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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3

O PROFESSOR DE BIOLOGIA E DIFICULDADES COM OS CONTEÚDOS DE


ENSINO

Natállia Carrion Teodoro (Pós-Graduação em Educação para Ciência - UNESP/Bauru –


Bolsista CAPES)
Luciana Maria Lunardi Campos (Instituto de Biociências, UNESP/Botucatu)

Resumo: O professor de Biologia é responsável pelo ensino dos conceitos biológicos e


é preciso que ele tenha sólido conhecimento do conteúdo específico e pedagógico. Este
estudo preliminar visou identificar conteúdos que professores de Biologia do ensino
básico apresentam dificuldades para ensinar. Os dados foram coletados por meio de
questionário e foram identificadas dificuldades em diferentes conteúdos, sendo os
fatores dessa dificuldade: a defasagem e a falta de interesse dos alunos, falta de
materiais, complexidade dos conteúdos e defasagem do professor devido à formação
inicial. Os dados apontam para a necessidade de se propor ações na formação inicial e
continuada desses professores, bem como melhorar as condições do trabalho docente,
de maneira a superar essas dificuldades.

Palavras-chave: Ensino de Biologia; Formação de Professores; Conteúdos de Biologia.

Formação de professores para o ensino de Biologia


A ciência permite a compreensão do mundo em que vivemos, propiciando o
surgimento de novas tecnologias que ajudam no desenvolvimento social, político e
econômico de uma nação. Na sociedade contemporânea, no campo da educação, a
ciência e a tecnologia ganham um novo significado na formação do indivíduo. O ensino
de ciências tem por objetivo transmitir os conhecimentos científicos, que permitirão ao
cidadão tomar decisões de interesse individual e coletivo, dentro de uma ética
responsável (KRASILCHIK, 2008).
Nesse contexto, o professor de Biologia é responsável pelo ensino dos conceitos
biológicos que comporão a base científica para que os alunos compreendam o mundo e
possam atuar nele de forma crítica, tomando decisões em benefício individual e
coletivo, no contexto de um quadro ético de responsabilidade, levando em conta o papel
do homem no mundo. Para que esse ensino seja eficaz, o professor deve estar bem
preparado, ter uma formação inicial e continuada de qualidade e sólido conhecimento
do conteúdo específico e do conteúdo pedagógico, também deve mostrar aos seus

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alunos que o conhecimento é construído e que eles fazem parte desse processo,
procurando integrá-los na busca do conhecimento, preparando-os para enfrentar e
resolverem problemas e analisar as conseqüências sociais da ciência e da tecnologia na
sociedade moderna.
Para que essa perspectiva ocorra de uma maneira eficiente em sala de aula, o
professor deve buscar elaborar atividades, situações práticas, problematizações que
desafiem os conhecimentos prévios dos alunos e os estimulem a reorganizar e
desenvolver novas teorias sobre o assunto, fazendo com que os alunos sintam a
necessidade de obter novos conhecimentos, de investigar e encontrar novas soluções. É
importante que o professor perceba seu papel de agente transformador, estimulando e
ajudando os alunos a desenvolverem o pensamento crítico, questionarem e buscarem
soluções para a realidade na qual estão inseridos.
Cabe ao professor questionar e criticar a forma repetitiva, acrítica e dogmática que o
ensino de Biologia vem sendo ministrado, com visões simplistas e superficiais
relacionadas ao senso comum. Essas ideias simplistas podem estar relacionadas ao que
o professor vivenciou ao longo do período em que foi aluno e acabou levando e
inserindo na sua prática docente (DRIVER, et al, 1999).
O modo como os professores ensinam Biologia e suas concepções sobre os
conhecimentos científicos podem influenciar as concepções, atitudes e motivações dos
alunos em relação a aprender Biologia. Os pensamentos, crenças, teorias pessoais e
concepções dos professores influenciam nas suas decisões acerca do currículo e da
prática em sala de aula, bem como podem influenciar a forma como o aluno aprende. A
maneira como o professor aprendeu enquanto aluno, reproduzindo eventos que seu
professor fazia, pode afetar a maneira como seus alunos estão entendendo a matéria
(MIZUKAMI, 2004).
Muitas vezes o professor de Biologia não percebe que algumas deficiências da sua
ação pedagógica, por exemplo, a forma como os conteúdos são trabalhados, interferem
no ensino e na compreensão por parte dos alunos, trazendo problemas para o
desenvolvimento do processo ensino aprendizagem.
Diante dessa problemática é interessante refletir sobre a formação inicial desse
profissional, seu processo de atualização frente aos avanços dos conteúdos, bem como a
situação da educação atual, que interfere diretamente na forma como o professor conduz
sua prática. A formação inicial e também a continuada de qualidade são condições para
que o professor possa desenvolver sua prática pedagógica, com qualidade.

