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t. XXXII (1997-1998)
A industrialização da Alta-Estremadura no
final do antigo regime - breves notas de investigação
Universidade de Coimbra
1
N ã o e s q u e c e n d o , c o n t u d o , e s t u d o s marcantes c o m o o de Jorge B o r g e s de M a c e d o , Problemas
de história da indústria portuguesa no século XVIII, L i s b o a , 1 9 6 3 [2." ed. L i s b o a , Q u e r c o , 1982], a
q u e d e v e r e m o s juntar os m i n u c i o s o s e s t u d o s de Luís Ferrand de A l m e i d a c o l i g i d o s na sua obra
Páginas Dispersas, Estudos de História Moderna de Portugal, Coimbra, Instituto de História
E c o n ó m i c a e S o c i a l da F a c u l d a d e de Letras de C o i m b r a , 1 9 9 5 . M a i s r e c e n t e m e n t e , a t e s e de Jorge
Miguel Viana Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial. Portugal e Brasil (1780-1830),
L i s b o a , D i f e l , 1994. R e m e t e m o s para as s í n t e s e s sobre esta matéria d e s e n v o l v i d a s por A. H de
O l i v e i r a M a r q u e s , História de Portugal. Vol. II. Do Renascimento às Revoluções Liberais, Lisboa,
Palas Editores, 10.ª e d i ç ã o , 1 9 8 4 , pp 2 8 4 - 2 8 7 ; J o a q u i m V e r í s s i m o Serrão, História de Portugal.
Vol. V I . O Despotismo Iluminado (1750-1807), L i s b o a , Verbo, 1982, pp. 191-205; José Vicente
Serrão, "O quadro e c o n ó m i c o . C o n f i g u r a ç õ e s estruturais e t e n d ê n c i a s de e v o l u ç ã o " , História de
Portugal. Vol. 4. O Antigo Regime (Coord. de A n t ó n i o M. H e s p a n h a ) , L i s b o a , E s t a m p a , 1 9 9 3 , p p .
89-97.
Saul A n t ó n i o G o m e s
D e m o n s t r a m o - l o , p o r e x e m p l o , para o c a s o da A l t a - E s t r e m a d u r a (ou, se se
preferir, da antiga E s t r e m a d u r a setentrional), e s s a m a n c h a industrializada do
centro do País q u e tinha no eixo dos c o n c e l h o s , c o m as fronteiras dessa época,
de P o m b a l - L e i r i a - A l c o b a ç a um dos mais significativos casos de toda a história
industrial de Portugal. N ã o era por acaso, aliás, q u e na p o v o a ç ã o da M a r i n h a ,
do c o n c e l h o leiriense até 1918, se erguia a m a i o r estrutura industrial de t o d o o
País, a famosa Fábrica dos Vidros (que, de John B e a r e chega aos Stephens)
2
o n d e l a b o r a v a m , por 1800, 5 1 5 o p e r á r i o s .
2
V d . V i s c o n d e de B a l s e m ã o , " M e m o r i a sobre a d e s c r i p ç ã o física e e c o n o m i c a do lugar da
Marinha Grande e suas vizinhanças", Memorias Economicas da Academia Real das Sciencias de
Lisboa, T. V, L i s b o a , 1 8 1 5 , pp. 2 5 7 - 2 7 7 ; Carlos Vitorino da S i l v a Barros, Real Fábrica de Vidros
A industrialização da Alta-Estremadura no final do antigo regime
O r i u n d o s d e a m b i e n t e s p r o f u n d a m e n t e rurais, o s trabalhadores v i a m - s e
c o n s t r a n g i d o s a um horário e a u m a intensidade de trabalho rígidos e nada
habituais no trabalho c a m p e s i n o . Cerca de 1800, o director da Fábrica, A n t ó n i o
6
Jorge M. V. Pedreira, Op. cit, p. 123.
7
Jorge M. V. Pedreira, Op. cit., pp. 2 2 8 - 2 2 9 , 4 2 6 .
A industrialização da Alta-Estremadura no final do antigo regime
8
Jorge M V. Pedreira, Op cit., p p . 4 0 6 - 4 0 7 .
9
Arquivo Distrital de Leiria (= A D L ) - Reg. Notariais: Maiorga, 2-H-26, fls 12V°-19v°, 56v°-
-59v°.
10
A D L - Reg. Notariais: Maiorga, 2 - H - 2 7 , fls. 19-20v°, 67v°-70v°.
11
A D L - Reg. Notariais: Maiorga, 2 - H - 2 8 , fls. 9 6 - 9 9 .
