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PROCESSO CIVIL
Curso de Direito Processual Civil de Fredie Didier (2016)
1) AÇÃO = DIREITO DE AÇÃO para a primeira acepção, o direito de ação é um direito fundamental:
o direito de acesso à justiça, de submeter um determinado problema à solução jurisdicional. Decorre
do princípio da inafastabilidade: o direito de ação é um direito abstrato de levar ao Judiciário
qualquer alegação de violação a direito.
- Visualizar duas situações: o direito de provocar o Judiciário (direito de ação, provocado contra o
Estado) e o direito que se afirma ter quando se provoca o Judiciário (direito afirmado, provocado
contra o réu). Percebe-se que o direito de ação é autônomo em relação ao direito afirmado: o sujeito
pode ir ao Judiciário sem ter razão, mas tem o direito de provocá-lo.
- O direito de ação contém o direito de acesso a uma ordem jurídica devida e justa (devido processo
legal).
- O direito de ação é um direito de conteúdo complexo ou compósito. Instaurado o processo, surgem
novas situações jurídicas. Ex.: direito de provocar a atividade jurisdicional, de tornar alguém réu, de
provar o alegado, de escolher o procedimento a ser adotado, de obter uma resposta do Judiciário, de
recorrer, dentre vários outros.
2) AÇÃO = DIREITO MATERIAL AFIRMADO para essa acepção, ação é o direito que se alega ter
quando se vai ao Judiciário (ação em sentido material). Contudo, sabe-se que direito de ação e direito
afirmado são distintos e autônomos: o direito de ação é abstrato, pois independe do conteúdo do que
se afirma quando se provoca a jurisdição.
3) AÇÃO = DEMANDA na primeira e na segunda acepções, a ação é um direito. Aqui, ela é um ato,
um agir: o EXERCÍCIO DO DIREITO DE AÇÃO. A demanda instaura o processo e define os limites da
atuação jurisdicional. O ato de demandar é o exercício do direito de ação com a afirmação de um
outro direito (direito afirmado). Toda demanda é um ato concreto, porque se refere sempre a pelo
menos um direito afirmado. Esta é a acepção sobre que nos debruçaremos: os elementos da ação
são, na verdade, os elementos da demanda, cujo conteúdo é uma relação jurídica (direito afirmado).
- Em toda demanda, há no mínimo a afirmação de um direito. Esse direito afirmado se chama res
judicium deducta (a coisa que foi deduzida em juízo) e o processo serve para transformar aquilo que
foi deduzido em res judicata (coisa julgada): transformar o deduzido em julgado. Inexistindo ao menos
a afirmação de uma relação jurídica de direito material, o ato demanda não terá conteúdo, será um
recipiente vazio. O direito afirmado é o conteúdo da demanda (relação jurídica), o objeto do
processo.
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ELEMENTOS DA AÇÃO: PARTES, PEDIDO E CAUSA DE PEDIR
- Em geral, são partes principais o autor e o réu. Parte auxiliar é aquela que, apesar de parcial, não
formulou o pedido ou não teve o pedido contra si formulado (caso do assistente). Há também a parte
em um incidente do processo (ex.: o juiz é parte de um incidente de suspeição).
- Carnelutti fala da parte complexa (incapaz ou pessoa jurídica + representante).
1) Ações reais e pessoais a ação é real quando a relação jurídica (causa de pedir próxima) for um
direito real. Quando for um direito pessoal, a ação será pessoal. Essa classificação leva em conta o
direito afirmado.
2) Ações mobiliárias ou imobiliárias a ação será mobiliária quando tiver como objeto de pedido um
móvel, e imobiliária quando tiver como objeto um imóvel.
- Uma ação mobiliária ou imobiliária pode ter como causa de pedir tanto um direito real como um
direito pessoal. Existem direitos reais sobre móveis e direito reais sobre imóveis, e direitos pessoais
sobre móveis e direitos pessoais sobre imóveis. Temos a tendência de pensar que os direitos reais são
sempre para bens imóveis. O despejo, por exemplo, é fundado num direito pessoal, mas o objeto é
um imóvel.
3) Ação de conhecimento, ação cautelar e ação de execução depende do tipo de tutela jurisdicional
pretendido: certificação de direito (conhecimento), efetivação de direito (execução) ou proteger a
efetivação de um direito (cautelar). A classificação perdeu importância porque as demandas têm
assumido natureza sincrética e servindo a vários tipos de tutela e propósitos.
4) Ações dúplices no sentido processual, ação dúplice é sinônimo de pedido contraposto. Nos
Juizados Especiais, o réu pode formular um pedido contra o autor no bojo da contestação.
