You are on page 1of 8

POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA? prio professor de Língua Portuguesa acaba condensado, é carregada de significação.

guesa acaba condensado, é carregada de significação. Da humana condição Horror


dando mais ênfase ao estudo da prosa em É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. “Custa o rico a entrar no Céu “Com os seus OO de espanto, seus RR
“Jamais compreendereis a terrível simpli- formas clássicas da poesia (como o soneto), detrimento da poesia? É preciso conviver com os seus ritmos, suas (Afirma o povo e não erra). guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-
cidade das minhas palavras porque elas não mas também lançou mão do verso livre e da O poeta José Paulo Paes evidencia a di- pulsações. Conviver com as suas constela- Porém muito mais difícil vra de cabelos em pé, assustada da própria
são palavras: são rios, pássaros, naves...” prosa. ferença entre ensinar prosa, narrativa mais ções de imagens. Com as suas redes de sig- É um pobre ficar na terra.” significação.”
direta, que motiva a identificação dos alu- nificação. Como diria o mestre Drummond:
Mario Quintana “Meus amigos, na minha opinião Mario nos através das ações de seus personagens, “Convive com teus poemas, antes de escre- Provérbio Só para si
Quintana é hoje em dia um dos cinco maio- e poesia, matéria mais apurada, pois a “po- vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se “O seguro morreu de guarda-chuva.” “Dona Cômoda tem três gavetas. E um

MARIO QUINTANA Trabalhar com o poeta Mario Quintana


significa entrar em contato com uma poesia
extremamente lírica, que, a partir de uma
res poetas de todo o Brasil. (...)
Conheço Mario Quintana faz uns bons
quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’
que tenho encontrado na vida. Antes de
esia tende a chamar a atenção do leitor para
as surpresas que podem estar escondidas na
língua que ele fala todos os dias sem se dar
conta”.
te provocam”.
É preciso ler de modo atento, conhecen-
do e reconhecendo as dimensões do poema:
a dimensão da sonoridade, a das imagens, a
Dos nossos males
“A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
ar confortável de senhora rica. Nas gavetas
guarda coisas de outros tempos, só para si.
Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-
chada, egoísta.”
forma simples e despretensiosa, alcança tons tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas Esse ir e vir que a poesia exige promove dos significados. Por pior que seja a situação da China,
De Márcio Vassallo universais. fazer versos, prosa com rima (carvão-cora- uma ampliação do ato de ler, desencadeia A linguagem poética não é linear, unívo- Os nossos calos doem muito mais...”
(Jornalista e escritor)
Nos meios acadêmicos criou-se a ima- ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é novas posturas diante dos textos. Ao leitor ca, de apenas um significado. Ela tem muitas
gem de que só se devem estudar os poetas saber ver o mundo como o vêem os anjos, as não cabe mais aguardar passivamente os vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO
difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de acontecimentos; ao contrário, ele é cha- parte de sua riqueza expressiva.
SUPLEMENTO DIDÁTICO
poesia de Mario Quintana ficou renegada, comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; mado a descobrir os caminhos, construir e O leitor de poesia deve desenvolver Trabalhe primeiramente com os dados ✦2a etapa do trabalho:
por muitos anos, a um segundo plano. Era em resumo, é ter olhos para revelar a face reconstruir o poema a cada verso e crescer sensibilidade para leitura dos símbolos, biográficos e, posteriormente, com os ex- excertos poéticos
Elaborado por considerada fácil e acessível aos olhos dos secreta das pessoas e das coisas. (...) com ele! das novas relações sugeridas pelas pala- certos literários e os depoimentos apresen-
doutores em letras. Quintana é também um mágico, só que A linguagem poética é gestada e cons- vras. A cada leitura, o poema se revela tados no livro. Continuando a trabalhar com os gru-
Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura truída de modo muito intenso, muito novo.
O tempo provou o contrário. Sua apa- suas mágicas são feitas com palavras. pos, distribua os excertos da obra do poeta
em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).
rente simplicidade formal encobre recursos (...) E se alguém um dia perguntar quem ✦ 1a etapa do trabalho: citados no livro, cabendo a cada grupo
poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver- é Mario Quintana, podem responder sem dados biográficos analisar os textos em sala de aula. Tais poe-
bais, além de apresentar soluções rímicas e medo de errar que ele é um dos melhores po- O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: mas devem ser lidos em casa, para que essa
O auto-retrato O encontro etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem
rítmicas surpreendentes. Após essa sensibilização, acreditamos primeira impressão possibilite uma análise
A obra multifacetada do poeta não está gosta dele como de um irmão, um tal de O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO
“No retrato que me faço “Subitamente que os alunos se encontrem bastante mais apurada em sala de aula. Você poderá,
na esquina do poema, duas rimas vinculada a escolas literárias, pois utilizou as Erico Verissimo” Sugerimos que instigue seus alunos apre- Procede tal e qual o avozinho infeliz: curiosos a respeito da vida desse poeta então, conduzir um debate, visando não
– traço a traço –
Às vezes me pinto nuvem olham-se, atônitas, comovidas, sentando alguns textos variados de Mario Em vão, por toda parte, os óculos procura, tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos somente reconhecer as principais caracte-
Às vezes me pinto árvore... como duas irmãs desconhecidas...” Quintana, como os que seguem, e deixe Tendo-os na ponta do nariz!” que a biografia seja ativamente trabalhada rísticas do autor, tanto na forma emprega-
POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS? que eles conversem livremente sobre suas pelos próprios alunos. Você poderá dividir da como nos conteúdos abordados, como
Às vezes me pinto coisas Mario Quintana impressões. Da discrição a sala em grupos para que cada um fique também estimular nos alunos o gosto e a
(...) ◗ mesmo sem conhecer o texto poético “Não te abras com teu amigo responsável por uma determinada face- curiosidade pela leitura poética!
De que nem há mais lembrança...
“Que é o Poeta? acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa Que haverá no céu? Que ele um outro amigo tem. ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfil
Ou coisas que não existem um homem ultrapassada; “Se não houver cadeiras de balanço no E o amigo de teu amigo do poeta, caminho profissional, descober- ✦3a etapa do trabalho: depoimentos
Mas que um dia existirão... que trabalha o poema ◗ ao depararem com as características de Céu... que será da tia Élida, que foi para o Possui amigos também...” ta do amor etc. Tal classificação fica a seu
com o suor de seu rosto. tal texto, estranham desde a forma até o Céu?” critério. Trabalhando com os mesmos grupos ou
E, desta lida, em que busco Um homem
– pouco a pouco – conteúdo; Da infiel companheira Os grupos devem ler atentamente o tex- formando novos, peça que os alunos ana-
que tem fome ◗ durante a escolaridade entram mais em Mentira? “Como um cego, grita a gente; lisem os depoimentos a respeito de Mario
Minha eterna semelhança, to, reconhecer os dados mais importantes
como qualquer outro contato com textos em prosa do que com “A mentira é uma verdade que se esqueceu ‘Felicidade, onde estás?’ do recorte escolhido e organizá-los de ma- Quintana incluídos no livro a fim de levantar
homem.”
No final, que restará? textos poéticos; de acontecer.” Ou vai-nos andando à frente... neira clara e objetiva, expondo-os, depois, as principais informações que cada um des-
(Poética, Cassiano Ricardo)
Um desenho de criança... ◗ a prosa, menos hermética do que a Ou ficou lá para trás...” em sala para que os amigos se apropriem ses depoimentos acrescenta em relação ao
Corrigido por um louco!” poesia, é mais fácil de ser compreendida; Carreto do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar perfil do poeta. No momento da socializa-
Caro colega professor
a poesia, em contrapartida, exige de seu lei- “Amar é mudar a alma de casa.” Do amoroso esquecimento quais dados os colegas devem grifar no tex- ção, os grupos devem comparar as análises
Mario Quintana Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez tor um certo esforço para ser decifrada, um “Esta vida é uma estranha hospedaria, to, chamar a atenção para as curiosidades e acrescentar cada dado novo, de forma
mais os jovens afastam-se da poesia. Quais mergulhar nas ondas metafóricas. Da felicidade De onde se parte quase sempre às tontas, etc. que todos, ao final, tenham somado às suas
seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, A partir dessas hipóteses, talvez impo- “Quantas vezes a gente, em busca da Pois nunca as nossas malas estão prontas, listas as informações relevantes obtidas por
mas arriscaremos algumas: nha-se uma nova questão: por que o pró- ventura, E a nossa conta nunca está em dia...” meio dos depoimentos.

