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www.arquivosonline.com.br Sociedade Brasileira de Cardiologia • ISSN-0066-782X • Volume 109, Nº 2, Supl.

1, Agosto 2017

ATUALIZAÇÃO DA DIRETRIZ
BRASILEIRA DE DISLIPIDEMIAS
E PREVENÇÃO DA
ATEROSCLEROSE – 2017
ATUALIZAÇÃO DA
DIRETRIZ BRASILEIRA DE
DISLIPIDEMIAS E PREVENÇÃO
DA ATEROSCLEROSE – 2017

Autores da Diretriz:

Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A, Bertolami A, Pereira AC,
Lottenberg AM, Sposito AC, Chagas ACP, Casella-Filho A, Simão AF, Alencar Filho AC, Caramelli
B, Magalhães CC, Magnoni D, Negrão CE, Ferreira CES, Scherr C, Feio CMA, Kovacs C, Araújo DB,
Calderaro D, Gualandro DM, Mello Junior EP, Alexandre ERG, Sato IE, Moriguchi EH, Rached FH,
Santos FC, Cesena FHY, Fonseca FAH, Fonseca HAR, Xavier HT, Pimentel IC, Giuliano ICB, Issa JS,
Diament J, Pesquero JB, Santos JE, Faria Neto JR, Melo Filho JX, Kato JT, Torres KP, Bertolami MC,
Assad MHV, Miname MH, Scartezini M, Forti NA, Coelho OR, Maranhão RC, Santos Filho RD, Alves
RJ, Cassani RL, Betti RTB, Carvalho T, Martinez TLR, Giraldez VZR, Salgado Filho W
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Diretor Científico Cardiologia Cirúrgica Arritmias/Marcapasso Epidemiologia/Estatística


Raul Dias dos Santos Filho Paulo Roberto B. Evora Mauricio Scanavacca Lucia Campos Pellanda
Hipertensão Arterial
Editor-Chefe Cardiologia Métodos Diagnósticos
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Pedro A. Lemos Carlos E. Rochitte Ergometria, Exercício
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Cardiologia Pediátrica/ Pesquisa Básica Ricardo Stein
Cardiologia Clínica Congênitas ou Experimental Primeiro Editor (1948-1953)
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Cláudio Tinoco Mesquita (RJ) Mario S. S. de Azeredo Coutinho (SC) James de Lemos (Estados Unidos)
Cleonice Carvalho C. Mota (MG) Maurício I. Scanavacca (SP) João A. Lima (Estados Unidos)
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Décio Mion Junior (SP) Nadine O. Clausell (RS) Marco Alves da Costa (Portugal)
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Domingo M. Braile (SP) Otoni Moreira Gomes (MG) Maria Pilar Tornos (Espanha)
Edmar Atik (SP) Paulo Andrade Lotufo (SP) Nuno Bettencourt (Portugal)
Emilio Hideyuki Moriguchi (RS) Paulo Cesar B. V. Jardim (GO) Pedro Brugada (Bélgica)
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SBC/DHA – Eduardo Costa Duarte Barbosa GECIP – Gisela Martina Bohns Meyer GETAC – João David de Souza Neto
SBC/DIC – Samira Saady Morhy GECN – Andréa Maria Gomes Marinho Falcão GEVAL – Luiz Francisco Cardoso
Arquivos Brasileiros de Cardiologia

Volume 109, Nº 1, Agosto 2017


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Sumário

1. Hierarquia de Evidências..........................................................................................................página 1
2. Metabolismo Lipídico.................................................................................................................página 1
3. Aterogênese...................................................................................................................................página 3
4. Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas........página 4
5. Classificação das Dislipidemias............................................................................................página 13
6. Estratificação do Risco Cardiovascular para Prevenção e Tratamento da
Aterosclerose e Metas Terapêuticas.........................................................................................página 14
7. Tratamento Não Medicamentoso das Dislipidemias...................................................página 18
8. Tratamento Farmacológico das Dislipidemias...............................................................página 25
9. Formas Genéticas de Dislipidemias....................................................................................página 32
10. Dislipidemias em Situações Especiais e Formas Secundárias............................página 40
Referências..........................................................................................................................................página 62
Atualização da Diretriz Brasileira de
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose –
2017
Realização
Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC-DA), Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD),
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Conselho de Normatizações e Diretrizes


Antonio Carlos Sobral Sousa, Claudio Pereira da Cunha, Lucélia Batista Neves Cunha Magalhães e Sergio Emanuel Kaiser

Coordenador de Normatizações e Diretrizes


José Francisco Kerr Saraiva

Coordenadores da Diretriz
André Arpad Faludi, Maria Cristina O. Izar, José Francisco Kerr Saraiva, Henrique Tria Bianco e Ana Paula Marte Chacra

Autores
André Arpad Faludi, Maria Cristina de Oliveira Izar, José Francisco Kerr Saraiva, Ana Paula Marte Chacra, Henrique Tria
Bianco, Abrahão Afiune Neto, Adriana Bertolami, Alexandre C. Pereira, Ana Maria Lottenberg, Andrei C. Sposito, Antonio
Carlos Palandri Chagas, Antonio Casella Filho, Antônio Felipe Simão, Aristóteles Comte de Alencar Filho, Bruno Caramelli,
Carlos Costa Magalhães, Carlos Eduardo Negrão, Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, Carlos Scherr, Claudine Maria Alves
Feio, Cristiane Kovacs, Daniel Branco de Araújo, Daniel Magnoni, Daniela Calderaro, Danielle Menosi Gualandro, Edgard
Pessoa de Mello Junior, Elizabeth Regina Giunco Alexandre, Emília Inoue Sato, Emilio Hideyuki Moriguchi, Fabiana Hanna
Rached, Fábio César dos Santos, Fernando Henpin Yue Cesena, Francisco Antonio Helfenstein Fonseca, Henrique Andrade
Rodrigues da Fonseca, Hermes Toros Xavier, Isabela Cardoso Pimentel Mota, Isabela de Carlos Back Giuliano, Jaqueline
Scholz Issa, Jayme Diament, João Bosco Pesquero, José Ernesto dos Santos, José Rocha Faria Neto, José Xavier de Melo
Filho, Juliana Tieko Kato, Kerginaldo Paulo Torres, Marcelo Chiara Bertolami, Marcelo Heitor Vieira Assad, Márcio Hiroshi
Miname, Marileia Scartezini, Neusa Assumpta Forti, Otávio Rizzi Coelho, Raul Cavalcante Maranhão, Raul Dias dos Santos
Filho, Renato Jorge Alves, Roberta Lara Cassani, Roberto Tadeu Barcellos Betti, Tales de Carvalho, Tânia Leme da Rocha
Martinez, Viviane Zorzanelli Rocha Giraldez, Wilson Salgado Filho

Esta diretriz deverá ser citada como:


Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune Neto A et al. Atualização da Diretriz Brasileira de
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76
Nota: estas Diretrizes se prestam a informar e não a substituir o julgamento clínico do médico que, em última análise,
deve determinar o tratamento apropriado para seus pacientes.
Correspondência:
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Av. Marechal Câmara, 360/330 – Centro – Rio de Janeiro – CEP: 20020-907
e-mail: scb@cardiol.br

DOI: 10.5935/abc.20170121
Declaração de potencial conflito de interesses dos autores/colaboradores da
Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017
Participou de
Foi palestrante Foi (é) membro Participou
estudos clínicos
em eventos do conselho de comitês Elaborou textos
e/ou experimentais Recebeu auxílio
ou atividades consultivo normativos científicos em Tem ações
Nomes Integrantes subvencionados pela pessoal ou
patrocinadas ou diretivo de estudos periódicos da
da Diretriz indústria farmacêutica institucional da
pela indústria da indústria científicos patrocinados indústria
ou de equipamentos indústria
relacionados à farmacêutica ou patrocinados pela indústria
relacionados à diretriz
diretriz em questão de equipamentos pela indústria
em questão
Abrahão Afiune Neto Não Não Não Não Não Não Não
Sanofi,
Adriana Bertolami Pfizer, Amgen Abbott Não Não Não Schering do Não
Brasil
Alexandre C. Pereira Não Não Não Não Não Não Não
Ana Maria Lottenberg Não Não Não Não Não Não Não
Ana Paula Marte Chacra Não Não Não Não Não Cardio-Lípides Não
Sanofi, Amgem,
Amgem,
MSD, Biolab,
André Árpád Faludi Não Não Não Não Sanofi, Torrent, Não
Boehringer-Lilly,
Ache
Aegerion
Amgen, Sanofi,
Andrei C. Sposito Não Amgen, Sanofi Não Não Não Não
AstraZeneca
Antonio Carlos Palandri Chagas Não Biolab, Angerion EMS Não Não Não Não
Antonio Casella Filho Não Não Não Não Não Não Não
BAYER, Daiichi
Antônio Felipe Simão AstraZeneca AstraZeneca Bayer Bayer Servier Não
Sankyo
Supera Farma
Aristóteles Comte de Alencar Filho Não Abbott Não Não Não Laboratórios. Não
S.A.
Bruno Caramelli Não Não Não Não Não Não Não
Carlos Costa Magalhães Não Não Não Não Não Não Não
Carlos Eduardo Negrão Não Não Não Não Não Não Não
Carlos Eduardo dos Santos Ferreira Não Não Não Não Não Não Não
Carlos Scherr Não Não Não Não Não Não Não
Claudine Maria Alves Feio Não Não Não Não Não Não Não
Cristiane Kovacs Não Não Não Não Não Não Não
Sanofi, Pfizer,
Novartis, MSD,
Daniel Branco de Araujo Não Não Não Sanofi Não Não
Boehringer
Ingelheim
Farmoquímica,
Daniel Magnoni Não Farmoquímica Não Não Não Não
Biolab, Avert
Daniela Calderaro Não Bayer Não Não Não Não Não
EMS, Servier,
Danielle Menosi Gualandro Não Não Não Não Sanofi, Bayer, Servier Não
Roche, Bayer
Edgard Pessoa de Mello Junior Não Não Não Não Não Não Não
Elizabeth Regina Giunco Alexandre Não AstraZeneca Não Não Não Não Não
Emília Inoue Sato Não Não Não Não Não Não Não
Amgen,
Amgen, Biolab, Amgen, Biolab,
Biolab, Kowa,
Amgen, MSD, Daiichi Kowa, MSD, Kowa, MSD, Biolab, Amgen,
Emilio Hideyuki Moriguchi Não MSD, Daiichi Não
Sankyo, Kowa Daiichi Sankyo, Daiichi Sankyo, Baldacci
Sankyo,
Sanofi Sanofi
Sanofi
Fabiana Hanna Rached Não Não Não Não Não Não Não
Fábio César dos Santos Não Não Não Não Não Não Não
Fernando Henpin Yue Cesena Sanofi Abbott Não Não Não Não Não
Amgen, Sanofi,
AstraZeneca, Novartis,
Francisco A. H. Fonseca Não MSD, Ache, Amgen, Sanofi, Novartis AstraZeneca Não Não
Biolab, Abbott, Bayer 
Bayer
Amgen, Sanofi,
Henrique Andrade R. Fonseca Não Não Não Não Não Não
Unilever, AstraZeca
"Pfizer, Amgen, Amgen, Sanofi, Torrent, Aché, Novartis,
Henrique Tria Bianco Não Não Não
Genzyme" EMS, MSD Novartis Sanofi
Abbott, Aché,
Abbott, Aché, Amgen,
Hermes Toros Xavier Não Aegerion, Amgen, Amgen, Torrent Não Não Hypermarcas, Não
MSD, Torrent Libbs, Supera,
Torrent
Isabela Cardoso Pimentel Mota Não Não Não Não Não Não Não
Genzyme do Genzyme do
Isabela de Carlos Back Genzyme do Brasil Não Não Não Não
Brasil Brasil
Jaqueline Scholz Issa Eagles Não Não Não Não Não Não
Jayme Diament Não Não Não Não Não Não Não
João Bosco Pesquero Não Não Não Não Não Não Não
Jose Ernesto dos Santos Nao Sanofi e Amgem Não Naõ Não Não Não
AstraZeneca, AstraZeneca,
AstraZeneca, Boehringer,
Boehringer, Eli Boehringer, Boehringer,
José Francisco Kerr Saraiva Boehringer, Novartis, Não Libbs, EMS, Não
Lilly, Janssen, Novartis Janssen,
PPD, PPD Pfizer
Novartis Libbx, Novartis
Amgen, Sanofi,
Medley, MSD,
Boehringer
AstraZeneca,
Ingelheim,
José Rocha Faria Neto Não Aegerion, Não Não Não Não
Jansen, Pfizer,
Boehringer
Sanofi
Ingelheim,
Jansen, Pfizer
Novartis,
José Xavier de Melo Filho Não AstraZeneca, Não Não Não Não Não
MSD, Pfizer
Juliana Tieko Kato Não Abbott Não Não Não Não Não
Pfizer, Biolab,
AstraZeneca,
Kerginaldo Paulo Torres Não Não Não Não Não Não
Servier, MSD,
Chiesi
Amgen, Sanofi,
Abbott, MSD,
"Aché, MSD,
Biolab, Unilever,
Biolab, Libbs,
Marcelo Chiara Bertolami Não Marjan, Aché, Não Não Não Não
Abbott, Sanofi
AstraZeneca,
"
Pfizer, Genzyme,
Aegerion
Marcelo Assad Não  Amgen, Sanofi Amgen, Sanofi  Nao Não  Não  Não 
Sanofi/Regeneron,
Marcio Hiroshi Miname Amgen Não Não Não Não Não
Amgen
Abbott, Aché,
Amgen, Abbott, Aché,
Amgen, Sanofi, Ionis,
Maria Cristina de Oliveira Izar AstraZeneca, Abbott, Unilever Não Não Libbs, Sanofi, Não
Novartis, Pfizer
Biolab, EMS, Torrent
Sanofi
Marileia Scartezini Não Não Não Não Não Não Não
Neusa Forti Não Não Não Não Não Não Não
Sanofi, Bayer, Takeda,
Daiichi
Boehringer, Boehringer, Boehringer,
Otávio Rizzi Coelho Não Não Sankyo, Não
AstraZeneca, Lilly, Janssen, Sanofi, AstraZeneca,
AstraZeneca
Bayer, Takeda Daiichi Sankyo Sanofi
Raul Cavalcante Maranhão Não Não Não Não Não Não Não
Amgen,
Amgen, Astra
Amgen, Pfizer, Pfizer, Sanofi/
Zeneca, Sanofi/
Akcea, Sanofi/ Genzyme, Regeneron,
Raul Dias dos Santos Filho Regeneron, Não Não Não
Regeneron, Sanofi/ Boehringer-
Genzyme,
Genzyme Regeneron Ingelhem/
PROCAP, MSD
Eli-Lilly
EMS, torrent,
Renato Jorge Alves Não Amgen, Sanofi Não Não Amgen, Não Não
Sanofi
Unilever, Gomes
Roberta Lara Cassani Não Não Não Não Não Não
da Costa, Danone
Roberto T. B. Betti Não MSD, Novonordisk Não Não Não MSD Não
Tales de Carvalho Não Não Não Não Não Não Não
Tânia Leme da Rocha Martinez Não Não Não Não Não Não Não
Viviane Zorzanelli Rocha Giraldez Amgen Amgen, Sanofi Não Não Não Não Não
Wilson Salgado Filho Não Não Não Não Não Não Não
MENSAGEM DOS COORDENADORES

O Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), acompanhando o amplo cenário de


publicações científicas sobre o tratamento das dislipidemias e prevenção da aterosclerose, bem como a importância de seu
impacto sobre o risco cardiovascular, e reconhecendo a necessidade de atualização de sua última diretriz, publicada em 2013,
em conformidade com as recomendações da SBC, reuniu um comitê de especialistas, da clínica e do laboratório clínico, a
partir de janeiro de 2016, para a elaboração deste documento, que ora apresentamos à comunidade médica.
São diversos os ensaios clínicos e metanálises que demonstram, de maneira inequívoca, que o controle das dislipidemias e,
em especial, as reduções mais intensivas do Colesterol da Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL-c, sigla do inglês low density
lipoprotein-cholesterol) têm se associado a importantes benefícios na redução de eventos e mortalidade cardiovasculares.
Desta forma, a importância da estratificação do risco individual, a necessidade do tratamento mais eficaz e o alcance da meta
terapêutica preconizada devem ser reconhecidos e adotados na boa prática médica. No entanto, reconhecemos a necessidade
de estender a estratificação de risco e a definição das metas a pacientes que já se encontrem em tratamento hipolipemiante, e
ainda de ampliar a utilização desta diretriz a não especialistas − medidas estas que visam à maior abrangência dos pacientes.
Assim, além da proposta de estratificação de risco clássica atualizada, propomos a abordagem do risco cardiovascular também
em pacientes sob tratamento hipolipemiante e a utilização de aplicativo para estratificação do risco cardiovascular, definição
das metas terapêuticas e sugestão da proposta terapêutica.
Reconhecemos que desafios importantes se colocam como obstáculos ao tratamento otimizado do colesterol. Do diagnóstico
correto das dislipidemias ao custo de seu tratamento, ele envolve, sobretudo, a relação médico-paciente, e a inércia terapêutica
e a falta de adesão dificultam que a maioria dos pacientes seja contemplada pelos benefícios já comprovados.
É neste panorama que a Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017 pretende
se inserir como ferramenta útil e instrumento da prática clínica diária. Nosso objetivo é a uniformização de condutas para
que os clínicos e laboratórios tenham segurança em suas ações, respaldados por evidências científicas. Desejamos que as
recomendações deste documento repercutam nacionalmente, garantindo o melhor tratamento e os benefícios da redução do
risco cardiovascular tanto aos médicos como a seus pacientes.

André Arpad Faludi


Maria Cristina O. Izar
José Francisco Kerr Saraiva
Henrique Tria Bianco
Ana Paula Marte Chacra

Departamento de Aterosclerose
Sociedade Brasileira de Cardiologia
SBC-DA - Biênio 2016/2017
Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017

Diretrizes

1. Hierarquia de Evidências 2.2. Lipoproteínas: estrutura e função


As lipoproteínas permitem a solubilização e o transporte
1.1. Evidências Científicas que Impactam na Prática dos lípides, que são substâncias geralmente hidrofóbicas,
Clínica no meio aquoso plasmático. São compostas por lípides e
proteínas denominadas Apolipoproteínas (apo). As apos têm
As evidências científicas que determinam mudanças
diversas funções no metabolismo das lipoproteínas, como a
na prática clínica devem ser baseadas nos desfechos de
formação intracelular das partículas lipoproteicas, caso das
saúde-doença, como morte e incidência de doença. Dados de
apos B100 e B48, e a atuação como ligantes a receptores de
pesquisas que interferem em desfechos substitutos (marcadores
membrana, como as apos B100 e E, ou cofatores enzimáticos,
fisiopatológicos, bioquímicos etc.) têm menor impacto direto
como as apos CII, CIII e AI.
na prática clínica, embora possam ser relevantes para melhor
compreensão da doença, e desenvolvimento de metodologias Existem quatro grandes classes de lipoproteínas separadas
diagnósticas e terapêuticas. em dois grupos: (i) as ricas em TG, maiores e menos densas,
representadas pelos quilomícrons, de origem intestinal, e pelas
Lipoproteínas de Densidade Muito Baixa (VLDL, sigla do inglês
1.2. Hierarquia das evidências very low density lipoprotein), de origem hepática; e (ii) as
Para situar o leitor sobre a consistência das recomendações ricas em colesterol, incluindo as LDL e as de Alta Densidade
desta diretriz, o grau de recomendação e os níveis de evidência (HDL, do inglês high density lipoprotein). Existe ainda uma
foram baseados nos parâmetros descritos no quadro 1. classe de Lipoproteínas de Densidade Intermediária (IDL, do
inglês intermediary density lipoprotein) e a Lipoproteína (a) −
Lp(a), que resulta da ligação covalente de uma partícula de
2. Metabolismo Lipídico LDL à Apo (a). A função fisiológica da Lp(a) não é conhecida,
mas, em estudos mecanísticos e observacionais, ela tem sido
2.1. Aspectos gerais associada à formação e à progressão da placa aterosclerótica.
Dos pontos de vista fisiológico e clínico, os lípides
biologicamente mais relevantes são os fosfolípides, o colesterol, 2.3. Metabolismo das lipoproteínas
os Triglicérides (TG) e os ácidos graxos. Os fosfolípides formam
a estrutura básica das membranas celulares. O colesterol é
precursor dos hormônios esteroides, dos ácidos biliares e da 2.3.1. Via intestinal
vitamina D. Além disso, como constituinte das membranas Os TG representam a maior parte das gorduras ingeridas.
celulares, o colesterol atua na fluidez destas e na ativação de Após ingestão, as lipases pancreáticas hidrolizam os TG em
enzimas aí situadas. Os TG são formados a partir de três ácidos ácidos graxos livres, monoglicerídeos e diglicerídeos. Sais
graxos ligados a uma molécula de glicerol e constituem uma biliares liberados na luz intestinal emulsificam estes e outros
das formas de armazenamento energético mais importantes no lípides oriundos da dieta e da circulação entero-hepática,
organismo, sendo depositados nos tecidos adiposo e muscular. com formação de micelas. A solubilização dos lípides sob a
Os ácidos graxos podem ser classificados como saturados forma de micelas facilita sua movimentação através da borda
(sem duplas ligações entre seus átomos de carbono), mono ou em escova das células intestinais. A proteína Niemann-Pick
poli-insaturados, de acordo com o número de ligações duplas C1-like 1 (NPC1-L1), parte de um transportador de colesterol
em sua cadeia. Os ácidos graxos saturados mais frequentemente intestinal, está situada na membrana apical do enterócito
presentes em nossa alimentação são: láurico, mirístico, palmítico e promove a passagem do colesterol através da borda em
e esteárico (que variam de 12 a 18 átomos de carbono). Entre escova desta célula, facilitando a absorção intestinal do
os monoinsaturados, o mais frequente é o ácido oleico, que colesterol.1 A inibição da proteína NPC1-L1, com consequente
contém 18 átomos de carbono. Quanto aos poli-insaturados, inibição seletiva da absorção intestinal do colesterol, tem sido
podem ser classificados como ômega 3 (Eicosapentaenoico reconhecida como importante alvo terapêutico no tratamento
− EPA, Docosahexaenoico − DHA e linolênico), ou ômega 6 da hipercolesterolemia.1
(linoleico), de acordo com presença da primeira dupla ligação Após serem absorvidas pelas células intestinais, as diversas
entre os carbonos, a partir do grupo hidroxila. partículas lipídicas, particularmente os ácidos graxos, são

