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artigo de atualização Trabalho

originalmente
publicado na

A gestão da qualidade assistencial do RAS 16


Hospital de Clínicas de Porto Alegre: Julho-Setembro de 2002

implementação e validação Páginas 27-32

de indicadores*
Care quality management at Hospital de Clínicas in
Porto Alegre: indicators implementation and validation
Mariza Klück1, José Ricardo Guimarães2, Jair Ferreira3, Carlos Alberto Prompt4

RESUMO Palavras-chave
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre, hospital-escola da Universidade Federal do Rio Grande do Epidemiologia hospitalar.
Sul, está atualmente empenhado em um processo de busca de um padrão de qualidade assistencial, que Indicadores. Qualidade
representa hoje um imperativo técnico e social. Dentro deste processo, a definição do conjunto de indi- assistencial.
cadores que irão avaliar e monitorar este padrão de qualidade é uma etapa fundamental que deve levar
em consideração, além da prática e da teoria já consagradas internacionalmente, a cultura e as caracte- Keywords
rísticas próprias da organização. Este trabalho relata o desenvolvimento e os resultados preliminares do Hospital epidemiology.
projeto de pesquisa que tem por objetivo definir este conjunto de indicadores, implementar sua aferição
Indicators. Quality in
sistemática, avaliar o impacto deste processo na qualidade da assistência prestada e validar os indica-
dores selecionados. Esta pesquisa se caracteriza como um estudo exploratório conduzido através dos
health care.
métodos qualitativos de estudo de caso, “focus group” e uma enquete de opinião (survey ). Foi definido
um conjunto de 35 indicadores, cuja implantação iniciou em janeiro de 1999 e foi concluída em maio de
2002.

ABSTRACT
The Hospital de Clínicas de Porto Alegre, the teaching hospital of the Federal University of Rio Grande
do Sul, is currently engaged in developing a clinical quality standard. This process includes the identifica-
tion or development of indicators that are internationally recognized and takes into consideration the
culture and characteristics of the organization. This paper describes the development process, and pre-
liminary results, of the research project whose objective includes the definition of the clinical indicators,
the systematic application and validation of the indicators and an analysis of the impact of the use of the
selected indicators in managing clinical process quality. The exploratory phase of the project included: Conflito de interesse: nenhum declarado.
Financiador ou fontes de fomento: nenhum de-
qualitative case studies, focus groups, and a survey among clinical health care professionals. This part of clarado.
the project resulted in the identification of 35 indicators that were put into use for clinical quality control Data de recebimento do artigo: 21 / 7/ 2002.
in January of 1999. The study was concluded in 2002. Data da aprovação: 25 / 9 / 2002.

* Trabalho publicado nos anais eletrônicos do CBIS2000 – Congresso Brasileiro de Informática em Saúde.
1. Médica; Professora da Faculdade de Medicina da UFRGS; Mestre em Administração (Gestão da Informação); Doutoranda em Epidemiologia (UFRGS); Assessora de
Gestão de Qualidade Assistencial e Coordenadora da Comissão de Prontuários do HCPA/UFRGS.
2. Médico; Cirurgião do HCPA; Mestre em Gastroenterologia; Membro da Comissão de Prontuários e Assessor de Sistemas de Informações Clínicas do HCPA. E-mail:
jguimaraes@hcpa.ufrgs.br
3. Médico; Professor da Faculdade de Medicina da UFRGS; Doutor em Clínica Médica – Epidemiologia pela UFRGS e Assessor de Gestão de Qualidade Assistencial do
HCPA. E-mail: jferreira@hcpa.ufrgs
4. Médico; Professor da Faculdade de Medicina da UFRGS; Mestre em Clínica Médica pela UFRGS e Vice-Presidente Administrativo do HCPA. E-mail: prompt@hcpa.ufrgs.br
Endereço eletrônico: mkluck@hcpa.ufrgs.br

