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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência de gênero surge então em decorrência do sistema de dominação


incrustado na sociedade, que utiliza desse mecanismo para manter a ordem
estabelecida culturalmente, no qual coloca a mulher numa posição inferior ao
homem. Esta situação representa uma violação aos direitos humanos,
especialmente, ao direito à igualdade entre homens e mulheres. A mulher em
situação de violência encontra-se numa relação onde prevalece a submissão ao
homem, na qual há prejuízo a sua incolumidade física, psicológica e moral.
Foi a partir das conferências internacionais sobre a mulher e as lutas do movimento
feminista que a questão da violência de gênero deixou de ser tratada dentro de
quatro paredes e passou a ser considerada como um problema social, passando a
exigir da sociedade e do Estado um entendimento aprofundado acerca da
complexidade da questão.
Assim, diante da violência contra mulher tornaram-se necessárias políticas públicas
no sentido de respeitar a igualdade nas relações de gênero e consolidar a cidadania
feminina, com ações que assegurem um espaço de denúncia, proteção e apoio à
mulher vítima de violência.
Falar em políticas públicas relacionadas à violência de gênero requer uma
abordagem multidimensional. A atuação deve ser em conjunta para o enfrentamento
(prevenção, combate, assistência e garantia de direitos) do problema pelas diversos
setores envolvidos, como: saúde, educação, assistência social, segurança pública,
cultura, justiça, para dar conta da complexidade da violência contra as mulheres.
É necessário que órgãos componentes da Rede de Atendimento operem de forma
articulada, a fim de garantir a integralidade da assistência à mulher. É preciso
também que os agentes que compõem essa Rede de Enfrentamento sejam
devidamente capacitados na área de violência contra a mulher, principalmente nas
questões de gênero, para compreender melhor o fenômeno e, assim, prestar um
melhor atendimento às vítimas.
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A pesquisa é de abordagem quantitativa, caracterizada pelo tipo de dados coletados


e pela análise que se faz. As pesquisas quantitativas prevêem a mensuração de
variáveis preestabelecidas, procuram verificar e explicar sua influência sobre outras
variáveis, mediante a análise da freqüência de incidência e de correlações
estatísticas.
A Pesquisa foi realizada em Teresina (PI), tendo como fonte de dados as redes de
atendimento a mulher. Objetivou-se caracterizar as mulheres do estudo quanto aos
aspectos sociodemográficos, relacionar os tipos de violência com os tipos de
agressores, identificar as causas e porque as vítimas não denunciam os
agressores.
Compõem a população-alvo do estudo os casos de mulheres vítimas de violência
que receberam atendimento no SPS/HVG no ano de 2004. A amostra populacional
foi constituída por 100 desses casos, selecionados por meio de amostragem
sistemática, por cujo procedimento foram escolhidas as unidades por intervalos
fixos, a partir da unidade inicial, que foi escolhida ao acaso. Desse modo, as fichas
de atendimento foram ordenadas por data de atendimento e escolhidas as de
número par, em seqüência (2ª, 4ª, 6ª ficha... até a última).

Na coleta de dados, os aspectos éticos e legais do estudo foram respeitados, pois


