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Esta seção apresenta uma introdução aos conceitos básicos da ciência da mudança
climática, como tempo, clima, efeito estufa, forçantes climáticas e flutuações climáticas
naturais. Em seguida, discute as principais causas e elementos das mudanças climáticas
antrópicas (causadas por seres humanos), incluindo mudanças observadas e previstas
na temperatura da superfície. A seção termina com uma breve discussão sobre a
ciência da mudança climática, sua importância e seu desenvolvimento histórico.

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É importante entender a diferença entre “tempo” e “clima”. O que está acontecendo
na atmosfera em determinado momento é considerado “tempo” (incluindo, por
exemplo, velocidade e direção do vento, precipitação, pressão barométrica,
temperatura e umidade relativa do ar). Mudanças no tempo referem-se a mudanças
no curto prazo (por exemplo, diárias, semanais, mensais). O clima é o tempo médio e
envolve períodos longos (por exemplo, 30 anos). Uma confusão comum entre tempo e
clima surge quando se pergunta aos cientistas como eles podem prever o clima daqui
a 50 anos quando não conseguem prever o tempo daqui a algumas semanas. A
natureza caótica do tempo faz com que seja imprevisível para além de alguns dias.
Projetar mudanças no clima (isto é, média do tempo no longo prazo), devido a
alterações na composição atmosférica ou outros fatores, é uma questão muito
diferente e muito mais viável. Como uma analogia, embora seja impossível prever a
idade em que determinado homem vai morrer, podemos dizer com segurança que a
idade média de morte masculina nos países industrializados é de cerca de 75 anos.
IPCC (2007). Frequently Asked Questions - What is the Relationship between Climate Change and Weather?

Informações adicionais

O IPCC define clima da seguinte forma: “O clima em sentido estrito é geralmente


definido como média do tempo ou, de forma mais rigorosa, como a descrição
estatística em termos da média e da variabilidade de quantidades relevantes durante
um período de tempo que varia de meses a milhares ou milhões de anos. O período
clássico para obter a média dessas variáveis ​é de 30 anos, tal como definido pela
Organização Meteorológica Mundial (OMM, ou WMO em inglês). As quantidades
relevantes são mais frequentemente variáveis de superfície, ​como temperatura,
precipitação e vento. Clima em um sentido mais amplo é o estado, incluindo uma
descrição estatística, do sistema climático”.
IPCC (2013). Climate Change 2013: The Physical Science Basis, Working Group I Contribution to the IPCC Fifth Assessment Report,
Glossary.

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Em um sentido mais amplo, o clima é o estado do sistema climático, que compreende a
atmosfera, a hidrosfera, a criosfera, a litosfera de superfície e a biosfera. Esses
elementos em conjunto determinam o estado e a dinâmica do clima da Terra. O
gráfico ilustra uma série de fatores naturais e humanos que têm influência sobre o
clima. Um importante mecanismo dentro do sistema climático é o efeito estufa,
explicado no slide a seguir.

IPCC (2007). Climate Change 2007: The Physical Science Basis.


As traduções do material do IPCC que constam em este curso foram realizadas pela UNESCO tentando
refletir de forma fiel a linguagem utilizada nos textos originais. Não é a tradução oficial do IPCC

Informações adicionais

A atmosfera é o envelope de gás ao redor da Terra. A hidrosfera é a parte do


sistema climático que contém: água líquida na superfície da Terra e a água
subterrânea (por exemplo, oceanos, rios, lagos etc.). A criosfera contém água em seu
estado congelado (por exemplo, geleiras, neve, gelo etc.). A litosfera é a camada
superior sólida da Terra que forma os continentes e o assoalho dos oceanos e dá o
suporte físico à atividade vulcânica que, por sua vez, influencia o clima. A biosfera
contém todos os organismos vivos e ecossistemas sobre os continentes e nos oceanos
.
Site da OMM.

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A temperatura da Terra resulta de um equilíbrio entre a energia que vem do Sol para
a Terra (radiação solar) e a energia que deixa a Terra na direção do espaço
sideral. Cerca de metade da radiação solar que atinge a Terra e sua atmosfera é
absorvida na superfície. A outra metade é absorvida pela atmosfera ou refletida de
volta para o espaço por nuvens, pequenas partículas na atmosfera, neve, gelo e
desertos localizados na superfície terrestre. Parte da energia absorvida na superfície
da Terra é irradiada de volta (ou readmitida) pela atmosfera e para o espaço
sideral sob a forma de calor (energia térmica). A temperatura que sentimos é uma
medida dessa energia térmica. Na atmosfera, nem toda a radiação térmica emitida
pela Terra atinge o espaço exterior. Parte dela é absorvida e refletida de volta para
a superfície terrestre pelas moléculas dos gases de efeito estufa (GEE) e nuvens, o que
resulta no chamado efeito estufa, com uma temperatura média global de cerca de
14°C, bem acima dos -19°C que seriam sentidos sem o efeito estufa natural. As
concentrações de alguns GEE, como dióxido de carbono (CO2), são significativamente
influenciadas por seres humanos; outros, como vapor d'água, não são.
Site da OMM.
Informações adicionais
Os dois gases mais abundantes na atmosfera, nitrogênio (78% da atmosfera seca) e
oxigênio (21%), têm quase nenhuma influênica no efeito estufa. Em vez disso, o efeito
de estufa vem de moléculas que são mais complexas e muito menos comuns. O vapor
d’água é o gás de efeito estufa mais importante, e o dióxido de carbono (CO2) é o
segundo mais importante. O metano, o óxido nitroso, o ozônio e vários outros gases
presentes na atmosfera em pequenas quantidades também contribuem para o efeito
estufa.

Frequently Asked Questions – What is the Greenhouse Effect? of the IPCC Report Climate Change
2007: The Physical Science Basis

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Você sabe como o efeito estufa mantém a temperatura da superfície da Terra? Esse
vídeo do Observatório da Terra, da Nasa (Nasa’s Earth Observatory), explica isso de
maneira gráfica.

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O efeito estufa natural é parte de um sistema equilibrado de transferência e
transformação de energia na atmosfera, na superfície terrestre e nos oceanos. O
clima da Terra permanece em grande parte estável, porque a energia recebida é
igual à perdida (o balanço de energia é equilibrado). No entanto, existem fatores
que causam grandes mudanças no sistema climático. Como esses fatores induzem ou
“forçam” o sistema a mudar, são chamados de "forçantes”. A mudança de fluxos de
energia causados ​por esses vetores são quantificados na forma de forçamento
radiativo (FR). O FR positivo leva ao aquecimento da superfície, o FR negativo leva ao
resfriamento da superfície.

