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Era Nova O GRANDE PORTAL DA

A propósito do estudo da Doutrina Espírita e dos grupos


de estudos nos Centros Espíritas.

Maurício S ilva
2ª edição

Edição Eletrônica

Copyrigth 2013 by
Maurício Silva
Curitiba - PR

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9.610/98.

Edição Eletrônica no Brasil


Maurício Silva

Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

2ª edição
revista e ampliada

Curitiba - PR
Edição eletrônica própria
Março de 2015
Índice
O Grande Portal 5
Pérola cor de ouro 9
Palavras iniciais 11
A título de introdução 17

PARTE 1: Espiritismo para nós


1 A missão de Allan Kardec 21
2 A volta do Consolador prometido 25
3 O grande fanal do Espiritismo 29

PARTE 2: Nós e o Espiritismo


4 O nosso chamado pessoal 37
5 Clareza de posicionamento 41
6 O verdadeiro espírita 45
7 Cuidados pessoais a serviço do Cristo 51

PARTE 3: Espiritismo para todos


8 Importância do estudo 63
9 A necessidade do estudo 67

PARTE 4: Espiritismo e o Centro Espírita


10 O Centro Espírita 79
Centro Espírita: Unidade fundamental. Foco de
11 85
atividade Coletiva
Visão esquemática das atividades de estudos
12 93
doutrinários

PARTE 5: O portal de entrada


Palestras públicas: o portal de entrada no Centro
13 101
Espírita

PARTE 6: Do desconhecido para o conhecido


14 A arte de pensar 111
15 Provocações positivas 127
16 Moldar, emoldurar e modular o ensino do Espiritismo 129
17 O mundo invisível saiu do silêncio 135

PARTE 7: E o semeador saiu a semear


18 Apresentando o Evangelho Restaurado 149
19 Pontos básicos para uma boa palestra 155
20 E o semeador saiu a semear 165
Palavras finais 169
Formamos uma grande família, na sublime
família universal, uma equipe de espíritos
afins.
Vinculados uns aos outros desde o instante
divino em que fomos gerados pelo Excelso
Pai, vimos jornadeando a penosos
contributos de sofrimentos, em cujas
experiências, a pouco e pouco, colocamos os
pilotis de segurança para mais expressivas
construções...

Joanna de Ângelis
Portal
PREFÁCIO
Escrito pela Veneranda Benfeitora Espiritual Joanna de
Ângelis, especialmente para este livro:

O Grande

O Espiritismo é ciência do ser imortal, que se caracteriza pela


experimentação de laboratório, demonstrando a realidade
dos seus conteúdos filosóficos, que libertam as consequências éti-
co-morais-religiosas.
Resultado da observação cuidadosa do eminente Prof. Rivail,
mais tarde sob o pseudônimo de Allan Kardec, os seus postulados
fixam-se nas leis da Natureza, especialmente na lei de amor, ínsita
em todo o Universo, por ser a lei de Deus.
Para que seja compreendido e praticado oferece incompa-
rável tesouro de informações que se encontram na Codificação,
constituída pelas obras básicas, cujas estruturas resistem a quais-
quer enfrentamentos culturais, bem como naquelas que lhes são
complementares, especialmente a Revista Espírita, desde a sua fun-
dação no dia 1° de janeiro de 1858 até março de 1869, quando
desencarnou o insigne mestre lionês.
Não se pode, portanto, conhecer realmente o Espiritismo, se-

O grande portal da era nova  |  7


não mediante o seu grande portal, que é o acesso às obras fun-
damentais: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho
Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.
À medida que se toma conhecimento pedagógico da Doutri-
na, atravessando-se o grande portal que leva à revelação dos
imortais e aos nobres comentários do codificador, alargam-se os
horizontes intelectuais e emocionais do indivíduo, propondo-lhe a
ampliação dos estudos nas pequenas e oportunas obras O que é o
Espiritismo, O principiante espírita e na coletânea exarada na referida
Revista Espírita.
Graças a esse extraordinário trabalho de pesquisa e informa-
ções, o Espiritismo jamais será ultrapassado, conforme assinalou
Allan Kardec, porque pode absorver as novas conquistas do pen-
samento e deixar à margem o que não seja compatível com as
demonstrações da ciência em qualquer época.
Trata-se, portanto, de uma doutrina séria para pessoas igual-
mente sérias.
Não se pode considerar espírita qualquer indivíduo que parti-
cipe de reuniões mediúnicas ou doutrinárias, sem as reflexões hau-
ridas na Codificação. Entretanto, não se trata de uma proposta
elitista, que elimina as pessoas incultas ou desprovidas de conhe-
cimentos especializados.
Na sua condição de O Consolador, que fora prometido por
Jesus, abre-se com imensa facilidade a todos os níveis morais, so-
ciais e culturais da humanidade, orientando, confortando e escla-
recendo os grandes enigmas existenciais e dando-lhes saudáveis
soluções.
Destaca, no seu bojo como de importância fundamental, a
transformação moral do ser humano para melhor, lutando sempre
contra as suas más inclinações, estimulando a prática da caridade
por todos os meios e modos ao seu alcance.
Paraninfado por Jesus, que administra o planeta terrestre, são
os seus Embaixadores, essas estrelas espirituais, que se encontram

8 |  O grande portal da era nova


encarregados de promover o progresso da criatura humana, assim
como do seu domicílio.
Divulgá-lo corretamente é dever inadiável a que se submetem
todos aqueles que sorvem as suas águas lustrais que plenificam e
libertam da ignorância.
A obra que estamos apresentando ao nosso querido público, é
um trabalho grave e de atualidade, pelas considerações e apro-
fundamentos dos temas apresentados, ao mesmo tempo fácil e
agradável de ler, porque fundamentada na excelência da Codifi-
cação Espírita.
Temos certeza que todo aquele que o ler com real interesse e
sem prejuízos adrede estabelecidos, encontrará roteiro de segu-
rança e esclarecimento para o aprofundamento das próprias re-
flexões e iluminação da consciência.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã de 18 de


dezembro de 2012, em reunião no Centro Espírita Caminho da Redenção, em
Salvador, Bahia.)

O grande portal da era nova  |  9


Aprofundar, portanto, estudos, no seu
organismo doutrinário, é dever de todo
espírita consciente, que passará a lecioná-lo,
como decorrência do auto-aprimoramento,
com segurança e lucidez, não permitindo
que a urze do absurdo ou o escalracho
da fantasia se lhe imiscuam, gerando
dificuldades compreensíveis nas mentes
necessitadas e nos espíritos sofridos que
pululam em toda parte, sedentos da água
viva do Consolador Prometido, que já se
encontra na Terra há mais de um século,
inaugurando o período de felicidade que se
avizinha e de que nos deveremos constituir
pioneiros, pela forma como apresentarmos e
vivermos o Espiritismo com Jesus.

Vianna de Carvalho
Cor de
Ouro
Pérola

A pérola é uma joia de alto valor. E há as caríssimas, como as


raras pérolas do Mar da China Meridional cor de ouro 24 qui-
lates, conhecidas como “Ouro do Mar de Sulu”.
As pérolas são encontradas em certas conchas de moluscos
nas profundezas do mar. O molusco precisa ser ferido, e é a partir
daí que a secreção se solidifica formando a pérola.
Pérolas são produtos da dor, resultado da entrada de uma
substância estranha no interior da ostra, como um grão de areia.
A parte interna da concha de uma ostra é uma substância lustrosa
chamada nácar. Seu brilho é translúcido, capaz de captar os raios
solares. Porém é a pérola que, em todo o seu esplendor reflete as
cores do arco-íris.
Quando um grão de areia a penetra, as células do nácar co-
meçam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais
camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resulta-
do, uma linda pérola é formada.
Uma ostra que não foi ferida, de algum modo, não produz pé-
rolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.

O grande portal da era nova  |  11


Quem de nós já não se sentiu ferido, por esse ou aquele motivo
ou circunstância?
Quem de nós já não sentiu a alma dorida, o peito dilacerado
pela dor moral?
Tomemos o exemplo da mãe natureza, que demonstra-nos que
a dor pode transmutar-se em joia preciosa e assim convencidos,
por nossa vez, que as nossas tristezas se transmutem em luz de
alegria; que os nossos padecimentos se façam estimulantes para o
doce e suave exercício continuado do bem; que as nossas mágoas
sejam transformadas pelo antídoto do perdão; que a ingratidão
recebida seja aceita como oportuno convite a solidariedade; que
a agressão de qualquer tipo de violência seja a pedra de toque
para o exercício precioso de fraternidade e da construção da paz;
que os nossos males físicos sejam as janelas que nos permitam
visualizar a grandiosidade imperecível do Espírito; que o mal vi-
gente seja reconhecido como amor ausente, assim como a sombra
é a ausência da luz, e que é, portanto, passageiro, desfazendo-se
tão logo se faça a luz do sentimento cristão; e que, por tudo isso,
que o eventual esforço a ser dispendido por nós para as lamúrias e
queixas, seja utilizado como o combustível moral a ser aplicado na
formação da preciosa pérola da resignação e confiança em Deus,
dando-nos ânimo para continuado empenho e trabalho reparador
até a formação definitiva da “pérola cor de ouro do Mar de Sulu”
em nossa realidade espiritual: o alcance da felicidade plena, re-
fletindo as cores do arco-íris das luminescentes Leis Divinas.
Este livro é para mim uma pérola preciosa, por muitas razões.
Que ele ajude-o na sua jornada de renovação pessoal, sen-
do-lhe útil.

12 |  O grande portal da era nova


Palavras
Iniciais
C onhecer a História ajuda melhor entender o presente. Por isso
iniciamos nossos apontamentos destacando alguns aspectos
históricos do Espiritismo, a fim de contextualizar a nossa aborda-
gem neste trabalho.
Inicialmente, o conteúdo desses apontamentos foi colhido na
literatura espírita e em outras obras, aqui dando destaque às cita-
ções que fundamentam as nossas assertivas e pavimentam a es-
trada do nosso raciocínio, para que, juntamente com o leitor, pos-
samos vislumbrar a grandeza e a importância da Doutrina Espírita
e a sua especial missão junto a Humanidade. Também visamos
enaltecer o dever de fidelidade aos postulados do Espiritismo que
temos nós, os espíritas, em nosso cotidiano, bem como relembrar
nossos compromissos para com o Centro Espírita, contribuindo
com o seu desempenho, cuja razão de existir é ofertar dessa água
que dessedenta para sempre aos irmãos do caminho, primando
por distribuir o consolo e alimentar a esperança, repetindo diutur-
namente o sublime convite do Amigo Celeste: “Vinde a mim, todos
os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” 1.
O Centro Espírita, ao oportunizar o conhecimento doutrinário,
deve, por conseguinte, fazê-lo de acordo com os propósitos do
Espiritismo, e que o faça de modo a facilitar o seu aprendizado,
utilizando-se de metodologia adequada, com organização, con-
tinuidade e com conteúdo e forma apropriado para cada ocasião.

1 Mateus (11 : 28)

O grande portal da era nova  |  13


Desejando colaborar com aqueles companheiros de lida, in-
cumbidos da elaboração de programas de estudos e da sua apli-
cação, também trazemos considerações sobre a arte de pensar,
que norteia a inteligência humana na assimilação e transmissão
do conhecimento.
Somos sabedores que são vários os modelos de gestão para as
organizações em geral, inclusive para a área de Estudos no Centro
Espírita, que é, especificamente, o tema central de nossa aborda-
gem neste opúsculo. Aqui focamos um desses modelos, por ser um
modelo simples, funcional e sabidamente exitoso.
Para esse trabalho, partimos do posicionamento de que o Cen-
tro Espírita é uma unidade, é um todo, é um ser coletivo em comu-
nhão, e que assim deve ser pensado e trabalhado, independen-
temente da quantidade de suas atividades e do número dos seus
trabalhadores.
Quando falamos em Centro Espírita como sendo uma unidade,
um ser coletivo, o fazemos reconhecendo que essa qualidade pre-
cisa ser construída com continuado esforço em prol da consolida-
ção da união dentre os seus lidadores, primeiramente, o que nos
leva a destacar em nossos arrazoados a importância do compro-
misso pessoal de cada um com a Causa do Bem, que vem implícita
numa organização espírita.
Eis a recomendação do Espírito Verdade nesse sentido:
Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Se-
nhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus
dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem espe-
rado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos jun-
tos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar,
encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde
a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor si-
lêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí
não viesse dano para a obra!” 2
2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 20, item 5, p. 315.

14 |  O grande portal da era nova


É ainda o Espírito Verdade que nos conclama: Espíritas! amai-
-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. 3
Em nome desse nosso compromisso pessoal e coletivo que te-
mos com Jesus, alinhavamos também algumas considerações a
este respeito, buscando aumentar nossa compreensão sobre o as-
sunto, e, na razão inversa, diminuindo os riscos de nossas débeis
mãos serem causadoras de solução de continuidade ao projeto
maior da Instituição que frequentamos, ou do Movimento Espírita
que fazemos parte, ou de nossa existência, como um todo.
No entanto, repetimos para frisar e para facilitar o acompa-
nhamento das ideias expostas, que nossos apontamentos se di-
rigem às questões do estudo, programas e aplicadores, não sig-
nificando que os conceitos coletados não sirvam para as demais
atividades do Centro Espírita, mas é preciso restringir os enfoques,
dando objetividade ao texto.
Somos daqueles que entendemos que a reunião pública de pa-
lestras é o grande portal de entrada num Centro Espírita dos que
para ali foram encaminhados pelas leis da vida, a fim de encon-
trarem respostas aos seus pedidos de socorro e amparo. O mo-
delo trabalhado nesses nossos apontamentos elege essa reunião
como o marco zero da estrada do conhecimento espírita, o elo
inicial de uma longa corrente de acesso ao aprendizado do Espiri-
tismo, que permitirá a cada um melhor conhecimento de si mesmo,
despertando-lhe novas razões de viver, ao entender de onde veio,
porque está aqui e para onde vai, levando-o, espontaneamente,
a vincular-se as ações do Bem, a optar por Jesus.
Partindo disso, se faz necessário que as reuniões públicas de
palestras sejam consideradas e tratadas como uma reunião de es-
tudos, trabalhando e organizando seus temas e seus conteúdos
levando-se em conta suas características de reunião de palestras
e pública, que os que ali vão, no geral, não são espíritas e que
há um fluxo contínuo de pessoas chegando, dos quais uns ficam,

3 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 6, item 5, p. 130.

O grande portal da era nova  |  15


outros não voltam mais. No modelo por nós sugerido, a reunião
pública de palestras vai pulsar como um marca-passo alimenta-
dor desse fluxo de pessoas em direção aos outros grupos de estu-
dos. E esses outros grupos de estudos, estruturados em módulos ou
ciclos e encadeados de maneira apropriada em seus conteúdos,
trabalhando em sincronia entre si e com as reuniões públicas de
palestras – em tempo e conteúdo programático -, darão fluidez de
modo contínuo no atendimento e encaminhamento interno dos que
se acercam do Centro Espírita e da Mensagem Espírita, sem cau-
sar descompasso no aprendizado e no funcionamento dos gru-
pos de estudos, eliminando a entrada de novas pessoas quando o
programa de estudos já está sendo aplicado há tempo.
Quanto aos programas de estudos e sua estruturação, nossos
apontamentos se alongam mais nas próximas páginas, pontuando
aspectos que, sabemos, contribuirão sobremaneira na elaboração
e aplicação dos mesmos.
Dando fim as nossas palavras iniciais, registramos que nosso
papel nesses arrazoados que alinhavamos foi somente o de reu-
nir as citações dos Benfeitores Espirituais sobre cada ponto então
abordado, ou pegar por empréstimo considerações técnicas ne-
cessárias, elencando devida referência bibliográfica e dando o
efetivo crédito aos respectivos autores. Sabemos que não estamos
apresentando novidade. Mas também sabemos que há algumas
práticas no meio espírita, quanto a grupos de estudos, que são
lastimáveis, o que por si só justifica nossa iniciativa.
Confiamos que a nossa oferenda poderá auxiliar alguma Ins-
tituição que se encontre experimentando desafios no campo dos
estudos doutrinários, e aqui descubra soluções simples e práticas,
que poderão harmonizar suas atividades.
E se outra utilidade não tiver nossos apontamentos, que tenha
a de enaltecer o Centro Espírita como celeiro de bênçãos, casa
acolhedora de todos quantos têm necessidade de esperanças e
de consolações. Casa com Jesus sempre presente.
Irmão X, no livro Luz Acima, na página intitulada Nas hesita-

16 |  O grande portal da era nova


ções de Pedro, recebida pela mediunidade de Chico Xavier, narra
diálogo entre o apóstolo e Jesus a respeito de infeliz mulher que ali
chegara buscando auxílio, mas trazia consigo todos os estigmas
das pecadoras. Fora lapidada e exibia manchas sanguinolentas
na roupa em frangalhos. Pronunciava palavras torpes. Revelava-
-se semilouca e doente. Pedro, em sua hesitação, questionava:
Como agir? Não estaria a sofredora resgatando os próprios débi-
tos? Se bebera com loucura na taça dos prazeres, não lhe caberia
o fel da aflição?
Jesus, manso e pacífico, orientou cada ponto das dúvidas de
Pedro, e por fim disse-lhe:
- Pedro, para ferir e amaldiçoar, sentenciar e punir, a cidade e
o campo estão cheios de maus servidores. Nosso ministério ultra-
passa a própria justiça. O Evangelho, para ser realizado, reclama
o concurso de quem ampara e educa, edifica e salva, consola e
renuncia, ama e perdoa... Abre acesso à nossa irmã transviada e
auxilia-a no reerguimento. Não a precipites em despenhadeiros
mais fundos... Arranca-a da morte e traze-a para a vida... Não te
esqueças de que somos portadores da Boa Nova da Salvação!...
E conclui Irmão X a narrativa:
O apóstolo levantou-se, deu alguns passos, atravessou exten-
sa fileira de irmãos espantados, abriu, de manso, a porta e dirigiu-
-se à mulher, acolhedor:
- Entre, a casa é sua!
- Quem sois? – interrogou a infeliz, assombrada.
- Eu? – falou Pedro, com os olhos empapuçados de chorar.
E concluiu:
- Sou seu irmão.

O grande portal da era nova  |  17


Centro Espírita é o educandário básico da
mente popular.

Bezerra de Menezes
A título de
Introdução
C ostuma-se dizer que os tempos são outros, as diretrizes são
novas, os métodos devem ser renovados.
O Espiritismo, no entanto, meus filhos, permanece como sendo
Jesus em todos os dias da nossa vida, qual porto de amparo às
nossas aspirações e barco de segurança para as nossas ambições.
[...]
É verdade que todos trazemos angústias e pesares, que aguar-
damos o lenço da consolação espírita para nossas lágrimas, para
os nossos suores, como o bálsamo reconfortante, o penso refazen-
te para as feridas do sentimento, do coração.
Convém, no entanto, não esquecermos que, ao nosso lado,
ruge a tempestade e a batalha se agiganta, esperando a nossa
contribuição a benefício dos mais infelizes do que nós.
Os que cremos, já possuímos a “pedra mágica do toque” da
imortalidade, colocada no coração. Os que sabemos, já somos
coparticipantes do banquete da luz. Os que conhecemos, já re-
cebemos a revelação como ponte de intercâmbio entre os dois
mundos.

O grande portal da era nova  |  19


Para estes, que somos nós, não há meio termo, nem possibili-
dades de acomodação com as contingências vantajosas do mun-
do, na feição de deslealdade. A conduta seguirá a reta rígida da
mensagem evangélica que nos impõe a transformação de dentro
para fora.
Por esta razão, nesta Casa, como em outras, a luz do Cristo
não pode ficar sob o alqueire, mas no velador, oferecendo bên-
çãos, brindando apoio aos trôpegos e inseguros que aspiram a
mais amplos horizontes e a mais largos ideais de vida.
Estais convidados para a Nova Era e não é lícito que estacio-
neis, custe o preço que vos seja exigido, sejam quais forem as con-
dições que a misericórdia do Senhor vos imponha...
[...]
Filhos! Não há alternativa, nem outra recomendação, exceto
a velha regra áurea do amor em todas e quaisquer circunstâncias.
[...]
Pela significação desta data, suplicamos ao Amigo Divino e Vi-
gilante que abençoe este santuário, transformando-o em templo
de paz, em hospital-escola, em oficina de socorro e sabedoria
para os cansados da rota.

Bezerra de Menezes1

1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes.


Salvador, BA: Leal, 1991. Cap. 24, p. 73-75.

20 |  O grande portal da era nova


Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

parte 1
O Espiritismo para nós
Se um nome é necessário, inscreveremos
em seu frontispício: Escola do Espiritismo
Moral e Filosófico, e para ela convidaremos
todos quantos têm necessidade de
esperanças e consolações.

Allan Kardec
1

Allan
Kardec
A missão de

A Doutrina Espírita, trazida pelos Espíritos luminares, não é obra


do acaso, da vontade momentânea de um autor. Obra de tal
magnitude e com propósitos tão sublimes não poderia deixar de
acontecer sem antes ter sido minuciosamente planejada pelos Nu-
mes Tutelares da Humanidade, sob a direção maior de Jesus. Foi
entregue aos homens tendo Allan Kardec como seu insigne Codifi-
cador, de cuja missão foi devidamente cientificado em tempo pró-
prio, e em seu cumprimento contou ele com um grupo de pessoas
abnegadas que o auxiliaram nessa construção, uns diretamente,
outros indiretamente.
O Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais tarde conhecido
como Allan Kardec, já estava, há cerca de um ano, as voltas com
os estudos e pesquisas relacionadas com o mundo espiritual e sua
relação com o mundo corporal, e vinha se dedicando a revisão
do trabalho que posteriormente formaria O Livro dos Espíritos. Ele
frequentava, há certo tempo, reuniões que se davam na residên-
cia do Sr. Roustan. Na noite de 30 de abril de 1856, numa dessas

O grande portal da era nova  |  23


sessões, muito íntima, a que apenas assistiam-na sete ou oito pes-
soas, o Prof. Rivail recebeu a primeira revelação da sua missão
ditada pelos Espíritos através da médium Srta. Japhet:
“Deixará de haver religião e uma se fará necessária, mas ver-
dadeira, grande, bela e digna do Criador... Seus primeiros alicer-
ces já foram colocados... Quanto a ti, Rivail, a tua missão é aí.” 1
São suas estas palavras: “Foi essa a primeira revelação posi-
tiva da minha missão e confesso que, quando vi a cesta voltar-se
bruscamente para o meu lado e designar-me nominativamente,
não me pude forrar a certa emoção.” 2
Com a argúcia de sua inteligência, Rivail não só identificou
de pronto a grandeza e complexidade de sua missão, bem como
identificou a grandeza indimensional do que estava por vir, como
resultado de seu labor. A estruturação de um doutrina nova: o Es-
piritismo.
Na sua humildade e diante do seu caráter diamantino, voltou a
tratar deste assunto a fim de bem se certificar.
Em 7 de maio do mesmo ano, ele assim dirige-se ao Espírito
Hahnemann 3:
Pergunta (a Hahnemann) — Outro dia, disseram-me os Espíritos
que eu tinha uma importante missão a cumprir e me indicaram o
seu objeto. Desejaria saber se confirmas isso.
Resposta — Sim e, se observares as tuas aspirações e tendên-
cias e o objeto quase constante das tuas meditações, não te sur-
preenderás com o que te foi dito. Tens que cumprir aquilo com que
sonhas desde longo tempo. É preciso que nisso trabalhes ativa-
mente, para estares pronto, pois mais próximo do que pensas vem
o dia.

1 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB,
1998. “Primeira revelação de minha missão”, p. 337-338.
2 Ibid. p. 338
3 Ibid. p. 338 - 339

24 |  O grande portal da era nova


P. — Para desempenhar essa missão tal como a concebo, são-
-me necessários meios de execução que ainda não se acham ao
meu alcance.
R. — Deixa que a Providência faça a sua obra e serás satisfeito.
A sua costumeira prudência e o seu bom-senso – marcas regis-
tradas de seu proceder – não lhe deram trégua, até que em 12 de
junho de 1856, dirige-se ao Espírito Verdade 4:
Pergunta (à Verdade) — Bom Espírito, eu desejara saber o que
pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram. Dize-me,
peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como
sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verda-
de, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em
chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar
em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem ta-
lento e qualidades de que não disponho.
Resposta — Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita
discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conheci-
mento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não
esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso,
outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam
na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria
a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-
-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires,
os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos
frutos é que se verifica a qualidade da árvore.
P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma
missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de
instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de
mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos,
no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.
R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu

4 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB,
1998. “Primeira revelação de minha missão”, p. 343

O grande portal da era nova  |  25


lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do
qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constran-
gido a fazer coisa alguma.
Apesar dos obstáculos, das armadilhas urdidas pelas mentes
infelizes e infelicitadoras, das lutas hercúleas, com grande sacrifí-
cio, dedicação e zelo, o notável Prof. Denizard Rivail prosseguiu e
concluiu seu grandioso trabalho da Codificação Espírita, legando
para a Humanidade os cinco livros basilares, além de vasto ma-
terial a mais, como os doze volumes da Revista Espírita: O Livro dos
Espíritos, lançado em 18 de abril de 1857; O Livro dos Médiuns ou
Guia dos Médiuns e dos Evocadores, lançado em 15 de janeiro de
1861; O Evangelho segundo o Espiritismo, lançado em abril de 1864;
O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo, lançado
em agosto de 1865; e A Gênese, os Milagres e as Predições segundo
o Espiritismo, lançado em 6 de janeiro de 1868.