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INTRODUÇÃO los coordenadores das diversas Comis- O HOSPITAL DE CLÍNICAS
A busca da qualidade da atenção sões envolvidas diretamente com a DE PORTO ALEGRE
dos serviços de saúde deixou de ser assistência aos pacientes. O Hospital de Clínicas de Porto Ale-
uma atitude isolada e tornou-se hoje O objetivo principal deste trabalho foi gre foi fundado em 1941, como parte
um imperativo técnico e social. A so- o de avaliar a qualidade da assistência integrante da Universidade Federal do
ciedade está cada vez mais exigindo a à saúde prestada pelo HCPA, para me- Rio Grande do Sul. Atualmente é uma
qualidade dos serviços a ela prestados, lhor entender e melhorar a sua atua- instituição pública de direito privado,
principalmente por órgãos públicos. ção, considerando a cultura organiza- sujeita à supervisão do Ministério da
Esta exigência torna fundamental a cional, o contexto social, o perfil da ins- Educação e Cultura. O HCPA é um Hos-
criação de normas e mecanismos de tituição e de seus usuários e o envolvi- pital público que atende prioritariamen-
avaliação e controle da qualidade as- mento de seu quadro funcional neste te os pacientes do Sistema Único de
sistencial. O Hospital brasileiro, por ra- processo. São objetivos secundários a Saúde (95% dos atendimentos). De
zões históricas, não vem respondendo definição e implementação de um con- acordo com dados de 2001(1), a capa-
adequadamente às necessidades de junto de indicadores de qualidade as- cidade operacional do HCPA é de 677
saúde da população, principalmente sistencial mais adequado à instituição leitos; trabalham no Hospital 3.760 fun-
por falta e/ou ineficiência da rede bá- e ao contexto social; a definição da cionários, 300 médicos-residentes e
sica de saúde, que acarreta uma so- metodologia mais confiável para a co- 250 professores da UFRGS. Na quali-
brecarga de assistência ambulatorial. leta dos dados e seu tratamento; a ava- dade de um hospital geral, atende pra-
A prática gerencial é um fator crítico liação do impacto deste processo na ticamente todas as especialidades
neste processo e lhe cabe definir o qualidade assistencial do Hospital, a médicas em clínica geral, cirurgia, psi-
papel da instituição hospitalar dentro validação dos indicadores selecionados quiatria, ginecologia, obstetrícia e pe-
do sistema de saúde de sua região. Só e a definição do conjunto de dados e diatria. É considerado um Hospital de
assim o hospital poderá cumprir o seu informações que deverão ser contem- excelência e de referência para diver-
papel social, exercendo uma assistên- plados no projeto do “Prontuário Ele- sas especialidades. Em 2001, o HCPA
cia de qualidade a custos adequados, trônico”, para que estes indicadores realizou 541.500 consultas ambulato-
consoante com as necessidades de possam ser obtidos a partir do sistema riais, 1.992.000 exames laboratoriais,
saúde da população. de informações do Hospital. 27.3003.894 e 28.700 cirurgias. A taxa
O Hospital de Clínicas de Porto Ale- de ocupação foi de 90,6%, com uma
gre, na busca da melhoria da qualida- média de permanência de 9,7 dias e
de de sua atividade assistencial, está O Hospital um coeficiente de mortalidade de 5,1%.
empenhado no processo de definição
de indicadores, critérios e procedimen- FUNDAMENTOS TEÓRICOS
tos adequados para avaliação desta
brasileiro, por O referencial teórico que orientou
qualidade. Estes indicadores devem este trabalho está fundamentado nos
servir como uma ferramenta de apoio
razões históricas, conceitos de qualidade em saúde e da
aos administradores do Hospital na vi- importância dos indicadores no proces-
gilância da qualidade assistencial e na
não vem so de garantir esta qualidade.
identificação de oportunidades para
melhorá-la. A missão é, portanto, a de respondendo O que é qualidade em saúde
desenvolver indicadores válidos que se- Segundo Donabedian(2), antes de se
jam úteis no esforço de entender e adequadamente às pensar em avaliar a qualidade da as-
melhorar a performance da assistên- sistência, tanto em termos gerais como
cia à saúde de seus usuários. O proje- necessidades de em situações específicas, é necessá-
to está sendo desenvolvido por um rio que haja um acordo sobre como
Grupo de Trabalho nomeado e coorde- saúde da esta qualidade é definida e quais os
nado pela Vice-presidência Médica do elementos que a constituem. A defini-
HCPA, composto por assessores e pe- população... ção de qualidade é complexa, pois deve
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fazer referência a todas as suas dimen- • Legitimidade, que é a conformida- termos estatísticos, pois representam
sões e dependerá do ponto de vista de de às preferências sociais relativas aos informações que devem servir à ges-
quem a define. Um paciente que inter- aspectos acima, isto é, a possibilidade tão do sistema em busca de sua me-