2 3 4

Encarte Mario Quintana.indd 1 6/24/05 2:00:18 PM


POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA? prio professor de Língua Portuguesa acaba condensado, é carregada de significação. Da humana condição Horror
dando mais ênfase ao estudo da prosa em É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. “Custa o rico a entrar no Céu “Com os seus OO de espanto, seus RR
“Jamais compreendereis a terrível simpli- formas clássicas da poesia (como o soneto), detrimento da poesia? É preciso conviver com os seus ritmos, suas (Afirma o povo e não erra). guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-
cidade das minhas palavras porque elas não mas também lançou mão do verso livre e da O poeta José Paulo Paes evidencia a di- pulsações. Conviver com as suas constela- Porém muito mais difícil vra de cabelos em pé, assustada da própria
são palavras: são rios, pássaros, naves...” prosa. ferença entre ensinar prosa, narrativa mais ções de imagens. Com as suas redes de sig- É um pobre ficar na terra.” significação.”
direta, que motiva a identificação dos alu- nificação. Como diria o mestre Drummond:
Mario Quintana “Meus amigos, na minha opinião Mario nos através das ações de seus personagens, “Convive com teus poemas, antes de escre- Provérbio Só para si
Quintana é hoje em dia um dos cinco maio- e poesia, matéria mais apurada, pois a “po- vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se “O seguro morreu de guarda-chuva.” “Dona Cômoda tem três gavetas. E um

MARIO QUINTANA Trabalhar com o poeta Mario Quintana


significa entrar em contato com uma poesia
extremamente lírica, que, a partir de uma
res poetas de todo o Brasil. (...)
Conheço Mario Quintana faz uns bons
quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’
que tenho encontrado na vida. Antes de
esia tende a chamar a atenção do leitor para
as surpresas que podem estar escondidas na
língua que ele fala todos os dias sem se dar
conta”.
te provocam”.
É preciso ler de modo atento, conhecen-
do e reconhecendo as dimensões do poema:
a dimensão da sonoridade, a das imagens, a
Dos nossos males
“A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
ar confortável de senhora rica. Nas gavetas
guarda coisas de outros tempos, só para si.
Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-
chada, egoísta.”
forma simples e despretensiosa, alcança tons tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas Esse ir e vir que a poesia exige promove dos significados. Por pior que seja a situação da China,
De Márcio Vassallo universais. fazer versos, prosa com rima (carvão-cora- uma ampliação do ato de ler, desencadeia A linguagem poética não é linear, unívo- Os nossos calos doem muito mais...”
(Jornalista e escritor)
Nos meios acadêmicos criou-se a ima- ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é novas posturas diante dos textos. Ao leitor ca, de apenas um significado. Ela tem muitas
gem de que só se devem estudar os poetas saber ver o mundo como o vêem os anjos, as não cabe mais aguardar passivamente os vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO
difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de acontecimentos; ao contrário, ele é cha- parte de sua riqueza expressiva.
SUPLEMENTO DIDÁTICO
poesia de Mario Quintana ficou renegada, comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; mado a descobrir os caminhos, construir e O leitor de poesia deve desenvolver Trabalhe primeiramente com os dados ✦2a etapa do trabalho:
por muitos anos, a um segundo plano. Era em resumo, é ter olhos para revelar a face reconstruir o poema a cada verso e crescer sensibilidade para leitura dos símbolos, biográficos e, posteriormente, com os ex- excertos poéticos
Elaborado por considerada fácil e acessível aos olhos dos secreta das pessoas e das coisas. (...) com ele! das novas relações sugeridas pelas pala- certos literários e os depoimentos apresen-
doutores em letras. Quintana é também um mágico, só que A linguagem poética é gestada e cons- vras. A cada leitura, o poema se revela tados no livro. Continuando a trabalhar com os gru-
Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura truída de modo muito intenso, muito novo.
O tempo provou o contrário. Sua apa- suas mágicas são feitas com palavras. pos, distribua os excertos da obra do poeta
em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).
rente simplicidade formal encobre recursos (...) E se alguém um dia perguntar quem ✦ 1a etapa do trabalho: citados no livro, cabendo a cada grupo
poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver- é Mario Quintana, podem responder sem dados biográficos analisar os textos em sala de aula. Tais poe-
bais, além de apresentar soluções rímicas e medo de errar que ele é um dos melhores po- O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: mas devem ser lidos em casa, para que essa
O auto-retrato O encontro etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem
rítmicas surpreendentes. Após essa sensibilização, acreditamos primeira impressão possibilite uma análise
A obra multifacetada do poeta não está gosta dele como de um irmão, um tal de O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO
“No retrato que me faço “Subitamente que os alunos se encontrem bastante mais apurada em sala de aula. Você poderá,
na esquina do poema, duas rimas vinculada a escolas literárias, pois utilizou as Erico Verissimo” Sugerimos que instigue seus alunos apre- Procede tal e qual o avozinho infeliz: curiosos a respeito da vida desse poeta então, conduzir um debate, visando não
– traço a traço –
Às vezes me pinto nuvem olham-se, atônitas, comovidas, sentando alguns textos variados de Mario Em vão, por toda parte, os óculos procura, tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos somente reconhecer as principais caracte-
Às vezes me pinto árvore... como duas irmãs desconhecidas...” Quintana, como os que seguem, e deixe Tendo-os na ponta do nariz!” que a biografia seja ativamente trabalhada rísticas do autor, tanto na forma emprega-
POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS? que eles conversem livremente sobre suas pelos próprios alunos. Você poderá dividir da como nos conteúdos abordados, como
Às vezes me pinto coisas Mario Quintana impressões. Da discrição a sala em grupos para que cada um fique também estimular nos alunos o gosto e a
(...) ◗ mesmo sem conhecer o texto poético “Não te abras com teu amigo responsável por uma determinada face- curiosidade pela leitura poética!
De que nem há mais lembrança...
“Que é o Poeta? acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa Que haverá no céu? Que ele um outro amigo tem. ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfil
Ou coisas que não existem um homem ultrapassada; “Se não houver cadeiras de balanço no E o amigo de teu amigo do poeta, caminho profissional, descober- ✦3a etapa do trabalho: depoimentos
Mas que um dia existirão... que trabalha o poema ◗ ao depararem com as características de Céu... que será da tia Élida, que foi para o Possui amigos também...” ta do amor etc. Tal classificação fica a seu
com o suor de seu rosto. tal texto, estranham desde a forma até o Céu?” critério. Trabalhando com os mesmos grupos ou
E, desta lida, em que busco Um homem
– pouco a pouco – conteúdo; Da infiel companheira Os grupos devem ler atentamente o tex- formando novos, peça que os alunos ana-
que tem fome ◗ durante a escolaridade entram mais em Mentira? “Como um cego, grita a gente; lisem os depoimentos a respeito de Mario
Minha eterna semelhança, to, reconhecer os dados mais importantes
como qualquer outro contato com textos em prosa do que com “A mentira é uma verdade que se esqueceu ‘Felicidade, onde estás?’ do recorte escolhido e organizá-los de ma- Quintana incluídos no livro a fim de levantar
homem.”
No final, que restará? textos poéticos; de acontecer.” Ou vai-nos andando à frente... neira clara e objetiva, expondo-os, depois, as principais informações que cada um des-
(Poética, Cassiano Ricardo)
Um desenho de criança... ◗ a prosa, menos hermética do que a Ou ficou lá para trás...” em sala para que os amigos se apropriem ses depoimentos acrescenta em relação ao
Corrigido por um louco!” poesia, é mais fácil de ser compreendida; Carreto do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar perfil do poeta. No momento da socializa-
Caro colega professor
a poesia, em contrapartida, exige de seu lei- “Amar é mudar a alma de casa.” Do amoroso esquecimento quais dados os colegas devem grifar no tex- ção, os grupos devem comparar as análises
Mario Quintana Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez tor um certo esforço para ser decifrada, um “Esta vida é uma estranha hospedaria, to, chamar a atenção para as curiosidades e acrescentar cada dado novo, de forma
mais os jovens afastam-se da poesia. Quais mergulhar nas ondas metafóricas. Da felicidade De onde se parte quase sempre às tontas, etc. que todos, ao final, tenham somado às suas
seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, A partir dessas hipóteses, talvez impo- “Quantas vezes a gente, em busca da Pois nunca as nossas malas estão prontas, listas as informações relevantes obtidas por
mas arriscaremos algumas: nha-se uma nova questão: por que o pró- ventura, E a nossa conta nunca está em dia...” meio dos depoimentos.

2 3 4

Encarte Mario Quintana.indd 1 6/24/05 2:00:18 PM


POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA? prio professor de Língua Portuguesa acaba condensado, é carregada de significação. Da humana condição Horror
dando mais ênfase ao estudo da prosa em É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. “Custa o rico a entrar no Céu “Com os seus OO de espanto, seus RR
“Jamais compreendereis a terrível simpli- formas clássicas da poesia (como o soneto), detrimento da poesia? É preciso conviver com os seus ritmos, suas (Afirma o povo e não erra). guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-
cidade das minhas palavras porque elas não mas também lançou mão do verso livre e da O poeta José Paulo Paes evidencia a di- pulsações. Conviver com as suas constela- Porém muito mais difícil vra de cabelos em pé, assustada da própria
são palavras: são rios, pássaros, naves...” prosa. ferença entre ensinar prosa, narrativa mais ções de imagens. Com as suas redes de sig- É um pobre ficar na terra.” significação.”
direta, que motiva a identificação dos alu- nificação. Como diria o mestre Drummond:
Mario Quintana “Meus amigos, na minha opinião Mario nos através das ações de seus personagens, “Convive com teus poemas, antes de escre- Provérbio Só para si
Quintana é hoje em dia um dos cinco maio- e poesia, matéria mais apurada, pois a “po- vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se “O seguro morreu de guarda-chuva.” “Dona Cômoda tem três gavetas. E um

