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7.1.

EM RELAÇÃO À ÁREA DE INFLUÊNCIA INDIRETA (AII)

7.1.1 Meio Físico

7.1.1.1 Clima e Condições Meteorológicas

Uma das linhas de estudos ambientais do meio físico é o entendimento das condições climáticas
reinantes na região. Este estudo é feito através de uma análise da tendência das variáveis
meteorológicas que caracterizam e condicionam o clima de uma região. Os elementos
meteorológicos e suas diversas formas de influência no clima têm sua distribuição e intensidades
dependentes de cada região e de fenômenos meteorológicos de larga escala. A regularidade
diferencial desses elementos para distintos locais, condicionam a existência de climas diversos em
várias regiões da terra. Estes elementos são (1) precipitação pluvial, (2) temperatura do ar; (3)
umidade relativa do ar, (4) nebulosidade, (5) pressão atmosférica, (6) evaporação, (7) vento e
outros.

Uma região caracterizada por um determinado clima pode apresentar locais com condições
climáticas bem diferentes daquele que a circunda _: é o que se chama microclima. O objetivo de
uma avaliação climática é definir os limites dos diferentes elementos meteorológicos e suas
distribuições temporais que formam o clima de uma região. Devido às características estocásticas
de fenômenos como precipitação, temperatura, umidade, nebulosidade, insolação e ventos, na
região, fazem-se necessários levantamentos de longo período, tratados estatisticamente de forma
adequada, para que possam permitir sua avaliação com o nível de confiança apropriado. O tamanho
recomendado de séries para análises climatológicas é de 30 anos.

Para a região de interesse, a Bacia Hidrográfica de Jacarepaguá, existe um posto bem próximo da
área estudada que apresenta uma série histórica de dados pluviométricos que cobre o período de
1970 a 1994. Esse posto, denominado de Via 11, é operado pela Superintendência de Rios e Lagos
do Rio de Janeiro - SERLA. Infelizmente trata-se de posto apenas para medição pluviométrica, não
dispondo de dados climatológicos que possam ser utilizados nos estudos ora apresentados. Não
obstante, as informações pluviométricas lá existentes foram usadas na análise climatológica que se
segue.

4
Para análise dos demais dados climatológicos de interesse quais sejam: temperatura do ar média (T
méd, ºC), máxima (T máx, ºC) e mínima (T mín, ºC), umidade relativa média do ar (UR, %) e
velocidade média do vento a dez metros de altura (U, m s-1), foi utilizado o posto climatológico
localizado no Aeroporto de Jacarepaguá pertencente a Força Aérea Brasileira (FAB) que dispõe de
uma série histórica de oito anos de dados diários de 1994 a 2001. Na seqüência são apresentados os
dados dos Postos Meteorológicos que foram utilizados:

Postos Meteorológicos utilizados nos Estudos


Nome / Localização Altitude Órgão Período de
Município
Código Long.W Lat.S (m) responsável Observação
Via - 9DR /
Rio de Janeiro 43°21’59” 23°00’00” 10 SERLA-RJ 1970-1994
2343007
Aeroporto
Rio de Janeiro 43°21’36” 22°58’48” 3 FAB 1994-2001
Jacarepaguá
Fonte: SERLA _ Superintendência de Rios e Lagoas _ Via 11

Face à indisponibilidade de uma série histórica adequada optou-se por tratar os dados disponíveis
para que os mesmos apontassem a tendência média dos anos considerados. Nos anos bissextos, o
dia 29 de fevereiro foi desconsiderado para permitir a comparação com outros anos. A escolha das
estações onde os dados supracitados foram coletados foi baseada na proximidade das mesmas com
a Área de Influência Direta para efeito desse estudo, cuja abordagem se encontra mais adiante.

Para o preenchimento de falhas da série utilizou-se a técnica de regressão linear simples aliada ao
teste de dupla massa para avaliar a consistência dos dados do Aeroporto de Jacarepaguá, seguindo-
se a recomendação da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) (THOM, 1966). Tais
procedimentos foram realizados tendo em vista o elevado número de dados diários faltantes (em
média 27%) na referida série histórica. A estação meteorológica escolhida para servir de referência
no estudo de preenchimento de falhas foi a do Aeroporto Tom Jobim (antigo Aeroporto do Galeão),
por apresentar um número não significativo de dados faltantes (< 1,0%) em sua série.

Apenas os dados de U não obtiveram coeficientes estatísticos considerados adequados para


realização do preenchimento de falhas (coeficiente de determinação (r2) inferior a 0,7). Assim, na
avaliação desse elemento foram considerados apenas os anos que tiveram valor inferior a 15% de
dados faltantes (de 1998 a 2001).

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Classificação Climática
Uma outra classificação, a de Wilhelm Köppen, estuda separadamente os elementos do clima. Ela
baseia-se, predominantemente, na temperatura, nas precipitações e na distribuição dos valores
destes dois elementos do clima durante as estações do ano. Assim, vê-se abaixo:

(1) Classificação Climática de Köppen

A classificação climática de Köppen é um sistema tradicionalmente utilizado em estudos regionais,


apresentando vantagens para a caracterização dos climas. A única restrição deste sistema é a
dificuldade de seu relacionamento com a cobertura vegetal nas áreas de transição climática. Tal
sistema de classificação define o clima segundo uma combinação de letras que indicam uma ou
várias características climáticas da região, tais como: temperatura, precipitação e suas distribuições
ao longo do ano. Na seqüência apresenta-se o significado dos símbolos da classificação de Köppen.