Durante o último milênio, mudanças na produção de energia do sol, erupções


vulcânicas e o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera foram
as forçantes mais importantes. O forçamento radiativo total tem sido positivo, o que
levou a uma captação de energia pelo sistema climático. O gráfico mostra que o
aumento da concentração atmosférica de CO2 desde 1750 é o fator que mais
contribuiu para o forçamento radiativo total.

IPCC (2013). Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers, p. 11.

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Mudanças no sistema climático resultantes de forçantes climáticas não devem ser
confundidas com variações climáticas naturais. Na verdade, mesmo em um período
relativamente estável, os sistemas que compõem e influenciam o clima global flutuam
naturalmente. Essas variações ou “oscilações”, como são chamadas frequentemente
(porque elas oscilam entre dois estados principais) podem ter um grande efeito sobre
o clima, tanto em nível local quanto em escala global. Exemplos disso são os
fenômenos El Niño, La Niña e El Niño a Oscilação Sul (ENOS). A ENOS é um padrão
climático que ocorre aproximadamente a cada cinco anos, no Oceano Pacífico
tropical. O El Niño (espanhol para menino) descreve um extenso aquecimento da
superfície do oceano em todo o Pacífico equatorial central e oriental, com duração de
três ou mais estações (ver área vermelha perto do equador no globo à esquerda).
Quando essa região oceânica muda para temperaturas abaixo do normal, ela é
chamada La Niña (espanhol para menina, ver área azul perto do equador no globo à
direita).
Site da OMM.

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Desde o início do século XX, os cientistas têm observado uma mudança no clima que
não pode ser atribuída apenas a uma das influências “naturais” do passado. Essa
mudança no clima, também conhecida como aquecimento global, ocorreu mais
rapidamente do que qualquer outra mudança do clima registrada por seres humanos.
A principal causa do aquecimento global é o aumento da concentração de gases de
efeito estufa na atmosfera desde a Revolução Industrial, no final do século XVIII. O
aumento da quantidade de gases que absorvem e re-emitem a radiação térmica
resulta em mais calor retido na atmosfera e, assim, em um aumento da temperatura
média global da superfície terrestre. O aumento da temperatura também leva a
outros efeitos sobre o sistema climático. Juntos, esses efeitos são conhecidos como
mudanças climáticas antrópicas (causadas por seres humanos).
Site da OMM.
Informações adicionais
Adicionar maior quantidade de um gás de efeito estufa na atmosfera, como CO2,
intensifica o efeito estufa e, assim, aquece o clima da Terra. A quantidade de
aquecimento depende de vários mecanismos de retroalimentação. Por exemplo, à
medida que a atmosfera aquece devido ao aumento dos níveis de gases de efeito
estufa, a concentração de vapor d'água atmosférico aumenta, o que intensifica ainda
mais o efeito estufa. Isso, por sua vez, causa mais aquecimento, o que provoca um
aumento adicional de vapor d'água, em um ciclo de autorreforço. Essa
retroalimentação do vapor d'água pode ser forte o suficiente para praticamente
dobrar o aumento do efeito estufa devido ao CO2 adicional.

IPCC (2007). Frequently Asked Questions – What is the Greenhouse Effect?

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Este diagrama indica a mudança observada na temperatura media da superfície
terrestre entre 1901 e 2012. Isso mostra que quase todo o globo sofreu um
aquecimento da superfície.

De acordo com o IPCC, a temperatura média da superfície global aumentou 0,85oC


durante o período de 1880-2012.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers (pagina 4)

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Os cientistas não apenas observam mudanças passadas no clima, mas também tentam
analisar possíveis mudanças futuras. Para esse fim, desenvolveram uma série de
ferramentas. Assim como um arquiteto pode construir um modelo em escala de um
edifício para compreender e prever o comportamento da construção, também os
cientistas do clima podem construir um modelo computadorizado do sistema climático
para compreender e prever seu comportamento. Uma das entradas para um modelo
climático são cenários de emissões, que estimam futuros lançamentos de gases de efeito
estufa e aerossóis para a atmosfera com base em premissas relativas, por exemplo,
aos desenvolvimentos socioeconômicos e tecnológicos futuros. As saídas de um modelo
climático alimentam uma projeção climática, ou seja, uma resposta simulada do sistema
climático a determinado cenário de emissões. Essa dependência de cenários de
emissões diferencia projeções climáticas de previsões climáticas que se baseiam em
condições conhecidas no presente e em suposições sobre os processos físicos que irão
determinar alterações futuras.
Site da OMM.

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Esta figura ilustra a mudança prevista (ou seja, futura) na temperatura média da
superfície para dois cenários diferentes. As projeções são para o final do século XXI
(2081-2100) e são dadas em relação a média do período 1986-2005. A projeção à
esquerda baseia-se em um cenário com emissões relativamente limitadas de gás de
efeito estufa (RCP 2,6), ao passo que a projeção à direita se baseia em um cenário
com emissões de gases de efeito estufa muito elevadas (RCP 8,5). O RCP 2,6 projeta
um aumento de 0,3°C a 1,7°C na temperatura média da superfície em comparação
aos tempos pré-industriais, ao passo que o RCP 8,5 projeta um aumento de 2,6°C a
4,8°C em 2081-2100.

IPCC (2013). Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers.

Informações adicionais

Projeções de mudanças no sistema climático são baseadas em uma hierarquia de


modelos climáticos que variam de modelos climáticos simples, passando por modelos
complexos intermediários, até modelos climáticos abrangentes, bem como modelos do
sistema da Terra. Com base em um conjunto de cenários de forçantes antrópicas, os
módulos simulam mudanças. Os Caminhos Representativos de Concentração
(Representative Concentration Pathways – RCPs) são um novo conjunto de cenários
utilizados para o 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre
Mudança do Clima (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC).

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A mudança climática tem impacto sobre quase todos os aspectos de nossas vidas.
Nossos ecossistemas sofrem perda de biodiversidade e de hábitat, e sistemas
humanos, como a saúde, serão impactados negativamente, por exemplo, pela
propagação de vetores de doenças, como mosquitos. A mudança climática também no
desafia a repensar nossos sistemas urbanos (incluindo transportes e edifícios) e a
forma como fazemos negócios (incluindo oportunidades de negócios “verdes”). Os
impactos da mudança climática também podem resultar em conflitos ou forçar as
pessoas a migrar (por exemplo, de áreas costeiras de baixa altitude).