MARIO QUINTANA Trabalhar com o poeta Mario Quintana


significa entrar em contato com uma poesia
extremamente lírica, que, a partir de uma
res poetas de todo o Brasil. (...)
Conheço Mario Quintana faz uns bons
quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’
que tenho encontrado na vida. Antes de
esia tende a chamar a atenção do leitor para
as surpresas que podem estar escondidas na
língua que ele fala todos os dias sem se dar
conta”.
te provocam”.
É preciso ler de modo atento, conhecen-
do e reconhecendo as dimensões do poema:
a dimensão da sonoridade, a das imagens, a
Dos nossos males
“A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
ar confortável de senhora rica. Nas gavetas
guarda coisas de outros tempos, só para si.
Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-
chada, egoísta.”
forma simples e despretensiosa, alcança tons tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas Esse ir e vir que a poesia exige promove dos significados. Por pior que seja a situação da China,
De Márcio Vassallo universais. fazer versos, prosa com rima (carvão-cora- uma ampliação do ato de ler, desencadeia A linguagem poética não é linear, unívo- Os nossos calos doem muito mais...”
(Jornalista e escritor)
Nos meios acadêmicos criou-se a ima- ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é novas posturas diante dos textos. Ao leitor ca, de apenas um significado. Ela tem muitas
gem de que só se devem estudar os poetas saber ver o mundo como o vêem os anjos, as não cabe mais aguardar passivamente os vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO
difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de acontecimentos; ao contrário, ele é cha- parte de sua riqueza expressiva.
SUPLEMENTO DIDÁTICO
poesia de Mario Quintana ficou renegada, comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; mado a descobrir os caminhos, construir e O leitor de poesia deve desenvolver Trabalhe primeiramente com os dados ✦2a etapa do trabalho:
por muitos anos, a um segundo plano. Era em resumo, é ter olhos para revelar a face reconstruir o poema a cada verso e crescer sensibilidade para leitura dos símbolos, biográficos e, posteriormente, com os ex- excertos poéticos
Elaborado por considerada fácil e acessível aos olhos dos secreta das pessoas e das coisas. (...) com ele! das novas relações sugeridas pelas pala- certos literários e os depoimentos apresen-
doutores em letras. Quintana é também um mágico, só que A linguagem poética é gestada e cons- vras. A cada leitura, o poema se revela tados no livro. Continuando a trabalhar com os gru-
Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura truída de modo muito intenso, muito novo.
O tempo provou o contrário. Sua apa- suas mágicas são feitas com palavras. pos, distribua os excertos da obra do poeta
em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).
rente simplicidade formal encobre recursos (...) E se alguém um dia perguntar quem ✦ 1a etapa do trabalho: citados no livro, cabendo a cada grupo
poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver- é Mario Quintana, podem responder sem dados biográficos analisar os textos em sala de aula. Tais poe-
bais, além de apresentar soluções rímicas e medo de errar que ele é um dos melhores po- O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: mas devem ser lidos em casa, para que essa
O auto-retrato O encontro etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem
rítmicas surpreendentes. Após essa sensibilização, acreditamos primeira impressão possibilite uma análise
A obra multifacetada do poeta não está gosta dele como de um irmão, um tal de O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO
“No retrato que me faço “Subitamente que os alunos se encontrem bastante mais apurada em sala de aula. Você poderá,
na esquina do poema, duas rimas vinculada a escolas literárias, pois utilizou as Erico Verissimo” Sugerimos que instigue seus alunos apre- Procede tal e qual o avozinho infeliz: curiosos a respeito da vida desse poeta então, conduzir um debate, visando não
– traço a traço –
Às vezes me pinto nuvem olham-se, atônitas, comovidas, sentando alguns textos variados de Mario Em vão, por toda parte, os óculos procura, tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos somente reconhecer as principais caracte-
Às vezes me pinto árvore... como duas irmãs desconhecidas...” Quintana, como os que seguem, e deixe Tendo-os na ponta do nariz!” que a biografia seja ativamente trabalhada rísticas do autor, tanto na forma emprega-
POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS? que eles conversem livremente sobre suas pelos próprios alunos. Você poderá dividir da como nos conteúdos abordados, como
Às vezes me pinto coisas Mario Quintana impressões. Da discrição a sala em grupos para que cada um fique também estimular nos alunos o gosto e a
(...) ◗ mesmo sem conhecer o texto poético “Não te abras com teu amigo responsável por uma determinada face- curiosidade pela leitura poética!
De que nem há mais lembrança...
“Que é o Poeta? acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa Que haverá no céu? Que ele um outro amigo tem. ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfil
Ou coisas que não existem um homem ultrapassada; “Se não houver cadeiras de balanço no E o amigo de teu amigo do poeta, caminho profissional, descober- ✦3a etapa do trabalho: depoimentos
Mas que um dia existirão... que trabalha o poema ◗ ao depararem com as características de Céu... que será da tia Élida, que foi para o Possui amigos também...” ta do amor etc. Tal classificação fica a seu
com o suor de seu rosto. tal texto, estranham desde a forma até o Céu?” critério. Trabalhando com os mesmos grupos ou
E, desta lida, em que busco Um homem
– pouco a pouco – conteúdo; Da infiel companheira Os grupos devem ler atentamente o tex- formando novos, peça que os alunos ana-
que tem fome ◗ durante a escolaridade entram mais em Mentira? “Como um cego, grita a gente; lisem os depoimentos a respeito de Mario
Minha eterna semelhança, to, reconhecer os dados mais importantes
como qualquer outro contato com textos em prosa do que com “A mentira é uma verdade que se esqueceu ‘Felicidade, onde estás?’ do recorte escolhido e organizá-los de ma- Quintana incluídos no livro a fim de levantar
homem.”
No final, que restará? textos poéticos; de acontecer.” Ou vai-nos andando à frente... neira clara e objetiva, expondo-os, depois, as principais informações que cada um des-
(Poética, Cassiano Ricardo)
Um desenho de criança... ◗ a prosa, menos hermética do que a Ou ficou lá para trás...” em sala para que os amigos se apropriem ses depoimentos acrescenta em relação ao
Corrigido por um louco!” poesia, é mais fácil de ser compreendida; Carreto do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar perfil do poeta. No momento da socializa-
Caro colega professor
a poesia, em contrapartida, exige de seu lei- “Amar é mudar a alma de casa.” Do amoroso esquecimento quais dados os colegas devem grifar no tex- ção, os grupos devem comparar as análises
Mario Quintana Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez tor um certo esforço para ser decifrada, um “Esta vida é uma estranha hospedaria, to, chamar a atenção para as curiosidades e acrescentar cada dado novo, de forma
mais os jovens afastam-se da poesia. Quais mergulhar nas ondas metafóricas. Da felicidade De onde se parte quase sempre às tontas, etc. que todos, ao final, tenham somado às suas
seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, A partir dessas hipóteses, talvez impo- “Quantas vezes a gente, em busca da Pois nunca as nossas malas estão prontas, listas as informações relevantes obtidas por
mas arriscaremos algumas: nha-se uma nova questão: por que o pró- ventura, E a nossa conta nunca está em dia...” meio dos depoimentos.

2 3 4

Encarte Mario Quintana.indd 1 6/24/05 2:00:18 PM


POR QUE TRABALHAR COM MARIO QUINTANA? prio professor de Língua Portuguesa acaba condensado, é carregada de significação. Da humana condição Horror
dando mais ênfase ao estudo da prosa em É preciso ler e reler os poemas, muitas vezes. “Custa o rico a entrar no Céu “Com os seus OO de espanto, seus RR
“Jamais compreendereis a terrível simpli- formas clássicas da poesia (como o soneto), detrimento da poesia? É preciso conviver com os seus ritmos, suas (Afirma o povo e não erra). guturais, seu hirto H, HORROR é uma pala-
cidade das minhas palavras porque elas não mas também lançou mão do verso livre e da O poeta José Paulo Paes evidencia a di- pulsações. Conviver com as suas constela- Porém muito mais difícil vra de cabelos em pé, assustada da própria
são palavras: são rios, pássaros, naves...” prosa. ferença entre ensinar prosa, narrativa mais ções de imagens. Com as suas redes de sig- É um pobre ficar na terra.” significação.”
direta, que motiva a identificação dos alu- nificação. Como diria o mestre Drummond:
Mario Quintana “Meus amigos, na minha opinião Mario nos através das ações de seus personagens, “Convive com teus poemas, antes de escre- Provérbio Só para si
Quintana é hoje em dia um dos cinco maio- e poesia, matéria mais apurada, pois a “po- vê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se “O seguro morreu de guarda-chuva.” “Dona Cômoda tem três gavetas. E um