Com ele renasce o Cristianismo simples e puro, incorruptível e


nobre dos primeiros tempos, convocando os homens para as fon-
tes eternas da paz e da alegria, transformando-se em roteiro insu-
perável dos tempos. 5

5 FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador,


BA: Leal, 1968, p. 30

26 |  O grande portal da era nova


2

A volta do Consolador prometido


C omo dissemos, os planos divinos para a Humanidade come-
çaram muito antes de 18 de abril de 1857. No bojo da mensa-
gem de Jesus à Terra, no meio dessas Suas luzes, encontramos a
anunciação de um advento dos mais significativos para o reconfor-
to espiritual dos homens, com a promessa Dele da chegada futura
de outro Consolador.
Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a
meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique
eternamente convosco: - O Espírito de Verdade, que o mundo não
pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece.
Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e es-
tará em vós. - Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que
meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos
fará recordar tudo o que vos tenho dito. (S. João, cap. XIV, vv. 15 a
17 e 26.)
Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o
mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compre-
ender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas
e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de
Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o

O grande portal da era nova  |  27


Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse,
é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido. O Espi-
ritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: pre-
side ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à
observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender
o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: “Ouçam os
que têm ouvidos para ouvir.” O Espiritismo vem abrir os olhos e os
ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu
intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente,
trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos
os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
[...]
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador
prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem sai-
ba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para
os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela
esperança. 1
Lins de Vasconcellos (Arthur Lins de Vasconcellos Lopes, 1851
– 1952), uma das figuras mais destacadas do Movimento Espíri-
ta brasileiro, com vasta ficha de serviços prestados ao Bem, teve,
por exemplo, destacada atuação, entre 1947 e 1952, no adven-
to do Pacto Áureo 2, bem como sua participação na Caravana

1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap.VI, itens 3 e 4, p. 128 - 129.
2 O chamado Pacto Áureo foi um acordo celebrado entre a Federação Espírita Brasileira
(FEB) e representantes de várias Federações e Uniões de âmbito estadual, visando unificar o
movimento espírita a nível nacional. Foi assinado na sede FEB, na cidade do Rio de Janeiro,
a 5 de outubro de 1949. A expressão é atribuída a Arthur Lins de Vasconcelos Lopes, um de
seus signatários à época. A assinatura do Pacto Áureo foi a base para um entendimento entre
as instituições espíritas no país, possibilitando uma nova fase de difusão da Doutrina Espírita,
viabilizando a convivência entre as mesmas sem prejuízo da liberdade de pensamento e da
ação individuais. Como consequência, em 1 de janeiro do ano seguinte (1950), foi instituído o
Conselho Federativo Nacional da FEB (CFN), com a posse dos seus onze membros pelo pre-
sidente da FEB. Em 8 de março desse mesmo ano, o CFN lançou a Proclamação aos Espíritas.
Desde então, o CFN exerce a função de dirimir dúvidas, orientando o movimento Espírita e
recomendando diretrizes para os Centros Espíritas.

28 |  O grande portal da era nova


da Fraternidade 3. ao lado de nomes como Leopoldo Machado,
Francisco Spinelli e outros. Foi representante da Federação Espírita
do Paraná no Conselho Federativo Nacional e membro efetivo da
Assembléia Deliberativa da Federação Espírita Brasileira, além de
Vice-presidente da Liga Espírita do Estado da Guanabara, 1º se-
cretário da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro
e seu presidente de honra, além de muitos outros encargos. É ele
que nos diz:
O Espiritismo, consolidando a promessa de Jesus Cristo, trouxe
à Terra um novo “modus-operandi” capaz de estimular o espíri-
to humano no roteiro da dignificação pessoal e social, fazendo-o
religioso com religiosidade íntima, capaz de ligá-lo realmente a
Deus, destarte, convocando-o para o auxílio aos náufragos e ven-
cidos morais do mar proceloso das aflições, redimindo-se, por fim,
através da redenção que propicia ao próximo. 4
Vianna de Carvalho (1847 – 1926), destacado conferencista
espírita de eloquência rara, articulista e polemista arrebatado, seu
nome ficou demarcado na história da difusão doutrinária em vá-
rios pontos do Brasil, que teve ensejo de residir ou de visitar, já
que, como oficial do Exército Brasileiro, Engenheiro militar, perio-
dicamente transferia-se de uma unidade militar à outra. Culto e

3 Firmado o Pacto Áureo restava sua consolidação, colhendo as assinaturas das federa-
ções ausentes e criando federações ou órgãos de unificação em estados que ainda não o pos-
suíam. Para essa tarefa, formou-se um grupo de espíritas com o propósito de visitar todos
os Estados do Norte. Principalmente os Estados que ainda não tinham se decidido sobre o
Pacto Áureo, de 5 de outubro de 1949. Os caravaneiros - Arthur Lins de Vasconcelos, Carlos
Jordão da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio e Leopoldo Machado, iniciaram a jornada em
31 de outubro de 1950. De Salvador até o extremo Norte, os caravaneiros visitaram todas as
capitais e mais Parnaíba, vivendo em todas elas, inesquecíveis programas de intensa vibração
doutrinária e fraternal. Em todas as cidades, a Caravana procedeu da maneira seguinte: (I)
Conferências culturais para o grande público, que atraíram verdadeiras multidões a elas, tare-
fa quase que da responsabilidade do prof. Leopoldo Machado; (II) Reuniões de mesa-redonda
para reajustamento de pontos de vista de choque, das quais o ideal da unificação sempre saiu
vitorioso, por isso que de todas elas foram lavradas as respectivas atas; (III) Visitas de estí-
mulo às instituições espíritas de assistência social; (IV) Programas sociais, organizados pelos
irmãos visitados. A Caravana, cumprida sua tarefa, desfez-se em 13 de dezembro do mesmo
ano, encerrando suas viagens em Belo Horizonte, MG.
4 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-
dor, BA: Leal, 1979, p. 224

O grande portal da era nova  |  29


fluente, encantava os ouvintes com a Mensagem Espírita. Firme
e sensato, contribuía com a organização das Instituições que fre-
quentava. Determinado e persistente, mantinha-se em constante
trabalho pelo Bem. São suas estas palavras, colhidas de sua larga
produção literária através da mediunidade de Divaldo Franco:
No momento em que variam as técnicas das “ciências da
alma”, no estudo da personalidade humana e dos problemas que
lhe são correlatos, o Espiritismo, conforme a Codificação Karde-
quiana, é a resposta clara e insofismável para as aflições que se
abatem sobre o homem, dando cumprimento à promessa de Jesus,
quanto ao Consolador, de que este, em vindo à Terra, não somen-
te Lhe recordaria as lições, como também esclareceria, confortaria
e conduziria o ser através dos tempos... 5

5 FRANCO, Divaldo P. Enfoques espíritas. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador,


BA: Leal, 1980, p. 144

30 |  O grande portal da era nova


3

O grande
fanal do Espiritismo
A quilo que hoje estamos por fazer em nome do Espiritismo, além
da fidelidade aos seus princípios, há de estar em consonância
com seus propósitos, que foram estabelecidos desde os seus pri-
mórdios e vêm explicitados nas páginas da Codificação conforme
palavras de Allan Kardec: “Por meio do Espiritismo, a Humanida-
de tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é
consequência inevitável”. 1
É quando o Espiritismo demonstra-nos seu grande fanal, agin-
do e fomentando nossas próprias mudanças íntimas, para melhor.
A literatura espírita é rica em citações destacando o quanto o
Espiritismo, qual celeiro de bênçãos, guarda em seu bojo benefí-
cios à Humanidade, bastando que o homem dele se aproxime e,
dedicado e laborioso, possa servir-se com abastança segundo as
suas necessidades.
Quando os ensinos espíritas forem bem compreendidos, exa-
minados, absorvidos pelos homens, estes mudarão o comporta-

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Conclusão, V, p. 482.

O grande portal da era nova  |  31


mento social, em razão da modificação moral que cada ser se
imporá, erguendo-se uma comunidade pacífica e justa, a es-
praiar-se, generosa, por toda parte, auxiliando a transformação
da Terra, regenerada e luminosa, que seguirá no rumo da destina-
ção que a espera como aos seus habitantes, hoje em lutas cruentas
e rudes, por haverem abdicado das armas do amor, da mansidão
e da fraternidade.
Este é o grande fanal do Espiritismo. 2
Raul Teixeira, uma das vozes mais firmes da atualidade na di-
vulgação fidedigna da Mensagem Espírita ao redor do Mundo,
quando questionado: “Qual a principal Mensagem Espírita?”,
deu-nos esta síntese notável:
Raul – A mais excelente Mensagem Espírita se configura na
proposta de renovação espiritual da pessoa humana. Para o Es-
piritismo, o fenômeno mais importante que se pode dar com o in-
divíduo é o do seu progresso para Deus, o que se opera mediante
o desenvolvimento intelectual, a fim de que conheça as leis que
regem o nosso universo material, e o desenvolvimento moral, que
se caracteriza pelo devido cumprimento das leis morais, ou seja,
aquelas que regem a vida da alma. 3
Leiamos as ponderadas palavras de Allan Kardec, também
chamado o bom-senso reencarnado:
Quando todos os homens compreenderem o Espiritismo, com-
preenderão também a verdadeira solidariedade e, conseguinte-
mente, a verdadeira fraternidade. Uma e outra então deixarão de
ser simples deveres circunstanciais, que cada um prega as mais
das vezes no seu próprio interesse e não no de outrem. O reinado
da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justi-
ça para todos e o da justiça será o da paz e da harmonia entre
os indivíduos, as famílias, os povos e as raças. Virá esse reinado?
2 FRANCO, Divaldo P. Enfoques espíritas. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador,
BA: Leal, 1980, p. 21 - 22
3 TEIXEIRA, Raul T. Ante o vigor do Espiritismo. Entrevistas. Niterói, RJ: Frater, 1998, p.
20

32 |  O grande portal da era nova


Duvidar do seu advento seria negar o progresso. Se compararmos
a sociedade atual, nas nações civilizadas, com o que era na Idade
Média, reconheceremos grande a diferença. Ora, se os homens
avançaram até aqui, por que haveriam de parar? Observando- se
o percurso que eles hão feito apenas de um século para cá, po-
der-se-á avaliar o que farão daqui a mais outro século.
[...]
Qualquer que seja a influência que um dia o Espiritismo che-
gue a exercer sobre as sociedades, não se suponha que ele ve-
nha a substituir uma aristocracia por outra, nem a impor leis; pri-
meiramente, porque, proclamando o direito absoluto à liberdade
de consciência e do livre-exame em matéria de fé, quer, como
crença, ser livremente aceito, por convicção e não por meio de
constrangimento. Pela sua natureza, não pode, nem deve exercer
nenhuma pressão. Proscrevendo a fé cega, quer ser compreendi-
do. Para ele, absolutamente não há mistérios, mas uma fé racional,
que se baseia em fatos e que deseja a luz. Não repudia nenhuma
descoberta da Ciência, dado que a Ciência é a coletânea das leis
da Natureza e que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Ciência
fora repudiar a obra de Deus. Em segundo lugar, estando a ação
do Espiritismo no seu poder moralizador, não pode ele assumir
nenhuma forma autocrática, porque então faria o que condena.
Sua influência será preponderante, pelas modificações que trará
às ideias, às opiniões, aos caracteres, aos costumes dos homens e
às relações sociais. E maior será essa influência, pela circunstân-
cia de não ser imposta. Forte como filosofia, o Espiritismo só teria
que perder, neste século de raciocínio, se se transformasse em po-
der temporal. Não será ele, portanto, que fará as instituições do
mundo regenerado; os homens é que as farão, sob o império das
ideias de justiça, de caridade, de fraternidade e de solidariedade,
mais bem compreendidas, graças ao Espiritismo. 4
Francisco Spinelli, que desencarnou em 7 de agosto de 1955,
presidiu a Federação Espírita do Rio Grande do Sul (Fergs), inte-

4 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1998, “As expiações coletivas”, p. 270-271.

O grande portal da era nova  |  33


grou a Caravana da Fraternidade, que percorreu vários estados
do país na propaganda da unificação da prática espírita, foi o
criador do programa da Federação Espírita do Rio Grande do Sul
(Fergs): “Em cada Centro Espírita uma Livraria”, e grande incenti-
vador da Evangelização da Infância e da Juventude, é daqueles
que continua contribuindo do mundo espiritual com sua visão da
real grandeza e beleza do Espiritismo através de seus ditados:
A missão do Espiritismo é inclinar o homem para a fonte da mo-
ral austera do Cristo, oferecendo-lhe a água lustral do equilíbrio
e o pão salutar da esperança a fim de que, saciado, possa dirigir
os passos no rumo da equidade e da honra, em busca do fanal da
vida: a felicidade plena!
[...]
Penetremo-nos, portanto, do dever sadio e nobre da edifica-
ção do bem em nós mesmos e, sejam quais forem as conjunturas
negativas que os possam intimidar, tenhamos em mente que o Se-
nhor, embora abandonado por todos, no Pretório, era o Príncipe
vencedor, enquanto Barrabás, aclamado pela maioria, represen-
tava o crime que a sociedade pretendia combater.
Certos de que a nossa tarefa devemos fazê-la e o nosso dever
cabe-nos cumpri-lo, avancemos resolutos e amparados no escla-
recimento que acende uma luz íntima na mente, seguindo o ideal
espiritista que, atestando a nossa incorruptível imortalidade, nos
oferece a instrumentação para vencer todas as dificuldades e che-
gar ao posto de vitória com a honra ilibada e o coração tranquilo.
5

Se as propostas espíritas são tão salutares para nós, por que


não oportunizarmos a experiência desse conhecimento aos ou-
tros? Se nos sentimos estimulados por essa mensagem em viven-
ciar seus ensinamentos no nosso dia a dia, na vida de relação
social, com nossa família, outros não poderão fazê-lo também,
em benefício próprio, desde que conheçam dessas lições? Então,
5 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador,
BA: Leal, 1969, p. 61-64

34 |  O grande portal da era nova


por que não o fazemos através de iniciativas pessoais e também
nos engajando com mais afinco nas ações de divulgação do Espi-
ritismo, nas tarefas no Centro Espírita?

O grande portal da era nova  |  35


Ao Espiritismo compete a tarefa
indeclinável de espalhar nova luz sobre a
Humanidade inquieta e atormentada.

Vianna de Carvalho
Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

parte 2
Nós e o Espiritismo
Este instante é o de fazer luz, o da nossa
definição espírita, o da nossa realização
clara e firme, qu edeixe na história
dos tempos o sulco profundo da nossa
integração nas hostes da Doutrina
apresentada por Allan kardec, como sinal
inapagável da nossa vitória sobre a morte,
sobre o engodo, sobre a inferioridade,
sobre nós mesmos, antecipando a nossa
ressurreição que já começa, para a nossa
penetração na vida estuante que nos espera.

Lins de Vanconcellos
4

O nosso
chamado P essoal
Q uando nos propomos e nos dedicamos a conhecer as proposi-
ções espíritas, na medida em que vai se dando o entendimen-
to das suas lições, de modo natural e espontâneo vão ocorendo
transformações de pensamentos e atitudes nossas perante a vida.
É o que nos afirma Allan Kardec:
[...] Para os que compreendem o Espiritismo filosófico e nele
veem outra coisa, que não somente fenômenos mais ou menos
curiosos, diversos são os seus efeitos.
O primeiro e mais geral consiste em desenvolver o sentimento
religioso até naquele que, sem ser materialista, olha com absoluta
indiferença para as questões espirituais...
O segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resig-
nação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a ver as coisas de
tão alto, que, perdendo a vida terrena três quartas partes da sua
importância, o homem não se aflige tanto com as tribulações que
a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação
nos desejos...

O grande portal da era nova  |  39


O terceiro efeito é o estimular no homem a indulgência para
com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo, o princípio ego-
ísta e tudo que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem
e, por conseguinte, de mais difícil de desarraigar [...] 1
E alargando esse entendimento do conteúdo doutrinário e de
suas propostas, melhor contextualizamos o Espiritismo na Terra e o
que ele representa para a Humanidade, e, por conseguinte, nos
vemos envoltos pelas malhas da responsabilidade com o bem e a
verdade, que do seu bojo extraímos e que passamos a ter, na qua-
lidade de adeptos que somos dessa Doutrina revivescente do Cris-
tianismo simples e puro. Mais nitidamente, então, se despontam
nossos compromissos para conosco mesmo e para com o próximo,
perante a imortalidade, e se apresenta, como um grito silencioso
de nossa consciência, nosso chamado para o serviço do bem.
Ouçamos esse chamado vindo diretamente do venerando Es-
pírito Bezerra de Menezes:
Fomos chamados para a construção da Era Melhor.
Estamos convocados para a tarefa sacrossanta do amor.
Doutrina Espírita é conhecimento com responsabilidade; com-
promisso indeclinável que nos impomos, a fim de ressarcirmos o
passado de sombras, de dúvidas, de mancomunações com o mal
que ainda vive dentro de nós.
[...]
O Espiritismo, no seu segundo século, chama-se “ação”.
Até há pouco, combatiam a mensagem luminosa. Os adver-
sários, porém, da Terceira Revelação, filhos meus, estão agora
dentro de nossas fileiras, dentro de nós... Ou modificamos a nossa
forma de agir, de servir e de amar, ou seremos responsáveis pelo
adiamento da concretização dos ideais do Consolador na Terra.
Esta é a religião, cujo nome foi dado por Jesus. O Consolador, não
1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Conclusão, VII, p. 488-489.

40 |  O grande portal da era nova


o esqueçamos.
Consolemos as lágrimas, estancando-as no seu nascedouro;
atendamos à dor, ferindo-a na origem. Lutemos contra o mal em
nossa alma e ganharemos a Terra da Paz.
Hoje é o fruto do nosso ontem, mas o amanhã é o nosso hoje
vitorioso nimbado de bênçãos com Jesus... 2

2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes.


Salvador, BA: Leal, 1991, p. 83-84

O grande portal da era nova  |  41


O de que carece o Movimento Espírita, em
seus labores, é daqueles que se sintonizem
com a lógica do pensamento espírita,
aprumada nas considerações clarificadoras
do Espírito da Verdade, capaz de facear o
avanço intelectual terrestre, sem temores,
sem tibieza, estabelecendo a inabalável
fé, que faz a alma crescer, iluminar-se,
libertando-se do cruel pieguismoo da
exaltação neurótica ou, ainda, do anseio do
domínio da opinião, quando uma luz mail
alto se ergue, a do Cristo, que o Espiritismo
alimenta com os óleos da sua celeste
inspiração.

Camilo
5

Clareza
de Posicionamentos
R elembremos aqui alguns conceitos, a fim de que, com eles vi-
vos na lembrança e pulsantes em nossos corações, reavaliemos
nosso comportamento diário, e, se necessário, empreendamos
urgentes correções em nosso curso vivencial, recuperemos even-
tuais valores que deixaram de ser considerados, reconsideremos
certos posicionamentos equivocadamente adotados por nós. Mas
que tais proposições não fiquem no discurso, mas se efetivem na
prática diária.
Para se designarem coisas novas são precisos termos novos.
Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão ine-
rente à variedade de sentidos das mesmas palavras.
Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem,
os espiritistas. 1
O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das
manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Conclusão, VII, p. 486-487.

O grande portal da era nova  |  43


e o da aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes, três
graus de adeptos: 1° os que creem nas manifestações e se limitam
a comprová-las; para esses, o Espiritismo é uma ciência experi-
mental; 2° os que lhe percebem as consequências morais; 3° os
que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. 2
Segundo o Dicionário Aulete, adepto é quem ou o que apren-
deu ou assimilou ideias, princípios, de uma religião, doutrina etc.
Também é quem ou o que segue, defende, é partidário de uma
religião, uma organização, uma doutrina etc. Bem como é aquele
que admira e/ou apoia determinada ideia, certos princípios mo-
rais, ou modos de agir, de ser, de pensar etc.
Com o Espiritismo – Doutrina de ação por excelência – o crente
se renova, dia a dia, vivendo a fé em todos os atos. Experimen-
tando-a, passa a viver em permanente culto de serviço edificante,
porquanto, como Cristo que emerge dos fundos dos tempos, a Ca-
ridade faz-se o selo de identificação dos corações no abençoado
solo das imperecíveis realizações.
Foi por essa razão que Allan Kardec, o apóstolo lionês, afir-
mou: - “A Caridade é a alma do Espiritismo. Ela resume todos os
deveres do homem para consigo mesmo e para os seus semelhan-
tes. É por isso que se pode dizer que não há verdadeiro espírita
sem Caridade”. Porque se a Fé cristã é Jesus em luz na alma do
homem, a Caridade é a luz de Jesus no coração da Humanidade
inteira.
Descortinando novos horizontes para o mundo, a fé espírita
brilha convidativa renovando concepções em torno da vida e feli-
citando o ser. 3
Assim, na qualidade de adeptos do Espiritismo, deveremos
perseguir seu Norte proposto.

2 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Introdução, I, p. 13
3 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador,
BA: Leal, 1969, p. 216-217

44 |  O grande portal da era nova


A Doutrina Espírita, na atualidade, não se reveste apenas de
lapidares conceitos, antes se constitui parte essencial para o nosso
“modus-vivendi” na Terra.
Não é apenas uma mensagem nobre, mas um programa de
ação.
Não é somente uma bela Filosofia, porém um roteiro para a
evolução.
Estudemos, portanto, a Doutrina para vivê-la; conheçamos a
Doutrina para ensiná-la, realizando o serviço que nos cabe. 4

4 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-


dor, BA: Leal, 1979, p. 19

O grande portal da era nova  |  45


O segredo da felicidade se encontra na ação
consciente em relação às Leis Divinas e ao
estatuto de comportamento humano.

Joanna de Ângelis
6

O verdadeiro
Espírita
N ão há como deixar de se perceber o quanto o comportamento
humano está em desalinho com os princípios cristãos. Por con-
seguinte, o quão distante está a consolidação dessa Era Nova na
Terra. Aparentemente, tudo conspira contra, havendo pouquíssima
atenção dos homens para com as coisas de Deus.
O flagrante modelo de vida praticado por maioria de nós,
onde prepondera esforços quase que totais pelo ter, em detrimen-
to, chegando quase ao desprezo, do propósito pelo ser, tem o
egoísmo como seu agente causal. Para os seguidores desse mode-
lo, o imediatismo e o consumismo são as únicas regras conhecidas
para um “bem viver”. A mensagem que propõe o altruísmo e a ca-
ridade como alavancas para se alcançar dias melhores, parece,
para estes, como fantasiosas, utópicas, sem consistência, portanto
desconsideradas.
No entanto, apesar de ser uma luta de pigmeus contra gigan-
tes, travada entre a proposta vivencial cristã e o atual modo de
viver preponderante entre a maioria dos homens, não há como
impedir a instalação definitiva do reino dos céus na Terra, pois o

O grande portal da era nova  |  47


progresso intelecto moral da Humanidade é Lei Divina. A hora é
de escolhas e definições.
Jesus, meus filhos – que prossegue crucificado pela ingratidão
de muitos homens – é livre em nossos corações, caminha pelos
nossos pés, afaga com nossas mãos, fala em nossas palavras gen-
tis, e só vê beleza pelos nossos olhos fulgurantes, como estrelas
luminíferas no silêncio da noite. 1
Adolfo Bezerra de Menezes (Adolfo Bezerra de Menezes Ca-
valcanti, 1831 – 1900), Espírito Benfeitor, em sua última existência
notabilizou-se pelo seu amor e dedicação ao próximo e ao Espi-
ritismo. Recebeu carinhosamente vários codinomes, como quali-
ficativos do seu trabalho ímpar em terras brasileiras, como, por
exemplo: Médico dos Pobres, Kardec Brasileiro. Esse venerando
Espírito-espírita, pela extensão de sua atuação em prol da assis-
tência as necessidades humanas e da divulgação da Mensagem
Espírita, pela excelência do amor que vivencia como Guia da Hu-
manidade que é, ofertou-nos mais esta oportuna recomendação:
Nesse homem aturdido, porém, encontra-se a oportunidade
de construir o mundo novo, a era melhor do espírito, a que se refe-
rem as palavras renovadoras de Jesus.
Antídoto para as problemáticas afligentes da atualidade é o
Espiritismo, conforme no-lo ofereceu Allan Kardec, em mensagem
de lógica e ciência, de fé e razão, abrindo o pórtico da Era Nova,
mediante a proposição do Cristianismo restaurado.
Indispensável, portanto, estudar Kardec para melhor compre-
ender e amar Jesus.
Imperioso conhecer o Espiritismo nas suas fontes puras para,
com mais acerto, viver-se o Cristianismo, em espírito e verdade.
Eis por que saudamos, nos labores deste dia, um brado de re-
novação e uma metodologia libertadora, tendo em vista o mo-

1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. .


Salvador, BA: Leal, 1991, p. 116

48 |  O grande portal da era nova


mento grave em que se vive na Terra.
Só uma Doutrina que “enfrente a razão face a face” e encontre
respaldo na ciência, poderá oferecer uma fé robusta capaz de
conduzir a criatura com segurança pelo rumo da paz.
Espíritas, meus irmãos, estudai para conhecer e instruí-vos para
viver o amor em toda a sua plenitude.
Não vos inquieteis ante as dificuldades que repontam em toda
parte.
Mantende o ânimo seguro e permanecei vinculados ao Senhor,
a “rocha nossa”. 2
Como dissemos anteriormente, quando as luzes da aceitação
da mensagem cristã e do seu entendimento nos visitam, descorti-
nam-se para nós as nossas responsabilidades para conosco mes-
mo e para com o próximo, pedindo-nos não apenas promessas,
mas real e duradouro comprometimento com a Causa do Bem.
Não para mudar o Mundo, propriamente dito, mas para realizar
mudanças positivas em nós próprios, em nosso mundo íntimo. Ho-
mem transformado, Mundo transformado!
Em apoio orientativo a essa responsabilidade nobre que vai,
ou que deveria ir, dominando nossas atenções e ações, conforme
vamos melhor compreendendo e mais vivenciando o Espiritismo,
Allan Kardec questionou os Espíritos das Luzes 3:
642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura,
bastará que o homem não pratique o mal?
“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, por-
quanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver
praticado o bem.”

2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. .


