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Tribunal de Justiça de Pernambuco


Poder Judiciário
1º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo de Paulista - Turno Manhã - 07:00h às 13:00h

AV SENADOR SALGADO FILHO, CENTRO, PAULISTA - PE - CEP: 53401-440 - F:(81) 31819030

Processo nº 0005126-96.2016.8.17.8222

DEMANDANTE: EVERALDO RODRIGUES DE MOURA

DEMANDADO: SENDAS DISTRIBUIDORA S/A, SENDAS DISTRIBUIDORA S/A

SENTENÇA

Vistos, etc.

Dispensado o relatório. Fundamento e DECIDO.

Não há preliminares para apreciação.

Cuida-se de ação com pedido de indenização por danos materiais e morais em que o autor alega que:
“(...) Em 15/10/2016 o demandante foi realizar compras no estabelecimento comercial denominado Supermercado1. (Doc. 03) Assaí, localizado na BR 101, nº 5.800
Arthur Lundgren, Paulista-PE. Chegou por volta das 10:00h conduzindo seu veículo de Marca VW/VOYAGE CL, Placa nº KGL 1695 ( Doc.04_CRV).

Contudo, quando retornou ao estacionamento do estabelecimento supracitado, percebeu que seu veículo tinha sido2. furtado. Imediatamente acionou a equipe de
segurança da demandada, Policia militar e posteriormente policia civil . (Doc.5)

Durante o procedimento preliminar de investigação, foi constatada nas filmagens internas a prática delituosa realizada dentro do estacionamento da demandada. Porém
não forneceram cópia das filmagens, apenas demonstraram através do celular do funcionário da demandada.

De imediato, a demandada através do chefe da segurança, informou que seria iniciada abertura de sinistro junto à seguradora contratada e que iria se responsabilizar pelos
danos causados ao demandante. Solicitou vários documentos, sendo entregue no dia 18/10/2016 (Doc.6)

Após entrega dos documentos supracitados, o demandante ligou por diversas vezes sem êxito, foi pessoalmente várias vezes falar com o gerente da unidade, mas o
mesmo não o recebeu. Tentou comunicação através de seu advogado, porém o gerente não os recebeu ou retornou qualquer contato até a presente data”.

Destaco que a presente lide deve ser analisada sob o prisma pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei
8.078/1990), que por sua vez regulamenta o direito fundamental de proteção do consumidor, consoante o
art. 5º, XXXII, da Constituição Federal).

Neste sentido, a ré responde objetivamente em virtude da prática de falha de serviço, excetuada as


hipóteses previstas no art. 14, § 3°, incisos I e II do CDC.

Examinando a prova dos autos, verifico que há prova da propriedade do bem pelo requerente, conforme
Id. Num. 16482513 - Pág. 1, bem como das compras realizadas no dia do evento, de acordo com o Id.
Num. . 16482507 - Pág.1, tendo ainda sido o fato registrado, através de Boletim de Ocorrência, conforme
Id: Num. 16482516 – Pág. 1.

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Ademais, verifico que a demandada não trouxe nenhum elemento probatório para corroborar a versão
apresentada em contestação, não tendo assim se desincumbido da prova de nenhum fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito da autora, na forma do art. 373, inciso II do NCPC, uma vez que resta
evidente dos auto que havia sistema de monitoramento do estacionamento.

Ademais, consta do depoimento do autor que:

“(...) o veiculo não foi encontrado; que não sabe informar se foi instaurado inquérito com base no Boletim de Ocorrência anexado
aos autos; que quando observou ter sido furtado imediatamente falou com o chefe da segurança de nome Claudio; que este
funcionario o orientou a apresentar documentos a fim de acionar o seguro, tendo nesta oportunidade mostrado as filmagens onde
viu o veiculo sendo furtado; que foi orientado também a prestar B.O; que no dia 18/10/2016 entrou a documentação solicitada a
demandada, conforme documento juntado aos autos sob identificador de nº. 16482529 - Pág. 1; que no seu veiculo tinha um som
completo, o jogo de rodas novo; que estes itens somados foram R$ 3.000,00”. (Id. Num. . 28391401 – Pág. 1).

A preposta da requerida, Sra. Nadja Regina da Silva, por sua vez, afirmou que:

“(...) não sabe informar se foi registrada alguma ocorrência nas dependências do estabelecimento demandado no dia 15/10/2016;
que não sabe informar o procedimento adotado pela demandada em caso de furto nas dependências da empresa; que não sabe
informar se a pessoa de nome Luana Santos que recebeu os documentos entregues pelo autor no dia 18/10/2016, conforme
documento juntado aos autos 16482529 - Pág. 1, era funcionaria da demandada há época; que na época do fato noticiado pelo
autor no estabelecimento demandado havia sistema de monitoramento; que não sabe informar se há época do fato o nome do chefe
de segurança era Claudio. (Id. Num. . 28391401 – Págs. 1-2).

Destarte, observo que, ao caso aplica-se a Teoria da Redução do Módulo da Prova, considerando a
dificuldade de a vítima comprovar propriamente o furto, afigurando-se contudo verossimilhante sua
versão pela produção de Boletim de Ocorrência, ainda que unilateral, sendo certo que a falta de
veracidade deste sujeitaria a demandante a processo crime.

Com efeito, infere-se do conjunto probatório que o local é dotado de sistema de monitoramento por
câmeras, não tendo a ré logrado trazer ao feito as imagens que pudessem desconstituir a verossimilhança
da prova produzida pelo autor, pelo que reputo existente o furto do bem de propriedade do requerente,
recaindo sobre o demandado o dever de indenizar a postulante por danos materiais , em face da a culpa in
vigilando.