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De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Ciências


Biológicas (Parecer CNE/CES nº 1.301, de 6 de novembro de 2001) o licenciando em
Ciências Biológicas deve ter os conteúdos básicos que englobam os conhecimentos
biológicos das áreas das ciências exatas, da terra e humanas, sendo a evolução o eixo
integrador. Esses conteúdos estão organizados em: Biologia Celular, Molecular e
Evolução; Diversidade Biológica; Ecologia; Fundamentos das Ciências Exatas e da
Terra e Fundamentos Filosóficos e Sociais, além da formação pedagógica com uma
visão geral da educação e dos processos formativos dos educandos (BRASIL, 2001).
Portanto, a formação do professor de Biologia abrange várias áreas do conhecimento
biológico, além dos conteúdos pedagógicos.
Assim, a prática educativa no ensino de Biologia exige uma boa formação
inicial, que inclui tanto um sólido conhecimento do conteúdo biológico, quanto do
conteúdo de cunho pedagógico. O professor deve saber o conteúdo que ensina e precisa
sempre se atualizar sobre ele, pois na área da ciência, o conhecimento é produzido
rápido e constantemente.
Os documentos oficiais, dizem que o professor deve conhecer o processo
histórico no qual um conteúdo está inserido, saber como se deu sua construção para
poder transmiti-lo a outro nível de ensino, para os alunos com outras idades e
experiências. Porém, como se dá esse processo? As universidades estão conseguindo
fornecer uma base de qualidade para que esse professor desempenhe seu papel? O
sistema educativo colabora com esse profissional proporcionando os meios necessários
para que ele se atualize na sua área e aprimore sua formação?
Este não é um trabalho fácil, existem muitas falhas e lacunas nos conhecimentos
dos professores, oriundas não apenas dos cursos de Licenciatura, mas também vindas do
grande avanço do conhecimento nas últimas décadas e da amplitude e diversificação dos
conteúdos (CUNHA e KRASILCHIK, 2000; BONZANINI e BASTOS, 2007).
Na década de 1980, Shulman (1986, p.6) indicou que as pesquisas até então
realizadas não investigavam “como o conteúdo específico de uma área do conhecimento
era transformado a partir do conhecimento que o professor tinha em como ensinar”,
como também não investigavam como formulações particulares do conteúdo se
relacionavam com o que os estudantes passaram a conhecer ou a aprender de forma
equivocada. Pode-se considerar que nas últimas décadas, estas questões tornaram-se
objeto de estudo e a formação do professor ganhou destaque.

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É importante refletir sobre a formação inicial desse profissional, seu processo de


atualização e aprendizagem frente aos avanços dos conteúdos e principalmente como
ocorre sua prática docente, pois muitas vezes ele não percebe que a forma como ele
trabalha os conteúdos, interfere no ensino e na compreensão por parte dos alunos,
consequentemente trazendo uma série de problemas para o desenvolvimento da
aprendizagem.
Portanto, este trabalho busca identificar quais conteúdos de ciências os
professores tem maior dificuldade em ministrar e como eles lidam com essas
dificuldades, revelando articulações com a formação inicial e continuada.
As questões que orientaram este trabalho foram: Quais conteúdos de Biologia o
professor tem mais dificuldade em ministrar, principalmente em relação à teoria? Essa
dificuldade pode estar relacionada com uma formação inicial insuficiente? Como os
professores administram essa dificuldade durante o ensino do conteúdo? Quais outros
fatores podem dificultar esse processo?