MARIO QUINTANA Trabalhar com o poeta Mario Quintana


significa entrar em contato com uma poesia
extremamente lírica, que, a partir de uma
res poetas de todo o Brasil. (...)
Conheço Mario Quintana faz uns bons
quarenta anos. É o sujeito mais ‘diferente’
que tenho encontrado na vida. Antes de
esia tende a chamar a atenção do leitor para
as surpresas que podem estar escondidas na
língua que ele fala todos os dias sem se dar
conta”.
te provocam”.
É preciso ler de modo atento, conhecen-
do e reconhecendo as dimensões do poema:
a dimensão da sonoridade, a das imagens, a
Dos nossos males
“A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
ar confortável de senhora rica. Nas gavetas
guarda coisas de outros tempos, só para si.
Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fe-
chada, egoísta.”
forma simples e despretensiosa, alcança tons tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas Esse ir e vir que a poesia exige promove dos significados. Por pior que seja a situação da China,
De Márcio Vassallo universais. fazer versos, prosa com rima (carvão-cora- uma ampliação do ato de ler, desencadeia A linguagem poética não é linear, unívo- Os nossos calos doem muito mais...”
(Jornalista e escritor)
Nos meios acadêmicos criou-se a ima- ção... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é novas posturas diante dos textos. Ao leitor ca, de apenas um significado. Ela tem muitas
gem de que só se devem estudar os poetas saber ver o mundo como o vêem os anjos, as não cabe mais aguardar passivamente os vozes, muitos sentidos. Essa plurivocidade é O MOMENTO DA LEITURA DO LIVRO
difíceis, herméticos, complexos. Por isso, a fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de acontecimentos; ao contrário, ele é cha- parte de sua riqueza expressiva.
SUPLEMENTO DIDÁTICO
poesia de Mario Quintana ficou renegada, comunicar a quem o lê o que ele vê e sente; mado a descobrir os caminhos, construir e O leitor de poesia deve desenvolver Trabalhe primeiramente com os dados ✦2a etapa do trabalho:
por muitos anos, a um segundo plano. Era em resumo, é ter olhos para revelar a face reconstruir o poema a cada verso e crescer sensibilidade para leitura dos símbolos, biográficos e, posteriormente, com os ex- excertos poéticos
Elaborado por considerada fácil e acessível aos olhos dos secreta das pessoas e das coisas. (...) com ele! das novas relações sugeridas pelas pala- certos literários e os depoimentos apresen-
doutores em letras. Quintana é também um mágico, só que A linguagem poética é gestada e cons- vras. A cada leitura, o poema se revela tados no livro. Continuando a trabalhar com os gru-
Jô Fortarel (Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, professora de Literatura truída de modo muito intenso, muito novo.
O tempo provou o contrário. Sua apa- suas mágicas são feitas com palavras. pos, distribua os excertos da obra do poeta
em escolas particulares e em cursinhos pré-vestibulares).
rente simplicidade formal encobre recursos (...) E se alguém um dia perguntar quem ✦ 1a etapa do trabalho: citados no livro, cabendo a cada grupo
poéticos riquíssimos, inúmeras sutilezas ver- é Mario Quintana, podem responder sem dados biográficos analisar os textos em sala de aula. Tais poe-
bais, além de apresentar soluções rímicas e medo de errar que ele é um dos melhores po- O MOMENTO DA SENSIBILIZAÇÃO: mas devem ser lidos em casa, para que essa
O auto-retrato O encontro etas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem
rítmicas surpreendentes. Após essa sensibilização, acreditamos primeira impressão possibilite uma análise
A obra multifacetada do poeta não está gosta dele como de um irmão, um tal de O PRIMEIRO CONTATO COM O LIVRO
“No retrato que me faço “Subitamente que os alunos se encontrem bastante mais apurada em sala de aula. Você poderá,
na esquina do poema, duas rimas vinculada a escolas literárias, pois utilizou as Erico Verissimo” Sugerimos que instigue seus alunos apre- Procede tal e qual o avozinho infeliz: curiosos a respeito da vida desse poeta então, conduzir um debate, visando não
– traço a traço –
Às vezes me pinto nuvem olham-se, atônitas, comovidas, sentando alguns textos variados de Mario Em vão, por toda parte, os óculos procura, tão singelo e verdadeiro. Assim, sugerimos somente reconhecer as principais caracte-
Às vezes me pinto árvore... como duas irmãs desconhecidas...” Quintana, como os que seguem, e deixe Tendo-os na ponta do nariz!” que a biografia seja ativamente trabalhada rísticas do autor, tanto na forma emprega-
POR QUE TRABALHAR COM POESIA E COM POETAS? que eles conversem livremente sobre suas pelos próprios alunos. Você poderá dividir da como nos conteúdos abordados, como
Às vezes me pinto coisas Mario Quintana impressões. Da discrição a sala em grupos para que cada um fique também estimular nos alunos o gosto e a
(...) ◗ mesmo sem conhecer o texto poético “Não te abras com teu amigo responsável por uma determinada face- curiosidade pela leitura poética!
De que nem há mais lembrança...
“Que é o Poeta? acabam por rotulá-lo como “careta”, coisa Que haverá no céu? Que ele um outro amigo tem. ta do autor. Sugerimos: vida pessoal, perfil
Ou coisas que não existem um homem ultrapassada; “Se não houver cadeiras de balanço no E o amigo de teu amigo do poeta, caminho profissional, descober- ✦3a etapa do trabalho: depoimentos
Mas que um dia existirão... que trabalha o poema ◗ ao depararem com as características de Céu... que será da tia Élida, que foi para o Possui amigos também...” ta do amor etc. Tal classificação fica a seu
com o suor de seu rosto. tal texto, estranham desde a forma até o Céu?” critério. Trabalhando com os mesmos grupos ou
E, desta lida, em que busco Um homem
– pouco a pouco – conteúdo; Da infiel companheira Os grupos devem ler atentamente o tex- formando novos, peça que os alunos ana-
que tem fome ◗ durante a escolaridade entram mais em Mentira? “Como um cego, grita a gente; lisem os depoimentos a respeito de Mario
Minha eterna semelhança, to, reconhecer os dados mais importantes
como qualquer outro contato com textos em prosa do que com “A mentira é uma verdade que se esqueceu ‘Felicidade, onde estás?’ do recorte escolhido e organizá-los de ma- Quintana incluídos no livro a fim de levantar
homem.”
No final, que restará? textos poéticos; de acontecer.” Ou vai-nos andando à frente... neira clara e objetiva, expondo-os, depois, as principais informações que cada um des-
(Poética, Cassiano Ricardo)
Um desenho de criança... ◗ a prosa, menos hermética do que a Ou ficou lá para trás...” em sala para que os amigos se apropriem ses depoimentos acrescenta em relação ao
Corrigido por um louco!” poesia, é mais fácil de ser compreendida; Carreto do conteúdo. Eles podem, inclusive, indicar perfil do poeta. No momento da socializa-
Caro colega professor
a poesia, em contrapartida, exige de seu lei- “Amar é mudar a alma de casa.” Do amoroso esquecimento quais dados os colegas devem grifar no tex- ção, os grupos devem comparar as análises
Mario Quintana Nos dias de hoje, parece-nos que cada vez tor um certo esforço para ser decifrada, um “Esta vida é uma estranha hospedaria, to, chamar a atenção para as curiosidades e acrescentar cada dado novo, de forma
mais os jovens afastam-se da poesia. Quais mergulhar nas ondas metafóricas. Da felicidade De onde se parte quase sempre às tontas, etc. que todos, ao final, tenham somado às suas
seriam as razões? Há inúmeras, com certeza, A partir dessas hipóteses, talvez impo- “Quantas vezes a gente, em busca da Pois nunca as nossas malas estão prontas, listas as informações relevantes obtidas por
mas arriscaremos algumas: nha-se uma nova questão: por que o pró- ventura, E a nossa conta nunca está em dia...” meio dos depoimentos.