Quadro 1 – Grau de recomendação e nível de evidência

I. Existe consenso e evidência em favor da indicação


IIa. Existe divergência, mas a maioria aprova
Grau de recomendação
IIb. Existe divergência e divisão de opiniões
III. Não se recomenda
A. Múltiplos ensaios clínicos controlados, aleatorizados.
Nível de evidência B. Um único estudo clínico controlado e aleatorizado, estudos clínicos não aleatorizados ou estudos observacionais bem desenhados.
C. Consenso de especialistas

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utilizadas na produção de quilomícrons, que também contêm A expressão dos LDLR nos hepatócitos é a principal
ApoB48, o componente amino-terminal da ApoB100. Os responsável pelo nível de colesterol no sangue e depende da
quilomícrons são, em seguida, secretados pelas células atividade da enzima Hidroximetilglutaril Coenzima A (HMG-
intestinais para o interior do sistema linfático, de onde alcançam CoA) redutase, enzima-chave para a síntese intracelular do
a circulação através do ducto torácico. Enquanto circulam, os colesterol hepático. A inibição da HMG-CoA redutase e,
quilomícrons sofrem hidrólise pela Lipase Lipoproteica (LPL), portanto, da síntese intracelular do colesterol é um importante
uma enzima localizada na superfície endotelial de capilares alvo terapêutico no tratamento da hipercolesterolemia. Com
do tecido adiposo e músculos, com consequente liberação de a queda do conteúdo intracelular do colesterol, ocorrem o
ácidos graxos e glicerol do core, e de colesterol não esterificado aumento da expressão de LDLR nos hepatócitos e a maior
da superfície destas partículas. Após este processo de lipólise, captura de LDL, IDL e VLDL circulantes por estas células.
os ácidos graxos são capturados por células musculares e Recentemente, a identificação e a caracterização da
também adipócitos − estes últimos importantes reservatórios Pró-proteína Convertase Subtilisina/Kexina Tipo 9 (PCSK9)
de TG elaborados a partir de ácidos graxos. Remanescentes introduziram novos conhecimentos ao metabolismo
de quilomícrons e ácidos graxos também são capturados pelo do colesterol. A PCSK9 é uma protease expressa
fígado, onde são utilizados na formação de VLDL. predominantemente pelo fígado, intestino e rins,5 capaz
de inibir a reciclagem do LDLR de volta à superfície celular,
2.3.2. Via Hepática resultando em menor número de receptores e aumento
dos níveis plasmáticos de LDL.6 A inibição da PCSK9, outro
O transporte de lípides de origem hepática ocorre por meio
potencial foco na terapêutica da hipercolesterolemia, bloqueia
das VLDL, IDL e LDL. As VLDL são lipoproteínas ricas em
a degradação do LDLR, com maior capacidade de clearance
TG e contêm a ApoB100 como sua Apo principal. As VLDL
da LDL circulante.6
são montadas e secretadas pelo fígado, sendo liberadas na
circulação periférica. A montagem das partículas de VLDL no
fígado requer a ação de uma proteína intracelular, a chamada 2.3.4. HDL
proteína de transferência de TG microssomal (MTP, do inglês As partículas de HDL são formadas no fígado, no intestino e
microsomal triglyceride transfer protein), responsável pela na circulação. Seu principal conteúdo proteico é representado
transferência dos TG para a ApoB, permitindo a formação pelas apos AI e AII. O colesterol livre da HDL, recebido das
da VLDL. A montagem hepática da VLDL também tem membranas celulares, é esterificado por ação da Lecitina-
sido reconhecida como foco terapêutico no tratamento Colesterol Aciltransferase (LCAT). A ApoA-I, principal proteína
da hipercolesterolemia, seja pela inibição da síntese de da HDL, é cofator desta enzima. O processo de esterificação
Apolipoproteína B 100 (ApoB),2 ou pela inibição da MTP.3 do colesterol, que ocorre principalmente nas HDL, é
Já na circulação, os TG das VLDL, assim como no caso fundamental para sua estabilização e seu transporte no plasma,
dos quilomícrons, são então hidrolisados pela LPL, enzima no centro desta partícula. A HDL transporta o colesterol até o
estimulada pela ApoC-II e inibida pela ApoC-III. Os ácidos fígado, no qual ela é captada pelos receptores SR-B1.
graxos assim liberados são redistribuídos para os tecidos, nos O circuito de transporte do colesterol dos tecidos
quais podem ser armazenados (como no tecido adiposo), ou periféricos para o fígado é denominado transporte reverso do
prontamente utilizados, como nos músculos esqueléticos. Por colesterol. Neste transporte, é importante a ação do complexo
ação da LPL, as VLDL, progressivamente depletadas de TG, ATP-Binding Cassette A1 (ABC-A1) que facilita a extração do
transformam-se em remanescentes, também removidos pelo colesterol da célula pelas HDL. A HDL também tem outras
fígado por receptores específicos. Uma parte das VLDL dá ações que contribuem para a proteção do leito vascular contra
origem às IDL, que são removidas rapidamente do plasma. a aterogênese, como a remoção de lípides oxidados da LDL,
O processo de catabolismo continua e inclui a ação da lipase a inibição da fixação de moléculas de adesão e monócitos
hepática, resultando na formação das LDL. ao endotélio, e a estimulação da liberação de óxido nítrico.
Durante a hidrólise das VLDL, estas lipoproteínas também Além das diferenças em tamanho, densidade e composição
estão sujeitas a trocas lipídicas com as HDL e as LDL. Por química, as lipoproteínas podem diferir entre si em relação à
intermédio da ação da Proteína de Transferência de Ésteres de modificação in vivo por oxidação, glicação ou dessialização.
Colesterol (CETP, do inglês cholesteryl ester transfer protein), Estas modificações influenciam em seu papel no metabolismo
as VLDL trocam TG por ésteres de colesterol com as HDL e lipídico e no processo aterogênico. Os ciclos exógeno
LDL. A CETP vem sendo testada como alvo terapêutico no e endógeno, e o transporte reverso de colesterol são
tratamento de dislipidemias, em particular no tratamento da apresentados na Figura 1.
HDL baixa, e na redução do risco cardiovascular.4
2.4. Bases fisiopatológicas das dislipidemias primárias
2.3.3. LDL O acúmulo de quilomícrons e/ou de VLDL no
A LDL tem um conteúdo apenas residual de TG e é compartimento plasmático resulta em hipertrigliceridemia
composta principalmente de colesterol e uma única apo, a e decorre da diminuição da hidrólise dos TG destas
ApoB100. As LDL são capturadas por células hepáticas ou lipoproteínas pela LPL ou do aumento da síntese de VLDL.
periféricas pelos Receptores de LDL (LDLR). No interior das Variantes genéticas das enzimas ou Apo relacionadas a
células, o colesterol livre pode ser esterificado para depósito estas lipoproteínas podem causar ambas as alterações
por ação da enzima Acil-CoA:Colesteril Aciltransferase (ACAT). metabólicas, aumento de síntese ou redução da hidrólise. O

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Figura 1 – Ciclos de transporte de lípides no plasma. As lipoproteínas participam de três ciclos básicos de transporte de lípides no plasma: (1) ciclo exógeno, no qual
as gorduras são absorvidas no intestino e chegam ao plasma, sob a forma de quilomícrons, e, após degradação pela lipase lipoproteica (LPL), ao fígado ou a tecidos
periféricos; (2) ciclo endógeno, em que as gorduras do fígado se direcionam aos tecidos periféricos; a lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) é secretada pelo
fígado e, por ação da LPL, transforma-se em lipoproteína de densidade intermediária e, posteriormente, em LDL, a qual carrega os lípides, principalmente o colesterol,
para os tecidos periféricos; (3) transporte reverso do colesterol, em que as gorduras, principalmente o colesterol dos tecidos, retorna para o fígado; as HDL nascentes
captam colesterol não esterificado dos tecidos periféricos pela ação da lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT), formando as HDL maduras; por meio da CETP, ocorre
também a transferência de ésteres de colesterol da HDL para outras lipoproteínas, como as VLDL. AGL: ácidos graxos livres; HPL: lipase hepática.

acúmulo de lipoproteínas ricas em colesterol, como a LDL no por macrófagos, tornando a placa lipídica vulnerável a
compartimento plasmático, resulta em hipercolesterolemia. complicações.9-11
Este acúmulo pode se dar por doenças monogênicas, em A formação da placa aterosclerótica inicia-se com a
particular, por defeito no gene do LDLR ou no gene APOB100. agressão ao endotélio vascular por diversos fatores de risco,
Centenas de mutações do LDLR já foram detectadas em como dislipidemia, hipertensão arterial ou tabagismo.
portadores de Hipercolesterolemia Familiar (HF), algumas Como consequência, a disfunção endotelial aumenta a
causando redução de sua expressão na membrana, outras, permeabilidade da íntima às lipoproteínas plasmáticas,
deformações em sua estrutura e função. Mutação no gene favorecendo a retenção destas no espaço subendotelial.
que codifica a APOB pode também causar hipercolesterolemia
Retidas, as partículas de LDL sofrem oxidação, causando a
por conta da deficiência no acoplamento da LDL ao receptor
exposição de diversos neoepítopos, tornando-as imunogênicas.
celular. Mais comumente a hipercolesterolemia resulta de
O depósito de lipoproteínas na parede arterial, processo-
mutações em múltiplos genes envolvidos no metabolismo
chave no início da aterogênese, ocorre de maneira
lipídico, as hipercolesterolemias poligênicas. Nestes casos, a
proporcional à concentração destas lipoproteínas no plasma.
interação entre fatores genéticos e ambientais determina o
Além do aumento da permeabilidade às lipoproteínas, outra
fenótipo do perfil lipídico.
manifestação da disfunção endotelial é o surgimento de
moléculas de adesão leucocitária na superfície endotelial,
3. Aterogênese processo estimulado pela presença de LDL oxidada. As
A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica de moléculas de adesão são responsáveis pela atração de
origem multifatorial, que ocorre em resposta à agressão monócitos e linfócitos para a intimidade da parede arterial.
endotelial, acometendo principalmente a camada íntima Induzidos por proteínas quimiotáticas, os monócitos migram
de artérias de médio e grande calibre.7 Em geral, as lesões para o espaço subendotelial, no qual se diferenciam em
iniciais, denominadas estrias gordurosas, formam-se ainda macrófagos, que, por sua vez, captam as LDL oxidadas.
na infância e caracterizam-se por acúmulo de colesterol em Os macrófagos repletos de lípides são chamados de células
macrófagos.8 Com o tempo, mecanismos protetores levam ao espumosas e são o principal componente das estrias
aumento do tecido matricial, que circunda o núcleo lipídico, gordurosas, lesões macroscópicas iniciais da aterosclerose.
mas, na presença de subtipos de linfócitos de fenótipo Uma vez ativados, os macrófagos são, em grande parte,
mais inflamatório, a formação do tecido matricial se reduz, responsáveis pela progressão da placa aterosclerótica por meio
principalmente por inibição de síntese de colágeno pelas da secreção de citocinas, que amplificam a inflamação, e de
células musculares lisas que migraram para íntima vascular e enzimas proteolíticas, capazes de degradar colágeno e outros
por maior liberação de metaloproteases de matriz, sintetizadas componentes teciduais locais.12

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Outras células inflamatórias também participam do de flutuação em gradientes de densidade específica da


processo aterosclerótico. Os linfócitos T, embora menos mesma forma, possuem mobilidade eletroforética própria
numerosos que os macrófagos no interior do ateroma, são de e expressões de determinantes antigênicos específicos.
grande importância na aterogênese. Mediante interação com Diante destas características, o desenvolvimento da
os macrófagos, as células T podem se diferenciar e produzir pesquisa permitiu que diversos métodos quantificassem e
citocinas que modulam o processo inflamatório local. 12 classificassem estas lipoproteínas.20
Diversos mecanismos têm sido propostos para a aterogênese A acurácia na determinação das lipoproteínas pode ser
e suas complicações, como a oxidação de lipoproteínas determinada principalmente por duas fases no processo
(principalmente lipoproteínas de baixa densidade) e a laboratorial: a fase pré-analítica, relacionada a procedimentos
alteração fenotípica do endotélio vascular, produzindo de coleta, preparo da amostra ou a fatores intrínsecos
substâncias quimiotáticas de linfócitos, liberando espécies do indivíduo, como estilo de vida, uso de medicações e
reativas de oxigênio, promovendo vasoconstrição e reduzindo doenças associadas; e a analítica, relacionada aos métodos e
propriedades antitrombóticas. procedimentos utilizados pelos laboratórios.21
Recentemente, o comprometimento da resposta imune
de linfócitos, diminuindo a produção de anticorpos anti-LDL
oxidada, foi associado à aterosclerose e complicações.11,13-15 4.1.1. Fase pré-analítica
A maior gravidade da aterosclerose está relacionada com fatores Nesta fase, encontram-se todos os procedimentos
de risco clássicos, como dislipidemia, diabetes, tabagismo, realizados antes da amostra do paciente ser processada pelos
hipertensão arterial, entre outros, mas, a nível celular, cristais equipamentos nos laboratórios, com seus respectivos métodos
de colesterol, microfilamentos liberados por neutrófilos, descritos anteriormente.
isquemia e alterações na pressão de arrasto hemodinâmico Variação biológica: as lipoproteínas podem sofrer
têm sido implicados na ativação de complexo inflamatório, alterações ao longo do tempo, caracterizadas como variação
que se associa com ruptura da placa aterosclerótica ou erosão biológica intraindividual. Estas variações podem ser expressas
endotelial.16 A partir destas complicações, ocorre interação pelo Coeficiente de Variação (CV). Para Colesterol Total (CT),
do fator tecidual da íntima vascular com fator VIIa circulante, HDL-c e LDL-c, é cerca de 10% e, para os TG, cerca de 25%.22
levando à geração de trombina, ativação plaquetária e
Uso do torniquete na punção venosa: após 1 minuto de
formação do trombo, determinando as principais complicações
torniquete, pode haver hemoconcentração e, com relação
da aterosclerose, infarto agudo do miocárdio e Acidente
ao perfil lipídico, ocorrer aumento de cerca de 5% no CT.
Vascular Cerebral (AVC).17,18
Este efeito pode chegar a 10 a 15% com duração superior a
Alguns mediadores da inflamação estimulam a migração 5 minutos. Visando minimizar o “efeito torniquete”, este deve
e a proliferação das células musculares lisas da camada ser desfeito tão logo a agulha penetre na veia.23
média arterial. Estas, ao migrarem para a íntima, passam a
produzir não só citocinas e fatores de crescimento, como
também matriz extracelular, que formará parte da capa 4.1.1.1. Condições de preparo do paciente para a coleta
fibrosa da placa aterosclerótica. A placa aterosclerótica No preparo do paciente para a realização das dosagens
plenamente desenvolvida é constituída por elementos do perfil lipídico, recomenda-se manter o estado metabólico
celulares, componentes da matriz extracelular e núcleo estável e a dieta habitual. O jejum não é necessário para
lipídico e necrótico, formado principalmente por debris realização do CT, HDL-c e Apolipoproteínas (ApoAI e ApoB),
de células mortas. As placas estáveis caracterizam-se por pois o estado pós-prandial não interfere na concentração
predomínio de colágeno, organizado em capa fibrosa espessa, destas partículas.24,25 Alguns países da Europa retiraram a
escassas células inflamatórias, e núcleo lipídico e necrótico obrigatoriedade do jejum de sua rotina, fato que passou
de proporções menores.19 As instáveis apresentam atividade a ser questionado na comunidade médica mundial.
inflamatória intensa, especialmente em suas bordas laterais, Vale ressaltar que o período de jejum de 12 horas não
com grande atividade proteolítica, núcleo lipídico e necrótico representa nosso estado metabólico normal, pois não ficamos
proeminente, e capa fibrótica tênue.19 A ruptura desta capa constantemente neste tempo sem nos alimentar. Como já
expõe material lipídico altamente trombogênico, levando está bem sedimentado na literatura, valores aumentados de
à formação de um trombo sobrejacente. Este processo, triglicerídeos no pós-prandial representam um maior risco
também conhecido por aterotrombose, é um dos principais para eventos cardiovasculares.26-29 Alguns autores anteciparam
determinantes das manifestações clínicas da aterosclerose. que o fim do jejum para o perfil lipídico seria indicado para
a rotina laboratorial.26,30
4. Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Duas publicações em 2016 recomendaram o fim do jejum
para o perfil lipídico: o consenso da European Atherosclerosis
Lipídicos e das Apolipoproteínas Society (EAS) e da European Federation of Clinical Chemistry
and Laboratory Medicine (EFLM) 31 e outra publicação
4.1. Fases pré-analítica e analítica americana.32 Esta quebra de paradigma traz para a rotina o
Os lípides circulam na corrente sanguínea ligados a estado metabólico habitual dos pacientes. A concentração
proteínas específicas formando complexos denominados de TG sofre um incremento nesta mudança e, como descrito
lipoproteínas. O conteúdo de proteínas e de lípides nestes anteriormente, a elevação dos triglicerídeos no estado pós-
complexos faz com que eles assumam características prandial é indicativa de maior risco cardiovascular. Pacientes

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idosos, diabéticos, gestantes e crianças devem se beneficiar lipoproteínas, enquanto as eletroforeses de maior resolução
do fim do jejum, evitando hipoglicemias secundárias ao conseguem separar diversas frações das lipoproteínas, mas
jejum prolongado. com custo elevado e pouca difusão na prática clínica.36
Os laboratórios devem adequar seus procedimentos, Os métodos enzimáticos colorimétricos são os mais
incluindo a flexibilização do tempo de jejum, respeitando utilizados nos dias de hoje em laboratórios clínicos para a
sempre a orientação do médico solicitante. O laboratório determinação do CT, do HDL-c e dos triglicerídeos. Para o
deve informar no laudo as duas diferentes situações: sem CT e os triglicerídeos, os diversos kits comerciais apresentam
jejum e jejum de 12 horas, de acordo com o critério do boa correlação e baixo CV entre eles, podendo comparar os
médico solicitante. Em algumas situações clínicas específicas, resultados de diferentes laboratórios em uma mesma amostra.
em que a concentração de TG encontra-se muito elevada (> Já para o HDL-c, podem-se encontrar variações de até 15%
440 mg/dL) uma nova coleta de amostra para o perfil lipídico entre os métodos disponíveis. Estes métodos constituem a
deve ser solicitada pelo médico ao paciente com jejum de melhor opção por apresentarem muito boa sensibilidade
12 horas. Estão entre elas a Doença Cardiovascular (DCV) e especificidade, simplicidade operacional, baixo custo e
aterosclerótica precoce e a história de hiperlipidemia genética possibilidade de automação em laboratórios clínicos. Para o
familiar. O médico deve avaliar o resultado do perfil lipídico LDL-c, existem duas opções: o cálculo ou a dosagem direta.
do paciente, de acordo com a indicação do exame, o estado Ainda hoje, a maior parte dos laboratórios pelo mundo utiliza
metabólico e a estratificação de risco. para o cálculo a fórmula de Friedewald descrita em 1972 e
que apresenta muitas limitações em sua utilização. Na fórmula
4.1.2. Fase analítica de Friedewald, LDL-c = CT – HDL-c –TG/5, sendo o valor
Existem vários métodos disponíveis e utilizados na rotina dos de TG/5 uma estimativa da VLDL-c e todas as concentrações
laboratórios clínicos, mas alguns ainda são restritos à pesquisa. expressas em mg/dL.37 Algumas condições são exigidas para
que os resultados sejam confiáveis e possam ser considerados
A ultracentrifugação é o método de referência para
com exatidão adequada. A concentração dos triglicerídeos
a separação das diferentes lipoproteínas, sendo sua
deve ser menor que 400 mg/dL, e valores acima de 100 mg/
classificação derivada deste método. Ela se baseia na
dL de TG já começam a subestimar os valores de LDL quando
propriedade de flutuação das partículas em relação às suas
comparados à ultracentrifugação. Outra limitação ao uso da
densidades de equilíbrio em campo gravitacional intenso.
fórmula é que as amostras não devem conter beta-VLDL,
Por ultracentrifugação, é possível separar grande parte das
característica da hiperlipoproteinemia tipo III. Quando uma
lipoproteínas: LDL, IDL, Lp(a), HDL e VLDL, além dos
ou mais das condições anteriores não são cumpridas, a fórmula
quilomícrons. O método, apesar de todas estas virtudes, não
não pode ser utilizada.
é adequado à rotina laboratorial, por ser muito caro e moroso.
Assim, é restrito a protocolos de pesquisa.33 Recentemente, Martin et al. sugeriram outro método
A espectroscopia por ressonância magnética e a para estimar os valores de LDL-c, utilizando como referência
espectrometria de massas com a técnica de MALDI-TOF a ultracentrifugação, e, por meio de cálculos estatísticos,
(Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization Time-of-Flight) definiram diferentes divisores para o valor de TG, que
são métodos também restritos à pesquisa, que podem ser permitem estimar com maior fidedignidade os valores
utilizados para mensuração das lipoproteínas.34-36 de VLDL-c. Para obter estes divisores depende-se das
concentrações do Colesterol Não HDL (não HDL-c) e do TG
A eletroforese se baseia na propriedade das proteínas
da amostra do paciente (Tabela 1). Com este novo divisor
se tornarem carregadas negativamente quando colocadas
(x) aplica-se a fórmula: LDL-c = CT – HDL-c – TG/x, onde
em meio com pH superior ao seu ponto isoelétrico, dentro
x varia de 3,1 a 11,9 (Grau de Recomendação: IIa; Nível de
de um campo elétrico. Além da carga das proteínas, o
Evidência: C).38
tamanho da partícula interfere na migração. As lipoproteínas
HDL, LDL e VLDL e os quilomícrons podem ser separados Outra forma de apresentar os valores de LDL-c seria a
eletroforeticamente em fitas de acetato de celulose, gel dosagem direta da fração por meio de ensaios colorimétricos.
agarose e gel de poliacridamida. Esta separação permite sua O principal problema da dosagem direta do LDL-c é a grande
análise qualitativa e semiquantitativa. Dependendo da técnica variação existente entre os ensaios disponíveis no mercado.
empregada, pode-se conseguir maior resolução técnica, Esta variação pode chegar a 30% e ainda não é muito bem
permitindo melhor separação das diferentes lipoproteínas entendida na literatura, mas provavelmente isso se deve às
e de suas subfrações. A eletroforese de baixa resolução diferentes especificidades de cada ensaio por cada subfração
praticamente não é mais realizada nos laboratórios clínicos, da LDL. Esta variação poderia ser uma condição limitante
pois não consegue discriminar com precisão as diferentes para a utilização ampla da dosagem direta na prática clínica.