Salvador, BA: Leal, 1991, p. 68
3 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998.Perg. 642 e 643, p. 313

O grande portal da era nova  |  49


643. Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade
de fazer o bem?
“Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nun-
ca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações
com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e
não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache
cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque, fazer o
bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas
em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu con-
curso venha a ser necessário.”
Para bem definir os caracteres do verdadeiro espírita, Allan
Kardec contempla-nos ainda com suas luzes conceituais:
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações
más. 4
E nos brinda com mais estas considerações:
Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que
a praticam e lhe aceitam todas as consequências. Convencidos
de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de
aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do
progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos
Espíritos, esforçando- se por fazer o bem e coibir seus maus pen-
dores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque
a convicção que nutrem os preserva de pensarem praticar o mal.
A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São
os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos. 5
Emmanuel também contribui com a fixação desta definição do
verdadeiro espírita em nossa memória, e o faz pela luminosa me-
diunidade de Francisco Cândido Xavier, lecionando:

4 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 17, item 4, p. 276.
5 ________. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41.ed. Rio de Janeiro: FEB,
1979. Cap. 3, item 28, q. 3º, p. 41.

50 |  O grande portal da era nova


Sabem que a existência na Terra é como estágio na escola.
E, por isso, não perdem tempo.
Moram no trabalho constante.
Indulgentes para com todos e severos para consigo mesmos.
Aceitam a justiça perfeita, através da reencarnação, e acolhem
no sofrimento o curso preciso ao burilamento da própria alma.
Verificam que o erro dos outros podia ser deles próprios e, em
razão disso, não perdem a paciência.
Reconhecendo-se imperfeitos, perdoam, sem vacilar, as im-
perfeições alheias.
E vivem a caridade como simples dever, aprendendo e servin-
do sempre.
São esses que Allan Kardec, em sua palavra esclarecida, de-
fine como sendo “os espíritas verdadeiros ou, melhor, os espíritas-
-cristãos”. 6
Nessa jornada pelo continente de nossa alma, identificamos
conquistas realizadas e a realizar, observamos necessidades nos-
sas e dos nossos irmãos, e isso se dá em vários momentos e situa-
ções ao longo da existência de cada um de nós.
Três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em
si mesmo; o de membro da família e, finalmente, o de cidadão. 7
É necessário não fugir do mundo, nem das responsabilidades
que nos cercam, mas, sim, realizar, e bem, a parte de serviço con-
fiada ao nosso esforço, nos círculos de luta a que estamos sujeito.
A atitude primordial do discípulo sincero é, portanto, compre-

6 XAVIER, Francisco C. Seara do médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 2. ed. Rio de Jan
eiro: FEB, 1961, p. 32
7 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1998, “As expiações coletivas”, p. 266

O grande portal da era nova  |  51


ender o caráter transitório da existência carnal, concientizar-se de
sua imortalidade, consagrar-se ao Mestre como centro essencial
da vida e repartir com os semelhantes os seus divinos benefícios.
Valorizemos, pois, no Espiritismo, a vida, a vida abundante,
conduzindo nossas convicções em atos que falem da excelência
da fé imortalista capaz de libertar mentes e tranquilizar corações,
em definitivo. 8

8 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador,


BA: Leal, 1969, p. 163

52 |  O grande portal da era nova


7

Cristo
Cuidados pessoais
a serviço do

A beleza, a profundidade, a abrangência, a objetividade e a


qualidade da mensagem da qual nos fazemos portadores nas
atividades de exposição doutrinária e de coordenação de gru-
pos de estudos – focos deste nosso arrazoado – das quais par-
ticipemos, deve ter utilidade para nós próprios, primordialmente,
devendo estar em permanente aplicação nas nossas experiências
vivenciais, comportamentais. Assim se dando, a nossa fala estará
revestida da segurança emocional de quem não somente sabe o
que diz, mas de quem já faz uso daquele ensino. Assim, a beleza
e a qualidade da mensagem estarão suplementadas pela subs-
tância dos nobres sentimentos de quem a transmita, por estar este
ciente e confiante de que o que está por repassar aos outros em
nome da Doutrina Espírita, é o melhor para si próprio também. A
confiança é contagiante. A falta dela também.
Nos diz E. Kelly: “A diferença entre um chefe e um líder: um
chefe diz, ‘Vá!’ - um líder diz, ‘Vamos!’”
Não estamos postulando a condição de que se seja espírito

O grande portal da era nova  |  53


puro para que se possa veicular a Mensagem Espírita. Seria enor-
me tolice, mas, sim, que estejamos enquadrados na definição kar-
dequiana, de quem reconhece suas tendências más e empreende
continuado esforço em vencê-las.
Há um provérbio na Suécia que diz: “Quando um cego carrega
o manco, ambos vão para a frente”, ilustrando a condição de que
somos todos irmãos em caminhada comum de evolução espiritual.
E auxiliando-nos mutuamente, a caminhada será menos agreste.
Acompanhemos a abordagem de Lins de Vasconcellos sobre
o tema:
A Revelação Espírita, porém, é cristalina e inconfundível, con-
clamando todos aqueles que dela se abeberam a um aprofunda-
do estudo em torno da vida imortal e impondo a tônica da reno-
vação interior, de modo a consubstanciar nas atividades de toda
hora o programa traçado pela linha mestra da Codificação: “Fora
da Caridade não há salvação”.
Estes são dias em que se fazem necessários muito siso no estu-
do e muita meditação antes de atitudes e cometimentos, de modo
que o labor duramente desenvolvido desde há mais de cem anos
não venha a sofrer solução de continuidade por capricho de uns
ou insolência de outros, estribados em opiniões pessoais ou apres-
sadas disposições de divergir e dissentir...
Merece que reexaminemos os postulados kardequianos,
aprendendo mais uma vez, como “embaixadores das vozes” de
que nos fazemos, a técnica da ação relevante pelo trabalho que
edifica, da solidariedade que ajuda e da tolerância que firma o
valor do homem na gleba abençoada da caridade. Quando os
problemas surgem, urge a aplicação da atitude reflexiva; quan-
do as necessidades se multiplicam é indispensável parar a fim
de meditar; quando os empeços se avolumam, faz-se imperioso
examinar o óbice para vencer as dificuldades, afastando-as do
caminho.
[...]

54 |  O grande portal da era nova


Mais do que nunca estamos sendo convidados a um trabalho
positivo de construção da nova Humanidade. Que as nossas ati-
tudes não venham comprometer o programa superior, que no mo-
mento repousa em nossas débeis e agitadas mãos. 1
Cuidemos para que não sejamos daqueles referidos por Jesus,
quando nos disse: “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!
pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais
nem deixais entrar aos que estão entrando.” 2
“Não nos enganemos quanto às nossas responsabilidades.
Coloquemos acima dos “pontos de vistas” a Doutrina Espírita, e
além das ambições pessoais o sagrado ideal que juramos desdo-
brar e defender, se necessário com o contributo da nossa renúncia
e da nossa abnegação.” 3
Está escrito em algum lugar, e com outras palavras, que al-
cançar o “inferno” pelos seus caminhos próprios, é uma questão
de escolha, que devemos respeitar; mas se chegar ao “inferno”
supondo estar trilhando os caminhos do “céu”, é de se lastimar
tamanha insensatez.
Há pessoas demolidoras e pessimistas em matéria de fé, que
estão sempre acionando os camartelos da devastação.
Cultivando o mau-humor, fazem-se ríspidas, e o que produ-
zem, acionadas por um ideal, desfazem-no pela forma azeda
com que se comunicam com os que participam da sua ação.
Acreditam-se sempre certas, sem darem margem aos outros de
opinar em contrário.
Agridem, verbalmente, as correntes com as quais não simpa-
tizam, vendo o lado pior de tudo, sem apresentarem a beleza do

1 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-


dor, BA: Leal, 1979, p. 98-99
2 Mateus (23 : 13)
3 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-
dor, BA: Leal, 1979, p. 99

O grande portal da era nova  |  55


seu ideal incorporada ao seu comportamento.
Disseminando a ideia do bem, põem-se contra os outros, os
que não concordam com as suas expressões, tanto quanto com
aqueles que, embora favoráveis, não se lhes submetem ao talante.
São uma propaganda negativa do que pensam defender com
entusiasmo e agressividade.
O Espiritismo, sendo doutrina de libertação e responsabilida-
de, não passa indene a esses propagandistas da violência. 4
A luz não faz coleção de sombras. Não percamos tempo, não
desprezemos a oportunidade do trabalho no bem, não disperse-
mos forças, não prestemos desserviços em nome do Senhor. A hora
é de se definir pela ação nobre, apoiados nos objetivos radiantes
da sua luminosa doutrina.
São altamente expressivas estas palavras de Emmanuel, Espíri-
to, alertando-nos sobre a importância do tempo:
Vem!
Jesus reserva-te os braços abertos.
Vem e atendo-o ainda hoje. É verdade que sempre alcançaste
ensejos de serviço, que o Mestre sempre foi abnegado e miseri-
cordioso para contigo, mas não te esqueças de que as circunstân-
cias se modificam com as horas e de que nem todos os dias são
iguais. 5
Não te endureças, pois, na estrada que o Senhor te levou a
trilhar, em favor de teu resgate, aprimoramento e santificação. Re-
corda a importância do tempo que se chama Hoje. 6
Desfrute hoje, é mais tarde do que supões, recomenda provér-
4 FRANCO, Divaldo P., CHRISPINO, Álvaro (Organizador). Aos espíritas. Coletânea.
Salvador, BA: Leal, 2005, p. 45
5 XAVIER, Francisco, C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 24.ed. Rio de Janeiro: FEB,
2000, p. 344
6 ________. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, p. 150

56 |  O grande portal da era nova


bio chinês.
“[...] Tipo magro de rosto ovalado e de faces rosadas; olhos
de um azul bem claro, com entradas frontais acentuadas e bem
ampla tonsura. Dono de um discreto e afável sorriso e de um olhar
tranquilo e penetrante [...] 7, assim Raul Teixeira descreve o Espí-
rito Camilo, seu orientador espiritual na grandiosa tarefa atual de
espalhar os ensinos de Jesus no mundo. Este Benfeitor Espiritual,
fortemente vinculado a semeadura do Bem na Terra, que teve oca-
sião de nos dizer que o Espiritismo é como um gigantesco oceano
do qual estamos nas praias, apenas ...8 nos traz suas amadureci-
das reflexões, firmes e determinantes, encharcadas com o afeto
paternal de quem dedica profundo amor a Jesus:
Entre os companheiros que se situam nesse contexto de ditos
espiritistas, grande quantidade ignora os conceitos basilares espí-
ritas, mas há outros que se esmeram nas leituras, conhecem vários
textos e autores, não para que retirem a orientação feliz para as
suas existências, porém, a fim de viverem se digladiando uns com
os outros a respeito de pontos de vista que, como pontos de vista,
estarão sempre firmados nas faixas de maturidade e de conquis-
tas feitas por cada um, sem que, obrigatoriamente, reflitam o real
sentido das propostas espíritas.
[...]
O de que carece o Movimento Espírita, em seus labores, é da-
queles que se sintonizem com a lógica do pensamento espírita,
aprumada nas considerações clarificadoras do Espírito Verdade,
capaz de facear o avanço intelectual terrestre, sem temores, sem
tibieza, estabelecendo a inabalável fé, que faz a alma crescer, ilu-
minar-se, libertando-se do cruel pieguismo ou da exaltação neu-
rótica ou, ainda, do anseio de domínio da opinião, quando uma
luz mais alto se ergue, a do Cristo, que o Espiritismo alimenta com

7 FARIA, Osvaldo E. O chamado dos irmãos da luz. Niterói, RJ: Frater, 2008, p. 107
8 Ibid. p. 109

O grande portal da era nova  |  57


os óleos da sua celeste inspiração. 9
É ainda o Benfeitor Espiritual Camilo que nos traz considera-
ções graves como sinal de alerta:
Variados têm sido os que se deixam conduzir pelas influências
narcóticas de muitas mentes atreladas ao mal ou ao marasmo, do
Mundo Invisível, naturalmente desleixados com relação a vigilân-
cia íntima, realizando seu afazeres, quando os realizam, como
quem se desincumbe de um fardo pesado e difícil, mas não como
quem participa do alevantamento espiritual da Humanidade.
[...]
Surgem problemas a solucionar na esfera de renovação do
Espírito, sempre postergados, sem que os companheiros se deem
conta de que poderão estar sendo minados por fluidos aneste-
siantes da vontade.
Uma vez que não puderam impedir que muitas criaturas acei-
tassem e desejassem servir na Seara do Cristo, Entidades do Além,
inimigas do progresso e da luz, que não se dão por vencidas com
a primeira perda, fazem com que esses mesmos indivíduos não se
movimentem no bem, que tem caráter de premência e que depen-
de tão somente da boa vontade dos lidadores. Estão no movimen-
to do bem, mas não atuam com o bem, o que é sempre lastimável.
10

E arremata:
O que se vê é um processo de pouca vontade para empreen-
der mudanças em si mesmo...
[...]
Muitos dão preferência ao uso de expressões que bem indicam
a sua pouca disposição de transformação superior: “não há nada

9 TEIXEIRA, Raul T. Correnteza de luz. Pelo Espírito Camilo. Niterói, RJ: Frater, 1991, p.
51-53
10 Ibid. p. 145-146

58 |  O grande portal da era nova


demais nisso”, “todo mundo faz assim”, “todo mundo usa isso”,
enquanto outros preferem: “não sou de ferro”, “sou humano ain-
da”, “não sou fanático”. Entretanto, surgem os que já se admitem
como são, fazendo do seu estado um estado intocável que alimen-
tam afirmando: “comigo é assim...”, “quem quiser gostar de mim
tem que ser assim”, “sou muito bom, mas não me pise no calo...“,
e seguem desfilando as suas “máximas”, mantendo o processo
pernicioso de suas renitentes perturbações indefinidamente. 11
Necessário refletirmos demoradamente, o tempo urge. Ama-
nhã é um dia tão distante que talvez não o alcancemos ainda pre-
sos ao corpo físico. Guardemos em lugar especial da memória e
do coração, recomendações colhidas na Boa Nova, que concla-
ma-nos a tomar da charrua e não olhar para trás, e, decididos
pelo Bem incondicionalmente, façamos do dia de hoje o nosso
grande e importante dia de nossas vidas.
Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquan-
to é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. 12
Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte....
13

A questão do tempo é tão séria e grave, que desde os tempos


em que o Meigo Rabi caminhava pelas terras áridas da Palestina,
o alerta já nos era dado:
“Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque,
que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e
depois se desvanece.” 14
Camilo, Espírito, sempre afável e paternal, amigo e diligente
orientador de todos nós, quando, em 15 de março de 1974, se
apresentou por primeira vez mediunicamente à Raul Teixeira, assim

11 Ibid. p. 140-141
12 João (9 : 4)
13 Lucas (13 : 33)
14 Tiago (4 : 14)

O grande portal da era nova  |  59


dirigiu-lhe especial mensagem, demarcando nova etapa em sua
vida: “Meu filho, Jesus, cujo nome vem sendo proferido por nós
ao longo das eras e, ao mesmo tempo, por nós incompreendido,
deverá ser a nossa Estrela Maior, a nossa Inspiração Maior, o nos-
so Aconchego Maior. Se lograrmos dar conta desse compromis-
so, iniciado há tantos séculos sem o necessário êxito, sorveremos
a ventura no cálice da vitória, milenarmente suspirada. O tempo
urge filho, e não o teremos demasiado... Esqueça-se a si mesmo;
recorde-se, porém, dos velhos deveres junto ao Irmão Seráfico de
Assis, e que nada nos detenha. Vamos, meu filho, pois o Divino
Amigo tem-nos sob o Seu olhar de misericórdia, e temos bem pou-
co tempo...” 15
Tomemos estas palavras, como se para nós tivessem sido diri-
gidas diretamente, e repitamo-las intimamente no silêncio do nos-
so coração, para que ali finquem raízes inamovíveis: “Vamos, meu
filho, pois o Divino Amigo tem-nos sob o Seu olhar de misericórdia,
e temos bem pouco tempo...”
E sempre que iniciarmos um novo dia, que é sinônimo da bon-
dade Divina ofertando-nos novas oportunidades, o façamos re-
fletindo sobre o que nos propõe Emmanuel, Espírito, em face da
indagação posta por Jesus: “Que fazeis de especial?” 16
Em face, pois, de tantos conhecimentos e informações dos pla-
nos mais altos, a beneficiarem nossos círculos felizes de trabalho
espiritual, é justo ouçamos a interrogação do Divino Mestre:
- Que fazeis mais do que os outros? 17
Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a pa-
lavra pronunciada e a oportunidade perdida, fala brocardo po-
pular chinês.
Num belo apólogo, conta Rabindranath Tagore que um lavra-
15 FARIA, Osvaldo E. O chamado dos irmãos da luz. Niterói, RJ: Frater, 2008, p. 107
16 Mateus (5:47)
17 XAVIER, Francisco, C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 15.ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998, p. 134

60 |  O grande portal da era nova


dor, a caminho de casa, com a colheita do dia, notou que, em
sentido contrário, vinha suntuosa carruagem, revestida de estrelas.
Contemplando-a, fascinado, viu-a estacar, junto dele, e, semies-
tarrecido, reconheceu a presença do Senhor do Mundo, que saiu
dela e estendeu-lhe a mão a pedir-lhe esmolas...
- O quê? – refletiu, espantado – o Senhor da Vida a rogar-me
auxílio, a mim, que nunca passei de mísero escravo, na aspereza
do solo?
Conquanto excitado e mudo, mergulhou a mão no alforje de
trigo que trazia e entregou ao Divino Pedinte apenas um grão da
preciosa carga.
O Senhor agradeceu e partiu.
Quando, porém, o pobre homem do campo tornou a si do pró-
prio assombro, observou que doce claridade vinha do alforje po-
eirento... O grânulo de trigo, do qual fizera sua dádiva, tornara à
sacola, transformado em pepita de ouro luminescente...
Deslumbrado, gritou:
- Louco que fui!... Por que não dei tudo o que tenho ao Sobe-
rano da Vida? 18
Vamos repetir as considerações do Espírito Camilo, a fim de
bem as fixarmos na memória: Se lograrmos dar conta desse com-
promisso, iniciado há tantos séculos sem o necessário êxito, sorve-
remos a ventura no cálice da vitória, milenarmente suspirada.
Para tanto, nos esforcemos para que não nos façamos espinho,
quando podemos ser as pétalas da rosa; para que não sejamos
problema, quando podemos ser solução; que não nos façamos
obstáculo, quando podemos ser ponte de comunhão.
Adotemos os apontamentos de Tiago, o apóstolo, em 1:19:
Mas, todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tar-
18 XAVIER, Francisco, C. Cartas e crônicas. Pelo Espírito Irmão X. 3.ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1966, p. 7-8

O grande portal da era nova  |  61


dio para se irar.
O Espírito Emmanuel, o grande evangelizador, comenta-nos
essa citação:
Analisar, refletir, ponderar são modalidades do ato de ouvir. É
indispensável que a criatura esteja sempre disposta a identificar o
sentido das vozes, sugestões e situações que a rodeiam
[...]
Quem ouve, aprende. Quem fala, doutrina.
Um guarda, outro espalha.
Só aquele que guarda, na boa experiência, espalha com êxito.
[...]
Tenhamos em mente que todo homem nasce para exercer uma
função definida. Ouvindo sempre, pode estar certo de que atingi-
rá serenamente os fins a que se destina, mas, falando, é possível
que abandone o esforço ao meio, e, irando-se, provavelmente
não realizará coisa alguma. 19

19 XAVIER, Francisco, C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1998, p. 169-170

62 |  O grande portal da era nova


Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

parte 3
Espiritismo para todos
Iluminemos o raciocínio sem descurar o
sentimento.
Burilemos o sentimento sem desprezar o
raciocínio.
O Espiritismo, restaurando o Cristianismo,
é universidade da alma. Nesse sentido, vale
recordar que Jesus, o Mestre por excelência,
nos ensinou, acima de tudo, a viver
construindo para o bem e para a verdade,
como a dizer-nos que a chama da cabeça
não derrama a luz da felicidade sem o óleo
do coração.

Emmanuel
8

Estudo
Importância
do

A h! a abençoada oportunidade do estudo dirigido e bem pen-


sado se faz como um guia que se propõe a conduzir cami-
nhantes por trilhas desconhecidas, apesar de sonhadas, ou como
o bom pastor que se apresenta para conduzir as ovelhas ao recan-
to farto de alimento. Tanto a disposição para programas pessoais
de estudo particular, como a participação em grupos de estudos
nos Centros Espíritas, são variáveis de uma mesma equação que
se complementam, pois não se pode imaginar o estudo sério do
Espiritismo dispensando-lhe apenas o tempo em que estivermos
participando de um grupo de estudos no Centro Espírita. Precisa
mais. Bem mais.
Por essa razão é que se faz imperioso estudar o Espiritismo,
trazendo informes destes dias para examiná-los à luz meridiana
da Doutrina, clareando as nebulosas informações de psiquistas
e parapsicólogos, os problemas morais ao estudo sistemático da
moral espírita e as conclusões da ciência ao ensinamento doutri-

O grande portal da era nova  |  65


nário [...] 1
Joanna de Ângelis, pseudônimo de abnegada religiosa baia-
na – Sóror Joana Angélica -, participa do Movimento de reno-
vação da Terra junto à falange dos Instrutores Espirituais – essas
novas “Vozes dos Céus” – encarregados da sementeira de luz e
da esperança entre os homens em nome da Doutrina Espírita, o
que o faz desde as épocas da Codificação Espírita, quando, em O
Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos dois ditados seus,
assinando: Um Espírito Amigo. A primeira recebida em Havre e
a segunda em Bordéus, França, ambas no ano de 1862. Através
da profícua mediunidade de Divaldo Pereira Franco, notável tra-
balhador da Seara de Jesus, ela tem legado a todos nós diversos
livros, donde colhemos essa oportuna assertiva:
Estudar o Espiritismo na sua limpidez cristalina e sabedoria in-
contestável é dever que não nos é lícito postergar, seja qual for a
justificativa a que nos apoiemos. 2
Mas esses programas de estudos precisam ser bem pensados e
bem elaborados, como bem recomenda-nos Bezerra de Menezes:
Nosso compromisso é com Jesus – nossa barca, nossa bússola,
nosso norte, nosso porto...
Jesus, meus amigos! Aquele a quem juramos fidelidade, amor
e serviço.
Hoje é o nosso dia de apresentar o Evangelho restaurado à
sofrida alma do povo.
Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança,
trocando verbalismo sonante e vazio pela semente de luz que de-
vemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das pai-
xões e do desequilíbrio.

1 FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador,


BA: Leal, 1968, p. 127
2 ________. Estudos espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2.ed. Salvador, BA: Leal,
1982, p. 12

66 |  O grande portal da era nova


A nossa não é outra, senão a tarefa de conduzir com seguran-
ça os náufragos das experiências humanas ao porto da paz. 3
Vianna de Carvalho e Lins de Vasconcellos, quais sábios pro-
fessores do além, também nos lecionam sobre a importância do
estudo e da divulgação da Doutrina Espírita. Começamos citando
Vianna de Carvalho:
Impostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós,
desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo
nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec a fim de
que o Consolador de que se faz instrumento não apenas enxugue
em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar nas fontes do
sofrimento as causas de todas as aflições que produzem as lágri-
mas e os suores. 4
E agora Lins de Vasconcellos:
Depreende-se que o Espiritismo, ao inverso das outras Doutri-
nas, cultiva o estudo, favorecendo o discernimento com largueza
de vistas em relação aos problemas intrincados da alma encarna-
da.
[...]
“O homem é o que pensa” – eis a nova fórmula. Nem o que
demonstra nem o que dele se pensa.
A vida íntima, a de natureza mental, significa o ser no seu es-
tado real.
Por isso, “o progresso completo constitui o objetivo”, como
também afirmaram os Espíritos, porquanto são os atos que defi-
nem o caráter, oferecendo a contribuição para o mérito ou desme-
recimento do indivíduo.

3 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. .


Salvador, BA: Leal, 1991, p. 79
4 ________. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salvador, BA:
Leal, 1979, p. 96

O grande portal da era nova  |  67


[...]
Desenvolver as possibilidades intelectuais, iluminando a mente
e libertando o coração, eis os objetivos da reencarnação para lo-
brigar o êxito a que se propõe.
[...]
A paz depende sobretudo da razão.
Quando a razão se ilumina o coração se eleva, santificando os
impulsos e revigorando os sentimentos, o bem e o mal perdem o
aspecto dualista para surgirem na feição do Eterno Bem, presente
ou ausente.
[...]
Por isso mesmo crê mais aquele que compreende e não o que
vê, ouve, ou que simplesmente foi informado.
A autoiluminação é filha do esclarecimento intelectual.
O convite ao estudo, em Espiritismo, não pode, desse modo,
ser desconsiderado.
Elaboremos programas para todos os momentos da vida e re-
servemos ao estudo um tempo necessário à manutenção ativa da
nossa elaboração espiritual que edifique e felicite. 5

5 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador,


BA: Leal, 1969, p. 115-118

68 |  O grande portal da era nova


9

Estudo
A necessidade
do

C onhecendo a psicologia humana e sabendo que quanto maior


a mudança proposta para determinado estado vigente das
coisas, maior será a resistência a essa mudança, Allan Kardec in-
dicou-nos que o melhor será darmos um passo de cada vez em
direção ao pleno esclarecimento humano da realidade espiritual
para além da vida. Primeiro se trabalhar o alcance do entendi-
mento amplo e mais genérico do espiritualismo, e depois se traba-
lhar as proposições espíritas, propriamente ditas.
Eis a recomendação de Kardec:
É crença geral que, para convencer, basta apresentar os fatos.
Esse, com efeito, parece o caminho mais lógico. Entretanto, mostra
a experiência que nem sempre é o melhor, pois que a cada passo
se encontram pessoas que os mais patentes fatos absolutamen-
te não convenceram. A que se deve atribuir isso? É o que vamos
tentar demonstrar. No Espiritismo, a questão dos Espíritos é secun-
dária e consecutiva; não constitui o ponto de partida. Este precisa-
mente o erro em que caem muitos adeptos e que, amiúde, os leva

O grande portal da era nova  |  69


a insucesso com certas pessoas. Não sendo os Espíritos senão as
almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é a existência
da alma. Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para
o desconhecido. Convencê-lo de que há nele alguma coisa que
escapa às leis da matéria. Numa palavra, primeiro que o torneis
espírita, cuidai de torná-lo espiritualista. Mas, para tal, muito outra é
a ordem de fatos a que se há de recorrer, muito especial o ensino
cabível e que, por isso mesmo, precisa ser dado por outros pro-
cessos. Falar-lhe dos Espíritos, antes que esteja convencido de ter
uma alma, é começar por onde se deve acabar, porquanto não
lhe será possível aceitar a conclusão, sem que admita as premis-
sas. Antes, pois, de tentarmos convencer um incrédulo, mesmo por
meio dos fatos, cumpre nos certifiquemos de sua opinião relativa-
mente à alma, isto é, cumpre verifiquemos se ele crê na existência
da alma, na sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade
após a morte. Se a resposta for negativa, falar-lhe dos Espíritos
seria perder tempo. Eis aí a regra. 1
Emmanuel, Espírito, pela luminosa mediunidade de Francisco
Cândido Xavier, ao escrever a abertura do livro Libertação 2, di-
tado por André Luiz, Espírito, nos relembra antiga lenda egípcia
que bem caracteriza o grande esforço que é preciso fazer para se
veicular a mensagem imortalista num mundo onde o imediatismo e
consumismo ditam regras, e onde ninguém quer se mexer da zona
de conforto em que se encontra.
Ante as portas livres de acesso ao trabalho cristão e ao conhe-
cimento salutar que André Luiz vai desvelando, recordamos praze-
rosamente a antiga lenda egípcia do peixinho vermelho.
No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de
ladrilhos azul-turquesa.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas,

1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Cap. III, ítem 19, p. 36
2 XAVIER, Francisco, C. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 7.ed. Rio de Janeiro: FEB,
1978, p. 7-11

70 |  O grande portal da era nova


do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de pei-
xes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas,
frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas
para os encargos de rei, e ali viviam plenamente despreocupados,
entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menospreza-
do de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos
nichos barrentos.
Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas
as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares
consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo
era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou ator-
mentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho
não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com
bastante interesse.
Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas
do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com
precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de
aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encon-
trou a grade do escoadouro.
A frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, re-
fletiu consigo:
— “Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros ru-
mos?”
Optou pela mudança.

