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Educação em Direitos Humanos e Promoção da

Igualdade Racial

Paulo Vinicius Baptista da Silva


Universidade Federal do Paraná
Débora Cristina de Araújo
Universidade Federal do Paraná

Resumo

Esse artigo se propõe a discutir possíveis formas de articulação da Educação em


Direitos Humanos no Brasil com políticas de promoção de igualdade étnico-racial.
Para tal, discute pontos específicos do PNEDH, articulando com outras normativas
importantes, em alguns casos o PNDH em suas diferentes versões, em outros com
normativas específicas de promoção de igualdade racial, como o artigo 26A da LDB
e a Carta de Durban. Conclui pela implantação de uma educação aberta para o diálogo
constante sobre e com as diferenças e exercitando o diálogo permanente com movi-
mentos sociais.

Palavras-chave: Educação em direitos humanos. Racismo. Relações étnico-raciais.

Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 17, n. 34, p. 483-505, set./dez. 2011. 483
Human rights education and the promotion
of racial equality

The aim of this article is to discuss possible ways of articulation between human rights
education in Brazil and policies to promote ethnic and racial equality. To this end, we discuss
specific points of the National Program on Human Rights Education (PNEDH), linking it with
other major policies and some specific regulations for the promotion of racial equality, such
as the article 26 of the Brazilian Education Act (LDB) and the Letter from Durban. The article
concludes in support of the implementation of an education open to constant discussion
about differences and in permanent dialogue with social movements.

Keywords: Human rights education. Racism. Ethnic relations.

Educación en Derechos Humanos y la promoción


de la igualdad racial

Este artículo tiene como objetivo discutir posibles formas de articular la educación en
derechos humanos en Brasil con políticas de promoción de la igualdad étnica y racial.
Con este fin, se discute el Programa Nacional de Educación en Derechos Humanos
(PNEDH) y su vinculación con el Programa Nacional de Derechos Humanos (PNDH) así
como con algunas de las normas específicas para la promoción de la igualdad racial.
Se llega a la conclusión sobre la necesidad de una educación abierta al diálogo sobre
y con las diferencias, como también el ejercicio de un diálogo permanente con los
movimientos sociales.

Palabras clave: Educación en derechos humanos. Racismo. Relaciones étnico-raciales.

484 SILVA; ARAÚJO. Educação em Direitos Humanos...


Educação em Direitos Humanos e Promoção de Igualdade Racial

Esse artigo se propõe a discutir possíveis formas de articulação da Educação em


Direitos Humanos no Brasil com políticas de promoção de igualdade racial. Partimos
de uma reflexão sobre o conceito de raça, que teve no racismo, dito científico, uma atri-
buição biologizante, mas que contemporaneamente prescinde da biologia cada vez
mais. Ainda que não tendo fundamento biológico, raça tem operado socialmente
estabelecendo hierarquias e espaços sociais para determinados grupos de pessoas.
Consideramos que a plena existência de raça como construção social relaciona-se a
um processo que denominamos de ‘racialização’: a partir de características reais ou
imputadas a um grupo social esse tem, sistematicamente, acesso negado ou dificultado
a bens materiais ou simbólicos.
O processo denominado racialização implica que, ao ser tratado como inferior, o
grupo social racializado passa a ter o acesso a bens e materiais simbólicos privados
ou dificultados fazendo com que raça, mesmo não existindo como diferença biológica,
exista do ponto de vista social. Ou seja, ao se tratar sistematicamente determinados
grupos sociais como inferiores, as raças tornam-se plenas de existência social. Reco-
nhecemos que o racismo é um fenômeno que ocorre em diferentes contextos, sendo
sempre aviltante e inaceitável. São diversos os exemplos de países, na contemporanei-
dade ou não, em que a racialização manifesta-se em distintos contextos sociais e
muitas vezes prescinde da aparência. Por exemplo, os italianos foram racializados na
Suíça no século XIX, tendo acesso negado a bens materiais e simbólicos e sendo
considerados pelos suíços como “porcos/sujos” e “burros/débeis mentais”, figurando
em uma série de canções populares e piadas com tais sentidos estigmatizantes (Johler,
1996), em um processo social que determinou uma inserção “marginal” dos italianos
na sociedade suíça e impediu a integração e mobilidade social desse grupo.
As ideias racistas, mesmo após as críticas ao racismo científico posteriores ao
holocausto da segunda guerra mundial, continuaram atuantes a ponto de pesquisado-
res de países em continentes diversos (por exemplo, Harris, 1999; Morrison, 2002 nos
EUA; Wieviorka, 2000, na Europa; Coetzee, 1999, na África do Sul; Ramos, 1954; Fernandes,
1964; Nascimento, 2002; Munanga, 2004, no Brasil) apontarem não somente a perma-
nência de tais ideias como também sua forte atuação social, em diferentes contextos,
para classificar e inferiorizar determinados grupos sociais. Portanto, torna-se corrente
o uso do termo racialização para falar de tais processos de transformação de grupos
sociais específicos em raças. Caso observemos as análises do novo racismo na Europa
iremos encontrar uma tendência à racialização mais acentuada de grupos específicos
em países específicos (turcos e seus descendentes na Alemanha; romenos na Áustria;