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Em todo o mundo, cientistas tentam entender melhor como o clima está mudando, que
mudanças podemos esperar no futuro e qual o papel das atividades humanas.
Embora haja um debate sobre a probabilidade de determinadas mudanças
acontecerem e os mecanismos de suas causas, há um amplo consenso científico de que
(1) o aquecimento do sistema climático é inequívoco e (2) que a influência humana
sobre o sistema climático é clara.

IPCC (2013). Climate Change 2013: The Physical Science Basis – Summary for Policymakers.

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A ciência da mudança climática fornece informações importantes para a tomada de
decisão em vários níveis. Por exemplo, dados e previsões meteorológicas podem nos
ajudar a determinar o melhor momento de realizar uma colheita. Também podem nos
ajudar a planejar adequadamente respostas a emergências, em caso de perigos
relacionados com o clima, como ciclones. Os modelos climáticos ajudam a prever
cenários climáticos de longo prazo e são importantes para o planejamento pró-ativo.

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Já em 1824, o físico francês Joseph Fourier foi o primeiro a descrever o "efeito
estufa" natural da Terra. Em 1861, o físico irlandês John Tyndall mostrou que CO2 e
H2O podem causar alterações no clima. Em 1895, o químico sueco Svante Arrhenius
concluiu que a queima de carvão na era industrial iria aumentar o efeito estufa
natural. Em 1938, o engenheiro britânico Guy Callendar demonstrou que as
temperaturas haviam aumentado ao longo do século anterior, devido ao aumento das
concentrações de CO2. O "efeito Callendar" foi amplamente rejeitado. Em 1958, o
geoquímico Charles David Keeling foi contratado para monitorar continuamente os
níveis de CO2 na atmosfera, com aumento visível na Antártida após apenas dois anos.
Durante a década de 1970, outros gases de efeito estufa – CH4, N2O e CFCs –
foram amplamente reconhecidos como importantes gases de efeito estufa antrópicos
e, em 1979, a Primeira Conferência Mundial do Clima foi realizada em Genebra, o
que levou à criação do Programa Mundial do Clima. Em 1988, o Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (Intergovernmental Panel on Climate
Change – IPCC) foi criado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM, ou
WMO em inglês) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA, ou UNEP em inglês). Em 1990, o IPCC apresentou o Primeiro Relatório de
Avaliação sobre o estado da mudança climática, prevendo um aumento de 0,3°C por
década no século XXI.

IPCC (2007). Fourth Assessment Report, Chapter One - Historical Overview of Climate Change Science.
Zillman, J. (2009). A History of Climate Activities.
Knight, M. for CNN (2008). A Timeline of Climate Change Science.
BBC Website.

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Esta seção discute o principal vetor antrópico da mudança climática, ou seja, o
aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. A seção começa
com uma visão geral dos mais importantes gases de efeito estufa emitidos pelos seres
humanos. Em seguida, discute cada gás de forma mais aprofundada, examinando (1)
qual a importância do gás em termos de aquecimento global e (2) como sua
concentração na atmosfera evoluiu ao longo do tempo. A seção termina com um
gráfico que apresenta a extensão da influência humana no sistema climático.

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O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) produziu um vídeo com
base na ciência física da mudança climática. Ele analisa as evidências de como o
clima mudou no passado e no presente, quais são as causas dessas mudanças, bem
como os possíveis cenários futuros.

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Gases de efeito estufa (GEE) são gases-traço na atmosfera que absorvem e emitem radiação de onda
longa. Eles cobrem a Terra naturalmente e a mantém cerca de 33°C mais quente do que seria sem
esses gases na atmosfera. A tabela apresenta os sete gases de efeito estufa mais importantes,
conforme previsto no Protocolo de Quioto. Cada um dos sete gases tem uma capacidade diferente de
reter calor na atmosfera, o chamado “potencial de aquecimento global“ (global warming potential –
GWP). Todos pertencem ao grupo de gases de efeito estufa de longa vida (long-lived greenhouse
gases – LLGHGs) porque são quimicamente estáveis ​e persistem na atmosfera por escalas de tempo de
uma década a séculos ou mais, de modo que sua emissão tem uma influência a longo prazo sobre o
clima. Alguns dos GEEs ocorrem naturalmente (por exemplo, CO2, CH4 e N2O), mas suas concentrações
atmosféricas aumentaram ao longo dos últimos 250 anos, em grande parte devido às atividades
humanas. Outros gases de efeito estufa são inteiramente o resultado de atividades humanas (por
exemplo, HFC, PFC, SF6 e NF3).

IPCC (2007). Fourth Assessment Report, Technical Summary – Changes in Human and Natural Drivers of Climate.

Informações adicionais
Protocolo de Quioto: o Protocolo de Quioto estabelece objetivos legalmente vinculativos para que os
países desenvolvidos limitem ou reduzam suas emissões de GEE. Foi adotado em 1997 e entrou em
vigor em 2005. O vapor d'água é o mais importante gás de efeito estufa, mas, como não é produzido
por seres humanos em quantidade significativa, não temos controle sobre sua concentração na
atmosfera. Portanto, não é regulado pelo Protocolo de Quioto.
Potencial de aquecimento global: o dióxido de carbono é a unidade de referência com a qual todos
os outros gases de efeito estufa são comparados e, portanto, tem um GWP de exatamente “1”. Um
GWP (potencial de aquecimento global) é calculado ao longo de um intervalo de tempo específico
(geralmente 20, 100 ou 500 anos), porque alguns gases permanecem por mais tempo na atmosfera do
que outros. Por exemplo, o GWP de 100 anos de metano é 25, o que significa que, se a mesma massa
de metano e de dióxido de carbono fosse introduzida na atmosfera, o metano iria reter 25 vezes mais
calor do que o dióxido de carbono ao longo dos próximos 100 anos.

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O GEE antrópico mais importante é o dióxido de carbono (CO2). É responsável por
cerca de 64% do total de forçamento radiativo devido aos gases de efeito estufa de
longa vida (LLGHGs). O dióxido de carbono não tem um tempo de vida específico,
pois integra um ciclo contínuo entre a atmosfera, os oceanos e a biosfera terrestre, e
sua remoção líquida da atmosfera envolve uma série de processos com diferentes
escalas de tempo. O CO2 é emitido principalmente como resultado da queima de
combustíveis fósseis, desmatamento, degradação florestal e produção de ferro e aço.
Oceanos e florestas são os principais sequestradores de carbono, ou seja, sumidouros
que podem absorver CO2 da atmosfera. O dióxido de carbono é o gás com o qual
todos os outros gases são comparados quando se fala de potencial de aquecimento
global (GWP). Emissões de outros gases de efeito estufa podem ser convertidas em
emissões equivalentes a CO2.

