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A Tecnologia de Pirólise no Contexto da Produção Moderna

de Biocombustívies: Uma Visão Perspectiva

Edgardo Olivares Gómez


Professor

1.Introdução

Este material aborda o estado atual e as perspectivas de


desenvolvimento para a tecnologia de pirólise no contexto mais
abrangente das fontes renováveis de energia. Apresenta-se a
tecnologia convencional para a obtenção de carvão vegetal, suas
principais características técnicas e operacionais. A pirólise não
convencional é considerada sobre a base do atual desenvolvimento
tecnológico e suas perspectivas futuras.

No Brasil a tecnologia de pirólise rápida é uma novidade em


termos de implementação, sendo verificada a existência de só uma
unidade piloto para testes e demonstração da tecnologia. A planta
tem uma capacidade nominal de 100 kgh-1 (base seca), e pertence à
Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Tal unidade é
operada na forma de testes para pesquisa e desenvolvimento da
tecnologia pelo grupo de bio-combustíveis da própria Universidade, o
qual agrupa pesquisadores e professores do Núcleo Interdisciplinar
de Planejamento Energético-NIPE e da Faculdade de Engenharia
Agrícola-FEAGRI da UNICAMP, e os sócios da Bioware Tecnologia,
pequena empresa de base tecnológica incubada na Incubadora de
Empresas de Base Tecnológica-INCAMP também da UNICAMP.

São abordados alguns dos aspectos mais relevantes na atual


situação de desenvolvimento da tecnologia de pirólise rápida e que
se constituem em barreiras, tais como, scale-up da tecnologia,
redução de custos, aprendizado, disseminação de informações
acerca do bio-óleo e da tecnologia, entre outros. Finalmente, são
discutidas as possíveis tendências e os desafios para a tecnologia em
um horizonte de curto e médio prazo.

2. A Pirólise e o Processo Convencional: Conceituação

A pirólise pode ser definida como a degradação térmica de


qualquer material orgânico na ausência parcial ou total de um
agente oxidante, ou até mesmo, em um ambiente com uma
concentração de oxigênio capaz de evitar a gaseificação intensiva do
material orgânico. A pirólise geralmente ocorre a uma temperatura
que varia desde os 400°C até o início do regime de gaseificação
intensiva.

Os gases, líquidos e sólidos são gerados em proporções diferentes,


dependendo dos parâmetros considerados como, por exemplo, a
temperatura final do processo, pressão de operação do reator, o
tempo de residência das fases sólidas, líquidas e gasosas dentro do
reator, o tempo de aquecimento e a taxa de aquecimento das
partículas de biomassa, o ambiente gasoso e as propriedades iniciais
da biomassa. O principal objetivo no processo de pirólise é a
obtenção de produtos com densidade energética mais alta e
melhores propriedades do que àquelas da biomassa inicial. Na
Tabela 1 se mostram os principais processos mais comumente
conhecidos para se realizar a pirólise de materiais lignocelulósicos.

O processo de pirólise mais usado é a carbonização para a


produção de carvão vegetal de madeira para a produção de energia.

No Brasil, maior produtor mundial de carvão vegetal do mundo,


esse produto é usado, principalmente, na indústria como agente
redutor e fonte de energia na fabricação de ferro-gusa e aço.
Quantidades bem menores de carvão vegetal são usadas no setor
residencial para a cocção de alimentos, principalmente em regiões
rurais, além de aquelas comercializadas como carvão vegetal para
churrasco.

No Brasil, a Vallourec & Mannesmann Tubes do Brasil (V&MT)


desenvolveu um forno retangular de alta capacidade para a
fabricação de carvão vegetal a partir de madeira e recuperação do
alcatrão. Esse forno opera para o fornecimento de carvão vegetal
para as empresas produtoras de ferro-gusa, substituindo os fornos
redondos tradicionais usados nas suas antigas instalações. O forno
aumenta o rendimento da carbonização, a utilização de produtos
derivados, a produtividade, a qualidade do carvão vegetal, além de
melhorar as condições ambientais e ocupacionais. A reciclagem de
produtos (gases) é usada como fonte de energia durante a
carbonização e para iniciar novos ciclos de carbonização.

