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INTRODUÇÃO

NÃO DEVERIA SER TÃO COMPLICADO

AS PESSOAS COSTUMAM GASTAR MUITO DINHEIRO À PROCURA DE CONSE‑


lhos de especialistas em relacionamentos, sendo que elas mesmas já
sabem o que precisam fazer para ter um bom casamento, ou pelo menos
um casamento melhor. Lembrei-me recentemente desse fato ao ouvir os
votos de casamento que dois jovens declaravam um ao outro, em voz
alta, na frente de toda a sua família e de seus amigos.
Diziam eles, sucessivamente:

Prometo sempre tratá-lo com carinho e respeito.


Prometo ser fiel, sincero e justo.
Prometo ouvir atentamente o que você disser.
Prometo pedir desculpas quando eu estiver errado e reparar
qualquer mal que eu tenha lhe causado.
Prometo limpar e cozinhar para você.
Prometo ser seu parceiro e melhor amigo, nos melhores e nos piores momentos.
Prometo dar o meu melhor ao nosso relacionamento.
E prometo fazer dessas promessas uma prática diária.

De onde você acha que esse casal tirou todas essas promessas? Será
que reviraram os incontáveis livros e blogs de autoajuda com tutoriais

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para um relacionamento bem-sucedido? Será que foram consultar psicó-
logos e conselheiros matrimoniais e ler as últimas pesquisas sobre fracas-
so e sucesso conjugal?
É claro que não. Eles consultaram seus próprios corações, seus
valores, sua experiência de vida e a Regra de Ouro. Quando nos tor-
namos adultos o bastante para escolhermos um parceiro por toda a
vida, nós já observamos diversos outros casamentos e temos uma boa
noção sobre o que torna as coisas piores ou melhores. Sabemos que
geralmente é uma boa ideia tratar a outra pessoa como gostaríamos
de ser tratados.
Se esse casal mantiver suas promessas como uma prática diária
(mesmo com uma grande margem de erro), o casamento deles certa-
mente dará muito certo. Preciso de especialistas para dizer mais?

TUDO BEM, NÃO É TÃO SIMPLES ASSIM

Supondo que o casamento deva apresentar uma razão não exata de 50


por cento, é óbvio que as pessoas não cumprem suas promessas ou
seguem suas melhores intenções, assim como as pessoas não se alimen-
tam de forma saudável mesmo sabendo o que é melhor para elas. Pa-
radoxalmente, é nos relacionamentos mais importantes e duradouros
que nos tornamos menos propícios a mostrar nosso lado mais maduro
e centrado.
A vida real é confusa e complicada. Quando dividimos o mesmo
espaço com outra pessoa, partilhamos as nossas finanças, lidamos com
a sexualidade e com as inúmeras decisões que o dia a dia exige, bem, é
claro que as coisas podem ir mal. Há, também, a bagagem que levamos
conosco de nossa primeira família e todas as questões não resolvidas do
passado, sem falar das dificuldades que se acumulam conforme avança-
mos em nosso ciclo de vida. Se tivermos ou adotarmos um bebê (consi-
dere também acrescentar enteados à história), é ainda mais complicado
porque nada é mais difícil em um casamento do que a adição ou a saída
de um membro da família. Aliás, me surpreende que nem todos os casa-
mentos desmoronem até o primeiro aniversário do bebê.

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A REAÇÃO DE LUTAR OU FUGIR

Quanto mais envelheço, mais humilde eu me torno em relação ao


casamento. Quando a ansiedade cresce o bastante, e dura o tempo
suficiente, até a relação mais madura pode começar a parecer pro-
blemática. Parafraseando a romancista Mary Karr, um casamento
com problemas é qualquer casamento que tenha mais de uma pessoa
envolvida.
Eu sempre lembro aos meus leitores que mesmo os melhores ca-
samentos passam por momentos de muita distância, muita intensidade
e muita dor. Nossa tendência automática a lutar ou fugir é natural, e
o casamento é um para-raios que absorve a ansiedade e a intensidade
de qualquer fonte. Caso você não tenha notado ainda, o estresse estará
sempre conosco.
A vida é simplesmente uma coisa atrás da outra, por isso é normal
que pessoas casadas oscilem entre o conflito (reação de lutar) e a distân-
cia (reação de fugir). E só porque o universo colocou em suas mãos uma
grande quantidade de estresse para você lidar, isso não significa que, en-
quanto você estiver para baixo, ele não vá lhe atingir com mais. Ou seja,
a saúde da sua mãe piora, o seu cachorro morre, o seu filho desiste do
tratamento contra as drogas e o seu marido perde o emprego — tudo no
mesmo ano. A menos que você seja santo ou praticante do zen-budismo,
a intimidade com o seu parceiro pode ser a primeira coisa a sofrer as
consequências.