Metodologia
Os dados apresentados foram obtidos em um estudo piloto, em abril de 2016,
sendo objeto de análise preliminar que será aprofundada posteriormente em minha
dissertação de mestrado. A pesquisa sustenta-se na abordagem qualitativa, que se
preocupa em responder questões particulares que não podem ser medidas
quantitativamente, como por exemplo, crenças, anseios, valores e atitudes, portanto
trata-se da investigação no mundo dos significados das ações e nas relações humanas
(MINAYO, 1999).
Para a obtenção dos dados foi utilizado um questionário como instrumento de
pesquisa estruturado com base nas questões citadas anteriormente. Os professores que
participaram dessa etapa da pesquisa ministraram aulas de Biologia para o Ensino
Médio da rede estadual e particular do interior de São Paulo durante o ano letivo de
2015.
Os dados obtidos através do questionário foram organizados segundo os
seguintes tópicos: perfil dos professores e as dificuldades dos professores com os
conteúdos de Biologia. Cada um destes aspectos será exposto e discutido a seguir.

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Perfil dos Professores


Foram três professores participantes dessa etapa, identificados como P1, P2 e
P3. P2 e P3 ministram aulas de Ciências e Biologia e P1 somente de Biologia. P1
ministra aulas para o 1°, 2° e 3° ano; P2 para o 1° e 2° ano e P3 somente para o 2° ano
do Ensino Médio. Todos os três professores cursaram Licenciatura em Ciências
Biológicas em uma universidade pública do estado de São Paulo e não possuem curso
de especialização ou pós-graduação.

As Dificuldades dos Professores com o Conteúdo de Biologia


Na primeira etapa do questionário solicitou-se que o respondente assinalasse
num quadro, em que estavam listados os conteúdos de Biologia do Currículo do Estado
de São Paulo, qual tema (ou temas) teve dificuldade para o ensino e justificasse a
resposta. O professor só deveria assinalar o quadro referente ao ano que ele atuou. Com
relação ao 3° ano, somente P1 lecionou nesse ano.
Os resultados obtidos estão apresentados na tabela 1

Tabela 1 – Conteúdos que teve dificuldades para ensinar

Ano Conteúdo Indicações


1° 1° Bimestre - A interdependência da vida – Os seres vivos e suas interações 2
Ano Ciclos biogeoquímicos – deslocamento do carbono, oxigênio e nitrogênio
2° Bimestre - A interdependência da vida – A intervenção humana e os 1
desequilíbrios ambientais
Interferência nos ciclos naturais – efeito estufa, mudanças climáticas, uso de
fertilizantes
Conferências internacionais e compromissos de recuperação de ambientes 1
4° Bimestre – Qualidade de vida das populações humanas – A saúde 1
coletiva e ambiental
Principais doenças no Brasil de acordo com o sexo, renda e idade
2° 1° Bimestre - Identidade dos seres vivos – Organização celular e funções 2
Ano vitais básicas
A organização celular como característica fundamental de todas as formas vivas
A organização e o funcionamento dos tipos básicos de células 2
O papel da membrana na interação entre célula e ambiente – tipos de transporte 1
Processos de obtenção de energia pelos seres vivos – fotossíntese e respiração 1
celular
Mitose, mecanismo básico de reprodução celular 2
Cânceres, mitoses descontroladas 2
Prevenção contra o câncer e tecnologias de seu tratamento 1
2° Bimestre – Transmissão da vida e mecanismos de variabilidade genética 2
– Variabilidade genética e hereditariedade
Reprodução sexuada e processo meiótico
Características hereditárias congênitas e adquiridas 2
Concepções pré-mendelianas e as Leis de Mendel 2
Teoria cromossômica da herança 1
3° Bimestre – DNA – A receita da vida e seu código 1
RNA – a tradução da mensagem

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Código genético e fabricação de proteínas 2