O grande portal da era nova  |  71


Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer
conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de
atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego
d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol
que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança ...
Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele
simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e
descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, em-
barcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, ja-
mais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade
e sedento de estudo.
De início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproxi-
mou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que
vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o
espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os
elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando
proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que
pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo
começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias
simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo,
passou a reparar as infinitas riquezas da vida.
Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas mó-

72 |  O grande portal da era nova


veis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a
existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto
ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que ele-
gera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando,
ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente
no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia,
de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de
outra altitude continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão
daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-
-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? Não seria
nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações?
Não hesitou.
Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com
ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de
volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se en-
caminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço
a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os
velhos companheiros.
Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o
seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a co-
letividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que
ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados
nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de
onde saiam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas
desprezíveis.

O grande portal da era nova  |  73


Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse
atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.
Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e co-
municou-lhe a reveladora aventura.
O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu
o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.
O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu,
com ênfase, que havia outro mundo liquido, glorioso e sem fim.
Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de
momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobra-
vam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos
ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e,
por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais
surpreendente.
Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos.
Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar.
Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira
árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros
temíveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para
conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos
e tranquilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade,
porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer,
convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto
verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto
quanto era necessário à venturosa jornada.
Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a
preleção.
Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que
o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era
francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e oce-
anos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a
declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os

74 |  O grande portal da era nova


olhos voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho,
dirigiu-se em companhia dele até à grade de escoamento e, ten-
tando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
— “Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barba-
tanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-es-
tar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida
igual à nossa! ...”
Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de
retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguar-
dando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora
seca.
As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes
pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade
inteira a perecer, atolada na lama...
A Mensagem Espírita nos faz bem? Agradeçamos àquele que
se fez nosso benfeitor em dada ocasião, que nos presenteou com
a oportunidade de conhecermos a Doutrina Espírita.
Agora queremos que outros tantos aceitem também esse con-
vite, o que é louvável.
Mas não nos enganemos imaginando que o pretendido en-
gajamento das pessoas no estudo se faça sem maiores óbices.
Entre outros, há o obstáculo da falta de hábito de leitura periódi-
ca, quanto mais de leitura sadia e edificante. Há o empecilho da
pouca vontade de estudar com dedicação para se aprender de
fato alguma coisa, faltando autodeterminação; também há o fato
de que na nossa formação escolar assimilamos equivocadamente
que estudo é para quando estamos em banco escolar e, ainda
pior, somente para se conseguir aprovação (alcançar nota média
suficiente) em cada prova e no final de cada ano, sabendo-se ou
não efetivamente a matéria; acrescente-se preconceitos religio-

O grande portal da era nova  |  75


sos, e por aí vai.
Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver
flores, valeu a sombra das folhas; senão houver folhas, valeu a
intenção da semente, escreveu Henfil.
Como semeadores da Boa Nova e caminheiros da Era Nova,
nos resguardemos nos ensinos de Jesus, ministrados ontem com
validade para todo o sempre:
Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.
E aconteceu que semeando ele, uma parte da semente caiu
junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram.
E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e
nasceu logo, porque não tinha terra profunda.
Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, se-
cou-se.
E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufoca-
ram e não deu fruto.
E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e
um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem.
E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 3
Já nos foi dito pelas Vozes dos Céus, em 1857:
Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas
más inclinações?
“Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignifican-
tes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fa-
zem esforços!” 4
Em realidade, somos fracos de vontade, não de inteligência.
3 Marcos (4:3 a 9)
4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Perg. 909, p. 418

76 |  O grande portal da era nova


Estamos informados de tantas coisas na vida que são boas, sau-
dáveis, importantes e necessárias. As aceitamos, nelas reconhe-
cemos tais qualidades, mas não as adotamos, não as praticamos,
não fazemos como deveria ser. Entre o saber e o fazer, a vontade
é a determinante que faz a diferença!
Despertar esse interesse é desafio urgente. Programas de es-
tudos bem elaborados, com temas bem escolhidos e apropriada-
mente ordenados entre si, apresentados de maneira eficaz, em
reuniões bem preparadas e bem conduzidas, com sincero empe-
nho em se conquistar cada um dos participantes para os caminhos
de Jesus, com dedicação, entusiasmo e oferta de amizade sincera,
são fatores que muito auxiliarão tal intento.
Sobre a necessidade de estudo e, especialmente, de estudo
da Doutrina Espírita, abaixo destacamos várias citações de Allan
Kardec constantes em O Livro dos Espíritos, como maior funda-
mentação ainda para nosso convencimento:
Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina
Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova
quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios,
perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera
vontade de chegar a um resultado. 5
*
O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe
dá. 6
*
[...] A verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os Espíri-
tos deram, e os conhecimentos que esse ensino comporta são por
demais profundos e extensos para serem adquiridos de qualquer
modo, que não por um estudo perseverante, feito no silêncio e no

5 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Introdução, item VIII, p. 31
6 Id.

O grande portal da era nova  |  77


recolhimento. 7
*
[...] Nunca, porém, dissemos que esta ciência fosse fácil, nem
que se pudesse aprendê-la brincando, o que, aliás, não é possí-
vel, qualquer que seja a ciência. Jamais teremos repetido bastante
que ela demanda estudo assíduo e por vezes muito prolongado. 8
*
[...] Por isso é que dizemos que estes estudos requerem aten-
ção demorada, observação profunda e, sobretudo, como, aliás, o
exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança.
Anos são precisos para forma-se um médico medíocre e três quar-
tas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como preten-
der-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém,
pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas
as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se
abre diante de nós. Será de admirar que o efetuá-lo demande
tempo, muito tempo mesmo. 9

7 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Introdução, item XVII, p. 46
8 Ibid. Item XII, p. 38
9 Ibid. Item XIII, p. 38-39

78 |  O grande portal da era nova


Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

parte 4
Espiritismo e o
Centro Espírita
Num templo espírita-cristão, é razoável
anotar que todo trabalho á ação de
conjunto.
Cada companheiro é indicado à tarefa
precisa; cada qual assume a feição de peça
particular na engrenagem do serviço, sem
cuja cooperação os mecanismos do bem não
funcionam em harmonia.

Emmanuel
10

Centro spírita
E
O

A nossa jornada de redenção e crescimento espiritual, enrique-


cida e apoiada pelo conhecimento espírita, se abrigadados
em um Centro Espírita, tende a ser muito mais segura e exitosa.
E como bem entender o que seja um Centro Espírita e seus pro-
pósitos?
No dizer de Allan Kardec: Se um nome é necessário, inscreve-
remos em seu frontispício: Escola do Espiritismo Moral e Filosófico,
e para ela convidaremos todos quantos têm necessidade de espe-
ranças e de consolações. 1
Já o venerando Espírito Bezerra de Menezes nos ensina: Cen-
tro Espírita é o educandário básico da mente popular.
Enquanto Emmanuel define: “Um Centro Espírita é uma escola

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. In: Revista espírita: jornal de estudos psicológi-
cos, ano 4, p.8, jan. 1861. Trad. Julio Abreu Filho. 1 ed, São Paulo: Edicel.

O grande portal da era nova  |  81


onde podemos aprender e ensinar, plantar o bem e recolher-lhe
as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eter-
na.” 2
O Centro Espírita é uma célula viva e pulsante onde se forjam
caracteres, sob a ação enérgica do bem e do conhecimento 3, es-
creve-nos João Cléofas.
E os seus propósitos?
Sobre isso, eis lição dada pelo Benfeitor Espiritual Bezerra de
Menezes: Compreendamos que o Evangelho veio até nós para
que o Cristo restaurasse entre os homens, por nosso intermédio, o
primado da Verdade e uma Nova Era se estabelecesse entre as
criaturas da Terra. 4
E ainda sobre o Centro Espírita, assim se posiciona Vianna de
Carvalho: Destinado aos infelizes, estes não são apenas os que
sofrem as dificuldades econômicas e que são conhecidos como
constituintes das classes humildes. A dor não se limita a questões
de circunstância, tempo e lugar. 5
Na revista Presença Espírita de setembro/outubro de 2006 6,
colhemos algumas das citações que abaixo transcrevemos, pela
sua oportunidade:
Como toda organização que se preza, um Centro Espírita
apresenta-se estruturado conforme seus valores fundamentais e
operacionais e adota missão muito especial, guardada a sua es-
2 XAVIER, Francisco C. O centro espírita, In: Revista O Reformador. Pelo Espírito
Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, janeiro de 1951
3 FRANCO. Divaldo P. CHRISPINO, Álvaro (Organizador). Aos espíritas. Coletânea.
Salvador, BA: Leal, 2005, p. 97
4 ________. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. . Salvador,
BA: Leal, 1991, p. 82
5 ________. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salvador, BA: Leal,
1979, p. 96
6 Revista Presença Espírita, tendo como sua mantenedora a Mansão do Caminho, foi
fundada por Divaldo Pereira Franco e Nilson Pereira, lançada em 20 de fevereiro de 1974.
Periódico que tem primado por levar informação útil, de forma agradável. (N.A)

82 |  O grande portal da era nova


pecificidade de unidade fundamental do Movimento Espírita, local
voltado à convergência e convivência de pessoas interessadas no
conhecimento e prática vivencial do Espiritismo, desempenhando
papel primordial na tarefa de divulgação doutrinária.
• São núcleos de estudo, de fraternidade, de oração e de
trabalho praticados dentro dos princípios espíritas;
• São escolas de formação espiritual e moral, que trabalham
à luz da Doutrina Espírita;
• São postos de atendimento fraternal para todos os que os
procuram com o propósito de obter orientação, esclarecimento,
ajuda ou consolação;
• São oficinas de trabalho que proporcionam aos seus fre-
quentadores oportunidades de exercitarem o próprio aprimora-
mento íntimo pela prática do Evangelho em suas atividades;
• São casas onde as crianças, os jovens, os adultos e os ido-
sos têm oportunidade de conviver, estudar e trabalhar, unindo a
família sob a orientação do Espiritismo;
• São recantos de paz construtiva, que oferecem aos seus
frequentadores oportunidades para o refazimento espiritual e a
união fraternal pela prática do “amai-vos uns aos outros”;
• São núcleos que se caracterizam pela simplicidade pró-
pria das primeiras casas do Cristianismo nascente, pela prática da
caridade;
• São unidades fundamentais do Movimento Espírita.
[...]
A sua base de sustentação é a Doutrina Espírita, conforme co-
dificada por Allan Kardec. Os pilares que estruturam suas ações
são o trabalho, a solidariedade e a tolerância. E o teto que abriga
toda a obra é o amor fraternal em ação permanente, ou seja, a
prática da caridade, sem a qual não há como se cogitar de cons-
trução da felicidade possível na Terra.

O grande portal da era nova  |  83


[...]
Quem busca um Centro Espírita, o faz para aproximar-se do
conhecimento espírita e suas práticas, ou o faz pelo peso de seus
problemas ainda sem solução e suas dores sem lenitivos, ou, ain-
da, mesmo que em menor número, por simples curiosidade. 7
Recordar sempre que os que se achegam ao Centro Espírita
não são espíritas ainda, e talvez nem venham a se tornar espíritas.
O acolhimento, o atendimento e o encaminhamento dessas pes-
soas deve se dar com esse entendimento, cabendo-nos dispen-
sar-lhes o melhor de nós e o máximo da Doutrina Espírita. E os que
fiquem e os que já estão ali, recebam a devida guarida, para que
assim permaneçam.
Os Centros Espíritas têm por objetivo promover o estudo, a di-
fusão e a prática da Doutrina Espírita, atendendo as pessoas que:
• Buscam esclarecimento, orientação e amparo para seus
problemas;
• Querem conhecer e estudar a Doutrina Espírita;
• Querem trabalhar, colaborar e servir em qualquer área de
ação que a prática espírita oferece.
[...]
Quando alguém se dispõe a buscar um Centro Espírita é opção
das mais felizes que toma. Oportunidade de encontrar-se com a
mensagem de Jesus, despida de formalidades e outros aspectos
exteriores, direta, clara e inteligível, para que alcance seu íntimo,
visite seu coração e ali faça morada definitiva e duradoura, pas-
sando a nortear sua jornada de redenção pessoal.
[...]
E o Centro Espírita precisa ser aquele local no qual o cami-
nhante encontre um grupo de almas em que haja ressonância com
7 SILVA, Silmar O. Revista Presença Espírita. Salvador, BA: Leal, setembro/outubro de
2006

84 |  O grande portal da era nova


as suas disposições nascentes de crescer em humildade e em fra-
ternidade, de lutar pela construção de um mundo melhor a partir
da melhoria efetiva do homem, que possa abrigar com mais jus-
tiça, com mais amor, com mais caridade, os seus afetos e os seus
irmãos de Humanidade, já num futuro que não esteja tão distante.
[...]
Chegará o dia em que o Senhor da Vida nos cobrará presta-
ção de contas da administração que dispensamos aos valores di-
vinos que nos foram confiados, tais quais os talentos da parábola,
que deveriam ser multiplicados e distribuídos a cada um que se
aproximasse do nosso Centro Espírita. 8
É momento de respondermos a Jesus, pois temos material sufi-
ciente para deliberação pessoal:
Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no um-
bral de todos os templos religiosos do mundo, perguntando, com
interesse, aos que entram: “Que buscais?” 9

8 Id.
9 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1998, p. 60

O grande portal da era nova  |  85


Um Centro Espírita é uma escola onde
podemos aprender e ensinar, plantar o bem
e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e
aperfeiçoar os outros, na senda eterna.

Emmanuel
11

Atividade
Coletiva
Centro Espírita:
Unidade Fundamental
Foco de

N osso objetivo é de estabelecer um primeiro laço entre os Espí-


ritas, que o desejam há muito tempo e lamentam de seu isola-
mento. Ora, esse laço, sem o qual o Espiritismo, permanecendo no
estado de opinião individual, sem coesão, não pode existir senão
com a condição de se ligar a um centro por uma comunidade de
vistas e de princípios. Esse centro não é uma individualidade, mas
um foco de atividade coletiva, agindo no interesse geral, e onde a
autoridade pessoal se apaga. 1
Sim, é Allan Kardec falando da necessidade dos Centros Espí-

1 KARDEC, Allan. Constituição provisória do Espiritismo. In: Revista Espírita: jornal de


estudos psicológicos, ano 11, p.26, dez. 1868. Trad. Julio Abreu Filho. 1 ed, São Paulo: Edicel.

O grande portal da era nova  |  87


ritas existirem.
E é Allan Kardec, em o Livro dos Médiuns, item 331, quando
trata das reuniões mediúnicas, que nos ensina: uma reunião é um
ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das
de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe
tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for.
Parafraseando-o, podemos afirmar com segurança o mesmo
quanto a um Centro Espírita: Centro Espírita é um ser coletivo, cujas
qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros
e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá,
quanto mais homogêneo for.
Por mais atividades que realize, por maior que seja sua estrutu-
ra organizacional, o Centro Espírita deve ser visto e administrado
como um todo, qual engrenagens de um relógio em funcionamen-
to harmônico e sempre pontual, unificadas pelo mesmo ideal e
propósitos, atuando em uníssono, em comunidade de vistas e de
princípios.
Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos
pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos pro-
pósitos. Distanciados entre nós, continuaremos à procurado traba-
lho com que já nos encontramos honrados pela Divina Providên-
cia. 2
Estamos por aprender a viver em comunidade e o Centro Espí-
rita é excelente escola também para essa lição. No entanto, saber
viver a vida harmoniosa em comunidade é conquista do espírito.
Em cada templo, o mais forte deve ser escudo para o mais fra-
co, o mais esclarecido a luz para o menos esclarecido, e sempre
seja o sofredor o mais protegido e o mais auxiliado, como entre os
que menos sofram seja o maior aquele que se fizer o servidor de

2 XAVIER, Francisco C. Mensagem de união. In: Reformador. Pelo Espírito Bezerra de


Menezes. Rio de Janeiro: FEB, novembro/dezembro de 1980

88 |  O grande portal da era nova


todos, conforme a observação do Mentor Divino. 3
Recordemos Allan Kardec ao tratar da vida em comunidade:
A comunidade é a abnegação mais completa da personalida-
de. Cada um devendo dar de si pessoalmente, ela requer o mais
absoluto devotamento. Ora, o móvel da abnegação e do devo-
tamento é a caridade, isto é, o amor ao próximo. Mas reconhe-
cemos que o fundamento da caridade é a crença; que a falta de
crença conduz ao materialismo e o materialismo leva ao egoísmo.
[...] Mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe
nem se decreta; é preciso que esteja no coração ...
[...]
Antes de fazer a coisa para os homens, é preciso formar os
homens para a coisa, como se formam operários, antes de lhes
confiar um trabalho. Antes de construir, é preciso assegurar-se da
solidez dos materiais. Aqui os materiais sólidos são os homens de
coração, de devotamento e de abnegação.
[...]
Sem a caridade, não há instituição humana estável; e não
pode haver caridade nem fraternidade possíveis, na verdadeira
acepção da palavra, sem a crença. Aplicai-vos, pois a desenvol-
ver esses sentimentos que, engrandecendo-se, destruirão o ego-
ísmo que vos mata. Quando a caridade tiver penetrado as mas-
sas, quando se tiver transformado na fé, na religião da maioria,
então vossas instituições se tornarão melhores pela força mesma
das coisas; os abusos, oriundos do personalismo, desaparecerão.
Ensinai, pois, a caridade e, sobretudo, pregai pelo exemplo: é a
âncora de salvação da sociedade. Só ela pode realizar o reino
do bem na Terra, que é o reino de Deus; sem ela, o que quer que
façais, só criareis utopias, das quais só vos resultarão decepções.
[...]

3 XAVIER, Francisco C. Unificação. In: Reformador. Pelo Espírito Bezerra de Menezes.


Rio de Janeiro: FEB, dezembro de 1975

O grande portal da era nova  |  89


Assim, pela força das coisas, o Espiritismo terá por consequên-
cia inevitável a melhoria moral; esta melhoria conduzirá à prática
da caridade, e da caridade nascerá o sentimento da fraternidade.
Quando os homens estiverem imbuídos dessas ideias, a elas con-
formarão suas instituições, e será assim que realizarão, natural-
mente e sem abalos, todas as reformas desejáveis. 4
Envidar todos os esforços para que não se formem grupos den-
tro do grupo, pois isso será sinal de perda de unidade. Mais dia
menos dia, caso isso aconteça, tomará ares de disputa interna, de
desagregação, o que traz o risco de solução de continuidade para
as atividades, no geral.
Enquanto ainda é tempo, revesti-vos, pois, da túnica branca:
sufocai todas as discórdias, pois que as discórdias pertencem ao
reino do mal, que vai ter fim. Que vos possais confundir todos numa
mesma família e vos dar, do fundo do coração e sem pensamento
premeditado, o nome de irmãos. Se, entre vós, houver dissidên-
cias, causas de antagonismo; se os grupos, que devem todos mar-
char para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento,
sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu
os primeiros erros e me coloco, sem vacilar, do lado daquele que
tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humil-
dade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre em erro,
ainda que coberto de algum tipo de razão, porquanto Deus maldiz
a quem diz a seu irmão: Raca. Os grupos são indivíduos coleti-
vos que devem viver em paz, como os indivíduos, se, realmente,
são espíritas; são os batalhões da grande falange. Ora, em que
se tornaria uma falange, cujos batalhões se dividissem? Os que
vissem os outros com olhos ciumentos provariam, só por isso, que
estão sob má influência, desde que o Espírito do bem não pode
produzir o mal. Como bem o sabeis, reconhece-se a árvore pelos
seus frutos. Ora, o fruto do orgulho, da inveja e do ciúme é um fruto
envenenado que mata quem dele se nutre.
O que digo das dissidências entre os grupos, digo-o igualmen-
te para as que pudessem existir entre os indivíduos. Em semelhante
4 KARDEC, Allan. Viagem espírita 1862. Rio de Janeiro: FEB, p. 26-32

90 |  O grande portal da era nova


circunstância, a opinião de pessoas imparciais é sempre favorá-
vel àquele que dá provas de maior grandeza e generosidade.
Aqui na Terra, onde ninguém é infalível, a indulgência recíproca
é uma consequência do princípio de caridade que nos leva a agir
para com os outros como gostaríamos que os outros agissem para
conosco. Ora, sem indulgência não há caridade, sem caridade
não há verdadeiro espírita. A moderação é um dos sinais carac-
terísticos desse sentimento, como a acrimônia, como o rancor é a
sua negação; com acrimônia e espírito vingativo estragam-se as
melhores causas, mas com moderação sempre agimos dentro dos
preceitos do bom direito. Se, pois, eu tivesse de opinar em uma
divergência, eu me preocuparia menos com a causa e mais com a
consequência. A causa, sobretudo em querelas de palavras, pode
ser o resultado de um primeiro movimento, de que nem sempre
se é senhor; a conduta ulterior dos dois adversários é o resultado
da reflexão: eles agem de sangue frio e é então que se forja o
verdadeiro caráter normal de cada um. Uma cabeça ruim e um
bom coração muitas vezes caminham juntos, mas rancor e bom
coração são incompatíveis. Minha medida de apreciação seria,
pois, a caridade, isto é, eu observaria aquele que falasse menos
mal de seu adversário, que fosse mais moderado em suas recrimi-
nações. É com esta medida que Deus nos julgará, pois que Ele será
indulgente para quem tiver sido indulgente e inflexível para quem
tiver sido inflexível.
O caminho traçado pela caridade é claro, infalível e sem equí-
vocos. Poder-se-ia defini-lo assim: “Sentimento de benevolência,
de justiça e de indulgência para com o próximo, baseado no que
quereríamos que o próximo nos fizesse.” Tomando-a por guia, po-
demos estar certos de não nos afastar do reto caminho, daquele
que conduz a Deus; quem quer que deseje, de maneira sincera e
séria, trabalhar por sua própria melhoria, deve analisar a carida-
de em seus mais minuciosos detalhes e por ela conformar sua con-
duta, pois ela se aplica a todas as circunstâncias da vida, peque-
nas ou grandes. Quando estivermos em dúvida sobre que partido
tomar, no interesse alheio, basta que interroguemos a caridade e
ela responderá sempre de maneira justa. Infelizmente escutamos,

O grande portal da era nova  |  91


na maioria das vezes, a voz do egoísmo. 5
E assim continua o preclaro Codificador:
Mas este não é o único escolho. Eu disse que os adversários têm
uma outra tática para alcançar seus fins: semear a desunião entre
os adeptos, atiçando o fogo das pequenas paixões, dos ciúmes e
dos rancores; fazendo nascer cismas; suscitando causas de anta-
gonismo e de rivalidade entre os grupos, a fim de fragmentá-los.
E não creiais que sejam os inimigos confessos que agirão assim;
estes se resguardarão! São os pretensos amigos da Doutrina e,
muitas vezes, os aparentemente mais calorosos; muitas vezes mes-
mo, com habilidade, farão que amigos verdadeiros, mas fracos,
tirem castanhas do fogo com as próprias mãos, amigos que eles
ludibriaram e que agirão de boa-fé e sem desconfiança. Lembrai-
-vos de que a luta não acabou e que o inimigo está ainda à vossa
porta; permanecei alerta, a fim de que ele não vos pegue em falta.
Em caso de incerteza, tendes um farol que não vos pode enganar:
a caridade, que nunca é equívoca. Considerai, pois, como sendo
de origem suspeita todo conselho, toda insinuação que tendesse a
semear entre vós os germes da discórdia, e a vos desviar do reto
caminho que vos ensina a caridade em tudo e por todos. 6
Os causadores desses antagonismos, os contendores, são tam-
bém retratados pelo Espírito Camilo:
Avaliamos, contudo, que os contendores, estão, quase sempre,
defendendo cores e ideias pessoais que, comumente, retratam de-
sajustes emocionais, anseio de domínio ou neuroses várias con-
substanciadas em teimosia injustificada, detendo-se em pontos de
vistas ou achismos inconvenientes ou caprichosos. 7
Nosso esforço, nosso empenho devidos são lembrados por Be-
zerra de Menezes, Espírito:

5 KARDEC, Allan. Viagem espírita 1862. Rio de Janeiro: FEB, p. 31-32


6 Ibid. p. 34
7 TEIXEIRA, Raul T. Cintilação das estrelas. Pelo Espírito Camilo. Niterói, RJ: Frater,
1992, p. 29

92 |  O grande portal da era nova


O Espírita Cristão é chamado aos problemas do mundo, a fim
de ajudar-lhes a solução; contudo, para atender em semelhante
mister, há que silenciar discórdia e censura e alongar entendimen-
to e serviços. 8
Sendo devido aos trabalhadores e gestores do Centro Espírita
administrar suas áreas de atividades dando-lhes coesão, unifica-
das pelo mesmo ideal e propósitos, atuando em uníssono, em co-
munidade de vistas e de princípios, por que com a área de estudos
doutrinários em seu arraial haveria de ser diferente?
“O Espírita, no conjunto de realizações espíritas, é uma engre-
nagem inteligente com o dever de funcionar em sintonia com os
elevados objetivos da máquina.” 9
“Cada companheiro é indicado à tarefa precisa; cada qual
assume a feição de peça particular na engrenagem do serviço,
sem cuja cooperação os mecanismos do bem não funcionam em
harmonia.” 10
Em nosso Centro Espírita, pensemos no estudo do Espiritismo
como um conjunto de ações reunidas numa unidade indivisível,
sendo tratado e trabalhado de modo unificado em relação à Insti-
tuição como um todo, nas várias faixas etárias. Divisível em grupos
próprios com suas especificidades para facilitar o ensino, mas não
dissociável de um mesmo objetivo, fora do conjunto e do contexto
pretendido.
Grupos independentes, mas não autônomos, isolados ou
alheios ao conjunto. Programas de estudos próprios, porém não
apartados de uma interdependências entre os demais programas
de estudos.
“Se tua mente pode librar no voo mais alto, não te esque-

8 XAVIER, Francisco C. VIEIRA, Waldo. O espírito da verdade. Por Diversos Espíritos.


3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961, p. 19
9 XAVIER, Francisco C. Educandário de luz. Pelo Espírito Emmanuel. São Paulo, SP:
Ideal, 1984, p. 44
10 Ibid. p. 22

O grande portal da era nova  |  93


ças dos que ficaram no ninho onde nasceste e onde estiveste longo
tempo, completando a plumagem.” 11

11 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18.ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1998, p 118

94 |  O grande portal da era nova


12

Estudos
Doutrinários
Visão esquemática das
atividades de

A visão de Centro Espírita como ser coletivo – e adoção desse


modelo, que deve ser realidade funcional desde o seu nas-
cimento, em nome da saúde e sobrevivência da Instituição – uni-
ficado pelo mesmo ideal e propósitos, atuando em uníssono, em
comunidade de vistas e de princípios, com harmoniosa interação
entre seus membros (pessoas, grupos de trabalho) -, deve refle-
tir também nos grupos de estudos e seus programas de estudos,
que deverão estar em consonância entre si, tanto quanto o que
diz respeito ao conteúdo dos programas – distintos, apropriados
aos níveis de conhecimento e faixas etárias, mas não dissociados
do conjunto –, como quanto à qualidade dos mesmos e dos seus
aplicadores.

