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7.3.

EM RELAÇÃO ÁS ÁREAS DIRETAMENTE AFETADAS (ADA)

7.3.1 Meio Físico

7.3.1.1 Caracterização Geológico-Geotécnica

Para a caracterização geológico-geotécnica das Áreas Diretamente Afetadas pelo empreendimento,


serão utilizados dados do Projeto Executivo de Retificação, Canalização, Pontes e Vias Canais da
Bacia de Jacarepaguá, elaborado em 1999 pela PRODEC para a Fundação Rio Águas, da
Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, da Prefeitura do Rio de Janeiro.

• Canal do Portelo

Na seção geológico-geotécnica E-W ao longo do Canal do Portelo, apresentada adiante, o aspecto


mais relevante observado é o estrato de argila siltosa orgânica mole a muito mole de grande
extensão lateral, e espessura média em torno de 4m. A espessura mínima do estrato argiloso é de
1,5m, alcançando mais de 15m na região da confluência do Canal do Portelo com o Rio Calembá. A
existência desse espesso pacote argiloso neste trecho deve-se, provavelmente, ao afogamento de um
vale inciso por uma laguna, durante a transgressão máxima holocênica de 5.100 anos A.P.

Os solos orgânicos da Baixada de Jacarepaguá são constituídos de material fino (argila e siltes) e
foram depositados em ambientes de águas calmas. Possuem uma coloração cinza escura a preta
formando camadas argilosas/siltosas, podendo apresentar lentes de areia fina a média. Este substrato
de argilas moles compressíveis constitui terreno inadequado para implantação de quaisquer
equipamentos ou edificações, sendo recomendado a utilização de estacas ou tubulões até o terreno
sólido, impenetrável à sondagem de percussão. Aterros realizados sobre essas áreas estão sujeitos a
recalques acentuados.

São comumente observadas nas estradas que cortam a baixada, deformações nos aterros onde estas
foram implantadas, conseqüentemente, rachaduras e subsidências na pavimentação. Também são
observados efeitos agressivos desses solos às estacas metálicas e ao concreto das estruturas de obras
e construções da área, exemplos da má qualidade desse solo para obras civis. Pode ocorrer
formação de pipes (recalques por ruptura hidráulica) devido à proximidade do lençol freático com a
superfície, situação freqüentemente encontrada nesses solos.

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Abaixo do estrato argiloso, na região próxima ao Canal de Sernambetiba, ocorre camada de argila
siltosa média mole que, na confluência com este canal, possui até 4m de espessura, acunhando-se
no sentido leste. Sotoposta a este corpo argiloso e através de toda a seção estratigráfica, ocorrem
camadas de areia fina a grossa, fofa a compacta, com até 15m de espessura, depositada através de
fluxos trativos em canais fluviais e/ou deposição marinha rasa (areias de fundo de enseada, vide
Geologia da AID). Esta constitui o pacote sedimentar mais expressivo em sub-superfície da área,
adequado para a implantação de fundações. No trecho próximo ao canal de Sernambetiba, ainda foi
registrada camada de argila siltosa rija cujo topo situa-se a cerca de 13m de profundidade.

Os solos arenosos com frações argilosas (areno-argilosos e argilo-arenosos) da Baixada de


Jacarepaguá geralmente apresentam uma boa capacidade de suporte para fundações, com a ressalva
para alguns locais onde a sedimentação se deu em pequenas bacias de recepção ou várzeas de rios,
com desenvolvimento de vegetação devido às condições de alagado permanente, onde se formaram
solos argilosos cinza escuros, devido à decomposição da matéria vegetal, sendo muito plásticos e
extremamente compressíveis (moles).

Uma camada de aterro, com espessura de até 2m, recobre descontinuamente grande parte da área.
São encontrados na área da baixada, aterros de solos residuais e coluvionares e os aterros
hidráulicos arenosos, executados através de dragagens de canais e lagoas da região. Os solos mais
adequados para utilização como aterro são os residuais de granito, extraídos de saibreiras na região
periférica do maciço da Pedra Branca, devido a sua homogeneidade e texturas areno-argilosas.

O nível freático na área é bastante raso, aflorante em diversos locais, principalmente onde não há
aterro. Nas áreas onde há aterro, o nível freático situa-se na interface solo/aterro, ou no interior da
camada de aterro. Medidas de nível d’água obtidas durante as sondagens, a maioria delas durante o
mês de abril (final do verão), mostraram níveis freáticos com profundidade média de 0,70m,
alcançando até 2m na região do Rio Calembá.

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• Canal do Cortado

O substrato ao longo do Canal do Cortado, apresentado nas seções E-W a seguir, apresenta
características geológico-geotécnicas semelhantes às descritas acima, onde se observa estrato
argiloso orgânico mole sobre espesso pacote de areias. Nas proximidades da confluência do canal
com a Lagoa de Jacarepaguá, o estrato de argila mole superficial atinge espessura máxima de 3 m,
disposta sobre pacote de areias finas a grossas cuja compacidade aumenta com a profundidade,
sendo que sua espessura alcança até 15m. A oeste da lagoa, a camada superficial argilosa se
espessa, alcançando profundidade de até 9m, intercalada com camadas de areia fina a média pouco
compacta.

Cerca de 250m a oeste da confluência com a lagoa, ocorre espessa lente de argila siltosa orgânica
mole a muito mole, cuja espessura alcança mais de 15m, que pode ser correlacionada com a descrita
ao longo do Canal do Portelo, associada ao preenchimento de vale inciso em ambiente lagunar
durante a última grande transgressão.

Nas proximidades do Canal de Sernambetiba, a cobertura argilosa mole é bem mais espessa que a
observada, alcançando até 12m, intercalada com camadas de areia fina a média fofa a pouco
compactas.