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albaneses na Itália; marroquinos na Espanha), aliada a uma tendência geral de
racializar imigrantes de países de fora da comunidade europeia que não gozem de alto
prestígio internacional. Estadunidenses, canadenses e suíços, por exemplo, não são
racializados e não entram na categoria racial “extracomunitário” utilizada na Itália
contemporânea (Dal Lago, 1999).
Alguns exemplos foram tomados somente como ilustração de que o racismo e a
racialização são fenômenos mundiais, mas passemos ao contexto brasileiro. Quais
grupos têm sistematicamente tratamento inferiorizante, cujo acesso a bens sociais e
pessoais é dificultado ou impedido no Brasil? Perguntando de outra forma, quais
grupos são racializados no país?
Analisando os diversos documentos relacionados aos Direitos Humanos no Brasil
teremos a resposta. Por exemplo, nas três versões do Programa Nacional de Direitos
Humanos (Brasil, 1996; 2002a; 2010) observam-se nas propostas de ações governa-
mentais uma série de itens relativos à população negra, a sociedades indígenas e a
ciganos. Negros/as, indígenas e ciganos/as são, portanto, os grupos que têm sistemati-
camente acesso negado a bens materiais e simbólicos no Brasil, a ponto de necessita-
rem de amparo específico na legislação e propostas de ações relativas aos direitos
humanos. Interpretamos que essas manifestações em tais documentos nos dão a res-
posta: são estes os grupos que em diversos contextos recebem tratamento diferenciado
baseado em suposto pertencimento a raças. São, conforme o conceito apresentado, os
grupos racializados no país.
No que se refere à racialização de negros/as no Brasil contemporâneo, foco mais
direto deste texto, assumimos a hipótese de que esse processo relaciona-se a um
fenômeno mais amplo de racialização que, ao mesmo tempo em que se expressa com
particularidades (o racismo à brasileira), vai muito além das fronteiras tupiniquins e
tem raízes históricas profundas. Na contemporaneidade, expressa-se de forma indubi-
tável na Europa, nas Américas e Caribe e na própria África. Ou seja, o racismo, outrora
considerado científico, é desacreditado na ciência, mas continua orientando o imaginário
ocidental de forma perseverante, em especial as ideias de racionalidade como caracte-
rística típica europeia, e de sua ausência, que alimenta as ideias de primitivo, incivilizado,
rude/rudimentar, corpo e sensação.
As desigualdades no acesso a bens materiais e a bens simbólicos relacionam-se
(de forma assíncrona, não-linear) com tais hierarquias raciais e se expressam na
educação escolar pelo etnocentrismo e pela organização curricular numa lógica euro-
cêntrica. No plano das políticas curriculares, este imaginário racialmente hierarquizado
tem sido objeto de análise e críticas. Na perspectiva de estudo das políticas educacio-
nais, à qual este artigo se articula, adotamos a opção de examinar a educação em seus

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contextos históricos e como parte do tecido social e político, focalizando os processos
culturais pelos quais determinados discursos mantêm-se hegemônicos (Apple, 1996,
2001; Giroux, 1999; Mclaren, 1997). O currículo é compreendido como parte de uma
tradição seletiva que, por sua vez, compondo a política cultural da educação, considera
objetivos econômicos e valores; papel do estado; política cultural e de diferença e
identidade; visões de gênero, raça e relações de classe (Apple, 2001). Como expressão
de seleções de conteúdos determinadas, os currículos muitas vezes operam numa
lógica colonial. Mudanças curriculares no sentido de inserir outros discursos para o
centro do trabalho pedagógico operariam numa lógica de descolonização dos currículos.
Apresentadas tais informações conceituais, passamos a um duplo exercício. Discuti-
remos pontos específicos do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH)
articulados com outras normativas importantes, em alguns casos o Programa Nacional
de Direitos Humanos (PNDH) em suas diferentes versões, em outros com normativas
específicas de promoção de igualdade racial, trazendo para discussão aspectos
relacionados aos grupos racializados, com foco na população negra e particularmente
suas relações com a Educação. Conforme a apresentação do Plano,

Ao mesmo tempo em que aprofunda questões do Programa Nacional de Direitos


Humanos, o PNEDH incorpora aspectos dos principais documentos internacionais de
direitos humanos dos quais o Brasil é signatário, agregando demandas antigas e
contemporâneas de nossa sociedade pela efetivação da democracia, do desenvol-
vimento, da justiça social e pela construção de uma cultura de paz. (Brasil, 2006, p. 9).

Em função das limitações deste artigo não serão apresentados de forma pormeno-
rizada os aspectos específicos de documentos internacionais relativos à promoção de
igualdade racial e combate ao racismo dos quais o país é signatário. Alguns pontos de
documentos específicos serão apresentados e discutidos, em especial da Carta de
Durban, ao passo que outros somente citados ou apontados1.

1. Para mais informações, ver, por exemplo: Piovesan (2005) e o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010), disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm>. Acesso em: 25/08/2011.

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PNEDH e relações étnico-raciais2

No PNEDH observa-se uma primeira alusão às relações étnico-raciais em parte da


Introdução:

Esse traço conjuntural resulta da conjugação de uma série de fatores, entre os quais
cabe destacar: [...] c) a adoção do princípio de empoderamento em benefício de
categorias historicamente vulneráveis (mulheres, negros(as), povos indígenas,
idosos(as), pessoas com deficiência, grupos raciais e étnicos, gays, lésbicas, bissexuais,
travestis e transexuais, entre outros). (Brasil, 2006, p. 15)

Que significa esse princípio de empoderamento de grupos étnico-raciais vulnerá-


veis? Para a escola tem significado duplo: 1) inserir no currículo conteúdos e formas
de valorização da população negra, indígena e cigana; 2) nesse processo, priorizar a
dialogicidade com os movimentos sociais e culturais que têm trajetórias específicas
de defesa de direitos e lutas por emancipação.
O primeiro ponto está explicitado em outra parte do PNEDH, que será tratada a
seguir. No segundo ponto temos a busca de diálogo com movimentos sociais que pode
ser realizada de formas diversas. Uma primeira alternativa é o diálogo direto: existem
organizações de movimento social negro, de movimento indígena ou associações de
ciganos na comunidade onde está a escola? Caso sim, o diálogo pode ser efetivado de
formas diversas, considerando as particularidades da escola e dos/as alunos/as, níveis
e modalidades de ensino. A participação em eventos e datas comemorativas pode ser
uma estratégia, mas uma relação de diálogo deve ir além de conversas pontuais em
eventos comemorativos. Entrevistas realizadas por alunos/as, estudo de documentos
das organizações, grupos de discussão sobre os temas abordados pelos movimentos
sociais, por exemplo, são formas de manter o trabalho para além das datas específicas.
O intuito é que o conhecimento acumulado, as propostas e reivindicações dos movi-
mentos sociais sejam tratados como conteúdos escolares de alta relevância. Além dos
movimentos sociais, os grupos de cultura também podem ser o ponto de apoio e diálogo
para o trabalho. O empoderamento, nesses casos, significa que a escola poderá articular-
-se aos grupos e oferecer espaço de trabalho conjunto. A escola pode dar continuidade
pelo trabalho com conteúdos relativos a tais manifestações. Os resultados serão em
dois sentidos: valorização dos movimentos sociais e valorização da diversidade étnico-
racial na escola, ponto também expresso no PNEDH. Citando o Programa Mundial de
Educação em Direitos Humanos (PMEDH), observam-se aproximações com a mesma

2. Uma versão anterior deste tópico também foi publicada em Silva (2010).

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temática no que se refere aos objetivos balizadores: “[...] c) fomentar o entendimento,
a tolerância, a igualdade de gênero e a amizade entre as nações, os povos indígenas e
grupos raciais, nacionais, étnicos, religiosos e linguísticos” (Brasil, 2006, p. 17).
No trecho em questão apontamos uma perspectiva que consideramos restrita, pelo
uso do conceito de tolerância (que se repete por diversas outras partes do documento).
O termo tem sentido de aturar, e não de reciprocidade, e ao definir que se deve ser tolerante
define um outro, define uma hierarquia e raciliza esse outro. Por outro lado, o mesmo
trecho afirma o necessário fomento à igualdade e à amizade entre os grupos raciais.
No que se refere à Educação Básica, o PNEDH destaca que:

São princípios norteadores da educação em direitos humanos na educação básica: [...]


d) a educação em direitos humanos deve estruturar-se na diversidade cultural e
ambiental, garantindo a cidadania, o acesso ao ensino, permanência e conclusão, a
equidade (étnico-racial, religiosa, cultural, territorial, físico-individual, geracional, de
gênero, de orientação sexual, de opção política, de nacionalidade, dentre outras) e a
qualidade da educação [...]. (Brasil, 2006, p. 23-24).

