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RESUMO
ABSTRACT
Studies reveal that the legal separation can exert negative effects on the
relationship between parents and children. The way parents relate with their
children as well as between themselves, interferes in the positive or negative
way the child deals with the separation. The purposes of this work were to
identify the relationship difficulties experienced by parents and children and
to analyse the variables which generated these difficulties, besides promoting
the interaction between them. The participants were three parents and three
children, with ages ranging from 29 to 41 years old and 8 to 12 years old,
respectively. The work performed at the University's Psychological Clinic
consisted of 36 meetings: 11with the parents, 11 with the children and 14 with
both parents and children. The interventions consisted of:drawings, paintings,
orientations about discipline, training in emotional expressiveness, among
others. The initial evaluation of the difficulties revealed the existence of
agressive and unassertive behaviors on the part of the parents. The children
aIso presented similar difficulties. The results of the intervention showed
improvements in the immaturity and isolation behaviors on the part of the
children as well as in the expression of feelings on both parts. Although
behavioral changes have happened, future interventions are suggested,
involving parents who do not have the custody of the children, who contribute
for the difficulties of the relationship presented by them.
INTRODUÇÃO
adaptação social são os mais afetados pela
A separação conjugal vem se multiplicando experiência do divórcio. Alguns dos principais
consideravelmente na atualidade, podendo acar- causadores do stress, em caso de divórcio,
retar diversas conseqüências aos envolvidos, referem-se ao conflito conjugal tanto antes como
como, por exemplo, situações estressantes. "O depois da separação, ao relacionamento proble-
estresse se refere a um desgaste geral do mático com um ou ambos os pais e à perda de
organismo, cansado pelas alterações psicofi- contato ou diminuição do mesmo com um dos
siológicas que se dão quando a pessoa se vê pais, geralmente com o pai. De acordo com
forçada a enfrentar uma situação que a irrite, alguns pesquisadores, as crianças costumam
amedronte, confunda, excite, ou que a faça muito responder a estas experiências estressoras de
feliz" (Lipp & Malagris, 1995, p. 179). formas variadas, dependendo de suas caracte-
rísticas individuais.
De acordo com Tschann et aI. (1989) o
divórcio acarreta mudanças que geram estresse O estresse vivenciado pelos filhos parece
nos relacionamentos familiares, as quais interfe- estar relacionado diretamente com o estresse
rem no ajustamento das crianças e podem dos pais e os contatos negativos entre eles, é
alterar as etapas normais de seu desenvolvimen- inversamente relacionado ao tempo transcorrido
to. O bem-estar emocional das crianças e sua desde a separação.
O medo de perder o contato com o pai, que extensão da participação continuada dos
está indo embora, é o principal desajuste causa pais em suas vidas. Os filhos do divórcio
do pelo divórcio. As conseqüências emocionais sofrem social, emocional e intelectualmente
advindas dessa situação, para os filhos, como quando seus pais não estão ativamente
depressão, raiva, ansiedade e isolamento, são envolvidos com seu papel. Eles parecem
bem severas, conforme colocam Hess e Câmara culpar-se pela partida dos pais e sofrem
(1979). uma perda da auto-estima e iniciativa,
Os resultados de pesquisa de Câmara e perda esta refletida na depressão, de-
Desnick (apud Moraes, 1997) indicam que quan- sempenho acadêmico pobre e falhas
do há cooperação entre os pais, o ajustamento nos relacionamentos interpessoais. Os
social de seus filhos se estabiliza por volta de 2 filhos do divórcio melhor ajustados são
anos após o divórcio. os que têm freqüentemente acesso,
sem conflitos, a pai e mãe."(apud Moraes
A forma como os pais se relacionam com et al., 1997,p. 17)
os filhos e entre si interfere na maneira positiva ou
Quanto ao impacto da separação sobre os
negativa de o filho enfrentar a separação. Se os
cônjuges, Kaslow e Schwartz (1995) colocam
pais se agridem constantemente, as crianças
que a maioria dos divorciados recentes permane-
podem considerar este comportamento como
cem inibidos, deprimidos, amargurados e preo-
adequado e passam a emití-Io no relacionamento
cupados com os filhos, emprego ou dinheiro.
com os outros.
Alguns se encontram cansados, aliviados ou
Os momentos subseqüentes à separação confusos, podendo ainda ter esses três senti-
são os mais difíceis, tanto para os pais como mentos ao mesmo tempo,já que a ambivalência
para os filhos. Sendo assim, não se deve esperar é normal nesse caso.
que lidem de forma satisfatória com as conse- Há pontos em comum vivenciados pelos
qüências sociais, financeiras e emocionais, liga- divorciados: as etapas do processo de separa-
das à dissociação do casamento, pois necessi- ção; a necessidade de sobrevivência e o desen-
tam de um tempo para se reconstruírem. volvimento de novos estilos de vida e auto-
imagem; mudanças quanto ao fator econômico e
Outro fator de extrema importância se refe-
crises emocionais que muitos enfrentam.
re à ausência de um dos cônjuges na vida dos
filhos. Esta ausência pode influenciar a percep- O período que se segue ao divórcio legal,
ção do mundo e de si mesmo, contribuindo para para algumas pessoas, é uma "exploração do
uma auto-imagem ruim, apresentando níveis alto seu mundo privado (sentimentos, pensamentos,
de ansiedade, desenvolvimento afetivo instável, emoções), assim também do ambiente externo
dificuldades para controlar a agressividade, (tentando novas atividades, retomando antigos
impulsividade e aparecimento de comportamen- projetos, construindo novos relacionamentos
tos depressivos. sociais)" (Kaslow e Schwartz, 1995, p. 53) .