12
A D L - Reg. Notariais: Maiorga, 2 - H - 3 0 , fls. 106v°-108v°, 174v°-176v°.
13
A D L - Reg. Notariais: Maiorga, 2 - H - 3 1 , fls. 5 4 - 5 6 v ° .
14
A D L - Reg. Notariais: Maiorga, 2 - H - 3 3 , fls. 3 9 v ° - 4 3 , 106v°-108V°.
15
A D L - Reg. Notariais:Maiorga, 2 - H - 3 4 , fls. 9 7 - 9 9 .
Saul A n t ó n i o G o m e s
A l c o b a ç a q u e a m e c a n i z a ç ã o e s t a v a m a i s a d i a n t a d a : a l é m de 28 jennies,
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trabalhavam cinco m á q u i n a s c o m 2 0 4 fusos e u m a c o m 1 0 0 . " A sua capacidade
produtiva permitia-lhe garantir stoks permanentes, abastecendo, sem dificuldade,
a s n e c e s s i d a d e s c o n s u m i s t a s d o m e r c a d o n a c i o n a l , s o b r e t u d o a o nível d o
fornecimento de chitas para e s t a m p a g e m noutras fábricas portuguesas da época.
Em 1804, no entanto, a Real Fábrica de A l c o b a ç a , representada por D o m i n g o s
Teodoro Henriques, contrata-se c o m Mestre Luca Turreal, genovês, para se passar
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a m a n u f a c t u r a r veludo nas suas instalações. Isso poderá ser interpretado c o m o
significando um sintoma da e x p a n s ã o do n e g ó c i o e da especialização no fabrico
de p r o d u t o s de c o n s u m o destinados às altas hierarquias sociais, no q u e respeitava
a v e s t u á r i o ou a aprestos de requinte d e c o r a t i v o d o m é s t i c o , ou aos centros
eclesiásticos c o m o fossem igrejas e mosteiros o n d e se c o n s u m i a largamente tão
p r e c i o s o tecido nos mais diversificados objectos de culto e de d e c o r a ç ã o .
16
Jorge M. V. Pedreira, Op. cit., p. 2 2 9 .
17
A D L - Reg. Notariais: Maiorga, 2 - H - 3 4 fls. 149-151v°.
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A D L - Reg. Notariais Maiorga, 2 - H - 2 8 , fls. 115-116.
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V d . Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando G a l h a n o e B e n j a m i m Pereira, Tecnologia Tradicional
Portuguesa. O Linho, L i s b o a , I N I C , 1978, passim: João Cabral, Op. cit., Vol. III, pp. 5 8 - 6 0 .
A industrialização da Alta-Estremadura no final do antigo regime
P o r 1801 e 1 8 0 2 , f u n c i o n a v a m na F á b r i c a de F i t a s de A l g o d ã o e de
Estamparia de Leiria m á q u i n a s do tipo flying-shuttle, d e s i g n a d a s por "theares
de nova i n v e n ç ã o " , sinal da c a p a c i d a d e de integração das novas tecnologias e
maquinarias na actividade produtiva local. Em 1804, G u i l h e r m e Peel,
referenciado c o m o proprietário desta Fábrica leiriense, enviou um p r o c u r a d o r a
Inglaterra a fim de q u e tentasse recrutar c i n c o mestres ingleses de fiação para
virem laborar na oficina leiriense, orientando o trabalho e a m a q u i n a r i a m o v i d a
a energia h i d r á u l i c a q u e se haveria de adquirir t a m b é m em s o l o britânico.
Pretendia-se adoptar, m u i t o p r o v a v e l m e n t e , a water-frame, para q u e se p u d e s s e
laborar: "ao m o d o Inglez, c o m e n g e n h o s m o v i d o s por A g o a , e m Fiação, Tecidos,
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Branquearia, E s t a m p a r i a e T i n t u r a r i a " . A principal dificuldade de G u i l h e r m e
20
A D L - Reg. Notariais: - Leiria, 9 - E - 3 3 , fls. 3 3 - 3 3 v ° .
21
Jorge M. V. Pedreira, Op. cit., p. 2 1 7 - 2 1 8 , 2 2 6 , 2 2 9 - 2 3 0 .
Saul A n t ó n i o G o m e s
U m a outra F á b r i c a de C h a p é u s , b e m mais c o n h e c i d a do q u e a p e q u e n a
unidade leiriense, em parte devida ao investimento e p r o t e c c i o n i s m o da Coroa,
foi a Real Fábrica de C h a p é u s F i n o s da Q u i n t a da G r a m e l a , em P o m b a l , de q u e
era juiz conservador, em 1 7 7 1 , o Dr. Constantino Barreto de Sousa, o u v i d o r e
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juiz dos órfãos d a q u e l a vila, b e m c o m o do D e s e m b a r g o de S u a M a j e s t a d e .