IPCC (2007). Fourth Assessment Report, Technical Summary – Changes in Human and Natural Drivers of
Climate.
WMO (2013). Greenhouse Gas Bulletin.

Informações adicionais

A contribuição de cada gás de efeito de estufa para o forçamento radiativo é


determinada pelo seu potencial de aquecimento global e as mudanças em sua
concentração na atmosfera ao longo do tempo.

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Os níveis de CO2 na atmosfera têm aumentado de forma constante ao longo dos
últimos 200 anos. Isto se deve ao aumento da utilização de combustíveis fósseis, bem
como a um aumento no desmatamento, ambos eventos que liberam grandes
quantidades de CO2 para a atmosfera. Acredita-se que a concentração atual de CO2
é a mais elevada dos últimos 800.000 anos. As concentrações de CO2 aumentaram
cerca de 100 ppm (partes por milhão) desde a Revolução Industrial e ultrapassaram o
limite simbólico de 400 ppm em várias estações de observação da atmosfera ao
longo de 2012. A Figura (a) mostra o aumento das concentrações de CO2 entre 1984
e 2012. A Figura (b) mostra a taxa de crescimento anual das concentrações de CO2
durante o mesmo período de tempo.

WMO (2013). Greenhouse Gas Bulletin, p. 3.


WMO (2013). Greenhouse Gas Concentrations in Atmosphere Reach New Record.

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O segundo GEE antrópico mais significativo é o metano (CH4), que contribui para
aproximadamente 18% do total de forçamento radiativo por GEEs de longa vida.
Aproximadamente 40% do metano é emitido para a atmosfera por fontes naturais
(por exemplo, zonas úmidas e cupins). Cerca de 60% vem de atividades humanas (por
exemplo, pecuária, cultivo de arroz, exploração de combustíveis fósseis, aterros
sanitários e queima de biomassa). O metano é, em grande parte, removido da
atmosfera por meio de reações químicas e persiste por cerca de 12 anos. Assim,
embora o metano seja um importante gás de efeito estufa, a duração de seu efeito é
relativamente curta.

IPCC (2007). Fourth Assessment Report, Working Group I - The Physical Science Basis.
WMO (2013). Greenhouse Gas Bulletin, p. 3.
WMO (2013). Greenhouse Gas Concentrations in Atmosphere Reach New Record.

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Este slide mostra a concentração atmosférica de metano entre 1984 e 2012 na Figura
(a), enquanto a Figura (b) mostra a média anual da taxa de crescimento. A
concentração de CH4 mais do que dobrou desde os tempos pré-industriais (de cerca
de 700 partes por bilhão [ppb], em 1750, para 1.819 ppb em 2012). Desde 2007,
o metano atmosférico tem aumentado novamente após um período estacionado.

WMO (2013). Greenhouse Gas Bulletin, p. 3.


WMO (2013). Greenhouse Gas Concentrations in Atmosphere Reach New Record.

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O carbono em suas várias formas (como CO2 e CH4) é continuamente reciclado na
Terra e nunca é destruído. O diagrama ilustra as muitas formas pelas quais o carbono
é liberado e acumulado no ambiente. O carbono pode ser armazenado durante
períodos relativamente curtos em organismos vivos (ou seja, plantas e animais) ou ao
longo de milhares de anos nos oceanos. Ele também pode ser armazenado ao longo
de milhões de anos em rochas ou fósseis. O diagrama mostra, ainda, como os seres
humanos têm afetado o ciclo do carbono. Antes de os seres humanos
usarem ​combustíveis fósseis para energia, o ciclo do carbono era relativamente
equilibrado (isto é, a quantidade total de carbono na atmosfera permaneceu
constante). Ao remover o carbono do armazenamento subterrâneo de longo prazo
(petróleo, gás etc.) e o lançar para a atmosfera, os seres humanos alteraram o
equilíbrio do ciclo do carbono, o que, por sua vez, afetou o clima global. A remoção
de carbono armazenado por meio do desmatamento também agrava ainda mais esse
processo.

UNEP (2009). Climate in Peril, p. 14.

26
O óxido nitroso é o terceiro GEE mais significativo e contribui para cerca de 6% do
forçamento radiativo devido aos LLGHGs. As fontes humanas primárias de N2O são a
produção de fertilizantes e seu uso na agricultura e em diversos processos industriais.
Estima-se que o N2O permaneça na atmosfera por cerca de 114 anos. Seu impacto
sobre o clima, ao longo de um período de 100 anos, é 298 vezes maior do que o da
emissão equivalente de dióxido de carbono. Ele também desempenha um papel
importante na destruição da camada de ozônio estratosférico que nos protege dos
raios ultravioletas nocivos do sol.

IPCC (2007). Fourth Assessment Report, Working Group I - The Physical Science Basis.
WMO (2013). Greenhouse Gas Bulletin, p. 3.
WMO (2013). Greenhouse Gas Concentrations in Atmosphere Reach New Record.

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A concentração de N2O tem aumentado ao longo dos últimos 30 anos. Sua
concentração atmosférica em 2012 era de cerca de 325,1 partes por bilhão (ppb), o
que representa 20% a mais do que o nível pré-industrial (de 270 ppb).