Recomendação: o perfil lipídico completo pode ser coletado sem jejum, mantendo-se o estado metabólico estável e dieta habitual. Os valores de colesterol total, HDL-c,
não HDL-c e LDL-c não sofrem influência do estado alimentar. Se a concentração de triglicérides estiver elevada (> 440 mg/dL) sem jejum, o médico fará outra prescrição
para nova avaliação de triglicérides com jejum de 12 horas e será considerado um novo exame de triglicérides pelo laboratório clínico (Grau de Recomendação: IIa; Nível
de Evidência: C).
O laboratório deve informar no laudo as duas diferentes situações: sem jejum e jejum de 12 horas, de acordo com o critério do médico solicitante.
O médico avaliará o resultado do perfil lipídico do paciente, de acordo com a indicação do exame, o estado metabólico e a estratificação de risco.

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Tabela 1 – Valores utilizados para o cálculo do colesterol da lipoproteína de densidade muito baixa e posterior cálculo do colesterol da
lipoproteína de baixa densidade

Não HDL-c (mg/dL)


Triglicérides (mg/dL) < 100 100-129 130-159 160-189 190-219 > 220
7-49 3,5 3,4 3,3 3,3 3,2 3,1
50-56 4,0 3,9 3,7 3,6 3,6 3,4
57-61 4,3 4,1 4,0 3,9 3,8 3,6
62-66 4,5 4,3 4,1 4,0 3,9 3,9
67-71 4,7 4,4 4,3 4,2 4,1 3,9
72-75 4,8 4,6 4,4 4,2 4,2 4,1
76-79 4,9 4,6 4,5 4,3 4,3 4,2
80-83 5,0 4,8 4,6 4,4 4,3 4,2
84-87 5,1 4,8 4,6 4,5 4,3 4,3
88-92 5,2 4,9 4,7 4,6 4,4 4,3
93-96 5,3 5,0 4,8 4,7 4,5 4,4
97-100 5,4 5,1 4,8 4,7 4,5 4,3
101-105 5,5 5,2 5,0 4,7 4,6 4,5
106-110 5,6 5,3 5,0 4,8 4,6 4,5
111-115 5,7 5,4 5,1 4,9 4,7 4,5
116-120 5,8 5,5 5,2 5,0 4,8 4,6
121-126 6,0 5,5 5,3 5,0 4,8 4,6
127-132 6,1 5,7 5,3 5,1 4,9 4,7
133-138 6,2 5,8 5,4 5,2 5,0 4,7
139-146 6,3 5,9 5,6 5,3 5,0 4,8
147-154 6,5 6,0 5,7 5,4 5,1 4,8
155-163 6,7 6,2 5,8 5,4 5,2 4,9
164-173 6,8 6,3 5,9 5,5 5,3 5,0
174-185 7,0 6,5 6,0 5,7 5,4 5,1
186-201 7,3 6,7 6,2 5,8 5,5 5,2
202-220 7,6 6,9 6,4 6,0 5,6 5,3
221-247 8,0 7,2 6,6 6,2 5,9 5,4
248-292 8,5 7,6 7,0 6,5 6,1 5,6
293-399 9,5 8,3 7,5 7,0 6,5 5,9
400-13.975 11,9 10,0 8,8 8,1 7,5 6,7
HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade.

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A utilização do não HDL-c também serve como umidade, uso de uma amostra de sangue total e treinamento
parâmentro para avaliação das dislipidemias, que pode ser de operadores individuais. O desempenho do sistema TRL é
obtido subtraindo o valor de HDL-c do valor de CT (não considerado aceitável se o CV estiver nos valores de ± 10%
HDL-c = CT - HDL-c). Este parâmetro pode ser utilizado na (CT), ± 12% (HDL-c) e ± 15% TG.41
avaliação dos pacientes dislipidêmicos, principalmente naqueles Para decidir qual o melhor equipamento POCT a ser
com concentrações de triglicerídeos superiores a 400 mg/dL.39 utilizado, devem-se verificar a exatidão e a precisão, realizando
Os métodos de turbidimetria e nefelometria são a validação do equipamento, sempre em comparação com
rotineiramente utilizados para dosagem de grande parte um laboratório clínico acreditado, para verificar a efetividade
das proteínas plasmáticas e amplamente usados para a desta metodologia, rápida e prática.42
dosagem das apolipoproteínas. Estes métodos apresentam Avaliando as alternativas no mercado para implantação
boa correlação entre eles e um CV abaixo de 10%. do perfil lipídico na plataforma POCT, é vantajoso utilizar
A acurácia na determinação dos valores do perfil lipídico é o equipamento que possui a análise completa do perfil
fundamental, pois os alvos terapêuticos (valores referenciais) lipídico, incluindo o HDL-c, viabilizando o cálculo do não
são os mesmos utilizados por todos os laboratórios. O HDL-c. Este parâmetro é importante porque permite avaliar
treinamento do pessoal técnico, o processamento dos controles as lipoproteínas aterogênicas e o risco de DCV.
de qualidade e a adequada calibração dos equipamentos Apesar do custo do teste POCT ainda ser relevante, as
automatizados são fundamentais para a manutenção de vantagens para o perfil lipídico neste sistema são várias, como
elevados níveis de precisão e exatidão das dosagens. nas situações de triagem da HF, em programas de saúde para
avaliação de funcionários nas empresas, quando é necessário
4.2. Microtécnica (ponta de dedo) obter amostras de comunidades isoladas, em crianças e idosos
com dificuldade para a punção venosa e outras ocorrências
A utilização da metodologia de punção capilar (POCT, de risco iminente.
sigla to inglês Point-of-Care Testing) ou Teste Laboratorial
Remoto (TLR) na cardiologia tem demonstrado eficácia
4.3. Variação intraindividual
para investigar as variações dos lípides no sangue. Nas
dislipidemias, o início precoce do tratamento farmacológico A variação intraindividual dos lipídios plasmáticos é
previne as consequências das DCV e suas intervenções considerável e importante, principalmente nos pacientes
clínicas, especialmente na HF. que apresentam valores próximos aos limites de tomada de
decisão clínica. Esta variação pode ser de 5 a 10% para o CT
O investimento em tecnologia dos equipamentos
e em torno de 20% para os TG − esta última particularmente
portáteis tornou-os mais sofisticados e precisos, levando o
presente nos indivíduos com hipertrigliceridemia.22
paciente próximo do local dos testes, principalmente para
os tratamentos intensivos e de Atenção Primária à Saúde.40 Pacientes com alterações no perfil lipídico devem ter seus
exames confirmados com a coleta de uma nova amostra. Caso
No sistema POCT, é possível quantificar os lípides ainda persista a variação, o paciente deve ser encaminhado
isoladamente ou o perfil lipídico completo. Estes analisadores a um serviço especializado para investigação complementar
portáteis possibilitam avaliar o perfil lipídico em uma única e confirmação diagnóstica.24,25
tira reagente, utilizando o sangue total de punção capilar, e
o resultado é obtido em poucos minutos. No teste do perfil
4.4. Valores referenciais do perfil lipídico
lipídico, são dosados diretamente o CT, os TG e HDL-c; o
LDL-c é calculado pela equação de Friedewald, quando Esta atualização sugere que os valores referenciais e de
TG < 400 mg/dL. Os valores obtidos permitem estimar o não alvo terapêutico do perfil lipídico (adultos > 20 anos) sejam
HDL-c e, como geralmente a coleta é realizada em situação apresentados de acordo com o estado metabólico que
pós-prandial, é importante porque agrega a avaliação de antecede a coleta da amostra, sem jejum e com jejum de
risco para DCV. 12 horas. Assim, os valores referenciais e de alvo terapêutico,
obtidos de acordo com a avaliação de risco cardiovascular
É recomendado seguir as normas de coleta de polpa digital, estimado pelo médico solicitante, são apresentados na tabela 2
de acordo com as diretrizes nacionais. Para o perfil lipídico e devem constar dos laudos laboratoriais, em todo o território
é indispensável a limpeza do dedo com o álcool isopropílico nacional, para que se obtenha uniformidade no tratamento
70%, para retirar resíduo de gordura natural ou de cremes das dislipidemias.25 É importante ressaltar que esta atualização
cosméticos, e a pipeta calibrada, para transferir a amostra sugere ainda a inclusão de um texto observando que valores de
para a tira de teste. CT ≥ 310 mg/dL (para adultos) ou CT ≥ 230 mg/dL (crianças
Em geral, os dispositivos TLR podem ter maior variabilidade e adolescentes) podem ser indicativos de HF, se excluídas as
em relação aos equipamentos encontrados nos laboratórios dislipidemias secundárias.43 A HF é a mais comum entre as
clínicos. Estas diferenças analíticas podem ser devidas a uma dislipidemias e seus portadores têm 20 vezes mais risco de
combinação de variações ambientais, como temperatura, morte precoce por DCV.

Recomendação: a utilização dos sistemas point-of-care testing ou teste laboratorial remoto na cardiologia traz novas oportunidades para execução de programas de
triagem populacional das dislipidemias, em especial a hipercolesterolemia familiar, na obtenção de amostras em comunidades isoladas, em crianças e idosos com
dificuldade para a punção venosa e em outras ocorrências de risco iminente, sem infraestrutura laboratorial (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C).

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Tabela 2 – Valores referenciais e de alvo terapêutico* do perfil lipídico (adultos > 20 anos)

Lípides Com jejum (mg/dL) Sem jejum (mg/dL) Categoria referencial


Colesterol total† < 190 < 190 Desejável
HDL-c > 40 > 40 Desejável
Triglicérides < 150 < 175‡ Desejável
Categoria de risco
< 130 < 130 Baixo
< 100 < 100 Intermediário
LDL-c
< 70 < 70 Alto
< 50 < 50 Muito alto
< 160 < 160 Baixo
< 130 < 130 Intermediário
Não HDL-c
< 100 < 100 Alto
< 80 < 80 Muito alto
* Conforme avaliação de risco cardiovascular estimado pelo médico solicitante; † colesterol total > 310 mg/dL há probabilidade de hipercolesterolemia familiar; ‡
Quando os níveis de triglicérides estiverem acima de 440 mg/dL (sem jejum) o médico solicitante faz outra prescrição para a avaliação de triglicérides com jejum de
12 horas e deve ser considerado um novo exame de triglicérides pelo laboratório clínico.

Como para o LDL-c e o não HDL-c, os valores referenciais sofre interferência à medida que aumentam os valores de
variam de acordo com o risco cardiovascular estimado, nesta TG, no cálculo da VLDL-c. Com isso o método de Friedewald
atualização são sugeridos valores de alvo terapêutico para estas tende a superestimar a participação da VLDL e a subestimar a
variáveis, de acordo com a categoria de risco. Os parâmetros da LDL. Esse problema pode ser contornado pela nova fórmula
CT, HDL-c, LDL-c e não HDL-c não sofrem influência do sugerida por Martin et al.38 (Tabela 1) com o uso de diferentes
estado alimentar. Para os TG sem jejum o valor desejável é divisores (x) para o TG, onde x varia de 3,1 a 11,9. Assim, o
considerado < 175 mg/dL.31 LDL-c pode ser calculado com valores de TG na amplitude
O laboratório deve informar no laudo o tempo de jejum para de 7 mg/dL a 13.975 mg/dL, ficando na dependência dos
as seguintes situações: sem jejum ou com jejum de 12 horas, de valores do não HDL-c para obter seu respectivo divisor (x).
acordo com o critério do médico solicitante. Informar no laudo Existem vários métodos comercialmente disponíveis para
os valores referenciais para TG com e sem jejum. determinação direta ou homogênea do LDL-c. Apesar destes
métodos terem a vantagem de que a análise é feita em uma
4.5. Análises do perfil lipídico e apolipoproteínas única etapa, sem a interferência de altos níveis de TG, ainda
persiste um alto grau de variação entre as metodologias
disponíveis no mercado.
4.5.1. Colesterol total
O método de dosagem do CT disponível é enzimático, com
boa precisão, sendo a preferência pelo uso de calibradores 4.5.3. Colesterol não HDL
baseados em soros. A avaliação do CT é recomendada nos O não HDL-c representa a fração do colesterol nas
programas de rastreamento populacional para mensurar o lipoproteínas plasmáticas, exceto a HDL, e é estimado
risco cardiovascular. Porém, para a avaliação adequada do subtraindo-se o valor do HDL-c do CT: não HDL-c = CT-
risco cardiovascular é imperativa a análise das frações não HDL-c.
HDL-c, HDL-c e LDL-c.24,25 A utilização do não HDL-c tem a finalidade de estimar
Sugerimos a determinação do CT para que o clínico possa a quantidade de lipoproteínas aterogênicas circulantes no
utilizar seu valor no cálculo das frações de LDL-c e não HDL-c. plasma, especialmente em indivíduos com TG elevados.39

4.5.2. Colesterol da lipoproteína de baixa densidade 4.5.4. Colesterol da lipoproteína de alta densidade
O LDL-c pode ser avaliado por metodologia direta O método disponível baseia-se na separação da lipoproteína
(homogênea) ou estimada pela fórmula de Friedewald, que HDL por meio de um agente precipitante, inibidor ou de

Recomendação: os valores referenciais desejáveis de colesterol total e HDL-c são idênticos com e sem jejum. Os níveis desejáveis de triglicérides são diferentes no
estado com e sem jejum. Os valores de alvo terapêutico de LDL-c e não HDL-c passam a ser categorizados nesta atualização de acordo com a estimativa de risco (Grau
de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C).

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substâncias que formam um complexo estável. Estas técnicas HDL-c na previsão do risco cardiovascular. Diversos estudos
são de alta eficiência e seus resultados em plataformas prospectivos analisaram a relação entre a ApoB e ApoA-I
automatizadas apresentam menor variabilidade analítica, com (indicadora do balanço aterogênico no plasma), mas não se
excelentes resultados.24,25 mostraram efetivas na melhora da estratificação do risco.51

4.5.5. Triglicérides 4.5.7. Lipoproteína (a)


A avaliação de TG é determinada por técnica enzimática, A Lp(a) é uma partícula de LDL com uma Apo adicional,
e o método é preciso e de baixo custo. Níveis elevados de a Apo (a), ligada à ApoB. A Apo (a) é composta de estruturas
TG se associam frequentemente a baixos níveis de HDL-c e peptídicas chamadas kringles. As concentrações plasmáticas de
a altos níveis de partículas de LDL pequenas e densas, mas a Lp(a) são, em grande parte, determinadas geneticamente. Um
grande variabilidade biológica dos TG é a principal fonte de dos principais determinantes genéticos para as concentrações
oscilações nos seus resultados. de Lp(a) são os polimorfismos, que determinam o tamanho
do Kringle IV Tipo 2 (KIV-2), sendo que, quanto maior o
A análise dos níveis de TG sem jejum prévio fornece
número de repetições do KIV-2, maior o tamanho da Lp(a),
informações importantes sobre lipoproteínas remanescentes
porém, com uma associação inversa com suas concentrações
associadas com risco aumentado de doença coronária.44
plasmáticas. Isto porque as isoformas maiores são capturadas
e degradadas pelo fígado, enquanto as isoformas menores
4.5.6. Apolipoproteínas B e A-I permanecem em circulação,54 podendo ser quantificadas.
A dosagem da ApoB e da apoA-I pode ser realizada em Existem evidências robustas de associação independente
amostra sem jejum prévio, e os métodos imunoquímicos entre elevações de Lp(a) e risco de DCV na população geral.54
não sofrem a influência dos níveis de TG moderadamente Esta associação existe não apenas pelo conteúdo lipídico da
elevados. O desempenho analítico desta metodologia é bom, Lp(a), mas também por suas propriedades pró-trombóticas e
e a dosagem pode ser realizada em plataformas automatizadas pró-inflamatórias. Para quantificação de suas concentrações
com perfil de imunoturbidimetria ou nefelometria.45 plasmáticas, o padrão-ouro é a dosagem de Apo (a) massa por
A ApoB encontra-se nas lipoproteínas aterogênicas VLDL, turbidimetria, nefelometria ou quimiluminesência, utilizando
IDL, LDL e Lp(a) originadas do fígado e nos remanescentes ensaios isoforma-insensitivos, que são pouco afetados pela
da via exógena do metabolismo, na proporção de uma heterogeneidade nas isoformas da Apo (a). Ele dispensa o
partícula de ApoB por cada partícula de lipoproteína. Assim, jejum e fornece dados acurados.
a dosagem da ApoB constitue uma medida indireta de todas Em levantamentos de diferentes grupos étnicos e
as partículas aterogênicas presentes na corrente sanguínea, populacionais, que avaliaram a Lp(a) como preditora de risco
correspondendo à fração do não HDL-c. Grandes estudos de DCV, os valores de corte arbitrados variaram em uma
comprovaram a superioridade do não HDL-c e da ApoB ampla faixa. O estudo de Copenhagen estabeleceu como
em relação à LDL-c na predição do risco cardiovascular.46-50 valor elevado de Lp(a) acima de 50 mg/dL, equivalente ao
Entretanto, a ApoB não se mostrou superior ao não HDL-c percentil 80,54 o que também foi recomendado pelo painel de
em diversos grandes estudos,51,52 exceto em uma grande consenso da EAS. Quando o resultado for em nmol/L, deve-se
metanálise comparativa entre ApoB, não HDL-c e LDL-c, que multiplicar o resultado por 2,5, sendo considerados elevados
concluiu ser a ApoB o mais potente preditor de risco, o LDL-c valores de Lp(a) superiores a 125 nmol/L.
com a menor potência e o não HDL-c como de robustez Sua análise não é recomendada de rotina para avaliação
intermediária.53 Considerando a falta de um consenso na do risco de DCV na população geral, mas sua determinação
atualidade sobre a relevância clínica do uso da ApoB como deve ser considerada na estratificação de risco em indivíduos
preditor de risco cardiovascular e o custo adicional que com história familiar de doença aterosclerótica de caráter
representa em relação à fração não HDL-c (gratuitamente prematuro e na HF.
implícita no perfil lipidico de rotina), surge uma natural
limitação de seu uso na prática clínica. Em conclusão, 4.6. Tamanho das partículas de lipoproteínas
a dosagem de rotina da ApoB não é recomendada na
Existe considerável heterogeneidade no tamanho
avaliação ou estratificação do risco cardiovascular (Grau de
das partículas de LDL, cuja densidade pode variar entre
Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A). Concentrações 1,019 a 1,063 g/L,55 particularmente em pacientes com
de ApoB de 120 mg/dL equivalem ao não HDL-c de 160 hiperlipidemia mista, quando comparados a portadores
mg/dL e de ApoB de 80 mg/dL correspondem ao não HDL-c de HF isolada. As partículas de LDL pequenas e densas
de 100 mg/dL.53 coexistem com níveis elevados de TG, sendo consideradas
A ApoA-I é a principal apoproteína da HDL e fornece uma mais aterogênicas do que LDL maiores e boiantes, que
boa estimativa da concentração de HDL-c. Cada partícula predominam em concentrações mais baixas de TG.56,57
de HDL pode transportar várias moléculas de ApoA-I. Apesar da possível maior aterogenicidade das partículas
Concentrações plasmáticas de ApoA-I < 120 mg/dL para homens LDL pequenas e densas, alguns estudos têm mostrado que o
e < 140 mg/dL para mulheres correspondem aproximadamente tamanho da partícula de LDL por si só pode não se associar
às que são consideradas baixas concentrações de HDL-c. De com o risco futuro de eventos cardiovasculares, quando
modo semelhante ao desempenho da ApoB, a utilização da se leva em conta o aumento da concentração do total de
dosagem da ApoA-I não mostrou superioridade à dosagem do partículas de LDL presente nestas situações.58,59

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Recomendação: o colesterol total, o HDL-c e os triglicérideos devem ser analisados por métodos enzimáticos colorimétricos (Grau de Recomendação: I; Nível de
Evidência: A). Na maioria dos laboratórios, o LDL-c é calculado pela fórmula de Friedewald (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A), ou analisado por dosagem
direta (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). A utilização de fator de correção para a fórmula de Friedewald aumenta a acurácia na estimativa do LDL-c
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C).
A dosagem das apolipoproteínas A1 e B-100 não oferece vantagens ao HDL-c e ao não HDL-c, respectivamente, embora a ApoB e o não HDL-c tenham se mostrados
superiores ao LDL-c.
A determinação rotineira de ApoA1 e ApoB não é recomendada. A dosagem de Lp(a) não é recomendada de rotina na avaliação do risco cardiovascular, podendo ser
solicitada na estratificação de risco na hipercolesterolemia familiar e naqueles com alto risco de doença coronária prematura (Grau de Recomendação: IIa; Nível de
Evidência: C).