Nesse momento a terapia individual ou de grupo
Tanto as crianças como os adolescentes pode proporcionar o desenvolvimento de valores
poderão reagir de forma diferente diante de uma e de estruturas que irão permear a vida delas,
mesma situação. Diante do divórcio, muitos bem como ajudá-Ias a exercer bem seus múlti-
filhos não apresentam problemas de ordem plos papéis sociais (pai, mãe, amigo, ajudante
comportamental, enquanto outros os apresen- nas lições de casa, trabalhador, estudante e a
tam. desfrutar de todas as oportunidades que a vida
Conforme Teybere Hoffman(1987): pode-Ihes oferecer).
"Um dos mais fortes determinantes do Como são muitas as alterações sofridas
ajustamento dos filhos ao divórcio é a pelos filhos diante da separação, Giusti, 1987
gostava de estudar, mas não queria ir à escola, final do período de intervenção, L. apresentou
sendo que já estava reprovando, e D. apresentava notas baixas (período em que o pai se ausentou),
notas baixas e suspeitava que iria reprovar, além e D. começou a se esforçar para tirar notas altas
das inúmeras queixas que tinha da escola. No o que resultou na aprovação do ano letivo.
Notou-se que, quando os pais que não constatou-se uma melhora na participante S, a
detêm a guarda dos filhos encontram-se ausen- qual afirmou estar se comportando de acordo
tes, seus filhos apresentam alterações no rendi- com suas próprias necessidades e interesses e
mento escolar, que se refletem em notas baixas, tomando decisões, como, por exemplo, retomar
queda na freqüência às aulas. os estudos e tirar sua carteira de motorista.
Isto foi corroborado pelo que enfatizam Quanto aos outros participantes, detectaram-se
Teyber e Hoffman, 1987 (apud Moraes,1997),os tentativas de manutenção de relacionamentos
quais acentuaram que a ausência de um dos mais amigáveis com os ex-cônjuges, assim
ex-cônjuges pode gerar nos filhos o rebaixamen- como o estabelecimento de diálogo e interações
to da auto-estima, que acaba refletindo na de- positivas em situações relativas à convivência e
pressão, no desempenho acadêmico pobre e educação dos filhos, de um modo geral.
nas dificuldades dos relacionamentos interpes- Pelo relato dos filhos, percebeu-se que os
soais. pais que não detêm a guarda são avaliados por
Ao final dos atendimentos, em relação aos eles como bons, pois, pelo contato restrito no
aspectos positivos e negativos da separação, relacionamento, acabam sendo mais permissi-
vos, ao contrário dos pais que detêm a guarda, dela suas opiniões. Ao final dos encontros, sua
os quais assumem uma postura de imposição de percepção em relação a ela modificou-se, con-
leis e normas (regras), atitudes estas que reque- forme o diálogo abaixo:
rem disciplina e por isso acabam sendo avalia- L - "Ah! Minha mãe não deixava sujar o
dos negativamente. tênis...
Isto pôde ser notado nos atendimentos
T - E agora?
iniciais ao grupo de pais, sendo que estes
estavam certos de que os seus comportamentos L - Agora não pega tanto no meu pé...
eram avaliados negativamente, porém não perce- T - E o que mais está legal?
biam que o fato de privar os filhos do contato com L - Ela faz um macarrão gostoso e tá
o ex-cônjuge contribuía para esta avaliação. levando a gente para passear mais.
Após a intervenção, os pais notaram que ao
Em relação ao participante E, pôde-se
colocarem-se os filhos em contato com a realida-
observar que ele começou a perceber e a reagir
de dos ex-cônjuges, desmistificaram-se as
ao afastamento do pai, o que pode ter contribuído
fantasias de que seria melhor morar com eles. Ao
entrar em contato com estas contingências, os para o seu isolamento no grupo. Esta percepção
filhos perceberam que os outros genitores tam- pode ter sido acarretada pela mudança do com-
bém Ihes colocavam normas e regras e, além portamento da mãe, a qual poupava-o de entrar
disso, depararam-se com outras privações, como em contato com esta realidade. Segundo Hess
por exemplo, a contínua ausência desses pais e Câmara,1979(apud Moraes, 1997), o medo de
que não mudaram sua rotina em função dos perder o contato com o pai, que está indo
filhos. embora, é o principal fator que contribui para o
Isto pôde ser encontrado na verbalização desajuste causado pelo divórcio. As conseqüên-
do participante D: "Fui morar com a minha mãe, cias emocionais advindas dessa situação para
e foi chato, ela trabalhava o dia inteiro... Eu até os filhos, como depressão, raiva, ansiedade e
isolamento são bem severas.
quis pular da janela, e ela não deu bola... E
também eu não gosto do cara que mora com ela, Quando foi convocada uma sessão de
ele é muito chato... É melhor morar com meu orientação a pais que não detêm a guarda, os te-
pai..."(sic) rapeutas notaram a ausência de um deles que
mesmo se comprometendo a vir, não compareceu.
