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PLANALTO AGUARDA DENÚNCIA CONTRA CUNHA, QUE PROMETE RETALIAÇÃO

ANDRÉIA SADI_VALDO CRUZ_DE BRASÍLIA _15/07/2015 02h00

Para enfraquecer Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem imposto derrotas ao Planalto e terá o
controle da Câmara dos Deputados em caso de processo de impeachment contra Dilma Rousseff, o
governo conta com uma denúncia contra o peemedebista na Operação Lava Jato, o que pode ocorrer
nos próximos dias.
A novidade seria um depoimento do executivo Júlio Camargo, que fez acordo de delação premiada
com o Ministério Público Federal.
O próprio Cunha já confidenciou a aliados que espera ser denunciado pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, e promete retaliar o Planalto.
O deputado federal, assim como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atribui sua
investigação a uma ação do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). A cúpula do Congresso
queixa-se de que o governo Dilma não fez nada para impedir inquéritos contra eles.
Ed Ferreira - 9.jul.15/Folhapress

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, durante sessão para votação da reforma politica

Nesta terça-feira (14), Cunha avisou a Michel Temer (PMDB), vice-presidente da República, que
irá instalar CPIs prejudiciais ao governo na volta do recesso parlamentar. São elas a do BNDES e a
dos fundos de pensão.
Preocupado, Temer conversou com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o informou das
intenções de Cunha. Mercadante procurou o presidente da Câmara para tentar apaziguar os ânimos
e rechaçar qualquer tipo de interferência do governo na Lava Jato.
Cunha, no entanto, tem dito a aliados que a denúncia contra ele vai ter efeito oposto, prometendo
"aumentar a pressão" sobre o governo.
Junto ao PMDB na Câmara, ele diz ainda que vai articular a convocação de Mercadante e Edinho
Silva (Comunicação Social) na CPI da Petrobras.
Os ministros foram citados na delação do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC. Ele disse ter
dado dinheiro proveniente de caixa dois a Mercadante em 2010 e ter sido pressionado por Edinho a
contribuir com a campanha de 2014 de Dilma em troca de obras na Petrobras. Os petistas negam as
irregularidades.
Em outra frente, Cunha vai dar início, conforme a Folha revelou no domingo (12), à apreciação de
contas presidenciais de anos anteriores para abrir caminho para a análise das contas de 2014 de
Dilma. O TCU (Tribunal de Contas da União) deve rejeitar as contas da petista.

SONDAS

O doleiro Alberto Youssef declarou à Justiça Federal que Cunha foi o "destinatário final" da
propina paga pelo aluguel de navios-sonda para a Petrobras em 2006.
O assunto é alvo de uma ação penal a que respondem Youssef e outras três pessoas por corrupção,
lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Também são réus o operador Fernando Baiano, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o
empresário Júlio Camargo, que teria intermediado o contrato.
O doleiro disse que Camargo citou "exatamente" o nome de Cunha a ele, em conversas sobre o
pagamento da propina, em 2011.
Em depoimento prestado em maio, Camargo negou que tenha mencionado o nome de Cunha ou
mesmo atribuído qualquer participação ao deputado nesse episódio.
Interlocutores de Cunha dizem que ele foi avisado de que Camargo teria mudado sua versão em
depoimento. Por esse motivo, o peemedebista espera ser denunciado pela procuradoria.