2 3 4

Encarte Mario Quintana.indd 1 6/24/05 2:00:18 PM


O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO parte de um movimento tão aberto quanto escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Que me importa este quarto, em que E quando eu começava a compreendê-lo A coisa Tique-taque
o Modernismo. Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, desperto Um pouco, “A gente pensa uma coisa, acaba escre- “Mera ilusão auditiva graças à qual a gente
Didaticamente, Mario Quintana se filia- João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba- como se despertasse em quarto alheio? Já eram horas de dormir de novo!” vendo outra e o leitor entende uma terceira ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-
ria à segunda fase modernista, do mesmo to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Eu olho é o céu! Imensamente perto, coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa que’... Depois disso, como acreditar nos reló-
✦ Proposta 1 ✦Proposta 2 o céu que me descansa como um seio. Quando eu morrer
modo que Drummond, Vinicius, Cecília e Nossa sugestão é que você explore junto a propriamente dita começa a desconfiar que gios? Ou na gente?”
outros. Conhecer um pouco mais sobre as seus alunos os escritores citados, pois, com “Quando eu morrer e no frescor de lua não foi propriamente dita.”
Por meio da leitura dos poemas de Mario Conforme registrado no livro, Mario características desse período (1930-1945) exceção de Monteiro Lobato, todos os de- Pois só o céu é que está perto, sim, Da casa nova me quedar a sós, O incorrigível
Quintana (apresentados no livro e neste su- Quintana apresentou uma certa paixão pela ajudaria o aluno a perceber a qual filão des- mais fizeram parte do Modernismo brasilei- tão perto e tão amigo que parece Deixai-me em paz na minha quieta rua... Da preguiça “O fantasma é um exibicionista póstumo.”
plemento), os alunos devem perceber que o também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o se grupo Mario melhor se encaixou. ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen- um grande olhar azul pousando em mim. Nada mais quero com nenhum de vós! “A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-
poeta tanto usou o soneto (medida clássica) coração dele também se derretia pelos si- Conforme registrado no livro, Mario to seria muito significativa para um maior mem não tivesse preguiça de caminhar, não Cartaz para uma feira de livro
como versos livres, pequenas estrofes úni- lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, Quintana era querido por muitos outros entendimento da obra do autor. A morte deveria ser assim: Quero é ficar com alguns poemas tortos teria inventado a roda.” “Os verdadeiros analfabetos são os que apren-
cas, haicais etc. Toda essa diversificação faz pelos versos que ela escrevia, pelo modo um céu que pouco a pouco anoitecesse Que andei tentando endireitar em vão... deram a ler e não lêem.”
de Quintana um poeta gostoso de se ler a como ela vivia”. e a gente nem soubesse que era o fim...” Que linda a Eternidade, amigos mortos,
qualquer hora e em qualquer situação. Sugerimos que os alunos façam uma Para as torturas lentas da Expressão!...
Como afirma Regina Zilbermann em breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no ANTOLOGIA DE APOIO 2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-
sua introdução à obra Poemas em verso: sentido de perceberem por que essa mulher nos devem ter reparado que Mario Quin- Eu levarei comigo as madrugadas,
1. Acrescentaremos a seguir alguns poe- O vento não mais me fareja a face como
“É neste sentido que se pode constatar o chegou a impressionar tanto Quintana. tana trata em seus poemas de inúmeros Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, problemas sociais de seu tempo. Principais
mas que foram citados parcialmente no livro um cão amigo... GLOSSÁRIO
experimentalismo vigente na poesia dele: Tal pesquisa poderia visar a apenas al- temas, alguns deles recorrentes. Entre os Mais o rir das primeiras namoradas... representantes: Jorge Amado, Graciliano
e alguns que se encaixam exatamente no Mas o azul irreversível persiste em meus
guns dados a respeito da poeta, tais como: temas reincidentes, notamos que o autor Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego
serviu a todos os senhores da forma, sem que foi dito em determinado momento. olhos.” Modernismo Calcado no clima nacionalis-
discorre muito sobre o tempo. Vejamos al- E um dia a morte há de fitar com espanto e Erico Verissimo.
depender de nenhum. E procurou incor- ta de mudanças sociais e no projeto estético
• onde e quando nasceu • com quem ela guns exemplos, mas não se esqueça de que Os fios de vida que eu urdi, cantando,
porar a seus poemas três fatores básicos Página 4 – “E a expectativa de uma emo- Página 22 – “Balançado por uma sensibi- das Vanguardas Européias, o Modernismo
se casou • como era seu jeito de ser • quan- há muitos outros! Na orla negra do seu negro manto...”
da modernidade, presentes na literatura ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor lidade desembestada, Mario Quintana via brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor- INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS
brasileira atual: humor, coloquialidade da tos anos ela tinha quando conheceu o poeta poesia em tudo quanto era objeto. Até nas TEMAS TRABALHADOS
do susto é esperar por ele’, disse o autor em ✦Tema: Tempo ço de um grupo de intelectuais brasileiros
linguagem e brevidade. • de quais temas ela tratava em sua poesia coisas que ele não gostava. E o Mario não Da viuvez
um verso.” que idealizou e realizou a Semana de Arte
Sua visão da realidade pode ser mui- •quais afinidades poéticas ela apresentava gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, “Ele está morto. Ela, aos ais. Moderna, evento que tornou pública essa JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi
Estou sentado sobre a minha mala
tas vezes nostálgica, porém, quando a em relação à poesia de Mario • quais suas Pés de fora telefones...” Mas, neste lúgubre assunto, nova maneira de pensar o passado, o pre- de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo:
“Estou sentado sobre a minha mala
apresenta de modo crítico, sua arma pre- poesias mais conhecidas Quem fica viúvo é o defunto... sente e o futuro da política, da sociedade, Moderna, 1999.
“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas. No velho bergantim desmantelado...
dileta é o humor. Com isto, desafia as insti- Cada vez que um rato corre mais depressa, Objetos perdidos Quanto tempo, meu Deus, malbaratado Porque esse não casa mais.” da economia e, sobretudo, da cultura bra- MEIRELES, Cecília. As palavras voam
✦Proposta 3 “Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão sileira. (antologia poética com organização de Bar-
tuições e os costumes sociais, quando não o ela tapa a cabeça. Em tanta inútil, misteriosa escala!
comportamento habitual das pessoas. parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões Da morte tolomeu Campos de Queirós). São Paulo:
Mas fica com os pés de fora.
“(...) Poeta urbano desde o início, Quin- que se desprenderam? E as pastas de papéis, Joguei a minha bússola quebrada “Um dia... pronto!... me acabo. Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Moderna, 2005.
Também os temas considerados sérios É o medo ridículo, tocante, desamparado,
tana movimenta-se nas pequenas ruas da os estojos de pincenê, as maletas esquecidas Às águas fundas... E afinal sem norte, Pois seja o que tem de ser. Chamada fase heróica, seria caracterizada QUINTANA, Mario. Antologia Poética.
– como a morte ou o transcurso do tema o medo de pés de fora.
cidade, surpreendendo-as na inquietação nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes Como o velho Simbad de alma cansada Morrer, que me importa?... O diabo como um “período de destruição” preocu- Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
– perdem esta conotação. Pois Quintana Se eu fosse fantasma, eu...
do dia ou no silêncio da noite. Como um de compras, os lenços com pequenas econo- Eu nada mais desejo, nem a morte... É deixar de viver!” pado em difundir as novas idéias e criticar _________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-
sempre tira da cartola uma sentença final Não, não lhe faria nada: o melhor do susto
hábitat natural, as ruas são o cenário pri- mias, aonde vão parar todos esses objetos de forma violenta a literatura tradicionalis- derna, 2003.
que, ao provocar o riso, suprime a possi- é esperar por ele.”
heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar
vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter Delícia de ficar deitado ao fundo ✦Temas variados: Humor / Ironia ta. Principais representantes: Oswald de An- _________. Os melhores poemas de Mario
bilidade de uma postura acadêmica ou nos anéis de Saturno, são eles que formam,
uma sintonia interior com o impressionismo Do barco, a vos olhar, velas paradas! drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira Quintana. São Paulo: Global, 1996.
doutoral perante os acontecimentos ou Página 11 – “Introvertido e indisciplina- eternamente girando, os estranhos anéis des-
é que o poeta adotará, com freqüência, Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo e Antonio de Alcântara Machado. _________. Pé de pilão. São Paulo: Ática,
problemas retratados”. do, Mario tinha muita dificuldade para se Clarividência
as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de se planeta misterioso e amigo.” 1996.
Os alunos devem analisar as poesias enquadrar na escola.” “O poema é uma bola de cristal. Se apenas
aliterações e assonâncias, traços que ca- Pra que partir? Sempre se chega, enfim... Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) _________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-
tentando encontrar nelas as características Página 50 – “O tempo realmente foi se- enxergares nele o teu nariz, não culpes o
racterizam os sonetos de Quintana como Pra que seguir empós das alvoradas “Período de construção” em que se consoli- neiro: Globo, 1983.
já citadas: Poema guindo em frente, sem pedir licença, como mágico.”
formulações que querem captar cor e mu- Se, por si mesmas, elas vêm a mim?” dam os ideais modernistas da fase anterior. _________. Prosa & verso. São Paulo: Globo,
sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Oh! aquele menininho que dizia sempre.” Os escritores dessa fase apresentam em 1998.
• humor • coloquialidade da linguagem “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In ‘Fessora, eu posso ir lá fora?’ ✦Tema: Morte
Simultaneidade
suas obras uma grande preocupação com os
• brevidade • crítica aos costumes sociais Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin- mas apenas ficava um momento Este quarto “– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu
• a morte • o tempo tana. 3. ed. p.16-17.) bebendo o vento azul... “Este quarto de enfermo, tão deserto O morto creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me
Agora não preciso pedir licença a ninguém. de tudo, pois nem livros eu já leio “Eu estava dormindo e me acordaram matar! Eu quero viver!
Veja na Antologia de apoio alguns poe- A partir dessa forma livre de ser e de Mesmo porque não existe paisagem lá fora: e a própria vida eu a deixei no meio E me encontrei, assim, num mundo estranho – Você é louco?
mas que ajudarão nessa atividade. escrever, o poeta só poderia mesmo fazer somente cimento. como um romance que ficasse aberto... e louco... – Não, sou poeta.”