Quanto ao relacionamento social ocorre-
ram modificações notórias nos padrões de com- Durante o processo grupal a auto-imagem
portamento dos pais e filhos, e no relacionamen- de cada participante apresentou melhoras, os
to entre os mesmos, sendo que os pais torna- pais passaram a tomar atitudes que antes não
ram- se mais receptivos aos feedbacks do grupo, tomavam, como, por exemplo, cuidar da própria
o que pode ter contribuído para que os filhos aparência, permitir-se novos relacionamentos,
participassem melhor de atividades grupais. Da bem como aceitar erros. Estas mudanças tam-
mesma forma que esta mudança ocorreu no bém foram percebidas nos filhos, quando o
grupo e foi percebida pelos terapeutas, acredita- participante L modificou as suas percepções
se que ela possa ter se generalizado para o quanto a se achar "feio e burro" e o participante
ambiente natural dos participantes, e que seriam D que passou a perceber-se como mais "auto-
uma das variáveis importantes para a modifica- confiante".
ção nos padrões comportamentais dos filhos. Além dos resultados positivos apresenta-
Isto pôde ser observado no relato do participante dos, os terapeutas também encontraram algu-
L que no início dos atendimentos verbalizava que mas dificuldades na realização deste trabalho.
a mãe não tinha qualidades e tentava esconder Nos encontros iniciais, observaram que os pais
não discriminavam que as queixas sobre os sentimentos, o que demonstra a efetividade das
comportamentos dos filhos, por eles trazidas, intervenções realizadas.
estavam relacionadas com situações determina-
das pelo processo de separação, como, por REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
exemplo, por terem sido abandonados pelos ex-
cônjuges e pelas dificuldades no relacionamento GIUSTI, E. 1987.A arte de separar-se. Rio de
com os mesmos, o que acarretou desavenças, Janeiro: Nova Fronteira.
instabilidade emocional, indefinição de papéis,
GRYCH, J.H. & FINCHAM, F.D. 1990. Marital
dentre outros. Isto fez com que muitos dos
Conflict and Children’s Adjustment: A
comportamentos por eles apresentados nos Cognitive-Contextual Framework.
encontros, como, principalmente, não assumir Psychological Bulletin, 108, (2).
erros e racionalizações, contribuíssem para que
os terapeutas sentissem que suas colocações HESS, R. D. & CÂMARA, K. A. 1979. Post-
Divorce Family Relationship as Mediating
pareciam não produzir efeitos sobre os compor-
Factors in the Consequences of Divorce for
tamentos deles.
Children. Journal of Social lssues, 35(4),
Ao final dos encontros, esses comporta- 79-96.
mentos foram-se modificando, o que levou aos
KASLOW & SCHWARTZ. 1995. As dinâmicas
resultados anteriormente discutidos. do Divórcio. Campinas, Editoria PSI.
Em relação ao grupo de filhos, pode-se
LlPP, M. & MALAGRIS, L. 1995. Manejo do
perceber que os mesmos tiveram dificuldades estresse. In: Psicoterapia Comportamental e
em falar dos sentimentos relacionados à separa- Cognitiva. Campinas: Editorial Psy.
ção, os quais eram evocados através de ativida-
MALDONADO, M.T. 1987.Casamento: término
des propostas pelos terapeutas. Outras dificul-
e reconstrução. Petrópolis, Vozes.
dades encontradas pelos terapeutas no início
dos atendimentos se referem à dispersividade do MEYER, S. B. 1997. O Conceito de análise
funcional. In: DELlTTI, M. (org.) Sobre com-
grupo e à agressividade entre eles, que foram
portamento e cognição. VoL. lI. São Paulo:
analisadas como respostas de fuga de uma
Arbytes, p. 31-36.
situação aversiva (falar sobre a separação). Ao
serem trabalhadas estas dificuldades, pode-se MORAES, C. G. A, et aI. 1997. Grupo de
perceber que os padrões de comportamento Apoio a Filhos de Pais Separados. Tese
foram-semodificando, diminuindo o nível de agres- de Pós- Doutorado, Apresentado ao Instituto
de Psicologia da Universidade de São Paulo,
são e aumentando a freqüência de verbalizações
São Paulo.
de sentimentos, sinalizando, assim, uma melho-
ra no que se refereà expressividade emocional. TEYBER, E.& HOFFMAN,C. D. 1987. Missing
Fathers. Psychology Today.(apr).
De forma geral, pode-se perceber que tanto
para pais quanto para filhos, houve modificações TSCHANN, J. M. et aI. 1989. Family Process
significativas no que diz respeito ao desenvolvi- and Children’ s functioning during divorce.
mento do autoconhecimento e da expressão de Journal of Marriage and the Family, 51(2).