A camada de aterros ao longo do traçado do canal é bastante descontínua, restrita a alguns de seus
trechos, com espessuras que pouco ultrapassam 1m.

Da mesma forma que no trecho ao longo do Canal do Portelo, a faixa adjacente ao Canal do
Cortado apresenta condições bastante desfavoráveis para a implantação de qualquer estrutura ou
disposição de aterros muito espessos, devido aos solos altamente compressíveis.

592
Seção Canal do Portelo

Fonte: PRODEC, 1999.

593
Seção Canal do Cortado 1

Fonte: PRODEC, 1999.

594
Seção Canal do Cortado 2

Fonte: PRODEC, 1999.

595
Seção Canal do Cortado 3

Fonte: PRODEC, 1999.

596
Seção Canal do Cortado 4

Fonte: PRODEC, 1999.

597
Seção Canal do Cortado 5

Fonte: PRODEC, 1999.

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O nível freático no trecho adjacente ao Canal do Portelo também é bastante raso, alcançando
valores médios de 0,5m em diversas medidas piezométricas obtidas durante os meses de verão. A
profundidade máxima registrada nesses meses foi de cerca de 1,7m nas proximidades do Canal de
Sernambetiba. Em diversos locais onde ocorre o substrato argiloso impermeável, o nível freático é
aflorante.

• Canal de Sernambetiba

A seção estratigráfica ao longo do Canal de Sernambetiba tem duas áreas de características


geotécnicas bastante distintas, conforme observado na seção estratigráfica correspondente. Ao sul
da confluência do Rio Bonito, entre esta e o mar, o substrato é arenoso, constituído por uma
sucessão de camadas de areias finas a grossas, cuja compacidade aumenta com a profundidade.

A espessura deste pacote arenoso é de pelo menos 16m, profundidade máxima atingida pelas
sondagens SPT realizadas pela PRODEC.

Segundo Cabral (1979), os corpos arenosos da faixa litorânea são constituídos de areias finas a
grossas, bem a mal graduadas, freqüentemente com conchas ou fragmentos de conchas e com
compacidade crescente em profundidade. Ainda segundo esse autor, os terrenos arenosos
apresentam boa capacidade de suporte para fundações de aterros e obras civis, aumentando sua
capacidade com a profundidade. São comuns nestas camadas de argilas orgânicas com baixos
valores de SPT.

No trecho ao norte da confluência com o Rio Bonito, até a confluência com o Canal do Portelo, o
substrato é predominantemente argiloso, capeado por uma camada de areia fina fofa de até 2m de
espessura. Abaixo desta camada arenosa, ocorre um estrato de argila siltosa orgânica muito mole a
mole, cuja espessura varia de 2m a mais de 8m. Sotoposto, ainda ocorre um pacote pelítico
constituído por argila argilosa de consistência mole a média, cuja espessura no setor norte do trecho
ultrapassa os 6m. Na metade inferior da seção intercalam-se camadas de areia fina a grossa, pouco a
medianamente compacta, com argilas siltosas e/ou arenosas moles a rijas.

Ressalta-se, portanto, que o solo do setor ao norte da confluência com o Rio Bonito apresenta os
mesmo problemas geotécnicos registrados ao longo dos canais do Portelo e do Cortado, no que se

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refere a sua compressibilidade. Em relação aos aterros, estes são concentrados no setor norte do
trecho, apresentando espessuras de até 2m sobre a delgada camada de areias finas.

Quanto ao nível freático, a constituição do substrato incide diretamente sobre este, sendo mais
profundo ao sul da área, onde as camadas arenosas permeáveis são espessas, e mais raso ao norte,
onde o solo argiloso impede a percolação da água. No setor sul, medida de nível d´água obtida no
mês de novembro, ou seja, no início do período das chuvas, apresentou profundidade máxima de
3,38m, e quase todos os níveis medidos ao longo do trecho tiveram valores acima de 1m. No setor
norte, a profundidade máxima do nível d’água foi de 1,82m obtida na mesma época. A
profundidade média do nível freático ao longo do Canal de Sernambetiba neste período foi de 1,3m.

600
Seção Canal de Sernambetiba

Fonte: PRODEC, 1999.

601
• Canal das Taxas

O Canal das Taxas, situado entre a Lagoa de Marapendi e a Lagoinha, é alinhado segundo a direção
E-W, paralelo e bastante próximo à Praia dos Bandeirantes.

A seção estratigráfica ao longo deste canal, apresentada abaixo, é bastante semelhante a do setor sul
do Canal de Sernambetiba, ou seja, predominantemente arenosa, resultado da influência marinha.
Sob uma cobertura métrica de areia fofa fina a média, típica de praia, ocorre persistente camada de
argila orgânica mole com turfa e areia fina, com espessura variando de 1,5 a 2,5m, cujos sedimentos
foram depositados em ambiente lagunar com vegetação de brejo e/ou de manguezal, e influência
eólica e/ou de leques de arrombamento durante episódios de ressaca (areia fina). A presença desta
camada pelítica indica uma ligação pretérita assoreada entre a laguna de Marapendi e a Lagoinha.
Junto à Lagoa de Marapendi, foi registrada a uma profundidade 4m uma lente argilosa orgânica
mole com espessura pouco superior a 1m.

Sob este depósito argiloso, ocorre pacote de areias médias a grossas cuja compacidade aumenta
com a profundidade, apresentando características mais compactas abaixo de 9m de profundidade.

O nível freático médio no trecho, medido durante os meses de verão, foi de 0,8m, alcançando
profundidade máxima pouco superior a 1m, podendo aflorar em alguns locais.

602
Seção Canal das Taxas

Fonte: PRODEC, 1999.

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