5 6 7

Encarte Mario Quintana.indd 2 6/24/05 2:00:22 PM


O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO parte de um movimento tão aberto quanto escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Que me importa este quarto, em que E quando eu começava a compreendê-lo A coisa Tique-taque
o Modernismo. Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, desperto Um pouco, “A gente pensa uma coisa, acaba escre- “Mera ilusão auditiva graças à qual a gente
Didaticamente, Mario Quintana se filia- João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba- como se despertasse em quarto alheio? Já eram horas de dormir de novo!” vendo outra e o leitor entende uma terceira ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-
ria à segunda fase modernista, do mesmo to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Eu olho é o céu! Imensamente perto, coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa que’... Depois disso, como acreditar nos reló-
✦ Proposta 1 ✦Proposta 2 o céu que me descansa como um seio. Quando eu morrer
modo que Drummond, Vinicius, Cecília e Nossa sugestão é que você explore junto a propriamente dita começa a desconfiar que gios? Ou na gente?”
outros. Conhecer um pouco mais sobre as seus alunos os escritores citados, pois, com “Quando eu morrer e no frescor de lua não foi propriamente dita.”
Por meio da leitura dos poemas de Mario Conforme registrado no livro, Mario características desse período (1930-1945) exceção de Monteiro Lobato, todos os de- Pois só o céu é que está perto, sim, Da casa nova me quedar a sós, O incorrigível
Quintana (apresentados no livro e neste su- Quintana apresentou uma certa paixão pela ajudaria o aluno a perceber a qual filão des- mais fizeram parte do Modernismo brasilei- tão perto e tão amigo que parece Deixai-me em paz na minha quieta rua... Da preguiça “O fantasma é um exibicionista póstumo.”
plemento), os alunos devem perceber que o também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o se grupo Mario melhor se encaixou. ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen- um grande olhar azul pousando em mim. Nada mais quero com nenhum de vós! “A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-
poeta tanto usou o soneto (medida clássica) coração dele também se derretia pelos si- Conforme registrado no livro, Mario to seria muito significativa para um maior mem não tivesse preguiça de caminhar, não Cartaz para uma feira de livro
como versos livres, pequenas estrofes úni- lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, Quintana era querido por muitos outros entendimento da obra do autor. A morte deveria ser assim: Quero é ficar com alguns poemas tortos teria inventado a roda.” “Os verdadeiros analfabetos são os que apren-
cas, haicais etc. Toda essa diversificação faz pelos versos que ela escrevia, pelo modo um céu que pouco a pouco anoitecesse Que andei tentando endireitar em vão... deram a ler e não lêem.”
de Quintana um poeta gostoso de se ler a como ela vivia”. e a gente nem soubesse que era o fim...” Que linda a Eternidade, amigos mortos,
qualquer hora e em qualquer situação. Sugerimos que os alunos façam uma Para as torturas lentas da Expressão!...
Como afirma Regina Zilbermann em breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no ANTOLOGIA DE APOIO 2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-
sua introdução à obra Poemas em verso: sentido de perceberem por que essa mulher nos devem ter reparado que Mario Quin- Eu levarei comigo as madrugadas,
1. Acrescentaremos a seguir alguns poe- O vento não mais me fareja a face como
“É neste sentido que se pode constatar o chegou a impressionar tanto Quintana. tana trata em seus poemas de inúmeros Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, problemas sociais de seu tempo. Principais
mas que foram citados parcialmente no livro um cão amigo... GLOSSÁRIO
experimentalismo vigente na poesia dele: Tal pesquisa poderia visar a apenas al- temas, alguns deles recorrentes. Entre os Mais o rir das primeiras namoradas... representantes: Jorge Amado, Graciliano
e alguns que se encaixam exatamente no Mas o azul irreversível persiste em meus
guns dados a respeito da poeta, tais como: temas reincidentes, notamos que o autor Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego
serviu a todos os senhores da forma, sem que foi dito em determinado momento. olhos.” Modernismo Calcado no clima nacionalis-
discorre muito sobre o tempo. Vejamos al- E um dia a morte há de fitar com espanto e Erico Verissimo.
depender de nenhum. E procurou incor- ta de mudanças sociais e no projeto estético
• onde e quando nasceu • com quem ela guns exemplos, mas não se esqueça de que Os fios de vida que eu urdi, cantando,
porar a seus poemas três fatores básicos Página 4 – “E a expectativa de uma emo- Página 22 – “Balançado por uma sensibi- das Vanguardas Européias, o Modernismo
se casou • como era seu jeito de ser • quan- há muitos outros! Na orla negra do seu negro manto...”
da modernidade, presentes na literatura ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor lidade desembestada, Mario Quintana via brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor- INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS
brasileira atual: humor, coloquialidade da tos anos ela tinha quando conheceu o poeta poesia em tudo quanto era objeto. Até nas TEMAS TRABALHADOS
do susto é esperar por ele’, disse o autor em ✦Tema: Tempo ço de um grupo de intelectuais brasileiros
linguagem e brevidade. • de quais temas ela tratava em sua poesia coisas que ele não gostava. E o Mario não Da viuvez
um verso.” que idealizou e realizou a Semana de Arte
Sua visão da realidade pode ser mui- •quais afinidades poéticas ela apresentava gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, “Ele está morto. Ela, aos ais. Moderna, evento que tornou pública essa JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi
Estou sentado sobre a minha mala
tas vezes nostálgica, porém, quando a em relação à poesia de Mario • quais suas Pés de fora telefones...” Mas, neste lúgubre assunto, nova maneira de pensar o passado, o pre- de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo:
“Estou sentado sobre a minha mala
apresenta de modo crítico, sua arma pre- poesias mais conhecidas Quem fica viúvo é o defunto... sente e o futuro da política, da sociedade, Moderna, 1999.
“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas. No velho bergantim desmantelado...
dileta é o humor. Com isto, desafia as insti- Cada vez que um rato corre mais depressa, Objetos perdidos Quanto tempo, meu Deus, malbaratado Porque esse não casa mais.” da economia e, sobretudo, da cultura bra- MEIRELES, Cecília. As palavras voam
✦Proposta 3 “Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão sileira. (antologia poética com organização de Bar-
tuições e os costumes sociais, quando não o ela tapa a cabeça. Em tanta inútil, misteriosa escala!
comportamento habitual das pessoas. parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões Da morte tolomeu Campos de Queirós). São Paulo:
Mas fica com os pés de fora.
“(...) Poeta urbano desde o início, Quin- que se desprenderam? E as pastas de papéis, Joguei a minha bússola quebrada “Um dia... pronto!... me acabo. Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Moderna, 2005.
Também os temas considerados sérios É o medo ridículo, tocante, desamparado,
tana movimenta-se nas pequenas ruas da os estojos de pincenê, as maletas esquecidas Às águas fundas... E afinal sem norte, Pois seja o que tem de ser. Chamada fase heróica, seria caracterizada QUINTANA, Mario. Antologia Poética.
– como a morte ou o transcurso do tema o medo de pés de fora.
cidade, surpreendendo-as na inquietação nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes Como o velho Simbad de alma cansada Morrer, que me importa?... O diabo como um “período de destruição” preocu- Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
– perdem esta conotação. Pois Quintana Se eu fosse fantasma, eu...
do dia ou no silêncio da noite. Como um de compras, os lenços com pequenas econo- Eu nada mais desejo, nem a morte... É deixar de viver!” pado em difundir as novas idéias e criticar _________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-
sempre tira da cartola uma sentença final Não, não lhe faria nada: o melhor do susto
hábitat natural, as ruas são o cenário pri- mias, aonde vão parar todos esses objetos de forma violenta a literatura tradicionalis- derna, 2003.
que, ao provocar o riso, suprime a possi- é esperar por ele.”
heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar
vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter Delícia de ficar deitado ao fundo ✦Temas variados: Humor / Ironia ta. Principais representantes: Oswald de An- _________. Os melhores poemas de Mario
bilidade de uma postura acadêmica ou nos anéis de Saturno, são eles que formam,
uma sintonia interior com o impressionismo Do barco, a vos olhar, velas paradas! drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira Quintana. São Paulo: Global, 1996.
doutoral perante os acontecimentos ou Página 11 – “Introvertido e indisciplina- eternamente girando, os estranhos anéis des-
é que o poeta adotará, com freqüência, Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo e Antonio de Alcântara Machado. _________. Pé de pilão. São Paulo: Ática,
problemas retratados”. do, Mario tinha muita dificuldade para se Clarividência
as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de se planeta misterioso e amigo.” 1996.
Os alunos devem analisar as poesias enquadrar na escola.” “O poema é uma bola de cristal. Se apenas
aliterações e assonâncias, traços que ca- Pra que partir? Sempre se chega, enfim... Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) _________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-
tentando encontrar nelas as características Página 50 – “O tempo realmente foi se- enxergares nele o teu nariz, não culpes o
racterizam os sonetos de Quintana como Pra que seguir empós das alvoradas “Período de construção” em que se consoli- neiro: Globo, 1983.
já citadas: Poema guindo em frente, sem pedir licença, como mágico.”
formulações que querem captar cor e mu- Se, por si mesmas, elas vêm a mim?” dam os ideais modernistas da fase anterior. _________. Prosa & verso. São Paulo: Globo,
sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Oh! aquele menininho que dizia sempre.” Os escritores dessa fase apresentam em 1998.
• humor • coloquialidade da linguagem “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In ‘Fessora, eu posso ir lá fora?’ ✦Tema: Morte
Simultaneidade
suas obras uma grande preocupação com os
• brevidade • crítica aos costumes sociais Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin- mas apenas ficava um momento Este quarto “– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu
• a morte • o tempo tana. 3. ed. p.16-17.) bebendo o vento azul... “Este quarto de enfermo, tão deserto O morto creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me
Agora não preciso pedir licença a ninguém. de tudo, pois nem livros eu já leio “Eu estava dormindo e me acordaram matar! Eu quero viver!
Veja na Antologia de apoio alguns poe- A partir dessa forma livre de ser e de Mesmo porque não existe paisagem lá fora: e a própria vida eu a deixei no meio E me encontrei, assim, num mundo estranho – Você é louco?
mas que ajudarão nessa atividade. escrever, o poeta só poderia mesmo fazer somente cimento. como um romance que ficasse aberto... e louco... – Não, sou poeta.”