• 1ª letra – maiúscula, representa a característica geral do clima de uma região:


ƒ A – clima quente e úmido
ƒ B – clima árido ou semi-árido
ƒ C – clima mesotérmico (subtropical e temperado)

• 2ª letra – minúscula, representa as particularidades do regime de chuva:


ƒ f – sempre úmido
ƒ m – monçônico e predominantemente úmido
ƒ s – chuvas de inverno
ƒ s’ - chuvas do outono e inverno
ƒ w – chuvas de verão
ƒ w’- chuvas de verão e outono

• 3ª letra - minúscula, representa a temperatura característica de uma região:


ƒ h – quente
ƒ a – verões quentes
ƒ b – verões brandos

6
Para a região de interesse dos estudos, levando-se a termo os dados de precipitação total média
mensal e de temperatura média mensal foi calculado o índice que permite a classificação climática
da área de interesse cujo resultado é apresentado na seqüência .

Classificação Climática pelo Método de KÖPPEN


CLASSI FI CAÇÃO CLI MÁTI CA PELO MÉTODO DE KÖPPEN

POSTO : VI A 11 - 9DR ALTI TUDE : 3m


LATI TUDE = 22° 58’48” LONGI TUDE = 43° 21’59”
MAR

AGO

NOV
OUT
ABR

DEZ
JUN

JUL

SET
JAN

FEV

MAI
MESES ANUAL

PRECI P 134,1 108,8 114,3 141,2 105,6 71,6 65,1 64,8 85,5 81,2 93,7 139,8
1205,5
TEMPER 28,5 29,2 27,6 26,0 23,8 22,5 22,5 23,0 23,6 24,2 25,3 27,6 25,3
Í NDI CE ( TEMPER+ 14) / PRECI P CLASSI FI CAÇÃO

0,3261 Ama

Fonte: SMAC (2004b) / Precip. Superintendência de Rios e Lagoas – SERLA;


Temp. – Força Aérea Brasileira - FAB

(2) Classificação Climática de Thornthwaite

O método anterior baseia-se exclusivamente numa relação entre temperatura e precipitação, razão
pela qual não tem condições de definir o tipo de vegetação. Thornthwaite desenvolveu uma
classificação climática em função da temperatura, precipitação e evaporação. A introdução da
evaporação permite uma definição mais precisa da vegetação, pois ela é um forte condicionante da
flora. O método de Thornthwaite baseia-se em dois índices calculados com base em dados mensais,
que são apresentados na seqüência:

ÍNDICE (P-E): expressa a diferença entre a precipitação e a evaporação, com maior importância
quando as temperaturas são elevadas. A expressão proposta para sua estimativa é a seguinte:

10 / 9
⎛ Pi ⎞
12
INDICE ( P − E ) = 115 ∑ ⎜ ⎟

i=1 Ti -10

ÍNDICE (T-E): expressa a diferença entre a temperatura e a evaporação, e tem maior importância
em climas frios. A expressão proposta por Thornthwaite para esse índice expõe-se a seguir:

7
12
⎛ Ti - 32 ⎞
INDICE (T − E ) = ∑ ⎜⎝
i=1 4 ⎠

onde:

ƒ Pi: precipitação média mensal, em polegadas, e


ƒ Ti: temperatura média mensal, em ° F

Em função dos valores obtidos através dos índices anteriores, classifica-se o clima conforme os
critérios apresentados no Quadro abaixo.

Classificação Climática de Thornthwaite


Índice (P-E) Classe Vegetação Índice (T-E) Classe
(>128) Muito úmida floresta tropical (>128) Megatérmico
(128 a 64) Úmida floresta úmida (128 a 64) Mesotérmico
(64 a32) Sbúmida Cerrado (64 a 32) Microtérmico
(32 a16) semi-árida Estepe (32 a 16) Taiga
(< 16) Árida Desertos (16 a1) Tundra
( < 1) Gelisolo
Fonte: Thornthwaite C. W. Mather J. R. , The Water Balance – Plublications In Climatology, New Jersey

O Quadro a seguir apresenta o cálculo dos índices T-E e P-E e a classificação climática segundo o
método de Thornthwaite para a área de interesse.

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Classificação Climática pelo Método de Thornthwaite
CLASSI FI CAÇÃO CLI MÁTI CA PELO MÉTODO DE THORNTHWAI TE

POSTO : VI A 11 - 9DR - RJ ALTI TUDE = 3m


LATI TUDE = 22° 58’48” LONGI TUDE = 43° 21’59”

MAR

AGO

NOV
OUT
ABR

DEZ
JUN

JUL

SET
JAN

FEV

MAI
MESES ANUAL

PRECI P 134,1 108,8 114,3 141,2 105,6 71,6 65,1 64,8 85,5 81,2 93,7 139,8
1205,5
TEMPER 28,5 29,2 27,6 26,0 23,8 22,5 22,5 23,0 23,6 24,2 25,3 27,6 25,3
P-E 4,4 3,5 3,8 4,9 3,8 2,5 2,3 2,2 3,0 2,8 3,2 4,7 41,0
T-E 12,8 13,1 12,4 11,7 10,7 10,1 10,1 10,4 10,6 10,9 11,4 12,4 136,7
Í NDI CE CLASSI FI CAÇÃO

Í NDI CE( P- E) = 41,0 SUB- ÚMI DO

Í NDI CE( T- E) = 136,7 MEGATÉRMI CO


CI LMA SUB- ÚMI DO MEGATÉRMI CO

Fonte: SMAC (2004b) / Prec. – SERLA / Temp. - FAB

Segundo o ÍNDICE (T-E) de Thornthwaite, a área da bacia em estudo está completamente inserida
dentro de um clima megatérmico. Já a partir do ÍNDICE (P-E), observa-se que a área está inserida
em um clima subúmido.