VOCÊ ESTÁ MOTIVADO PARA TER UM


CASAMENTO MELHOR?

As regras a seguir podem parecer simples, mas é difícil fazer qualquer mu-
dança e especialmente desafiador mantê-la ao longo do tempo. No ca-
samento, assim como acontece com a aprendizagem de uma língua ou
na aquisição de uma rotina de exercícios, nada é mais importante do
que a motivação.
A fim de pôr as regras do casamento em prática, você precisará ter:

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1. Boa vontade e o desejo genuíno de ter um casamento melhor.
2. A capacidade de se concentrar em você mesmo (não com autoculpa,
mas com a habilidade de observar e redirecionar seus próprios pas-
sos, os quais vêm lhe trazendo dor).
3. O desejo de engajar-se em atos corajosos de mudança.
4. A disposição para praticar, praticar e praticar.

Qualquer coisa que valha a pena requer prática, e ter um bom


casamento não é diferente. Você pode praticar ao escolher a felicidade
em vez da necessidade de estar certo ou de sempre vencer pelos argu-
mentos. Pode praticar a descontração, a generosidade e a mente aberta.
Pode praticar um tom de voz decidido, porém sereno. Pode praticar a
iniciativa de apaziguar as coisas, mesmo quando a outra pessoa se com-
portou mal. Pode praticar ter uma posição firme sobre algum assunto
importante, uma posição que não seja negociável sob as pressões de
um relacionamento.
É bom saber as regras, que, inclusive, talvez você prefira pensar ape-
nas como ideias muito boas a considerar. Às vezes, precisamos apenas
nos lembrar do nosso próprio senso comum. Em outros momentos, a
imaginação e o senso incomum são necessários para enxergar um antigo
problema sob um novo ângulo. Então, dê uma olhada nessas sugestões e
veja se você consegue a inspiração para tentar algo novo. Tudo bem co-
meçar com as pequenas ações. Mudanças pequenas e positivas transfor-
mam-se em mudanças maiores e mais generosas. O seu relacionamento
agradece desde já.

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UM

APROXIMANDO A RELAÇÃO

ESQUENTAR A RELAÇÃO? NEM TODO MUNDO REAGE POSITIVAMENTE A ESSA


sugestão, a exemplo de um paciente em terapia que indagou: “Eu devo
me aproximar e fazer pequenas ações para que ela se sinta especial? Ora,
por favor! Passei a maior parte da minha vida tentando ser legal, e eu não
vou fazer isso de novo.”
Ele insistiu em fazer aquilo que achava ser “verdadeiro e espontâ-
neo”, o que, na verdade, acabou sendo o que lhe era familiar: uma vida
no piloto automático, com um casamento em decadência.
Às vezes devemos nos privar deliberadamente do criticismo e da
negatividade e, em vez disso, apostar em virtudes como a gentileza e a
generosidade de espírito. Isso pode parecer inviável quando você é a parte
prejudicada e possui uma longa lista de queixas legítimas. Mas não é im-
possível, é apenas extremamente difícil.
Por que você deveria ser gentil quando seu parceiro se comporta
mal? O objetivo não é jogar os problemas reais para debaixo do tapete.
Em vez disso, a bondade, o respeito e a generosidade de espírito abrem
o caminho para a autenticidade, a verdade e a resolução produtiva dos
problemas. É como a minha amiga e colega de profissão, Marianne Ault-
-Riché, diz: “Apenas quando seu parceiro está sendo o maior idiota é que
você é obrigado a dar o seu melhor.”

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Regra n.1
RESPEITE AS DIFERENÇAS!

O casamento exige um grande respeito pelas diferenças. Um dos meus


cartuns favoritos, feito pela minha amiga Jennifer Berman, mostra um
cachorro e um gato juntos na cama.
O cachorro está com uma expressão mal-humorada enquanto lê um
livro chamado Os cães que amam demais.
O gato diz: “Eu não estou me afastando! Eu sou um gato, droga!”
Eu adoro esse cartum porque o casamento flui melhor quando pelo
menos um dos dois consegue elucidar as diferenças. Claro, em segredo,
todos nós acreditamos que sabemos a verdade sobre o universo e que o
mundo seria um lugar melhor se todos fossem como nós. Eu mesma tenho
esse problema. Mas é um ato de maturidade reconhecer que as diferenças
não significam que uma pessoa está certa e que a outra está errada.
Nós enxergamos a realidade sob diferentes filtros, dependendo da
nossa classe social, da nossa cultura, do nosso gênero, da nossa ordem
de nascimento, da nossa constituição genética e do nosso inigualável his-
tórico familiar. Há vários pontos de vista sobre “a verdade”, assim como
há várias pessoas que compartilham desses pontos de vista. As pessoas
também controlam a ansiedade de maneiras diferentes (sob estresse, ela
procura se aproximar, enquanto ele se distancia, por exemplo).
A intimidade exige que nós não...