O alcatrão é recuperado e armazenado para uso posterior para a


produção de energia ou para a obtenção de produtos mais valiosos
por meio da sua destilação. A empresa BIOCARBO INDÚSTRIA E
COMÉRCIO LTDA. agrega valor a este subproduto da pirólise por
meio da sua destilação fracionada, embora com rendimentos muito
baixos de aproximadamente 50% (em massa), obtendo-se produtos
químicos que já têm mercado na Europa e os Estados Unidos.

Uma avaliação termodinâmica global simplificada deste processo


de carbonização oferece os resultados mostrados na Tabela 2.

A partir da década de 90 começaram a ser desenvolvidas


tecnologias e equipamentos de pirólise mais eficientes visando a sua
utilização na produção de carvão vegetal. O principal objetivo destes
empreendimentos tecnológicos foi o de aumentar o rendimento
gravimétrico da fase sólida, diminuir o tempo de fabricação do
carvão aumentando a eficiência energética do processo, melhorar
tecnicamente alguns processos intermediários, além de recuperar os
líquidos e gases como fontes de energia ou para outras finalidades.

A seguir, são descritos alguns equipamentos e tecnologias


desenvolvidas para melhorar a produção de carvão vegetal.
3. A Pirólise de Elevado Rendimento Gravimétrico da Fase
Sólida

Um rendimento de carvão vegetal entre 38 e 48% foi obtido no


Hawaii Natural Energy Institute-HNEI, da Universidade do Havaí. O
processo baseia-se na pirólise sob pressão elevada, com taxas de
aquecimento e temperatura final controladas, em um reator de leito
fixo. A mistura de biomassa age como um catalisador na reação de
pirólise, aumentando o rendimento de carvão vegetal. Devido à alta
pressão, as fases de vapor da pirólise (H 2O e líquidos da pirólise)
estão em contato efetivo com as fases sólidas, maximizando a
formação de carvão vegetal. O poder calorífico, teor de carbono fixo
e de voláteis no carvão foram semelhantes a outros carvões
comercializados [2].

4. O Processo Contínuo de Produção de Carvão Vegetal e de


Melhoramento Energético da Biomassa

A empresa ACESITA desenvolveu um processo contínuo de pirólise


para a produção de carvão vegetal com recuperação de líquidos que
esteve em operação no final da década de 80 e início dos anos 90. O
conceito deste tipo de forno concebia a recirculação dos gases da
pirólise para queima e aproveitamento da sua entalpia sensível. A
tecnologia previa também a separação e recuperação dos líquidos da
pirólise. Os rendimentos médios alcançados em carvão vegetal e
alcatrão foram de 33 e 11% respectivamente. A planta, com
capacidade de processamento de 0,5 tonh-1 de madeira, produzia em
torno de 0,2 tonh-1 de carvão vegetal. Esta unidade se encontra
atualmente desativada.

Nos últimos anos tem-se verificado também uma evolução em


relação ao conceito de processo de torrefação. A torrefação é
considerada um processo de pré-pirólise durante a qual são
liberadas desde a partícula de biomassa durante seu aquecimento a
taxas controladas, somente água e algumas das substâncias voláteis
mais leves (menor peso molecular). Este procedimento tecnológico
apresenta um potencial muito promissor quando se trata do
desenvolvimento de novos materiais que possam competir no
mercado dos energéticos densos de biomassa, como é o caso da
lenha e o carvão vegetal de lenha.

A principal vantagem deste conceito é que a biomassa,


previamente densificada, pode alcançar melhores propriedades
energéticas através do tratamento termoquímico da sua estrutura
morfológica, melhorando-se as suas propriedades físico-químicas.
Trate-se, por outro lado, de uma alternativa tecnológica que tende a
reduzir os negativos impactos ambientais produzidos pelas
particulares atividades predatórias relacionadas com a produção de
carvão vegetal de lenha.
Embora tem-se demonstrado que a tecnologia de torrefação de
resíduos densificados é economicamente viável devido,
principalmente, ao baixo custo dos resíduos de biomassa em estado
polidisperso (de 9 a 20 R$/ton em função da distância de
transporte), as expectativas para a tecnologia, num horizonte de
curto prazo (próximos 10 anos), estão sustentadas na possibilidade
de redução dos custos envolvidos nos processos intermediários,
tratando-se só da utilização destes resíduos. Estes processos
consideram a preparação da matéria-prima e a sua densificação.
Para se ter uma idéia da importância dos processos de preparo da
matéria-prima e sua densificação, é relevante dizer que uma unidade
de fabricação de briquetes de alta densidade (BAD) de 500 kgh-1 de
capacidade de processamento de resíduos requer uma potência
nominal instalada da ordem de 105 kW.