• Pluviometria

Dos elementos climáticos, a precipitação pluviométrica é de importância fundamental na definição


do quadro climático das regiões tropicais, pois da sua quantidade e variação mensal dependem toda
a vida animal e vegetal e, conseqüentemente, todas as atividades humanas. Os dados de
precipitação considerados, como já citado, foram obtidos a partir da estação pluviométrica da Via
11. Na seqüência são apresentados os dados consolidados da série histórica referentes ao Posto
Pluviométrico Via 11, utilizados no presente estudo.

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Precipitações Médias Mensais, Máximas Diárias e Número de
Dias com chuva no Período 1970-1994 para o Posto Via 11 – RJ.
Parâmetro Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Prec.
Total
(mm) 134,1 108,8 114,3 141,2 105,6 71,6 65,1 64,8 85,5 81,2 93,7 139,8
Prec.
Máx.
Diária
(mm) 51,1 38,2 41,1 59,3 44,6 29,9 27,8 25,9 26,5 27,6 32,0 38,7
N. de Dias
com
Chuva 12 8 10 10 9 7 6 8 10 10 11 11
Fonte: Superintendência de Rios e Lagoas – SERLA

A análise dos dados coletados mostrou que o valor da precipitação anual acumulada foi de 1.206
mm, com um número médio de dias com chuva durante o ano de 112 dias. Observa-se que o
período de novembro a abril concentra 60,7% (731,9 mm) da precipitação anual e 55,4% (62 dias)
dos dias com chuva. Enquanto de maio a outubro esses valores se reduzem a 473,8 mm (39,3%) e
apenas 50 dias com chuva (44,6%).

Os extremos mensais da precipitação foram observados em agosto (64,7 mm) e abril (141,2 mm). A
precipitação mensal mostrou tendência sazonal, na qual seus valores diminuem de janeiro a agosto
e voltam a aumentar, em seguida, até dezembro, sendo exceção fevereiro, abril e setembro.
Fevereiro apresentou valores inferiores a março e abril superiores a este mês, contrário à tendência
de diminuição observada do período de verão para o inverno. Por outro lado, setembro teve
precipitação pluvial superior a de outubro. De forma geral, esta tendência é similar à variação
sazonal da precipitação mensal monitorada na estação climatológica principal do Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET), instalada no Aterro do Flamengo, para o período de 1961 a 1990.
Contudo, o mês fora da tendência foi abril, com valores superiores a maio, sendo os extremos
mensais observados em agosto (inferior) e dezembro (superior).

Variação sazonal análoga ao da chuva mensal é apresentado pelo número de dias com chuva. Porém
apenas fevereiro mostrou discrepância com relação a tendência, sendo seu valores inferiores a
março. O mês que mostrou o maior número de dias com chuva (12 dias) foi janeiro, enquanto o
extremo inferior (6 dias) foi observado em julho. Na seqüência apresentam-se as figuras contendo
a variação sazonal da precipitação no posto considerado.
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Variação Sazonal da Precipitação Mensal e Máxima Diária - Valores Médios
Referentes ao Período de 1970 a 1994.
Prec.(m m )
160
141,16 139,80
134,08
140

120 114,28
108,78 105,55
100 93,71
85,48
81,20
80 71,62
65,10 64,75
59,30
60 51,10
41,14 44,59
38,28 38,65
40 29,90 27,56 31,95
27,77 25,85 26,48

20

0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
Prec. Total (mm) Prec. Máx. Diária (mm)

Fonte: Superintendência de Rios e Lagoas – SERLA

Variação Sazonal do Número de Dias com Chuva - Valores Médios Mensais


Referentes ao Período de 1970 a 1994.
N. de Dias de Chuva
14
12 11 11
12
10 10 10 10
10 9
8 8
8 7

6
6

0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês

Fonte: Superintendência de Rios e Lagoas – SERLA

11
Segundo o estudo dinâmico-climatológico realizado para a Cidade do Rio de Janeiro (SMAC, 1997)
a tendência de diminuição do número de dias com chuva no inverno é devido ao deslocamento do
Anticliclone Subtropical do Atlântico Sul para o continente, provocando movimento de subsidência
do ar, e por conseqüência, inibição da formação de nuvens. Em contrapartida, no verão, o
Anticliclone Subtropical encontra-se mais sobre o Oceano Atlântico, originando uma massa de ar
quente e úmida, o que resulta em aumento da precipitação e do número de dias com chuva. No
verão, aliado ao posicionamento do Anticliclone, os sistemas de grande escala (frentes frias e linhas
de instabilidade) e meso-escala (movimento convectivos regionais e locais), proporcionam o
aumento nos valores de precipitação e número de dias com chuva.

• Temperatura do Ar

A temperatura do ar média mensal (Tméd) variou de 22,5 ºC em junho e julho a 29,2 ºC em fevereiro
(figura abaixo), e dessa forma, amplitude térmica anual de 6,7 ºC. A tendência sazonal de Tméd foi
de diminuição do verão para o inverno, não sendo observado valor fora da mesma em maio, como
visto anteriormente para precipitação.

12
Variação Sazonal da Temperatura do Ar Média (♦), Máxima (ο) e Mínima ( ) Mensal para o
Aeroporto de Jacarepaguá. Valores referentes ao período de 1994 a 2001.
o
Temp. ( C)
33

31

29

27

25

23

21

19

17

15
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
Temp. Méd. Temp.Máx. Temp. Mín.