Foi nela q u e se iniciou, decerto sob orientação dos franceses Fournol, mais
arde fundadores de outras fábricas de chapelaria em A b r a n t e s e no Porto, a
utilização das peles de c o e l h o e de castor na confecção de c h a p é u s que tinham
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larga aceitação no m e r c a d o nacional e c o l o n i a l .
Eram mais frequentes, na região alto-estremenha, as oficinas para-industriais
de curtumes (sete em Leiria para 19 operários), u m a em A l c o b a ç a para 17
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trabalhadores, oito e m O u r é m para 3 3 oficiais d e s e r v i ç o . Eram também
significativas as olarias (12 em Leiria para 15 serventuários), 5 em O u r é m (para
um total de 10 operários) e u m a outra, t a m b é m na região, c o m 14 trabalhadores.
Os lanifícios t r a d i c i o n a l m e n t e produzidos em M i n d e e em M i r a de Aire -
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A D L - Reg. Notariais: Leiria, 9 - E - 4 1 , fls. 2 4 4 - 2 4 5 .
24
A D L - Reg. Notariais: Leiria, 9 - E - 1 3 , fls. 144v°- 149v°.
25
Jorge M. V. Pedreira, Op cif., pp. 280, 426-427.
26
Jorge M. V. Pedreira, Op. cit., p. 104.
Saul A n t ó n i o G o m e s
27
V d . A n t ó n i o Martins C a c e l a , Porto de Mós e seu Termo, Torres N o v a s , [ed. do A u t o r ] , 1977,
pp, 1 9 5 - 2 0 0 et passim.
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A D L - Reg. Notariais: Leiria, 9 - D - 8 , fls. 168-168v°.
29
" E m razão de ter s i d o sua criada tratando o n e s s e t e m p o c o m todo o d e s v e l l o , e n g o m a n d o l h e
a sua roupa, tratando o nas suas infirmidades no q u e t e v e h u m grande trabalho, e a l e m d i s s o pela
maior razão de terem e s t e s em sua c a z a h u m m e n i n o por n o m e A n t o n i o P l o m e r a q u e m a m a e
e s t i m a e l l e D o a n t e c o m o filho, por cuja razão de sua propria e Livre v o n t a d e , e em r e m u n e r a ç ã o
d o s referidos s e r v i ç o s , e e s p e c i a l m e n t e para o fim da criação do dito m e n i n o , pela presente espriptura
e na m e l h o r forma q u e em Direito lugar haja, lhe dá, e doa o uzufruto de huas C a z a s c o m s e o
serrado e c o m t o d a s as suas serventias e logradouros no lugar da Mouta de B a i x o (...) e T h e r e z a
A industrialização da Alta-Estremadura no final do antigo regime
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famoso proprietário da Fábrica de Vidros da Marinha, localidade o n d e r e s i d i a .
Era t a m b é m o c a s o de D. H e l e n a Tudejer, v i ú v a de T h o m a s Tudejer, inglês,
com residência em L i s b o a no ano de 1797, d e t e n d o , no entanto, propriedades
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na zona de A l c o b a ç a .
Entre os franceses, para além dos m e n c i o n a d o s c o m e r c i a n t e s e industriais
proprietários de fábricas em Leiria ou em A l c o b a ç a , c i t a r e m o s os c a s o s de
Monsieur F r a n c i s c o Luis Faget, assistente na Quinta da M a d a l e n a (Leiria), por
1798 e 1802. Seria p o r v e n t u r a de n a ç ã o francesa, o B a r ã o de R o s e t , c o m
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propriedades p r ó x i m a s t a m b é m d a Q u i n t a d a M a d a l e n a ( L e i r i a ) . U m outro
ilustre proprietário leiriense, era Reinaldo O u d i n o t , S a r g e n t o - m o r de Infantaria
"com exercício de E n g e n h e i r o " , assistente em Vieira de Leiria, em 1 7 8 1 , e,
mais tarde, proprietário da Quinta da Ponte da Pedra (Regueira de Pontes) (1799-
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-1802).