No mundo hoje, existem poucas opções tecnológicas conhecidas


de equipamentos para a densificação de biomassa polidispersa. Por
outro lado, estes equipamentos de densificação, pelo seu elevado
preço no mercado, podem tornar inviável o projeto de uma unidade
de torrefação de briquetes de biomassa.

Estimativas realizadas a partir de estudos técnico-econômicos e de


viabilidade desta tecnologia mostram custos unitários de produção
na fabricação de BAD de cerca de 38 US$/ton de madeira torrefada
ou 120 R$/ ton de madeira torrefada (câmbio de US$1=R$3,14). O
material torrificado tem em torno de 40% de carbono fixo e PCS-
Poder Calorífico Superior variando entre 21e 24 MJkg-1. O processo
demonstrou ter uma eficiência global de conversão de cerca de 90%
[3].

Dadas as atuais restrições ambientais impostas aos recursos


dendroenergéticos e as necessidades de melhoramentos efetivos dos
processos de pirólise, principalmente na atual indústria mundial de
fabricação de carvão vegetal a partir de lenha, a tendência para os
próximos 10 a 15 anos é a modernização do parque tecnológico
carvoeiro mediante a utilização de tecnologias modernas, mais
eficientes e avançadas de produção de carvão vegetal, com sistemas
integrados de recuperação de alcatrão e de produção de insumos
energéticos e químicos.

5. A Pirólise Rápida para a Obtenção de Bio-Óleo

Nas três últimas décadas, o uso potencial da biomassa como fonte


de combustíveis líquidos, produtos químicos e materiais, deu um
novo impulso ao uso conceitual da pirólise. O conceito de pirólise
rápida para a produção de líquidos orgânicos desperta cada vez mais
o interesse, junto às pesquisa e às aplicações comerciais dos
diversos produtos obtidos a partir do bio-óleo, seu principal produto,
os quais se desenvolvem rapidamente, principalmente na América do
Norte e na Europa. A pirólise rápida é um conceito advindo da
necessidade de se produzir insumos líquidos energéticos e não
energéticos.

Através do controle dos principais parâmetros do processo tais


como: taxa de aquecimento, temperatura de operação do reator,
tempo de residência das fases dentro do reator, tempo de
aquecimento das partículas de biomassa e da pressão de operação,
dentre outras, é possível a condução do processo visando o maior
rendimento gravimétrico da fase líquida.

As principais características do processo de pirólise rápida são:


curtos tempos de aquecimento das partículas e de residência para os
vapores que se formam dentro do reator, elevadas taxas de
aquecimento, elevados coeficientes de transferência de calor e
massa, e temperaturas moderadas da fonte de aquecimento. Em
geral, o tempo de residência dos vapores no reator deve ser inferior
a 2-5 segundos. Todas as tecnologias de pirólise em
desenvolvimento no mundo aplicam estes princípios básicos visando
maximizar o rendimento gravimétrico de bio-óleo. A produção de um
derivativo líquido que poderia ser facilmente armazenado e
transportado é, com certeza, a principal vantagem potencial da
pirólise rápida em comparação aos outros processos de conversão
termoquímica da biomassa.

O líquido da pirólise da biomassa produzido desta forma (o bio-


óleo) é um “alcatrão” primário. Ele é formado a partir de sucessivas
reações de decomposição, craqueamento, condensação e
polimerização, e tem um elevado teor de água na sua composição
(água procedente do próprio insumo e água de formação). Reações
secundárias entre as fases dentro do reator de pirólise são evitadas
procurando aumentar o teor de líquido na corrente trifásica. A
obtenção do bio-óleo deve ser realizada fazendo-se um rápido
resfriamento dos vapores. Porém, os aerossóis formados durante o
próprio processo de resfriamento dos vapores da pirólise rápida são
de difícil separação, necessitando-se de projetos específicos a partir
da combinação de conceitos físicos, tais como, condensação,
impacto, coalescência e separação nas fases gás-líquido, além da
necessidade de se conhecer as propriedades químicas desta mistura
líquida.