Nesse sentido, são vários aspectos complexos: 1) o exercício do respeito às dife-


renças étnico-raciais; 2) a estruturação da Educação na diversidade cultural; 3) o esta-
belecimento de equidade étnico-racial. Sobre o primeiro ponto necessário se faz
conhecer apropriadamente o contexto das relações raciais no Brasil e algumas
particularidades no que se refere às populações negra, indígena e cigana. O Brasil é
um país que apresenta grande complexidade em abordagem da temática racial em
função de como o processo de racialização ocorreu. O racismo à brasileira organiza-
se como um racismo repleto de ambiguidades, que se afirma na sua negação. Em
outras palavras: uma estratégia de dominação racial que foi hegemônica no Brasil era
a afirmação de que não existiria racismo no país. Esse conjunto de ideias ficou conhecido
como mito da democracia racial, concepção de uma suposta convivência harmoniosa
entre os grupos raciais. E tal concepção continua recorrente nos dias de hoje em diversos
espaços e contextos. Numa situação de convivência, quando alguma questão racial se
coloca, a complexa ética das relações raciais no Brasil nos ensina que é melhor não
tocar no assunto. A lógica seria: já que o racismo não existe no Brasil, melhor não
mencioná-lo sob pena de fomentar um fenômeno social que não atinge a sociedade
brasileira. Portanto, na negação e no silêncio o racismo brasileiro afirma-se. Assim,
ao romper o silêncio promove-se um movimento contrário: de explicitação por meio
do debate crítico sobre o racismo e sua possível superação.
O segundo ponto abordado, a estruturação da Educação na diversidade cultural,
relaciona-se com as proposições de adotar uma proposta curricular calcada no multi-

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culturalismo crítico (Giroux, 1999). O termo diversidade tem usos muito distintos e
muitas vezes é compreendido de forma a mascarar desigualdades raciais e sociais.
Numa acepção crítica, a proposição é que a diversidade é meta de reconfiguração de
distribuição de poder numa sociedade estruturalmente desigual. Outro aspecto da
citação do PNEDH relaciona-se com proposições de ações programáticas para a
Educação Básica, em específico a proposta de inclusão, no currículo escolar, da temá-
tica relativa à raça e à etnia (Brasil, 2006, p. 24).
Para tanto, a inserção da temática étnico-racial no currículo relaciona-se com o
tratamento na escola como efeito de ações conjuntas e articuladas. E, para realizá-lo,
nos parece significativo o trabalho balizado por outros documentos importantes:
• Lei 10.639/03, posteriormente alterada pela Lei 11.645/08 que modificou o artigo
26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para incluir no currículo
oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena;
• Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Resolução n º 01/04
e Parecer n º 03/04 do Conselho Nacional de Educação – CNE);
• Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
brasileira e Africana (2009).
Tais documentos demandam leitura completa e detalhada, sendo somente alguns
pontos específicos aqui abordados. O Parecer nº 03/04 do CNE afirma que “as formas
de discriminação de qualquer natureza não têm o seu nascedouro na escola, porém o
racismo, as desigualdades e a discriminações correntes na sociedade perpassam por
ali” (Brasil, 2004, p. 9). Como forma de combater o racismo e a discriminação racial,
propõe a “educação das relações étnico-raciais” vinculada com reestruturação curricular:
o ensino de conteúdos sobre os processos de discriminação racial existentes no Brasil;
a busca da superação do etnocentrismo europeu que estrutura as mentalidades; a
articulação com os movimentos sociais, em especial com movimentos negros; o ensino
de História e cultura afro-brasileira e africana. Sobre esse último ponto, o referido
documento afirma que:

[...] a obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos


currículos da Educação Básica trata-se de decisão política, com fortes repercussões
pedagógicas, inclusive na formação de professores. [...] É importante destacar que não
se trata de mudar um foco etnocêntrico marcadamente de raiz europeia por um africano,
mas de ampliar o foco nos currículos escolares para a diversidade cultural, racial, social
e econômica brasileira. Nesta perspectiva, cabe às escolas incluir no contexto dos

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estudos e atividades, que proporciona diariamente, também as contribuições histórico-
culturais dos povos indígenas e dos descendentes de asiáticos, além das de raiz africana
e européia. (Brasil, 2004, p. 13).

O próprio Parecer nº 03/04 CNE, portanto, adianta-se em relação à modificação na


LDB determinada pela Lei 11.645/08 no que se refere ao ensino de conteúdos relativos
às contribuições indígenas para o país. Esse ensino direciona-se na proposição de uma
Educação para o respeito, como previsto no PNEDH, isto é, na direção de romper com
a perspectiva etnocêntrica europeia apontada pelo Parecer nº 03/04 CNE. A proposição
implícita no novo texto do artigo 26-A da LDB é que para todos/as os/as alunos/as
brasileiros/as são necessários conhecimentos mais elaborados e adequados sobre as
culturas e história dos povos indígenas, como também sobre história e cultura afro-
brasileira e africana.
No caso dos povos indígenas, as proposições de políticas educacionais têm buscado
aprofundar o diálogo com as demandas dos seus movimentos organizados propondo
uma política dupla: para o sistema educacional como um todo, estudos mais apropri-
ados e elaborados de História e Cultura Indígena e sua importância para a formação do
Brasil e, para os povos indígenas, uma Educação Escolar Indígena, assim caracterizada:

[...] pela afirmação das identidades étnicas, pela recuperação das memórias históricas,
pela valorização das línguas e conhecimentos dos povos indígenas, pela vital associação
entre escola/sociedade/identidade, e em consonância com os projetos societários
definidos autonomamente por cada povo indígena. O exercício, no dia-a-dia, de professores,
lideranças e seus aliados para a ressignificação da instituição escola – modelada
historicamente pela negação da diversidade sociocultural – em um espaço de construção
de relações interétnicas orientadas para a manutenção da pluralidade cultural, pelo
reconhecimento de diferentes concepções pedagógicas e pela afirmação dos povos
indígenas como sujeitos de direitos, sugeriu as diretrizes político-pedagógicas da inter-
culturalidade, do bilinguismo/multilinguismo, da diferenciação, da especificidade e da
participação comunitária, formando consensos sobre como seria uma educação escolar
protagonizada pelos povos indígenas e associada a seus próprios projetos societários.
(Brasil, 2009a).