O grande portal da era nova  |  95


É preciso haver um encadeamento entre eles (programas de es-
tudos), formando como que uma estrada pela qual os caminhantes
possam trilhar de modo a irem sempre adiante e em ascendência,
com cadência, com método, estando eles (os programas de es-
tudos) inteligentemente estruturados, dispostos e adequadamente
ordenados, de modo a permitirem abundante colheita de seus fru-
tos do conhecimento, espontânea e naturalmente, com entusias-

mo, com alegria, com satisfação.


Toda caminhada tem um primeiro passo. A caminhada do
conhecimento espírita, no Centro Espírita, tem início com a che-
gada daquele que teve seu interesse despertado pelas razões já

96 |  O grande portal da era nova


expostas e aqui repetidas: ele está buscando respostas para a
vida, necessariamente não uma religião. Busca orientações, pre-
cisa de consolo, obrigatoriamente não quer vínculos doutrinários.
Daí a necessidade inicial de conquistá-lo com a mensagem que
ele quer e precisa ouvir, de despertar-lhe interesses e vontade, de
renovar-lhe convites para que se dê a oportunidade de conhecer
a Mensagem Espírita com mais vagar, através de estudo continu-
ado. Esses são objetivos irremovíveis das reuniões públicas de pa-
lestras, também chamadas Palestras Públicas, pois essa é principal
porta de entrada na Seara Espírita. Portanto, por simples dedução,
concluímos que seus temas - nas Palestras Públicas - tenham pre-
visão e abordagem visando não a doutrinação, mas o esclareci-
mento que reconstrua a esperança, apresentando-se o Espiritismo
como o Consolador, com enfoques que norteiem o ouvinte para
uma vida melhor já no momento presente. Espiritismo é para hoje.
Como bem ensina Allan Kardec, antes de que o torneis espírita,
cuidai de torná-lo espiritualista.
Enquanto as Obras da Codificação Espírita são o Portal de acesso
ao conhecimento espírita, o grande portal de entrada noCentro Espírita
é a reunião costumeiramente chamada de Reunião Pública ou de Palestras
Públicas. Aí está o marco zero da estrada do conhecimento espí-
rita. Se tal encontro for bem preparado e as recomendações ali
transmitidas encontrarem ressonância na intimidade de quem che-
ga, diante de suas expectativas, anseios e necessidades, este se
sentirá estimulado e se fará mais receptivo aos convites para novos
encontros e mais dócil ao encaminhamento nos passos seguintes
do conhecimento espírita, sugeridos em seu próprio benefício e
pensados para ele. Tais passos, então, se darão com maior de-
dicação pesoal, pois consentidos pela razão e pelos sentimentos.
O planejamento do programa de palestras públicas deve partir
do entendimento que os que estarão assistindo-as, em sua maio-
ria, não são espíritas, repetimos, e o programa precisa ser bem
pensado, dando cadência e ordenamento dos temas, repassando
informações com método e dinâmica, de modo a construir no pú-
blico presente raciocínio e entendimento da visão espírita sobre os

O grande portal da era nova  |  97


variados aspectos da vida. Isso no âmbito de uma única palestra
assistida e ouvida, obviamente no limite do tema então apresen-
tado, que deve ter começo, meio e fim. Porém, mais ainda, ao
longo da sucessão das palestras, de modo que aqueles que re-
tornem com maior frequência e assiduidade, sejam então também
brindados com mais informações que lhes deem possibilidade de
maiores ilações e conjecturas sobre as razões de viver, encontran-
do estímulo renovador de esperanças.
Confúcio, em sua sabedoria, ensina-nos: Conte-me e eu es-
queço. Mostre-me e eu apenas me lembro. Envolva-me e eu com-
preendo.
Percebe-se que tais palestras, individualmente, não têm o ca-
ráter formativo, mas informativo, e guardam a primordial e sublime
missão de conquistar almas, despertando-lhes o interesse, estimu-
lando-as para o conhecimento mais demorado do Espiritismo, ao
oferecer-lhes a oportunidade mais duradoura da linfa refrescante
do consolo, da esperança, da orientação de novos rumos para
uma vida melhor na Terra, a partir de hoje.
Os temas deverão ser variados e atuais, obviamente que abor-
dados à luz do Espiritismo, enfocando, por exemplo, o indivíduo
perante si próprio, perante a família, diante da sociedade e nas
suas relações com Deus. Devem oferecer respostas à problemática
humana. Abordá-los segundo o nível de conhecimento da maioria
presente (que, em tese, pouco ou nada sabe da Doutrina Espírita)
e buscar satisfazer suas expectativas imediatas e anseios futuros.
Devem ser temas independentes – com começo, meio e fim em
cada ocasião – mas não isolados e dissociados do conjunto dos
demais temas.
A chamada Palestra Pública é sim uma reunião de estudos
também, que conta com público específico e leva em conta a in-
termitência na presença de uns e outros, e repassa-lhes informa-
ções precisas como se o fosse pela última vez, mas convida-os
e estimula-os sempre para que fiquem, e valoriza os que voltem
e permaneçam, repassando-lhes mensagens que interagem umas

98 |  O grande portal da era nova


com as outras, em sequência adequada e com método próprio,
chamando-lhes a atenção, regularmente, para a lógica do enca-
deamento dos temas.
Jamais dar conotação à reunião de Palestras Públicas, de reu-
nião que simplesmente se propõe a entreter pessoas com informa-
ções gerais, mesmo que úteis, por falsamente entender que, pro-
vavelmente, os que ali vão não voltarão mais e já terão recebido
então tudo o de que precisam, e que a atividade em si mesma
não teria outra razão de existir a não ser de estar ela se repetindo
periodicamente, em dia e hora estipulados.
Organizemos adequadamente tais atividades. Nas ações es-
píritas não deve haver improviso.

O grande portal da era nova  |  99


A comunidade é a abnegação mais completa
da personalidade. Cada um devendo dar de si
pessoalmente, ela requer o mais absoluto devotamento.
Ora, o móvel da abnegação e do devotamento é a
caridade, isto é, o amor ao próximo.

Allan Kardec
Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

parte 5
O Portal de Entrada
Irmãos e irmãs, que foram felicitados com
a luz do Espiritismo nas próprias vidas,
urge o tempo, é hora de nos aplicarmos
ao estudo, a fim de que a alegria que já é
sentida nos diversos afazeres, mesmo que
falte o necessário saber, possa ampliar-
se ao infinito, com a consciência das
suas razões, que o conhecimento das
arrebatadoras lições da Doutrina Espírita é
capaz de proporcionar. Servidores atentos,
que desejamos ser, dessa Mensagem que
se faz manancial e farol, orientando e
libertando, dirijamos a nossa visão e o
nosso entendimento para o seu conteúdo
excelente.

Camilo
13

Centro Espírita
Palestras Públicas:
o portal de entrada no

E , agora sim e finalmente, chegando ao ponto inicial de nossa


proposição, deve – a Reunião Pública ou de Palestras Públicas
– ter o papel fundamental de portal de entrada no Centro Espírita,
marco inicial da estrada do conhecimento espírita conducente a
Era Nova, que nos ensejará, aos que assim queiramos, novos pen-
samentos, novos sentimentos e emoções harmoniosas, novo modo
de viver.
É momento de reencontro com Jesus, que doce e meigamente
vem convidar-nos:
“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou man-
so e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas
almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” 1

1 Mateus (11:29 e 30)

O grande portal da era nova  |  103


E Ele dizia a todos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a
si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” 2
Se alguém quer...
Sim, ali estarão se reunindo, periodicamente, pessoas que es-
peram ouvir outra vez o convite do Amigo Sublime.
Todo esforço e jeito para conquistar-lhes a volta e a permanên-
cia, portanto. Estimular-lhes a leitura edificante e o envolvimento
com estudos continuados das proposições espíritas para uma vida
melhor na Terra, em grupos apropriadamente estruturados para
eles.
Se algum deles quiser apenas e momentaneamente continuar
vindo assistir somente as Palestras Públicas, ótimo. Como os temas
são bem pensados e ordenados, essa pessoa terá a oportunidade
de ir formando conhecimento espírita adequado ao longo do tem-
po. Claro que não com a mesma produtividade conseguida num
outro grupo de estudos particularmente preparado para esse fim.
A Palestra Pública funciona como terapia ambulatorial, já o grupo
de estudos é terapia por internação. Tende a ser mais eficiente.
Cada pessoa que venha a integrar-se num grupo de estudos
continuado e ali permaneça, se terá alcançado mais um objetivo.
Bom de todo modo, pois é o que desejamos.
Se alguém queira continuar vindo assistir as Palestras Públicas
e engajar-se num outro grupo de estudos, logo adiante, melhor
ainda.
Por conseguinte, visualiza-se a importância dos constantes
convites feitos aos presentes, quando das atividades de palestras
públicas, para que se permitam outra cadência nos estudos em
suas vidas, que o Centro Espírita está a ofertar regularmente.
E aqui destacamos outro foco desse nosso arrazoado, o fato
de que tais migrações, ingressos em novo grupo de estudos se dê
dentro de um cronograma que permita ao grupo de estudos ao
2 Lucas (9:23)

104 |  O grande portal da era nova


qual se encaminharia o interessado, recebê-lo em tempo certo,
ou seja, sempre no início de um ciclo ou início do programa pla-
neado, segundo um modelo com divisões, fases ou módulos, que
também é nossa sugestão.
Ingressos de pessoas em grupos de estudos quando o mesmo
já esteja em andamento e em certa altura do caminho, são impró-
prios, por se fazerem improdutivos tanto para quem chega como
para quem ali já esteja. O ideal será sempre o ingresso no começo
do programa previsto. E é possível adequar sistematicamente a
passagem entre os que venham das reuniões de Palestras Públicas
para outro grupo de estudos, que chamemos aqui de grupo para
iniciantes ou principiantes, e destes para os demais grupos de es-
tudos no geral do Centro Espírita. Basta organização e método.
Basta que os grupos de estudos organizem seus programas divi-
dindo-lhes o conteúdo em módulos, aplicando-os em sequência
prevista, e que, temporalmente, se ajustem e se sincronizem com
os demais grupos e programas, de tal maneira que o final e o início
de cada módulo ou ciclo coincidam entre si. Que o planejamento
na elaboração e na aplicação dos programas se faça em número
de reuniões, de aulas ou de encontros, distribuindo-os segundo o
calendário, deixando sempre uma certa margem de flexibilidade
em cada ciclo, a fim de se atender necessidades imprevistas que
porventura se apresentem quando o mesmo já estiver em curso.
Mas que tudo aconteça em conjunto entre todos os grupos de es-
tudos do Centro Espírita, para se ter uma estrutura e uma grade de
atividades em perfeita sincronia.
Durante o transcorrer de cada módulo ou ciclo, concomitan-
temente estariam então acontecendo os convites estimuladores
feitos nas reuniões públicas de palestras, para que, em data certa
e sabida anteriormente, os novos interessados se juntassem aos
demais, sempre partindo da fase inicial programada para ingresso
dos novos frequentadores e em grupo específico.
Fixemo-nos, para efeito de detalhamento e raciocínio, aos gru-
pos formados para os chamados iniciantes ou principiantes, já que
o modelo serve (e deveria ser assim) para todos os grupos de es-

O grande portal da era nova  |  105


tudos.
Preparemos um programa de estudos, com seus temas, com
seu conteúdo programático, e organizemos sua subdivisão em
ciclos ou módulos, dando-lhes estrutura e sequência condizentes
em conteúdo e tempo. Por exemplo, hipoteticamente, o programa
no seu todo seja planejado para trinta reuniões (ou aulas, como
queiram), e o primeiro módulo fique com dez temas/reuniões, o
segundo e o terceiro também com dez cada um.
No exemplo hipotético, o primeiro módulo ou ciclo, teria dez
temas/reuniões, ou seja, sendo uma reunião por semana, teríamos
dez semanas de duração. Após esse tempo, os membros desse
grupo passam para o segundo módulo com seus dez temas/reuni-
ões e depois ao terceiro.
Olhando a reunião pública de palestras como a grande porta
de entrada, ali estariam os frequentadores estudando (segundo
metodologia de palestra pública já abordada acima) ao longo
dessas dez semanas ou menos, conforme o tempo de chegada
de cada frequentador, e sendo estimulados ao engajamento no
grupo de estudos para iniciantes ou grupo para estudos iniciais do
Espiritismo, como queiramos chamá-lo.
Quando do reinício do primeiro módulo desse programa, os
novos interessados estariam começando nesse módulo, sem o
atrapalho de quererem estudar mais detalhadamente o Espiritismo
e precisarem ingressar num grupo já a meio caminho na aplicação
do seu programa de estudos. O mesmo se dando para os módu-
los seguintes. Todos ordenadamente ajustados. Satisfatoriamente
cumprindo seus propósitos. Apropriadamente disseminando o en-
sino espírita.
Claro que sim, e você conclui bem, é necessário, em termos de
espaço físico, uma sala para as palestras públicas e, no mesmo
dia ou não, em horário concomitante ou não, outra sala (ou a mes-
ma sala, conforme horário diferenciado) para o chamado primeiro
módulo, depois, vencidas as dez semanas (em nosso hipotético
exemplo), mais uma sala para o grupo no segundo módulo, além

106 |  O grande portal da era nova


da sala para o primeiro módulo, e depois outra para o terceiro
módulo, funcionando com as duas outras dos outros módulos. Ob-
servemos que a lógica nos diz que podemos ter uma única sala
disponível, e com ajuste de horários e de dias, conciliarmos as reu-
niões de palestras públicas e tais grupos de estudos e as demais
atividades do Centro Espírita. Raciocinemos aqui de acordo, sim,
com o espaço físico do Centro Espírita e os dias da semana. Não
é obrigatório que tudo aconteça num mesmo dia e horário.
E, nesse sistema, a cada dez semanas (tempo hipotético), com
os convites-encaminhamentos feitos nas reuniões públicas de pa-
lestras, inicia-se um novo grupo para o primeiro módulo do pro-
grama, cujos membros que até então dele participavam, irão para
o módulo seguinte. E assim sucessiva e ciclicamente.
Cada grupo, após passar pelos três módulos (número de nosso
exemplo hipotético), seguirá pela estrada do conhecimento aberta
pelo Centro Espírita, ingressando em outro grupo de estudos, tam-
bém pensado previamente para recebê-lo, obedecendo a uma
adequada cadência de ensino, cujo programa, por ser passo se-
guinte da jornada do conhecimento, será elaborado levando-se
em conta o que foi estudado no programa anterior, para que haja
sequência e crescimento no aprendizado, de forma sustentada.
Esse grupo sequencial estará com seu programa também estru-
turado modularmente. E assim entre todos os programas e grupos
de estudos, demarcando com exatidão o caminho que pode ser
trilhado.
Isso não engessará a área de estudos do Centro Espírita?
Não, não engessará. Ordenará.
Esse modelo dá mais flexibilidade na coordenação de cada
grupo e dos grupos no geral, e maior dinâmica na gestão das pes-
soas.
Nada obsta a que o Centro Espírita, em havendo interessados
e aplicadores, promova programas ou cursos com temas e objeti-
vos específicos, independentemente da estrutura e grade regular

O grande portal da era nova  |  107


dos seus estudos continuados.
Tenhamos em mente que o conhecimento espírita começará
para nós quando nos propusermos a conhecê-lo, mas não tem fim
definido.
Não importa a quantidade do que se quer passar de informa-
ção, de conhecimento. Importa de como se organiza esse ensino
para que se tenha a devida qualidade e eficiência. Ou seja, qua-
lidade e não quantidade.
Não guardemos a pretensão de querer sempre esgotar um de-
terminado assunto num único encontro ou aula. Necessariamente
isso não se dará e insistir nessa intenção tornará o momento impro-
dutivo. É melhor que os membros do grupo fiquem com o gosto de
“quero mais” do que com a sensação de que “não aguento mais”.
Acompanhemos o racioncínio de Vianna de Carvalho, Espírito:
Todavia, para que o adepto do Espiritismo se integre realmente
no espírito da Doutrina, exige-se-lhe aprofundamento intelectual
no conteúdo da informação espírita de modo a poder corporificá-
-la conscientemente no comportamento moral e social, na jornada
diária.
[...]
Religião da ciência, como ciência da filosofia, é ao mesmo
tempo a filosofia da religião e sua ética não se estratifica na mora-
lidade das convenções transitórias nem se resume a dogmas aten-
tatórios à razão.
[...]
E, por essa razão, maior deve ser o nosso empenho na sadia
divulgação dos postulados espíritas, lavrados no estudo sistemá-
tico e constante do contexto doutrinário, para que o medicamento
com que pretendemos amenizar ou erradicar os males morais da
sociedade hodierna, não venha a produzir maiores danos como
resultado da sua má dosagem e aplicação.

108 |  O grande portal da era nova


[...]
Respeitando e considerando todas as formas de divulgação,
não nos podemos furtar à conclusão de que a quantidade tem re-
cebido maior valorização do que a qualidade que deve manter o
caráter específico de pureza que não podemos subestimar.
O movimento espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Es-
pírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos
seus postulados, ressalvadas as excelentes e incontáveis exceções.
O que possa lucrar pela quantidade, pode redundar em preju-
ízo na qualidade.
[...]
O Espiritismo é Doutrina de otimismo, de educação integral,
de higiene mental e moral. É o retorno do Cristo ao atormentado
homem do século ciclópico da Tecnologia, através dos Seus emis-
sários, renovando a Terra e multiplicando a esperança e a paz nas
mentes e nos corações que Lhe permanecem fiéis.
[...]
Destinado aos infelizes, estes não são apenas os que sofrem as
dificuldades econômicas e que são conhecidos como constituintes
das classes humildes. A dor não se limita a questões de circunstân-
cias, tempo e lugar. Dessa maneira não prescreve a ignorância,
mas proscreve-a.
Impostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós,
desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo
nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec, a fim
de que o Consolador de que se faz instrumento não apenas enxu-
gue em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar nas fontes
do sofrimento as causas de todas as aflições que produzem as lá-
grimas e os suores. 3

3 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-


dor, BA: Leal, 1979, p. 92-96

O grande portal da era nova  |  109


Recordemos o que nos diz o Espírito Benfeitor, Camilo: Espiri-
tismo é como um gigantesco oceano do qual estamos nas praias,
apenas ...
E se não houver interessados num dado momento de maneira a
que não se forme grupo para o primeiro módulo? Sem problemas,
ele iniciará quando tenha público. O planejamento desse sistema,
que chamemos Sistema Modular, está em função de número de
temas/reuniões e não do calendário anual propriamente. Uma vez
iniciado um grupo, o advento dos módulos seguintes é consequên-
cia natural. O Centro Espírita é que tem que se adequar no tempo
e no espaço para cumprir seus propósitos e não as pessoas que
dele se aproximem a fim de ali conseguirem a água que desse-
denta para sempre.
A disseminação da Mensagem Espírita, a distribuição do Con-
solo e o fornecimento de nutrientes para alimentar a esperança,
não podem ficar restritas a determinados meses do ano, apenas,
fechando-se as portas em certas épocas, como se a necessidade
também tirasse férias. Claro que num modelo organizacional não
se despreza a visão de conjunto das disponibilidades dos recursos
requeridos para um bom planejamento, onde se contemple par-
ticularidades e peculiaridades de cada Centro Espírita, de cada
cidade, de cada região. Mas a assistência precisa ser contínua,
ininterrupta. Adaptada sim ao contexto próprio, mas não ausente.
Óbvio que a implantação desse sistema exige uma readequa-
ção geral dos programas e grupos de estudos do Centro Espírita,
do seu espaço físico e do seu número de dias da semana em que
sejam abertas suas portas ao público. E por que não nos aprovei-
tarmos da oportunidade e repensarmos todos os programas de
estudos do Centro Espírita sob um novo prisma?
Falemos agora um pouco sobre a arte de pensar já que preci-
samos pensar programas de estudos.

110 |  O grande portal da era nova


Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

parte 6
Do conhecido para o
desconhecido
Não pode haver maior júbilo para os seres
do que honra de poder saber, por meio da
aprendizagem oportuna, ivendo melhor,
cooperando melhor com a Divindade.

Camilo
14

A arte de
Pensar
N ão temos nenhuma pretensão de originalidade. Praticamente
todas as noções aqui apresentadas no intuito de melhor ad-
ministrar os recursos intelectuais, foram extraídas do livro A Arte
de Pensar, de Pascal Ide (Livraria Martins Fontes. 2.ed, São Pau-
lo), o qual, por sua vez, lembra-nos que este mesmo assunto foi
profundamente examinado por um dos maiores filósofos gregos,
Aristóteles. Nesse mesmo sentido, veremos que Allan Kardec traz,
em essência, a mesma proposição Aristotélica. Mais uma razão
para nos determos no tema intitulado A Arte de Pensar, como fun-
damentação estrutural para se alcançar o conhecimento ou para
se repassar conhecimento.
Acompanhemos Allan Kardec a respeito:
Vejamos, então, de que maneira será melhor se ministre o en-
sino da Doutrina Espírita, para levar com mais segurança à con-
vicção. Não se espantem os adeptos com esta palavra — ensino.
Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da
tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina todo aque-
le que procura persuadir a outro, seja pelo processo das expli-
cações, seja pelo das experiências. O que desejamos é que seu

O grande portal da era nova  |  113


esforço produza frutos e é por isto que julgamos de nosso dever
dar alguns conselhos, de que poderão igualmente aproveitar os
que queiram instruir-se por si mesmos. Uns e outros, seguindo-os,
acharão meio de chegar com mais segurança e presteza ao fim
visado.
[...]
No Espiritismo, a questão dos Espíritos é secundária e conse-
cutiva; não constitui o ponto de partida. Este precisamente o erro
em que caem muitos adeptos e que, amiúde, os leva a insucesso
com certas pessoas. Não sendo os Espíritos senão as almas dos
homens, o verdadeiro ponto de partida é a existência da alma.
[...]
Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desco-
nhecido. Ora, para o materialista, o conhecido é a matéria: parti,
pois, da matéria e tratai, antes de tudo, fazendo que ele a obser-
ve, de convencê-lo de que há nele alguma coisa que escapa às
leis da matéria. Numa palavra, primeiro que o torneis espírita, cui-
dai de torná-lo espiritualista. Mas, para tal, muito outra é a ordem
de fatos a que se há de recorrer, muito especial o ensino cabível e
que, por isso mesmo, precisa ser dado por outros processos. Falar-
-lhe dos Espíritos, antes que esteja convencido de ter uma alma, é
começar por onde se deve acabar, porquanto não lhe será possí-
vel aceitar a conclusão, sem que admita as premissas. Antes, pois,
de tentarmos convencer um incrédulo, mesmo por meio dos fatos,
cumpre nos certifiquemos de sua opinião relativamente à alma,
isto é, cumpre verifiquemos se ele crê na existência da alma, na
sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade após a mor-
te. Se a resposta for negativa, falar-lhe dos Espíritos seria perder
tempo. Eis aí a regra. Não dizemos que não comporte exceções.
Neste caso, porém, haverá provavelmente outra causa que o tor-
na menos refratário. 1 (Grifos nossos)
Em nosso educandário básico da mente popular, que é como o
1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41.ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1979. p. 36-37

114 |  O grande portal da era nova


venerando Espírito Bezerra de Menezes conceitua Centro Espírita,
trabalhemos para formar a convicção, a certeza, a fé verdadeira.
A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita
daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preci-
so, sobretudo, compreender. [...] A criatura então crê, porque tem
certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis
por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de
frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da in-
credulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e in-
teressada. 2
A Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis nos ensina:
O discernimento resulta do exercício da arte de pensar, que
deve crescer de forma adequada, favorecendo o homem com a
percepção do ser e do não-ser, do correto e do errado, do justo e
do abominável.
Duas proposições surgem como metodologia correta para o
desenvolvimento da razão, para o uso do discernimento: pensar
sempre e o que se deve pensar. 3
Essas assertivas nos recomendam o exame das chamadas Leis
do Pensamento, aqui tratadas, conduzindo o foco das abordagens
para os nossos objetivos em pauta.
Vejamos.