N o m e i a - s e entre outros n o m e s estrangeiros, ou d e s c e n d e n t e s destes, o de
D. Maria Violante da M o t a Velasquez Sarmento, proprietária da Quinta de U l m a r
ou do Rio (freg.ª M o n t e Real), viúva de A n t ó n i o O s ó r i o Cabral de Pina e M e l o
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e c u n h a d a de D. Rita O s ó r i o Cabral de Pina e M e l o ( 1 7 9 4 e 1 7 9 9 ) . Foi depois
das Invasões Francesas, c o m o se sabe, que alguns outros estrangeiros se fixaram
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na região d a n d o o r i g e m a famílias de prestígio. A l g u m a s dessas famílias tornar-
se-ão r e s p o n s á v e i s , ao l o n g o d o s séculos X I X e X X , p e l o surto industrial q u e a
região p r o t a g o n i z a no Portugal c o n t e m p o r â n e o .
Doc. I
1791, Janeiro, 19, Leiria - Contrato feito entre José Midosi, proprietário da Fábrica
das Fitas, de Leiria, e Luísa Monnet, adobadeira, para ensinar todas as aprendizas da
Fábrica, por dois anos, pelo preço de dez mil e oitocentos réis semanais.
Arq. Distr. de Leiria - Reg. Notariais: Leiria, 9-E/33, fls. 33-33v°
D(istribuid)a fl.65v°
F(ora) 2. Escriptura de contracto e ajuste que fazem Joze Midosi
Proprietario da Fabrica das fitas desta cidade de Leyria
e Luiza Monnet Adobadoira da dita Fabrica,
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Saul A n t ó n i o G o m e s
huma das duas Aprendizas estará perfeita sómente no trafuzar thé ao més de Junho deste
anno de mil setecentos noventa e hum:
Será obrigado o dito Outorgante Joze Midosi pagar á dita Mestra todos os mezes Por
todo o dito Tempo dos dois annos a dés mil e outoCentos reis semanais sem outra condiçam
dando lhe Quarto para assistir em todo o tempo à custa do dito Jozê Midosi:
Será obrigada a dita Mestra a assiztir na dita Fabrica todos os dias de trabalho hem
que deveram pellas seis horas da Manhãa athé á nouthe tirando duas horas cada dia para
seu descansso, e para hir comer; e de Jnverno principiará a horas que bem se veja para
trabalhar, e acabará pellas outo horas da noute tirando cada dia outras duas horas;
E nesta forma disseram elles dittos Outorgantes estauam ajustados e contratados, e
queriam que esta escriptura valese como nella se conthem, e na milhor forma que o
Direito permitte, e ambosª a aceytauam, e se obrigauam a todas as clauzolas e condicoens
delia. E em fe e testemunho de verdade assim o disseram e outorgaram e mandaram
fazer este publico Jnstromento nesta Notta e delia dar os traslados necessarios que
cumprirem deste Theor que aceytaram e Eu Tabeliam pellos auzentes a que tocar possa
quanto o Direito me permite e foram Testemunhas a tudo prezentes perante as quais esta
por mim lhes foj lida e que com elles aqui asignaram. Joze Dormand assistente na dita
Fabrica que asignou a Rogo da Outorgante e Luiz Rouveri e Antonio Gomes ambos
Fabricantes da mesma Fabrica. Joaquim Antonio das Neues publico Tabeliam de Nottas
que o Escrevi. E declaro que diz a entrelinha na primeira lauda regras seis = da Fabrica
= o sobredito o declarei.
a) Joze Midosi.
a) Rogo da subreDitta: Jozé Dormand
a) Luigi Roueri.
a) Antonio Gomes. //
Doc. 2
1802, Janeiro, 25, Leiria - Contrato estabelecido entre Rafael António Gaião, do
Telheiro (c. Leiria), e António Pereira, mestre sombreireiro da fábrica de Chapéus de
Manuel José da Costa, de Leiria.
F(ora) 1 - Escritura de comtrato e obrigaçam que fazem Rafael Antonio Gaião com
autoridade de seu Pay o Alferes Antonio Carreira Gaião e como Fiador do dito seu filho
ambos do lugar do Tilheiro termo desta cidade com Antonio Pereira Mestre sombreireiro
da Fabrica da chapeos de Manuel Joze da Costa da mesma cidade, e com o dito Manuel
Joze da Costa.