- O que importa, contudo, é o sentido material: QUANDO UMA AÇÃO É MATERIALMENTE DÚPLICE,
A DEFESA DO RÉU É O EXERCÍCIO DE UM DIREITO SEU, OU SEJA, AO SE DEFENDER, JÁ ESTÁ
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AFIRMANDO UM DIREITO PRÓPRIO. No sentido processual, o réu se defende e formula um pedido
contraposto ao autor (são coisas diferentes). Na ação materialmente dúplice, o fato de o réu se
defender já é a afirmação de um direito. Pensar no cabo de guerra: as equipes se defendem e atacam
ao mesmo tempo. A defesa do réu não vai ser só defesa, mas também puxar a corda pra o lado dele.
O réu que se defende numa ação que não é dúplice só quer não perder; numa ação materialmente
dúplice, o réu sai com algo que ele não tinha (ele não apenas “não perde”). Ex. um pai vai a juízo
oferecendo alimentos a seu filho (R$ 1000). O filho se defende e diz que mil reais não é um valor
suficiente, que é necessário o valor de R$ 1500. Essa defesa, por si só, já é uma afirmação de um direito
dele. Se o juiz disser que, de fato, devem ser pagos apenas os mil reais, o pai ganhou, mas quem
executa a sentença é o réu. A definição do valor dos alimentos é um problema que qualquer um dos
dois poderia ter levado ao Judiciário.
- TODA AÇÃO MERAMENTE DECLARATÓRIA É MATERIALMENTE DÚPLICE. Eu peço que o juiz declare
que existe uma relação jurídica. A defesa do réu será dizer que ela não existe (uma ação declaratória
contrária). Uma ação é materialmente dúplice a depender do direito que eu afirme ter. O que torna a
ação materialmente dúplice não é o procedimento, mas o tipo de direito.
- São materialmente dúplices: ação de usucapião, ADI e ADC, ação de consignação em pagamento,
ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária, ação declaratória de união estável.
- A ação possessória é uma ação duplamente dúplice (em ambos os sentidos) porque o réu, além de
se defender do pleito possessório (no qual já afirmará sua posse, ou seja, o seu próprio direito –
materialmente dúplice), poderá formular um pedido de indenização contra o autor, no bojo da
contestação (pedido contraposto – processualmente dúplice).
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Medidas sub-rogatórias: desapossamento, como a isenção de custas e honorários para que o réu
transformação, expropriação etc. cumpra o mandado monitório).
O resultado buscado é o mesmo: a tutela jurisdicional executiva.
As formas com que se buscam essa tutela é que se distinguem.
A tendência atual é a de prestigiar os meios executivos indiretos (menos onerosos).
- 1994 (primeira grande reforma do CPC): o legislador tornou sincréticas todas as ações de
PRESTAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER (passaram a ter “força executiva própria”). Nesse sentido, alguns
diziam que como todas as ações de prestação de fazer e de não fazer são sincréticas, não há mais ação
condenatória de fazer e de não fazer, porque ou eram mandamentais ou executivas em sentido
amplo. Por outro lado, outros continuavam a afirmar que não há porque fazer essa distinção já que
todas são condenatórias, o legislador muda a técnica, mas não muda a substância.
- Fortaleceram-se as noções de sentença mandamental e sentença executiva como sendo modelos
de decisões sincréticas.
- 2002 (segunda etapa da reforma do CPC): o legislador tornou sincréticas todas as ações para
ENTREGA DE COISA (art. 461-A). De um lado, havia aqueles que diziam que não existe mais ação
condenatória para entrega de coisa, já que agora são todas sincréticas. Para essa parte da doutrina,
apenas restavam as ações condenatórias de prestação de dar dinheiro. Outra parte continuava
afirmando que todas as ações eram condenatórias, não havendo motivo para a tripartição. Art. 287 do
CPC (redação antiga): foi retirado o verbo “condenar”.
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- 2005: tornaram-se sincréticas as AÇÕES DE DAR DINHEIRO, ou seja, agora TUDO VIROU
SINCRÉTICO. A Lei 11.232/05 criou a fase de cumprimento da sentença.
- As regras da execução de título extrajudicial aplicam-se subsidiariamente, no que couber, ao
cumprimento ou execução da sentença.
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- Atenção: a efetivação de um direito potestativo pode gerar um direito a uma prestação. Isso porque
a situação jurídica criada após a efetivação de um direito potestativo pode ser exatamente um
direito a uma prestação. Ex.: a decisão que rescinde uma sentença que já fora executada gera, por
efeito anexo, o direito do executado à indenização pelo exequente dos prejuízos que lhe foram
causados em razão da execução malsinada. Essa decisão tem aptidão para transformar-se em título
executivo, pois torna certa a obrigação de indenizar, que ainda é ilíquida, impondo-se a liquidação.