A quantificação da fração de partículas LDL pequenas HF depende do gene mutado, chegando a ser de 90% em
e densas , geralmente limitada a técnicas complexas, mais variantes patogênicas mesmo em heterozigose nos genes LDLR
recentemente passou a contar com um método de ensaio e ApoB e em algumas mutações no gene PCSK9.66
simples e inovador,60 utilizado no estudo ARIC (Atherosclerosis Pesquisas recentes sugerem um efeito aditivo de mutações
Risk in Communities), que revelou incidência de Doença únicas em diferentes genes componentes da via do LDLR, que,
Arterial Coronariana (DAC) associada à fração de partículas combinadas, podem levar a um fenótipo intermediário entre
LDL pequenas e densas em indivíduos de menor risco com indivíduos com mutações em heterozigose e homozigose para
LDL-c < 100 mg/dL.61,62 De modo semelhante ao considerado a HF.67-69 Apesar disto, níveis normais de colesterol já foram
com relação às apo, não existem evidências atuais para a descritos em indivíduos portadores de variantes patogênicas,
prática clínica custo-efetiva, que justifiquem a determinação em cujas famílias já foram detectados pacientes afetados.70
laboratorial do tamanho das partículas de lipoproteínas Estes achados evidenciam a importância de se realizar o teste
(particularmente das partículas LDL pequenas e densas) ou da genético familiar e de se conhecer melhor o impacto de cada
quantificação de seu número presente no plasma. Diretrizes mutação no espectro da HF.
futuras podem examinar o quanto a inclusão destes parâmetros O gene que codifica o receptor humano para LDL
pode ser útil na melhora da predição do risco cardiovascular. compreende aproximadamente 45 mil pares de bases de
DNA e localiza-se no cromossomo 19, sendo formado por
4.7. Genotipagem em hipercolesterolemia familiar 18 éxons e 17 íntrons. O LDLR é uma proteína composta
A HF, uma das doenças monogênicas mais comuns, foi de 839 aminoácidos, incluindo um peptídeo sinal de
descrita como doença de herança autossômica dominante,63 21 aminoácidos, contendo vários domínios funcionais.
sendo caracterizada pela elevação do CT e do LDL-c. O defeito A análise das mutações descritas no gene LDLR demonstra
mais frequente na HF é uma mutação no gene específico do que não existem regiões principais na sequência do gene (hot
receptor para LDL plasmático. Localizado na superfície das spots) para o aparecimento de alterações.71,72 Apesar disto,
células hepáticas e de outros órgãos, o receptor liga-se à LDL mutações no éxon 4, responsável pela ligação à LDL via ApoB,
via ApoB e facilita sua captação, realizada por um mecanismo parecem estar correlacionadas a fenótipos mais graves da
de internalização e endocitose do complexo LDL/ApoB/LDLR doença.73,74 Interessantemente, mutações de novo no gene
− processo este mediado pela proteína adaptadora do receptor LDLR parecem ser raras.75 A produção é finamente regulada
de LDL Tipo 1 (LDLRAP1) presente nas depressões revestidas por um mecanismo de retroalimentação sofisticado, que
com clatrina (clathrin-coated pits). Após internalização, a controla a transcrição do gene LDLR em resposta a variações
partícula LDL e o LDLR separam-se no endossomo, sendo no conteúdo intracelular de esteróis e da demanda celular
que o LDLR pode sofrer degradação lisossomal facilitada de colesterol.76
pela PCSK9 ou ser transferido de volta à superfície da célula, Existem mais de 1.800 mutações do gene LDLR
sendo o colesterol liberado na célula para uso metabólico. documentadas como causadoras de HF até o momento,77
Alternativamente, o LDLR pode ser degradado via ligação representando cerca de 85 a 90% dos casos de HF. A HF é
do PCSK9 exógeno ao LDLR na superfície celular, na qual mais comumente atribuível a mutações (incluindo deleções,
é internalizado e processado para degradação lisossomal.64 missense, nonsense e inserções) no gene LDLR, resultando em
Quando os LDLR possuem alguma mutação que altere sua LDLR com reduções funcionais (parcial a completa) em sua
estrutura ou função, o nível de remoção de LDL do plasma capacidade de remover LDL da circulação. Dependendo do
diminui, e o nível plasmático de LDL aumenta em proporção impacto da mutação sobre a proteína resultante, o paciente
inversa ao número de receptores funcionais presentes.65 pode ser receptor-negativo, que expressa pouco ou nenhum
A HF pode ser causada principalmente por mutações LDLR, ou receptor-defeituoso, que, por sua vez, expressa
em qualquer um dos genes desta via. A maior frequência isoformas de LDLR com afinidade reduzida para LDL na
de mutações se situa no gene que codifica o receptor da superfície dos hepatócitos.74,78-82
LDL, mas também são encontradas mutações nos genes Em pacientes heterozigotos, um alelo mutado para o
codificadores da ApoB e da PCSK9.64,65 Variantes genéticas, LDLR é herdado de um dos pais e um alelo normal, do outro.
que levem a uma menor produção de uma destas proteínas Como dois alelos funcionais são necessários para manter o
ou mesmo a proteínas com menor atividade biológica, têm nível plasmático normal de LDL-c, a ausência de um alelo
como consequência um clearance menor das partículas de funcional pode causar um aumento no nível de LDL para
LDL e resultam em hipercolesterolemia. A penetrância para aproximadamente duas vezes o normal já na infância.76

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Os pacientes homozigotos herdam dois alelos mutados; revestidas com clatrina (clathrin-coated pits) da superfície
consequentemente, os LDLR não têm funcionalidade e os celular.71,87,88 O gene LDLRAP1 possui 25 kb, é composto por
pacientes são portadores de uma hipercolesterolemia do tipo nove éxons e dá origem a uma proteína de 308 aminoácidos.
grave (650 a 1.000 mg/dL).76 Apenas pacientes com mutações no gene LDLRAP1 em
Existem cinco principais classes de mutações no gene 74,81 homozigose ou heterozigose composta são afetados; indivíduos
heterozigotos simples são considerados apenas portadores, pois
• Classe I (mutações nulas): estas alterações afetam a região
geralmente não apresentam hipercolesterolemia. Entretanto,
promotora do gene ou a região codificante, o que resulta
existem casos descritos na literatura de portadores que possuem
na total ausência de síntese do LDLR ou na síntese de um
receptor não funcional. níveis de LDL-c mais altos que outros membros da família, que
não possuem nenhuma alteração.89
• Classe II: ocasionados por defeitos no processamento
pós-tradução ou falha no transporte do LDLR do retículo Além destes genes apresentados, outros candidatos a serem
endoplasmático para o complexo de Golgi, resultando em causadores de HF são: APOE, IDOL (MYLIP), HCHOLA4
uma menor expressão na superfície celular. e STAP1.90 Formas raras de ARH incluem sitosterolemia
ou fitosterolemia, em razão de mutações em dois genes
• Classe III: a LDL não se liga corretamente ao LDLR na
adjacentes e com orientações opostas (ABCG5 e ABCG8),
superfície da célula, graças a um defeito no domínio
que codificam proteínas transportadoras da família ABC (ATP-
de ligação do substrato ou no domínio que apresenta
binding cassette) denominadas esterolina-1 e esterolina-2,91
homologia estrutural ao Fator de Crescimento Epidérmico
envolvidas na eliminação de esteróis de plantas, que não
(EGF), presentes no LDLR.
podem ser utilizados pelas células humanas, e a deficiência
• Classe IV: o LDLR liga-se normalmente à LDL, mas esta de Colesterol 7-Alfa Hidroxilase (CYP7A1), que é a enzima
não é internalizada eficientemente pelo mecanismo da primeira etapa na síntese de ácidos biliares, resultando em
de endocitose via depressões revestidas com clatrina colesterol intra-hepático aumentado e expressão reduzida de
(clathrin-coated pits). LDLR na superfície do hepatócito. A deficiência de CYP7A1 é
• Classe V: o LDLR não é reciclado de volta para a a menos comum das condições autossômicas recessivas que
superfície celular. podem causar graves hipercolesterolemias.71
O gene ApoB possui 42 kb, é formado por 29 éxons e O colesterol elevado hereditário pode incluir outras formas
28 íntrons e dá origem a duas isoformas de proteínas: uma de hipercolesterolemia, como a disbetalipoproteinemia
pequena denominada ApoB-48 e uma grande denominada (tipo III de Friedrickson), hiperlipidemia familiar combinada,
de ApoB-100. ApoB-48 é produzida no intestino, sendo um hipercolesterolemia por polimorfismos no gene APOE, bem
componente dos quilomícrons. A ApoB-100 é produzida no como hipercolesterolemia poligênica, além de outras variantes
fígado e é um componente de várias lipoproteínas, como em genes ainda não identificados, que podem mimetizar a
VLDL, IDL e LDL. A hipercolesterolemia, devido à mutação no HF,92,93 mas que não são o foco desta atualização.
gene ApoB, resulta em um fenótipo clínico de HF semelhante
ao produzido por mutações em outros genes, sendo referida
como Defeito Familiar da ApoB (FDB, do inglês Familial 4.7.1. Rastreamento em cascata
Defective ApoB).83,84 O rastreamento em cascata para HF geralmente não é
Na ausência de teste genético, indivíduos com FDB podem necessário para diagnóstico ou tratamento clínico, mas pode
ser clinicamente confundidos com HF de outras etiologias. Em ser útil quando o diagnóstico é incerto e para diagnóstico de
contraste com o gene LDLR, apenas 157 mutações patogênicas familiares de um indivíduo afetado.
estão descritas para o gene ApoB,77 sendo que a maioria delas A identificação de uma mutação causal pode fornecer
encontra-se no éxon 26. A mutação mais comum no gene uma motivação adicional para alguns pacientes iniciarem o
ApoB é a substituição Arg3500Gln, que causa o rompimento tratamento adequado, e o teste genético é padrão de referência
da estrutura da proteína. Esta variante corresponde a 5 a 10% para o diagnóstico de certeza de HF. Pode ser particularmente
dos casos de HF nas populações do norte da Europa, sendo, útil nos casos de familiares com diagnóstico clínico equivocado
porém, rara em outras populações.85 ou apenas com nível de LDL-c sugestivo de HF. Testes genéticos
Outra possível condição que leva a um fenótipo do tipo também podem ser importantes para a identificação de uma
HF é o aumento da atividade de PCSK9, também chamada mutação causal em famílias recém-identificadas ou com forte
HF3, na qual mutações com ganho de função levam a maior suspeita de HF. Além disso, quando encontrada a mutação,
degradação do LDLR.85,86 Esta é a causa menos comum de o teste fornece uma resposta simples e definitiva para o
HF, representando 1 a 3% dos casos de HF clinicamente diagnóstico da HF, tornando-se ferramenta definitiva para a
diagnosticados.85 O gene PCSK9 possui 25 kb, contém 12 éxons presença de hipercolesterolemia como traço familiar.93
e dá origem a uma proteína de 692 aminoácidos. Os testes genéticos, no entanto, têm limitações. Entre
Além destes genes descritos, tem-se considerado como uma os pacientes hipercolesterolêmicos com diagnóstico de HF
possível causa de Hipercolesterolemia Autossômica Recessiva possível, a taxa de identificação de uma mutação causal
(ARH, do inglês Autosomal Recessive Hypercholesterolemia) a por meio do teste genético é de 50% ou menos, enquanto
expressão reduzida da proteína adaptadora do receptor de LDL em pacientes com HF definitiva, a taxa de identificação da
(LDLRAP1), que facilita a associação de LDLR nas depressões mutação pode ser tão alta quanto 86%.93,94

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É importante ressaltar que um teste genético negativo são colocados em um chip. Outro enfoque mais amplo é a
não exclui a HF. Além disto, indivíduos com LDL-c elevado utilização do sequenciamento de exomas, o qual permite
permanecem em alto risco e devem ser tratados de acordo determinar a sequência da região codificante de praticamente
com diretrizes aceitas, independentemente dos resultados todos os genes presentes no genoma em questão. Apesar deste
dos testes genéticos. enfoque fornecer uma extensa cobertura do genoma, muitos
A estratégia mais custo-efetiva para diagnóstico de HF é genes podem não ser sequenciados perfeitamente. Em casos
o rastreamento de mutações em parentes de primeiro grau específicos de doenças monogenéticas, como é o caso da
de indivíduos em quem uma mutação causal para HF tenha HF, painéis contendo os genes alvo configuram-se como uma
sido identificada.95,96 Os indivíduos diagnosticados como alternativa mais custo-efetiva, além de mais precisa.
portadores de HF por meio de teste genético passam a ser A tecnologia NGS apresenta muitas vantagens em relação
os casos-índice, sendo, a partir destes, rastreados os parentes ao sequenciamento Sanger, considerado padrão-ouro nesta
de primeiro grau e, subsequentemente, os demais parentes técnica. Dentre as vantagens, podemos citar a velocidade de
(segundo e terceiro graus), em uma abordagem genética obtenção de resultados, a quantidade de material necessário
combinada à análise do perfil lipídico dos familiares suspeitos utilizado na reação, o custo do sequenciamento por base, a
e de uma anamnese dirigida e exame físico, pesquisando-se quantidade de informação gerada e a precisão dos resultados
os achados clínicos típicos da HF (arco corneal precoce, obtidos. Resumidamente, para o estudo genético, é efetuada
xantomas tendíneos e xantelasmas). Isto é referido como coleta de sangue periférico em tubo contendo EDTA, obtendo-
rastreamento genético em cascata.97 Pode-se, no entanto, se o DNA genômico de leucócitos. A primeira etapa na
como primeira abordagem, realizar o teste genético, no preparação do material consiste na geração de uma biblioteca
qual se busca a mesma alteração do caso-índice. Há 50% de de fragmentos de DNA flanqueados por adaptadores
probabilidade de detecção em parentes de primeiro grau; 25% específicos. As regiões de interesse dos genes em estudo são
de probabilidade em parentes de segundo grau, e 12,5% de amplificadas por meio da reação em cadeia da polimerase
probabilidade em parentes de terceiro grau.63 em larga escala, em reações multiplexadas, com centenas de
Estudos mostram que pouquíssimos indivíduos com pares de oligonucleotideos em um mesmo tubo de reação.
HF são diagnosticados. Em qualquer população, estima- A partir destas reações, são construídas bibliotecas com
se que aproximadamente 20% dos pacientes com HF códigos de barras para identificar cada paciente analisado. Os
são diagnosticados e menos de 10% dos pacientes com fragmentos gerados são amplificados por clonagem em esferas
HF recebem tratamento adequado.63 O rastreamento em por reação em cadeia da polimerase em emulsão. Estas esferas
cascata aumenta o número de diagnósticos e diminui a contendo os fragmentos são aplicadas em um chip e inseridas
idade com que o indivíduo é diagnosticado, havendo no equipamento de sequenciamento de nova geração. Uma
maior chance de tratamento precoce e diminuição do risco vez gerados os dados, os mesmos são transferidos para uma
cardiovascular global. plataforma, na qual as leituras são mapeadas com o genoma
humano (hg19/GRCh37) e é realizada a interpretação das
Marks et al.95 analisaram a custo-efetividade do rastreamento variantes encontradas.
em cascata de indivíduos com HF. Foi determinado o custo
incrementado por ano de vida adquirida de £ 3.300 por vida/ O rastreamento em cascata é custo-efetivo e deve ser
ano adquirido. O programa de rastreamento em cascata foi o realizado em todos os pacientes e familiares em primeiro
grau de pacientes com diagnóstico de HF. O rastreamento em
mais custo-efetivo na Dinamarca, e o custo por vida/ano foi
cascata mais custo-efetivo é o que utiliza informação genética
de US$ 8.700,00, demonstrando uma estimativa de custos
de indivíduos afetados, no qual uma mutação causadora
menor que o gasto com prevenção secundária em indivíduos
da doença tenha sido identificada. O rastreamento clínico/
não portadores de HF.96 O rastreamento em cascata para
bioquímico deve ser realizado mesmo quando a realização
indivíduos com HF pode ser considerado como altamente
de teste genético não é possível.98,99
custo-efetivo.95

4.8. Biomarcadores inflamatórios


4.7.2. Metodologias para diagnóstico genético
Atualmente, a associação entre inflamação e DCV está
O gene causal, se LDLR, ApoB, PCSK9 ou LDLRAP1, além muito bem estabelecida. Entre os diversos biomarcadores
dos outros mais raros já citados, não pode ser determinado inflamatórios propostos para estratificação do risco
clinicamente, sendo necessário teste genético para sua cardiovascular (moléculas de adesão: ICAM-1 e VCAM-1,
verificação. Desta forma, por conta da variabilidade de E-selectina e P-selectina; citocinas: Interleucina 6 − IL-6 e
genes e do grande número de mutações possíveis, o método Fator de Necrose Tumoral alfa – TNF-α; bem como proteínas
de diagnóstico genético deve incluir o sequenciamento da de fase aguda: proteina C-reativa, fibrinogênio e amiloide
região codificadora de todos os genes possivelmente ligados sérica A), a Proteína C-Reativa de Alta Sensibilidade (PCR-us)
à etiologia da doença.97 parece contribuir para a identificação de indivíduos sob risco
Para que seja possível este sequenciamento em grande de desenvolvimento de DCV.100 Metanálise de 15 estudos
escala, de modo que um grupo de genes seja sequenciado populacionais de associação genômica demonstrou 18 loci
(painel de genes alvo), é necessária a utilização da tecnologia implicados na variabilidade da Proteína C-Reativa, porém
de Sequenciamento de Nova Geração (NGS, do inglês Next- a elevação genética nos níveis de Proteína C-Reativa não se
Generation Sequencing). Nesta técnica, é feito um painel associou com doença coronária, não sendo considerado um
contendo todos os genes a serem sequenciados, os quais fator de risco causal.101

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Diretrizes

Recomendação: o diagnóstico genético (análise dos genes LDLR, ApoB e PCSK9) é padrão de referência para diagnóstico de hipercolesterolemia familiar e, quando
disponível, deve ser oferecido para pacientes com diagnóstico definitivo (certeza) ou provável de hipercolesterolemia familiar com o objetivo de viabilizar rastreamento
familiar em cascata de maneira mais custo-efetiva (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A). A oferta do teste genético para casos em que o diagnóstico de
hipercolesterolemia familiar é possível deve ser analisada em cada caso (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). O melhor método para diagnóstico genético
de hipercolesterolemia familiar é o sequenciamento das regiões codificadoras dos genes LDLR, ApoB e PCSK9, associado à pesquisa de grandes deleções/inserções
no gene LDLR em casos em que uma mutação não seja identificada. O teste genético deve ser realizado por equipe especializada e oferecido dentro de um contexto de
aconselhamento genético, compreendendo informações pré e pós-teste, além de encaminhamento para tratamento específico. O rastreamento em cascata é custo-efetivo
e deve ser realizado em todos os familiares em primeiro, segundo e terceiro graus de paciente com diagnóstico de hipercolesterolemia familiar. O rastreamento em cascata
mais custo-efetivo é o que utiliza informação genética de indivíduos afetados, no qual uma mutação causadora da doença tenha sido identificada. O rastreamento clínico/
bioquímico deve ser feito mesmo quando a realização de teste genético não é possível (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).

4.8.1. Proteína C-Reativa ultrassensível 5.2. Classificação laboratorial


Diversos estudos avaliaram a associação entre DCV A classificação laboratorial das dislipidemias nesta
e inflamação por meio da mensuração de uma série de atualização sofreu modificações, e os valores referenciais e os
analitos. Apenas alguns destes ensaios podem ser utilizados alvos terapêuticos foram determinados de acordo com o risco
na prática clínica, por sua estabilidade, disponibilidade do cardiovascular individual e com o estado alimentar (Tabela 3).
ensaio, padronização e precisão. A dosagem imunoquímica As dislipidemias podem ser classificadas de acordo com a fração
do PCR-us, dentre as proteínas de fase aguda, é estável, lipídica alterada em:
disponível e apresenta coeficientes de variação aceitáveis • Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do LDL-c
(< 10%), sendo capaz de reclassificar indivíduos de risco (LDL-c ≥ 160 mg/dL).
intermediário para uma categoria superior, quando seus níveis • Hipertrigliceridemia isolada: aumento isolado dos
são elevados. Embora esta atualização não utilize fatores triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/dL, se a
agravantes de risco para reclassificação do risco, a presença amostra for obtida sem jejum).
de PCR-us > 2 mg/L sugere a necessidade de intensificar o
• Hiperlipidemia mista: aumento do LDL-c (LDL-c ≥
tratamento hipolipemiante. Não é recomendada sua dosagem
160 mg/dL) e dos TG (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/
com finalidade de estratificação de risco em indivíduos com
dL, se a amostra for obtida sem jejum). Se TG ≥ 400
doença aterosclerótica manifesta ou subclínica, nos diabéticos
mg/dL, o cálculo do LDL-c pela fórmula de Friedewald é
e naqueles de alto risco cardiovascular global, embora possa inadequado, devendo-se considerar a hiperlipidemia mista
acrescentar informação prognóstica nestes indivíduos. quando o não HDL-c ≥ 190 mg/dL.
Interpretação dos valores, quando excluídas causas • HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL
inflamatórias, infecciosas ou imunes de elevação de PCR-us: e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em associação ao
• Baixo risco: < 1mg/L. aumento de LDL-c ou de TG.
• Médio risco: 1 a 2 mg/L.
• Alto risco: > 2mg/L. 5.3. Classificação fenotípica (Fredrickson)
• Muito alto risco: ≥ 10mg/L. A classificação proposta por Fredrickson é baseada nos
padrões de lipoproteínas associados a concentrações elevadas
de colesterol e/ou TG, não sendo considerado o HDL-c.
5. Classificação das Dislipidemias A classificação de Fredrickson tem por base a separação
As dislipidemias podem ser classificadas em hiperlipidemias eletroforética e/ou por ultracentrifugação das frações
(níveis elevados de lipoproteínas) e hipolipidemias (níveis lipoproteicas, distinguindo-se seis tipos. Embora se reconheça
plasmáticos de lipoproteínas baixos). a grande contribuição desta classificação, ela é hoje muito
pouco utilizada, pois pouco colabora para o conhecimento
Várias são as classificações propostas, dentre as mais
da etiologia (exceto na disbetalipoproteinemia) ou da decisão
importantes temos as que se seguem.
terapêutica (Quadro 4).103

5.1. Classificação etiológica 5.4. Dislipidemias de forte componente genético


Tanto as hiper quanto as hipolipidemias podem ter causas A biologia molecular acrescentou um vasto campo
primárias ou secundárias: de conhecimento no metabolismo lipídico. Atualmente,
• Causas primárias: são aquelas nas quais o distúrbio foi facilitada a compreensão da influência genética na
lipídico é de origem genética. interação entre lipoproteínas e receptores e na expressão
• Causas secundárias: a dislipidemia é decorrente de estilo de diversas enzimas.
de vida inadequado, de certas condições mórbidas, ou de Os principais tipos de dislipidemias com forte componente
medicamentos (Quadros 2 e 3). genético serão apresentados em situações especiais.

Recomendação: a dosagem da proteína C-reativa ultrassensível pode ser empregada na estratificação de risco cardiovascular e possui capacidade de reclassificação
nos indivíduos de risco intermediário (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência:A).