Que o dito Aprendis fica (e) ficará obrigado a cumprir todas as referidas comdiçoens
sem alegar impossibilidade athe completar o Numero dos ditos quatro annos porque os
dias que faltar na dita Fabrica por culpa, omição, ou molestia ha de compor e os dias que
trabalhar e não fizer a obrigaçam de quantidade e bondade que lhe compette ao tempo
que fizer as faltas da mesma forma lhe seram com todas para as compor por sua pessoa
ou por seus bens ou de seu fiador:
E pello dito Mestre foi mais dito que elle se obrigava por sua pessoa e por todos os
seus bens a emsinar o dito Aprendis com bom modo sem lhe ocultar ao tempo devido
quanto lhe deve emsignar, e que tambem se obriga a fazer todas as folhas semanarias da
dita Fabrica ou declarar a quem as escreva quanto se deve lançar nas mesmas folhas que
sao despezas e Jornaes diarios dos officiaes e Aprendizes e destes explicará em que se
ocuparão e a quantidade que fizerão de chapeos para asim se conheser e contar a obrigação
a que cada hum faltou em os dias de cada semana e para nam poderem alegar duvidas
asignaram a dita folha e pello sobredito Manuel Joze da Costa Dono da dita Fabrica foi
dito que elle se obrigava pellos seus bens a sustentar o dito Aprendis de cama e Meza
como he custume nas ditas Fabricas e igualmente se obrigava a dar lhe dous vestidos
como he uzo das ditas Fabricas que consta no meio do tempo que he aos dous annos por
nuns calçoens de Tripe em dinheiro mil e outocentos reis,, por hum collete de baeta
seiscentos reis,, por huma veste de Pano fino dous mil: e quatrocentos reis,, Por huma
camiza seiscentos reis,, e no fim do tempo que he aos quatro annos o segundo e ultimo
vestido que consta,, Por huns çapatos seiscentos reis,, Por hum Par de Meias quatrocentos
e outenta reis,, Por huns calçoens de Tripe mil e outocentos reis,, Por hum Collete de
Baeta seiscentos reis,, por huma veste de Pano fino dous mil e quatrocentos reis,, Por
humas fivellas duzentos e quarenta reis,, Por huma camiza seiscentos reis,, Por huma
gravata duzentos e quarenta reis,, Por hum chapeo seiscentos reis,, Por hum Capote
sinco mil reis,,
E promete o Dono da dita Fabrica ao dito Aprendis que fazendo este bem as suas
obrigaçoens // (Fl. 245) obrigaçoens de forma que pellas folhas semanarias conste, perdoar
lhe alguns Mezes dos ditos quatro annos comforme lhe achar merecimentos e no Cazo
de faltar o dito Mestre Antonio Pereira que agora asigna a sua obrigacam obriga se
tambem elle dito Dono da Fabrica a apromtar outro Mestre para o emsinar na mesma
Fabrica e sendo incomveniente a comservação da dita Fabrica ou duvidoso achar Mestre
para ella lhe procurará Mestre em outra terra para acabar o tempo de quatro annos de
emsino e isto como deve ser:
E pello dito Aprendis Rafael António Gaião me foi dito que pella autoridade que
tinha alcançado de seu Pay se sugeitava a todas as comdiçoens desta escritura no referido
tempo do(s) ditos quatro annos e aprehender quanto pudese as suas obrigaçoens pela sua
A industrialização da Alta-Estremadura no final do antigo regime
pessoa e toda a perda e damno que cauzase pella falta das suas obrigaçoens E para maior
segurança pello sobredito Alferes Antonio Carreira Gaião Pay do referido Aprendis foi
dito que elle tinha dado outoridade ao dito seu filho para se poder obrigar a todas as
comdiçoens desta escritura e que era comtente em ser fiador abonador e principal pagador
de toda a perda ou damno que o dito seu filho podese cauzar a dita Fabrica ou ainda pella
perda da falta das suas obrigaçoens aqui referidas ao que obrigava sua pessoa e todos os
seus bens moveis e de rais havidos e por haver dando porem o sobredito Mestre da
Fabrica, e Dono delia inteira satisfação ao prometido nesta Escritura e outrosim mais foi
declarado que o dito Aprendis se lhe principiou a contar o tempo dos referidos quatro
annos do seu emsino em o primeiro dia do mes de Janeiro deste prezente anno E em fe e
testemunho de verdade assim o diserão e outorgaram e mandarão fazer este Publico
Jnstromento nesta Notta que aceitaram eu Tabeliam pellos auzentes quanto o Direito me
permite sendo a tudo Testemunhas prezentes perante as quaes esta por mim lhe foi lida
que todos aqui asignaram Joaquim Antonio Pereira desta cidade e Manoel Ferreira do
lugar do Tilheiro termo da mesma e eu Joze de Mattos Falcam e Faria Publico Tabeliam
de Nottas que o escrevy.
a) Manoel Joze da Costa.
a) Antonio Carreira Gayam.
a) Joaquim Antonio Pereira.
a) Antonio Pereira.
a) Rafael Antonio Gaiam.
a) Manoel Ferreira. //