Parâmetro JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANO
Temp.
Méd.(oC) 28,5 29,2 27,6 26,0 23,8 22,5 22,5 23,0 23,6 24,2 25,3 27,6 25,3
Temp.
Máx.(oC) 30,9 32,0 30,1 28,5 26,3 25,6 25,4 25,9 26,3 26,6 27,8 30,1 28,0

o
Temp. Mín.( C) 24,8 25,0 23,9 22,3 20,1 18,6 18,7 19,0 19,9 21,1 21,9 24,1 21,6

Fonte: SMAC (2004b)

As temperaturas mínimas (Tmín) e máximas (Tmáx) diárias apresentaram tendência similar ao de


Tméd, sendo que Tmín mostrou limites extremos em junho (18,6 ºC) e fevereiro (25,0 ºC), enquanto
que para Tmáx, esses extremos foram de 25,4 e 32,0 ºC, observados em julho e fevereiro,
respectivamente. Em termos de amplitude, as temperaturas mínima e máxima tiveram valores
próximos ao de Tméd e de 6,4 ºC (Tmín) e 6,6 ºC (Tmáx).

Os extremos superiores para os valores de temperatura (média, máxima e mínima) observados no


período de dezembro a março são justificados pela maior disponibilidade de radiação solar, nessa
época do ano para o Hemisfério Sul. Em contrapartida, de maio a setembro essa disponibilidade é
menor, o que acarreta diminuição da temperatura do ar. Somado à disponibilidade de radiação solar,
a movimentação de massas de ar frio e o posicionamento do Anticiclone Tropical durante o ano, são
outros mecanismos que influenciam na variação da temperatura do ar.

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• Umidade Relativa do Ar

Esta variável expressa a capacidade do ar circulante em captar o vapor d’água das superfícies livres,
solos e vegetação. A precipitação é derivada desta água atmosférica. A alta umidade atmosférica
implica em, pelo menos, dois efeitos benéficos possíveis no crescimento da planta. Primeiramente
muitas plantas podem absorver diretamente umidade do ar saturado. Segundo, a umidade pode
afetar a fotossíntese. Segundo Baker (1965) o nível fotossintético cresce com a umidade, mais ou
menos substancialmente em função da intensidade luminosa. A umidade atmosférica tende a
decrescer com o aumento da latitude, mas a umidade relativa sendo uma função inversa da
temperatura tende a aumentar. A umidade atmosférica é máxima sobre os oceanos e decresce à
medida que se avança para o interior dos continentes. Ela também decresce com a altitude e é maior
sobre áreas vegetadas do que sobre o solo estéril. A Figura a seguir apresenta os dados da umidade
relativa para o posto meteorológico considerado nos estudos.

Variação Sazonal da Umidade Relativa do Ar Média Mensal para o Aeroporto de


Jacarepaguá no período de 1994 a 2001.

Umid. Rel.(%)
64

63

62

61

60
,
59

58

57
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Mês

Parâmetro JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANO

Umid. Relat. 62,3 60,2 62,9 60,3 60,9 59,4 57,9 58,0 60,0 63,3 63,1 61,2 60,8

Fonte: SMAC (2004b)

A análise dos dados apresentados revela que o valor mínimo da umidade relativa do ar média
mensal foi observado em julho (57,9%), enquanto outubro apresentou o máximo (63,3%). Ainda
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com relação à sua distribuição temporal, pode-se constatar que os meses de menor umidade relativa
correspondem aos meses de outono e inverno para a estação meteorológica citada.

A variação sazonal da UR mostrou tendência em função da variação da precipitação, com os


menores valores concentrados entre abril e setembro e os maiores de outubro a março, sendo
exceção, fevereiro que teve valores abaixo dos observados para os meses de outubro a março.

A umidade relativa do ar para a estação do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) localizada


no Aterro do Flamengo apresenta tendência sazonal, na qual seus valores diminuem de março
(80%) a julho (77%), aumentando a partir de setembro, sendo análoga à variação em Jacarepaguá,
com algumas exceções. Contudo na região do aeródromo a UR foi em média 18% menor do que no
Aterro do Flamengo.

Nos períodos de menor UR, a precipitação pluviométrica e a temperatura do ar também tiveram


valores inferiores ao dos outros meses e nos de maior UR, condições inversas, ou seja, maior
precipitação e temperatura do ar.

• Velocidade do Vento

A meteorologia denomina de vento o movimento, aproximadamente horizontal, do ar atmosférico,


chamando de correntes os movimentos verticais. Duas variáveis, velocidade e direção, caracterizam
os ventos, sendo que ambas são fortemente influenciadas pelas irregularidades topográficas.

O registro da média num determinado período (a média diária ou mensal) e a medida instantânea
são as formas de se medir a velocidade do vento, enquanto a direção pode ser medida com
registradores contínuos, de 0 a 360 graus.

Para efeito dos estudos ora apresentados a velocidade média diária do vento foi classificada
segundo a escala de Beaufort (DHN, 2004), conforme revela quadro abaixo e organizada para cada
mês separadamente na forma de histogramas de freqüência relativa.

O extremo superior da velocidade média diária do vento registrada no Aeroporto de Jacarepaguá


para os anos avaliados (1998 a 2001) foi de 7,1 m s-1, classificada como Vento Moderado, pela

15
definição de Beaufort (quadro anterior). Dessa forma, as distribuições de freqüência foram
organizadas a partir da classe supracitada na direção das inferiores, totalizando cinco classes,
apresentadas nessa ordem: Calmaria, Bafagem, Aragem, Vento Fraco e Vento Moderado como
mostrado na Figura a seguir em seqüência, onde os valores no eixo das abscissas representam os
limites superiores das classes de freqüência da velocidade do vento em metros por segundo como
apresentado no quadro já citado.