Essa definição foi transcrita do documento final da I Conferência de Educação Escolar


Indígena, realizada em 2009, quando ocorreram discussões em 1.836 escolas indígenas
e, em sequência, 18 conferências regionais e a conferência nacional. O acesso à educação
continua como um problema e um processo de distribuição muito desigual de recursos.
Por outro lado, nos anos recentes observa-se um incremento na Educação dos povos
indígenas e o referido documento propõe a criação de um Sistema Próprio de Educação

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Escolar Indígena, definida como tendo ordenamento jurídico específico, sob a coorde-
nação do MEC e “[...] com a garantia do protagonismo dos povos indígenas em todos
os processos” (Brasil, 2009a, p. 4). Essa proposição relaciona-se com uma percepção
que dirige a abordagem do artigo: de que os Direitos Humanos e sua Educação neces-
sitam manter, numa acepção crítica, permanente diálogo com os movimentos sociais
como ponto de partida.
No que se refere ao PNEDH, as propostas estão nas ações programáticas para a
Educação Básica, relativas ao desenvolvimento de políticas públicas de Educação em
Direitos Humanos para povos indígenas, comunidades quilombolas, populações de
áreas rurais e ribeirinhas (Brasil, 2006, p. 25).
No caso da população negra, as proposições para comunidades quilombolas aproximam-
se mais da perspectiva de sistema diferenciado. No documento final da Conferência Nacional
de Educação (CONAE) algumas proposições relativas à Educação Quilombola são:

a) Garantir a elaboração de uma legislação específica para a educação quilombola, com


a participação do movimento negro quilombola, assegurando o direito à preservação de
suas manifestações culturais e à sustentabilidade de seu território tradicional [...] f)
Garantir aos professores/as quilombolas a sua formação em serviço e, quando for o
caso, concomitantemente com a sua própria escolarização. g) Instituir o Plano Nacional
de Educação Quilombola, visando à valorização plena das culturas das comunidades
quilombolas, a afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. h) Assegurar que a
atividade docente nas escolas quilombolas seja exercida preferencialmente por profes-
sores/as oriundos/as das comunidades quilombolas. (Brasil, 2010, p. 131-132).

Embora seja possível identificar relativa movimentação recente e alguns investi-


mentos em políticas públicas de forma articulada com uma relação de diálogo com as
comunidades, as décadas e séculos de descaso e ausência de políticas públicas são
responsáveis por ainda estabelecerem um quadro de omissão do Estado brasileiro no
que se refere à garantia de direitos sociais básicos como o próprio acesso à educação
(Leite, 2008, p. 972).
Outro aspecto a ser abordado no tocante à Educação e Direitos Humanos trata-se
da ampliação do ensino superior como forma de superação de desigualdades tanto
sociais quanto raciais. E no PNEDH verifica-se uma ênfase em elementos que coadunam
com uma proposta de superação de desigualdades:

Concepção e princípios: O Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (ONU,


2005), ao propor a construção de uma cultura universal de direitos humanos por meio
do conhecimento, de habilidades e atitudes, aponta para as instituições de ensino supe-

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rior a nobre tarefa de formação de cidadãos(ãs) hábeis para participar de uma sociedade
livre, democrática e tolerante com as diferenças étnico-racial, religiosa, cultural, terri-
torial, físico-individual, geracional, de gênero, de orientação sexual, de opção política,
de nacionalidade, dentre outras. [...] No ensino, a educação em direitos humanos pode
ser incluída por meio de diferentes modalidades, tais como, disciplinas obrigatórias e
optativas, linhas de pesquisa e áreas de concentração, transversalização no projeto
político-pedagógico, entre outros.
Ações programáticas: [...] 18. Desenvolver políticas estratégicas de ação afirmativa que
possibilitem a inclusão, o acesso e a permanência de pessoas com deficiências, seg-
mentos geracionais e étnico-raciais, de gênero, de orientação sexual e religiosa, dentre
outros nas IES. (Brasil, 2006, p. 27-29).

É possível, portanto, identificar duas questões principais: 1) a formação para a


diversidade, que tem como pilar a Educação em Direitos Humanos a ser ministrada
nas universidades de diferentes formas – pode ser acrescida, também com as diferen-
tes modalidades listadas, a Educação das Relações Étnico-Raciais nas universidades,
em especial nos cursos de formação de professores/as, conforme apontado no Parecer
nº 03/2004–; 2) o desenvolvimento de políticas de ação afirmativa que modifiquem o
perfil de universidade – ainda excludente – para um modelo inclusivo de segmentos
estigmatizados, entre os quais os grupos étnico-raciais.
Esse segundo ponto remete à questão do necessário estabelecimento de igualdade
étnico-racial, nesse caso na educação superior. A universidade brasileira apresentou
uma expansão significativa a partir dos anos 1960, mas de forma muito segregada do
ponto de vista étnico-racial. Em 1960, para a população acima de 25 anos, a diferença
entre brancos/as e negros/as (categorias pretos e pardos do IBGE agrupadas) com
curso superior completo era de 1,3 pontos percentuais, passando a 8,3 pontos em 1999
(Telles, 2003, p. 203).
A demanda por políticas afirmativas no ensino superior inicia-se com a reivindicação
do movimento negro brasileiro sobre reserva de vagas para negros/as em universida-
des e escolas técnicas, que data de 1948 (Quilombo, 1948, p. 3). Nos anos 1980 surgiu
com nova intensidade e o então Deputado Federal Abdias no Nascimento3 apresentou

3. Abdias do Nascimento (1914-2011) teve sua atuação política marcada pela intensa luta contra a discriminação racial
e pela superação das baixas condições socioeconômicas da população negra no Brasil. Como ator, diretor e dramaturgo,
Abdias foi um dos responsáveis por fortalecer a identidade negra nas artes cênicas, bem como desenvolver formação
escolar para negros/as por meio da criação de cursos de alfabetização. Como parlamentar, assumiu uma postura
afirmativa frente às discussões raciais no Brasil e apresentou proposições legais que influenciaram grande parte dos
documentos atuais de promoção da igualdade racial. Também foi artista plástico, professor universitário e um dos maiores
representantes do pan-africanismo no Brasil.