as mulheres não tiveram seus nomes revelados, e sim preservados no anonimato,
embora o estudo não tenha sido submetido a COMEPE. Observou-se o que
preceitua a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O acesso às
fichas de atendimento se fez mediante autorização da diretoria da instituição, antes
que se obtivessem os dados no Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico
(SAME). Posteriormente fizeram-se uma revisão e a codificação manual dos
formulários, de modo que as perguntas abertas foram codificadas de acordo com
sua freqüência.
A REDE DE ATENDIMENTO À MULHER EM TERESINA
O advento da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) não apenas despertou nas
mulheres a coragem para revelar a uma Autoridade Pública situações de violência
que há tempos estavam encarceradas no seio familiar. Representou também meio
legal de pressão ao poder público no sentido de estruturar políticas públicas e,
consequentemente, instituições capazes de promover de fato um combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher.
Uma análise mais profunda revela que recentemente a iniciativa de elaboração de
programas e criação de órgãos voltados especificamente ao tema da violência
doméstica e familiar contra a mulher não representou iniciativa do legislador
brasileiro. Em verdade, no Brasil o ponto de partida para uma mudança de atitudes
está relacionado ao cumprimento de recomendação da OEA (Organização dos
Estados Americanos) a qual reconheceu o Brasil como país que violou acordos
internacionais no tocante aos direitos humanos. A edição apressada da lei revelou
antes a preocupação do Brasil com o resgate de sua imagem junto à comunidade
internacional do que com o assunto em si.
O mérito de todo esse processo de mudança adveio da persistência de uma mulher
(Maria da Penha Maia Fernandes) que insatisfeita com os subterfúgios legais
utilizados por seu algoz (marido) denunciou o Brasil com o apoio do Centro pela
Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-Americano de Defesa
dos Direitos da Mulher (CLADEM) à Organização dos Estados Americanos (OEA)
Antes de representar uma apenação mais severa dos agressores a Lei Maria da
Penha traz em seu bojo o esboço de um sistema articulado de serviços, metas e
órgãos indispensáveis à realização dos fins a que se propõe. É o que se infere da
análise do Art. 8º da já referida Lei1
A cidade de Teresina – PI nos quase dois anos de vigência da Lei Maria da Penha já
estruturou uma relativa rede de órgãos, grupos e entidades que se dedicam de
forma articulada ao enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher,
tanto no que tange a repressão dos atos de violência quanto no conhecimento e
tratamento das causas que contribuem para as situações de violência.
Os principais integrantes que compõem a rede de Atendimento às mulheres vítimas
de violência doméstica e familiar na cidade de Teresina-PI são o Centro de
Referência à Mulher, Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, Conselho
Estadual da Mulher, Serviço de Atendimento Médico às Mulheres Vítimas de
Violência Sexual, Núcleo Especial de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência
da Defensoria Pública do Estado, Casa Abrigo e outros. A articulação política
atinente ao tema fica a cargo de comissões especiais da Assembleia Legislativa do
Estado e da Câmara Municipal nas quais os integrantes do poder legislativo mantêm
relação direta com os demais órgãos componentes da rede de atendimento
facilitando, quando necessário, a legitimação por via legal de políticas públicas
relacionadas ao tema.
Com origem prevista na própria Lei (Art. 35, I), o Centro de Referência à Mulher
instalado na Rua Oscar Clarck, s/n, Bairro Buenos Aires, antigo CSU (Centro Social
Urbano), disponibiliza serviços de orientação e encaminhamento das mulheres aos
demais órgãos integrantes da rede de atendimento. Oferece ainda serviços de
atendimento psicológico, social e jurídico às mulheres em situação de risco familiar.
Teresina conta com duas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher,
denominadas de Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher
Centro(DEAM/CENTRO) e Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher Centro
Norte (DEAM/NORTE) que apesar da denominação específica para regiões (centro
e norte) englobam como circunscrição toda a cidade de Teresina-PI, inclusive
trechos rurais do município.
A principal função das DEAM’s é o registro e apuração policial das condutas
criminosas contra a mulher com vistas a subsidiar os procedimentos acusatórios e
julgamentos à cargo do Poder Judiciário. No exercício de sua competência
constitucional de Polícia Judiciária, as Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher ainda prestam auxilio ao Judiciário cumprindo suas determinações e
garantindo efetivamente suas decisões.
O Conselho Estadual da Mulher, localizado na Rua Nogueira Tapety, 138, Bairro dos
Noivos, em Teresina – PI é órgão colegiado vinculado ao governo do estado,
composto por representantes de diversos órgãos públicos e entidades diretamente
associados à construção de políticas públicas visando à promoção da igualdade de
gênero. Tem por finalidade formular e propor diretrizes em todas as esferas da
administração do Estado, sob a ótica de gênero, destinadas a garantir a igualdade
de oportunidade e de direitos entre homens e mulheres.
O Serviço de Atendimento Médico às Mulheres Vítimas de Violência Sexual –
SAMVVIS representa o colaborador no tocante a saúde. Representou importante
conquista para as mulheres vítimas de violência que antes precisavam se submeter
a exames médico periciais no Instituto Médico Legal sem qualquer tratamento
diferenciado em relação aos demais pacientes, o que acabava representando
extremo constrangimento às mulheres, notadamente às vítimas de violência sexual.
O SAMVVIS é composto de peritas do Instituto Medico Legal que exercem sua
função em um espaço especial da Maternidade Evangelina Rosa, localizada na Rua
Higino Cunha, s/n, Bairro Cristo Rei, em Teresina-PI. A aproximação com uma
Unidade de Saúde permite às vítimas além do Exame médico pericial, necessário
para instrução dos procedimentos policiais, os atendimentos básicos de saúde
visando prevenir o contágio de doenças sexualmente transmissíveis, bem como o
atendimento psicológico e social.
De nada bastaria promover a apuração policial dos fatos com sua posterior remessa
ao Poder Judiciário se a vítima não dispusesse de acompanhamento jurídico por
profissionais conscientes de todas as circunstâncias que envolvem o fato. Nesse
aspecto as vítimas de violência doméstica e familiar em Teresina - PI contam com
um Núcleo Especial de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência da Defensoria
Pública do Estado, composto por duas defensoras públicas que além de promover o
acompanhamento jurídico de ações criminais das vítimas que não têm condições
financeiras de contratar um advogado, também realizam um trabalho de orientação
jurídica e de promoção das ações cíveis correlatas ao fato.
Complementando os serviços diretos de atendimento às mulheres vítimas
deviolência, Teresina- PI dispõe ainda de uma “Casa Abrigo” que tem como principal
finalidade receber e dar suporte de segurança às mulheres que precisam ser
afastadas do lar familiar para sua segurança e de sua família enquanto as demais
ações de segurança são implementadas.
É importante destacar que os órgãos já descritos representam apenas parte de uma
variedade de outras instituições que compõem a grande teia de atendimento às
mulheres vítimas de violência em Teresina – PI. Mais importante ainda é reconhecer
que o trabalho de um só órgão ou entidade nada representa senão em sintonia com
os demais.
resumo
Esta pesquisa aborda a violência doméstica contra a mulher e políticas públicas,
definindo a violência como uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar
outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a
liberdade, é incomodar, é impedir a uma pessoa de manifestar seu desejo e sua
vontade, sob pena de viver gravemente ameaçada ou até mesmo ser espancada,
lesionada ou morta. O efeito é, sobretudo, social, pois afeta o bem-estar, a
segurança, as possibilidades de educação e desenvolvimento pessoal e a
autoestima das mulheres. Historicamente, à violência doméstica e sexual somam-se
outras formas de violação dos direitos das mulheres: da diferença de remuneração
em relação aos homens à injusta distribuição de renda; do tratamento desumano
que recebem nos serviços de saúde ao assédio sexual no local de trabalho. Essas
discriminações e sua invisibilidade agravam os efeitos da violência física, sexual e
psicológica contra a mulher. A Conferência das Nações Unidas sobre Direitos
Humanos (Viena, 1993) reconheceu formalmente a violência contra as mulheres
como uma violação aos direitos humanos. Desde então, os governos dos países-
membros da ONU e as organizações da sociedade civil têm trabalhado para a
eliminação desse tipo de violência, que já é reconhecida também como um grave
problema de saúde pública.

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