Classificação da Velocidade Média do Vento (U), segundo a Escala de Beaufort, em Função


das Classes de U Expresso em Metros por Segundo (m s-1)
CLASSE DE
ORDEM VELOCIDADE DO VENTO CLASSIFICAÇÃO
(m s-1)
0 ≤ 0,51 Calmaria
1 0,51 < U ≤ 1,54 Bafagem
2 1,54 < U ≤ 3,09 Aragem
3 3,09< U ≤ 5,14 Fraco
4 5,14 < U ≤ 8,23 Moderado
5 8,23 < U ≤ 10,80 Fresco
6 10,80 < U ≤ 13,89 Muito fresco
7 13,89 < U ≤ 16,98 Forte
8 16,98 < U ≤ 20,58 Muito Forte
9 20,58 < U ≤ 24,18 Duro
10 24,18 < U ≤ 28,29 Muito Duro
11 28,29 < U ≤ 32,41 Tempestuoso
12 > 32,41 Furacão
FONTE: DHN (2004)

Distribuições Mensais de Freqüência Relativa da Velocidade Média Diária do Vento Baseada


na Escala de Beaufort.

Janeiro Fevereiro 6 4 ,5 Março


16
80% 7 5 ,0 % 20% 1 8 ,7 % 70% %
70% 60%
60% 15% 1 3 ,1 % 50%
Abril Maio Junho
5 7 ,1 % 5 7 ,8
70% 6 3 ,9 % 60% 70%
%
60% 50% 60%
50% 50% 3 4 ,9
40%
40% 3 0 ,5 % 40% %
2 6 ,9 % 30%
30% 30%
20% 20%
1 0 ,5 % 20%
8 ,3 %
10% 10% 10% 6 ,4 %
0 ,0 % 0 ,9 % 0 ,0 % 1 ,9 % 0 ,9 % 0 ,0 %
0% 0% 0%
0,51 1,54 3,09 5,14 8,23 0,51 1,54 3,09 5,14 8,23 0,51 1,54 3,09 5,14 8,23
V e l.( m / s ) V e l.( m / s ) V e l.( m / s )

Julho Agosto 5 5 ,5 Setembro


60% 5 4 ,5 % 70% 60% %
5 9 ,0 %
50% 60% 50%
50%
40% 40%
3 0 ,0 % 40% 2 1 ,8 2 1 ,8
30% 2 9 ,1 % 30%
30% % %
20% 1 2 ,7 % 20%
20% 1 1 ,1 %
10% 2 ,7 % 10% 10%
0 ,0 % 0 ,9 % 0 ,0 % 0 ,0 % 0 ,9 %
0% 0% 0%
0,51 1,54 3,09 5,14 8,23 0,51 1,54 3,09 5,14 8,23 0,51 1,54 3,09 5,14 8,23
V e l.( m / s ) V e l.( m / s ) V e l.( m / s )

Outubro Novembro 6 2 ,2 Dezembro


70% 70% 6 6 ,3 % 70%
6 2 ,2 % %
60% 60% 60%
50% 50% 50%
40% 40% 40% 2 5 ,5
30% 2 5 ,5 % 30% 30% %
2 2 ,1 %
1 0 ,2
20% 20% 20%
1 0 ,2 % 9 ,6 % %
10% 1 ,0 % 1 ,0 % 10% 1 ,0 % 1 ,0 % 10% 1 ,0 % 1 ,0 %
0% 0% 0%
0,51 1,54 3,09 5,14 8,23 0,51 1,54 3,09 5,14 8,23 0,51 1,54 3,09 5,14 8,23
V e l.( m / s ) V e l.( m / s ) V e l.( m / s )

Fonte: SMAC (2004b)


Durante todos os meses do ano a classe de velocidade de vento de 1,54 < U ≤ 3,09 m.s-1 (Aragem)
mostrou maior número de ocorrências quando comparada às outras classes, variando de 54,5% em
julho a 75,0% em janeiro. Em seguida, aparecem as classes de Bafagem (0,51 < U ≤ 1,54 m.s-1) e

17
Vento Fraco (3,09 < U < 5,14 m.s-1), em que independente do mês, Bafagem mostrou valores
superiores a Vento Fraco. O extremo inferior e superior para a Bafagem foram em janeiro (18,1%) e
junho (34,9%), respectivamente, e para Vento Fraco os extremos ocorreram em janeiro (5,2%) e
setembro (21,8%).

As classes restantes (Calmaria e Vento Moderado) tiveram ocorrências inferiores a 1,9%, sendo que
não foram observados eventos de Calmaria em abril, maio e setembro, ocorrendo a máxima dessa
classe (2,7%) em julho. Já a classe Vento Moderado mostrou eventos em janeiro, abril, maio,
setembro, novembro e dezembro, com extremo superior de 1,9% observado em maio.

• Análise de Agrupamento (Cluster)

Visando facilitar as análises, foram identificados períodos mensais com condições meteorológicas
similares utilizando a análise de agrupamento (cluster). para tal, aplicou-se o método hierárquico
aglomerativo de ward (ward, 1963), tendo como medida de dissimilaridade a distância euclidiana.
na análise de agrupamento foram considerados os valores médios mensais dos seguintes elementos
meteorológicos: precipitação pluviométrica, número de dias com chuva, temperatura do ar média,
máxima e mínima, umidade relativa do ar e velocidade do vento.

O método de Ward é um algoritmo estatístico que forma grupos de indivíduos com características
similares; no presente caso os indivíduos são os meses e as características os elementos
meteorológicos, minimizando a soma de quadrados dos desvios (SQD). Em cada passo do
procedimento são formados grupos de tal maneira que a solução resultante tenha o menor SQD
dentro dos grupos. Nessas etapas são considerados as uniões de todos os possíveis pares de grupos,
e os dois que resultem em um menor aumento de SQD são agrupados até que todos os grupos
formem um único reunindo todos os indivíduos (EVERITY, 1991).