Aliás, neste sentido estabelece a Súmula 130 do STJ que: “A EMPRESA RESPONDE, PERANTE O
CLIENTE, PELA REPARAÇÃO DE DANO OU FURTO DE VEICULO OCORRIDOS EM SEU
ESTACIONAMENTO”.

Neste sentido, ainda o seguinte excerto jurisprudencial do STJ:

DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E


COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. FURTO DE VEÍCULO EM ESTACIONAMENTO. INSTITUIÇÃO
PRIVADA DE ENSINO SUPERIOR.

CIRCUNSTÂNCIAS CONCRETAS APTAS A GERAR NO ALUNO-CONSUMIDOR LEGÍTIMA EXPECTATIVA DE


SEGURANÇA. RESPONSABILIDADE CIVIL CARACTERIZADA.

1. Ação ajuizada em 29/05/2007. Recurso especial interposto em 23/02/2016 e atribuído a esta Relatora em 25/08/2016.
Julgamento: CPC/1973.

2. O propósito recursal consiste em definir se há responsabilidade da instituição privada de ensino superior por furto de
veículo de propriedade de um de seus alunos, ocorrido nas dependências do estacionamento fornecido pela entidade em seu
campus.

3. Tradicionalmente, a jurisprudência desta Corte entende que os estabelecimentos comerciais e congêneres que fornecem
estacionamento aos veículos de seus clientes respondem objetivamente por danos, furtos ou roubos. O entendimento - que
foi consolidado na Súmula 130/STJ - é de que a disponibilização do estacionamento constitui mecanismo de captação de
clientela para o estabelecimento, que, em troca dos benefícios indiretos que aufere, deve zelar pela segurança dos veículos
dos consumidores, suportando os riscos inerentes à comodidade oferecida. 4. Contudo, essa orientação, que se fundamenta

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na teoria do risco-proveito, acaba por, automaticamente e sem quaisquer outras considerações, transferir o risco de dano
ou subtração do veículo para o mantenedor do estacionamento, risco esse que, a princípio, é do proprietário do bem.

5. Além disso, a teoria do risco-proveito, aplicada sistematicamente, implica a presunção de que o risco assumido por
qualquer estabelecimento, assim como o proveito decorrente do estacionamento, é uniforme e invariável, o que não condiz
com a realidade econômica-social, tão dinâmica e multifacetada.

6. Nesse contexto, entende-se que a responsabilidade do estabelecimento por danos ou subtrações de veículos em
estacionamentos deve ser aferida casuisticamente, cabendo ao julgador investigar se o conjunto das circunstâncias
concretas do estabelecimento e seu estacionamento são aptas a gerar, no consumidor-médio, razoável expectativa de
segurança.

7. Se esse conjunto de circunstâncias, objetivamente consideradas, indicar que havia razoável expectativa de segurança por
parte do consumidor-médio, a responsabilidade do estabelecimento ou instituição estará configurada, assentando-se o nexo
de imputação na frustração da confiança a que fora induzido o consumidor.

8. Dentre as circunstâncias relevantes, podem ser citadas (sem qualquer intuito de exaurimento): pagamento direto pelo
uso do espaço para estacionamento; natureza da atividade exercida (se empresarial ou não, se de interesse social); ramo do
negócio; porte do estabelecimento; nível de acesso ao estacionamento (fato de o estacionamento ser ou não exclusivo para
clientes ou usuários do serviço); controle de entrada e saída por meio de cancelas ou entrega de tickets; aparatos físicos de
segurança na área de parqueamento (muros, cercas, grades, guaritas e sistema de vídeo-vigilância); presença de guardas
ou vigilantes no local; nível de iluminação.

9. No particular, verifica-se que, de fato, havia legítima expectativa do aluno quanto à segurança do veículo enquanto
estacionado no campus, pois, consoante registrado no acórdão recorrido, o estacionamento, apesar de gratuito, não é
aberto ao público; a entrada e saída de veículos é controlada por cancelas e o local conta com vigilância prestada por
empresa especializada.

10. Recurso especial não provido.

(REsp 1606360/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 30/10/2017).

No que tange ao pleito de danos morais, são estes devidos excepcionalmente, com caráter “extra rem”,
tendo em vista o o teor do art. 6º, VI c.c. 14, caput do CDC, dado o longo período sem solução do
problema, revelando descaso do requerido para com o consumidor, o que extrapola o mero aborrecimento.

Friso, contudo, que a indenização por danos morais deve pautar-se pelos princípios da moderação e da
razoabilidade, bem assim pela observância da condição econômica das partes, da gravidade e da extensão
do dano suportado, sem se olvidar a finalidade compensatória, pedagógica e preventiva da indenização,
evitando-se ainda o enriquecimento indevido do postulante.

Isto posto, e por tudo o mais que dos autos consta, julgo PROCEDENTE, o pedido, resolvendo o mérito
(art. 487, inciso I do NCPC), deduzido na inicial, para:

1) condenar o réu a restituir ao autor o montante de R$ 6.064,00 (seis mil e sessenta e quatro reais), a
título de danos materiais, incidentes correção monetária pela tabela ENCOGE e juros legais, desde a data
da citação;

2) Condenar ainda a requerida a pagar ao postulante indenização por danos morais, com base no art. 6º,
inciso VI do CDC, no montante de R$ 3.000,00 ( três mil) reais, acrescidos de juros legais e correção
monetária pela tabela ENCOGE, desde a publicação da sentença (súmula 362 STJ).

Sem ônus sucumbências (art. 55, caput da Lei 9099/95).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Oportunamente arquivem-se os presentes autos, observadas as cautelas de praxe.

PAULISTA, 26 de fevereiro de 2018.

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