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Os gases fluorados são uma família de gases feitos pelo ser humano usados ​em uma
série de aplicações industriais. Fontes incluem fluidos refrigerantes, ares-
condicionados, solventes, produção de alumínio e magnésio etc. Muitos gases fluorados
têm potencial de aquecimento global (GWP) muito alto em relação a outros gases de
efeito estufa. Isso significa que pequenas concentrações atmosféricas podem ter
grandes efeitos sobre as temperaturas globais. Eles também podem ter tempos de
vida longos na atmosfera, com duração, em alguns casos, de milhares de anos. Os
gases fluorados são removidos da atmosfera apenas quando são destruídos pela luz
solar na camada mais alta da atmosfera. Em geral, os gases fluorados são o tipo mais
potente e mais duradouro de gases de efeito estufa emitidos por atividades humanas.
Existem três categorias principais de gases fluorados: hidrofluorocarbonetos (HFCs),
perfluorocarbonetos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6).
Site EPA.
Informações adicionais
Hidrofluorocarbonetos (HFCs) são o grupo mais comum de F-gases. Eles são usados ​em
vários setores e aplicações, como fluidos refrigerantes em equipamentos de
refrigeração, ar-condicionado e bombas de calor; como agentes de dispersão para
espumas; como solventes; assim como em extintores de incêndio e aerossóis.
Perfluorocarbonetos (PFCs) são normalmente utilizados no setor de eletrônicos (por
exemplo, para a limpeza de plasma de bolachas de silício), bem como na indústria
cosmética e farmacêutica. No passado, os PFCs também foram usados ​em extintores
de incêndio e ainda podem ser encontrados em sistemas de proteção contra incêndios
mais antigos. O hexafluoreto de enxofre (SF6) é utilizado principalmente como gás
isolante em comutadores de alta tensão e na produção de magnésio e alumínio.
Site EC.

29
Alguns gases de efeito estufa não foram incluídos no Protocolo de Quioto porque já
são regulamentados pelo Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a
Camada de Ozônio, que entrou em vigor em 1989. O Protocolo de Montreal inclui,
por exemplo, clorofluorocarbonetos (CFCs), que contribuem com cerca de 12% para o
total de forçamento radiativo por GEEs de longa vida. Os CFCs podem permanecer
na atmosfera por mais de 1.000 anos. Os CFCs têm um potencial de aquecimento
global (GWP) que varia de 4.750 a 14.400 (intervalo de tempo de 100 anos). Os
CFCs são usados ​na fabricação de aerossóis, agentes de dispersão para espumas e
materiais de embalagem, como solventes e como fluidos refrigerantes.

Site NOAA.
IPCC (2007). Fourth Assessment Report, Working Group I - The Physical Science Basis.
WMO (2013). Greenhouse Gas Bulletin.

30
Este slide mostra a evolução das concentrações atmosféricas de hexafluoreto de
enxofre (SF6) (gráfico à esquerda) e diversos CFCs e gases fluorados (gráfico à
direita). As concentrações de CFCs, que são controlados pelo Protocolo de Montreal,
estão em declínio. No entanto, os hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs) e
hidrofluorcarbonetos (HFC), que também são potentes gases de efeito estufa, estão
aumentando a taxas relativamente rápidas.

WMO (2013). Greenhouse Gas Bulletin.

31
Esta figura ilustra o importante impacto das atividades humanas sobre o clima. Ela mostra a
contribuição de diferentes fatores antrópicos e naturais para o aumento de temperatura
observado de cerca de 0,6°C desde 1951 (barra preta). O gráfico mostra que gases de
efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso (barra verde) são as
principais causas da alteração da temperatura observada. A barra amarela mostra a
influência dos aerossóis (partículas minúsculas encontrados na atmosfera) que têm um efeito
forçante negativo (refrigeração) sobre o clima. Na verdade, os aerossóis e sua interação com
as nuvens compensam parte substancial do forçamento radiativo positivo por GEEs. Aerossóis
atmosféricos não devem ser confundidos com sprays de aerossol que, muitas vezes, contêm
gases de efeito estufa e, portanto, têm um efeito forçante radiativo positivo.

No geral, a atividade humana levou ao forçamento radiativo positivo (aquecimento global),


como indicado pela barra laranja. O forçamento radiativo devido a mudanças na produção
de energia do sol e erupções vulcânicas teve um papel menor no período de referência.
IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – pages 03 – 04

Informações adicionais
Aerossóis atmosféricos são capazes de alterar o clima em dois aspectos importantes:
• eles dispersam e absorvem a radiação solar e infravermelha; e
• eles podem mudar as propriedades microfísicas e químicas das nuvens e, possivelmente,
sua vida e sua extensão.
A dispersão da radiação solar atua para resfriar o planeta, enquanto a absorção da
radiação solar por aerossóis aquece o ar diretamente em vez de permitir que a luz solar seja
absorvida pela superfície da Terra. O forçamento radiativo total de todos os tipos de
aerossóis é negativo. Aerossóis também causam um forçamento radiativo negativo
indiretamente por meio das mudanças que causam nas propriedades das nuvens.
Site da OMM

32
Esta seção descreve algumas das principais mudanças observadas no clima desde a
Revolução Industrial. Ela examina mudanças na temperatura da superfície, nos níveis
de precipitação, no aquecimento e na acidificação dos oceanos, no aumento do nível
do mar, na extensão do gelo do Mar Ártico, bem como mudanças observadas nos
sistemas físicos e biológicos. A seção é concluída com uma discussão sobre se o recente
aumento dos eventos climáticos extremos (como ciclones e inundações) pode ser
atribuído a mudanças climáticas antrópicas.

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Esta figura ilustra como a temperatura média da terra e da superfície do oceano
mudou entre 1850 e 2012. A temperatura média anual sempre variou, com
alternância de períodos frios e quentes. No entanto, é evidente que cada uma das
últimas três décadas foi sucessivamente mais quente na superfície terrestre do que em
qualquer década anterior desde 1850.

O aumento de temperatura é generalizado em todo o mundo, mas há variações


regionais importantes. O aquecimento foi mais acentuado nas regiões polares
setentrionais.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – pages 03
- 04

34
As observações mostram que têm ocorrido mudanças na quantidade, na intensidade,
na frequência e no tipo de precipitação. Esses aspectos de precipitação geralmente
apresentam grande variabilidade natural, e o El Niño e outras flutuações climáticas
naturais têm uma influência substancial. Ao longo do século passado, no entanto, foram
observadas tendências pronunciadas de longo prazo na quantidade de precipitação:
significativamente mais úmido no leste da América do Norte e da América do Sul,
norte da Europa e norte e centro da Ásia; mas mais seco no Sahel, no sul da África, no
Mediterrâneo e no sul da Ásia. Além disso, foram observados aumentos de eventos de
alta precipitação em toda parte, mesmo em lugares onde as quantidades totais
diminuíram. Os dois mapas mostram a mudança de precipitação observada de 1901
a 2010 e de 1951 a 2010.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 03

35
O aquecimento dos oceanos determina o aumento da energia armazenada no sistema
climático. Os oceanos representam mais de 90% da energia acumulada entre 1971 e
2010. Mais de 60% do aumento líquido de energia é armazenado na parte superior
do oceano (entre 0 e 700 metros) e cerca de 30% é armazenado no oceano abaixo
de 700 metros. O aquecimento dos oceanos é maior perto da superfície: os 75 metros
superiores tiveram um aumento de 0,11°C por década durante o período de 1971-
2010.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 8