- Já analisamos a ação condenatória nos direitos a uma prestação e a ação constitutiva nos direitos
potestativos. Agora vamos analisar a terceira ação de conhecimento: ação declaratória.
- Na AÇÃO DECLARATÓRIA pede-se o reconhecimento da existência, da inexistência de uma relação
jurídica ou o modo de ser dessa relação ou a declaração de autenticidade ou da falsidade de
documento. Não se busca a efetivação de direito algum, nem direito à prestação, nem direito
potestativo. O que se pretende é a mera declaração de certeza jurídica.
- Vejamos o que o NCPC diz sobre a ação declaratória:
- Súmula 181 do STJ: é admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata
interpretação de cláusula contratual.
- Também é admitida a ação declaratória para interpretar decisão judicial.
- Fora o caso da declaração de autenticidade ou falsidade de documento (art. 19, II), não se admite
ação meramente declaratória de fato.
- Exemplos de ações declaratórias: ADC (ação declaratória de constitucionalidade), ação de usucapião,
ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária, ação declaratória de inexistência de
união estável, consignação em pagamento etc.
- Exatamente porque se busca a mera certeza de uma relação, e não a prestação de um direito
(prescrição) ou a afirmação de um direito potestativo (decadência), não se submetem a prazos.
- O art. 20 do NCPC repete o art. 4º do CPC antigo, vejamos:
Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do
direito.
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- O exemplo continua o mesmo: caso Wladimir Herzog (jornalista judeu que apareceu morto numa cela
em SP com uma corda no pescoço), em que Clarice Herzog, viúva, pediu ao Judiciário apenas o
reconhecimento do direito à indenização, sem, porém, pedir a condenação da União ao pagamento. A
União alegou falta de interesse e o Tribunal (TFR) entendeu que ela possuía o direito. Depois, Clarice
resolveu pedir indenização com base na sentença.
- Quando uma ação declaratória é ajuizada e a sentença declara a existência de direito a prestação
exigível, ela terá força executiva. Não é necessário ajuizar outra ação condenatória. Nesse caso, é difícil
distinguir de uma sentença de prestação.
- O NCPC repete o que estava previsto no art. 475-N:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos
previstos neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de
pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
- Atenção: o direito à declaração não prescreve, mas o direito à prestação sim. Ação meramente
declaratória ajuizada quando já poderia ter sido ajuizada uma ação condenatória não interrompe a
prescrição. Isso porque não houve comportamento do credor que revelasse a sua vontade de buscar
a efetivação da prestação. E todos os fatos interruptivos da prescrição se justificam em um
comportamento do credor direcionado ao cumprimento da prestação pelo sujeito passivo. Na ação
declaratória, o demandante não anuncia o desejo de efetivar o seu direito após a certificação
judicial. É diferente do que ocorre na ação condenatória, em que o comportamento do credor
direciona-se ao cumprimento da prestação pelo sujeito passivo. Distinguir 3 situações:
- Os efeitos da sentença declaratória são ex tunc (só declara o que já existe). Exceção: art. 27 da Lei
9.868/99, que permite a modulação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.
CONDIÇÕES DA AÇÃO
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Nota: essa é a posição de Didier (livro-base desse resumo). Boa parte da doutrina ainda continua
falando das condições da ação.
- O NPCP NÃO MENCIONA MAIS A POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. A questão passa a ser
examinada como hipótese de IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO, no capítulo respectivo.
- Nota-se, então, que as antigas condições da ação ‘interesse de agir’ e ‘legitimidade ad causam’ agora
permitem decisão de inadmissibilidade. Mas não são mais chamadas de ‘condições da ação’. Também
não se fala mais em ‘carência de ação’. Na verdade, a legitimidade e o interesse passarão a constar da
exposição sistemática dos pressupostos de validade: O INTERESSE, COMO PRESSUPOSTO DE
VALIDADE OBJETIVO EXTRÍNSECO; A LEGITIMIDADE, COMO PRESSUPOSTO DE VALIDADE SUBJETIVO
RELATIVO ÀS PARTES.
CPC-73 NCPC
Estudava-se o instituto da ‘condição Não existe mais o instituto ‘condição da ação’.
da ação’, que abrangia a POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO analisada como hipótese
possibilidade jurídica, a legitimidade de improcedência liminar do pedido.
ad causam e o interesse processual. INTERESSE DE AGIR analisado como pressuposto de validade
A ausência de uma condição levava à objetivo extrínseco.
carência da ação e à extinção do LEGITIMIDADE AD CAUSAM analisado como pressuposto de
processo sem resolução de mérito. validade subjetivo relativo às partes.
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