O BAÚ DOS AMERICANOS


ELIO GASPARI _15/07/2015 02h00

O lote de 538 documentos liberados pelo governo americano durante a passagem da doutora Dilma
por Washington é um tesouro para quem quiser reconstituir a teia das relações entre os dois países
durante a ditadura. Eles estão no site do Arquivo Nacional.
Seu maior valor está na divulgação de mais de uma centena de papéis da Defense Intelligence
Agency, a DIA. Ao contrário do que diz a sabedoria convencional, a Central Intelligence Agency
não é o único serviço de informações americano e a DIA é a principal operadora de informações
militares. Por exemplo: o famoso general Vernon Walters, adido militar no Brasil em 1964, era da
DIA e só foi para a CIA anos depois, como seu vice-diretor. Walters foi substituído no Brasil pelo
coronel Arthur Moura, um descendente de açorianos, afável, até divertido, fluente em português.
Nos anos de chumbo ele foi o mais poderoso funcionário americano no Brasil. Promovido a general
a pedido do presidente Médici durante seu encontro com o colega Richard Nixon, passou para a
reserva e posteriormente tornou-se diretor da empreiteira Mendes Júnior (ela, a da Lava Jato).
A maioria dos telegramas da DIA foi redigida por Moura. Ele sabia muito –do general que
entornava ao mulherengo e ao falastrão. Ajudava os amigos, levando remédios para o ministro do
Exército. Moura foi um porta-voz convicto da máquina repressiva da ditadura. Em 1976, já na
reserva, escreveu uma carta pessoal ao presidente Jimmy Carter descascando sua política de direitos
humanos. Lembrou-lhe que quatro anos antes, ao passar pelo Brasil como governador da Georgia,
elogiara a forma como a ditadura combatia o terrorismo. Lembrou ao presidente que ele visitara o
país para defender os interesses da fabricante de aviões Lockheed, em cujo jatinho viajara. Alô,
Lula. (O general fez chegar uma cópia da carta ao Planalto.)
Do exame da primeira metade do lote de papéis liberados vê-se que o embaixador Charles Elbrick,
sequestrado em 1969, manteve o senso de humor na noite de sua libertação, quando foi ouvido por
agentes americanos. Elbrick achara que ia morrer. Uma vez solto, disse que se um dia tivesse que ir
para a cadeia, ou se voltasse a ser sequestrado, gostaria de receber o tratamento que tivera. Os
sequestradores compraram-lhe cigarrilhas quando seu estoque de charutos acabou. Ao levarem
comida, desculparam-se pela qualidade: "Nós não sabemos fazer de tudo".
Para quem persegue charadas, o papelório joga luz numa. Em novembro de 1969, quando Carlos
Marighella foi morto em São Paulo indo ao encontro de dois freis, o consulado americano lembrou
a Washington que sua conexão com os dominicanos do convento de Perdizes já havia sido exposta
num telegrama de dezembro em 1968. De fato, há décadas sabia-se que houve um contato do
consulado com "frei (dezoito batidas censuradas)". Ilustrando a incompetência da polícia, ele
contara que Marighella estivera no convento, localizado nas cercanias do DOPS. Essas dezoito
batidas parecem ter sido desvendadas. Outro telegrama, transmitido três dias depois da morte de
Marighella e liberado agora, identifica o religioso da conversa de 1968 como "frei Edson Maria
Braga" (dezessete batidas). À época havia um frei Edson em Perdizes, mas seu nome completo era
Edson Braga de Souza. Era o prior do convento.
COMO NO TITANIC, BRASÍLIA AFUNDA COM ORQUESTRA
Josias de Souza_15/07/2015

Reunidos no gabinete da presidência do Senado, os líderes partidários esperavam Joaquim Levy.


Como o ministro da Fazenda demorava a chegar, o senador Omar Aziz (AM), líder do PSD, lançou
uma interrogação no ar: “Como é, minha gente, nós vamos fazer de conta que não está acontecendo
nada?”
Brasília vivia uma terça-feira de Titanic. Agentes federais varejavam endereços de políticos. Entre
eles três senadores: Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nigueira (PP-PI) e Fernando Bezerra (PSB-
PE). E os líderes simulavam normalidade. Mais ou menos como os passageiros do célebre
transatlântico, que desfrutavam do som da orquestra enquando a água invadia as escotilhas.
Antes que a pergunta de Aziz fosse respondida, chegou à sala o ministro da Fazenda. E a prosa
mudou de rumo. Horas depois, Renan Calheiros leria no plenário do Senado uma nota de repúdio à
ação dos agentes da PF. Chamou de “invasão” o cumprimento de ordens de busca e apreensão
emanadas do STF. Suas palavras soaram como o comando do maestro do Titanic para que a
orquestra continuasse tocando.
A cinco quilômetros dali, Lula almoçava no Palácio da Alvorada com Dilma Rousseff e alguns de
seus ministros petistas: Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social),
Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) e Jaques Wagner (Defesa). Com água pela
cintura, disse-lhes que a Lava Jato é assunto para o PT, não para o governo.
Lula aconselhou Dilma e os ministros a trocarem os gabinetes pela estrada. Acha que devem se
tornar espécies de caixeiros-viajantes, propagando aos quatro ventos o que o governo faz de “bom”.
Regente dos regentes, o criador de Dilma finge não notar que o desnível no chão do navio não
decorre da má qualidade do champanhe.
A verdade é que o rombo no casco do governo Dilma foi aberto na administração Lula. Ele se
cercou de aliados idealistas. Gente como Collor, Renan e um interminável etcétera. A Lava Jato,
com seus 18 delatores, demonstrou que todo esse idealismo estava impulsionado pela mesma
invenção que já havia produzido o mensalão: o dinheiro.
O enredo de Titanic, o filme, é sobre um homem, uma mulher e um iceberg. Na sua versão
brasiliense, o script é parecido: o criador, a criatura e os aliados que ajudam a puxar para o fundo o
mito da superioridade moral. Nunca antes na histór… glub…glub…glub…

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