36
Cerca de 30% das emissões antrópicas de CO2 foram absorvidas pelos oceanos. Isso
leva à acidificação dos oceanos. A curva verde na figura mostra a redução do pH
das águas superficiais do oceano desde o final dos anos 1980. De acordo com o
IPCC, o pH das águas superficiais do oceano diminuiu em 0,1 desde o início da era
industrial.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 10

37
A taxa de aumento do nível do mar desde meados do século XIX foi maior do que a
taxa média durante os dois milênios anteriores. Ao longo do século passado, o nível
médio global do mar aumentou 0,19 metros. Juntas, a perda de massa de geleiras e
a expansão térmica oceânica devidas ao aquecimento respondem por cerca de 75%
do aumento do nível médio global do mar observado desde o início da década de
1970.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 08

38
Ao longo das duas últimas décadas, a Groenlândia e as geleiras da Antártida têm
perdido massa, as geleiras continuaram a encolher em quase todo o mundo, e o gelo
do Mar Ártico continuou a diminuir em extensão. O gráfico ilustra a diminuição da
extensão do gelo marinho no Ártico no verão entre 1900 e 2010. A extensão espacial
diminuiu em cada estação desde 1979.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 07.

39
Este slide mostra uma série de mudanças que têm sido observadas em sistemas físicos
(azul) e biológicos (verde), entre 1970 e 2004. Mudanças biológicas incluem, por
exemplo, a perda de espécies e alterações em ecossistemas. As alterações físicas
incluem, por exemplo, mudanças na cobertura de neve, assim como mudanças na
densidade/cobertura e escoamento das geleiras. As porcentagens associadas às
observações indicam quantas das alterações relatadas se devem ao aquecimento do
ambiente.

UNEP (2009). Climate in Peril.

40
Sempre que um episódio de clima extremo – onda de calor, inundação, seca etc. –
vira manchete, muitas pessoas tendem a culpar a mudança climática induzida pelo ser
humano. Contudo, que evidências científicas existem para usar o aquecimento global
como explicação para eventos extremos individuais, como um ciclone? Em primeiro
lugar, determinar se um único evento extremo específico se deve a uma causa
específica, como o aumento de gases de efeito estufa, é difícil, se não impossível, por
duas razões: 1) eventos climáticos extremos são causadas por uma combinação de
fatores e 2) uma ampla gama de eventos extremos é uma ocorrência normal, mesmo
em um clima que não está em mudança.

Ao mesmo tempo, as observações mostraram grande aumento no número de furacões


fortes em todo o planeta desde 1970. Especificamente, o número de furacões fortes
aumentou cerca de 75% desde 1970. O IPCC aponta que uma tendência a
tempestades de maior duração e maior intensidade está estreitamente correlacionada
com a temperatura da superfície do mar tropical. Isso pode ser uma indicação de um
nexo de causalidade entre o aquecimento global e a capacidade de destruição do
furacão. No entanto, a alta variabilidade em tempestades e furacões tropicais ao
longo de várias décadas e a falta de observação sistemática de alta qualidade
antes das observações por satélite dificultam a detecção de tendências de longo
prazo.

IPCC (2007). Frequently Asked Questions – Has There Been a Change in Extreme Events?
UNEP (2009). Climate in Peril.
Site da OMM.

41
Esta seção apresenta as projeções de tendências futuras e os impactos previstos da
mudança climática sobre a temperatura da superfície, a precipitação, o pH do
oceano, o nível do mar e a extensão do gelo marinho Ártico. A extensão desses
impactos depende de como os níveis de emissões antrópicas irão evoluir ao longo das
próximas décadas. Portanto, a seção apresenta impactos em um cenário de baixa
emissão, bem como em um cenário de alta emissão. A seção termina com uma
discussão sobre emissões cumulativas de CO2, e o significado de diferentes
quantidades de emissões de CO2 para o clima futuro.

42
Para o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, a comunidade científica definiu um
conjunto de quatro novos cenários, denominados caminhos representativos de
concentração (representative concentration pathways – RCPs). Esses quatro RCPs incluem
um cenário de mitigação que leva a um nível de forçante muito baixo (RCP 2,6), dois
cenários de estabilização (RCP 4,5 e RCP 6), e um cenário com emissões de gases de
efeito estufa muito elevadas (RCP 8,5). Os RCPs podem, portanto, representar uma
gama de políticas climáticas do século XXI, em comparação com a ausência de
políticas climáticas do Relatório Especial sobre Cenários de Emissões (Special Report on
Emissions Scenarios – SRES) utilizado no Terceiro e no Quarto Relatório de Avaliação.

IPCC (2013). Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers.

43
Ao final do século XXI, a mudança na temperatura da superfície global
provavelmente será superior a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais para todos
os cenários RCP, exceto o RCP 2,6. É provável que ultrapasse 2°C para o RCP 6,0 e o
RCP 8,5. Desde o Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC, aumentou a confiança de
que um aumento de 1,5°C-2,5°C da temperatura média global acima dos níveis pré-
industriais apresenta riscos significativos para muitos sistemas únicos e ameaçados,
incluindo muitos hotspots de biodiversidade. Aproximadamente 20%-30% das
espécies estarão em maior risco de extinção se o aquecimento global médio for
superior a 1,5°C-2,5°C. Em termos de segurança alimentar e saúde humana, a
produtividade das culturas de cereais em latitudes baixas diminuiria e a distribuição
de alguns vetores de doenças (como os mosquitos que transmitem a malária) pode
mudar.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 19.

44
O IPCC projeta que, durante o século XXI, o contraste na precipitação entre as regiões
úmidas e secas e entre estações chuvosas e secas irá aumentar. Isso significa que o
aquecimento global aumenta os riscos de secas e enchentes. Especificamente, é muito
provável que eventos extremos de precipitação se tornem mais intensos e mais frequentes na
maior parte das massas terrestres de latitudes médias e em regiões tropicais úmidas.
Os dois mapas ilustram mudanças projetadas na precipitação média anual para o final do
século XXI sob diferentes cenários. Sob um cenário de baixa emissão (RCP 2,6 – mapa à
esquerda) mudanças na precipitação média anual não excederão 20% em relação aos níveis
de 1986-2005. No entanto, no cenário RCP 8,5 (mapa à direita) mudanças significativas na
precipitação anual são esperadas. Nas latitudes elevadas e no Oceano Pacífico equatorial
haverá um aumento da precipitação média anual, enquanto em muitas regiões secas de
média latitude e subtropicais a precipitação média irá diminuir.
IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 18.

