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2º Questionário de Processo Penal II

Letícia Marcele do Nascimento Melo

1º Considerando a voluntariedade recursal, o que seria o chamado


recurso de oficio?

Dentre os princípios em matéria recursal no processo penal, o princípio


da voluntariedade dos recursos está consagrado expressamente no
artigo 574 do Código de Processo Penal. Expresso também está o chamado
recurso de ofício, uma exceção ao referido princípio.
São hipóteses de cabimento do recurso de ofício:
a) Sentença concessiva de habeas corpus .
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se
os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de
ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;

b) Decisão concessiva de reabilitação.

Art. 746. Da decisão que conceder a reabilitação haverá


recurso de ofício.
c) Arquivamento de inquérito ou absolvição em crimes
contra a economia popular ou contra a saúde pública.

Lei nº 1.521/1951, Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício


sempre que absolverem os acusados em processo por
crime contra a economia popular ou contra a saúde
pública, ou quando determinarem o arquivamento dos
autos do respectivo inquérito policial.
OBS: Com a Lei 11.689/2008, considera-se revogado tacitamente o
art. 574, II, CPP, pois incompatível com a nova absolvição sumária no tribunal
do júri. Assim, na hipótese de absolvição sumária no tribunal do júri, não é
mais cabível o recurso de ofício.
Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de
absolvição sumária caberá apelação. (Redação dada
pela Lei nº 11.689, de 2008)

2º O pai da vítima pode apelar numa sentença absolutória?


O pai da vítima pode apelar em uma sentença absolutória, quando o
Ministério Público não se manifestar dentro do prazo legal. clara é a redação
do artigo 598 do CPP, ao dispor que a vítima, “ainda que não se tenha
habilitado como assistente, poderá interpor apelação”.
Ou seja, para a interposição da apelação subsidiária, na qual a vítima
(no caso seu sucessor, na forma do art. 31 do CPP) passa a figurar como
PARTE, o que somente é possível diante do trânsito em julgado para o
Ministério Público, é completamente desnecessária a habilitação da mesma na
qualidade de assistente, o que apenas conferiria à “vítima habilitada” o direito
de ser intimada dos atos processuais e deles participar, na forma do art. 271 do
CPP.

Portanto, possuindo a vítima (no caso o seu sucessor) legitimidade


extraordinária para o recurso, o que lhe é conferido em face do decurso do
prazo do MP sem que este houvesse recorrido, não há que se falar na
exigência de sua habilitação como assistente como requisito para a apelação,
mesmo porque não poderia a mesma ser, ao mesmo tempo, parte e assistente
no mesmo processo.

Ressalte-se, inclusive, que a figura do assistente de acusação


pressupõe a existência de um processo em curso, de iniciativa do Ministério
Público, no qual o mesmo não tenha quedado inerte, daí exatamente a
nomenclatura “assistente de acusação”.

Da mesma forma que não se pode sustentar a existência de um


assistente de acusação em momento anterior à propositura da ação por parte
do Ministério Público, também não se pode sustentar tal hipótese depois de
encerrado o feito para este, o que ocorre em tese, com a preclusão, para este,
do prazo recursal.

3º A tempestividade é aferida considerando a data da interposição, da


apresentação das razões ou de ambas?

O prazo para interposição da apelação é de cinco dias (art. 593 do


CPP), ao passo que a apresentação das razões deve ser feita em oito dias (art.
600, caput). A observância do primeiro prazo para o apelo é do mais absoluto
rigor, pois, não manejado o recurso, opera-se a preclusão temporal, com o
trânsito em julgado da sentença e consequências, portanto, fatais e
peremptórias. Já intempestividade do segundo prazo se traduz em mera
irregularidade, sobretudo porque o art. 601 permite a subida dos autos à
superior instância sem as respectivas razões. Este tem sido o entendimento
tanto do STF quanto do STJ:
“1. Pacificou-se nesta Corte Superior de Justiça e no
Supremo Tribunal Federal o entendimento de que a
apresentação tardia das razões recursais configura
simples irregularidade, que não tem o condão de tornar
intempestivo o apelo oportunamente interposto. 2. No
caso dos autos, conquanto a defesa tenha interposto o
recurso de apelação dentro do prazo legal, verifica-se
que o reclamo não foi conhecido pelo Tribunal de origem
sob o argumento de que as respectivas razões teriam
sido apresentadas extemporaneamente, o que revela a
coação ilegal a que está sendo submetido o paciente,
cuja insurgência deixou de ser examinada em
decorrência de uma mera irregularidade” (HC
358.217/RS, j. 23/08/2016).

4º A apelação é um recurso de fundamentação livre?