4° Bimestre – DNA – Tecnologias de manipulação 2
Tecnologias de transferência do DNA – enzimas de restrição, vetores e
clonagem molecular
Engenharia genética e produtos geneticamente modificados – alimentos, 1
produtos médico-farmacêuticos, hormônios
3° 2° Bimestre – Diversidade da vida e especificidades dos seres vivos 1
Ano Aspectos da biologia humana
Funções vitais do organismo humano 1
3° Bimestre – Origem e evolução da vida – Hipóteses e teorias 1
Hipóteses sobre a origem da vida
Vida primitiva 1
As ideias evolucionistas de Darwin e Lamarck 1
Mecanismos da evolução das espécies – mutação, recombinação gênica e 1
seleção natural
Fatores que interferem na constituição genética das populações – migração, 1
seleção e deriva genética

Com relação ao 1° ano do Ensino Médio, os conteúdos que os professores mais


têm dificuldade são: Ciclos biogeoquímicos, Interferência nos ciclos naturais,
Conferências internacionais, Principais doenças no Brasil e Doenças infectocontagiosas.
A justificativa de P1 foi: “Os alunos têm maiores dificuldades em compreender os
ciclos biogeoquímicos geralmente porque não tiveram uma base muito boa no ensino
fundamental. A maioria do conhecimento que possuem é muito simples e baseada em
esquemas incompletos. Geralmente é necessário introduzir o conteúdo a partir de
outros assuntos como: fotossíntese, respiração, cadeia alimentar e poluição. Outra
dificuldade é em relação às doenças no Brasil. Muitos só compreendem os ciclos dos
parasitas, doenças de acordo com o sexo, doenças devido à falta de nutrientes quando
se coloca o contexto geográfico e social. Assim fica mais fácil relacionar a doença com
a região onde é mais freqüente”.
Já a justificativa de P2 foi: “Ensinar sobre as conferências internacionais é um
pouco difícil, pois envolvem algumas datas e os alunos acabam não se interessando
muito. No caso das doenças, acredito que seja difícil por serem muitas doenças, o que
acaba sendo muita informação para os alunos. E também, esse assunto é um pouco
decorativo, o que gera dificuldade”.
Percebe-se assim, que as dificuldades apresentadas pelo professor P1 estão
relacionadas às defasagens dos alunos. Para ele, sua dificuldade em ensinar
determinados conteúdos de Biologia deve-se à falta de base dos alunos para entender o
conteúdo, precisando entrar em outros temas para poder se chegar ao cerne da questão.

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Já os conteúdos apresentados pelo professor P2 estão relacionados a temas de


pouco interesse para os alunos, assuntos com muitas informações que não permitem que
o aluno decore, por isso o professor tem dificuldade em ensinar.
Com relação ao 2° ano, os conteúdos que apresentam maior dificuldade em
ensinar são os relacionados à Organização celular e suas funções e Genética (DNA,
RNA, Características hereditárias, Código Genético, Tecnologias de transferência do
DNA. A justificativa de P1 é que “Todo conteúdo que envolve processos metabólicos
que ocorrem no interior da célula é de difícil entendimento. A maior dificuldade está na
confecção de esquemas. Os alunos não gostam de ter que usar a imaginação pra
entender o que acontece, preferem visualizar o processo em funcionamento, de
preferência com vídeos”.
Já P2 “Acredito que tudo que é molecular, como mitose, genética e DNA, para
mim, é mais difícil de ensinar, porque é um assunto que acaba tornando-se um pouco
abstrato para os alunos, uma vez que eles não conseguem visualizar o processo.
Quando a escola tem estrutura para aulas de laboratório, ensinar esse tipo de conteúdo
fica mais fácil”.
Para P3 “Esses temas são muito abstratos para os alunos, então no início da
discussão foi difícil o interesse deles, mas com a utilização de pôsteres e associação
com o cotidiano ficou mais fácil. Quanto a dificuldade de conceitos, por minha parte, é
que aprendemos termos tão específicos na graduação que quando passamos o tema da
biologia celular, tive que estudar os conceitos básicos e como transmitir isso ao aluno”.
Percebe-se assim que todos os professores acham esses temas muito abstratos e
por isso tem dificuldade em ensinar para os alunos, uma vez que é difícil imaginar os
processos acontecendo. Assim, acabam recorrendo a outras estratégias para conseguir
ensinar o conteúdo: esquemas, pôsteres, associação com o cotidiano. Segundo
Bonzanini e Bastos (2007, p.6) o professor desempenha um importante papel na escolha
das estratégias de ensino que valorizem a aprendizagem significativa dos seus alunos. Dessa
forma, “é de extrema relevância que o educador direcione essas estratégias de forma a
promover a efetivação dos objetivos propostos”.
Os professores P1 e P2 indicaram que a dificuldade é proveniente do conteúdo,
devido sua complexidade e abstração, porém o professor P3 indicou que sua defasagem
em relação aos conceitos se deve a sua formação inicial, uma vez que foram focados
temas tão específicos que os conceitos básicos acabaram ficando defasados, precisando
que ele estudasse esses conceitos de modo a transmitir aos alunos.