na em um hospital para diagnóstico e de adaptar satisfatoriamente um ser- lhoria contínua, da qualidade da assis-
tratamento de uma doença complexa viço à comunidade ou à sociedade tência da instituição e da saúde dos
e sai do hospital curado pode muitas como um todo. Implica conformidade indivíduos em especial.
vezes fazer uma péssima avaliação de individual, satisfação e bem-estar da Um bom indicador deve apresentar
seu tratamento, apenas porque consi- coletividade. três características fundamentais [6]:
derou as instalações ou o horário de • Eqüidade, que é a determinação • Disponibilidade – Os dados bási-
visitas inadequados. Diferentes auto- da adequada e justa distribuição dos cos para o cálculo do indicador devem
res têm dado diferentes enfoques a serviços e benefícios para todos os ser de fácil obtenção para diferentes
esta questão. Mas parece haver o con- membros da comunidade, população áreas e épocas.
senso de que a qualidade assistencial ou sociedade. • Confiabilidade – Os dados utiliza-
é um conceito complexo e amplo, cujos Portanto, a qualidade da assistência é dos para o cálculo do indicador devem
componentes podem ser agrupados avaliada pela conformidade ou adequa- ser fidedignos, isto é, deve ser capaz
em sete atributos ou pilares fundamen- ção a um grupo de expectativas ou pa- de fornecer o mesmo resultado se
tais(3,4): drões e esta não é avaliada exclusiva- medido por diferentes pessoas em di-
• Eficácia, que é a habilidade da mente em termos técnicos ou da prática ferentes meios e diferentes épocas, em
ciência médica em oferecer melhorias específica da assistência, mas por um condições similares.
na saúde e no bem-estar dos indiví- conjunto de fatores que envolvem ele- • Validade – O indicador deve ser
duos. mentos individuais e coletivos no esta- função das características do fenôme-
• Efetividade, que é a relação entre belecimento deste juízo de valor. Conse- no que se quer ou se necessita medir.
o benefício real oferecido pelo siste- qüentemente, Qualidade em Saúde é um Se o indicador reflete características
ma de saúde ou assistência e o resul- conceito fluido, abstrato e de complexa de outro fenômeno paralelo deixa de
tado potencial de um “sistema ideal”. definição, mas que deve ser proposto em ter validade, pois pode levar a uma ava-
• Eficiência, que é a habilidade de cada sociedade ou grupo social(3,4). liação não verdadeira da situação.
obter ao melhor resultado ao menor Além dessas três características fun-
custo, isto é, a relação entre o benefí- Indicadores de Qualidade assisten- damentais, um bom indicador deve ain-
cio oferecido pelo sistema de saúde ou cial da englobar o maior número possível
assistência médica e seu custo eco- Para avaliar a qualidade da assistên- das seguintes características adicio-
nômico. cia é necessário traduzir os conceitos e nais:
• Otimização, que é o balanço mais definições gerais, da melhor maneira, • Simplicidade – Significa facilida-
vantajoso entre custo e benefício, ou em critérios operacionais, parâmetros de de cálculo e partir das informações
seja, é o estabelecimento do ponto de e indicadores, validados e calibrados básicas. De preferência, um indicador
equilíbrio relativo, em que o benefício pelos atributos da estrutura, processo deve ser formado apenas por um nu-
é elevado ao máximo em relação ao e resultados(2). Indicadores são variá- merador e um denominador, ambos
seu custo econômico. veis que medem quantitativamente as compostos por dados de fácil obten-
• Aceitabilidade, é a adaptação dos variações no comportamento dos cri- ção.
cuidados médicos e da assistência à térios de qualidade anteriormente es- • Discriminatoriedade – O indicador
saúde às expectativas, desejos e valo- tabelecidos. Os indicadores proporcio- deve ter o poder de refletir diferentes
res dos pacientes e suas famílias. Este nam as informações necessárias e níveis epidemiológicos ou operacionais,
atributo é composto por cinco concei- mensuráveis para descrever tanto a mesmo entre áreas com particularida-
tos: acessibilidade, relação médico- realidade como as modificações devi- des distintas.
paciente, amenidades, preferências do das à presença do serviço ou assistên- • Sensibilidade – O indicador deve ter
paciente quanto aos efeitos da assis- cia(2,4). É a variável que descreve uma o poder de distinguir as variações oca-
tência, preferências do paciente quan- realidade, devendo para isso ter as ca- sionais de tendência do problema de
to aos custos da assistência. racterísticas de uma medida válida em saúde ou dos resultados das ações de
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saúde numa determinada área, isto é, de acordo com Benbasat, Goldstein e Médica, Clínica Cirúrgica, Ginecologia
deve detectar as variações no compor- Mead(7), é adequado para capturar o e Obstetrícia e Pediatria) para trabalhar
tamento do fenômeno que examina. conhecimento dos praticantes e desen- com a técnica de “focus groups” que,
