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A criminalidade e a desigualdade social

Por Karla Sampaio


Especialista em Ciências Penais (PUCRS)

Compreende-se como capitalismo o estado não apenas econômico, de livre mercado,


como também a maneira como as pessoas interagem umas com as outras, sem contar
ainda seus predicados políticos. Por ser ainda um estado cultural das pessoas nele
inseridas, não conseguimos fazer nada a que não esteja atribuído algum tipo de
valoração: tudo gira em torno disso, desde a educação, a arte e a música. Parafraseando
Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia em 1976, “não há almoço de graça”.
Advinda do capitalismo, a desigualdade social surge como um dos seus maiores
problemas.
Sobre o tema, o economista francês Thomas Piketty, a partir dos seus estudos
estatísticos, demonstra com clareza a tendência de concentração de riqueza nas mãos de
poucos, sendo dele a afirmação de que apenas 1% da população mundial detém 50% do
dinheiro do mundo.
Pois bem.
No Brasil, de tempos para cá, estamos ouvindo sobre “redução de pobreza”. Há de se
considerar, entretanto, que assim como aumentou a remuneração da população, também
o consumo obteve números crescentes, do mesmo modo como a riqueza se tornou ainda
mais acastelada nas mãos de poucos. Em outros termos, reduziu-se a pobreza, mas
aumentou-se a desigualdade, que somente poderá ser combatida, segundo Piketty,
através de políticas tributárias sobre grandes fortunas e, sobretudo, em muito mais
educação de qualidade para o aprimoramento dos investimentos.
No Brasil a concentração de renda é muito intensa. O Coeficiente de Gini, usado
mundialmente para expressar a concentração de renda, já atingia 0,50 em 1960. Trinta
anos depois, aumentadas as desigualdades sociais, o Índice de Gini saltou para 0,63,
demonstrando a abissal diferença entre as classes sociais.
Havendo ou não como combater o abismo entre pobres e ricos, o fato é que essa
disparidade econômica acaba tendo reflexos importantes na vida de toda a sociedade.
Não é a toa que os altos índices de criminalidade geralmente vêm associados a essa
diversidade econômica: cresce a desigualdade e cresce a violência.
Do ponto de vista da sociologia, a criminalidade pode ser apartada em violenta e em não
violenta. Não é demais salientar que são fatores de natureza econômica, como a falta de
oportunidades e a desigualdade social, a mola propulsora para o comportamento
criminoso, em especial o violento.
A partir de tal compreensão, é premente a necessidade de redução da criminalidade
violenta no país, em especial por meio de melhores políticas governamentais de
distribuição de renda para todas as classes sociais. Bem se sabe ainda que o crescimento
econômico é muito mais eficaz no combate à pobreza naqueles locais em que a
desigualdade de renda é menor. Demais disso, altas taxas de crescimento econômico e
estável da população ensejam melhores índices de qualidade de vida.

Em resumo, devemos primar por ações e, sobretudo, por investimentos na educação


básica. Somente investimentos em infraestrutura, novas tecnologias e incentivos ao
trabalho ajudarão para incrementar o padrão de vida da população, assim contribuindo
para o desenvolvimento social e reduzindo as taxas de criminalidade.

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