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Para Marcelo (2009, p. 118) “O conhecimento que os professores possuem do


conteúdo a ensinar também influi no que e no como ensinar”. É fundamental que o
professor tenha conhecimento sobre a matéria que ensina, se ele não possui os
conhecimentos adequados sobre o conteúdo, ele pode apresentar de modo errado ao aluno
dificultando assim a compreensão.
Os conteúdos que P1 teve dificuldade em ensinar no 3° ano se referem aos
Aspectos da Biologia Humana e as Funções vitais do organismo humano, além de todo
o bloco de Origem e evolução da vida. Sua justificativa é de que os “Aspectos da
biologia humana são complicados devido aos mesmos problemas que ocorrem com
processos metabólicos celulares, faltam esquemas completos e que se relacionam. Em
relação às teorias de evolução as maiores dúvidas se concentram em entender os
fatores de seleção, porque para entenderem como acontece a evolução precisam
entender as mutações e processos intracelulares, que já é dificuldade outro conteúdo”.
P1 aponta como dificuldade a própria complexidade do tema que muitas vezes
precisa do domínio de outro conteúdo para poder entender o tema proposto.

Os fatores relacionados às causas foram organizados em categorias, apresentadas


na Tabela 2.

Tabela 2 – Fatores relacionados às dificuldades

Categorias N° de indicações P
Aluno Motivação 2 P2, P3
Dificuldade de abstração 2 P1, P2
Conteúdo Conhecimento prévio 1 P1
Conteúdo abstrato 3 P1, P2, P3
Conteúdo decorativo 1 P2
Formação inicial Formação inicial 1 P3
Estrutura Falta de materiais 2 P2, P3

As respostas obtidas no questionário piloto permitiram perceber que, para os


professores, algumas dificuldades relacionadas ao ensino de Biologia, se devem ao
conteúdo, sua complexidade, as muitas informações que se relacionam para entender o
tema, além da abstração que envolve determinados conceitos. As dificuldades também
se relacionam com o aluno, o seu interesse ou não pelo tema e sua dificuldade em
imaginar certos conceitos. Dois professores relacionaram a dificuldade com a falta de

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estrutura, de matérias para ensinar determinados temas. Apenas um professor, P3,


indicou que sua dificuldade se relacionava à sua formação inicial.
Diante desses dados, principalmente os relacionados ao conteúdo de Genética,
Bonzanini e Bastos (2007, p. 2) apontam que “o ensino de genética teria como função
fornecer subsídios a fim de que os alunos possam compreender a natureza da pesquisa em
genética, evidenciando não a melhor opção ou a decisão mais acertada e sim as implicações
de cada escolha realizando julgamentos conscientemente de acordo com seus valores”.
Face ao identificado, pode-se propor várias questões: Como está sendo ensinado
esse assunto para o professor enquanto aluno de graduação? Os professores de Biologia
estariam preparados para lidar com a complexidade desses temas abordando-os de
forma clara? Que recursos ele precisa para apoiar sua prática? Que estratégias eles
utilizam para superar essa dificuldade? Quais as necessidades pedagógicas dos
professores frente os avanços científicos em genética, biologia celular e molecular? A
formação continuada fornece subsídios adequados para que o professor supere essa
dificuldade?