1. fiquemos tão apreensivos em relação às diferenças.


2. nos comportemos como se soubéssemos toda a verdade do universo.
3. confundamos proximidade com monotonia.

“Respeitar as diferenças” não significa que devemos aceitar um tra-


tamento degradante ou desleal de nosso parceiro. Quer dizer apenas que
as diferenças não significam necessariamente que uma pessoa esteja certa
e a outra esteja errada. É esforçar-se para continuar emocionalmente li-
gado a um parceiro que possui pensamentos e sentimentos diferentes dos
seus, sem haver a necessidade de convencê-lo ou corrigi-lo.

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Regra n.2
SE ESTIVER ESTRESSADO, NÃO FORCE A BARRA

Se você costuma falar bastante, provavelmente encontrará dificuldades


ao conviver com alguém mais reservado, adepto do “faça-você-mesmo”.
Certamente essa é uma disparidade que faz grande diferença. Talvez você
admirasse o estilo autoconfiante e descolado do seu companheiro quan-
do o conheceu, mas o que inicialmente nos atrai e o que mais tarde se
torna “o problema” muitas vezes acabam sendo a mesma coisa.
Embora se abrir com o seu parceiro seja uma das maneiras de tornar-
-se íntimo, ela não é a única. A psicóloga social Carol Tavris recorda:

Anos atrás, meu marido precisou realizar alguns exames preocupantes e, um


dia antes de ele ir para o hospital, fomos jantar com um de seus melhores
amigos, que havia chegado da Inglaterra para uma visita. Fascinada, eu vi
como a austeridade masculina, juntamente com a discrição dos ingleses, criava
um encontro completamente contrário de como seria um feminino. Eles riam,
contavam anedotas, discutiam sobre filmes, relembravam velhas histórias. Não
mencionaram nem o hospital nem suas preocupações ou o afeto que tinham um
pelo outro. Não era preciso.

Tente compreender o fato de que você e seu parceiro podem ser


opostos no modo como administram a intensidade emocional e sentem-
-se confortáveis. Você terá uma conversa melhor com ele se mantiver
sempre em mente que a conexão no casamento pode assumir diversas
formas e que o amor não é comunicado de apenas um jeito. Ser reser-
vado não significa necessariamente que o seu parceiro está se afastando;
pode ser apenas a maneira como ele gosta de estar no mundo. Tente acei-
tar essa “maneira” em vez de gastar sua energia tentando mudá-la.

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Regra n.3
RESPIRE AGORA, FALE DEPOIS

Expor nossos pensamentos e quem realmente somos é o cerne da intimi-


dade. Todos nós desejamos ter um casamento que seja tão descontraído
e intimista a ponto de podermos compartilhar qualquer coisa sem ter de
pensar muito. Quem quer se prender em uma relação na qual não pode
mostrar quem realmente é? O ditado “seja você mesmo” é um ideal cul-
tural e, felizmente, ninguém está mais qualificado para esse trabalho do
que nós mesmos.
Porém, abrir seus sentimentos e ser “honesto” nem sempre são boas
ideias. Às vezes, em nome da autenticidade e da verdade, nós acabamos
com a possibilidade de comunicação, diminuímos e envergonhamos o
outro e reduzimos as chances de duas pessoas se ouvirem ou até mesmo
de permanecerem em um mesmo ambiente. Podemos falar incessante-
mente de um assunto específico ou focar no aspecto negativo de algo até
chegarmos ao extremo da situação.
Tome decisões sábias e bem pensadas sobre como, quando e o que
dizer ao seu parceiro. Procure não dizer nada enquanto estiver tenso ou
com raiva, quando seu parceiro estiver de mau humor ou quando você
simplesmente não tiver a atenção dele.
No casamento, o tempo e a sensibilidade não são o oposto de ho-
nestidade. Quando as emoções estão à flor da pele, são exatamente o que
tornam a honestidade possível.

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