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o Projeto de Lei (PL) 1.332 de 1983, que versava sobre “ações compensatórias” para a
população negra, entre as quais políticas de cotas no ensino superior e mercado de
trabalho. Na Assembleia Constituinte novas propostas foram apresentadas, mas o texto
aprovado da constituição apenas incorporou as cotas para deficientes no mercado de
trabalho. Em 1995 ocorreu uma grande mobilização dos movimentos negros para a
Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, pela cidadania e a vida. O pronuncia-
mento da Presidência da República, ao receber a marcha, reconheceu que o Brasil é
um país no qual a discriminação racial é estrutural e institucional, demandando,
portanto, ações do Estado para combater as desigualdades raciais. A implantação de
políticas afirmativas para negros/as e indígenas passou, a partir do final dos anos 1990,
a ser reivindicada com maior intensidade. Foram importantes nesse processo os diversos
eventos relacionados com a preparação para a III Conferência Mundial das Nações
Unidas contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata
(realizada em Durban, em 2001). Nos eventos preparatórios eclodiram com grande
força as reivindicações de políticas afirmativas como forma de restituir a igualdade de
oportunidades (Silvério, 2001). No relatório do comitê nacional para a preparação da
participação brasileira na III Conferência, uma das propostas anotadas foi a “adoção
de cotas ou outras medidas afirmativas que promovam acesso de negros às universi-
dades públicas” (Brasil, 2001). No PNDH II, aprovado em 2002, a proposta relativa ao
ensino superior ganhou a seguinte redação: “estabelecer mecanismos de promoção
da equidade de acesso ao ensino superior, levando em consideração a necessidade de
que o contingente de alunos universitários reflita a diversidade racial e cultural da
sociedade brasileira” (Brasil, 2002, p. 36).
Também o PNDH III oferece elementos que convergem com o reconhecimento de
políticas afirmativas, como aponta o eixo orientador Universalizar Direitos em um
Contexto de Desigualdades:

O combate à discriminação mostra-se necessário, mas insuficiente enquanto medida


isolada. Os pactos e convenções que integram o sistema internacional de proteção dos
Direitos Humanos apontam para a necessidade de combinar estas medidas com políticas
compensatórias que aceleram a construção da igualdade, como forma capaz de esti-
mular a inclusão de grupos socialmente vulneráveis. Além disso, as ações afirmativas
constituem medidas especiais e temporárias que buscam remediar um passado discri-
minatório. No rol de movimentos e grupos sociais que demandam políticas de inclusão
social encontram-se crianças, adolescentes, mulheres, pessoas idosas, lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transexuais, pessoas com deficiência, povos indígenas, populações
negras e quilombolas, ciganos, ribeirinhos, varzanteiros, pescadores, entre outros.
(Brasil, 2010, p. 53).

494 SILVA; ARAÚJO. Educação em Direitos Humanos...


Após 1995, com a demanda por políticas afirmativas na pauta, a reação de parte da
sociedade civil, por meio de intelectuais e de meios de comunicação de massa, foi
largamente contrária à adoção de formas de discriminação positiva. Mesmo assim, as
posições do Brasil na conferência de Durban, reconhecendo de forma incontestável as
desigualdades raciais no país e se comprometendo a revertê-las por meio de políticas
afirmativas, repercutiu muito favoravelmente no plano internacional e auxiliou a antepor
resistências internas, ainda que atualmente tal debate continue sendo palco de
conflitos. Vários segmentos da administração pública, como os Ministérios da Justiça
e da Reforma Agrária, passaram então a adotar cotas de emprego para negros/as.
Na Declaração e Programa de Ação adotados na III Conferência Mundial de Combate
ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata (Carta de Durban)
destaca-se a proposição a seguir:

99. Reconhece que o combate ao racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância


correlata é responsabilidade primordial dos Estados. Portanto, incentiva os Estados a
desenvolverem e elaborarem planos de ação nacionais para promoverem a diversidade,
igualdade, equidade, justiça social, igualdade de oportunidades e participação para
todos. Através, dentre outras coisas, de ações e de estratégias afirmativas ou positivas;
estes planos devem visar a criação de condições necessárias para a participação efetiva
de todos nas tomadas de decisão e o exercício dos direitos civis, culturais, econômicos,
políticos e sociais em todas as esferas da vida com base na não-discriminação.

No período pós-Durban as propostas de ação afirmativa no ensino superior conse-


guiram avançar com passos importantes, inicialmente em algumas universidades
estaduais. No governo do Estado do Rio de Janeiro as propostas dos movimentos
negros tiveram como interlocutora a então vice-governadora Benedita da Silva. Em
novembro de 2001 o governo desse Estado sancionou uma lei que estabeleceu reserva
de no mínimo 40% de vagas nas universidades estaduais cariocas (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro e Universidade Estadual do Norte Fluminense) para estudantes
negros/as. Em 2002, a Universidade Estadual da Bahia (UNEB) estabeleceu a reserva
de 40% de suas vagas para estudantes negros/as e a Universidade Estadual do Mato
Grosso do Sul (UEMS) aprovou reserva de 10% das vagas para estudantes indígenas (com
um grande programa de permanência e garantia de bolsa para todos os alunos
indígenas) e 20% para estudantes negros/as. Em 2003, pela primeira vez uma univer-
sidade federal, a Universidade de Brasília (UnB), adotou a reserva de 20% de vagas
para alunos/as negros/as e 10 vagas suplementares anuais para estudantes indígenas.
Em novembro do mesmo ano a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) aprovou sistema
de reserva de 20% das vagas para alunos/as negros/as. No ano seguinte, instituíram

Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 17, n. 34, p. 483-505, set./dez. 2011. 495
novos programas de reservas de vagas a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a
Universidade Federal do Paraná (UFPR). A UFBA instituiu reserva de 43% das vagas
para estudantes oriundos/as da escola pública, das quais 85% são reservadas para
negros/as (aproximadamente 37% do total de vagas), outros 2% são reservados para
índios-descendentes (além disso, cada curso oferece duas vagas para índios/as alde-
ados/as ou quilombolas). A UFPR reserva, na segunda fase do exame vestibular, 20%
de vagas para estudantes de escola pública, 20% para negros/as. Para indígenas, são
10 vagas anuais a serem preenchidas através de processo seletivo específico, segundo
demanda intermediada pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). As avaliações
realizadas até então apresentaram dados bastante positivos no que se refere à inclusão
racial e ao desempenho de estudantes, de forma que mais universidades, por iniciativas
próprias e baseadas na autonomia universitária, passaram a adotar algum tipo de
política afirmativa, chegando a mais de 50 instituições de educação superior (IES) com
algum tipo de acesso diferenciado como forma de política afirmativa.
Na Educação Básica a principal forma de estabelecimento de equidade reivindicada
é a mudança curricular por meio de uma efetiva formação sobre História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, ponto que será desenvolvido com mais detalhamento a seguir.