Informações adicionais
Como a mudança climática, várias influências diretas alteram a intensidade, a
frequência e o tipo de precipitação. O aquecimento acelera a perda de água pela
superfície do solo e aumenta o potencial de incidência e severidade das secas, o que
tem sido observado em muitos locais no mundo inteiro. No entanto, uma lei da física
bem estabelecida (a relação de Clausius-Clapeyron) determina que a capacidade de
retenção de água da atmosfera aumenta em cerca de 7% para cada aumento de
1°C na temperatura. Como a precipitação vem principalmente de sistemas climáticos
que se alimentam do vapor d'água armazenado na atmosfera, isso aumentou a
intensidade da precipitação e o risco de tempestades e nevascas de maneira geral.

45
Ao combiner dados de diversos modelos climáticos utilizados pelo IPCC, este vídeo
mostra as mudanças esperadas na temperatura e precipitação para o século XXI.

46
Atualmente, o pH médio da superfície oceânica é de cerca de 8,1. As projeções
apontam para o aumento da acidificação dos oceanos neste século devido ao
aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera. Sob um cenário de
baixa emissão (RCP 2,6 – mapa à esquerda), a acidificação dos oceanos será
relativamente limitada. No entanto, no cenário RCP 8,5 (mapa à direita), pode-se
esperar uma redução na média global de pH na superfície oceânica entre 0,30 e
0,32 unidades. Essa acidificação progressiva irá prejudicar criaturas marinhas com
estrutura calcária externa (por exemplo, corais) e as espécies que dependem delas.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 25.

UNEP (2009). Climate in Peril, p. 30.

47
O nível médio do mar vai continuar a subir globalmente durante o século XXI (ver
gráfico). O aumento projetado varia de 0,26 m a 0,98 m, dependendo do cenário.
Em todos os cenários RCP, a taxa de aumento do nível do mar será superior à
observada entre 1971 e 2010, devido à intensificação do aquecimento do oceano e
à intensificação da perda de glaciares.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 24.

48
Durante o século XXI, a cobertura de gelo do Mar Ártico continuará a encolher e
perder espessura à medida que aumenta a temperatura média global da superfície.
No cenário RCP 8.5, é provável que, antes de meados do século, o Oceano Ártico
fique quase sem gelo no mês de setembro.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers – Page 23.

49
A África é um dos continentes mais vulneráveis ​à mudança climática. A maior parte da
África terá menos precipitação, com apenas a região centro-leste tendo um aumento.
Até 2080, projeta-se um aumento de 5% a 8% das terras áridas e semi-áridas, sob
diversos cenários. Já em 2020, entre 75 milhões e 250 milhões de pessoas ficarão
expostas ao aumento do estresse hídrico devido à mudança climática. Estima-se que a
produção agrícola, incluindo o acesso à alimentação, será severamente
comprometida. Em alguns países, a produção agrícola que depende de chuvas pode
cair até 50%. O aumento do nível do mar afetará grandes cidades em áreas
costeiras de baixa altitude, como Alexandria, Cairo, Lomé, Cotonou, Lagos e Maçuá.

UNEP (2009). A Climate in Peril.


IPCC Report Climate Change 2007: Synthesis Report page 11.

50
Este slide detalha alguns dos impactos da mudança climática projetada para a região
asiática. A cor azul claro indica regiões de permafrost que estão em risco de
descongelamento. O derretimento das geleiras irá aumentar as inundações e as
avalanches de pedras, além de afetar os recursos hídricos no Tibete, na Índia e em
Bangladesh, causando redução na vazão dos rios e na disponibilidade de água doce
à medida que as geleiras recuam. Mais de um bilhão de pessoas podem sofrer
escassez de água até 2050. No Sudeste da Ásia, as regiões fortemente povoadas
dos megadeltas, em especial, ficarão expostas ao risco de inundações. Cerca de 30%
dos recifes de coral da Ásia provavelmente serão perdidos nos próximos 30 anos
devido a vários estresses e à mudança climática. Mudanças na precipitação irão
aumentar as doenças diarreicas, principalmente associadas com inundações e secas. A
cor verde indica o possível aumento da distribuição da malária.

UNEP (2009). A Climate in Peril.


IPCC Report Climate Change 2007: Synthesis Report page 11.

51
Este slide apresenta os impactos da mudança climática projetados para a região da
América Latina. Como consequência da redução da precipitação e do degelo dos
glaciares, a América Latina pode ter menos água, o que afetará o consumo humano, a
agricultura e a geração de energia. O rendimento das culturas alimentares pode
diminuir, com consequências negativas para a segurança alimentar. A América Latina
também enfrenta risco de perda de biodiversidade significativa pela extinção de
espécies em muitas áreas tropicais. Projeta-se que a redução da água no solo levará
à substituição gradual da floresta tropical por savana no leste da Amazônia. Outro
ecossistema em risco situado no Caribe são os recifes de coral, lar de muitos recursos
marinhos vivos. A elevação do nível do mar aumentará o risco de inundações em
áreas baixas, especialmente no Caribe.

UNEP (2009). A Climate in Peril.


IPCC (2007). Climate Change 2007: Synthesis Report, p. 11.

52
Muitas pequenas ilhas, como as situadas no Caribe e no Pacífico, sofrerão redução
dos recursos hídricos, que passarão a ser insuficientes para atender à demanda
durante os períodos de baixa pluviosidade. A elevação do nível do mar levará à
contaminação da água doce por água salgada, tornando-a não potável. Também se
espera que a elevação do nível do mar agrave inundações, tempestades, erosões e
outros riscos costeiros, ameaçando, assim, infraestruturas vitais, assentamentos e
instalações que contribuem para o sustento das comunidades das ilhas. A deterioração
das condições costeiras e o branqueamento de corais reduzirá o valor desses destinos
para o turismo.

IPCC (2007). Climate Change 2007: Synthesis Report, p. 12.

53
Este diagrama mostra quatro futuros climáticos potenciais, dependendo de que
políticas os governos adotarão para reduzir as emissões. Baseia-se nos quatro
cenários utilizados no relatório 2013 do IPCC com base na ciência física da mudança
climática.

IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers page 26.