Nos últimos 20 anos têm sido realizadas muitas pesquisas e testes


em reatores pilotos e demonstrativos, baseados em diversos
conceitos tecnológicos de pirólise rápida. Alguns desses reatores
ainda estão em operação, produzindo finos de carvão vegetal e bio-
óleo. Porém, até hoje, nem o próprio processo nem a composição
exata do bio-óleo são muito conhecidos. Isto porque as reações
termoquímicas que ocorrem durante o processo são muito
complexas Estudam-se os principais aspectos fenomenológicos,
tecnológicos, industriais, econômicos e sócio-ambientais, na sua
estreita relação com a qualidade requerida do produto para uma
dada aplicação comercial.
Um dos principais objetivos na atualidade é o desenvolvimento em
escala industrial de plantas para a produção de bio-óleo visando-se
sua aplicação como combustível para a produção de entalpia e
energia elétrica, através do uso de caldeiras, fornos e sistemas de
geração estacionária.

5.1. Custos de Produção do Bio-Óleo

Segundo avaliação econômica realizada no início dos anos 90, uma


planta de pirólise ablativa com capacidade de 907 toneladas de
biomassa/dia poderia produzir 680 toneladas de bio-óleo bruto por
dia, a um custo de 100 dólares a tonelada. Essa estimativa
corresponde a uma taxa de juros de 20% ao ano, e a biomassa a um
preço de 44 dólares a tonelada. O custo total seria de 58,7 dólares
por tonelada de biomassa seca (53% do custo total). A estimativa de
custo do equipamento é de 11 milhões de dólares e o investimento
total a ser feito de 44,5 milhões de dólares. Para uma planta menor,
com capacidade de 227 toneladas de biomassa por dia, o custo do
bio-óleo seria de 158 dólares por tonelada, indicando um importante
efeito de escala.

Um estudo sobre a avaliação dos custos de produção do bio-óleo


obtido por pirólise rápida de biomassa realizado no New Hampshire
Department of Resources and Economic Development, da
Universidade de New Hampshire, UK, projeto identificado com o
título “Identifying and Implementing Alternatives to Sustain the
Wood-Fired Electricity Generating Industry in New Hampshire”, de
Janeiro de 2002, estimou a tendência mostrada no gráfico da Figura
1 abaixo apresentada [4]. Trata-se da avaliação da variação do
custo unitário de produção do bio-óleo (em US$/litro) como função
da umidade inicial do insumo (aparas de madeira ou woodchips)
para uma planta com capacidade de 8,3 tonh-1. Observa-se um
pronunciado incremento do custo unitário de produção do bio-óleo
para umidades da biomassa acima de 35% (base úmida). Foi
verificado também, neste estudo, que o custo unitário de produção
do bio-óleo não é mais praticamente influenciado pela capacidade
das plantas para valores deste parâmetro acima de
-1
aproximadamente 4 tonh . Este comportamento foi similar para as
três umidades da biomassa testadas, de 25, 35 e 55% (base úmida).
Figura 1. Variação do custo unitário de produção do bio-óleo
(US$/litro) como função da umidade inicial do insumo (aparas de
madeira ou woodchips) para uma planta com capacidade de 8,3
tonh-1.

No Brasil, atualmente, poucas pesquisas estão em andamento na


área de pirólise rápida de biomassa. O grupo de bio-combustíveis da
Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP trabalha na obtenção
de bio-óleo a partir da tecnologia de reator de leito fluidizado
borbulhante. Na Figura 2 mostra-se uma foto da planta de pirólise
rápida pertencente a este grupo de desenvolvimento [5]. Suas
principais rotas de trabalho são: desenvolvimento de uma tecnologia
própria, obtenção e melhoramento da qualidade do bio-óleo, redução
dos custos envolvidos, estudo para a expansão das aplicações dos
produtos e co-produtos do processo de pirólise, e o estudo do
aumento de escala da tecnologia.

Figura 2. Planta de pirólise rápida com tecnologia da UNICAMP (100


kgh-1 base seca)
5.2. Mercado para o Bio-Óleo

O bio-óleo é uma mistura orgânica muito complexa, formada por


centenas de compostos diferentes pertencentes a muitos grupos
químicos. O Poder Calorífico Superior-PCS do bio-óleo varia, em
média, entre 18 e 20 MJkg-1, ou seja, aproximadamente metade do
valor do PCS do óleo combustível convencional[[1]]. O teor de água
pode variar de 15% a aproximadamente 40% (em peso). A
densidade do bio-óleo é também alta, cerca de 1,2 kgl-1.