• Abrangência – O indicador deve volver teorias a partir disso, com o ob- conforme Morgan(9), é uma técnica útil
sintetizar o maior número possível de jetivo de listar e analisar todos os indi- como meio de coleta de dados ou como
condições ou fatores diferentes que cadores atualmente disponíveis no SA- suplemento de métodos qualitativos e
afetam a situação que se quer descre- MIS, e uma ampla busca de informa- quantitativos e deve ser utilizada como
ver. Indicadores muito abrangentes, ções (bibliografia, Internet) buscando um instrumento preliminar ou explora-
como o coeficiente de letalidade hos- estabelecer o “estado da arte” da área tório, pois seus resultados podem ser
pitalar, o tempo médio de permanên- nos cenários nacional e internacional. utilizados em métodos quantitativos
cia ou o coeficiente de incidência das Após realizadas estas duas tarefas, foi como amostras representativas.
infecções hospitalares, são utilizados redigido um documento de referência
para avaliar o desempenho da institui- para dar orientação conceitual ao tra-
ção hospitalar como um todo. balho. A necessidade de
Afora estas características científi- O Estudo de Caso realizado no Hos-
cas desejáveis, outros critérios adicio- pital nos permitiu obter a relação dos definição,
nais são relevantes(6): os dados neces- 23 grupos de Indicadores então medi-
sários para o indicador devem ter utili- dos pelo SAMIS, dos quais quatro dizem implantação e
dade para a tomada de decisão de respeito à qualidade assistencial, sete
quem o coleta ou da gerência do ser- se referem à produção assistencial e avaliação de um
viço; deve ser viável obter os dados de pesquisa, sete avaliam a qualidade
necessários através de serviços de ro- dos prontuários e os demais analisam conjunto de
tina ou de coleta de dados facilmente aspectos diversos da assistência. A
executáveis; os indicadores devem ser revisão da literatura realizada foi bas- indicadores de
simples e inteligíveis e tanto o indica- tante abrangente, através de consulta
dor quanto os processos de coleta e à MEDLINE, aquisição de artigos pelo
processamento dos dados devem aten- COMUT, importação dos manuais da
qualidade
der a todos os critérios éticos.. JCAHO e busca na Internet. A análise
deste material nos permitiu concluir
assistencial foi
METODOLOGIA E RESULTADOS que os resultados publicados pelo QI
ALCANÇADOS Project(8) seriam aceitos como a prin-
percebida pela
A necessidade de definição, implan- cipal referência teórica de nosso tra-
tação e avaliação de um conjunto ade- balho, devido à relevância deste proje- Vice-presidência
quado de indicadores de qualidade as- to e sua preocupação com a melhoria
sistencial foi percebida pela Vice-pre- contínua da qualidade da assistência Médica, como
sidência Médica do HCPA, como forma e não apenas com a avaliação da efi-
de avaliar a assistência prestada, com ciência dos hospitais. forma de avaliar a
os objetivos de melhorar a qualidade Fase 2: Para que o conjunto de in-
do trabalho assistencial do Hospital e dicadores selecionados refletisse a assistência
de permitir a comparação adequada realidade da instituição e levasse em
deste trabalho com o cenário nacional conta a percepção e necessidades dos prestada
e internacional. O projeto se caracteri- seus provedores de assistência, opta-
za como uma pesquisa exploratória e mos, na 2ª fase do projeto, por formar
foi desenvolvido em seis fases distin- oito grupos de discussão (Administra- As reuniões de “focus groups” foram
tas: ção, Comissões Clínicas, Serviços de realizadas no período de outubro a de-
Fase 1: Na primeira fase foi realiza- Apoio Diagnóstico e Terapêutico, zembro de 1997, de acordo com o cro-
do um Estudo de Caso no HCPA que, Emergência e Ambulatórios, Clínica nograma previsto. Todas as opiniões
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manifestadas (críticas, qualidades e Dessa forma, foram identificados 35 (desde sua coleta até o processamen-
problemas do HCPA, sugestões de in- indicadores, considerados pelo grupo to), os cálculos previstos, o padrão
dicadores, etc.) foram redigidas durante como sendo aqueles de maior relevân- aceitável para seus resultados, as es-
a reunião por um relator, de acordo com cia. O conjunto de 35 indicadores se- tratificações possíveis, etc. Como re-
o consenso dos grupos. Após as reu- lecionados foram agrupados em 11 sultado, será editado o Manual de In-
niões, estas manifestações foram categorias, conforme descrito no Qua- dicadores Assistências do HCPA. Ao
transcritas em um banco de dados para dro 1. mesmo tempo, os indicadores foram
análise. Foram obtidas exatas 500 Fase 5: Documentação e implan- analisados por um grupo constituído
manifestações nas 10 reuniões. tação das rotinas. Nesta fase, o con- por representantes do projeto e do
Fase 3: Análise e seleção dos indi- junto selecionado de Indicadores As- Grupo de Sistemas, com o objetivo de
cadores sugeridos e encontrados na sistenciais institucionais está sendo definir o conjunto de dados que irão
