Fomentar o debate público e sobre ele orientar a formulação
de políticas educacionais e propostas pedagógicas é o objetivo do SAEB.

“À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e


constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permite navegar através dele”.
Jaques Delors
46

3. CONCLUSÃO

Como o principal desafio para o governo de Minas Gerais é eliminar o déficit de


qualidade que se faz presente em todos os níveis de ensino de forma mais agravada no sistema
público de educação básica no ensino fundamental, respondendo assim às crescentes pressões
da sociedade e às exigências impostas pelas mudanças tecnológicas que marcam o século
XXI, este desafio ganha a sua real dimensão democratizando as oportunidades educacionais e
satisfazendo a demanda existente. As políticas educacionais em andamento parecem indicar
uma estratégia adequada para promover simultaneamente a expansão do sistema educacional
e a elevação do padrão de qualidade do ensino. Desafios e perspectivas estão sendo
enfrentados, Secretaria da educação e Superintendências regionais de ensino têm-se
esforçado, cada uma em seu nível de atuação, para oferecer às escolas públicas, no âmbito da
avaliação sistêmica, aquilo que se propôs desde a primeira experiência de avaliação que é:
subsidiar o estado na tomada de decisões relativas a políticas educacionais em favor da
equidade e da melhoria do ensino para “todos” e fornecer informações relevantes
estabelecendo o nível e o tipo de aprendizagem alcançada pelos alunos.

A qualidade da educação em Minas Gerais é hoje uma necessidade e uma


possibilidade, porque conta com o envolvimento e a participação de todas as categorias
profissionais da comunidade escolar, bem como dos inspetores dos alunos, dos pais e dos
cidadãos, e se constitui efetivamente em uma necessidade promotora de mudanças
significativas necessárias ao contexto educacional.

Neste estudo ora apresentado, conclui-se que o trabalho do profissional que atua na
área de inspeção escolar, deve estar conectado a realidade da SEE, SRE e escolas locais,
contribuindo para melhoria da qualidade dos processos de ensino e aprendizagem de forma
ampla, mostrando que é possível criar espaços de ensino e aprendizagem significativos e
inovadores cumprindo o que determina a LDB nº 9394/96 que escreve: “a educação básica
visa desenvolver no educando a formação indispensável para o exercício da cidadania”. Urge
então, traçarmos um paralelo entre a inspeção escolar e a educação. É importante tratarmos de
uma nova cultura educacional, onde as ações do inspetor escolar realizadas com determinação
47

e ousadia contribuem e ou demonstram que é possível reverter os índices de baixo


aproveitamento dos alunos apontados nas ultimas pesquisas do MEC, como o SAEB e o
SIMAVE. Apesar de 90% das crianças e dos jovens brasileiros freqüentarem a escola, os
resultados obtidos em testes de desempenho de aprendizagem são baixos e situam a educação
brasileira num dos últimos lugares no ranking internacional. Os alunos, em todos os níveis da
educação básica, não demonstram domínio da leitura, isto é não compreendem e não
interpretam o que lêem. Mudar essa realidade alarmante constituem o foco do trabalho dos
profissionais que trabalham na área de inspeção escolar em Minas.

As discussões e análises aqui propostas poderão levantar questionamentos na


sociedade educacional, pois embora a ação do inspetor escolar tenha sido criada com boa
intenção, alguns pontos deverão ser levados em consideração e esse é o grande desafio
integrar e coordenar no cotidiano escolar todos os envolvidos que são considerados agentes
transformadores e sujeitos ativos no processo de administração e organização escolar,
dividindo-se responsabilidades, conjugando-se esforços, otimizando-se procedimentos através
do planejamento, execução e comprometimento contínuo em avaliar as ações desenvolvidas
por todos, caminhando-se para a disseminação de melhorias por toda a comunidade escolar,
estabelecendo se adequadamente metas a serem alcançadas, resultando em uma inspeção
escolar consciente e eficaz que se concretiza e se efetiva através de uma verdadeira “educação
de qualidade para todos”.

Quando a gente diz: a luta continua, significa que não dá para parar.
O problema que a provoca esta aí presente. É possível e normal um desalento.
“O que não é possível é que o desalento vire desencanto e passe a imobilizar”
Paulo Freire (1991)
48

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2º Fórum Mineiro de Educação – Pólo Uberlândia – 40 ª S.R.E. Tema: A organização do


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52

ANEXO 01

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