Sobre o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana4

No Parecer nº 03/04 CNE expressa-se que o ensino de História e Cultura Afro-


Brasileira e Africana realizar-se-á nos diversos níveis (educação infantil, fundamental,
médio e superior) e modalidades (regular, educação de jovens e adultos e educação
especial) de ensino; que as diversas disciplinas devem inserir em seus conteúdos
elementos de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana; que esse ensino abrangerá
o ensino de relações raciais no Brasil por meio

[...] de conceitos e de suas bases teóricas, tais como racismo, discriminações, intolerância,
preconceito, estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multi-
culturalismo; de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáticos, na perspectiva
da reeducação das relações étnico-raciais. (Brasil, 2004).

O processo de formação sobre História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e sobre


Educação das Relações Étnico-Raciais tem alguns marcos que estão sempre em pauta,

4. Uma versão anterior deste tópico também foi publicada em Silva (2010).

496 SILVA; ARAÚJO. Educação em Direitos Humanos...


como já apontado anteriormente. No entanto, a aprovação de tais propostas em insti-
tuições importantes do Brasil contemporâneo tem raízes bastante anteriores. Poderia
ser realizada uma genealogia das proposições que atravessasse as formulações dos
movimentos negros ao longo do século XX. Dados os objetivos desse texto, a discussão
será a partir da abertura política e fim da ditadura militar. O final dos anos 1970 foi
momento de reorganização dos movimentos negros no país, mesmo momento de
organização dos movimentos em prol dos direitos humanos. Nas diversas agendas
desses grupos, a Educação encontrava um papel de destaque: a necessidade de
desvelar elementos da História e da Cultura Afro-Brasileira e Africana. Nós, negros/as
brasileiros/as, percebíamos a ausência de registros da nossa História, bem como o
processo de leitura etnocêntrica e eurocêntrica da História oficializada pela escola
brasileira e a constante desvalorização de formas de manifestação da nossa identidade
e altivez, além da invisibilização de aspectos diversos de nossas culturas e raízes. Passou
a ser cada vez mais contundente a crítica aos processos de ensino que silenciam ou
omitem aspectos civilizatórios da África, as diferentes formas de contribuição de
nossas nações negras (e indígenas) ancestrais para a formação do Brasil, e os registros
das práticas de resistência da população afro-brasileira. As reivindicações dos
movimentos negros para a Educação centravam-se sobre a necessidade de mudanças
curriculares e de um efetivo ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Entre os/as intelectuais e ativistas negros/as de então, destacava-se a liderança
exercida por Abdias do Nascimento. No exílio, assumira a cadeira de Cultura Africana
no Novo Mundo na Universidade do Estado de Nova York, Bufallo, determinando mais
do que travar conhecimento com os Estudos Afro-Americanos: sendo sujeito deste
processo. De volta ao Brasil, assumiu mandato de Deputado Federal e apresentou a
proposta de “ação compensatória visando à implementação do princípio da isonomia
social do negro”. Vejamos o texto do artigo que propõe o ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira na íntegra:

Art 8º. O Ministério da Educação e Cultura, bem como as Secretarias Estaduais e


Municipais de Educação, conjuntamente com representantes das entidades negras e
com intelectuais negros comprovadamente engajados na matéria, estudarão e
implementarão modificações nos currículos escolares e acadêmicos, em todos os níveis
(primário, secundário, superior e de pós-graduação), no sentido de:
I – Incorporar ao conteúdo dos cursos de História brasileira o ensino das contribuições
positivas dos africanos e seus descendentes à civilização brasileira, sua resistência
contra a escravidão, sua organização e ação (a nível social, econômica e política) através
dos quilombos, sua luta contra o racismo no período pós-abolição;
II – Incorporar ao conteúdo dos cursos sobre História Geral o ensino das contribuições
positivas das civilizações africanas, particularmente seus avanços tecnológicos e
culturais antes da invasão europeia do continente africano;

Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 17, n. 34, p. 483-505, set./dez. 2011. 497
III – Incorporar ao conteúdo dos cursos optativos de estudos religiosos o ensino dos
conceitos espirituais, filosóficos e epistemológicos das religiões de origem africana
(candomblé, umbanda, macumba, xangô, tambor de mina, batuque etc.);
IV – Eliminar de todos os currículos referências ao africano como ‘um povo apto para a
escravidão’, ‘submisso’ e outras qualificações pejorativas;
V – Eliminar a utilização de cartilhas ou livros escolares que apresentem o negro de
forma preconceituosa ou estereotipada;
VI – Incorporar ao material de ensino primário e secundário a apresentação gráfica da
família negra de maneira que a criança negra venha a se ver, a si mesma e a sua família,
retratadas de maneira igualmente positiva àquela que se vê retratada a criança branca;
VII – Agregar ao ensino das línguas estrangeiras europeias, em todos os níveis em que
são ensinadas, o ensino de línguas africanas (yorubá ou kiswahili) em regime opcional;
VIII – Incentivar e apoiar a criação de Departamentos, Centros ou Institutos de Estudos
e/ou Pesquisas Africanos e Afro-Brasileiros, como parte integral e normal da estrutura
universitária, particularmente nas universidades federais e estaduais. (Nascimento,
1983, p. 5.163)

O texto do Projeto de Lei revela aspectos bastante interessantes. Primeiro, pode-


se constatar que propostas levadas a termo atualmente – como a formação de
professores/as para ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e a
estruturação de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros – são a concretização de uma
agenda antiga. E as propostas nessa direção se renovam também nas comemorações
do centenário da abolição em 1988, na Assembleia Nacional Constituinte do mesmo
ano, na Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, pela cidadania e a vida, em 1995,
nas discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nos anos que antece-
deram sua aprovação em 1996, nos eventos preparatórios à Conferência de Durban de
2001 e nas proposições advindas da própria Conferência. Vinte anos transcorreram-
se – de 1983 a 2003 – até que as proposições do PL 1.332/83 fossem finalmente
aprovadas. Desse modo, somente com a Lei 10.639/03 (que modificou a LDB) e sua
posterior regulamentação com o Parecer nº 03/04 do CNE, iniciou-se um processo de
inserção de conteúdos e de formação inicial e continuada de professores sobre História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana e sobre Educação das Relações Étnico-Raciais5.
É bem verdade que a redação da Lei 10.639/03 seja originária do PL nº 259, apresentado
em 1999 pela deputada Esther Grossi e pelo deputado Benhur Ferreira, mas a atuação
anterior de Abdias do Nascimento favoreceu esse momento.