literatura: das 500 manifestações com- documentado de acordo com as nor- compor a base de dados sobre os pa-
piladas, 305 diziam respeito à área mas prescritas pela Organização Mun- cientes (prontuário eletrônico), a fim
assistencial e 195, à área administra- dial da Saúde, que prevê que cada In- de garantir que todos os dados neces-
tiva. Das 305 manifestações sobre a dicador tenha claramente definidos sários para a obtenção dos indicado-
assistência, 187 se referiam à institui- seus objetivos, os dados que o geram res estejam presentes.
ção como um todo e 118 a setores
específicos. As 187 manifestações QUADRO 1
sobre assistência geral foram então Indicadores selecionados
analisadas pelo grupo de coordenação 1. Permanência 7. Ambulatório
do projeto, com base nas característi-
Média de permanência hospitalar Consultas realizadas / consultas progra-
cas exigidas de um indicador (Dispo- Tempo de permanência na Emergência madas
nibilidade, Confiabilidade, Validade, Exames complementares por consulta
2. Mortalidade
Simplicidade, Discriminatoriedade,
Mortalidade perinatal 8. Cirurgia e bloco cirúrgico
Sensibilidade, Abrangência, Utilidade e
Mortalidade com causa indefinida Cancelamento de cirurgias
Ética), obtendo-se uma relação de 43 Mortalidade geral Cancelamentos de procedimentos am-
indicadores de qualidade assistencial, Mortalidade perioperatória bulatoriais
aos quais foram agregados nove, se- Percentual de necrópsias AP com diagnóstico de neoplasia com
lecionados pelos coordenadores atra- 3. Resolutibilidade margens comprometidas
vés de revisão bibliográfica, obtendo- Reintervenções não programadas
Índice de retorno à Emergência
Tempo de espera para cirurgia
se um conjunto de 52 indicadores su- Índice de readmissões em um período
Índice de internações não programadas
geridos. de 15 dias após a alta
após procedimentos ambulatoriais
Fase 4: O conjunto de indicadores Índice de retorno à CTI
sugeridos foi então submetido a uma 9. Infecção
4. Prescrição
enquete de opinião (“survey”), através Taxa de substituição de antibióticos Taxa de Infecção cirúrgica
Prescrições não padronizadas Taxa de infecção por procedimentos in-
de um questionário. Este conjunto foi
vasivos
avaliado por cerca de 120 pessoas 5. Prontuários e informações Infecção hospitalar geral
(membros dos “focus groups”, chefes Prontuários incompletos
de serviços médicos e de enfermagem 10. Cesarianas
Sumário de alta incompleto
e membros da administração central do Taxa de prontuários com primeira con- Taxa de cesárea
sulta em branco Taxa de cesárea em pacientes sem ce-
HCPA), através de um questionário que
sariana prévia
apresenta uma escala do tipo Likert 6. Exames
com cinco opções: muito importante, Percentual de exames repetidos 11. Geral
importante, indiferente, pouco impor- Tempo de realização de exames Questionário - satisfação dos pacientes
tante e dispensável. Os resultados fo- Tempo de emissão de laudos Questionário – satisfação dos profissio-
Percentual de primeiros exames nor- nais
ram avaliados através da atribuição de
mais Acidentes de trabalho
notas (de 0 a 10) a cada indicador.
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Fase 6: Validação e avaliação do sistência ao paciente e o IQA-HCPA é lores sobre a saúde, nossas expectati-
impacto. Os indicadores começaram a parte de um projeto mais amplo de vas sobre a relação cliente-provedor e
ser calculados de acordo com as no- Gestão Assistencial e se insere no con- nossos pontos de vista sobre os legíti-
vas definições a partir de maio de ceito do “Ambiente da Qualidade” do mos papéis das instituições de saúde.
1999, com periodicidade mensal e com HCPA. Por sua relevância e impacto na A garantia da qualidade reflete cla-
uma política de ampla divulgação dos avaliação e na melhoria da qualidade ramente nossa participação na respon-
resultados através de relatórios e da da assistência prestada aos pacientes sabilidade individual e pública e nosso
Intranet do Hospital. Estes indicadores do HCPA, acreditamos que este traba- grau de comprometimento à igualda-
estão sendo acompanhados e serão lho deva ser conduzido com rigor me- de de acesso e usufruto da saúde.
avaliados na fase final do projeto, para todológico e considerando a ativa par-
que sejam verificadas suas validades, ticipação de todos os grupos de pro- REFERÊNCIAS
isto é, para sabermos se estes indica- fissionais responsáveis pela área as- 1. HCPA - Relatório Anual 2001.
dores estão realmente medindo o fe- sistencial do Hospital.
2. DONABEDIAN A. The Quality of Health: How can
nômeno ao qual se propõe. O impacto Temos a convicção de que estes re- it be assured? JAMA 260: 1743-1748, 1988.
da introdução destes indicadores na sultados irão causar um grande impac- 3. DONABEDIAN A. The seven pillars of quality. Arch
prática de gestão será avaliado após to na instituição, que deverá desenvol- Pathol Lab Med 114: 1115-1118, 1990.