São sugeridas algumas aplicações para o bio-óleo. Combustíveis


líquidos (Premium), como os hidrocarbonetos leves e a mistura
aromática de gasolina e substâncias como o diesel, poderiam ser
produzidos por catálise. O uso como óleo combustível em motores
estacionários em substituição ao óleo diesel é possível, embora seja
necessário resolver problemas como a corrosão, baixo valor de
aquecimento e envelhecimento (reações de polimerização) durante o
armazenamento.

O bio-óleo é também uma fonte de produtos químicos refinados,


com um alto preço no varejo. Por exemplo, com o bio-óleo é possível
produzir compostos para aditivos e aroma de alimentos como a
alilsiringol (que custa US$ 1000,00 por kg), siringaldeído e siringol
(ambos custam US$ 400,00 por kg).

Nos últimos anos tem sido dispensada uma atenção especial ao


desenvolvimento de materiais com o uso de frações do bio-óleo. O
derivados fenólicos presentes no bio-óleo insolúvel, principalmente
derivados da despolimerização da lignina, são utilizados com êxito
para substituir o fenol petroquímico durante a formulação de resinas
do tipo fenol-formaldeído (PF-resinas). Este tipo de resina é utilizada
como ligante em vários tipos de madeira compensada e também é
um material básico nas indústrias de abrasivos e adesivos. A
substituição de 50% (em peso) de fenol é viável, sem alterar ou
afetar o desempenho da resina.

Fibras curtas de carbono ativado, que servem para a fabricação de


filtros para tratamento da água, podem ser produzidas com o uso de
material residual da destilação do bio-óleo ou do alcatrão da pirólise
lenta. O piche residual recuperado durante a destilação do bio-óleo
também serve como ligante em eletrodos. O bio-piche, como é
conhecido, é mais reativo do que o piche de alcatrão de carvão
fóssil, resultando em uma rede transversalmente ligada com coque.
5.3. Produção de energia elétrica a partir do Bio-Óleo

A produção de eletricidade a partir da pirólise de biomassa é uma


das alternativas tecnológicas cuidadosamente considerada nos
projetos de P&D. Uma das vantagens potenciais dessa tecnologia é a
desvinculação da produção de eletricidade com a produção de
biomassa, isto é, o óleo resultante da pirólise poderia ser
transportado até as centrais elétricas e as limitações relativas ao
tamanho da planta e aos impactos ambientais poderiam ser
superadas.

A pirólise rápida da biomassa e o subseqüente uso do combustível


líquido nos motores de combustão interna é um processo tecnológico
novo que ainda deve apresentar-se com mais pesquisa. Porém,
apesar da fase de desenvolvimento incipiente desta tecnologia
estudos prévios indicam que poderá haver um potencial nicho de
mercado para a produção de eletricidade por meio de pirólise rápida
em unidades de pequena escala (capacidade entre 5 e 25 MW),
principalmente no atendimento das cargas de ponta. As recentes
análises de viabilidade apresentadas na literatura exploram mais a
vantagem da desvinculação da produção de bio-óleo e da sua
utilização na produção de eletricidade, permitindo uma melhor
exploração do conceito de economia de escala para regiões com
potencial disponibilidade de insumos de biomassa.

5.4. Tendências e Desafios para a Pirólise Rápida de Biomassa

A viabilidade econômica da produção do bio-óleo é altamente


dependente de fatores como:

1. Parâmetros de custo: Neste caso são considerados os seguintes


aspectos:

a. da aplicação que se tenha para o bio-óleo o qual define, a


princípio, o seu preço de venda (consideram-se o mercado de
energéticos e o mercado de insumos químicos);

b. do preço de venda do insumo (a biomassa) na região onde se


instalariam as plantas de bio-óleo.

2. Tamanho da planta:

Trata-se da capacidade em alimentação de biomassa das plantas


(economia de escala).

3. Desempenho da planta:
Trata-se da eficiência de separação e recuperação do bio-óleo. Os
finos de biocarvão, a princípio, não interessam muito nesta análise,
mas que podem beneficiar os custos e a análise de viabilidade
econômica é uma realidade.

4. Parâmetros financeiros:

Refere-se ao cenário financeiro, taxas de juro consideradas,


impostos, etc.

Estes resultados são fruto de uma análise de sensibilidade


paramétrica realizada para a escala da planta de pirólise rápida da
UNICAMP. Esta unidade foi instalada e operada em regime de
pesquisa e demonstração dentro das dependências do Centro de
Tecnologia Canavieira-CTC em Piracicaba-SP, usando-se gramíneas
como capim elefante e palha de cana como insumo.