Considerações Finais
Os dados apresentados no presente trabalho são preliminares e correspondem à
etapa piloto de um projeto de mestrado, cujo objetivo principal é o de identificar quais
conteúdos de biologia os professores têm maior dificuldade em ministrar e como
enfrentam essas dificuldades, revelando articulações com a formação inicial e
continuada.
No decorrer da pesquisa de mestrado, serão aprofundados aspectos da formação
inicial do professor de Biologia, as estratégias utilizadas para superar dificuldades
encontradas e a relação entre essas dificuldades e a prática docente. Após a utilização do
questionário, será realizada entrevista com os professores.
Os resultados da análise dos questionários realizados com três professores
formados no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de uma universidade pública
mostraram que esses profissionais identificam as causas de sua dificuldade em ministrar
determinados conteúdos. A maioria delas se relaciona com o conteúdo, sua
complexidade e quantidade de informações, o que dificulta transmitir para o aluno.
Também relaciona-se diretamente com o aluno, sua defasagem no ensino fundamental
II, a falta de interesse, a capacidade de abstrair certos temas mais complexos. Apenas

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um professor as relacionou com a sua formação inicial. A análise dos dados também
permitiu a identificação de algumas alterações necessárias no questionário.
Os dados apresentados, ainda que limitados, parecem apoiar pesquisas
significativas que apontam fragilidades nos cursos de formação de professores, uma vez
que mostram uma divergência entre a formação e a prática escolar, ou seja, o que está
sendo ensinado nos cursos de formação pode não estar subsidiando de forma efetiva e
adequada o trabalho dos docentes no ensino fundamental e médio e também apontam
para a necessidade de investimento em cursos de formação continuada para professores
de Biologia que ajudem a sanar as dificuldades e permita que esses docentes se
mantenham atualizados frente o avanço da ciência e consigam ensinar esse
conhecimento na sala de aula de forma clara que propicie uma aprendizagem efetiva dos
alunos.
De acordo com Menezes (1996, p. 152) a primeira necessidade formativa do
professor é conhecer a matéria a ser ensinada e “mesmo naqueles casos que houve
formação inicial, é necessário completá-la, rompendo com a visão habitual de “conhecer
a matéria a ensinar””. Além dos conteúdos fundamentais da Ciência, o professor precisa
conhecer a História da Ciência, as estratégias do trabalho científico, as interações entre
Ciência/Tecnologia/Sociedade, conhecer as relações com as outras disciplinas e saber
selecionar os conteúdos adequados.
A formação do professor não se encerra com a obtenção do título, mas é um
processo a longo prazo de constante atualização, pois é um processo complexo que
exige muitos conhecimentos e habilidades que vão sendo adquiridos ao longo do
desenvolvimento e atualização da prática docente.
Assim, é preciso que os docentes possuam possibilidades de formação e
atualização permanente, diversificada e de qualidade. Uma política adequada de
formação tanto inicial quando permanente, que leve em conta as pesquisas educacionais
e supere o reducionismo que contempla somente a preparação científica e uma
superficial qualificação pedagógica (MENEZES, 1996).
Pesquisas têm mostrado uma preocupação com a formação continuada dos
professores (CUNHA e KRASILCHIK, 2000; BONZANINI e BASTOS, 2007; DINIZ,
CAMPOS, SILVA e ESTEVES, 2005; SANTOS, SANTOS, JUNIOR, SOUZA e
FARIA, 2013; DINIZ, CAMPOS e KÜLH, 2004), propondo ações de formação de
qualidade que possam investigar coletivamente os problemas de ensino-aprendizagem
encontrados durante o exercício da profissão, atendendo as demandas da prática

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pedagógica e traduzindo-se em mudanças efetivas na sala de aula, além da participação


ativa dos professores nos cursos de formação, permitindo uma melhor análise de como
está ocorrendo o ensino, suas dificuldades e facilidades, bem como propostas para
melhorias, principalmente em relação ao ensino dos conteúdos.
Os resultados apresentados, ainda que preliminares, reforçam a necessidade de
pesquisas que delimitem claramente as principais dificuldades dos professores em
relação aos conteúdos e seus fatores determinantes e que contribuam para a elaboração
de propostas de formação inicial e continuada que possam auxiliar na superação das
mesmas.

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