Para a realização da análise de agrupamento cada elemento meteorológico utilizado foi padronizado
(transformação Z) pela média e desvio padrão, visto que seus valores apresentam ordens de
magnitude diferentes. Assim, após a transformação, cada elemento passa a apresentar distribuição
normal com média igual a zero e desvio padrão um (N[0,1]).

18
A análise de agrupamento permitiu separar em três principais grupos os meses com condições
meteorológicas similares (Figura abaixo) para a região da Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Os grupos
ou períodos foram formados pelos seguintes meses:

ƒ Período 1 (P1) - janeiro, fevereiro, março e dezembro;


ƒ Período 2 (P2) - abril, junho, julho e agosto;
ƒ Período 3 (P3) - maio, setembro, outubro e novembro.

No período 1 foram agrupados os meses com precipitação pluviométrica superior a 100 mm, com
valores variando entre 108,8 (fevereiro) e 139,8 mm (dezembro), enquanto no período 2 apenas
abril teve precipitação superior a 100 mm (de 64,8 mm em agosto a 141,2 mm em abril). Os meses
do período 3 mostraram precipitações inferiores aos de P1 e superiores aos de P2, sendo exceção
abril com valores superiores a todos os meses de P3. A precipitação mensal em P3 variou entre 81,2
(outubro) e 105,6 mm (maio). Com relação ao número de dias com chuva manteve-se a tendência
de P1 (de 8 a 12 dias com chuva) e P3 (de 8 a 11 dias com chuva) apresentarem valores superiores a
de P2 (de 6 a 10 dias com chuvas), sendo abril exceção novamente. Contudo, não houve diferenças
estatísticas significativas no número de dias com chuva entre P1 e P3.

Com relação à temperatura (média, mínima e máxima) e umidade relativa do ar, novamente P1
(Tméd: 27,6 – 29,2 ºC; Tmín: 23,9 – 25,0 ºC; Tmáx: 30,1 – 32,0 ºC e UR: 60,2 – 62,9%) apresentou
valores superiores a P2 (Tméd: 22,5 – 26,0 ºC; Tmín: 18,6 – 22,3 ºC e Tmáx: 25,4 – 28,5 ºC e UR: 57,9
– 60,3%), com exceção da umidade relativa de fevereiro (60,2%) que foi inferior à de abril (60,3%),
porém não sendo a diferença significativa estatisticamente. Os valores de Tméd, Tmín e Tmáx nos
meses do período 3 (Tméd: 23,6 – 25,3 ºC; Tmín: 19,9 – 21,1 ºC e Tmáx: 26,3 – 27,8 ºC) tiveram
valores na mesma faixa dos observados em P2. Contrário à tendência da temperatura do ar a
umidade relativa nos meses de P1 se encontrou no mesmo intervalo de P3 (UR: 60,0 – 63,3%).

Dendograma dos Períodos (meses) Agrupados pelo Método Hierárquico de Ward em Função
dos Elementos Meteorológicos

Meses

19
Jan Peíodo 1

Fev.
Fonte: SMAC (2004b)

Os meses do período 1 mostraram um menor número de ocorrências na classe de Bafagem (0,51 <
U ≤ 1,54 m s-1) em comparação com o período 2, enquanto em P3, as freqüências se encontram na
mesma faixa de P1. De forma inversa, a classe de Aragem (1,54 < U ≤ 3,09 m s-1) em P1 apresenta
um maior número de ocorrências quando comparada a P2, com exceção de abril (63,9%), sendo que
novamente P3 mostrou-se na mesma faixa de freqüência de P1. Na classe de Vento moderado P2
teve ocorrências em um único mês (abril, 0,9%) e em P1 em dezembro e janeiro, 1,0% e 0,9%
respectivamente, ou seja, proporcionalmente o número de ocorrências nas classes superiores de
vento aumenta nos meses do período 1 em comparação a P2.

• Qualidade do Ar

A primeira rede de monitoramento da qualidade do ar instalada na Região Metropolitana do Rio de


Janeiro pertence ao Governo do Estado sendo operada pela Fundação Estadual de Engenharia de
Meio Ambiente – FEEMA, desde 1976. Atualmente é composta por 15 estações manuais de
partículas em suspensão, 15 estações manuais de partículas inaláveis e apenas 4 estações
automáticas capazes de monitorar gases e material particulado. Esta rede tem por finalidade
monitorar toda a Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro composta por 17 municípios, os
quais abrangem a área total de 6.500 km2.

20
Embora a FEEMA venha realizando o monitoramento da qualidade do ar durante muitos anos,
tomando como base o parâmetro Material Particulado, a rede instalada se mostrava incapaz de
atender toda a Região Metropolitana, além de não estar aparelhada para avaliar de forma detalhada
os principais poluentes especificados pela legislação 1 .

Com o objetivo de cobrir estas lacunas e motivada pela possibilidade de um alto grau de degradação
da qualidade do ar indicado a partir dessas poucas informações disponíveis para algumas áreas da
cidade, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SMAC criou em 2000 o Programa de
Monitoramento da Qualidade do Ar na Cidade do Rio de Janeiro.

O objetivo principal deste Programa é a avaliação dos níveis dos poluentes atmosféricos com vistas
em futuras ações que levem a sua redução, caso destes se mostrarem elevados, à patamares que se
reflitam numa melhoria da qualidade do ar, acarretando por sua vez em ganhos sociais, como por
exemplo; menor incidência de doenças respiratórias.