2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 19, item 7, p. 302-303
3 FRANCO, Divaldo P. Momentos de consciência. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salva-
dor, BA: Leal, 1992, p. 84-85

O grande portal da era nova  |  115


LEIS DO PENSAMENTO

O pensamento é primeiramente receptivo, depois criativo ou


produtivo; antes de produzir seu fruto, a árvore recebe a luz do sol
e os sais minerais da terra. Precisamos, assim, alimentar o pensa-
mento na sua fase receptiva, como se supre o solo com a semente
desejada assim que esteja preparado, sabendo, também, que a
inteligência tem três operações, que vão da mais simples a mais
complexa: a apreensão ou a ideia (quando trabalha as definições das
coisas, quando trabalha “o que é a coisa”, o começo, o geral), o
juízo (quando busca enunciar o verdadeiro e o falso, trabalhando
dois conceitos distintos, fazendo distinções) e o raciocínio (opera-
ção utilizada para estabelecer o juízo, firmar conceitos, desenvol-
ver a ideia).
Precisamos entender e respeitar essa dinâmica do pensamen-
to, para que não esperemos colher frutos antes do tempo.
Vejamos mais alguns aspectos sobre o ponto destacado por
Allan Kardec ao afirmar: Todo ensino metódico tem que partir do co-
nhecido para o desconhecido.

primeira lei:

proceder do conhecido ao desconhecido

Não se entra em uma região desconhecida a não ser partindo


de uma terra conhecida (já que nela, então, nos encontramos). Na
combinação dos dois pés para uma caminhada segura, um pé se
levanta e vai em direção “ao seu desconhecido” enquanto sabe
estar apoiado pelo outro pé que ficou suportando tudo porque se
manteve “no seu conhecido” chão.
Avança-se então do conhecido onde estamos para o desco-
nhecido no qual estaremos.

116 |  O grande portal da era nova


Só poderemos consultar um livro de matemática se tivermos
uma noção, ainda que confusa, do que é um número. Caso con-
trário, nada tiraremos de proveito dali.
Sempre um passo de cada vez.
A inteligência apoia-se num conhecimento do qual ela tem
certeza, cita Claude Bernard.
Como na construção de um edifício, um andar do prédio para
ser levantado, precisa apoiar-se nas vigas do andar inferior.
Tomemos como exemplo (na verdade é um contraexemplo) um
texto de um assunto supostamente desconhecido para nós. Leia-
mos o começo deste artigo de linguística: “Entre os fenômenos
de encadeamento transfrástico que asseguram a isotopia textu-
al, conforme a regra de recorrência proposta pelos gramáticos do
texto, a anáfora e a catáfora desempenham um papel preponde-
rante.”
Outro exemplo: citamos um trechinho do discurso de Guima-
rães Rosa quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras,
com uma hora e meia de duração, em 16/11/1967:
“Nada desandava, entretanto, nem desconchavando mesmo a
quem não afeito a esse ritmo e velocidade de espírito. Inteligência
que ao auge resplêndida se exercia, quando no aperreio do ar-
rocho e já a horas de estalar, sem beirada o prazo. Dele então se
inesperava: faísca, a inédita ideia, terminante, ou a útil definição,
saltada acima, brasa. Ainda mais se em contenda. Parece mesmo
que, para com toda a eficácia fixar-se a escogitar coisa do cor-
rer comum, primeiro carecesse ele de atribuir-lhe sentido adverso
hostil, para acometida e de vencida.”
Límpidos e intelegíveis, não é mesmo?! Ora, se esses artigos
são incompreensíveis, o que não é impossível, é simplesmente por-
que não conseguimos ligá-los a noções já conhecidas. Se fosse
de um tema que melhor o dominássemos, ou se nosso vocabulário
fosse mais rico, não haveria surpresas.

O grande portal da era nova  |  117


Ora, “o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que
nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão gran-
de...” 4 exige metodologia própria, levando em consideração
que, repetindo o que já citamos acima, os que adentram no Centro
Espírita por primeira vez não são espíritas, desconhecem termos,
ideias, princípios, máximas, leis morais da vida. De nada adian-
tará, nesse primeiro momento, ofertarmos longos tratados sobre
a formação do períspirito, suas propriedades e funções, quando
o que a pessoa precisa de imediato é de respostas para os pro-
blemas de sua vida, que a consolem e lhe deem esperança, esta
já quase exaurida, na maioria dos casos. Ela quer nos ouvir re-
petindo conselhos dos Benfeitores espirituais, e não saber os me-
canismos da mediunidade que lhes propiciaram (aos Benfeitores)
ditarem essa ou aquela página de aconselhamento, de ânimo e
de coragem.
Hoje ela busca razões e estímulo para continuar vivendo. Hoje
o “seu conhecido” são os problemas que sofre e o “seu desconheci-
do” são o consolo e a esperança buscadas. Partindo “do conheci-
do” (os problemas) e oferecendo-lhe o consolo e a esperança com
a Mensagem Espírita (“o desconhecido”) estaremos beneficiando-
-a como a água beneficia a terra crestada pelo Sol.
Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede,
porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que
salte para a vida eterna.
Disse-lhe a mulher: SENHOR, dá-me dessa água, para que
não mais tenha sede. 5
Amanhã será outro dia, nova oportunidade para se dar mais
um passo na estrada do conhecimento,
É preciso boa desenvoltura para orientar o pensamento de ma-
neira adequada para se chegar a um resultado satisfatório, ou não
nos faremos inteligíveis.
4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. p. 31
5 João (4:14 e 15)

118 |  O grande portal da era nova


Partir do que é conhecido, do que é buscado pela pessoa ou
grupo de pessoas em uma reunião de estudos, ou numa palestra,
é a única ou, em todo caso, a melhor maneira de captar sua aten-
ção.
Isso vale para a abordagem de um tema num dado momento,
tanto quanto para um elenco de temas enfeixados num progra-
ma de estudos. Ou seja, no nosso caso, um programa de estudos
deve, segundo esta lei do pensamento, ser estruturado recorren-
do-se a uma ordem muito apropriada dos assuntos ou temas e de
suas abordagens, que venha ao encontro não só dos anseios e
buscas do grupo, mas também do conhecimento que tenham até
então a respeito dos assuntos a serem tratados.
Olhando-se para a elaboração de um programa de estudos
inteiramente voltado para aqueles que estão iniciando o apren-
dizado espírita, devemos nos atentar no fato de que tais pessoas
não são espíritas e é preciso, “primeiro que o torneis espírita, cui-
dai de torná-lo espiritualista antes de tudo”.
Em resumo, esse programa de estudos há que contemplar pri-
mordialmente respostas iniciais para as buscas pessoais, para os
anseios de cada um; há que levar em conta, repetimos, o conheci-
mento geral dessas pessoas a respeito de cada tema em particu-
lar; há que ordenar conteúdo e apresentação dos ensinos espíritas
também partindo do conhecido para o desconhecido, do “mais
concreto” ao “mais abstrato”.

Mas, como circunscrever o conhecido e o desconhecido, nesse


caso, de modo geral, já que não se tem suficiente intimidade com
cada membro do grupo de estudos que nos permita conhecê-los
a tal ponto?

O grande portal da era nova  |  119


segunda lei:

a inteligência vai do mais universal ao mais particular

O nosso universo conhecido, o nosso mundo pessoal, está re-


pleto de conhecimentos. Mas nem tudo conhecemos com deta-
lhes particulares. Sabemos o que é uma lâmpada, para o que ela
serve. Mas nem sempre sabemos sobre a sua constituição, seus
componentes, seu funcionamento... e as vezes não sabemos nem
como trocar uma lâmpada queimada por uma nova. Cada conhe-
cimento a mais que venhamos tendo sobre a lâmpada, mais nosso
“universo” inicial vai sendo detalhado, aprofundado, revelado,
enfim, vai se particularizando. Paulatinamente nosso universo se
expande, se enriquece, pois se particulariza. No entanto, obser-
vemos que o conhecido num certo momento auxiliou na conquista
do conhecimento acrescido, expandindo-o. Um dependeu do ou-
tro.
O conhecido do qual parte o espírito é um mais universal (do
mais geral) e o desconhecido ao qual ele chega é um mais par-
ticular (mais específico). Assim se dá como numa escada quando
subimos degrau a degrau.
A inteligência parte como se fosse do alto da montanha; de
lá ela tem uma visão global do vale. Mas, se quiser conhecê-lo
melhor, deverá descer e caminhar pelo vale, e assim sua visão se
fará mais detalhada.
Exemplo do caminho: Você se encontra num longo caminho.
De repente avista alguma coisa no fim desse caminho. Você diz:
“É alguma coisa.” Depois, ao se aproximar, percebe que a coisa
se move: “É um ser vivo.” Continuando a se aproximar, você se
dá conta de que o ser vivo, e mais precisamente o animal (pois
só o animal é capaz de se mover por si mesmo), é bípede e tem
o andar de um homem: “É um homem.” E, ao se aproximar ainda
mais, completando a precisão de seu conhecimento: “Ora vejam!
É Sócrates!”

120 |  O grande portal da era nova


À semelhança do sentido da visão, a inteligência passa do
mais geral ao mais distinto, ao mais detalhado.
Todos nós temos como nosso universal, a nossa vida até então,
tudo o que acumulamos de conquistas e de derrotas. E tem tantas
coisas que precisamos particularizar, aprofundar, dando-lhe a de-
vida atenção, não é mesmo?
Todos nós temos como nosso universal, a nossa vida até então,
tudo o que acumulamos de conquistas e de derrotas. E tem tantas
coisas que precisamos particularizar, aprofundar, dando-lhe a de-
vida atenção, não é mesmo?
[..]. Nenhum conhecimento é inútil; todos mais ou menos con-
tribuem para o progresso, porque o Espírito, para ser perfeito, tem
que saber tudo, e porque, cumprindo que o progresso se efetue
em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o desen-
volvimento do Espírito. 6 (Grifos nossos)

terceira lei:

a inteligência em três atos

Como anteriormente citado, a inteligência tem três operações,


que vão da mais simples à mais complexa, que são assim
classificadas, enquanto pensamento: a ideia ou apreensão (quando
alcança as definições das coisas, quando alcança “o que é a
coisa”), o juízo (quando alcança enunciar o verdadeiro e o falso,
trabalhando dois conceitos) e o raciocínio (operação utilizada para
estabelecer o juízo). E: termo, proposição e argumento, enquanto
representação sensível, concreta, por sons orais ou por quaisquer
outros símbolos representativos.
Com efeito, as duas questões da criança são: “O que é? Por

6 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Perg. 898, p. 414

O grande portal da era nova  |  121


quê?” E todas as questões procedem dessas duas interrogações
fundamentais. Ora, a primeira operação do espírito permite
responder à primeira questão: “O que é uma perna? – É um
órgão que permite andar.” E a segunda e a terceira operações
respondem à segunda questão; a segunda operação (o juízo) une
dois conceitos e coloca uma questão: “Mamãe, os barquinhos que
andam na água têm pernas?”, e a terceira (o raciocínio) responde
à questão: “Claro que sim, meu querido, se não tivessem, eles
não andariam, só que a perna dos barquinhos são diferentes das
pernas humanas”.
Ora, a arte de pensar se baseia na atividade da inteligência.
Analisemos bem a arte em transmitir o ensinamento que
pretendemos ministrar, levando em conta essas três grandes partes
numa abordagem:
• a arte da definição (termo),
pela qual aprendemos a dizer
corretamente o que são as coisas (o que é uma perna);
• a arte da enunciação (proposição), segundo a qual colocamos
um problema, isto é, unimos ou separamos dois conceitos
(barco e perna);
• enfim, a arte da demonstração (argumento), pela qual a razão
resolve o problema ao determinar a causa da união dos
dois conceitos (que é um terceiro conceito: o andar, esse
conceito, aliás, foi fornecido pela definição).
Num primeiro momento pode nos parecer complicada e
confusa essa classificação. Mas não é assim. Primeiro, considere
que ela vem apresentada com caráter meramente didático, já que
no nosso pensar cotidiano não nos apercebemos desses critérios
em separado. No entanto, não podemos negar que, assim vistos
em separado, nos damos conta que eles são acionados, que eles
estão em atividade sim, e sempre. Talvez não saibamos utilizá-los
bem.
Já não terá acontecido com você ouvir alguém ou ler um
texto onde a não clareza de sua apresentação leva-nos a nada

122 |  O grande portal da era nova


entender, quer pelas palavras (termos) inadequadas, ou pela
desordem como foi apresentado (proposição) ou pelos fracos
argumentos trabalhados (demonstração)?
O nosso pensar utiliza-se dessas leis. Quantos juízos sobre as
mais variadas questões, não emitimos diariamente?
Vamos prosseguir.
Resumindo:

Primeira Segunda Terceira


As operações da razão Ideia, intuição ou
Juízo Raciocínio
(psicologia) abstração
Instrumentos da razão Enunciação, Demonstração,
Termo, definição
(lógica) proposição argumentação

A definição é temporalmente o que vem em primeiro lugar.


Evidentemente é preciso saber o que é uma coisa (o que depende
da primeira operação) antes de poder afirmá-la em outro momento
ou em outro contexto (o que depende da segunda operação do
espírito).
No entanto a operação mais decisiva, final, é a segunda
operação do espírito. Esta, portanto, é a primeira na ordem da
perfeição. Com efeito, as duas outras lhe são subordinadas:
ninguém fala com conceitos isolados, estes servem para formar
juízos e os próprios raciocínios servem para estabelecer esses
enunciados. Além do mais, a meta da operação intelectual é o
verdadeiro; ora, é o juízo e somente ele que enuncia a verdade
(ou a falsidade).
Razão e inteligência não são duas faculdades diferentes, mas
operações distintas de uma mesma faculdade que chamamos
inteligência.
Ao se transmitir o conhecimento espírita, além do esmerado
preparo intelectual do conteúdo do tema em pauta, é preciso

O grande portal da era nova  |  123


organizar a abordagem, para que se dê com a devida clareza,
precisão e ordem, bem conceituando cada termo, cada ideia, tendo
cuidado com o vocabulário utilizado, já que, obrigatoriamente, os
integrantes de um grupo de estudos ou ouvintes de uma palestra,
não conhecem a terminologia espírita; do mesmo modo, agir com
acuidade mental e verbal para bem apresentar e ponderar cada
ponto objetivado no estudo, no tempo e na extensão absolutamente
suficientes, enunciando e argumentando com segurança o assunto,
respondendo aos questionamentos, pois, assim se fazendo, se
estará oportunizando aos demais integrantes da reunião, material
de análise suficiente para que possam pensar os variados ângulos
da abordagem, alcançando o desejado juízo a respeito, abrindo-
lhes as comportas da compreensão com raciocínio esclarecedor.
As recomendações a seguir, dadas pelo Caroável Benfeitor
da Humanidade, Bezerra de Menezes, acima já citadas, são de
clareza ímpar, e merecem ser repetidas para melhor fixação na
nossa mente:
Nosso compromisso é com Jesus – nossa barca, nossa bússola,
nosso norte, nosso ponto...
Jesus, meus amigos! Aquele a quem juramos fidelidade, amor
e serviço.
Hoje é o nosso dia de apresentar o
Evangelho restaurado à sofrida alma do povo.
Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança,
trocando verbalismos sonante e vazio pela semente de luz que
devemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das
paixões e do desequilíbrio.
A nossa não é outra, senão a tarefa de conduzir com segurança
os náufragos das experiências humanas ao porto da paz. 7

7 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. .


Salvador, BA: Leal, 1991, p. 79

124 |  O grande portal da era nova


quarta lei:

tal objeto, tal inteligência

A inteligência adapta seu método ao objeto que ela estuda.


Se a inteligência está a serviço do verdadeiro, portanto da
compreensão do real, seus meios de investigação devem procurar
ser tão ricos e variados quanto a realidade.
É preciso, pois, partir das situações concretas nas quais nosso
espírito tem melhor desenvoltura: nessas situações que a arte de
pensar tem condições de servir ainda com mais utilidade.
Provando de maneira patente a existência do mundo invisível,
o Espiritismo leva, forçosamente, a uma ordem de ideias bem
diversa, porque alarga o horizonte moral limitado à Terra. A
importância da vida corporal diminui à medida que cresce a da
vida espiritual; colocando-nos naturalmente num outro ponto de
vista, o que nos parecia uma montanha não se nos afigura maior
do que um grão de areia. As vaidades, as ambições terrenas
tornam-se puerilidades, brinquedos infantis em presença do futuro
grandioso que nos aguarda. Prendendo-nos menos às coisas
terrenas, menos nos satisfaremos a expensas dos outros, donde
uma diminuição no sentimento do egoísmo. 8
Nossos apontamentos levam em conta a inteligência em
atividade. Ora, essa atividade do espírito apresenta-se:
• ou ela (a inteligência) está em situação receptiva ou situação
de acolhimento; mas receptividade não é passividade:
aquela está para esta assim como olhar está para ver...
• ou ela (a inteligência) está em situação emissiva. A inteligência
é de fato chamada a restituir o que ela compreendeu. Essa
atitude vem apenas em segundo lugar, pois só é possível
dar o que se recebeu e se assimilou.

8 KARDEC, Allan. Viagem espírita 1862. Rio de Janeiro: FEB, p. 27

O grande portal da era nova  |  125


Além de um programa de estudos devidamente embasado
na arte de pensar e estruturado de acordo com o público-
alvo almejado, quem esteja com a incumbência de repassar o
conhecimento precisa estar atento à dinâmica da inteligência
que recebe a informação, seu processamento e seu retorno,
entendendo-se que necessariamente não se alcança o objetivo
do ensino de primeira e única vez. Na maior parte das vezes, será
preciso mais enriquecer a argumentação, com outros ângulos de
abordagem; outras vezes, esse ou aquele integrante do grupo
não está devidamente receptivo naquele momento; sempre,
porém, avaliar antecipadamente o método e a dinâmica a serem
utilizados para se tratar esse ou aquele assunto objetivado, a fim
de bem enquadrá-lo na cadência das atividades das inteligências
presentes.
O objetivo essencial da inteligência não é o de interpretar as
incógnitas de fora, mas solver as dificuldades íntimas.
O homem conquista o átomo, mas, se não sublima os
sentimentos, estes convertem o veículo do poder em máquina
infernal de destruição impiedosa.
[...]
É que a inteligência sem o amor nada ou quase nada significa.
É verdade que a sabedoria promana de Deus, mas o amor é o
próprio hálito divino que vitaliza o Universo. 9
Planejemos a abordagem sabendo que os dois sentidos
informativos por excelência são a visão e a audição:
• a mediação visual: ler, escrever;
• a mediação auditiva: escutar, dizer (formular).
Isso não significa que os demais sentidos do ser não contribuam
com a recepção das informações.

9 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espíritos. Salvador,


BA: Leal, 1969, p. 199-200

126 |  O grande portal da era nova


Uma ressalva também importante: as leis do pensamento e
as demais anotações que aqui fazemos, dizem respeito ao uso
da inteligência para aprender e para ensinar. Temos dirigido
os escritos mais especificamente para o aspecto de repassar o
conhecimento, por ser o objetivo do nosso trabalho.

O grande portal da era nova  |  127


Nenhum conhecimento é inútil; todos mais ou menos
contribuem para o progresso, porque o Espírito, para ser
perfeito, tem que saber tudo, e porque, cumprindo que
o progresso se efetue em todos os sentidos, todas as ideias
adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito.

O livro dos Espíritos


15

Provocações
Positivas
N a análise de um texto, antes mesmo de nos perguntarmos o
que ele diz precisamente, convém interrogarmo-nos sobre o
que ele provoca em nós. Será:
• o saber – esse texto busca ensinar-nos algo? Ele mostra-nos
o que é verdadeiro ou falso, apresenta-nos o estado de
uma questão?
• o mover – esse texto leva-nos a agir ou a reagir, orienta
nossa ação, nossas intenções, num certo sentido? Ora, po-
de-se agir de maneira humanizante ou alienante. A ques-
tão corolário imediata é, portanto: esse texto faz-nos cres-
cer em humanidade a serviço dos outros homens ou não?
• o comover – esse texto sensibiliza-nos? Ora, isso pode
ocorrer de maneiras diferentes: pode alegrar-nos ou, ao
contrário, entristecer-nos, animar-nos a esperança ou ati-
çar nossa cólera.
Por que esses efeitos múltiplos? É que o próprio homem é múl-
tiplo. Mais particularmente, há três grandes tipos de faculdades

O grande portal da era nova  |  129


no homem: a inteligência (cujo ato é saber), a vontade (cujo ato é
mover) e a afetividade ou sensibilidade (cujo ato é comover). Simboli-
camente: a cabeça, o coração, as entranhas.
Os temas/aulas alcançarão melhores resultados se pensados,
preparados e transmitidos, combinando-se os fatores de “provo-
cações”, que aqui estão postos, já que, se estas cabem para a
leitura de um texto, servem também para se transmitir o conteúdo
desse texto ou de diversos textos em aulas, palestras, etc.

130 |  O grande portal da era nova


16

E
Espiritismo
Moldar,

nsino do
emoldurar e
modular o

N uma visão de conjunto, trouxemos para nossas reflexões o


propósito do Espiritismo, enfocando, em poucas palavras, a
missão do prof. Denizard Rivail (logo mais assinando suas obras
como Allan Kardec, seu psedônimo), a promessa e a volta do
Consolador e o grande fanal da Doutrina Espírita. Chegamos ao
enfoque do verdadeiro espírita e de seu congraçamento nos Cen-
tros Espíritas, destacando algumas características pessoais e co-
letivas a título de retomada de lembranças e convite a reflexões.
Pela grandeza e excelência das proposições do Espiritismo para
a Humanidade, trouxemos considerações sobre a importância e a
necessidade do seu estudo, com seriedade e continuidade. Com
essas balizas, apresentamos o Centro Espírita e suas responsabi-
lidades, como sendo um cofre onde está depositada a “pedra de

O grande portal da era nova  |  131


toque” para o bem-estar dos homens, e, também, como pode o
Centro Espírita melhor desincumbir-se de sua missão, abrindo-se
ao popular, adequando-se a um modelo voltado para as pesso-
as que chegam e valorizando os que ali já estejam, começando
por fazer das Palestras Públicas o portal de entrada na Era Nova
do Espírito, descortinando uma estrada intelecto-moral-vivencial
que melhor será trilhada levando-se em conta aspectos da arte de
pensar, para concluirmos que o sistema modular de programas de
ensino espírita é bem vindo, tanto para uma melhor organização
dos estudos no Centro Espírita, como para os integrantes desses
grupos de estudos.
Assim, a tônica é moldar, emoldurar e modular os programas
de ensino espírita, para o que buscamos colaborar com os arrazo-
ados aqui expendidos.

No momento em que se tenham os módulos esquematizados,


veremos que eles compõem um programa maior e continuado de

132 |  O grande portal da era nova


estudo, que poderia vir enfeixado num programa único de longa
duração, mas dividi-lo para apresentação e aplicação tem vá-
rias vantagens, como, por exemplo: o efeito psicológico naquele
que não tem hábito de estudos, ao se lhe apresentar um progra-
ma para treze (13) semanas, e, depois disso, outro programa para
outras poucas semanas, será diferente, mais palatável, do que se
lhe apresentar um programa para dois (2) anos de duração. Outra
vantagem é operacional, pois, modularmente, se tem maior flexi-
bilidade para ajustes que se apresentem necessários durante seu
curso. Além de outras.
É um modelo simples e prático.
Ouçamos os Benfeitores Maiores.
Na atualidade, depois das experiências realizadas em toda
parte, para melhor facilitar a compreensão do Espírito pelo estu-
do correto, é necessário que o programa de estudo sistematizado
seja oferecido sem o elitismo que levaria as mentes à condição
antiga dos ocultistas, selecionando os esoteristas dos exoteristas,
os iniciados dos profanos, mas reunindo todos na mesma progra-
mação, em que cada qual haurirá o conhecimento dentro das suas
possibilidades intelecto-morais, daí extraindo o indispensável para
restabelecer no íntimo o reino dos céus. Isto porque, o Espiritismo é
doutrina fácil de ser assimilada, simples na sua estrutura para ser
compreendida, mas não vulgar para ser interpretada.
É fácil porque se encontra nas leis naturais; é simples porque
vivencia a lei do amor; mas é profunda, ao mesmo tempo, na sua
complexidade, porque tem origem divina.
Nem uma tarefa programada para um grupo de acadêmicos,
nem um programa trabalhado pela ingenuidade, senão linhas
mestras direcionadas num compromisso que, à semelhança de um
leque, abrirão perspectivas para todos os recursos da inteligência
e do sentimento.
Compreendemos, os espíritos-espíritas que hoje mourejamos
nesta faixa de vibrações, a necessidade urgente de oferecer às

O grande portal da era nova  |  133


gerações novas um programa capaz de as equipar para enfrentar
o materialismo, na sua multiface, de maneira hábil, com recursos
que possam coagular as expressões deletérias que invadem os
múltiplos arraiais da Terra levando ao suicídio, à loucura, à vio-
lência.
O Espiritismo prossegue o antídoto contra esse mal, nas suas
variadas expressões.
É certo que tornar o homem espiritualista é a tarefa inicial; fa-
zê-lo espiritista é o passo a seguir.
Como o pensamento de Allan Kardec pode ser comparado às
sete notas musicais da divina sinfonia da vida, ao homem cabe
utilizar-se delas no campo da Doutrina Espírita para compor as
melodias que enriqueçam a Terra de beleza, promovendo o espí-
rito humano.
A Codificação Espírita é o alfabeto da Nova Era sobre o qual
se erguerá o templo da paz, quando a mensagem da Terceira Re-
velação atingir todas as criaturas do orbe, realizando o fanal da
imensa revolução social que modificará as estruturas do Planeta.
Um programa de estudo sistematizado da Doutrina Espírita,
sem nenhum demérito para todas as nobres tentativas que têm sido
feitas ao largo dos anos, num esforço hercúleo para interessar os
neófitos no conhecimento consciente da Nova Revelação, é o pro-
grama da atualidade sob a inspiração do Cristo.
Espírita, amigos e irmãos!
[...]
Segui adiante, conscientes das vossas responsabilidades com
Cristo e Kardec, no cérebro e no coração, a escorrerem pelas vos-
sas mãos, edificando a Humanidade melhor, num mundo mais feliz
por que todos anelamos.
Estudemos o Espiritismo e melhor viveremos o Cristianismo.
Penetremo-nos no conhecimento kardequiano para melhor

134 |  O grande portal da era nova


sentirmos a palavra viva de Jesus.
Cristo e Kardec estão erguendo o homem do caos em que jaz
para os píncaros da Imortalidade. 1

1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. .