5 6 7

Encarte Mario Quintana.indd 2 6/24/05 2:00:22 PM


O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO parte de um movimento tão aberto quanto escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Que me importa este quarto, em que E quando eu começava a compreendê-lo A coisa Tique-taque
o Modernismo. Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, desperto Um pouco, “A gente pensa uma coisa, acaba escre- “Mera ilusão auditiva graças à qual a gente
Didaticamente, Mario Quintana se filia- João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba- como se despertasse em quarto alheio? Já eram horas de dormir de novo!” vendo outra e o leitor entende uma terceira ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-
ria à segunda fase modernista, do mesmo to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Eu olho é o céu! Imensamente perto, coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa que’... Depois disso, como acreditar nos reló-
✦ Proposta 1 ✦Proposta 2 o céu que me descansa como um seio. Quando eu morrer
modo que Drummond, Vinicius, Cecília e Nossa sugestão é que você explore junto a propriamente dita começa a desconfiar que gios? Ou na gente?”
outros. Conhecer um pouco mais sobre as seus alunos os escritores citados, pois, com “Quando eu morrer e no frescor de lua não foi propriamente dita.”
Por meio da leitura dos poemas de Mario Conforme registrado no livro, Mario características desse período (1930-1945) exceção de Monteiro Lobato, todos os de- Pois só o céu é que está perto, sim, Da casa nova me quedar a sós, O incorrigível
Quintana (apresentados no livro e neste su- Quintana apresentou uma certa paixão pela ajudaria o aluno a perceber a qual filão des- mais fizeram parte do Modernismo brasilei- tão perto e tão amigo que parece Deixai-me em paz na minha quieta rua... Da preguiça “O fantasma é um exibicionista póstumo.”
plemento), os alunos devem perceber que o também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o se grupo Mario melhor se encaixou. ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen- um grande olhar azul pousando em mim. Nada mais quero com nenhum de vós! “A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-
poeta tanto usou o soneto (medida clássica) coração dele também se derretia pelos si- Conforme registrado no livro, Mario to seria muito significativa para um maior mem não tivesse preguiça de caminhar, não Cartaz para uma feira de livro
como versos livres, pequenas estrofes úni- lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, Quintana era querido por muitos outros entendimento da obra do autor. A morte deveria ser assim: Quero é ficar com alguns poemas tortos teria inventado a roda.” “Os verdadeiros analfabetos são os que apren-
cas, haicais etc. Toda essa diversificação faz pelos versos que ela escrevia, pelo modo um céu que pouco a pouco anoitecesse Que andei tentando endireitar em vão... deram a ler e não lêem.”
de Quintana um poeta gostoso de se ler a como ela vivia”. e a gente nem soubesse que era o fim...” Que linda a Eternidade, amigos mortos,
qualquer hora e em qualquer situação. Sugerimos que os alunos façam uma Para as torturas lentas da Expressão!...
Como afirma Regina Zilbermann em breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no ANTOLOGIA DE APOIO 2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-
sua introdução à obra Poemas em verso: sentido de perceberem por que essa mulher nos devem ter reparado que Mario Quin- Eu levarei comigo as madrugadas,
1. Acrescentaremos a seguir alguns poe- O vento não mais me fareja a face como
“É neste sentido que se pode constatar o chegou a impressionar tanto Quintana. tana trata em seus poemas de inúmeros Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, problemas sociais de seu tempo. Principais
mas que foram citados parcialmente no livro um cão amigo... GLOSSÁRIO
experimentalismo vigente na poesia dele: Tal pesquisa poderia visar a apenas al- temas, alguns deles recorrentes. Entre os Mais o rir das primeiras namoradas... representantes: Jorge Amado, Graciliano
e alguns que se encaixam exatamente no Mas o azul irreversível persiste em meus
guns dados a respeito da poeta, tais como: temas reincidentes, notamos que o autor Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego
serviu a todos os senhores da forma, sem que foi dito em determinado momento. olhos.” Modernismo Calcado no clima nacionalis-
discorre muito sobre o tempo. Vejamos al- E um dia a morte há de fitar com espanto e Erico Verissimo.
depender de nenhum. E procurou incor- ta de mudanças sociais e no projeto estético
• onde e quando nasceu • com quem ela guns exemplos, mas não se esqueça de que Os fios de vida que eu urdi, cantando,
porar a seus poemas três fatores básicos Página 4 – “E a expectativa de uma emo- Página 22 – “Balançado por uma sensibi- das Vanguardas Européias, o Modernismo
se casou • como era seu jeito de ser • quan- há muitos outros! Na orla negra do seu negro manto...”
da modernidade, presentes na literatura ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor lidade desembestada, Mario Quintana via brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor- INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS
brasileira atual: humor, coloquialidade da tos anos ela tinha quando conheceu o poeta poesia em tudo quanto era objeto. Até nas TEMAS TRABALHADOS
do susto é esperar por ele’, disse o autor em ✦Tema: Tempo ço de um grupo de intelectuais brasileiros
linguagem e brevidade. • de quais temas ela tratava em sua poesia coisas que ele não gostava. E o Mario não Da viuvez
um verso.” que idealizou e realizou a Semana de Arte
Sua visão da realidade pode ser mui- •quais afinidades poéticas ela apresentava gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, “Ele está morto. Ela, aos ais. Moderna, evento que tornou pública essa JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi
Estou sentado sobre a minha mala
tas vezes nostálgica, porém, quando a em relação à poesia de Mario • quais suas Pés de fora telefones...” Mas, neste lúgubre assunto, nova maneira de pensar o passado, o pre- de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo:
“Estou sentado sobre a minha mala
apresenta de modo crítico, sua arma pre- poesias mais conhecidas Quem fica viúvo é o defunto... sente e o futuro da política, da sociedade, Moderna, 1999.
“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas. No velho bergantim desmantelado...
dileta é o humor. Com isto, desafia as insti- Cada vez que um rato corre mais depressa, Objetos perdidos Quanto tempo, meu Deus, malbaratado Porque esse não casa mais.” da economia e, sobretudo, da cultura bra- MEIRELES, Cecília. As palavras voam
✦Proposta 3 “Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão sileira. (antologia poética com organização de Bar-
tuições e os costumes sociais, quando não o ela tapa a cabeça. Em tanta inútil, misteriosa escala!
comportamento habitual das pessoas. parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões Da morte tolomeu Campos de Queirós). São Paulo:
Mas fica com os pés de fora.
“(...) Poeta urbano desde o início, Quin- que se desprenderam? E as pastas de papéis, Joguei a minha bússola quebrada “Um dia... pronto!... me acabo. Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Moderna, 2005.
Também os temas considerados sérios É o medo ridículo, tocante, desamparado,
tana movimenta-se nas pequenas ruas da os estojos de pincenê, as maletas esquecidas Às águas fundas... E afinal sem norte, Pois seja o que tem de ser. Chamada fase heróica, seria caracterizada QUINTANA, Mario. Antologia Poética.
– como a morte ou o transcurso do tema o medo de pés de fora.
cidade, surpreendendo-as na inquietação nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes Como o velho Simbad de alma cansada Morrer, que me importa?... O diabo como um “período de destruição” preocu- Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
– perdem esta conotação. Pois Quintana Se eu fosse fantasma, eu...
do dia ou no silêncio da noite. Como um de compras, os lenços com pequenas econo- Eu nada mais desejo, nem a morte... É deixar de viver!” pado em difundir as novas idéias e criticar _________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-
sempre tira da cartola uma sentença final Não, não lhe faria nada: o melhor do susto
hábitat natural, as ruas são o cenário pri- mias, aonde vão parar todos esses objetos de forma violenta a literatura tradicionalis- derna, 2003.
que, ao provocar o riso, suprime a possi- é esperar por ele.”
heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar
vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter Delícia de ficar deitado ao fundo ✦Temas variados: Humor / Ironia ta. Principais representantes: Oswald de An- _________. Os melhores poemas de Mario
bilidade de uma postura acadêmica ou nos anéis de Saturno, são eles que formam,
uma sintonia interior com o impressionismo Do barco, a vos olhar, velas paradas! drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira Quintana. São Paulo: Global, 1996.
doutoral perante os acontecimentos ou Página 11 – “Introvertido e indisciplina- eternamente girando, os estranhos anéis des-
é que o poeta adotará, com freqüência, Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo e Antonio de Alcântara Machado. _________. Pé de pilão. São Paulo: Ática,
problemas retratados”. do, Mario tinha muita dificuldade para se Clarividência
as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de se planeta misterioso e amigo.” 1996.
Os alunos devem analisar as poesias enquadrar na escola.” “O poema é uma bola de cristal. Se apenas
aliterações e assonâncias, traços que ca- Pra que partir? Sempre se chega, enfim... Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) _________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-
tentando encontrar nelas as características Página 50 – “O tempo realmente foi se- enxergares nele o teu nariz, não culpes o
racterizam os sonetos de Quintana como Pra que seguir empós das alvoradas “Período de construção” em que se consoli- neiro: Globo, 1983.
já citadas: Poema guindo em frente, sem pedir licença, como mágico.”
formulações que querem captar cor e mu- Se, por si mesmas, elas vêm a mim?” dam os ideais modernistas da fase anterior. _________. Prosa & verso. São Paulo: Globo,
sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Oh! aquele menininho que dizia sempre.” Os escritores dessa fase apresentam em 1998.
• humor • coloquialidade da linguagem “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In ‘Fessora, eu posso ir lá fora?’ ✦Tema: Morte
Simultaneidade
suas obras uma grande preocupação com os
• brevidade • crítica aos costumes sociais Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin- mas apenas ficava um momento Este quarto “– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu
• a morte • o tempo tana. 3. ed. p.16-17.) bebendo o vento azul... “Este quarto de enfermo, tão deserto O morto creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me
Agora não preciso pedir licença a ninguém. de tudo, pois nem livros eu já leio “Eu estava dormindo e me acordaram matar! Eu quero viver!
Veja na Antologia de apoio alguns poe- A partir dessa forma livre de ser e de Mesmo porque não existe paisagem lá fora: e a própria vida eu a deixei no meio E me encontrei, assim, num mundo estranho – Você é louco?
mas que ajudarão nessa atividade. escrever, o poeta só poderia mesmo fazer somente cimento. como um romance que ficasse aberto... e louco... – Não, sou poeta.”