5. Ainda que possamos reconhecer mudanças em curso no que se refere ao currículo e às práticas pedagógicas, é possível
também identificar que o processo de implementação da Lei 10.639/03 no interior das escolas brasileiras encontra-se
em curso e necessitará mais investimento na formação inicial e continuada para os/as profissionais da educação brasileira
(Gomes, 2011, p. 32).

498 SILVA; ARAÚJO. Educação em Direitos Humanos...


Na proposta original de Abdias do Nascimento, pode-se inferir a relação com os
propósitos dos movimentos da Negritude e do Pan-Africanismo. Como movimento
concomitantemente literário e social, na Negritude propôs-se um retorno às raízes.
A ideia foi a de que a imersão nas tradições e na estética, nas produções culturais, na
literatura em geral (e na poesia em particular), nas representações plásticas e na
dramaturgia operasse no sentido de valorizar a tradição africana e afro-diaspórica.
No caso específico da formação de professores/as para a Educação das Relações
Étnico-Raciais, os objetivos transcendem aos de informar sobre o movimento literário:
são também uma busca dos próprios ideais que inspiraram o movimento, tanto da
expressão estética quanto dos valores e da busca de transformação social. Sobre isso,
afirma Guerreiro Ramos

A negritude é uma subjetividade. Uma vivência. Um elemento passional que se acha


inserido nas categorias clássicas da sociedade brasileira e que as enriquece de substância
humana. Humana, demasiadamente humana é a cultura brasileira, por isso que, sem
desintegrar-se, absorve as idiossincrasias espirituais, as mais variadas. A negritude,
com seu sortilégio, sempre esteve presente nesta cultura, exuberante de entusiasmo,
ingenuidade, paixão, sensualidade, mistério, embora só hoje por efeito de uma pressão
universal esteja emergindo para a lúcida consciência de sua fisionomia. É um título de
glória e de orgulho para o Brasil o de ter-se constituído no berço da negritude. (Ramos,
2003, p. 117).

As ideias do Pan-Africanismo, em grande medida elaboradas por negros/as na ou


da diáspora, objetiva, de forma similar, estabelecer a África como referência funda-
mental para negros/as do mundo – estejam eles/as dentro ou fora do continente –
positivando a imagem da África, das suas tradições, histórias e diferentes aspectos das
culturas. Com isso, contrapõem-se a postulações até então hegemônicas, e que ainda
sobrevivem, de um continente selvagem, primitivo, atávico. A unidade dos países afri-
canos é pensada como estrutura que mantenha a autonomia dos países por um lado e
que, por outro, permita a estes mesmos uma atuação conjunta, seja no âmbito das
relações internacionais, seja para a resolução de problemas comuns. O texto de justifi-
cativa relativo ao art. 8° do PL 1.332/83 é revelador:

O conteúdo da educação recebida por aquelas crianças negras que têm oportunidade
de estudar representa outro aspecto da desigualdade racial anticonstitucional na esfera
da educação [...], a civilização e história dos povos africanos, dos quais descendem as
crianças negras, estão ausentes do currículo escolar. A criança negra aprende apenas
que seus avós foram escravos; as realizações tecnológicas e culturais africanas, sobre-
tudo nos períodos anteriores à invasão e colonização europeia da África, são omitidas.
Também se omite qualquer referência à história da heróica luta dos afro-brasileiros

Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 17, n. 34, p. 483-505, set./dez. 2011. 499
contra a escravidão e o racismo, tanto nos quilombos como através de outros meios de
resistência. Comumente, o negro é retratado de forma pejorativa nos textos escolares,
o que resulta na criança negra em efeitos psicológicos negativos amplamente documen-
tados. O mesmo quadro tende a encorajar, na criança branca, um sentimento de superiori-
dade em relação ao negro. O art. 8º deste projeto de lei objetiva a correção desta anomalia
e a implementação do direito à isonomia assegurada pela constituição. (Nascimento, 1983).

A argumentação é explícita. Trata-se de estabelecer a oportunidade ao alunado


brasileiro de obter informações e reconhecer elementos da complexidade do continente
de origem de metade (pelo menos) de nossa população; de estabelecer “lugares de
memória” (Nora apud King, 1996, p. 77) sobre o passado africano; de possibilitar a
identificação positiva dos/as alunos/as negros/as brasileiros/as com aspectos de seu
passado; de possibilitar aos/às estudantes de todas as cores reconhecerem a diversi-
dade e complexidade do continente africano e as profundas contribuições das populações
africanas para a humanidade.
A percepção tem sido de que ideias restritivas e manipuladas sobre a História e as
tradições africanas e afro-brasileiras, sistematicamente difundidas pela escola em
currículos e livros didáticos (que operam tanto por informações restritivas ou equivo-
cadas quanto pela omissão), atuam para criar nos/as alunos/as uma predisposição à
hierarquia racial. Importante observar que a proposta do estudo das contribuições
africanas relaciona-se com a estruturação da identidade da população negra brasileira
(Munanga, 2004; Munanga; Gomes, 2006), bem como da sociedade como um todo.
O movimento de apagar os lugares de memória das matrizes africanas no Brasil foi
bastante efetivo, de forma que a colonização cultural operou e ainda opera em dife-
rentes níveis em todos/as nós, manifestando-se em hipervalorização de tradições euro-
peias e desvalorização de aspectos da cultura de matriz africana. Possivelmente em
função disso o trabalho de formação de professores/as é uma tarefa zumbílea6, pois
na nossa formação escolar, educacional e cultural, as informações mais simplórias
sobre nosso passado africano foram sistematicamente negadas ou substituídas por
informações estereotipadas. Estamos, portanto, num movimento inicial de descoberta da
riqueza, da pluralidade, dos valores, do desenvolvimento tecnológico, do alto desen-
volvimento social, de um sem fim de aspectos civilizatórios de nossos/as antepas-
sados/as africanos/as e africanos/as da diáspora.
Para a compreensão desse processo na educação, é caro o conceito de “alfabetismo
da diáspora”, tal como formulado por Joyce King (1996), com o sentido de conhecimento

6. Termo que emprestamos de Edna Roland, então Coordenadora da Área de Combate ao Racismo e Discriminação da
UNESCO no Brasil (2006).