Este programa contemplou na 1a etapa a instalação de quatro estações automáticas localizadas no


Largo da Carioca, Praça Cardeal Arcoverde, Praça Saens Peña e Campo de São Cristóvão. Nesta
etapa, também foi instalada uma Unidade Móvel que percorre, 14 pontos da cidade, por um período
de 30 dias em cada um, monitorando além dos parâmetros de qualidade do ar como CO,
Hidrocarbonetos Totais (HC), SO2, Óxidos de Nitrogênio (NOx), Ozônio (O3) e Partículas Inaláveis
(PI), os parâmetros meteorológicos de Direção e Velocidade do Vento, Temperatura e Umidade
Relativa do Ar, Pressão Atmosférica e Radiação Solar.

Os dados disponíveis oriundos desse Programa permitem, embora de maneira preliminar face ao
curto período de operação, uma caracterização da qualidade do ar na Região Metropolitana que,
conseqüentemente, abrange a região de interesse para os estudos. Os padrões de qualidade do ar são
fixados em níveis que possam propiciar margem de segurança adequada, com o objetivo de criar a
base para uma política de prevenção da degradação da qualidade do ar.

Quando se determina a concentração de um poluente, está medindo-se o grau de exposição dos


receptores como resultado final do processo de lançamento deste poluente na atmosfera por suas
fontes de emissão e suas interações neste meio, do ponto de vista físico (diluição) e químico
(reações químicas).

NOTA 1: Resolução CONAMA 03/90 que padroniza as concentrações primárias e secundárias dos
poluentes: Partículas Inaláveis, Partículas Totais em Suspensão, Dióxido de Enxofre, Monóxido de Carbono,

21
O IBAMA, através da Portaria Normativa no 348 de 14/03/90, estabeleceu os padrões nacionais de
qualidade do ar, ampliando o número de parâmetros anteriormente regulamentados através da
Portaria GM 0231 de 27/04/76. Esses padrões foram submetidos ao CONAMA em 28/06/90 e
transformados na Resolução CONAMA no 03/90, na qual os padrões são divididos nas categorias
primários e secundários, como apresentado a seguir.

Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução CONAMA no 03 de 28/06/90)


Padrão Padrão
Tempo de
Poluente Primário Secundário Método de Medição
Amostragem
(μg/m3) (μg/m3)
Amostrador de grandes
Partículas Totais 24 horas (1) 240 150
volumes
em Suspensão MGA (2) 80 60

24 horas (1) 365 100


Dióxido de
Enxofre Pararosanilina
MAA (3) 80 40
1 hora (1) 40.000 40.000
(35 ppm) (35 ppm)
Monóxido de Infravermelho não
Carbono 8 horas (1) 10.000 10.000 dispersivo
(9 ppm) (9 ppm)

Ozônio 1 hora (1) 160 160 Quimiluminescência


24 horas (1) 150 100
Fumaça
Refletância
MAA (3) 60 40

24 horas (1)
150 150
Partículas Inaláveis Separação
MAA (3) Inércia/Filtração
50 50

Dióxido 1 hora (1) 320 190


de Nitrogênio Quimiluminescência
MAA (3) 100 100
Fonte: CONAMA (1990)
Nota: (1) Não deve ser excedido mais que uma vez ao ano; (2) Média geométrica anual, (3) Média aritmética
anual
Os padrões primários de qualidade do ar são as concentrações de poluentes que, se ultrapassadas,
poderão afetar a saúde da população, podendo ser entendidos como níveis máximos toleráveis de
concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo, os quais

Ozônio e Dióxido de Nitrogênio.


22
se enquadram dentro dos objetivos deste trabalho. Já os secundários são as concentrações de
poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da
população, assim como o mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral,
devendo ser entendidos como níveis desejáveis de concentração de poluentes, constituindo-se em
meta de longo prazo. Ainda a Resolução CONAMA nº 03/90 estabelece os critérios para episódios
agudos de violação da qualidade do ar, conforme se segue.

Critérios para Episódios Agudos de Violação da Qualidade do Ar (Resolução CONAMA no 03


de 28/06/90)

NÍVEIS
PARÂMETROS ATENÇÃO ALERTA EMERGÊNCIA
Dióxido de Enxofre
800 1.600 2.100
(SO2) (μg/m3)-24h
Partículas Totais em
Suspensão (PTS) - 375 625 875
(μg/m3) – 24h
SO2 X PTS (μg/m3)
65.000 261.000 393.000
(μg/m3) – 24h
Monóxido de Carbono
15 30 40
(CO) (ppm) – 1h
Ozônio (O3 ) - (μg/m3)-
400 800 1.000
1h
Partículas Inaláveis (PI)
250 420 500
(μg/m3) – 24h

Fumaça(μg/m3) – 24h 250 420 500

Dióxido de Nitrogênio
1.130 2.260 3.000
(NO2) - (μg/m3)-1h
Fonte: CONAMA (1990)

A partir dos dados coletados pela estação móvel instalada na Barra da Tijuca no período de
novembro de 2004 e agosto de 2005, pode-se inferir alguns aspectos da qualidade do ar na região de
interesse. Uma caracterização mais aprofundada da qualidade do ar prescinde de um detalhado
estudo que combine os dados meteorológicos e antrópicos, bem como a análise estatística e
descritiva dos mesmos. A criação do banco de dados dentro do programa supracitado permitirá o
estabelecimento de um diagnóstico específico de modo a orientar a definição de ações de prevenção
e de recuperação por parte do poder público.

