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O curioso caso de padre Eustáquio: notas sobre catolicismo, curas e fluxos de

materiais

Juliano Florczak Almeida


Doutorando em Antropologia Social
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Este trabalho foca nos não humanos agenciados nas práticas de cura do padre Eustáquio
(1890-1943), sacerdote holandês que ficou conhecido pelos milagres que realizou em
Poá (SP). Milhares de pessoas rumavam a Poá em busca da bênção do padre, da sua
água benta e do bentinho que distribuía. A análise dos relatos apresentados na biografia
de Eustáquio escrita por seu colega de batina Venâncio Hulselmans e da farta
documentação que o livro reproduz, especialmente recortes de jornais e testemunhos de
cura, permite pelo menos duas reflexões. A primeira diz respeito à história do
catolicismo no Brasil. Ao contrário do que assevera a persistente narrativa da
romanização, as práticas de cura de Eustáquio parecem salientar que a vinda de
sacerdotes estrangeiros no final do século XIX e no início do século XX não
necessariamente produziu uma crise do catolicismo popular, mas promoveu circulações
de sensibilidades acerca do mundo, das divindades e dos materiais. Isso remete à
segunda reflexão, que se refere aos materiais e seus fluxos. Os materiais agenciados
pelo padre em suas práticas de curas não são somente objetos com agência. Sugiro
tomá-los como coisas ou reuniões de divindades, da personalidade do sacerdote, enfim,
de todo um mundo em fluxo.

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