5 6 7

Encarte Mario Quintana.indd 2 6/24/05 2:00:22 PM


O MOMENTO POSTERIOR À LEITURA DO LIVRO parte de um movimento tão aberto quanto escritores famosos: Manuel Bandeira, Carlos Que me importa este quarto, em que E quando eu começava a compreendê-lo A coisa Tique-taque
o Modernismo. Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, desperto Um pouco, “A gente pensa uma coisa, acaba escre- “Mera ilusão auditiva graças à qual a gente
Didaticamente, Mario Quintana se filia- João Cabral de Melo Neto, Monteiro Loba- como se despertasse em quarto alheio? Já eram horas de dormir de novo!” vendo outra e o leitor entende uma terceira ouve sempre ‘tique-taque’ e nunca ‘taque-ti-
ria à segunda fase modernista, do mesmo to, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga etc. Eu olho é o céu! Imensamente perto, coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa que’... Depois disso, como acreditar nos reló-
✦ Proposta 1 ✦Proposta 2 o céu que me descansa como um seio. Quando eu morrer
modo que Drummond, Vinicius, Cecília e Nossa sugestão é que você explore junto a propriamente dita começa a desconfiar que gios? Ou na gente?”
outros. Conhecer um pouco mais sobre as seus alunos os escritores citados, pois, com “Quando eu morrer e no frescor de lua não foi propriamente dita.”
Por meio da leitura dos poemas de Mario Conforme registrado no livro, Mario características desse período (1930-1945) exceção de Monteiro Lobato, todos os de- Pois só o céu é que está perto, sim, Da casa nova me quedar a sós, O incorrigível
Quintana (apresentados no livro e neste su- Quintana apresentou uma certa paixão pela ajudaria o aluno a perceber a qual filão des- mais fizeram parte do Modernismo brasilei- tão perto e tão amigo que parece Deixai-me em paz na minha quieta rua... Da preguiça “O fantasma é um exibicionista póstumo.”
plemento), os alunos devem perceber que o também poeta Cecília Meireles. Releia: “E o se grupo Mario melhor se encaixou. ro. Assim, uma pesquisa sobre tal movimen- um grande olhar azul pousando em mim. Nada mais quero com nenhum de vós! “A preguiça é a mãe do progresso. Se o ho-
poeta tanto usou o soneto (medida clássica) coração dele também se derretia pelos si- Conforme registrado no livro, Mario to seria muito significativa para um maior mem não tivesse preguiça de caminhar, não Cartaz para uma feira de livro
como versos livres, pequenas estrofes úni- lêncios da Cecília, pelas coisas que ela dizia, Quintana era querido por muitos outros entendimento da obra do autor. A morte deveria ser assim: Quero é ficar com alguns poemas tortos teria inventado a roda.” “Os verdadeiros analfabetos são os que apren-
cas, haicais etc. Toda essa diversificação faz pelos versos que ela escrevia, pelo modo um céu que pouco a pouco anoitecesse Que andei tentando endireitar em vão... deram a ler e não lêem.”
de Quintana um poeta gostoso de se ler a como ela vivia”. e a gente nem soubesse que era o fim...” Que linda a Eternidade, amigos mortos,
qualquer hora e em qualquer situação. Sugerimos que os alunos façam uma Para as torturas lentas da Expressão!...
Como afirma Regina Zilbermann em breve pesquisa sobre Cecília Meireles, no ANTOLOGIA DE APOIO 2. Após as pesquisas realizadas, seus alu-
sua introdução à obra Poemas em verso: sentido de perceberem por que essa mulher nos devem ter reparado que Mario Quin- Eu levarei comigo as madrugadas,
1. Acrescentaremos a seguir alguns poe- O vento não mais me fareja a face como
“É neste sentido que se pode constatar o chegou a impressionar tanto Quintana. tana trata em seus poemas de inúmeros Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando, problemas sociais de seu tempo. Principais
mas que foram citados parcialmente no livro um cão amigo... GLOSSÁRIO
experimentalismo vigente na poesia dele: Tal pesquisa poderia visar a apenas al- temas, alguns deles recorrentes. Entre os Mais o rir das primeiras namoradas... representantes: Jorge Amado, Graciliano
e alguns que se encaixam exatamente no Mas o azul irreversível persiste em meus
guns dados a respeito da poeta, tais como: temas reincidentes, notamos que o autor Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego
serviu a todos os senhores da forma, sem que foi dito em determinado momento. olhos.” Modernismo Calcado no clima nacionalis-
discorre muito sobre o tempo. Vejamos al- E um dia a morte há de fitar com espanto e Erico Verissimo.
depender de nenhum. E procurou incor- ta de mudanças sociais e no projeto estético
• onde e quando nasceu • com quem ela guns exemplos, mas não se esqueça de que Os fios de vida que eu urdi, cantando,
porar a seus poemas três fatores básicos Página 4 – “E a expectativa de uma emo- Página 22 – “Balançado por uma sensibi- das Vanguardas Européias, o Modernismo
se casou • como era seu jeito de ser • quan- há muitos outros! Na orla negra do seu negro manto...”
da modernidade, presentes na literatura ção mexia muito com o poeta. ‘O melhor lidade desembestada, Mario Quintana via brasileiro surgiu, em 1922, devido ao esfor- INDICAÇÕES PARA APROFUNDAR OS
brasileira atual: humor, coloquialidade da tos anos ela tinha quando conheceu o poeta poesia em tudo quanto era objeto. Até nas TEMAS TRABALHADOS
do susto é esperar por ele’, disse o autor em ✦Tema: Tempo ço de um grupo de intelectuais brasileiros
linguagem e brevidade. • de quais temas ela tratava em sua poesia coisas que ele não gostava. E o Mario não Da viuvez
um verso.” que idealizou e realizou a Semana de Arte
Sua visão da realidade pode ser mui- •quais afinidades poéticas ela apresentava gostava, por exemplo, de guarda-chuvas, “Ele está morto. Ela, aos ais. Moderna, evento que tornou pública essa JORDÃO, Rose e OLIVEIRA, Clenir Bellezi
Estou sentado sobre a minha mala
tas vezes nostálgica, porém, quando a em relação à poesia de Mario • quais suas Pés de fora telefones...” Mas, neste lúgubre assunto, nova maneira de pensar o passado, o pre- de. Linguagens: estrutura e arte. São Paulo:
“Estou sentado sobre a minha mala
apresenta de modo crítico, sua arma pre- poesias mais conhecidas Quem fica viúvo é o defunto... sente e o futuro da política, da sociedade, Moderna, 1999.
“A negrinha, essa, tem medo de fantasmas. No velho bergantim desmantelado...
dileta é o humor. Com isto, desafia as insti- Cada vez que um rato corre mais depressa, Objetos perdidos Quanto tempo, meu Deus, malbaratado Porque esse não casa mais.” da economia e, sobretudo, da cultura bra- MEIRELES, Cecília. As palavras voam
✦Proposta 3 “Os guarda-chuvas perdidos... Aonde vão sileira. (antologia poética com organização de Bar-
tuições e os costumes sociais, quando não o ela tapa a cabeça. Em tanta inútil, misteriosa escala!
comportamento habitual das pessoas. parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões Da morte tolomeu Campos de Queirós). São Paulo:
Mas fica com os pés de fora.
“(...) Poeta urbano desde o início, Quin- que se desprenderam? E as pastas de papéis, Joguei a minha bússola quebrada “Um dia... pronto!... me acabo. Modernismo (primeira fase: 1922 a 1930) Moderna, 2005.
Também os temas considerados sérios É o medo ridículo, tocante, desamparado,
tana movimenta-se nas pequenas ruas da os estojos de pincenê, as maletas esquecidas Às águas fundas... E afinal sem norte, Pois seja o que tem de ser. Chamada fase heróica, seria caracterizada QUINTANA, Mario. Antologia Poética.
– como a morte ou o transcurso do tema o medo de pés de fora.
cidade, surpreendendo-as na inquietação nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes Como o velho Simbad de alma cansada Morrer, que me importa?... O diabo como um “período de destruição” preocu- Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
– perdem esta conotação. Pois Quintana Se eu fosse fantasma, eu...
do dia ou no silêncio da noite. Como um de compras, os lenços com pequenas econo- Eu nada mais desejo, nem a morte... É deixar de viver!” pado em difundir as novas idéias e criticar _________. Nariz de vidro. São Paulo: Mo-
sempre tira da cartola uma sentença final Não, não lhe faria nada: o melhor do susto
hábitat natural, as ruas são o cenário pri- mias, aonde vão parar todos esses objetos de forma violenta a literatura tradicionalis- derna, 2003.
que, ao provocar o riso, suprime a possi- é esperar por ele.”
heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar
vilegiado dos primeiros versos. (...) Por ter Delícia de ficar deitado ao fundo ✦Temas variados: Humor / Ironia ta. Principais representantes: Oswald de An- _________. Os melhores poemas de Mario
bilidade de uma postura acadêmica ou nos anéis de Saturno, são eles que formam,
uma sintonia interior com o impressionismo Do barco, a vos olhar, velas paradas! drade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira Quintana. São Paulo: Global, 1996.
doutoral perante os acontecimentos ou Página 11 – “Introvertido e indisciplina- eternamente girando, os estranhos anéis des-
é que o poeta adotará, com freqüência, Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo e Antonio de Alcântara Machado. _________. Pé de pilão. São Paulo: Ática,
problemas retratados”. do, Mario tinha muita dificuldade para se Clarividência
as meias-tintas, as sinestesias, os jogos de se planeta misterioso e amigo.” 1996.
Os alunos devem analisar as poesias enquadrar na escola.” “O poema é uma bola de cristal. Se apenas
aliterações e assonâncias, traços que ca- Pra que partir? Sempre se chega, enfim... Modernismo (segunda fase: 1930 a 1945) _________. Poesias. Porto Alegre/Rio de Ja-
tentando encontrar nelas as características Página 50 – “O tempo realmente foi se- enxergares nele o teu nariz, não culpes o
racterizam os sonetos de Quintana como Pra que seguir empós das alvoradas “Período de construção” em que se consoli- neiro: Globo, 1983.
já citadas: Poema guindo em frente, sem pedir licença, como mágico.”
formulações que querem captar cor e mu- Se, por si mesmas, elas vêm a mim?” dam os ideais modernistas da fase anterior. _________. Prosa & verso. São Paulo: Globo,
sicalidade.” (Carvalhal, Tania Franco (1984). “Oh! aquele menininho que dizia sempre.” Os escritores dessa fase apresentam em 1998.
• humor • coloquialidade da linguagem “Quintana, entre o sonhado e o vivido.” In ‘Fessora, eu posso ir lá fora?’ ✦Tema: Morte
Simultaneidade
suas obras uma grande preocupação com os
• brevidade • crítica aos costumes sociais Instituto Estadual do Livro (RS). Mario Quin- mas apenas ficava um momento Este quarto “– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu
• a morte • o tempo tana. 3. ed. p.16-17.) bebendo o vento azul... “Este quarto de enfermo, tão deserto O morto creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me
Agora não preciso pedir licença a ninguém. de tudo, pois nem livros eu já leio “Eu estava dormindo e me acordaram matar! Eu quero viver!
Veja na Antologia de apoio alguns poe- A partir dessa forma livre de ser e de Mesmo porque não existe paisagem lá fora: e a própria vida eu a deixei no meio E me encontrei, assim, num mundo estranho – Você é louco?
mas que ajudarão nessa atividade. escrever, o poeta só poderia mesmo fazer somente cimento. como um romance que ficasse aberto... e louco... – Não, sou poeta.”

5 6 7

Encarte Mario Quintana.indd 2 6/24/05 2:00:22 PM

You might also like