Os recursos de fundamentação livre são aqueles para os quais a lei não


fixa qualquer limite, sendo que tudo que foi objeto de sentença pode ser
atacado pelo recurso, seja matéria de fato ou de direito, seja sobre error in
judicando ou error in procedendo. Exemplo clássico desse tipo de recurso é a
apelação.

5º O Ministério Público recorreu da sentença absolutória alegando que a


confissão e uma filmagem do ilícito corroboravam a condenação do réu.
O tribunal provendo a apelação condena o réu com base em depoimentos
testemunhais. Comente a postura do Tribunal.

A própria legislação infraconstitucional prevê a possibilidade de, no


recurso de apelação, o órgão ad quem “proceder a novo interrogatório do
acusado, reinquirir testemunhas ou determinar outras diligências”, consoante o
art. 616, do CPP.
Nos casos em que a pretensão recursal do Ministério Público envolver
nova análise do material fático-probatório em desfavor do réu, a interpretação
constitucionalmente adequada do art. 616 do CPP deve tornar a análise direta
da prova pelo Tribunal ad quem obrigatória e jamais facultativa. Se o juiz
absolveu o réu, baseado na apreciação da prova produzida sob a sua
supervisão, para concluir de forma diversa e desfavorável ao acusado, no
mínimo, o Tribunal de apelação deve analisar as circunstâncias fáticas com o
mesmo grau de cognição empreendido pelo Juízo a quo, sob pena de violação
do devido processo legal.
Portanto, há de se concluir que em regra, no sistema recursal brasileiro,
“o segundo grau de jurisdição tem uma função fiscalizadora e revisora do
julgado, não se destinando a refazer o processo”. Contudo, seria ilógico
permitir que o Tribunal, ao julgar a apelação da acusação, transforme a
sentença absolutória de primeiro grau em acórdão condenatório sem analisar a
prova com o mesmo grau de cognição e sem o respeito aos princípios que
orientam a sua produção no processo penal.
Assim, nos casos de apelação em que a pretensão recursal
do Parquet envolver nova análise da matéria probatória, a Corte ad quem deve
realizar a apreciação do material probatório sob o mesmo grau de cognição do
juízo a quo. A essa conclusão é possível chegar a partir da interpretação do art.
616, do CPP, conforme o art. 5º, inciso LIV, e parágrafo 2º da Constituição da
República de 1988.

6º Camila e Marina foram condenadas. Marna recorreu da sentença. Caso


o Tribunal dê provimento ao recurso, Camila poderá ser beneficiada?
Pelo efeito extensivo permite-se que nas hipóteses de concurso de agentes
(coautoria e participação, conforme o artigo 29 do CP) a decisão favorável a um
dos agentes recorrentes possa ser reaproveitada pelos demais, mesmo que não
tenham recorrido.

Assim, se um dos réus recorre de uma sentença condenatória alegando


que pela sua idade faz jus à prescrição pela metade do tempo e o tribunal a
reconhece, tal fato não se estenderá aos demais, posto que a idade é uma
condição de caráter pessoal. Entretanto, se o recurso fundamenta-se na
atipicidade da conduta, na existência de uma excludente de ilicitude e
culpabilidade, e é acolhido pelo tribunal que absolve o recorrente, tal benefício
estender-se-á aos demais, mesmo que não tenham recorrido, nos termos do
artigo 580 do CPP.
Se a questão for de caráter pessoal, aplica-se somente a ela. Mas se a
questão não for pessoal, aplica-se o efeito suspensivo da decisão.

7º Júlio foi denunciado pela prática do crime de furto. Adveio sentença


absolutória pelo reconhecimento da prescrição. Inconformado, Júlio lhe
procura querendo que o Estado declare que ele não praticou fato e
reconheça sua inocência. Na qualidade de advogado, esclareça se é
possível recorrer.

Posição majoritária na jurisprudência pátria que não se decide, nesse


caso, estando comprovada a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva, o
mérito propriamente dito (se culpado ou inocente). Assim, caso o tribunal ad
quem perceba que houve prescrição, não irá julgar a questão principal e
decretará a extinção da punibilidade. Parece-nos injusta essa posição, uma vez
que, como já sustentamos, é possível que o réu tenha nítido interesse, até
porque as provas estão a seu favor, em ser absolvido, e não que o Estado
declare que perdeu, pelo lapso temporal decorrido, o direito de punir.
Relembremos, novamente, que há julgados considerando ações findas pela
prescrição como antecedente criminal, o que, por si só, justificaria o desejo do
acusado em ver decidido o mérito. O ideal seria o julgamento do mérito pelo
tribunal e, quando negasse provimento, avaliaria a questão da extinção da
punibilidade pela prescrição. Teria o réu exercido seu direito à ampla defesa na
maior extensão possível, que é a obtenção de um julgamento de mérito
propriamente dito.

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