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CARTA A CAMPINA

O que separa o passado e o presente?


Mirtes Waleska Sulpino

Lembranças. Memórias. Saudade. Ausência. Tempo... abrindo-se ao novo de um tempo para nós já an go.
Numa aula de campo do curso de História pelas ruas centrais Ah, Campina! Como tuas ruas nos falam. Teus prédios,
de Campina Grande, passado e presente se misturavam no monumentos.
asfalto das ruas, no concreto dos prédios, no bate-papo dos Alguns já quiseram te calar, negar-te tua grandiosa história,
calçadões e nas árvores floridas de setembro. Muitas minha Senhora. Curiosamente, há na Praça Clemen no
histórias, muitas Campinas. Procópio um monumento ao teu fundador, poucos nem o
Sempre vi em Campina uma cidade pronta para o futuro, sabem. Mas está lá: Teodósio de Oliveira Lêdo. Capitão-mor
negligente com seu presente em algumas situações, é bem que andou por essas bandas desbravando os sertões como
verdade e ausente do seu passado. Seus governantes foram nos conta os relatos históricos, ao mesmo tempo em que
impiedosos em guardar a sua memória, demoliram suas subtrai o fato de o mesmo ter exterminado centenas de
casas, igrejas, criou-se uma arquitetura do desenvolvimento índios por onde passou.
e do progresso, deslocando famílias, mexendo em sua Campina, cidade menina. Rainha da Borborema, terra dos
geografia. Tropeiros, Ariús e gente trabalhadora. Cidade de passagem,
Para a História, um povo sem memória está fadado a cair no que liga os sertões ao litoral. Ao teu favor, erguem-se
esquecimento, a deixar morrer o que lhe sustenta, as suas monumentos, distorcem a História, criam-se personagens
raízes, portanto, sem projeção para o crescimento cultural e para se compor um enredo, uma trama mul facetada de
intelectual de suas gentes. quem tu és.
A Cidade antes de qualquer coisa é o Patrimônio do seu povo, Em tempos de outrora, terra de Casinos, do frenesi cultural
e vice-versa; seus costumes, tradições, saberes, fazeres, de uma época dourada, homens de linho branco, moças
enfim... A Cidade precisa dialogar com o tempo, na verdade, recatadas sonhando com o amanhã. Campina dos
com as mudanças temporais que permeiam a sociedade movimentos estudan s, do Estadual da Prata, do Cine
desde que o mundo é mundo. Capitólio, dos programas de auditório da imponente Rádio
Andei por uma Campina que pouco conhecia e que na Borborema, do Treze e Campinense. Campina do Parque do
verdade, nunca nha parado para contemplar. Ouvi alguém
dizer: para quê tanta velharia? Fazendo referência aos Povo, do Zé Pereira e de Eneida Agra Maracajá. Campina tu és
prédios em es lo art decó que insistem em compor a imensa, és singular.
paisagem, relembrando os tempos áureos de uma Campina O que une teu presente a teu passado? - a utopia de ser quem
futurís ca, abrindo grandes avenidas, praças, cinemas, tu és!

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