54
O gráfico ilustra a relação linear que existe entre as emissões cumulativas de CO2
induzidas pelo ser humano (eixo horizontal) e os aumentos da temperatura média da
superfície global (eixo vertical). Em outras palavras, mais emissões de CO2 levam a
temperaturas médias da superfície mais elevadas. Como não podemos dizer
exatamente quanto dióxido de carbono será emitido no futuro, existem diferentes
cenários para as temperaturas globais no final deste século. Esses cenários variam de
2°C (linha azul – RCP 2,6) a cerca de 5°C (linha vermelha – RCP 8,5). Para ter uma
chance maior do que dois em três de manter as temperaturas globais abaixo de 2°C
(e evitar, assim, “mudanças climáticas perigosas”), as emissões cumulativas de CO2 não
devem exceder 1.000 gigatoneladas de carbono (GtC). No entanto, desde 2011,
mais de metade dessa quantidade, mais de 500 GtC, já foi emitido (linha preta).

This translation of the page 26 of the IPCC Report Climate Change 2013: The Physical Science Basis -
Summary for Policymakers is therefore not an official translation by the IPCC.
It has been provided by UNESCO with the aim of reflecting in the most accurate way the language
used in the original text.

Informações adicionais

O eixo horizontal na parte inferior do gráfico mostra as emissões cumulativas em


gigatoneladas de carbono (GtC) enquanto o eixo superior indica os níveis de emissão
em gigatoneladas de dióxido de carbono (GtCO2). 1 GtC corresponde a 3,667
GtCO2.

55
Esta seção apresenta uma visão geral das principais fontes de informações científicas
sobre o clima, bem como sobre programas e instituições relevantes.

56
O IPCC é o principal órgão internacional que sintetiza e avalia o conhecimento sobre
mudança climática. Fundado em 1988 pelo PNUMA e pela Organização
Meteorológica Mundial (OMM), o IPCC avalia todas as informações revisadas e
publicadas sobre mudança climática. Agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em
2007, o órgão formou uma rede de cientistas do clima, biólogos, economistas,
sociólogos etc., de todos os continentes na Terra, para produzir relatórios sobre o
estado do conhecimento da ciência da mudança climática, analisar os impactos sociais
e econômicos da mudança climática e identificar possíveis adaptações e opções de
mitigação.

57
O IPCC publica diversos relatórios relevantes para o regime de mudança climática.
Amplamente citados, os abrangentes relatórios de avaliação revisam a ciência mais
recente sobre mudança climática, seus impactos, vulnerabilidade e adaptação, bem
como opções de mitigação. Além desses relatórios, o IPCC também publica relatórios
especiais sobre temas selecionados, por exemplo: fontes de energia renováveis,
eventos extremos e desastres, cenários de emissões etc. O órgão também produz
documentos de orientação metodológica e documentos técnicos.

58
A OMM executa uma série de programas climáticos globais que fornecem aos
formuladores de políticas e pessoal técnico as informações necessárias para enfrentar
a mudança climática com sucesso. O Programa Mundial sobre o Clima (World Climate
Programme – WCP) tem como objetivo produzir previsões e projeções climáticas,
desenvolver estruturas operacionais para fornecer serviços climáticos e desenvolver
um sistema de observação global essencial para atender às necessidades de
informações climáticas. O WCP apoia o Marco Global para Serviços Climáticos
(Global Framework for Climate Services – GFCS), que visa a incorporar informações
climáticas com base científica no planejamento, nas políticas e na prática em âmbito
global, regional e nacional. Outro programa importante é o Programa de Pesquisa
Atmosférica e de Meio Ambiente (Atmospheric Research and Environment Programme –
ARE), que coordena e estimula a pesquisa sobre a composição da atmosfera e a
previsão do tempo, com foco em eventos climáticos extremos e impactos
socioeconômicos. A Comissão de Climatologia (Commission for Climatology – CCI)
aconselha e orienta as atividades do WCP e desempenha um papel fundamental na
implementação do GFCS.

59
O GFCS é uma parceria global de governos e organizações que produzem e usam
informações e serviços climáticos. Destina-se a permitir que pesquisadores, produtores
e usuários de informações unam forças para melhorar a qualidade e quantidade de
serviços climáticos em todo o mundo, particularmente nos países em desenvolvimento.
A apresentação fornece uma introdução aos principais elementos do GFCS.

60
O programa Vigilância Atmosférica Global (Global Atmosphere Watch – GAW) da
OMM fornece dados científicos e informações confiáveis ​sobre a composição química
da atmosfera, suas mudanças naturais e antrópicas, e ajuda a melhorar a
compreensão das interações entre a atmosfera, os oceanos e a biosfera. A espinha
dorsal do programa GAW é uma rede global de mais de 80 estações de medição,
como é possível observer no mapa.

61
Os Centros Climáticos Regionais (Regional Climate Centres – RCCs) da OMM são
centros de excelência que criam produtos regionais, incluindo previsões de longo
alcance que apoiam as atividades climáticas regionais e nacionais. Os RCCs utilizam
os dados e produtos dos Centros Globais Produtores de Previsões de Longo Alcance
(Global Producing Centres for Long-range Forecasts – GPCS), incorporando
informações em escala regional. Uma importante fonte adicional de informação para
os RCCs são dados, produtos, conhecimento e feedback que recebem dos Serviços
Nacionais de Hidrologia e Meteorologia (National Meteorological and Hydrological
Services – NMHSs).

Os Fóruns Regionais sobre o Panorama Climático (Regional Climate Outlook Forums –


RCOFs) reúnem especialistas nacionais, regionais e internacionais sobre o clima, em
uma base operacional, para produzir perspectivas climáticas regionais com base em
informações fornecidas por instituições nacionais, regionais e globais. Ao reunir países
com características climatológicas comuns, os fóruns garantem a consistência no acesso
e na interpretação das informações climáticas. As informações fornecidas pelos RCOFs
estão sendo aplicadas para reduzir os riscos relacionados com o clima e também
para apoiar o desenvolvimento sustentável.

62
Serviços Nacionais de Hidrologia e Meteorologia (National Meteorological and
Hydrological Services – NMHSs) fornecem informações de tempo, climáticas e hídricas
para os gestores de situações de emergência, administrações nacionais e locais, o
público e setores econômicos críticos. Os NMHSs contribuem significativamente para a
segurança e o bem-estar econômico por meio da observação, da previsão e de
alertas de ameaças de tempo, climáticas e hídricas.

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