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real'
24/05/2014 06:50
Marco de uma época, livro do crítico americano Hal Foster discute legado do
pop e sua relação com diversas formas do realismo
Relações anacrônicas
Vejo o valor e a atualidade do livro em dois pontos: primeiro por ser uma
releitura dos momentos cruciais da neovanguarda artística que, para o leitor
brasileiro, a meu ver, ganha mais interesse quando possibilita pensar o legado
da arte pop e sua relação com diversas formas do realismo. Segundo, pelas
referências teóricas que abrem uma discussão de fundamento sobre a própria
noção de “história” implícita nas práticas atuais da história de arte. Esses dois
pontos são intimamente interligados à ambição geral de superar a abordagem
estéril da história da arte tradicional e adquirir uma compreensão holística das
principais tendências da cultura e das artes ocidentais do século XX em sua
sensível ressonância com as teorias críticas das humanidades.
Para Hal Foster é esse desafio de entender a coexistência simultânea dos dois
modos de representação que aparece na obra de Andy Warhol, claramente
visível na série “Death and Disaster”. Construída sobre a repetição de imagens
chocantes da imprensa, por exemplo de acidentes de trânsito ou de cenas de
linchamentos, a série de Warhol produz o impacto do que Foster denomina
“realismo traumático”. Aqui, o realismo já não é o efeito da representação, mas
um “evento de trauma”, uma imagem da violência social e política marcada
afetivamente pelo limite do que pode e não pode ser representado. É uma
imagem que se torna um índice e um arquivo dessa mesma impossibilidade e
insinua uma referencialidade superior, explicando a centralidade do arquivo e
da antropologia nos movimentos artísticos dos anos 80 e 90.
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Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/resenha-de-retorno-do-real-536940.html