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Quadro 2 – Dislipidemias secundárias a doenças e estilo de vida inadequado

Colesterol Total HDL-c Triglicérides


Insuficiência renal crônica
↑ _ ↑
síndrome nefrótica
Hepatopatia Crônica ↑ a ↑↑↑↑ ↑↑ ou ↓ Normal ou leve ↑
Diabetes mellitus tipo II _ ↓ ↑
Síndrome de Cushing ↑ _ ↑↑
Hipotireoidismo ↑↑ ↑ ou ↓ ↑

Obesidade ↑ ↓ ↑↑
Bulimia ↑ _ ↑
Anorexia ↑ _ _
Tabagismo _ ↓ _
Etilismo _ ↑ ↑
Ingesta excessiva de gorduras trans ↑ ↓ ↑
Sedentarismo ↑ ↓ ↑
HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade. Fonte: Adaptado de III Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias. 102

Quadro 3 – Dislipidemias secundárias a medicamentos

Medicamento Colesterol total Triglicérides HDL-c


Diuréticos _ ↑ ↓
Beta bloqueadores _ ↑ ↓
Anticoncepcionais ↑ ↑ _
Corticosteróides ↑ ↑ _
Anabolizantes ↑ _ ↓
Inibidores de protease ↑ ↑↑↑ _
Isotretinoína ↑ ↑ ↑
Ciclosporina ↑ ↑↑ ↑
Estrógenos _ →↑ →↓
Progestágenos _ →↑ →↓
Tibolona _ _ ↓↓
HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade. Fonte: Adaptado de III Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias.102

O lipidograma (eletroforese de lipoproteínas) não é exame A estimativa do risco de doença aterosclerótica resulta da
rotineiramente solicitado, mas pode auxiliar no diagnóstico somatória do risco associado a cada um dos fatores de risco
da dislipidemia em raras situações. mais a potenciação causada por sinergismos entre alguns
destes fatores. Diante da complexidade destas interações,
a atribuição intuitiva do risco frequentemente resulta em
6. Estratificação do Risco Cardiovascular sub ou superestimação dos casos de maior ou menor risco,
para Prevenção e Tratamento da respectivamente. Para contornar esta dificuldade, diversos
Aterosclerose e Metas Terapêuticas algoritmos têm sido criados, baseados em análises de regressão
Um evento coronário agudo é a primeira manifestação de estudos populacionais, por meio dos quais a identificação
da doença aterosclerótica em pelo menos metade dos do risco é substancialmente aprimorada.
indivíduos que apresentam esta complicação. Desta forma, Dentre os diversos algoritmos existentes, esta atualização
a identificação dos indivíduos assintomáticos que estão mais recomenda a utilização do Escore de Risco Global (ERG),105
predispostos é crucial para a prevenção efetiva, com a correta que estima o risco de infarto do miocárdio, AVC, ou
definição das metas terapêuticas individuais.104 insuficiência cardíaca, fatais ou não fatais, ou insuficiência

14 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76


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Tabela 3 – Valores referenciais e de alvo terapêutico, conforme avaliação de risco cardiovascular estimado pelo médico solicitante do perfil
lipídico para adultos com mais de 20 anos

Lípides Com jejum (mg/dL) Sem jejum Categoria referencial


Colesterol total < 190 < 190 Desejável
HDL-c > 40 > 40 Desejável
Triglicérides < 150 < 175 Desejável
Categoria de risco
< 130 < 130 Baixo
< 100 < 100 Intermediário
LDL-c
< 70 < 70 Alto
< 50 < 50 Muito alto
< 160 < 160 Baixo
< 130 < 130 Intermediário
Não HDL-c
< 100 < 100 Alto
< 80 < 80 Muito alto

Quadro 4 – Classificação de Fredrickson

Aparência do soro
Fenótipo após 24 horas em Lipoproteina elevada Colesterol Triglicérides Aterogenicidade
geladeira
Camada superior
Tipo I Quilomícron Normal a ↑ ↑↑↑↑ Não
cremosa

Tipo IIA Transparente LDL ↑↑ Normal +++


Tipo IIB Turvo LDL e VLDL ↑↑ ↑↑ +++
Tipo III Turvo IDL ↑↑ ↑↑↑ +++
Tipo IV Turvo VLDL Normal a ↑ ↑↑ +
Camada superior
Tipo V
cremosa e inferior turva
VLDL e quilomícron Normal a ↑ ↑↑↑↑ +

VLDL: lipoproteínas de densidade muito baixa; IDL: lipoproteínas de densidade intermediária. Fonte: Adaptado de III Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias.102

vascular periférica em 10 anos. Ele deve ser utilizado na 6.1.2. Alto risco
avaliação inicial, ou mesmo em pacientes em uso de estatinas, Para fins desta atualização, foram considerados de alto risco
entre os indivíduos que não foram enquadrados nas condições os indivíduos em prevenção primária:25,45,106
de muito alto ou alto risco apresentadas a seguir e pode ser
encontrado pelo aplicativo obtido no site do Departamento • Portadores de aterosclerose na forma subclínica documentada
de Aterosclerose da SBC para os sistemas Android e IOS. por metodologia diagnóstica: ultrassonografia de carótidas
com presença de placa; Índice Tornozelo-Braquial (ITB) <
0,9; escore de Cálcio Arterial Coronariano (CAC) > 100 ou
6.1. Estratificação do risco cardiovascular em pacientes
a presença de placas ateroscleróticas na angiotomografia
sem tratamento hipolipemiante
(angio-CT) de coronárias.
• Aneurisma de aorta abdominal.
6.1.1. Risco muito alto
• Doença renal crônica definida por Taxa de Filtração
Indivíduos que apresentem doença aterosclerótica Glomerular (TFG) < 60 mL/min, e em fase não dialítica.
significativa (coronária, cerebrovascular, vascular periférica
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B), com • Aqueles com concentrações de LDL-c ≥ 190 mg/dL.
ou sem eventos clínicos, ou obstrução ≥ 50% em qualquer • Presença de diabetes melito tipos 1 ou 2, e com LDL-c
território arterial (Grau de Recomendação: IIa; Nível de entre 70 e 189 mg/dL e presença de Estratificadores de
Evidência: C).25,45,106 Risco (ER) ou Doença Aterosclerótica Subclínica (DASC).

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Definem-se ER e DASC no diabetes como: Observação: o escore de risco é dinâmico, pois o


ER: idade ≥ 48 anos no homem e ≥ 54 anos na mulher; controle dos fatores de risco, por meio de intervenções não
tempo de diagnóstico do diabetes > 10 anos; história familiar farmacológicas ou farmacológicas, reduz o risco calculado
de parente de primeiro grau com DCV prematura (< 55 do paciente. Este documento orienta que, na vigência de
anos para homem e < 65 anos para mulher); tabagismo medicamentos hipolipemiantes, mesmo que o valor absoluto
(pelo menos um cigarro no último mês); hipertensão arterial de LDL-c alcançado seja muito menor do que a meta atual
sistêmica; síndrome metabólica, de acordo com a International preconizada pelo ERG, a dose e a intensidade de tratamento
Diabetes Federation; presença de albuminúria > 30 mg/g de não devem ser modificadas.
creatinina e/ou retinopatia; TFG < 60 mL/min.
Exemplo de caso clínico: paciente do sexo masculino,
DASC: ultrassonografia de carótidas com presença de 61 anos, em prevenção primária, tabagista, pressão arterial
placa > 1,5 mm; ITB < 0,9; escore de CAC > 10; presença sistólica (não tratada) de 155 mmHg, CT de 210 mg/dL,
de placas ateroscleróticas na angio-CT de coronárias. HDL-c de 40 mg/dL, LDL-c (calculado) de 140 mg/dL, TG de
• Pacientes com LDL-c entre 70 e 189 mg/dL, do sexo 150 mg/dL. Cálculo do ERG > 20% (alto risco) com proposta
masculino com risco calculado pelo ERG > 20% e nas de redução de LDL-c > 50%. Recebeu orientação para uso
mulheres > 10%.25,105,107 de estatina de alta potência. Após 18 meses, procura outro
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). médico, informando que parou de fumar, está com pressão
arterial sistólica de 125 mmHg, tratada com anti-hipertensivo,
6.1.3. Risco intermediário e traz exames recentes em uso de estatina de alta potência,
com CT de 111 mg/dL, HDL-c de 43 mg/dL, LDL de 38 mg/
Indivíduos com ERG entre 5 e 20% no sexo masculino e
dL e TG de 150 mg/dL, além de risco calculado intermediário.
entre 5 e 10% no sexo feminino (Grau de Recomendação: I;
Nível de Evidência: A),25,105,107 ou ainda os diabéticos sem os Apesar da diminuição do escore de risco calculado
critérios de DASC ou ER listados anteriormente. após as intervenções terapêuticas, este documento
reforça a importância da manutenção das medidas não
farmacológicas e farmacológicas, em especial o uso da
6.1.4. Baixo risco
estatina de alta potência.
Pacientes do sexo masculino e feminino com risco em
10 anos < 5%, calculado pelo ERG (Grau de Recomendação:
I; Nível de Evidência: A).25 6.3. Metas terapêuticas absolutas e redução porcentual
Observação: esta atualização não utiliza os fatores
agravantes para reclassificação do risco cardiovascular. 6.3.1. LDL-c
Estudos caso-controle, observacionais e genéticos atestam
6.2. Estratificação De Risco Em Pacientes Em Uso De a importância do colesterol plasmático elevado como um dos
Estatinas principais fatores de risco modificáveis para DCV, principalmente
Os escores de risco para avaliação do risco cardiovascular para DAC, mas também para AVC isquêmico.109-111 Estudos de
devem ser utilizados na avaliação inicial naqueles indivíduos intervenção, por sua vez, demonstram inequívoca diminuição da
que não se enquadram nas situações de alto e muito alto risco, taxa de desfechos cardiovasculares proporcionada pela redução
e que não recebam terapia modificadora de lípides. No entanto, do colesterol plasmático, particularmente dos níveis de LDL-c.112
aqueles sob terapêutica hipolipemiante não podem ter sua Grandes ensaios clínicos com estatinas demonstram que, quanto
estratificação de risco e determinação das metas estabelecidas. maior a redução absoluta do LDL-c, maior a redução do risco
relativo de eventos cardiovasculares.112 Até o momento, não se
Este documento propõe a utilização de um fator de
identifica um limiar abaixo do qual o tratamento hipolipemiante
correção para o CT para o cálculo do ERG em pacientes
deixa de promover benefício cardiovascular.112,113
sob terapia hipolipemiante. Assim, em pacientes em uso de
estatina, deve-se multiplicar o CT por 1,43, como utilizado Esta atualização mantém a recomendação de se alcançar
metas de LDL-c (meta primária) e de não HDL-c (meta
em alguns ensaios clínicos que tomam por base uma redução
secundária) de acordo com o risco cardiovascular (Tabela 4),
média de 30% do CT com estatinas.108 Este valor foi derivado
embora reconheça que tais metas sejam derivadas de subanálises
de estudos que compararam a eficácia de várias estatinas nas
de estudos randomizados e controlados. Estes ensaios, em
doses utilizadas e que admitem uma redução média de LDL-c
sua maioria, não testaram diretamente o benefício de se
~ 30% com o tratamento. Isto se aplica à maior parte dos alcançarem diferentes metas de LDL-c, mas avaliaram o
pacientes que usam doses moderadas de estatinas. resultado da prescrição de doses fixas de medicamentos
A utilização deste fator de correção tem limitações. Pode hipolipemiantes, quase sempre estatinas, para pacientes com
subestimar o CT basal nos pacientes utilizando estatinas determinadas características.
potentes e em doses altas, ou combinações de fármacos; não Desta forma, esta atualização passa a recomendar, além
considera a variabilidade na resposta individual ao tratamento, do alcance de metas, o uso preferencial de medicamentos
e nem os efeitos do tempo de exposição ao tratamento na nas doses utilizadas nos grandes ensaios clínicos e que
atenuação do risco. Porém, como o colesterol é classificado demonstraram benefício clínico. Esquematicamente, os regimes
em faixas, o impacto do fator de correção é atenuado (Grau terapêuticos podem ser classificados de acordo com sua
de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). intensidade em reduzir porcentualmente o LDL-c (Tabela 5).

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Tabela 4 – Metas terapêuticas absolutas e redução porcentual do colesterol da lipoproteína de baixa densidade e do colesterol não-HDL para
pacientes com ou sem uso de estatinas

Sem estatinas Com estatinas


Risco Meta de LDL Meta de não HDL
Redução (%)
(mg/dL) (mg/dL)
Muito alto > 50 < 50 < 80
Alto > 50 < 70 < 100
Intermediário 30-50 < 100 < 130
Baixo > 30 < 130 < 160

Tabela 5 – Intensidade do tratamento hipolipemiante

Baixa Moderada Alta


Redução de LDL-c esperada com dose
< 30 30 a < 50 ≥ 50
diária, %
Lovastatina 40
Lovastatina 20 Sinvastatina 20-40
Sinvastatina 10 Pravastatina 40-80 Atorvastatina 40-80
Exemplos, doses diárias em mg Pravastatina 10-20 Fluvastatina 80 Rosuvastatina 20-40
Fluvastatina 20-40 Pitavastatina 2-4 Sinvastatina 40/ezetimiba 10
Pitavastatina 1 Atorvastatina 10-20
Rosuvastatina 5-10
LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade.

Para o subgrupo de indivíduos com risco cardiovascular 6.3.2. Não HDL-c


muito alto, a meta de LDL-c deve ser < 50 mg/dL (Quadro 5). A meta secundária para o não HDL-c deve ser 30 mg/
Esta recomendação baseia-se no estudo IMPROVE-IT (IMProved dL acima da meta para o LDL-c. Assim, no risco muito alto,
Reduction of Outcomes: Vytorin Efficacy International Trial), no
a meta do não HDL-c deve ser < 80 mg/dL; no alto risco,
qual a associação entre ezetimiba e sinvastatina promoveu
< 100 mg/dL; no risco intermediáro, < 130 mg/dL; e no baixo
redução adicional do LDL-c e diminuiu a chance de eventos
risco, < 160 mg/dL.25,45
cardiovasculares em relação à sinvastatina isolada, em pacientes
após síndrome coronária aguda, particularmente aqueles com
diabetes melito.113 6.3.3. HDL-c, triglicérides e outras variáveis
Para os indivíduos classificados como de risco cardiovascular Não são propostas metas para o HDL-c e não se recomenda
alto, esta atualização recomenda meta de LDL-c < 70 mg/dL tratamento medicamentoso visando à elevação dos níveis de
(Quadro 5). Sempre que possível e tolerado, deve-se dar HDL-c. Embora se reconheça a relação epidemiológica inversa
preferência para o uso de estatina de alta intensidade ou da entre níveis de HDL-c e incidência de DCV,114,115 os estudos de
associação entre ezetimiba e estatina (sinvastatina 40 mg ou intervenção mais recentes falharam em demonstrar benefício
outra estatina com potência pelo menos equivalente), ou seja,
clínico por meio da elevação do HDL-c.116,117
os tratamentos que promovem, em média, redução do LDL-c
de pelo menos 50% (Tabela 5 e Quadro 5). Com relação aos TG, considera-se que pacientes com
valores ≥ 500 mg/dL devem receber terapia apropriada
Para os indivíduos de risco cardiovascular intermediário,
para redução do risco de pancreatite. 118 Aqueles com
esta atualização propõe meta de LDL-c < 100 mg/dL
(Quadro 5). Nestes casos, sempre que possível e tolerado, valores entre 150 e 499 mg/dL devem receber terapia
deve-se preferir o uso de estatina de intensidade pelo menos individualizada, com base no risco cardiovascular e nas
moderada, ou seja, tratamentos associados à redução do condições associadas.
LDL-c entre 30 a 50% (Tabela 5 e Quadro 5). Para outras variáveis, como níveis de Apolipoproteínas ou
Para indivíduos de baixo risco cardiovascular, a meta de de Lp(a), também não são especificadas metas terapêuticas,
LDL-c deve ser < 130 mg/dL. O tratamento medicamentoso embora se reconheça que a ApoB119 e a Lp(a)120 possam
deve ser considerado principalmente naqueles com LDL-c adicionar informação prognóstica em relação à LDL-c em
persistentemente acima de 160 mg/dL (Quadro 5). alguns subgrupos de pacientes.

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Quadro 5 – Recomendações para o manejo dos lípides sanguíneos

Recomendação Grau de Recomendação Nível de Evidência


Indivíduos de muito alto risco cardiovascular, o LDL-c deve ser reduzido para
< 50 mg/dL e o não HDL-c < 80 mg/dL
I B

Indivíduos de alto risco cardiovascular, o LDL-c deve ser reduzido para < 70 mg/dL
I A
e o não HDL-c < 100 mg/dL
Para indivíduos de alto e muito alto risco cardiovascular, sempre que possível e
tolerado, deve-se dar preferência para o uso de estatina de alta intensidade ou
I A
ezetimiba associada à estatina (sinvastatina 40 mg ou outra estatina com potência
pelo menos equivalente)
Indivíduos de risco cardiovascular intermediário, o LDL-c deve ser reduzido para
I A
< 100 mg/dL e o não HDL-c < 130 mg/dL
Indivíduos de risco cardiovascular intermediário, sempre que possível e tolerado,
deve-se dar preferência para o uso de estatina de intensidade pelo menos I A
moderada
Indivíduos de baixo risco cardiovascular, a meta de LDL-c deve ser < 130 mg/dL e
I A
o não HDL-c < 160 mg/dL
Não se recomenda tratamento medicamentoso visando à elevação dos níveis
III A
de HDL-c
Indivíduos com níveis de triglicérides > 500 mg/dL devem receber terapia
I A
apropriada para redução do risco de pancreatite
Indivíduos com níveis de triglicérides entre 150 e 499 mg/dL devem receber terapia,
IIa B
com base no risco cardiovascular e nas condições associadas
LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade; HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade.

7. Tratamento Não Medicamentoso ponto de vista metabólico124 quanto o cardiovascular,125,126


em razão de elevar o colesterol plasmático127 e por sua ação
das Dislipidemias pró-inflamatória.128 Recente metanálise, com aproximadamente
59 mil indivíduos, realizada pela Biblioteca Cochrane,
7.1. Medidas no controle da hipercolesterolemia reafirmou que a substituição parcial de ácidos graxos saturados
por poli-insaturados, por mais de 2 anos, reduziu em 17% o
7.1.1. Terapia nutricional risco de eventos cardiovasculares. Nesta metanálise foram
Nos últimos anos, o padrão alimentar e o estilo de vida incluídos apenas estudos randomizados e controlados e com
saudável ganharam evidência em estudos epidemiológicos alto Grau de Evidência.129
observacionais e de intervenção, como o DASH (Dietary A substituição na dieta de ácidos graxos saturados por
Approachs to Stop Hypertension),121 o INTERHEART109 e carboidratos pode elevar o risco de eventos cardiovasculares.130
o PREDIMED (PREvención con DIeta MEDiterránea),122 e Neste sentido, a substituição de ácidos graxos saturados e
reforçaram as diretrizes nutricionais que preconizam dieta carboidratos na alimentação por ácidos graxos poli-insaturados
isenta de ácidos graxos trans, o consumo de < 10% do valor está associada ao baixo risco cardiovascular.131
calórico total de ácidos graxos saturados para indivíduos Importante estudo epidemiológico, que avaliou a dieta
saudáveis e < 7% do valor calórico total para aqueles que da população de 20 países, mostrou que naqueles com
apresentarem risco cardiovascular aumentado.25,106,123 alto consumo de óleos tropicais, a mortalidade por doença
O padrão alimentar deve ser resgatado por meio do coronariana foi associada ao alto consumo de ácidos graxos
incentivo à alimentação saudável, juntamente da orientação saturados presentes nestas gorduras e também ao baixo
sobre a seleção dos alimentos, o modo de preparo, a consumo de ácidos graxos poli-insaturados da série ômega
quantidade e as possíveis substituições alimentares, sempre 6.132 No Brasil, mostrou-se associação com alto consumo de
em sintonia com a mudança do estilo de vida. Na tabela 6, trans e com o baixo consumo de poli-insaturados, quando
estão expostas as recomendações dietéticas para tratamento substituídos por saturados. Estabeleceram-se os pontos de
da hipercolesterolemia. corte de > 10% para ácidos graxos saturados, de < 12% para
poli-insaturados e de > 0,5% para trans.132,133
7.1.2. Substituição parcial de ácidos graxos saturados Importante salientar que para o tratamento da
por mono e poli-insaturados hipercolesterolemia recomendam-se no máximo 7% das
Apesar de os ácidos graxos saturados apresentarem calorias na forma de ácidos graxos saturados e, segundo os
importantes funções biológicas, seu elevado consumo está dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
associado a comprovados efeitos deletérios, tanto sob o o consumo médio atual deste ácido é de 9%.

18 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76


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Diretrizes

Tabela 6 – Recomendações dietéticas para o tratamento das dislipidemias

LDL-c acima da Triglicerídeos


LDL-c dentro da meta e
meta ou presença de Limítrofe Elevado Muito elevado†
Recomendações sem comorbidades*
comorbidades* 150-199 mg/dL 200-499 mg/dL > 500 mg/dL
(%)
(%) (%) (%) (%)
Perda de peso Manter peso saudável 5-10 Até 5 5-10 5-10
Carboidrato (%VCT) 50-60 45-60 50-60 50-55 45-50
Açúcares de adição (%VCT) < 10 < 10 < 10 5-10 <5
Proteína (%VCT) 15 15 15 15-20 20
Gordura (%VCT) 25-35 25-35 25-35 30-35 30-35
Ácidos graxos trans (%VCT) Excluir da dieta
Ácidos graxos saturados (%VCT) < 10 <7 <7 <5 <5
Ácidos graxos monoinsaturados (%VCT) 15 15 10-20 10-20 10-20
Ácidos graxos poli-insaturados (%VCT) 5-10 5-10 10-20 10-20 10-20
Ácido linolenico, g/dia 1,1-1,6
EPA e DHA, g - - 0,5-1 1-2 >2
25 g, sendo 6 g de fibra
Fibras
solúvel
* Comorbidades: hipertensão arterial sistêmica, diabetes, sobrepeso ou obesidade, circunferência da cintura aumentada, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia,
síndrome metabólica, intolerância a glicose ou aterosclerose significativa; † recomendação dietética na hipertrigliceridemia primária homozigótica: ver texto.145 LDL-c:
colesterol da lipoproteína de baixa densidade; VCT: valor calórico total; EPA: ácido eicosapentanoico; DHA: ácido docosahexaenoico. Fonte: Adaptado de American
Heart Association.143 e I Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular.144

Estudo conduzido apenas no Brasil mostrou que a 7.1.4. Colesterol alimentar


inadequação alimentar é a principal causa de mortalidade Recente metanálise mostrou que o colesterol alimentar
cardiovascular e reiterou que o baixo consumo de exerce pouca influência na mortalidade cardiovascular,135
poli-insaturados, em substituição à gordura saturada, aumenta embora neste estudo tenha sido demonstrada linearidade
a mortalidade por cardiopatia isquêmica.134 O consumo de entre o consumo de colesterol alimentar e a concentração
gorduras saturadas deve ser limitado, porém o mais importante plasmática de LDL-c. Já o aumento do consumo de ovos, em
é sua substituição parcial por insaturadas − principalmente
um contexto de dieta com baixo teor de gordura, manteve a
por poli-insaturadas, que estão associadas a diminuição de CT
relação LDL-c/HDL-c, tanto entre indivíduos que absorvem
e LDL-c, como também estão relacionadas à diminuição de
mais colesterol da dieta quanto nos hiporresponsivos.142
eventos e morte cardiovasculares.135-137 (Grau de Recomendação:
I; Nível de Evidência: A). Faltam dados conclusivos para a Em razão destes estudos mais recentes da literatura, as
indicação de suplementação de ácidos graxos insaturados.138,139 atuais diretrizes internacionais sobre prevenção cardiovascular
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B). mostram que não há evidências suficientes para estabelecimento
de um valor de corte para o consumo de colesterol.
É importante realçar que o modo de preparo de alguns
alimentos tem papel fundamental no teor de gorduras nos
alimentos. No caso dos peixes, o teor de poli-insaturados 7.2. Medidas no controle da hipertrigliceridemia
pode variar até 220 vezes para uma mesma espécie.139,140
A substituição por gorduras monoinsaturadas, como azeite 7.2.1. Terapia nutricional
de oliva e frutas oleaginosas, pode estar associada à redução
A concentração plasmática de TG é muito sensível a
do risco cardiovascular, porém as evidências são menos
variações do peso corporal e a alterações na composição da
robustas do que em relação às poli-insaturadas136 (Grau de
dieta, particularmente quanto à qualidade e à quantidade de
Recomendação: IIa; ; Nível de Evidência: B).
carboidratos e gorduras. A quantidade recomendada destes
nutrientes na dieta depende do tipo de hipertrigliceridemia,
7.1.3. Ácidos graxos trans que pode se apresentar na forma primária ou secundária, cujas
Os ácidos graxos trans devem ser excluídos da dieta por bases fisiopatológicas são distintas. A terapia nutricional indicada
aumentarem a concentração plasmática de LDL-c e induzirem para a hipertrigliceridemia primária grave, caracterizada
intensa lesão aterosclerótica,141 condições que culminam em pelo aumento da concentração plasmática de quilomícrons,
maior risco cardiovascular, conforme demonstrado em estudos por diminuição da enzima lipoproteína lipase, baseia-se na
experimentais, clínicos e epidemiológicos.131,133 (Grau de redução importante da gordura na dieta, que deve atingir, no
Recomendação: III; Nível de Evidência: A). máximo, 10% do valor calórico total.145 Na hipertrigliceridemia

Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76 19


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primária moderada, recomendam-se aproximadamente 25 a 7.2.4. Redução de açúcares e de carboidratos


35% das calorias na forma de gorduras e controle da ingestão A Organização Mundial da Saúde passou a recomendar, a
de açúcares. Já na hipertrigliceridemia de causa secundária, partir de 2015, o consumo máximo de 5% em Kcal do valor
observada na obesidade e no diabetes, mantêm-se o controle energético da dieta na forma de açucares de adição,143 nos
de gorduras (30 a 35% das calorias) e a adequação no consumo quais se incluem a sacarose e o xarope de milho (American
de carboidratos, com ênfase na restrição de açúcares.144 Heart Association − AHA). O guia alimentar americano
Atualmente, as recentes diretrizes e guias internacionais publicado naquele ano incluiu ainda como açúcares de adição
apontam para os benefícios de padrões alimentares os sucos de frutas concentrados, mesmo que não adoçados.136
saudáveis, como demonstrado nos estudos INTERHEART109 Tanto a sacarose quanto os xaropes são constituídos por
e em diversos estudos que testaram a eficiência da Dieta aproximadamente partes iguais de frutose e glicose, os quais
do Mediterrâneo,122,146 nos quais a matriz alimentar assume são metabolizados de forma diferente. Enquanto existe um
papel de destaque. Em comum, todos estes estudos reafirmam mecanismo celular de feedback de regulação da glicose
a relevância de se manterem quantidades moderadas de mediado pela fosfofrutoquinase, para a produção de piruvato
gordura na dieta, eliminar ácidos graxos trans, controlar e consequentemente de acetil-CoA e ácidos graxos, o mesmo
o consumo de saturados, priorizar poli-insaturados e mecanismo não ocorre para metabolização da frutose, que é
monoinsaturados, reduzir açúcares e incluir carnes magras, metabolizada pela frutoquinase. Desta forma, a frutose gera
frutas, grãos e hortaliças na dieta146 (Quadro 6). ácidos graxos mais rapidamente do que a glicose, aumentando
tanto o depósito de gordura hepática, como o aumento da
produção de VLDL.150
7.2.2. Controle de peso corporal
Estudos mostram que o consumo superior a 50 g de frutose
O alcance das metas nutricionais no tratamento é variável ao dia eleva o TG pós-prandial.151 A elevada ingestão de
e depende da adesão à dieta e às correções no estilo de carboidratos aumenta a glicemia, o que promove o aumento
vida, como perda de peso, e pode resultar na redução da insulinemia; esta, por sua vez, ativa os fatores de transcrição
de 20% da concentração plasmática de TG. 147 Além do que promovem a síntese de ácidos graxos e TG, favorecendo
controle de calorias na dieta (défice de 500 a 1.000 Kcal),148 outros fatores de risco.152
enfatiza-se a relevância da qualidade dos nutrientes em
aspectos relacionados ao desenvolvimento da obesidade,
7.2.5. Substituição parcial de ácidos graxos saturados
como saciedade, resposta insulínica, lipogênese hepática,
por mono e poli-insaturados
adipogênese, gasto energético e microbiota.148
Os ácidos graxos saturados da dieta relacionam-se com
a elevação da trigliceridemia, por aumentarem a lipogênese
7.2.3. Redução de bebida alcoólica hepática e a secreção de VLDL. Desta forma, recomenda-se a
O consumo de bebida alcoólica não é recomendado inclusão de poli e monoinsturados.153 Para indivíduos com níveis
para indivíduos com hipertrigliceridemia.149 Porém, há de TG muito altos, a AHA recomenda uma redução significativa
alguma divergência no impacto da ingestão de etanol nos em gordura saturada, o que diminui o risco de pancreatite.143
triacilgliceróis (TAG) em situações de consumo moderado Dentre os ácidos graxos poli-insaturados, os da série ômega
(até 30 g/dia). A combinação de um consumo excessivo de 3 são reconhecidos pela atividade cardioprotetora.154 O
etanol e ácidos graxos saturados potencializa a elevação da consumo de ômega 3 proveniente de fontes animais fornece
trigliceridemia. A inibição da lipase das lipoproteínas pelo os ácidos graxos EPA e DHA, mais associados à proteção
excesso de etanol e a consequente redução na hidrólise cardiovascular. O ácido Alfalinolenico (ALA) produz pequenas
de quilomícrons parecem justificar a lipemia induzida pelo quantidades endógenas de EPA e DHA, e também exerce ação
etanol. Além disso, o produto da metabolização do álcool cardioprotetora.155 As diferentes fontes de ômega 3, por meio
é a Acetilcoenzima A (acetil-CoA), principal precursora da da diminuição da lipogênese hepática e da LPL, contribuem
síntese de ácidos graxos. de forma significativa com a redução de triglicerídeos.156

Quadro 6 – Impacto da modificação de hábitos alimentares e estilo de vida na trigliceridemia


Intervenção não medicamentosa Magnitude Nível de Evidência
Redução de peso +++ A
Redução da ingestão de bebidas alcoólicas +++ A
Redução de ingestão de açúcares simples +++ A
Redução da ingestão de carboidratos ++ A
Substituição (parcial) ácidos graxos saturados por mono
++ B
e poli-insaturados
Aumento da atividade física ++ A
Fonte: Adaptado de V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.25

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7.3. Ácidos graxos ômega 3 Como adjuvante no tratamento da hipertrigliceridemia, a


Os principais ácidos graxos da série ômega 3 são o ácido suplementação de ômega 3 (EPA e DHA) entre 2 a 4 g ao dia,
ALA (C18:3), de origem vegetal (soja, canola e linhaça), e os pode reduzir a concentração plasmática de TG em até 25 a
ácidos EPA (C20:5) e DHA (C22:6), provenientes de peixes e 30%.163,172 Em estudo recente, indivíduos normolipidêmicos
crustáceos de águas muito frias dos oceanos Pacífico e Ártico. e levemente hiperlipidêmicos (TG > 150 e < 200 mg/dL)
EPA e DHA também podem ser obtidos por ação enzimática também se beneficiam com o consumo > 4 g ao dia de EPA
de dessaturases e elongases sobre o ALA, que é um ácido graxo e DHA provenientes de alimentos enriquecidos ou de animais
essencial e apresenta recomendação de consumo pelas Dietary marinhos, com redução entre 9 a 26% da trigliceridemia,
Reference Intakes (DRIs), que pode ser alcançada pela ingestão enquanto que a suplementação entre 1 a 5 g de EPA e/ou
moderada de óleo de soja ou canola, não sendo necessária DHA pode reduzir entre 4 a 51% em indivíduos com níveis
sua suplementação na dieta.157 A conversão de ALA em EPA limítrofes.173 Alguns estudos mostram que a suplementação
e DHA é limitada e sofre interferência de fatores fisiológicos com ômega 3 pode aumentar discretamente a concentração
e externos. Especialmente, EPA e DHA têm sido investigados plasmática de HDL-c (1 a 3%) e aumentar o LDL-c (até 5 a
quanto ao seu potencial na redução do risco cardiovascular. 10%),172 em razão de reduzir os receptores de LDL, também
Os mecanismos propostos para os benefícios cardiovasculares chamados de receptores B/E.
incluem redução de marcadores inflamatórios e da agregação
plaquetária, melhora da função endotelial, redução da pressão
arterial e redução da trigliceridemia.158-160 7.4. Fitosteróis
Em regiões onde estão disponíveis peixes que são fonte de Fitosteróis, fitostanóis e seus ésteres são um grupo de
ômega 3, é recomendada a utilização de padrões alimentares esteroides alcoólicos e ésteres, que ocorrem exclusivamente
saudáveis, que incluam, no mínimo, duas porções deles por em plantas e vegetais. Possuem estrutura semelhante à do
semana, pelos efeitos benéficos em fatores de risco e pela colesterol, diferindo apenas pela presença de um ou dois
redução de risco de desfechos em prevenção primária e grupamentos metil ou etil em sua cadeia lateral, ligada ao
secundária.161-163 Em prevenção primária de indivíduos com C-24, sendo os esteróis as formas insaturadas (sitosterol e
alto risco, o consumo de peixes que resultem na ingestão diária campesterol) e os estanóis, seus derivados saturados (sitostanol
de 500 mg de EPA + DHA está relacionado à redução de e campestanol).174 Óleos vegetais, cereais, grãos e demais
39% do risco de DCV fatal e de 46% do risco de DAC fatal.164 vegetais são fontes de fitosteróis, sendo o consumo habitual
Efeitos controversos são observados entre o consumo de variável em populações ocidentais (de 100 a 300 mg ao
peixes ricos em ômega 3 e a prevenção secundária de eventos dia),175-177 alcançando 600 mg ao dia em vegetarianos.178 São
cerebrovasculares.165 Em prevenção primária, independente pouco absorvidos (0,5 a 2% para os esteróis, e 0,04% a 0,2%
do grau de risco cardiovascular, o consumo diário de 250 mg para os estanóis)179 e possuem eficiente excreção biliar após
de EPA e DHA pela alimentação está relacionado à redução captação hepática, com concentrações séricas 500 a 10 mil
de 35% da morte súbita.166 vezes menores do que as concentrações de colesterol.180
Apesar de haver correlação positiva entre os níveis séricos A ação dos fitosteróis no intestino delgado ocorre em
de EPA e DHA e redução do risco cardiovascular,167 estudos três etapas: (1) incorporação às micelas que permitem o
clínicos randomizados recentes não comprovam benefício transporte destes até a borda em escova do enterócito;
da suplementação de EPA e DHA na redução de eventos (2) transporte dos esteróis das micelas para o interior do
cardiovasculares maiores, como infarto agudo do miocárdio, enterócito via transportador NPC1-L1; (3) transporte de volta
AVC e morte por DCV (Quadro 7).168-173 à luz intestinal pelos cotransportadores ABC G5/G8.181-184

Quadro 7 – Recomendações e evidências para o consumo de ácidos graxos ômega 3


Ômega 3 Grau de Recomendação Nível de Evidência
O consumo ≥ 2 porções de peixes ricos em EPA e
DHA por semana está associado à redução do risco
I A
cardiovascular entre indivíduos em prevenção primária e
secundária
O uso de suplementos de EPA e DHA pode ser
IIb B
considerado na prevenção cardiovascular
Suplementação com EPA e DHA (2 a 4 g) deve
ser recomendada para hipertrigliceridemia grave
(≥ 500 mg/dL) na vigência do risco de pancreatite, I A
refratária a medidas não farmacológicas e tratamento
medicamentoso
Suplementação com EPA e DHA (1 a 5 g) pode ser
IIb B
recomendada para hipertrigliceridemia leve e moderada
Suplementação com EPA e DHA (1 g/dia) pode ser
IIa B
recomendada na insuficiência cardíaca
EPA: eicosapentaenoico; DHA: docosahexaenoico. Fonte: Adaptado de Santos et al.144

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O consumo de fitosteróis reduz a absorção de colesterol, não familiares. Seu uso é seguro e bem tolerado.203 Na HF,
principalmente por comprometimento da solubilização metanálise de estudos que incluíram crianças demonstrou
intraluminal (micelas),185 embora novos mecanismos também redução do CT (7 a 11%) e do LDL-c (10 a 15%).204 O Expert
tenham sido propostos.186-188 Panel on Integrated Guidelines for Cardiovascular Health and
Existe relação inversa entre o consumo habitual de Risk Reduction in Children and Adolescents205 recomenda o
fitoesteróis na dieta e os níveis séricos de colesterol ou de uso de esteróis/estanóis até 2 g ao dia como uma medida de
LDL-c. Já a suplementação de 2 g ao dia de fitoesteróis reduziu
suporte em crianças com HF.
o CT e o LDL-c em 8,2% e 9,3%, respectivamente,189-190 com
reduções maiores em crianças e adolescentes (19%), bem Os fitosteróis são aprovados para uso pediátrico a
como em pacientes com HF. Pode haver redução de TG de partir dos 5 anos no Brasil. A I Diretriz de Brasileira de
6 a 20%.191,192 Considera-se que, em média, o consumo de Hipercolesterolemia Familiar199 recomenda a ingestão de 1,2
2 g ao dia reduza em cerca de 10% o LDL-c, com diminuições a 1,5 g por dia em crianças portadoras de HF Heterozigótica
maiores quando associado a uma dieta pobre em gorduras (HeHF) (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).
saturadas e colesterol.189
A European Society of Cardiology (ESC) e EAS orientam o
Em adição às estatinas, os fitosteróis reduzem em 10 a 15% consumo de suplementos contendo fitosteróis em adultos
o LDL-c, um efeito superior ao dobro da dose da estatina,
e crianças com dislipidemias.206 Poucos estudos testaram o
geralmente próximo de 6%;193-195 em adição à ezetimiba, foi
uso de fitosteróis na gestação e lactação,207 sendo seu uso
observada redução adicional de 8% no LDL-c com 2 g ao dia
de fitosteróis.196 Efeitos aditivos a outros hipolipemiantes, como recomendado com cautela por este documento.
fibratos ou sequestrantes de ácidos biliares, são menos descritos. A ingestão de fitosteróis se acompanha do aumento dos
O uso de fitosteróis deve ser parte das mudanças de estilo esteróis plasmáticos, no entanto, metanálise demonstra
de vida e estão indicados para: Indivíduos com colesterol que os níveis circulantes destes esteróis são inferiores a
elevado e que estejam sob risco cardiovascular baixo ou 1% de todos os esteróis.206 Na fitosterolemia, seu uso é
intermediário, que não se qualifiquem para tratamento contraindicado. Os fitosteróis são bem tolerados e não se
farmacológico (Grau de Recomendação: IIa; Nível de acompanham de efeitos adversos significativos; no entanto,
Evidência: A);25,197 como medida adjunta ao tratamento
não existem estudos de desfechos cardiovasculares em longo
farmacológico em pacientes que não atingem as metas de
LDL-c em tratamento com estatinas (Grau de Recomendação: prazo para demonstrar a existência de benefícios na redução
IIa; Nível de Evidência: A),194 ou sejam intolerantes a estas de desfechos cardiovasculares.
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C);198 e
adultos ou crianças (a partir dos 5 anos) com HF (Grau de 7.5. Proteína de soja
Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A).198,199 O consumo diário de uma a duas porções de alimentos
fonte de proteína de soja, totalizando 15 a 30 g de proteína,
Os fitosteróis podem ser administrados incorporados a
está associado à redução de 5% de LDL-c, ao aumento de 3%
alimentos ou sob a forma de cápsulas, sendo sua eficácia de HDL-c e à redução de 11% na concentração de TG (Grau
semelhante. Devem ser ingeridos preferencialmente nas de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A).208
refeições, podendo ou não ser fracionados em várias
tomadas, sendo seus efeitos observados a partir de 3 a 4 7.6. Fibras solúveis
semanas. Em nosso país, estão disponíveis cremes vegetais A ação das fibras na redução do colesterol está relacionada
acrescidos de fitosteróis e cápsulas contendo entre 650 a ao consumo de fibras solúveis, que formam um gel que se
900 mg por cápsula, devendo ser consumidas duas colheres liga aos ácidos biliares no lúmen intestinal, aumentando sua
de sopa de creme vegetal com fitosteróis, ou duas a três excreção nas fezes e diminuindo sua reabsorção durante
o ciclo entero-hepático. Essa redução induz a síntese de
cápsulas de fitosteróis por dia, para obtenção dos efeitos
novos ácidos biliares, diminuindo o colesterol disponível
hipolipemiantes, e estar associado a uma alimentação para incorporação em lipoproteínas. Quanto maior o grau
equilibrada e hábitos de vida saudáveis. Pode haver modesta de viscosidade da fibra, maior o efeito de redução do
redução nos níveis de vitaminas lipossolúveis (carotenoides), colesterol. Além disto, as fibras solúveis e o amido resistente
uma condição que pode ser revertida aumentando-se o são fermentados por bactérias presentes no intestino grosso,
consumo de vegetais.200 produzindo ácidos graxos de cadeia curta, que auxiliam na
redução dos níveis de colesterol. Em contraste, o consumo de
fibras insolúveis não mostra efeitos na redução do colesterol
7.4.1. Uso terapêutico dos fitosteróis na infância, e do risco cardiovascular.209,210
gestação e lactação Psyllium é a fibra solúvel mais estudada na redução do
colesterol. Uma revisão de estudos indica que doses de 7 a
Os fitosteróis têm sido usados de maneira crescente na
15 g ao dia estão associadas com uma redução de 5,7% a
prevenção e no tratamento da hipercolesterolemia também 20,2% de LDL-c e redução de 2 a 14,8% de CT. O Psyllium
em crianças, com redução das concentrações de LDL-c na parece não afetar significativamente os níveis de HDL-c
HF,201,202 hiperlipidemia familiar combinada e em dislipidemias e TG. Deve-se orientar o consumo fracionado, antes das

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Diretrizes

grandes refeições. Estudos com aveia demonstram resultados estrutura e a função vascular. No endotélio, o exercício físico
semelhantes ao Psyllium, com redução de 5,3 a 5,6% do aumenta a biodisponibilidade de óxido nítrico e diminui a
LDL-c, sem efeitos significativos sobre o HDL-c e os TG. Vale concentração de endotelina (Grau de Recomendação: I; Nível
ressaltar que é no farelo de aveia que encontramos os maiores de Evidência: A).222 O efeito do exercício físico na função
teores de fibras solúveis (betaglucanas). Sugere-se o consumo endotélio-independente não é comprovado. A resposta
de aproximadamente 3 g ao dia de betaglucanas.210 vasodilatadora à administração de nitroprussiato de sódio é
A ingestão recomendada mínima de fibras por dia é semelhante em indivíduos treinados e em sedentários.223 Estes
de 25 g, a fim de proteger contra DCV e câncer (Grau de resultados corroboram a ideia de que os efeitos do treinamento
Recomendação: I; Nível de Evidência: A).210-212 físico na função vascular estão relacionados ao endotélio.
Na presença de DCV, há evidências de que o exercício físico
7.7. Probióticos praticado regularmente diminui a formação de neoíntima,
Apesar do crescente interesse em investigar o uso de aumenta a circunferência luminal e provoca angiogênese
probióticos na colesterolemia, os estudos mostram ausência (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).224 O
de seu efeito ou redução muito modesta de concentração exercício aumenta a mobilização de células progenitoras do
plasmática de LDL-c. endotélio e a expressão da Óxido Nítrico-Sintase Endotelial
(eNOS) (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência:
Uma metanálise com 485 indivíduos mostrou que a
A).224 Esta melhora na vasculatura está associada ao fator
administração de probióticos reduziu em 4,9 mg/dL o LDL-c,
de crescimento derivado do endotélio e de fibroblastos.
em 6,4 mg/dL o CT e em 3,95 mg/dL os TG, sem efeitos sobre
Finalmente, esta conduta não farmacológica reverte a resposta
o HDL-c.213 Outra metanálise mostrou que a redução de CT
vasoconstritora da artéria coronária à administração de
em indivíduos tratados com probióticos foi de 7,8 mg/dL e 7,3
mg/dL para LDL-c, quando comparados com o grupo controle. acetilcolina e aumenta o fluxo de reserva coronária à infusão
Entre as cepas utilizadas que mostraram reduções significativas intracoronária de adenosina (Grau de Recomendação: I; Nível
estão os Lactobacillus acidophilus, uma mistura de L. acidophilus de Evidência: A).224,225
e Bifidobacterium lactis, e Lactobacillus plantarum. Não houve Em relação aos lípides plasmático, o exercício físico
diferenças significativas para HDL-c e TG.214 aumenta os níveis de HDL-c (Grau de Recomendação: I;
É importante ressaltar que cada cepa possui um efeito Nível de Evidência: B).226 Seus efeitos nos níveis absolutos
clínico diferente, sendo a dose usual de 109 UFC.215 A duração de LDL-c são menos evidenciados. Entretanto, o exercício
do tratamento também pode afetar os resultados. Uma forte físico aumenta a cinética de LDL-c na circulação (Grau de
associação foi observada quando o estudo teve duração maior Recomendação: I; Nível de Evidência: B)227 e prolonga o
que 8 semanas.214 período que o LDL-c permanece na forma reduzida (Grau
de Recomendação: I; Nível de Evidência: B).228
7.8. Mudanças no estilo de vida Os efeitos do exercício físico nos níveis plasmáticos de TG
são muito significativos. A redução da concentração plasmática
de TG tem sido consistentemente demonstrada (Grau de
7.8.1. Estratégias de adesão Recomendação: I; Nível de Evidência: A).229
Praticar saúde vai além de expressões superficiais como: O programa de exercício deve começar com uma avaliação
“coma bem”, “use álcool com moderação” ou “use escadas clínica e um teste ergoespirométrico progressivo máximo230
e não elevador”. São falas politicamente corretas, mas sem a para avaliar as respostas cardiovasculares e metabólicas em
especificidade necessária.216 esforço, e a capacidade física. Na impossibilidade de um teste
Os programas de mudanças no estilo de vida têm se ergoespirométrico, deve ser realizado um teste ergométrico. A
mostrado efetivos no tratamento das DCV.217 Um programa sessão deve ter duração de 60 minutos e intensidade entre o
que tem demonstrado uma relação de custo e efetividade limiar aeróbio e o ponto de compensação respiratória, ou 60
adequada com reduções significativas em risco cardiovascular a 80% da frequência cardíaca de pico. A frequência deve ser
é o Coronary Health Improvement Project (CHIP),218 aplicado de três a cinco sessões por semana. A sessão de exercício deve
por profissionais de saúde em hospitais219 e ambientes de incluir aquecimento e alongamento (5 minutos), exercício
trabalho.220 Apesar do sucesso deste trabalho desde 1987, uma aeróbio (30 a 40 minutos), exercício de resistência muscular
versão deste programa, gravada em vídeo, tem sido aplicada localizada com intensidade menor ou igual a 50% da força de
por voluntários treinados e certificados para uma boa relação contração voluntária máxima (15 a 20 minutos) e exercícios
com os participantes, em suas comunidades. de alongamento e relaxamento (5 minutos).
Em estudo feito para avaliar a efetividade desta prática que
aumenta a adesão da população,221 mudanças significativas 7.10. Cessação do tabagismo
em peso, pressão arterial, CT, LDL, TG e glicemia de jejum
A doença aterosclerótica encontra-se relacionada com a
foram registradas.
disfunção endotelial. A exposição à fumaça do cigarro causa
prejuízos à vasodilatação dependente do endotélio em artérias
7.9. Atividade Física coronárias, assim como em leitos microvasculares.231,232
Evidências acumuladas ao longo das últimas décadas A cessação do tabagismo é benéfica em qualquer fase da
mostram que o exercício físico tem papel muito importante vida do fumante. A prática clínica233 recomenda o uso de
na prevenção e no tratamento de DCV. Ele melhora a farmacoterapia para a cessação do tabagismo em fumantes