500 SILVA; ARAÚJO. Educação em Direitos Humanos...


e ressignificação da “nossa história”, da história do povo negro na diáspora. Este
alfabetismo consiste na aprendizagem da leitura de signos culturais das heranças
africanas para além das distorções, da parcialidade e das ausências determinadas pela
hegemonia cultural e por séculos de dominação. O sentido de alfabetismo é de processo
inicial e provisório. A luta contra a discriminação racial que percorreu o século XX
deparou-se com diversos processos de racialização, entre os quais o estabelecimento
de conceitos e formas de compreensão distorcidos e restritivos sobre a tradição africa-
na e afro-brasileira. As proposições do racismo científico, para além de sua rejeição
após a Segunda Guerra Mundial, conformaram operadores importantes no campo
simbólico, e em geral se mantêm. O conceito de alfabetização da diáspora é significativo
pela sua proposta de que nós, que fomos educados/as numa lógica eurocêntrica,
devemos nos alfabetizar, recolher conhecimentos básicos sobre nossa origem africana
e sobre toda a produção cultural e histórica dos povos africanos da diáspora.
Tal proposta coaduna-se com um dos objetivos estratégicos do PNDH III cujas ações
programáticas apontam, entre outras, a necessidade de: “h) Fomentar programas de
valorização do patrimônio cultural das populações negras; i) Assegurar o resgate da
memória das populações negras, mediante a publicação da história de resistência e
resgate de tradições das populações das diásporas” (Brasil, 2010, p. 88). Interpretamos
que o processo de estruturação dos programas nacionais de direitos humanos, em
especial o terceiro, de forma dialogada com movimentos sociais e movimentos negros,
tem inserido proposições dos mesmos no centro do debate e na busca de alternativas
de atuação.
Em 2009 foi aprovado o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana, outro importante documento de apoio aos sistemas
de ensino. O Plano Nacional está dividido em duas partes. Na primeira, apresenta as
atribuições institucionais: do MEC, dos sistemas de ensino (nos níveis federal, estadual
e municipal), dos conselhos de educação, das instituições de ensino (escolas), dos
Fóruns de Diversidade e dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros das universidades.
Na segunda parte apresenta as ações principais a serem desenvolvidas na educação
infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação superior, e também na educação
de jovens e adultos, educação tecnológica e formação profissional e, finalmente,
educação em áreas remanescentes de quilombos.

Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 17, n. 34, p. 483-505, set./dez. 2011. 501
Palavras finais

Este artigo trouxe algumas informações sobre o projeto em curso no Brasil de uma
Educação das Relações Étnico-Raciais inserida numa perspectiva ampla e crítica de
Educação em Direitos Humanos. Crítica significa que considera as desigualdades
raciais (e as de gênero, de orientação sexual, de identidade de gênero, de classe social,
de idade) como estruturais e estruturantes nessa sociedade contemporânea. Crítica
tem também o sentido de identificar e denunciar ataques aos direitos humanos, os
quais vitimam a população negra, sobretudo aquela inserida em espaços de resistência
como nas comunidades remanescentes de quilombos e nos terreiros. Outrossim,
crítica é evidenciar, nas políticas públicas, a constante necessidade de considerar os
indicadores de desemprego, homicídios, miserabilidade, vulnerabilidade, sexismo e
outros que atingem diretamente esse grupo social.
As contribuições possíveis por parte da educação são de mudanças na lógica
excludente das instituições escolares. Um ponto central seria uma reorganização dos
currículos escolares em uma perspectiva multicultural, implantando uma educação
aberta para o diálogo constante sobre e com as diferenças. Em função desse ponto de
vista, o artigo buscou a interlocução com normativas que foram organizadas de forma
aberta para a efetiva participação dos movimentos sociais, como são os casos dos
programas de direitos humanos e das diversas conferências, tanto as nacionais quanto
a mundial. Logo, estudar e conhecer esses documentos pode ser exercitar o diálogo
com os movimentos sociais que participaram dos processos de definição das suas
prioridades.
De forma geral, a documentação é vasta e as proposições são contrastantes com
um contexto em que as violações dos direitos são rotineiras nas relações sociais.
O desafio, então, é romper com tais violações e estruturar, de forma coletiva e partici-
pativa, escolas que operem para a promoção de igualdade étnico-racial. Uma possibili-
dade para a Educação em Direitos Humanos é operar numa perspectiva que compreenda
e busque superar as desigualdades raciais (e as de gênero, de orientação sexual e de
identidade de gênero) e que priorize a interlocução com movimentos sociais.
O exame das normativas em vigor, relativas a Direitos Humanos e Educação em
Direitos Humanos, desvenda amplo leque de proposições que revelam possibilidades
de articulação em prol da promoção da igualdade racial.

502 SILVA; ARAÚJO. Educação em Direitos Humanos...


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Humanos na Pedagogia. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010. p. 277-310.
SILVÉRIO, Valter Roberto. Políticas Raciais Compensatórias: O Dilema Brasileiro do Século XXI. In:
SABOIA, Gilberto V.; GUIMARÃES, Samuel P. (Org.) Anais dos Seminários Preparatórios para
Conferência Mundial contra o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata.
Brasília: Secretaria de Estado de Direitos Humanos, 2001. p. 123-138.
TELLES, Edward E. Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro: Relumé
Dumará; Fundação Ford, 2003.
WIEVIORKA, Michel. El espacio del racismo. Barcelona: Paidós, 1992.

Recebida 1ª versão em agosto de 2011


Aprovada 2ª versão em novembro de 2011

Paulo Vinicius Baptista da Silva, doutor em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo. É professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná, exercendo atualmente a função de coordenador. Coordena o
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB-UFPR), é bolsista de produtividade em pesquisa do
CNPQ, vice-coordenador do Grupo de Trabalho Educação e Relações Raciais da ANPED e repre-
sentante da Região Sul na diretoria da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros(as) (ABPN).
Publicação recente: Racial Inequalities in the Symbolic Realm: The Brazilian Context (Revue
Canadienne d’Études du Développement, v. 29, p. 245-266. 2010). E-mail: paulovbsilva@uol.com

Débora Cristina de Araújo, doutoranda em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação


da Universidade Federal do Paraná na linha de Políticas Educacionais. É professora da rede
estadual do Paraná. Desenvolve pesquisa sobre diversidade étnico-racial no Programa Nacional
de Biblioteca da Escola. Tem atuado também em estudos sobre relações raciais, literatura infanto-
juvenil e racismo discursivo. E-mail: debbora.a@hotmail.com

Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 17, n. 34, p. 483-505, set./dez. 2011. 505

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