23
Segundo os dados disponíveis na estação móvel citada, o período analisado apresentou uma
densidade de partículas inaláveis máxima de 130 mg/m3, valor este abaixo dos níveis de atenção
preconizados pela Resolução CONAMA nº 03/90. No mesmo período, registrou-se ainda o valor
mínimo de 34 mg/m3 o que permite inicialmente apontar as condições de qualidade do ar como
boas.

b) Condições para Dispersão de Poluentes na Região

O estudo de agrupamento climatológico antes apresentado, que estabeleceu para a região três
períodos climatológicos distintos, permite observar que no período 1 foram agrupados os meses que
apresentam condições meteorológicas favoráveis à dispersão dos poluentes primários, e dessa forma
à diminuição nas suas concentrações, tais como alto índice pluviométrico, número de dias com
chuva e umidade relativa, em contraste com o período 2, as condições são desfavoráveis à dispersão
dos poluentes (baixo índice pluviométrico, número de dias com chuva e umidade relativa, além do
aumento de ocorrências de baixas velocidades do vento). Os meses do período 3 tiveram condições
razoáveis à dispersão dos poluentes.

Uma exceção à tendência supracitada pode ser para os poluentes secundários, tais como o ozônio,
formados por meio de processos fotoquímicos, sendo sua concentração altamente influenciada pela
disponibilidade de radiação solar. Ademais, há necessidade de longas séries de medições para cada
um dos elementos meteorológicos e das concentrações dos poluentes, tanto primários como
secundários, visando confirmar as hipóteses levantadas.

Essas hipóteses são, em parte, respaldadas pelos resultados da análise de 14 anos de dados de
poluição (partículas inaláveis, fumaça, monóxido de carbono e ozônio) na região metropolitana de
São Paulo (RMSP) e Cubatão, realizada pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
do Estado de São Paulo (CETESB, 1996). O relatório comenta que os seguintes poluentes
primários, partículas inaláveis, fumaça e monóxido de carbono apresentam uma tendência sazonal,
em que as maiores concentrações são observadas no inverno. Enquanto o ozônio, contrário aos
outros parâmetros, mostrou os maiores valores de concentração na primavera e verão.

c) Influência do Relevo na Dispersão dos Poluentes

24
As regiões da Barra da Tijuca e Jacarepaguá encontram-se inseridas na Bacia Aérea II (AP4)
relacionada aos Estudos da SMAC-RJ, sendo delimitada pelos Maciços da Pedra Branca e da Tijuca
e o Oceano Atlântico (Figura abaixo). Os Maciços da Tijuca e da Pedra Branca localizam-se
paralelos à orla marítima e atuam como barreira física aos ventos predominantes do mar,
dificultando a ventilação adequada das áreas situadas mais ao interior do continente (SMAC,
2004a).

Os maciços apresentam altitudes acima de 900 m, estendendo-se do continente até o Oceano


Atlântico, tanto no sentido sudeste (Tijuca) como sudoeste (Pedra Branca). Na região entre os
maciços observa-se uma área de baixada, com altitudes inferiores a 20 m, conhecida como Baixada
de Jacarepaguá. Esta configuração pode proporcionar, dependendo da velocidade e direção dos
ventos à superfície, um forçamento da direção de escoamento para a Baixada de Jacarepaguá, por
conta da indução aerodinâmica da topografia. No caso dos ventos fracos ou de baixa ventilação, a
proteção causada pelos maciços sobre a Baixada de Jacarepaguá produz uma zona de relativa
estagnação do ar, proporcionando a degradação da sua qualidade, mantendo-se as mesmas taxas de
emissão por fontes de poluentes locais para a atmosfera (SMAC, 1997).

Relevo do Município do Rio de Janeiro, destacando os maciços de Gericinó, Pedra Branca e


Tijuca com a respectiva hipsometria.

25
Fonte: Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP)

De acordo com o estudo dinâmico-climatológico (SMAC, 1997), na Baixada de Jacarepaguá os


ventos Sul são mais benéficos para a qualidade do ar, pois alinhados entre os sistemas topográficos
à esquerda e à direita, são canalizados por estes, induzindo a um escoamento do ar mais intenso e
com maior penetrabilidade continental ao norte, dependendo, é claro, das velocidades dos ventos
locais.

Na região, os ventos locais mostram direção predominante perpendicular ao litoral, podendo ser
intensificado em alguns pontos como resultado da formação do vale pelo encontro dos maciços.
Neste ponto, ocorre integração com o escoamento proveniente da Bacia Aérea III (SMAC, 2004a).

d) Considerações Finais Sobre as Condições Ambientais para Dispersão de Poluentes na Região em


Estudo

26
A análise de agrupamento climatológico permitiu separar três períodos mensais com condições
meteorológicas similares para a região da Barra da Tijuca. Os períodos são os seguintes:

ƒ Período 1 - janeiro, fevereiro, março e dezembro;


ƒ Período 2 - abril, junho, julho e agosto;
ƒ Período 3 - maio, setembro, outubro e novembro.

Os meses do período 1 apresentam condições meteorológicas favoráveis à dispersão dos poluentes


primários. Em contraste, no período 2 os meses agrupados têm condições desfavoráveis à dispersão
dos poluentes. Enquanto o período 3 mostra condições razoáveis à dispersão dos poluentes.

Na região da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, os Maciços da Tijuca e da Pedra Branca atuam como
barreira física aos ventos principalmente na direção Sul, ou seja, do mar para o continente. Porém,
na Baixada de Jacarepaguá essa direção, dependendo da velocidade do vento, pode ser mais
adequada à qualidade do ar, visto que os mesmos podem ser canalizados na direção Norte, para o
interior do continente. No caso de baixa velocidade do vento, essa configuração proporciona uma
estagnação do ar sobre a Baixada, dificultando a dispersão dos poluentes.

27

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