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motivados a parar de fumar. Os medicamentos de primeira A atividade física de moderada intensidade promove
linha para a cessação tabágica são a Terapia de Reposição de redução sustentada de VLDL-c e TG e atividade de
Nicotina (TRN) com goma ou patch, bupropiona e vareniclina. grande volume em significativo aumento do HDL-c, que
Estes medicamentos demonstraram eficácia na cessação do adquire características que favorecem suas múltiplas ações
tabagismo,233 embora algumas vezes surjam questionamentos antiateroscleróticas, com maiores quantidades de exercício
quanto a segurança do uso em pacientes com DCV. As dúvidas proporcionando benefícios mais amplos, sendo, portanto,
em relação ao uso de TRN, bupropiona e vareniclina foram mais relevante o aumento do volume do que a intensidade
revistas em metanálise recente e a conclusão é que estes (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).245,246
medicamentos não determinam eventos cardiovasculares Confirmando a importância do tratamento clínico pleno,
maiores, como infarto e AVC,234 e que o benefício da cessação em estudo de seguimento de 10.043 indivíduos em média
é indiscutivelmente impactante na morbimortalidade dos durante 10 anos, constatou-se que, embora a aptidão
pacientes. Recente estudo avaliou influência destas drogas cardiorrespiratória tenha sido preditora independente de risco
na frequência cardíaca e na pressão arterial de fumantes de morte, com menores taxas de mortalidade conforme se
portadores de DCV e demostrou que, em monoterapia ou elevava o desempenho em teste ergométrico, o tratamento
uso combinado, elas não influenciam na frequência cardíaca com estatina proporcionou um acréscimo de benefício em
e na pressão arterial desta população com DCV235 (Grau de todos os níveis de aptidão, inclusive para os mais aptos,
Recomendação: I; Nível de Evidência: A). evidenciando a importância do tratamento clínico pleno (Grau
de Recomendação: I; Nível de Evidência: B).247
7.11. Exercício físico e aterosclerose Um programa de exercícios físicos, que devem ser
O sedentarismo destaca-se entre os maiores fatores realizados na maioria dos dias da semana, além dos exercícios
de risco na mortalidade global.236 A prática regular de aeróbios, deve contemplar exercícios resistidos e de
exercícios físicos aeróbios é associada a decréscimo da flexibilidade (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência:
morbidade e mortalidade cardiovascular, comprovadamente B).248 Os exercícios de resistência devem ser executados por
reduzindo o risco de evento coronariano fatal e não fatal em grandes grupos musculares, em séries de oito a 15 repetições,
indivíduos aparentemente saudáveis, com escore de risco com cargas progressivas, suficientes para causar fadiga nas
coronariano elevado e também em cardiopatas (Grau de últimas três repetições, porém, sem falha do movimento.
Recomendação: I; Nível de Evidência: A).237 No contexto Idealmente, devem ser realizados três vezes por semana,
da reabilitação cardíaca, o exercício contínuo de moderada enquanto os exercícios para melhorar a flexibilidade devem
intensidade, consensualmente uma forma segura e eficaz de ser realizados no começo e no final de cada sessão (Grau de
treinamento físico, tem sido considerado prioritário (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: B).248,249 Os exercícios
Recomendação: I; Nível de Evidência: A).238 aeróbios devem ser realizados pelo menos três vezes por
Em pacientes com doença coronária aterosclerótica, o semana, em sessões de 30 a 60 minutos de duração.
exercício físico promove estabilização ou mesmo regressão da Na ausência de teste ergométrico, a intensidade do
aterosclerose (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: exercício pode ser controlada subjetivamente pela percepção
A),239 além de acentuada queda da mortalidade, tanto por causa de esforço e, objetivamente, pela ventilação pulmonar,
cardíaca quanto por outras causas (Grau de Recomendação: I; sendo a atividade considerada predominantemente aeróbia
Nível de Evidência: A),240 existindo uma inversa e independente quando o indivíduo que caminha ou corre, por exemplo,
associação entre HDL-c e DAC, com destaque para a ação permanece apenas discretamente ofegante, conseguindo
protetora de um de seus componentes, a ApoA-I (Grau de falar frases completas sem interrupções, inspirando no
Recomendação: I; Nível de Evidência: A).241 Entretanto, decorrer de duas ou três passadas e expirando no decorrer
apesar do exercício proporcionar desfechos clínicos altamente de uma ou duas passadas. O mesmo vale para as outras
favoráveis, a elevação de HDL-c e as quedas de CT, LDL-c e TG modalidades: ciclismo, natação, dança etc. Assim, se houver
decorrentes de sua ação são modestas, conforme demonstrado uma atividade prolongada, realizada com a participação de
em metanálises,242 pouco contribuindo para a obtenção das grandes grupos musculares, em que o individuo permanece
rigorosas metas terapêuticas atualmente propostas. confortável, podendo sincronizar o movimento do corpo
A explicação para os desfechos clínicos favoráveis com a ventilação pulmonar, pode-se dizer que existe uma
proporcionados pelo exercício se dá principalmente pelas participação predominante do metabolismo aeróbio (Grau
modificações funcionais, ocorrendo aprimoramento do de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).250
funcionamento da HDL e da LDL, com aumento da resistência Caso esteja disponível um teste ergométrico realizado
à oxidação da LDL, indução da produção de paraoxonase, na vigência da medicação cardiovascular de uso contínuo,
modificações da HDL2 e HDL3, e aumento do efluxo de pode ser determinada a intensidade a partir da frequência
colesterol.243 Em estudo realizado com triatletas, foram cardíaca pico do teste ergométrico, conforme propõe o
constatados decréscimos do CT, VLDL-c, ApoB100 e Lp(a), American College of Sports Medicine:248 para atividades
e elevação do HDL-c imediatamente após uma competição, leves e/ou leves a moderadas, 50 a 70% da frequência
ocorrendo redução das partículas de LDL-c pequenas e densas cardíaca pico do teste ergométrico considerado máximo;
(-62%) e aumento de subclasse de HDL-c (+11% HDL2), para atividades moderadas, 70 a 85% da frequência cardíaca
relacionados inversamente com o risco de DAC. Também foi pico, sendo recomendada para treinamento dos que já
observado redução das subclasses de HDL-c (-16% HDL3), as estão bem adaptados à prática de exercícios físicos; para
quais são positivamente relacionadas com a DAC.244 atividades moderadas a intensas e/ou intensas, acima de

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85% da frequência cardíaca pico, sendo situação em que influenciar em todo conjunto das lipoproteínas circulantes
existe participação cada vez mais expressiva do metabolismo que interagem com o LDLR, como a LDL, a VLDL e os
anaeróbio, com pequenos incrementos da intensidade. remanescentes de quilomícrons. Em metanálise com 170
A prescrição da intensidade do exercício aeróbio a partir mil pacientes e 26 estudos clínicos, para cada 40 mg/dL
do teste ergométrico cardiopulmonar é considerado o padrão- de redução do LDL-c com estatinas, ocorreu diminuição
ouro (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).251 da mortalidade por todas as causas em 10%, refletindo,
Neste caso, deve ser considerada a classificação baseada em grande parte, a redução no número de mortes por
nos limiares ventilatórios: para atividades aeróbias leves, DAC (−20%).112 Os estudos mostram redução também dos
intensidade abaixo do primeiro limiar ventilatório (limiar eventos isquêmicos coronários agudos, da necessidade de
anaeróbio); para atividades aeróbias moderadas, intensidade revascularização do miocárdio e do AVC.
entre o primeiro limiar (limiar anaeróbio) e o segundo limiar Com base nestas evidências, o uso de estatina está
ventilatório (ponto de compensação respiratória), sendo indicado em terapias de prevenção primária e secundária
considerada a zona alvo ideal do treinamento, visando ao como primeira opção (Grau de Recomendação: I; Nível de
aumento da aptidão cardiorrespiratória, no contexto da Evidência: A).
prevenção e do tratamento das DCV e metabólicas; para A redução do LDL-c varia entre as estatinas, e esta diferença
atividades aeróbias vigorosas, intensidade em torno ou acima está fundamentalmente relacionada à dose inicial, conforme
do ponto de compensação respiratória, exigindo, por vezes, Figura 2. A cada vez que dobramos a dose de qualquer uma
que a atividade seja intervalada. destas estatinas, a redução média adicional do LDL-c é de
6 a 7 %.
8. Tratamento Farmacológico das Embora estudos mostrem diferenças na potência das
Dislipidemias estatinas quanto à sua capacidade de levar à redução
do LDL-c, todas foram capazes, em estudos clínicos
A decisão para o início da terapia medicamentosa das randomizados, de reduzir eventos e mortes cardiovasculares.
dislipidemias depende do: Assim, esta atualização recomenda que seja empregada a
- Risco cardiovascular do paciente: em pacientes de estatina que estiver disponível no serviço, procurando-se
muito alto ou alto risco cardiovascular,25,45,106 o tratamento atingir as metas terapêuticas recomendadas, com o ajuste de
da dislipidemia deve incluir medicamentos já em associação doses e a eventual associação de fármacos.
com as modificações do estilo de vida a serem propostas. As estatinas reduzem os TG, em geral, tanto mais quanto
Para os pacientes de risco moderado ou baixo, o tratamento maior sua capacidade de reduzir o LDL-c. Com relação
será iniciado apenas com as medidas do estilo de vida, com à HDL-c, as estatinas podem elevar suas taxas, mas, em
a associação, em uma segunda etapa, de medicamentos, se geral, com pequeno aumento porcentual. No entanto, nos
necessário, para obtenção das metas definidas do LDL-c. O estudos de prevenção primária ou secundária com estatinas,
tempo de reavaliação após a implantação das medidas de a variação do HDL-C ou TG não influenciou na redução de
modificações do estilo de vida pode ser de 3 a 6 meses. eventos cardiovasculares.
- Tipo de dislipidemia presente: define a escolha da Efeitos colaterais são raros no tratamento com estatinas.
classe terapêutica. Dentre estes, os efeitos musculares são os mais comuns
Os medicamentos hipolipemiantes costumam ser divididos e podem surgir em semanas ou anos após o início do
nos que agem predominantemente nas taxas séricas de tratamento. Variam desde mialgia, com ou sem elevação da
colesterol e naqueles que agem predominantemente nas Creatinoquinase (CK), até a rabdomiólise. A dosagem de CK
taxas de TG. deve ser avaliada no início do tratamento, principalmente
em indivíduos de alto risco de eventos adversos musculares,
8.1. Medicamentos com ação predominante na como pacientes com antecedentes de intolerância à estatina;
colesterolemia indivíduos com antecedentes familiares de miopatia; o
uso concomitante de fármacos que aumentem o risco de
Na hipercolesterolemia isolada, os medicamentos
miopatia. A dosagem rotineira de CK não é recomendada
recomendados são as estatinas, que podem ser administradas
em pacientes já em uso de estatina, exceto se ocorrerem
em associação à ezetimiba, à colestiramina e, eventualmente,
sintomas musculares (dor, sensibilidade, rigidez, câimbras,
aos fibratos ou ao ácido nicotínico.
fraqueza e fadiga localizada ou generalizada), introdução
de fármacos que possam interagir com estatina ou quando
8.1.1. Estatinas se eleva a dose desta (Grau de Recomendação: IIa; Nível
Até o presente, a redução do LDL-c por inibidores da de Evidência: B).
HMG-CoA redutase ou pelas estatinas permanece a terapia A avaliação basal das enzimas hepáticas (ALT e AST) deve
mais validada por estudos clínicos para diminuir a incidência ser realizada antes do início da terapia com estatina. Durante
de eventos cardiovasculares. A depleção intracelular de o tratamento, deve-se avaliar a função hepática quando
colesterol estimula a liberação de fatores transcricionais e, ocorrerem sintomas ou sinais sugerindo hepatotoxicidade
consequentemente, a síntese e a expressão na membrana (fadiga ou fraqueza, perda de apetite, dor abdominal, urina
celular de receptores para captação do colesterol circulante, escura ou aparecimento de icterícia) (Grau de Recomendação:
como o LDLR. Assim, a ação das estatinas pode potencialmente IIa; Nível de Evidência: B).

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Figura 2 – Reduções do colesterol da lipoproteína de baixa densidade com as estatinas e as doses disponíveis no mercado nacional.

Recomendação: Este documento reforça a indicação das estatinas como primeira opção na prevenção primária e secundária da doença aterosclerótica (Grau de
Recomendação: I; Nível de Evidência: A). Dosagem de creatinoquinase deve ser realizada no início do tratamento e durante o tratamento somente se ocorrerem sintomas
musculares, introdução de fármacos que interagem com estatinas ou quando se eleva a dose de estatina (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B). Dosagem
das enzimas hepáticas deve ser realizada no início do tratamento e durante, somente se houver sinais ou sintomas de hepatotoxicidade (Grau de Recomendação: IIa;
Nível de Evidência: B).

8.1.2. Ezetimiba Em pequenos estudos, o tratamento com ezetimiba


A ezetimiba inibe a absorção de colesterol na borda em reduziu esteatose hepática não alcoólica.254 No entanto, o
escova do intestino delgado, atuando seletivamente nos benefício clínico deste efeito ainda requer investigação em
receptores NPC1-L1 e inibindo o transporte intestinal de ensaios dimensionados para avaliar desfechos clínicos (Grau
colesterol. A inibição da absorção de colesterol (em grande de Recomendação: IIb; Nível de Evidência: C).
parte do colesterol biliar) leva à diminuição dos níveis de A ezetimiba é empregada na dose única de 10 mg ao
colesterol hepático e ao estímulo à síntese de LDLR, com dia. Pode ser administrada a qualquer hora do dia, com ou
consequente redução do nível plasmático de LDL-c de 10 a sem alimentação, não interferindo na absorção de gorduras
25%. Em comparação com placebo, a ezetimiba associada à e vitaminas lipossolúveis. Raros efeitos colaterais têm sido
estatina reduziu eventos cardiovasculares em pacientes com apontados e estão em geral relacionados com o trânsito
estenose aórtica degenerativa252 e doença renal crônica.253 intestinal. Por precaução, recomenda-se que ela não seja
Em comparação com monoterapia com sinvastatina, o utilizada em casos de dislipidemia com doença hepática aguda.
estudo IMPROVE-IT mostrou redução significativa de eventos
cardiovasculares após síndrome coronária aguda com uso da
associação estatina e ezetimiba.113 8.1.3. Resinas
A ezetimiba isolada constitui opção terapêutica em As resinas, ou sequestradores dos ácidos biliares, atuam
pacientes que apresentam intolerância às estatinas. A reduzindo a absorção enteral de ácidos biliares. Como resultado,
ezetimiba associada a doses toleradas de estatina é uma ocorre depleção do colesterol celular hepático, estimulando a
alternativa em pacientes que apresentam efeitos adversos síntese de LDLR e de colesterol endógeno. Como consequência
com doses elevadas de estatina (Grau de Recomendação: deste estímulo à síntese, pode ocorrer aumento da produção de
IIa; Nível de Evidência: C). VLDL e, consequentemente, de TG plasmáticos.

Recomendação: a adição da ezetimiba tem sido recomendada quando a meta do colesterol da lipoproteína de baixa densidade com o tratamento com estatinas na dose
máxima tolerada em pacientes com doenças arterial coronariana (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: B) ou em pacientes em prevenção primária (Grau de
Recomendação: IIb; Nível de Evidência: C) não é alcançada.
A ezetimiba isolada ou associada a estatinas constitui opção terapêutica em pacientes que não toleram doses recomendadas de estatinas (Grau de Recomendação: IIa;
Nível de Evidência: C).
A ezetimiba pode ser empregada na esteatose hepática (Grau de Recomendação: IIb; Nível de Evidência: C).

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Três resinas foram desenvolvidas: a colestiramina, o isoladamente ou em associação com outros fármacos. Na
colestipol e o colesevelam. No entanto, no Brasil, somente a hiperlipidemia mista, a taxa sérica de TG deve orientar como
colestiramina está disponível. Esta resina foi testada no estudo o tratamento farmacológico será iniciado. Caso estas taxas
LRC-CPPT (Lipid Research Clinics Coronary Prevention Trial),255 estejam acima de 500 mg/dL, deve-se iniciar o tratamento com
cujo desfecho primário combinado de morte por doença um fibrato, adicionando-se, se necessário, ácido nicotínico
coronária e infarto do miocárdio foi reduzido em 19%. Em e/ou ômega 3. Nesta situação, a meta prioritária é a redução
adição às estatinas, não existe estudo clínico que comprove do risco de pancreatite.
benefício adicional. Após reavaliação, caso haja a necessidade de redução
Assim, a adição de colestiramina ao tratamento com adicional da colesterolemia, pode-se adicionar uma estatina
estatinas pode ser recomendada quando a meta de LDL-c e/ou outros redutores da colesterolemia. Nestes casos, o uso
não é obtida apesar do uso de estatinas potentes em doses do genfibrozila deve ser evitado nas associações de fibratos e
efetivas (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: estatinas. Caso as taxas de TG estejam abaixo de 500 mg/dL,
C). A redução do LDL-c é dose-dependente e pode variar deve-se iniciar o tratamento com uma estatina isoladamente
de 5% a 30% nas doses de 4 a 24 g ao dia. Devem ser e, se necessário, associando-se a ezetimiba, priorizando-se a
administradas longe de outros medicamentos, pois podem meta de LDL-c ou não HDL-c.
interferir na absorção de muitos deles. Recomenda-se que
sejam tomados os remédios rotineiros 1 hora antes da tomada
da colestiramina e/ou 4 horas depois desta. 8.2.1. Fibratos
Por não ser absorvida para a circulação sistêmica, tem São fármacos derivados do ácido fíbrico que agem
sido recomendada para crianças hipercolesterolêmicas, estimulando os receptores nucleares denominados “Receptores
isoladamente ou em associação com estatinas, e é o único Alfa Ativados da Proliferação dos Peroxissomas” (PPAR-α). Este
fármaco liberado para mulheres no período reprodutivo sem estímulo leva ao aumento da produção e da ação da LPL,
método anticoncepcional efetivo, e durante os períodos de responsável pela hidrólise intravascular dos TG, e à redução
gestação e amamentação (Grau de Recomendação: IIa; Nível da ApoC-III, responsável pela inibição da LPL.
de Evidência: A). O estímulo do PPAR-α pelos fibratos também leva a maior
A colestiramina (único inibidor disponível no Brasil) é síntese da ApoA-I e, consequentemente, de HDL. Reduz as
apresentada em envelopes de 4 g. A posologia inicial é de taxas séricas de TG de 30 a 60%. No entanto, a redução
4 g ao dia, podendo-se atingir, no máximo, 24 g ao dia. deve ser mais pronunciada quanto maior o valor basal da
Posologias superiores a 16 g ao dia são dificilmente toleradas. A trigliceridemia. Aumentam o HDL-c de 7 a 11%. Sua ação
apresentação na forma light pode melhorar sua tolerância, mas sobre o LDL-c é variável, podendo diminuí-lo, não o modificar
contém fenilalanina, o que restringe seu uso em portadores ou até aumentá-lo. Parecem ter efeitos pleiotrópicos, mas
de fenilcetonúria. não se conhece a relevância clínica dos mesmos. Na tabela 7
Os principais efeitos colaterais relacionam-se ao aparelho estão descritos os fibratos disponíveis e seus respectivos efeitos
digestivo, por interferir na motilidade intestinal: obstipação no perfil lipídico.
(particularmente em idosos), plenitude gástrica, náuseas Os estudos clínicos disponíveis demonstraram resultados
e meteorismo, além de exacerbação de hemorroidas inconsistentes com relação ao benefício da monoterapia com
preexistentes. Raramente, pode ocorrer obstrução intestinal e fibrato na redução dos eventos cardiovasculares. Em metanálise
acidose hiperclorêmica em idosos e crianças, respectivamente. com 18 estudos e 45.058 participantes, a terapia com fibratos
Diminui, eventualmente, a absorção de vitaminas lipossolúveis reduziu o risco relativo de eventos cardiovasculares em 10%,
(A, D, K e E) e de ácido fólico. A suplementação destes eventos coronários em 13%, sem benefício em mortalidade
elementos em crianças ou, eventualmente, em adultos pode cardiovascular (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência:
ser necessária. Entre os efeitos bioquímicos, é possível o B).256 Análises retrospectivas destes estudos indicaram haver
aumento dos níveis de TG, secundário ao estímulo à síntese benefício maior quando foram selecionados pacientes com
hepática de VLDL. Como consequência, seu uso deve ser TG plasmáticos elevados (> 204 mg/dL) e HDL-c baixo
evitado na hipertrigliceridemia, particularmente se houver (< 34 mg/dL). No entanto, esta informação requer
níveis acima de 400 mg/dL. confirmação em estudos prospectivos.
Os efeitos do fenofibrato sobre a doença microvascular do
8.2. Medicamentos que atuam predominantemente nos paciente com diabetes melito tipo 2 foram examinados em
triglicérides dois grandes estudos257,258 de forma isolada ou associado com a
No tratamento da hipertrigliceridemia isolada são sinvastatina. O tratamento reduziu a incidência e a progressão
prioritariamente indicados os fibratos e, em segundo lugar, da retinopatia, diminuiu micro e macroalbuminúria, e
o ácido nicotínico ou a associação de ambos. Pode-se retardou a perda de função renal. Além disso, diminuiu as
ainda utilizar, nesta dislipidemia, os ácidos graxos ômega 3, amputações, principalmente distais.

Recomendação: a adição de colestiramina ao tratamento com estatinas pode ser recomendada quando a meta do colesterol da lipoproteína de baixa densidade não é
obtida, apesar do uso de estatinas potentes em doses efetivas (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). É o único fármaco liberado para mulheres no período
reprodutivo sem método anticoncepcional efetivo e durante os períodos de gestação e amamentação (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A)..