Salvador, BA: Leal, 1991, p. 94-97

O grande portal da era nova  |  135


Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança,
trocando verbalismos sonante e vazio pela semente de
luz que devemos colocar na alma dos que padecem na
cegueira das paixões e do desequilíbrio.

Bezerra de Menezes
17

Saiu do
Silêncio
O mundo
invisível

N a revista Presença Espírita 1de janeiro/fevereiro de 2015, nº


306, foi publicado o artigo do próprio autor, que ora trans-
crevemos.
Léon Denis, um dos mais aplaudidos divulgadores do Espiritis-
mo em todos os tempos, contemporâneo de Allan Kardec, escre-
veu em seu livro: O problema do ser, do destino e da dor, Primeira
Parte, Capítulo II, que O Livro dos Espíritos “é o resultado de um
trabalho imenso de classificação, coordenação e eliminação, que
teve por base milhões de comunicações, de mensagens, prove-
1 Revista Presença Espírita, tendo como sua mantenedora a Mansão do Caminho, foi
fundada por Divaldo Pereira Franco e Nilson Pereira, lançada em 20 de fevereiro de 1974.
Periódico que tem primado por levar informação útil, de forma agradável. (N.A)

O grande portal da era nova  |  137


nientes de origens diversas, desconhecidas umas das outras, ob-
tidas em todos os pontos do mundo e que o eminente compilador
reuniu depois de se ter certificado da sua autenticidade. Tendo o
cuidado de pôr à parte as opiniões isoladas, os testemunhos sus-
peitos, conservou somente os pontos em que as afirmações eram
concordes.
Falta muito para que fique terminado esse trabalho, que, desde
a morte do grande iniciador, não sofreu interrupção. Já possuí-
mos uma síntese poderosa, cujas linhas principais Kardec traçou e
que os herdeiros do seu pensamento se esforçam por desenvolver com o
concurso do invisível. Cada um traz o seu grão de areia para o edi-
fício comum, para esse edifício cujos fundamentos a experimen-
tação científica torna a cada dia mais sólidos, mas cujo remate
elevar-se-á cada vez mais alto.
(...) Há duas coisas na doutrina dos Espíritos: uma revelação do
mundo espiritual e uma descoberta humana, isto é, de uma parte,
um ensinamento universal, extraterrestre, idêntico a si mesmo nas
suas partes essenciais e no seu sentido geral; da outra, uma con-
firmação pessoal e humana, que continua a ser feita segundo as re-
gras da lógica, da experiência e da razão. A convicção que daí deriva
fortalece-se e cada vez se torna mais rigorosa, à proporção que
as comunicações aumentam em número e que, por isso mesmo, os
meios de verificação se multiplicam e estendem.
(...) Até agora, só tínhamos conhecido sistemas individuais, re-
velações particulares; hoje, são milhares de vozes, as vozes dos
defuntos que se fazem ouvir. O mundo invisível entra em ação e,
no número dos seus agentes, Espíritos eminentes deixam-se reco-
nhecer pela força e beleza dos seus ensinamentos. Os grandes
gênios do espaço, movidos por um impulso divino, vêm guiar o
pensamento para cumes radiosos.
(...) No Espiritismo, a multiplicidade das fontes de ensino e de
difusão constitui, portanto, um contraste permanente, que frustra e
torna estéreis todas as oposições, todas as intrigas. Por sua própria
natureza, a revelação dos Espíritos furta-se a todas as tentativas

138 |  O grande portal da era nova


de monopólio ou falsificação. Em relação a ela é de todo impo-
tente o espírito de domínio ou dissidência, porque, quando con-
seguissem extingui-la ou desnaturá-la num ponto, imediatamente
ela reviveria em cem pontos diversos, malogrando assim ambições
nocivas e perfídias.
(...) Nesse imenso movimento revelador, as almas obedecem
a ordens que partem do Alto; são elas próprias que o declaram.
A sua ação é regulada de acordo com um plano traçado de an-
temão e que se desenrola com majestosa amplitude. Um conselho
invisível preside, do seio dos Espaços, à sua execução. É compos-
to de grandes Espíritos de todas as raças, de todas as religiões,
da fina flor das almas que viveram neste mundo segundo a lei do
amor e do sacrifício. Essas potências benfazejas pairam entre o
céu e a Terra, unindo-os num traço de luz por onde sem cessar
sobem as preces, por onde descem as inspirações.
(...) Quem poderia executar essa obra de discriminação, de
seleção, de renovação? Os homens estavam mal preparados para
isso. Apesar dos avisos imperiosos da hora presente, apesar da
decadência moral do nosso tempo, nem no santuário nem nas cá-
tedras acadêmicas se tem elevado uma voz autorizada para dizer
as palavras fortes e graves que o mundo esperava.
(...) Só do Alto, pois, é que podia vir o impulso. Veio. Todos
aqueles que têm estudado o passado, com atenção, sabem que
há um plano no drama dos séculos. O pensamento divino mani-
festa-se de maneiras diferentes e a revelação é graduada de mil
modos, conforme as exigências das sociedades. Foi por isso que,
havendo soado a hora da nova dispensação, o Mundo Invisível
saiu do seu silêncio.”
Quanto ao desenvolvimento das linhas principais traçadas, na
Revista Espírita de janeiro de 1862, Kardec registra sua aprovação
e seu apoio moral a iniciativa do editor Sr. Didier de publicar o que
chamou de Biblioteca do Mundo Invisível, compreendendo uma
série de volumes com trabalhos mediúnicos obtidos nos diversos
centros, depois de uma escolha rigorosa.

O grande portal da era nova  |  139


Textualmente, disse Kardec: Aqui lhe damos a nossa aprovação
e porque a considera-
e o nosso apoio moral porque a julgamos útil
mos a melhor via aberta aos médiuns, grupos e sociedades para
suas publicações. Nela colaboraremos como os outros, por nossa
própria conta...
Além das obras especiais que pudermos fornecer a essa cole-
ção, dar-lhe-emos, sob o título particular de Carteira Espírita, alguns
volumes compostos de comunicações escolhidas, quer entre as
que são obtidas em nossas reuniões de Paris, quer entre as que nos
são enviadas por médiuns e pelos grupos franceses e estrangeiros
que se correspondem conosco e não quiseram fazer publicações
pessoais. Emanando de fontes diferentes, essas publicações terão
o atrativo da variedade. A elas juntaremos, conforme as circunstân-
cias, as observações necessárias à sua compreensão e desenvolvimento.
A ordem, classificação e todas as disposições materiais serão ob-
jeto de particular atenção. (Grifos e destaques nossos.)
Nesse mesmo texto da Revista Espírita de janeiro de 1862, do
qual aqui citamos excertos, Allan Kardec o conclui, dizendo sobre
a iniciativa da Biblioteca do Mundo Invisível: Esse plano parece
responder a todas as necessidades e não duvidamos que seja
acolhido com simpatia por todos os sinceros amigos da doutrina.
E há vários outros momentos felizes de Allan Kardec na Revis-
ta Espírita onde ele aconselha, orienta e dá publicidade a tantas
outras obras tratadas por ele como de interesse do Espiritismo, de
modo a estimular a propagação da Doutrina em todo o mundo.
Não só divulga e estimula como participa de outras tantas publi-
cações em prol da divulgação espírita, por serem obras acessórias
– como o é a Revista Espírita, de sua autoria.
Na esteira do tempo, vemos Gabriel Delanne, Léon Denis, Er-
nesto Bozzano, Cesare Lombroso, Russel Wallace e outros muitos
homens notáveis de todas as áreas do pensamento humano, vei-
culando pesquisas, resultados, considerações, entendimentos so-
bre o Espiritismo.
Nos tempos mais próximos de agora, nos deparamos com a

140 |  O grande portal da era nova


vasta literatura, mediúnica ou não, circulando no mundo. As con-
tribuições ímpares dos médiuns Francisco Cândido Xavier, Divaldo
Franco, Yvonne Pereira, Raul Teixeira, dentre outros, somando cen-
tenas e centenas de títulos editados.
Todo esse vasto material de conhecimento superior vem ao en-
contro daquelas pessoas que se achegam em uma Casa Espíri-
ta, famintos de esperança, órfãos de fé, claudicantes pelo peso
da angústia, magérrimos de ânimo, fracos de coragem e vontade
próprias. E o Consolador prometido, já presente entre nós, agora
revestido das letras do Espiritismo, atinge seu desiderato: abriga-
-nos em seu aprisco. Um que outro chega na Casa Espírita pela
curiosidade, pelo querer saber mais sobre Espiritismo. Em linhas
gerais, esse é o perfil mental, emocional, psicológico e espiritual
dos que adentram pelo umbral de um Centro Espírita.
Kardec afirma que “os Espíritos têm em vista a instrução geral e
a propagação dos princípios da doutrina” (e os Espíritos Benfeitores
da Humanidade não cessaram suas atividades), e que para que
isso se desse desde o início da chegada das luzes do Espiritismo
à Terra, ele próprio estimulou e participou pessoalmente em pro-
jetos para ampliar as publicações de obras úteis aos objetivos da
propagação do Espiritismo, de suas obras e de autores variados,
como acima citado.
A divulgação do Espiritismo vem acontecendo a olhos vistos. O
Movimento Espírita segue crescente. No que pese a Doutrina Espí-
rita, propriamente dita, ainda ser ignorada pela grande maioria.
O convite do mundo invisível que saiu do silêncio, para que
conheçamos, estudemos e vivamos segundo o Espiritismo, está es-
palhado pela Terra.
É o livro espírita como carro-chefe desse movimento de uma
revolução silenciosa. Múltiplos autores desenvolvendo a síntese po-
derosa construída por Kardec.

Vale destacar, que o preclaro, o “bom-senso reencarnado”,


Allan Kardec, em momento algum disse ou insinuou, ou estimulou

O grande portal da era nova  |  141


que o aprendizado e o ensino do Espiritismo somente deveria se
dar, exclusivamente, pelas cinco obras da Codificação: O Livro
dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritis-
mo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

Sim, a Doutrina Espírita é um monólito indivisível e O Livro dos


Espíritos é síntese monumental e nas cinco obras básicas encontra-
-se exarado o corpo doutrinário do Espiritismo. Estas são e conti-
nuarão sendo a base fundamental desse conhecimento superior.
Afirmar de que o aprendizado e o ensino do Espiritismo so-
mente deve se dar, de modo exclusivo, pelas cinco obras da Codi-
ficação, é dizer que as centenas, milhares de obras consagradas
na literatura espírita, obras acessórias que são ao conhecimento
do Espiritismo, de nada servem ao estudo e aprendizado espírita,
é desejar implantar a tese do exclusivismo, um fundamentalismo
muito semelhante ao superado “fora da Bíblia não há salvação”
ou “fora da Igreja não há salvação”. Ou muito próxima da “lógi-
ca” do Califa Omar, um dos chamados Califas Perfeitos, para or-
denar, no ano 644, em Alexandria, queimar a Grande Biblioteca
de Ptolomeu: “Não existe mais que um livro verdadeiro: o Alcorão.
Se os livros dessa biblioteca contêm coisas opostas ao Alcorão,
são ímpios e há que queimá-los; e se dizem o mesmo que o Alco-
rão, são supérfluos e há que queimá-los também.”
É dizer que foi e é pura perda de tempo de Emmanuel, An-
dré Luiz, Joanna de Ângelis, Camilo, Victor Hugo, Manoel P. de
Miranda e tantos outros notáveis e reconhecidos ao dispensarem
tanto tempo num trabalho que, segundo a tese do “exclusivismo”,
em nada contribui para o melhor conhecimento e entendimento
do Espiritismo e nem com eles devemos consultar, colher material
e divulgá-los.
Qual seria nosso conhecimento e entendimento do mundo es-
piritual e sua relação com o mundo material e com os homens, não
fossem livros de André Luiz, de Manoel Philomeno de Miranda, de
Yvonne Pereira e outros mais?
Se são os espíritos-espíritas, como sempre repetido pelo Vene-

142 |  O grande portal da era nova


rando Bezerra de Menezes, esses que estão à frente da grande ta-
refa mundial da divulgação doutrinária, por que “nunca se deram
conta” da “improdutiva tarefa” a que se dedicam e por que nunca
alertaram aos espíritas em todo o mundo, de que para se estudar o
Espiritismo, apenas e tão somente bastam as obras básicas? Nada
de ler os livros deles, os próprios autores e propagadores da Dou-
trina Espírita...
Não têm valor? São dispensáveis? Seriam eles uma turma de
desocupados e vaidosos?
Do mesmo modo os conferencistas que dedicam vida integral
em propagar o Espiritismo no mundo, como Divaldo Franco, Raul
Teixeira. Também perda de tempo? Segundo a tese da “exclusivi-
dade”, basta que se publique mais e distribua mais as cinco obras
da Codificação e dizer ao povo que as leiam e dali, somente dali,
tirem suas conclusões e fomentem seus entendimentos.
Nessa mesma linha, encerrem-se os grupos de estudos nas
Casas Espíritas, pois, para se comentar esse ou aquele texto da
Codificação se faz necessário entabular raciocínio, formular
exemplos, fazer comparações, etc., no que depende de conheci-
mentos vários adquiridos no dia a dia da existência, apresentados
por terceiros (artes, ciências, política, cultura geral etc.), e, na tese
da “exclusividade”, também nada disso seria permitido, pois tais
raciocínios não estariam textualmente nas obras básicas.
Ora, se não cabe nada escrito além da Codificação, também
não cabe nada falado, explicativamente, sobre o Espiritismo.
Nada de conferências, palestras, estudos que não seja apenas
para ler em voz alta o que está escrito nas cinco obras da Codifi-
cação e que cada um tire suas conclusões. E sobre cada conclu-
são, também não se pode contrapor argumentos, pois isso viria de
alguém que não o próprio Allan Kardec. Até se entender algum
ponto, seria ler, ler e ler o texto kardequiano, até a exaustão ou até
a conclusão ser tida por alguém como certa. Mas quem seria esse
legítimo alguém? E em não havendo entendimento?
Diferente, é claro, escrever ou falar o que não esteja de confor-

O grande portal da era nova  |  143


midade com o conteúdo exarado nas obras da codificação. Isso
está fora de questão.
Logo, a tresloucada ideia de que fora das cinco obras da Co-
dificação não se encontra ensino espírita, é fruto da vaidade hu-
mana, de quem, enceguecido pelo orgulho, supondo conhecer
Espiritismo mais do Kardec, se considera acima de todo o mundo
espiritual superior que assina milhares de livros espíritas, desen-
volvendo a ideia matriz, ideia central, e diz que eles todos estão
equivocados, perdendo tempo e jogando conversa fora, o que
também, na sua visão caolha, também aconteceu com Allan Kar-
dec, por ter utilizado por base milhões de comunicações, de men-
sagens, provenientes de origens diversas, desconhecidas umas
das outras, obtidas em todos os pontos do mundo, na estruturação
dos seus livros, e, o que é pior, ter aprovado, estimulado e partici-
pado , ele próprio, de um movimento de divulgação do Espiritis-
mo contando com diversos autores de variados livros, franceses ou
não, além de publicar a Revista Espírita, tendo como um dos seus
objetivos desenvolver e propagar as ideias e o ideal espírita (os
seus doze volumes não fazem parte da Codificação Espírita).
Acatar e praticar essa ideia é dar testemunha de que, sobre
Espiritismo, leu apenas as primeira letras. Divulgá-la é prestar um
desserviço à lídima divulgação da mensagem espírita.
O Espiritismo é o Consolador de volta e guarda sérios propósi-
tos junto a Humanidade.
Leiamos o venerando Espírito Bezerra de Menezes:
Fomos chamados para a construção da Era Melhor.
Estamos convocados para a tarefa sacrossanta do amor.
Doutrina Espírita é conhecimento com responsabilidade; com-
promisso indeclinável que nos impomos, a fim de ressarcirmos o
passado de sombras, de dúvidas, de mancomunações com o mal
que ainda vive dentro de nós.
[...]

144 |  O grande portal da era nova


O Espiritismo, no seu segundo século, chama-se “ação”.
Até há pouco, combatiam a mensagem luminosa. Os adver-
sários, porém, da Terceira Revelação, filhos meus, estão agora
dentro de nossas fileiras, dentro de nós... Ou modificamos a nossa
forma de agir, de servir e de amar, ou seremos responsáveis pelo
adiamento da concretização dos ideais do Consolador na Terra.
Esta é a religião, cujo nome foi dado por Jesus. O Consolador, não
o esqueçamos.
Consolemos as lágrimas, estancando-as no seu nascedouro;
atendamos à dor, ferindo-a na origem. Lutemos contra o mal em
nossa alma e ganharemos a Terra da Paz.
Hoje é o fruto do nosso ontem, mas o amanhã é o nosso hoje
vitorioso nimbado de bênçãos com Jesus... 2
Não esqueçamos de que a Doutrina Espírita, na atualidade,
não se reveste apenas de lapidares conceitos, antes se constitui
parte essencial para o nosso “modus-vivendi” na Terra.
Não é apenas uma mensagem nobre, mas um programa de
ação.
Não é somente uma bela Filosofia, porém um roteiro para a
evolução.
Estudemos, portanto, a Doutrina para vivê-la; conheçamos a
Doutrina para ensiná-la, realizando o serviço que nos cabe. 3
Os limites do alcance e abrangência do Espiritismo não termi-
nou com a publicação do quinto livro da Codificação: A Gênese, os
milagres e as predições segundo o Espiritismo. A Codificação Espírita
não se circunscreveu e fechou-se num ciclo. Ao contrário. Iniciou
uma nova era para a Humanidade: a Era do Espírito. O corpo dou-
trinária estava concluído. No entanto, a obra maior estava apenas

2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Espírito Bezerra de Menezes.


Salvador, BA: Leal, 1990, p. 83-84
3 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 2 ed. Salva-
dor, BA: Leal, 1972, p. 18

O grande portal da era nova  |  145


se iniciando, uma vez que os Espíritos, saindo do silêncio, vinham
para confirmar a moral do Cristo, mostrar-lhe sua utilidade à todos
os homens da Terra, tornando inteligíveis e patentes, verdades que
haviam sido ensinadas sob a forma alegórica.
Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem.
Por que, tendo-o enviado para fazer lembrada Sua lei que estava
esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a
lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão, quando
eles a olvidam, para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem
ousaria pôr limites ao poder de Deus e traçar-Lhe normas? Quem
nos diz que, como o afirmam os Espíritos, não estão chegando os
tempos preditos e que não chegamos aos em que verdades mal
compreendidas, ou falsamente interpretadas, devam ser ostensi-
vamente reveladas ao gênero humano, para lhe apressar o adian-
tamento? Não haverá alguma coisa de providencial nessas mani-
festações que se produzem simultaneamente em todos os pontos
do globo? 4 (Grifos nossos.)
É claro e evidente que os planos divinos seguem seu curso,
onde está contemplada a ação dos Espíritos Benfeitores também
através dos livros, desenvolvendo, aclarando a ideia geratriz, o
que continua a ser feita segundo as regras da lógica, da experiên-
cia e da razão. Deus não está de braços cruzados.
Guardemos na lembrança: são chegados os tempos em que
verdades mal compreendidas, ou falsamente interpretadas, es-
tão sendo ostensivamente reveladas ao gênero humano, para lhe
apressar o adiantamento. E isso em todos os pontos do globo.
Bem-vindo, pois, as inúmeras publicações de livros espíritas.
Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos,
este o segundo. 5
E busquemos nossa instrução espírita na Codificação Espírita e

4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Conclusão, VIII, p. 490
5 __________. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 6, item 5, p. 130

146 |  O grande portal da era nova


em toda a literatura espírita.
Não dê ouvidos aos que lhe falem ao contrário, dizendo ine-
xistir essa via láctea de conhecimento, onde a Codificação, re-
vivendo Jesus, é o epicentro rodeado de inúmeros outros astros
- cada um com movimento próprio em regiões do espaço infinito,
mas integrantes e não distantes da grande Harmonia do Universo
-, estes que são os sinceros amigos da doutrina.
Os que dizem ao contrário, não sabem o que falam. Apresen-
tam-se como doutores da lei e senhores do conhecimento, mas,
fascinados por um falso saber, presos a letra que mata e alheios
ao espírito que vivifica 6, são cegos se propondo a conduzir outros
cegos, não entram no Céu e não deixam ninguém entrar, como
comentados por Jesus, a quem, Este sim, devemos ouvir:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o
Reino dos Céus diante dos homens! Pois vós mesmos não entrais,
nem deixais entrar os que querem fazê-lo! (Mt. 23:13.)
Deixai-os. São cegos conduzindo cegos! Ora, se um cego con-
duz outro cego, ambos acabarão caindo num buraco. (Mt. 15:14.)
Os livros espíritas e os Benfeitores Espirituais, seus autores, bem
como os autores encarnados, estão para auxiliar-nos na compre-
ensão das razões da vida e do existir, para que consigamos a nos-
sa efetiva reforma moral íntima, para melhor, e, conforme ensinou
Allan Kardec, consigamos ser hoje melhor do que ontem e ama-
nhã busquemos ser melhores do que hoje.
Jesus, guia e modelo, é a porta, e Kardec é a chave.

6 Corintios 2, 3:6 (...) porque a letra mata e o espírito vivifica.

O grande portal da era nova  |  147


A história do mundo conhece um grande grupo de
criaturas que honra a inteligência e o sentimento humano,
principalmente quando a atualidade do mundo lamenta
e sofre, em face do nível geral de tantos indivíduos
renascidos presentemente na Terra.

José Lopes Neto


Era Nova
O GRANDE PORTAL DA

parte 7
E o semeador saiu a semear
Cuidemos de aprofundar a mente e o coração nas
preciosas palavras do Codificador e dos Espíritos da Luz,
estudando o Espiritismo e fazendo não só que cada Casa
Espírita seja um Templo, mas, sobretudo, se transforme
numa Escola de iluminação de consciências e sabedoria,
onde se criem hábitos salutares e o amor mantenha sua
substância, conduzindo as almas para o aprisco do Cristo,
nosso eterno e incessante Condutor.

Vianna de Carvalho
18

Evangelho
Restaurado
Apresentando o

R epetimos as paternais palavras de Bezerra de Menezes:


Hoje é o nosso dia de apresentar o Evangelho Restaurado à
sofrida alma do povo.
Falemos a linguagem simples e comovedora da esperança,
trocando verbalismos sonante e vazio pela semente de luz que
devemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das pai-
xões e do desequilíbrio.
A nossa não é outra, senão a tarefa de conduzir com seguran-
ça os náufragos das experiências humanas ao porto da paz.
Quando estivermos por apresentar a mensagem espírita, te-
nhamos em mente de que não se trata de proferirmos uma pales-
tra pura e simples, onde se repasse conhecimentos gerais apenas.

O grande portal da era nova  |  151


Saibamos estar falando “à sofrida alma do povo”.
É uma oportunidade ímpar para se difundir a orientação nobre
e o consolo tão buscado, por isso [...] “falemos a linguagem sim-
ples e comovedora da esperança, trocando verbalismos sonante e
vazio pela semente de luz que devemos colocar na alma dos que
padecem na cegueira das paixões e do desequilíbrio”.
Não guardemos objetivos difusos ao grande fanal do Espiritis-
mo e aos nossos compromissos na disseminação e vivência pes-
soal dos seus postulados. “A nossa não é outra, senão a tarefa de
conduzir com segurança os náufragos das experiências humanas
ao porto da paz”.
A tarefa da exposição doutrinária para qualquer público é
sempre de grande responsabilidade, com propósitos essenciais
muito claros.
Impostergável, portanto, o compromisso que temos, todos nós,
desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo
nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec, a fim
de que o Consolador de que se faz instrumento não apenas enxu-
gue em nós os suores e as lágrimas, mas faça estancar nas fontes
do sofrimento as causas de todas as aflições que produzem as lá-
grimas e os suores. 1
Estejamos preparados para falar ou escrever com simplicida-
de, com naturalidade, com espontaneidade, com a emoção de
quem já experimentou o bálsamo refazente do Consolador em
muitas circunstâncias da própria vida, por isso sabe de seu valor e
de sua veracidade. Não sejamos daqueles que somente indiquem
caminhos, mas sim quem convida a seguir junto na jornada comum
iniciada.
Saber falar de Espiritismo não é uma questão de arroubo de
oratória. É saber falar o que alcance o coração sofrido do próxi-
mo.