um ano de implantação completa dos ver uma cultura mais preocupada com 4. GASTAL FL. Controle estatístico de processo: um
mesmos. a qualidade do produto final de seu tra- modelo para a avaliação da qualidade dos serviços
de internação psiquiátrica. São Paulo: UNIFES-
Concomitantemente, o HCPA está balho, que é o de bem atender à popu- EPM/SP, Tese de Doutorado, 1995.
iniciando, motivado por sua participa- lação do Estado na busca de soluções 5. SARACENO B; LEVAV I. La Evaluación de Servi-
ção no Programa de Acreditação Hos- para seus problemas de saúde. cios de salud Mental en la Comunidad: In: Temas
de Salud mental en la Comunidad. Washington,
pitalar, o projeto de definição, implan- O domínio da questão da qualidade D.C.: OPS/PALTEX n. 19: 56-77, 1992.
tação e avaliação dos Indicadores se- assistencial é indispensável para uma
6. CAMINHA J A N, CASARIN A, BUENO I. Indica-
toriais, que são aqueles indicadores gestão hospitalar racional. Sem esta, dores de Saúde. Revista ATM74, Faculdade de
para avaliação e acompanhamento de não poderemos julgar a produtividade Medicina UFRGS, 1974: 25-59.

processos específicos em cada Servi- ou a eficiência do nosso trabalho ou 7. BENBASAT I; GOLDSTEIN D K; MEAD M. The
case research strategy in studies of IS. MIS Quar-
ço do Hospital. mesmo chegar a uma razoável aloca- tely, Setembro 1987: 368-386.
ção de recursos. O importante é en-
8. QI Project, Maryland, EUA. www.qipro-ject.org
CONSIDERAÇÕES FINAIS tender que o conceito de qualidade é,
9. MORGAN DL. Focus Group as Qualitative Re-
A meta a que se propõe o HCPA é a em ampla medida, um construto social. search. Sage University Paper Series on Qualita-
melhoria contínua da qualidade da as- Representa nossas concepções e va- tive Research Methods, Vol. 16. EUA, 1988. 85 pág.

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