A partir destes resultados podemos inferir que para se obter um


balanço econômico satisfatório na produção e comercialização deste
produto é preciso a observância de questões tais como:

1. disponibilidade de insumo de biomassa (resíduos) e de


métodos de coleta e condicionamento a custos competitivos e com a
qualidade requerida;

2. eficiências de recuperação de bio-óleo acima de 60 % ;

3. as plantas devem ter uma capacidade acima de 200 kgh-1


(prevêem-se plantas de 500 a 1000 kgh-1 de capacidade, com 1 ou
vários reatores em paralelo) e;

4. mercado atraente financeiramente para os produtos do


processo.

Algumas aplicações podem não ser atraentes. Na verdade, uma


análise multivariável deve ser feita em cada caso.

O desafio a curto e médio prazo deve estar direcionado ao


equacionamento dos seguintes aspectos:

Desenvolvimento dos processos tecnológicos unitários relacionados


com a sua produção visando aperfeiçoar a qualidade e eficiência de
obtenção: Neste caso é importante salientar que mais estudos
devem ser realizados sobre formas de recuperação dos aerossóis da
pirólise rápida (bio-aerossóis), formação, crescimento, composição
química, deposição, precipitação e separação do fluxo de gases,
além de serem testados novos sistemas de separação;

Desenvolvimento das aplicações e dos processos para sua


implementação: no caso do seu uso como energético, o
desenvolvimento das misturas de bio-óleo com álcoois poderia
representar um passo de avanço importante, dada a sua
incompatibilidade com hidrocarbonetos convencionais;

“Scale-up” da tecnologia: o “scale-up” da tecnologia deve levar em


conta os efeitos da mudança de escala no rendimento gravimétrico e
energético e a qualidade do bio-óleo. Estudos nesta direção estão
sendo realizados;

Redução de custos: recentes estudos têm demonstrado que o custo


de produção do bio-óleo encontra-se ainda entre 10 e 100% do
custo de produção do óleo combustível;

Estabelecimentos de normas para os produtores e usuários da


tecnologia e os produtos: são necessários trabalhos de
caracterização e estandardização no uso e a distribuição do bio-óleo.
Estabelecimentos de normas relacionadas com a saúde ambiental e
segurança no manuseio, transporte e uso final do bio-óleo;

Disseminação de informações sobre o uso do bio-óleo e dos


benefícios econômicos e ambientais decorrentes da tecnologia e dos
produtos.

Para se alcançar uma maturidade tecnológica que permita a


aplicação desta tecnologia e seus produtos em escala comercial são
necessárias ainda pesquisas básicas e aplicadas. Uma dada aplicação
terá impacto de escala quando seja atraente economicamente em
cada uma das etapas dos processos envolvidos.

6. Bibliografia

[1] V&MT. Raad, T., SG/C – Florestal. Pessoal Comunication. In:


tulraad@vmtubes.com.br. Access by http://www.vmtubes.com.br;

[2] Walter, A.C. da Silva; Faaij, A. and Bauen, A. New Technologies


for Modern Biomass Energy Carries. In: Rosillo-Calle, F.; Bajay S.
and Rothman, H. Industrial Uses of Biomass Energy: The example of
Brazil. First Edition. London, England, published by Taylor & Francis,
volume único, 2000, p. 200-253.

[3] Felfli, F. Torrefação de Biomassa. Viabilidade Técnica e Potencial


de Mercado. Tese de Doutorado. Faculdade de Engenharia Mecânica-
FEM, Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, Campinas, São
Paulo, 2003;

[4] NH Department of Resources and Economic Development.


“Identifying and Implementing Alternatives to Sustain the Wood-
Fired Electricity Generating Industry in New Hampshire”, New
Hampshire, UK, January 2002. Access by http://www.unh.edu;

[5] Olivares-Gómez E. Estudo da Pirólise Rápida de Capim Elefante


em Leito Fluidizado Borbulhante mediante a Caracterização dos Finos
de Carvão. Tese de doutorado. FEAGRI, Universidade Estadual de
Campinas-UNICAMP, Campinas, São Paulo, 2002;

[[1]] O PCS do óleo combustível convencional é considerado como


sendo em torno de 40 MJkg-1

Fonte:
Edgardo Olivares Gómez
Professor e Pesquisador Associado ao Núcleo Interdisciplinar de Planejamento
Energético-NIPE
Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP

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