1 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espíritos. 3.ed, Salva-


dor, BA: Leal, 1979, p. 96

152 |  O grande portal da era nova


O que consola, orienta e convence não é a forma com que se
fala ou escreve, apenas, mas o conteúdo que se repassa.
Buscar melhorar a forma é altamente válido e necessário, pois
se aprimorará as condições de serviço ao próximo. Por mais bonita
que seja a moldura de um quadro de pintura, esta não substituirá
a eventual falta de beleza e originalidade do artista do que vai
retratado na tela.
Pela oportunidade, transcrevemos aqui orientações a respeito,
dadas pelo Espírito André Luiz:
Palestrar com naturalidade, governando as próprias emoções,
sem azedume, sem nervosismo e sem momices, fugindo de prele-
cionar mais que o tempo indicado no horário previsto.
A palavra revela o equilíbrio.

Calar qualquer propósito de destaque, silenciando exibições
de conhecimentos, e ajustar-se à Inspiração Superior, comentando
as lições sem fugir ao assunto em pauta, usando simplicidade e
precatando-se contra a formação de dúvida nos ouvintes.
Cada pregação deve harmonizar-se com o entendimento do
auditório.
Respeitando pessoas e instituições nos comentários e nas refe-
rências, nunca estabelecer paralelos ou confrontos suscetíveis de
humilhar ou ferir.
Verbo sem disciplina gera males sem conta.

Sustentar a dignidade espírita diante das assembleias, absten-
do-se de historietas impróprias ou anedotas reprováveis.
O orador é responsável pelas imagens mentais que plasme nas
mentes que o ouvem.

O grande portal da era nova  |  153



Nas conversações, não se reportar abusiva e intempestiva-
mente a fatos e estudos doutrinários de entendimento difícil, de-
vendo selecionar oportunidades, quanto a pessoas e ambientes,
para tratar de temas delicados.
A irreflexão é também falta de caridade.

Manter-se inalterável durante a alocução, à face de qualquer
situação imprevista.
Os momentos delicados desenvolvem a nossa capacidade de
auxiliar.

Procurar abolir, em suas palestras, os vocábulos impróprios, as
expressões pejorativas e os termos da gíria das ruas.
O culto da caridade inclui a palavra em todas as suas aplica-
ções.

Sempre que possível, preferir o uso de verbos e pronomes na
primeira pessoa do plural, ao invés da primeira pessoa do sin-
gular, a fim de que não se isole da condição dos companheiros
naturais do aprendizado, com quem distribui avisos e exortações.
Somos todos necessitados de regeneração e de luz. 2
Natural que nos sintamos apreensivos sempre que estejamos
diante dessa atividade, dessa tarefa, a pregação doutrinária. E
é bom que seja assim, pois esse tipo de sentimento exigirá de nós
mesmos maior atenção e cuidado com o que fazemos e como fa-
zemos, desde o preparo do tema. Não lute contra esse sentimen-

2 VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. 6.ed. Rio de Janeiro: FEB,
1960, p. 60-62

154 |  O grande portal da era nova


to, aprenda a conviver com ele em harmonia. A insegurança traz
dificuldades, sim, mas o excesso de confiança também prejudica.
Lembremo-nos dos dizeres de Nicolau Maquiavel: “Será preciso,
contudo, ser cauteloso com aquilo que fizer, e no que acreditar;
é necessário que não tenha medo da própria sombra, e que aja
com equilíbrio, prudência e humanidade, de modo que o excesso
de confiança não o torne incauto, e a desconfiança excessiva não
o faça intolerante.”

O grande portal da era nova  |  155


O Espiritismo é simples, fácil e claro, dispensando
linguagem bombástica e terminologia complicada.
Se não puder ser entendido por um espírito singelo, em
verdade, não conduz a vera mensagem do Cristianismo
autêntico, graças à prosápia ou a presunção do expositor
que fala ou escreve.

Vianna de Carvalho
19

Palestra
Pontos básicos
para uma boa

A proveitemos o ensejo para recordar, mesmo que de passagem,


alguns pontos básicos para uma boa palestra, seu preparo,
sua apresentação. As considerações que seguem são encontradas
aqui e acolá nos compêndios e cursos que tratam do assunto.

1. C omece pensando no final

Antes de qualquer outra providência, pense no dia de sua


apresentação. Qual é o objetivo de sua palestra, de seu estudo?
Qual a utilidade prática do conhecimento que você vai transmi-
tir? O que as pessoas que estarão assistindo esperam dela? Qual
a mensagem essencial que você deseja deixar, ao final? Na sua
opinião, quais os pontos principais que precisam ser trabalhados
para que a mensagem pretendida seja bem construída ao longo
da palestra? Lembre que não é apenas informação que a plateia

O grande portal da era nova  |  157


busca. Se fosse assim, eles apenas leriam um livro ou um artigo.
Eles esperam algo mais. Desejam que se faça luz na noite escura
das próprias almas.

2. C onheça bem seu público

Antes de começar a preparar o conteúdo, pergunte a si mesmo:


Quem é o público? Quanto você acha que eles sabem sobre o
assunto que vai apresentar? Qual a faixa etária preponderante?
Será um público muito heterogêneo? São espíritas ou não? Estarão
predispostos ao tema?
Qual é o propósito do evento? Inspirar? Consolar? Passar infor-
mações concretas? Ministrar um curso? Eles estão interessados
mais em conceitos e teorias ou em aspectos vivenciais, fatos e
orientações? Precisam de material elucidativo para aplicar no dia
a dia existencial?
Qual o seu propósito? Trabalhar o pensar, o intelecto? O mover,
chamando-os a mudanças? O comover, mexendo com a sensibi-
lidade e estimulando mudanças morais?
Por que você foi convidado? O que esperam de você? Como
conseguir empatia com os presentes?
Onde será? Descubra tudo sobre o local, grau de conforto (ca-
lor, frio, acomodação, som, iluminação, fatores que geram dis-
tração – barulhos, movimentação de outras pessoas), trânsito. O
conforto de menos é adversário de uma boa atenção por parte
dos assistentes. O conforto demais, em alguns aspectos, também.
Você não vai alterar o conforto, mas precisa ter essa variável em
suas considerações.
Quando? Você tem tempo suficiente para se preparar? Que
hora do dia será a sua apresentação? Se há outras apresentações,
qual a ordem? Qual o dia da semana? Tudo isso importa. Veja-
mos, por exemplo, que a palestra será à noite de um determinado

158 |  O grande portal da era nova


dia da semana, que não é final de semana nem feriado. Os que
ali estarão, na sua maioria, estarão chegando de uma jornada di-
ária de trabalho de cerca de 10 horas, provavelmente vindo direto
do trabalho, tendo feito um rápido lanche (se é que conseguiram
fazê-lo). Óbvio que a abordagem e sua dinâmica precisará ser
inteligentemente preparada e aplicada, sabendo-se que estará
diante de uma plateia em quase exaustão física e, quem sabe?,
emocional (um pequeno descuido e muitos cairão no sono). Será
diferente se a palestra for para um público às 10 horas da manhã
de um domingo. Apesar do tema ser o mesmo. Com um certo tom
de jocosidade, podemos dizer que num caso o empenho é para
que não peguem no sono e no outro é para que acordem.

3. C onteúdo, conteúdo e, por fim, conteúdo

Não importa o quanto é boa sua capacidade de comunicação


ou o quanto ficou bonita sua apresentação visual, se sua palestra
não for baseada num conteúdo sólido e com foco bem definido,
você não terá sucesso. Um bom conteúdo é uma condição neces-
sária, mas não suficiente. É preciso transmiti-lo de maneira apro-
priada e de acordo com os ouvintes, disponibilizando elementos
que construam raciocínio que leve a conclusão pela mensagem
essencial que se propôs deixar. Uma boa história, na hora certa,
vai te ajudar a atrair a plateia.
Cuidado: Poupe seus ouvintes de uma enxurrada de informa-
ções. Isso acontece quando o palestrante passa muitas informa-
ções sem fazer o esforço de mostrar como os ouvintes irão usá-
-las. Abre muitos pontos e ângulos de vista, mas não consegue
fechá-los, concluí-los, “amarrá-los”. Também ocorre quando as
informações parecem não ter nenhuma coesão. Às vezes parece
que o palestrante está apenas se exibindo, ou simplesmente com
medo de que, se não contar tudo, dando todas as informações, os
ouvintes não irão entender a mensagem.
Não caia na armadilha de pensar que para que se faça enten-
der, você precisa falar tudo e muito. Cogite, diferencie e classifi-

O grande portal da era nova  |  159


que antes o que é essencial, o que é importante, o que é necessário e o
que é acessório para a construção da mensagem-foco da palestra.
Isso formatará a ideia de simplicidade.
É preferível que a plateia fique com a sensação de “quero
mais” do que de “não aguento mais”.

4. S eja simples

Simples não quer dizer simplório. Ser simples pode ser difícil
para o palestrante, mas vai ser muito bem apreciado pelos ouvin-
tes. Simplicidade requer muito mais preparação e planejamento
de sua parte, pois você deve pensar bem no que incluir e no que
pode ser deixado de fora, e como vai falar em linguagem simples,
acessível, com naturalidade e espontaneidade. Pergunte-se sem-
pre: Qual é a essência da sua mensagem? Qual a mensagem final
que você quer construir com sua palestra?
A título de exercício, ao longo do preparo de sua palestra,
questione-se: Se os seus ouvintes pudessem se lembrar somente
de três coisas de sua apresentação, quais você gostaria que fos-
sem?

5. E sboçando o conteúdo

Comece planejando fazendo esboço do conteúdo pretendido


com caneta e papel, ao invés de ir direto ao PowerPoint ou ao
Word. Tal prática ajuda a concretizar a ideia na sua mente, ajuda
na sua criatividade, além de ser mais fácil e mais rápido. Software
ajuda muito na hora de fazer, depois de alinhavado, a montagem
do trabalho, propriamente dito; antes do esboço pronto, por exigir
de sua atenção para seu uso, o software tende a retirá-lo da con-
centração devida para mellhor pensar sua palestra, já que utilizar
o programa exige também de sua atenção. Enquanto você escreve
os pontos chaves e monta a estrutura, pode fazer alguns desenhos
como gráficos ou fotos que vão aparecer no seu slide, se é que

160 |  O grande portal da era nova


você vai se utilizar desse material didático.
Apesar de estar usando todo o aparato tecnológico quando
vai fazer sua apresentação, o ato de falar e interagir com a plateia
– persuadir, emocionar ou informar – é todo seu.
Com o esboço pronto, imaginadas as ilustrações e destaques,
as frases de efeito apontadas (indique sempre as fontes bibliográ-
ficas de onde foram tiradas, se for o caso), aí sim, você se utiliza
da ferramenta tecnológica que quiser, e essa tarefa também será
mais fácil e rápida, pois irá configurar o que você já imaginou e
planeou.

6. E daí?

Quando estiver preparando o conteúdo da sua palestra, colo-


que-se no lugar da plateia e pergunte: “e daí?” Faça-se esse tipo
de pergunta durante sua preparação. Por exemplo, seu assunto
é importante? Você provavelmente já esteve na plateia e pensou
como o que o palestrante estava falando era relevante ou apoiava
sua ideia. “E daí” você se pergunta. “E daí?”, sempre faça essa
simples e importante pergunta a si mesmo. Se você realmente não
conseguir respondê-la, se não estiver agregando valores para
consumar a ideia essencial que você quer deixar, se não tornar
importante o ensino pretendido para o que a plateia busca, então
tire aquele conteúdo da sua apresentação.

7. V ocê consegue passar no teste do elevador?

Aqui vamos nos utilizar de um exemplo bem acadêmico.


Teste a clareza de sua mensagem com o teste do elevador. Esse
exercício força você a “vender” sua mensagem em 30, 45 segun-
dos. Imagine a seguinte situação: Você agendou com o maioral
do departamento de marketing de produto de sua empresa, uma
das indústrias líderes em tecnologia no mundo, para mostrar suas

O grande portal da era nova  |  161


ideias. Ambas as agendas e orçamentos estão apertados; e é uma
oportunidade extremamente importante se você conseguir o aval
da direção executiva. Quando você chega na recepção, fora do
escritório do vice-presidente, de repente ele aparece com o pa-
letó e pasta na mão e fala “Desculpe, houve um imprevisto, fale
sobre sua ideia enquanto descemos até o hall de entrada...”
Você conseguiria vender sua ideia no elevador e caminhando
até o estacionamento?
Na hora da apresentação efetiva de sua palestra, diante de
um imprevisto qualquer, você conseguiria, improvisando, encur-
tá-la em 10 ou 20 minutos (ou de 1 hora para 30 minutos), sem
deixar de construir a ideia central e transmitir a mensagem-foco?
Você conseguiria? Talvez nunca precise, mas praticar desta forma
ajuda você a tornar seu conteúdo mais curto e claro. A questão é:
não falar muito e sim falar bem. Acredite, imprevistos acontecem.

8. E strutura limpa e sólida

A estrutura da apresentação está acima de tudo. Simplicidade,


cadência lógica (começo, meio e fim). Sem ela, seu grande estilo
pessoal e ótimo visual não são nada. Se você esboçou suas ideias
e formou um modelo lógico, então suas ideias serão bem claras.
Você deve observar se a lógica do conteúdo traçado e o anda-
mento da sua fala estão em conformidade com o planejado.
No caso de uso de apresentação no PowerPoint, os slides tam-
bém precisam estar de conformidade com a lógica do conteúdo e
com o andamento de sua fala. Sua plateia precisa ver onde você
quer chegar. E não é suficiente ter um slide no início com “agenda”
ou “roteiro”, se você não tem uma boa estrutura, adequada ca-
dência e ajustado sincronismo na fala e na animação gráfica. Ao
contrário, os ouvintes ficarão desgastados se você promete uma
palestra bem organizada no começo, mas na verdade está tudo
bagunçado, sem foco e sem começo, meio e fim.
Material gráfico, eletrônico ou não, é um recurso didático, que

162 |  O grande portal da era nova


deve ser utilizado sim, mas dentro dos conformes. É material de
apoio. Representará síntese de sua palestra, com pontos de desta-
que e de estímulo (como apresentações animadas e sonorizadas,
como ilustração ao tema do momento). Cuidado para não exage-
rar na dose.
Evite ser daqueles que apenas leem o que está posto nos sli-
des. Repetimos para melhor memorização: o ato de falar e intera-
gir com a plateia – persuadir, emocionar ou informar – é todo seu.

9. A arte de contar histórias

Boas palestras incluem histórias. Os melhores palestrantes ilus-


tram suas ideias com histórias. A melhor maneira de explicar ideias
complicadas é através de exemplos ou compartilhando uma his-
tória que ajuda a concretizar determinado ponto. Histórias são fá-
ceis de lembrar.
Além disso, é importante pensar em seus minutos de palestra
como uma boa oportunidade de “contar uma história”.
Boas histórias são interessantes e claras no início, têm conteúdo
provocativo no meio e oferecem uma conclusão lógica, ao final.
Recorde-se de Jesus e as parábolas. Recorde-se de Jesus e
sua metodologia de ensino. Recorde-se de Jesus e suas técnicas
de ensino e do material didático que lançou mão. Recorde-se de
Jesus sempre. Terá alguém na face da Terra que tenha falado de
assuntos tão importantes, profundos e complexos como os que Ele
falou, sob as mais variadas adversidades, mas com tanta simplici-
dade, clareza e poder de convencimento?
Ele dividiu a História, contando histórias e fazendo História
viva pelos seus feitos.

O grande portal da era nova  |  163


10. Confiança - como alcançar
Quanto mais você conhece seu material para a apresentação,
menos nervoso ficará.
Seja previdente. Prepare sua apresentação para o PowerPoint,
se você assim quiser, mas não deixe de ter à mão esquema em
papel, manuscrito ou impresso, de modo a poder dele fazer uso
diante de um impedimento no uso do equipamento de multimídia.
Computador, projetor de multimídia, são máquinas, apenas má-
quinas. Podem não funcionar na hora “h”.
Saiba bem como operar o computador e o arquivo. Muito pró-
prio se você souber fazer as devidas ligações e conexões do com-
putador com o projetor multimídia. Vai que o responsável por dei-
xar tudo prontinho para você, não apareça! Prudente ter o arquivo
em dois pen-drives (já não se fala mais em CD). Pen drive também
pode falhar, ou o arquivo estar “baleado”. Pense nisso!
O velho quadro de giz! Não o desconsidere. Ainda é o apoio
mais fiel que dispõem os palestrantes. Utilize-o de forma adequa-
da. Se for quadro do tamanho grande, trace uma linha imaginária,
ou não, no seu centro, dividindo-o em duas partes, à direita e à
esquerda. Comece por utilizar a parte da esquerda (de quem está
de frente para o quadro). A cada citação que escreva, ao termi-
nar, saia da frente, para que todos possam ler. E assim continue.
Ao terminar de utilizar a parte da esquerda, passe para a parte
da direita. Se precisar continuar usando o quadro, tendo ocupado
toda a parte da direita também, recomece pela da esquerda. Es-
creva com letras grandes e legíveis, não se esqueça.
Voltemos aos “tempos modernos”.
Se você vai utilizar-se de projeção multimídia, colocou todos os
slides em ordem lógica, criou bem o material de suporte, tem um
backup do arquivo e tem o material impresso para eventualidades,
então há menos motivo ainda para nervosismo. Se, além disso, en-
saiou com um computador, memorizando a sequência dos slides e

164 |  O grande portal da era nova


animações, então o nervosismo simplesmente vai embora.
Nós tememos o que não conhecemos. Se sabemos bem o que
temos em mãos, sabemos bem sobre o assunto, sabemos qual sli-
de vem depois de qual, se antecipamos algumas possíveis per-
guntas ao longo do preparo do tema e temos as respostas, então
eliminamos muito do desconhecido. Quando eliminamos o desco-
nhecido, o nervosismo e a ansiedade também diminuem. Então a
confiança vem naturalmente.
A oração é excelente recurso, que deve ser usado desde antes
do preparo da palestra, bem como ao longo do seu preparo, e
também antecedendo o momento da palestra, a fim de que você
se coloque sob o fio da inspiração dos Benfeitores Espirituais. E
quando tudo tiver terminado, ore ainda, agradecendo à Deus.
Recomenda-nos o apóstolo Paulo:
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que
for boa para promover a edificação, para que dê graças aos que
a ouvem. 1

1 Efésios, 4:29

O grande portal da era nova  |  165


Consolador inexaurível, o Espiritismo é a renascença do
Cristianismo primitivo, resposta do amor do Cristo aos
aflitos apelos da humana criatura terrestre.

Vianna de Carvalho
20

Semear
E o semeador
saiu a

A Doutrina Espírita é eminentemente educativa ou reeducativa.


Os estudos doutrinários devem não perder esse foco. Não são
meras informações. São propostas modificadoras de pensamento
e comportamento.
Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim
à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábi-
tos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. 1
O Espiritismo é qual o maná que cai dos Céus, para alimentar
os que peregrinamos pelos desertos em busca da terra prometida,
que chega para altear-nos o ânimo, fortalecer-nos em coragem
e estimular nossas esperanças, convidando-nos a renovação de
valores.
O venerando Espírito Bezerra de Menezes ensina-nos: Quan-

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1998. Perg. 685, p. 331

O grande portal da era nova  |  167


do alguém se levanta, todos os homens se levantam com ele... 2
Em se tratando de programa de estudos para os que estão se
achegando ao conhecimento espírita, sem medo de errar, levemos
em conta, segundo Clélia Duplantier, que “três caracteres há em
todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro da
família e, finalmente, o de cidadão”. 3
E para abranger esses caracteres, aprendamos com Hilel:
Contam que um jovem sedento de afirmação espiritual procu-
rou certa vez o pensador e sacerdote hebreu Shammai e o inter-
rogou:
- Poderias ensinar-me toda a Bíblia durante o tempo em que eu
possa quedar-me de pé, num só pé?
- Impossível! – respondeu-lhe o filósofo e religioso.
- Então de nada me serve a tua doutrina – redarguiu o moço.
Logo após buscou Hilel, o famoso doutor, propondo-lhe a
mesma indagação.
O mestre, acostumado à sistemática da lógica e da argumen-
tação, mas, também, conhecedor das angústias humanas, respon-
deu:
- Toma a posição.
- Pronto! – retrucou o moço.
- Ama! – elucidou Hilel.
- Só isso?! E o resto, que existe na Bíblia? – inquiriu, apressa-
damente.
- Basta o amor – concluiu o austero religioso. – Todo o restante
2 FRANCO, Divaldo P. Sol de esperança. Por Diversos Espíritos. Salvador, BA: Leal, 1978,
p. 115
3 KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB,
1998. “As expiações coletivas”, p. 266

168 |  O grande portal da era nova


da Bíblia é somente para explicar isso. 4
E em cada palestra pública ou não, em cada programa de es-
tudos, para cada aula ao grupo de estudantes, ofertemos como
dedicatória, as palavras ditadas por Bezerra de Menezes, André
Luiz, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Hilário Silva, Anália
Franco, Meimei, Emmanuel e outros:
Oferecemo-lo a todos os irmãos, cujos ombros jazem vergados
ao peso de rijas obrigações, nesta hora em que a família humana
desfalece à míngua de amor; aos que, por náufragos da existên-
cia, viram quebradas, ante os furacões do materialismo destruidor,
as embarcações religiosas em que se lhes erguia a fé; aos que
levantaram a voz para redizer-te a palavra de esperança e luz,
deslocando, à custa de sacrifício, os empeços das trevas; aos que,
sobrecarregados de graves deveres, procuram preencher os luga-
res dos que desertaram do serviço, tentando debalde esquecer os
fins da vida; e, acima de tudo, aos que, por agora, não encontram
para si mesmos senão a herança das lágrimas em que se lhes dis-
solve o coração.
Com todos eles, Senhor, rumo à Era Nova, nós – gotas peque-
ninas de inteligência no oceano da Infinita Sabedoria de Deus –
partilhamos os lances aflitivos da Terra traumatizada por angústias
apocalípticas, em busca de paz e renovação, trabalhando pelo
mundo melhor, na certeza de que permaneces conosco e de que,
como outrora, diante da tempestade, repetirás aos nossos ouvi-
dos, tomados de inquietação:
- “Tende bom ânimo! Sou eu, não temais.” 5

4 FRANCO, Divaldo P. Estudos espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2.ed. Salvador,
BA: Leal, 1982, p. 14
5 XAVIER, Francisco C. VIEIRA, Waldo. O espírito da verdade. Por Diversos Espíritos.
3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961, p. 11-12

O grande portal da era nova  |  169


Quando os ensinos espíritas forem bem compreendidos,
examinados, absorvidos pelos homens, estes mudarão o
comportamento social, em razão da modificação moral
que cada ser se imporá, erguendo-se uma comunidade
pacífica e justa, a espraiar-se, generosa, por toda parte,
auxiliando a transformação da Terra, regenerada e
luminosa, que seguirá no rumo da destinação que a
espera como aos seus habitantes, hoje em lutas cruentas
e rudes, por haverem abdicado das armas do amor, da
mansidão e da fraternidade.
Este é o grande fanal do Espiritismo.

Vianna de Carvalho
Finais
Palavras

Emensagem
dilatando a claridade do sol espírita conscientemente, através
da exposição e da narrativa, falando ou escrevendo, vivamos a
excelente que reflete o amor de Deus a todas as criatu-
ras, porquanto, se até ontem recebemos uma fé desfigurada, enig-
mática e simbólica, com o Espiritismo, nos moldes com que Allan
Kardec no-lo ofereceu, ressurge a verdadeira religião, apresen-
tando o Senhor Jesus desvelado e simples, fazendo-se conhecer e
amar em nós e conosco, até o fim dos tempos! 1
Bem disse a Veneranda Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis
quando da apresentação desse nosso singelo trabalho: “Não se
pode, portanto, conhecer realmente o Espiritismo, senão mediante
o seu grande portal, que é o acesso às obras fundamentais: O
Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Es-
piritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese”.

É o Espiritismo o inapagável sol de esperança, aquecendo e


iluminando as nossas consciências atormentadas através dos mi-
lênios e conduzindo-nos para o porto feliz da tranquilidade plena,
indicando-nos rota certa para nosso definitivo encontro com o Sol
das Almas e Amigo Incondicional, Jesus, que é a Vida, a Porta e a
Vereda, que nos guia e nos sustenta na caminhada de redenção
espiritual.

1 FRANCO, Divaldo P. À luz do espiritismo. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Salvador,


BA: Leal, 1968, p. 151

O grande portal da era nova  |  171


Por tudo isso, digo-lhe, emocionado e genufletido em coração:
glória a ti, Allan Kardec, dedicado bandeirante da luz e artesão
do grande portal da Era Nova! Beneficiário do teu esforço gran-
dioso, saúdo-te e homenageo-te com estes escritos. rogando ao
Criador que te abençoe sempre e sem cessar!
E registro meu preito de gratidão ao Divaldo P. Franco, pela
presença iluminativa em minha existência, como amigo, como ir-
mão. Ele tem sido grande arrimo ao longo dos dias. Foi quem esti-
mulou-me para que alinhavasse estas páginas, inclusive dispondo
de seu tempo, já tomado de tarefas doutrinárias ao redor do mun-
do, para ler, avaliar, opinar e revisar este opúsculo.
Gratidão ao J. Raul Teixeira, amigo querido que pude acompa-
nhar por décadas em várias de suas longas e extraordinárias jor-
nadas doutrinárias pelo Brasil e no exterior. Muito aprendi estando
ao seu lado, sobre o Espiritismo e sobre a vida, até porque ele se
faz exemplo, tanto na saúde como na doença.
Aos meus amados familiares, pela compreensão, pela tolerân-
cia, pelo apoio, pelo incentivo, pelo carinho e pelo amor dúlcido
e reconfortante.
À Deus, à Jesus Cristo e aos Espíritos Benfeitores.

172 |  O grande portal da era nova


O grande portal da era nova  |  173

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