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Tabela 7 – Doses dos fibratos e alterações lipídicas (porcentagens médias)


Fármacos Dosagem (mg/dia) ↓ TG (%) ↑ HDL-c (%) ↓ LDL (%)
Bezafibrato 200-600 30-60 7-11 Variável
Bezafibrato retard 400 30-60 7-11 Variável
Gemfibrozila 600-1200 30-60 7-11 Variável
Gemfibrozila retard 900 30-60 7-11 Variável
Etofibrato 500 30-60 7-11 Variável
Fenofibrato 160-250 30-60 7-11 Variável
Ciprofibrato 100 30-60 7-11 Variável
Efeito dependente da dose utilizada e do valor basal inicial dos TG. TG: triglicérides; HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade.

Os fibratos são indicados no tratamento da estatinas. Em dois estudos clínicos recentes, no entanto, a
hipertrigliceridemia endógena quando houver falha adição de niacina ao tratamento eficaz com estatinas, com
das medidas não farmacológicas. Quando os TG forem ou sem ezetimiba, para meta de LDL-c < 70 mg/dL, não
muito elevados (> 500 mg/dL) são recomendados, adicionou benefício algum.260,261 Em ambos os estudos, a
inicialmente, junto das medidas não farmacológicas (Grau de taxa de interrupção do tratamento por efeitos colaterais foi
Recomendação: I; Nível de Evidência: A) e no tratamento da de cerca de 25%. Assim, não há evidência de benefício com
dislipidemia mista com predomínio de hipertrigliceridemia este fármaco em indivíduos com LDL-c controlado (Grau de
(Grau de Recomendação IIa; Nível de Evidência: B). Recomendação: III; Nível de Evidência: A).
É infrequente a ocorrência de efeitos colaterais graves O ácido nicotínico pode, excepcionalmente, ser utilizado
durante tratamento com fibratos, levando à necessidade em pacientes com HDL-C baixo isolado, mesmo sem
da interrupção do tratamento. Podem ocorrer: distúrbios hipertrigliceridemia associada, e como alternativa aos fibratos e
gastrintestinais, mialgia, astenia, litíase biliar (mais comum estatinas ou em associação com esses fármacos em portadores
com clofibrato), diminuição de libido, erupção cutânea, de hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou dislipidemia
prurido, cefaleia e perturbação do sono. Raramente, mista (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A).
observa-se aumento de enzimas hepáticas e/ou CK, também Devido a menor tolerabilidade com a forma de liberação
de forma reversível com a interrupção do tratamento. Casos imediata (rubor e prurido) e à descrição de hepatotoxicidade
de rabdomiólise têm sido descritos com o uso da associação com a forma de liberação lenta, tem sido preconizado seu uso
de estatinas com gemfibrozila. Recomenda-se, por isso, na forma de liberação intermediária, com melhor perfil de
evitar esta associação. Recomenda-se também cautela nas tolerabilidade. Como os efeitos adversos relacionados ao rubor
seguintes condições clínicas: portadores de doença biliar; facial ou prurido ocorrem com maior frequência no início do
uso concomitante de anticoagulante oral, cuja posologia tratamento, recomenda-se dose inicial de 500 mg ao dia com
deve ser ajustada; pacientes com função renal diminuída; aumento gradual − em geral para 750 mg e, depois, para
e associação com estatinas. 1.000 mg, com intervalos de 4 semanas a cada titulação de
dose, buscando-se atingir 1 a 2 g diárias. O pleno efeito sobre
8.2.2. Ácido nicotínico (niacina) o perfil lipídico apenas é atingido com o decorrer de vários
meses de tratamento. Com a forma de liberação intermediária
O ácido nicotínico reduz a ação da lipase tecidual nos e o uso de doses atualmente mais baixas de niacina, outros
adipócitos, levando à menor liberação de ácidos graxos livres para
efeitos como alterações gastrintestinais, hiperglicemia e
a corrente sanguínea. Como consequência, reduz-se a síntese
hiperuricemia tornaram-se mais raros.
de TG pelos hepatócitos. Reduz ainda o LDL-c em 5 a 25%;
aumenta o HDL-c em 15 a 35%; e diminui o TG em 20 a 50%.
O Coronary Drug Project,259 realizado na década de 8.2.3. Ácidos graxos ômega 3
1970, demonstrou que o tratamento com niacina em Ácidos graxos ômega 3 são poli-insaturados derivados
sua forma cristalina pode reduzir a incidência de eventos dos óleos de peixes e de certas plantas e nozes. O óleo de
cardiovasculares. Em formulações mais toleráveis, como peixe contém tanto o ácido DHA quanto o ácido EPA,155 mas
as formas estendidas, o tratamento com niacina reduziu a os óleos de origem vegetal contêm predominantemente o
espessura íntima-média, mesmo em pacientes em uso de ácido ALA. Em altas doses (4 a 10g ao dia), reduzem os TG

Recomendação: não se recomenda o uso de fibrato isolado ou associado a estatinas para reduzir o risco cardiovascular. Porém, o uso de fibratos associdado a estatinas
reduziu o risco de doenças microvasculares no diabetes.
Em pacientes com triglicérides acima de 204 mg/dL associdados ao colesterol da lipoproteína de alta densidade baixa (< 34 mg/dL), o uso de fibrato, isoladamente ou
em associação a estatinas, pode ser considerado (Grau de Recomendação IIa; Nível de Evidência: A). Quando os triglicérides forem muito elevados (> 500 mg/dL) são
recomendados, inicialmente, junto das medidas não farmacológicas (Grau de Recomendação I; Nível de Evidência: B)

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Diretrizes

Recomendação: esta diretriz não recomenda a utilização do ácido nicotínico isoladamente ou associado às estatinas na prevenção da doença cardiovascular (Grau de
Recomendação: III; Nível de Evidência: A).
Pode, excepcionalmente, ser utilizado em pacientes com HDL-c baixo isolado e como alternativa aos fibratos e estatinas, ou em associação com estes fármacos em
portadores de hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou dislipidemia mista resistente (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A).

e aumentam discretamente o HDL-c, podendo, entretanto, em 25%. Apesar dos benefícios nas frações lipídicas, o estudo
aumentar o LDL-c. Seus efeitos no perfil lipídico são dose- foi interrompido precocemente pelo aumento de eventos e
dependentes e resultam de uma variedade de mecanismos, mortalidade cardiovasculares,266 atribuído aos seus efeitos no
entre os quais a diminuição da produção de VLDL e o aumento sistema renina-angiotensina-aldosterona.267
de seu catabolismo.262 A seguir, em 2012, estudo em fase III com dalcetrapibe
A administração de ômega 3 (EPA + DHA) reduziu em pacientes com síndrome coronária aguda foi interrompido
mortalidade e desfechos coronários em estudos de prevenção pela falta de eficácia clínica, a despeito da elevação de 30%
secundária (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: nas concentrações de HDL-c.112 Não houve evidência de
A).263,264 Entretanto, nos anos mais recentes, com maior danos com este fármaco.
emprego de estatinas, não foram evidenciados benefícios Mais recentemente, o evacetrapibe no estudo ACCELERATE
na DCV, sendo recomendado seu uso principalmente como (Impact of the Cholesteryl Ester Transfer Protein Inhibitor
adjunto da terapia das hipertrigliceridemias. Evacetrapib on Cardiovascular Outcome) também falhou
Outra fonte de ácidos graxos ômega 3 é o óleo de krill. em demonstrar benefício clínico em pacientes com alto
Processado do krill da Antártida (Euphausia superba), um risco cardiovascular, apesar da grande diferença nas taxas
crustáceo semelhante ao camarão, da superordem Eucarida, de HDL-c e LDL-c no grupo que recebeu o evacetrapibe
encontrado nos mares do Sul, o óleo de krill é uma fonte quando comparado ao grupo placebo (HDL-c de 104 mg/
singular de EPA e DHA, pois a maior parte dos ácidos graxos dL vs. 46 mg/dL no grupo placebo, com diferença de 130%,
ômega 3 ocorre naturalmente em fosfolípides e não na e LDL-c de 55 mg/dL vs. 84 mg/dL no grupo placebo, com
forma de TG, com uma razão da biodisponibilidade dos diferença de 37%).268
ácidos graxos ômega 3 de krill para os ácidos graxos ômega Atualmente, o anacetrapibe é o único inibidor do
3 marinhos da ordem de 2:1. CETP que permanece em avaliação no estudo REVEAL
Por ser hidrossolúvel, o óleo de krill apresenta melhor (Randomized EValuation of the Effects of Anacetrapib Through
digestibilidade, minimizando o odor residual de peixe. Vale Lipid-modification) com perspectiva de término para o ano
ressaltar que o krill não tem o risco de contaminação por de 2017.269
mercúrio.265 Estudo realizado com indivíduos com valores
limítrofes ou elevados de TG que receberam óleo de krill
8.3.2. Inibidores da PCSK-9
de 1,0 a 4,0 g ao dia, por 6 semanas, mostrou redução de
18,6 a 19,9 mg/dL, enquanto com 0,5 g, a redução foi de Sabe-se que a funcionalidade e o número de LDLR
13,3 mg/dL.265 expressos na superfície dos hepatócitos constitui fator
determinante dos níveis plasmáticos de LDL. A LDL circulante
se liga aos LDLR na superfície do hepatócito, libera seu
8.3. Novos fármacos
conteúdo para o endossoma e, posteriormente, o receptor
é reciclado de volta à superfície do hepatócito, para captar
8.3.1. Inibidores da proteína de transferência de ésteres mais partículas de LDL do plasma. Em condições normais, o
de colesterol LDLR refaz este ciclo aproximadamente 150 vezes, até que
A CETP é responsável pela transferência de ésteres de seja degradado. A PCSK9 é uma enzima que desempenha
colesterol da HDL para lipoproteínas que contêm ApoB, em um papel importante no metabolismo lipídico, modulando
troca equimolar por TG. Como é previsível, a inibição da a densidade de LDLR.270 Sintetizada no núcleo celular e
CETP aumenta a concentração de colesterol na HDL e diminui secretada pelos hepatócitos, liga-se aos LDLR na circulação,
nas lipoproteínas que contêm ApoB, incluindo VLDL e LDL. favorecendo sua degradação.
Quatro inibidores da CETP foram desenvolvidos: Estudos realizados64 em animais e mutações em seres
torcetrapibe, anacetrapibe, dalcetrapibe e evacetrapibe. O humanos demonstraram que o ganho de função da PCSK9
torcetrapibe foi o primeiro inibidor da CETP avaliado no ocasionava aumento da degradação dos LDLR com elevações
estudo ILLUMINATE (Investigation of Lipid Level Management dramáticas nas concentrações de LDL. Em contrapartida,
to Understand its Impact in Atherosclerotic Events).116 Foi mutações com perda de função da PCSK9 têm o efeito
estudada sua associação à terapia intensiva com atorvastatina. oposto: aumentam a densidade do LDLR na superfície dos
O torcetrapibe aumentou o HDL-c em 72% e reduziu o LDL-c hepatócitos com consequente aumento da remoção de

Recomendação: Ácidos graxos ômega 3 em altas doses (4 a 10 g ao dia) podem ser usados associados a outros hipolipemiantes em portadores de hipertrigliceridemia
grave que não atingiram níveis desejáveis com o tratamento (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).

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Diretrizes

partículas de LDL e redução do LDL-c. Assim, a inibição da Quanto à indicação dos inibidores da PCSK9 (evolocumabe
PCSK9 previne a ligação do LDLR à PCSK9 e a subsequente e alirocumabe) no tratamento das dislipidemias, esta
degradação lisossomal do LDLR, aumentando a densidade atualização recomenda a utilização somente em pacientes
de receptor na superfície do hepatócito e a depuração das com risco cardiovascular elevado, em tratamento otimizado
partículas circulantes de LDL. com estatinas na maior dose tolerada, associado ou não à
Dois inibidores da PCSK9 totalmente humanos foram ezetimiba, e que não tenham alcançado as metas de LDL-c
aprovados no Brasil para comercialização em 2016, o ou não HDL-c recomendadas.
alirocumabe e o evolocumabe. Ambos são aplicados por meio O uso dos inibidores da PCSK9 em geral é seguro e bem
de injeção subcutânea − o alirocumabe a cada 2 semanas, na tolerado. É descrita a ocorrência de nasofaringite, náuseas,
dose de 75 mg ou 150 mg, enquanto o evolucumab com injeção fadiga e aumento da incidência de reações no local da injeção
de 140 mg, a cada 2 semanas, ou 420 mg, uma vez ao mês. (vermelhidão, prurido, edema ou sensibilidade/dor).
Esta classe farmacológica reduz de forma bastante
intensa as concentrações de LDL-c em comparação ao 8.3.3. Inibidor da proteína de transferência de
placebo (redução média de 60%). Estudo realizado com
triglicérides microssomal
evolocumabe271 demonstrou benefícios significativos também
em outras lipoproteínas pró-aterogênicas, com redução de A lomitapida é um fármaco que inibe a MTP, reduzindo a
52% na fração não HDL-c, 47,3% na ApoB, 12,6% nos TG, formação de quilomícrons no intestino e VLDL pelo fígado.
25,5% na Lp(a), e aumento do HDL-c e da ApoA1 de 7,0 e Pelo fato da VLDL ser um precursor metabólico da LDL, as
4,2%, respectivamente. O alirocumabe apresentou resposta concentrações plasmáticas de LDL são reduzidas.276 Está
semelhante no perfil lipídico, com redução significativa no indicado somente nos casos de HF Homozigótica (HoHF),
não HDL-c de 52,3%, ApoB de 54%, Lp(a) de 25,6%, TG mas seu uso ainda não foi aprovado no Brasil.
de 17,3%, e elevação de HDL-c e ApoA1 de 4,6% e 2,9%, A lomitapida é administrada via oral na dose inicial de
respectivamente (p < 0,001 para todas as comparações).272 5 mg/dia e com dose de manutenção que varia de 5 a
O estudo FOURIER (Further cardiovascular OUtcomes 60 mg/dia, sendo que a dose deve ser individualizada de acordo
Research with PCSK9 Inhibition in subjects with Elevated Risk com as metas terapêuticas e com a resposta ao tratamento.
trial)273,274 avaliou mais de 27.500 pacientes de muito alto risco Estudo de fase 3 realizado em 29 pacientes com HoHF,
(infarto agudo do miocárdio prévio, AVC, ou Doença Arterial com doses iniciais de 5 mg/dia e tituladas até 60 mg/dia,
Periférica − DAP sintomática) sob tratamento hipolipemiante com mediana de 40 mg/dia, associadas à terapia de base,
de alta ou moderada intensidade, com estatinas e/ou demonstraram após 26 semanas de seguimento (período de
ezetimiba, que foram aleatorizados para receber evolocumabe avaliação de eficácia) reduções de 50% no LDL-c e de 49% na
(em um regime de 140 mg a cada 15 dias, ou 420 mg uma vez ApoB. Foi descrita redução média de 12% no HDL-c nas fases
por mês), ou placebo (a cada 15 dias, ou uma vez por mês), iniciais do tratamento (semana 26), mas que retornaram aos
com o objetivo primário de avaliar mortalidade cardiovascular, valores basais com a manutenção do tratamento (78 semanas
infarto agudo do miocárdio, AVC, angina instável requerendo de seguimento).277
hospitalização ou revascularização coronária, e objetivo
Os efeitos adversos mais comuns são gastrintestinais,
secundário chave de avaliar morte cardiovascular, infarto
como náuseas, flatulência e diarreia. Estes efeitos podem ser
agudo do miocárdio ou AVC. Os pacientes foram seguidos
minimizados pela redução da ingesta de gordura ou pela
por 2,2 anos (mediana), houve redução de 59% no
titulação escalonada do medicamento.278 Tem sido descrito,
LDL-c comparado ao placebo, partindo de um LDL-c de
em alguns pacientes, aumento das transaminases, em geral
92 mg/dL no período basal e alcançando 30 mg/dL aos 48 meses
reversível com a redução ou a descontinuação do fármaco,
(p < 0,001). Relativo ao placebo, evolocumabe reduziu
ou mesmo, transitório com a manutenção do tratamento. Na
o desfecho primário em 15% (1.344 pacientes − 9,8%
maioria das vezes, não foram descritos elevação concomitante
vs. 1.563 pacientes − 11,3%; Hazard Ratio − HR 0,85; Intervalo
das bilirrubinas, fosfatase alcalina e nem surgimento de sintomas.
de confiança de 95% − IC95% 0,79-0,92; p < 0,001) e o
desfecho secundário chave em 20% (816 − 5,9% vs. 1.013 − Por seu próprio mecanismo de ação, estudos com
7,4%; HR: 0.80; IC95%: 0,73-0,88; p < 0,001). Os resultados ressonância magnética em pacientes com HoHF demonstraram
foram consistentes entre os subgrupos, incluindo aqueles acúmulo de gordura hepática. Porém, o acúmulo de gordura
nos quartis inferiores dos valores basais de LDL-c (mediana, no fígado varia de paciente para paciente, mas é acentuado
74 mg/dL). Não houve diferenças entre os grupos quanto pelo consumo de álcool. Os efeitos deste acúmulo de
à ocorrência de eventos adversos (incluindo novos casos gordura em longo prazo, decorrentes desta intervenção
de diabetes e eventos neurocognitivos), com exceção de medicamentosa, não são conhecidos.
reações no local de injeção, que foram mais frequentes com Apesar de a MTP estar envolvida na absorção de vitaminas
o evolocumabe (2,1% vs. 1,6%). lipossolúveis estudos não demonstraram nenhum efeito
Já o estudo ODYSSEY Outcomes (Evaluation of significativo do tratamento com lomitapida sobre os níveis
Cardiovascular Outcomes After an Acute Coronary Syndrome plasmáticos de vitaminas A e D.278 Lomitapida reduz os níveis
During Treatment With Alirocumab),275 com o alirocumabe, plasmáticos de vitamina E, que é transportada principalmente
avaliará os desfechos cardiovasculares em mais de 18 mil por LDL. No entanto, portadores de HF têm níveis altos de
pacientes pós-síndrome coronária aguda com resultado vitamina E e, mesmo após o tratamento com lomitapida, as
previsto para 2018. taxas desta vitamina ficaram dentro ou acima do normal.

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Diretrizes

Vale salientar que, pelo fato da lomitapida ser 8.3.6. Antissenso antiapolipoproteína C-III
amplamente metabolizada pelo CYP3A4, deve-se ter O composto ISIS 304801 (volanesorsen) é um oligonucleptídeo
precaução com sua coadministração com inibidores do antissenso de segunda geração desenvolvido especialmente para
CYP3A4 (antifúngicos, diltiazem, verapamil, antibióticos reduzir os níveis do RNA Mensageiro (mRNA) da ApoC-III.
como ciprofloxacino, claritromicina e eritromicina, e os A hibridização do ISIS 304801 ao mRNA da ApoC-III leva à
inibidores da protease). O uso associado da lomitapida degradação do mRNA alvo pela ribonuclease H1, impedindo
60 mg/dia com a sinvastatina 40 mg/dia aumentou a exposição a tradução da proteína ApoC-III.286 Em modelos experimentais
a sinvastatina em 1,7 vez comparada a sinvastatina isolada, pré-clínicos e em estudos clínicos com voluntários saudáveis, o
aumentando o risco de efeito colateral pela sinvastatina.279 antissenso anti-ApoC-III reduziu as concentrações de ApoC-III
Em contrapartida, estudos com outros hipolipemiantes não e os TG de forma dose-dependente.288
demonstraram interações significativas. O antissenso anti-ApoC-III é de uso injetável por via
subcutânea e demonstrou redução de ApoC-III e TG em
8.3.4. Inibidores da síntese de apolipoproteína B pacientes com hipertrigliceridemia, em monoterapia ou em
(antissenso anti-ApoB) associação a fibratos,289 e na quilomicronemia familiar.290 O
antissenso anti-ApoC-III reduziu as concentrações de ApoC-III
O antissenso da ApoB é indicado em portadores de
em monoterapia de 40 a 79%, com doses de 100 a 300 mg,
HoHF. Ainda não aprovado no Brasil, o mipomersen, único
de maneira dose-dependente, e em associação com fibratos,
representante da classe, é administrado por via subcutânea
reduziu entre 60 a 71%, nas doses de 200 e 300 mg. Reduções
e consiste de oligonucleotídeos que atingem o núcleo do
nas concentrações de TG plasmáticos da ordem de 30 a 71%
hepatócito e se hibridizam ao RNA mensageiro da ApoB,
foram observadas tanto em monoterapia como em associação
formando um RNA de fita dupla, que é reconhecido e
a fibratos.289 Na quilomicronemia familiar por deficiência da
degradado por uma Ribonuclease H RNase H e, portanto,
LPL e com concentrações basais de TG entre 1.406 e 2.083
impede a formação (tradução) da proteína (ApoB). 280
mg/dL, o antissenso anti-ApoC-III reduziu ApoC-III de 71 a
Além de reduzir a formação de VLDL, os produtos de 90% e os TG de 56 a 86%, e todos os pacientes mantiveram-se
sua metabolização também são reduzidos, como IDL, com TG < 500 mg/dL durante o estudo.
LDL e Lp(a). 2,281
Como o mecanismo de redução de TG na quilomicronemia
Estudos fase 3 mostraram que a eficácia do produto familiar por deficiência da LPL está comprometido, foi
é bastante variável, com reduções de 25 a 37%, em postulado que a inibição da ApoC-III pelo antissenso
média, dependendo das características das populações anti-ApoC-III restaura o catabolismo das lipoproteínas ricas
estudadas (formas homozigóticas ou heterozigóticas da em TG por um mecanismo LPL-independente.290
HF, hipercolesterolemias graves ou pacientes de alto risco
cardiovascular). Eventos adversos são comuns, principalmente O fármaco ainda não está aprovado para uso pelas agências
reações no local de aplicação, aumento de enzimas hepáticas regulatórias, e a experiência inicial mostra que podem ocorrer
e esteatose, que, em geral, declinam com o tempo de uso do reações no local da injeção, doença do soro, redução da
fármaco, mas outro evento adverso comum, os sintomas de contagem de plaquetas, sem alterações da função hepática
resfriado, tende a persistir mesmo em longo prazo.2,281 ou renal, e sem interação entre fármacos.289

8.3.5. Inibidores da síntese de apolipoproteína C-III 8.3.7. Lipase ácida lisossômica recombinante humana
(antissenso anti-ApoC-III) A Terapêutica de Reposição Enzimática (ERT) tem sido
A ApoC-III é um importante modulador do metabolismo usada com sucesso em outras formas de doenças de depósito
das lipoproteínas e possui um papel crucial regulando as lisossomal, sendo uma perspectiva para os pacientes com
concentrações de TG plasmáticas. É sintetizada principalmente Deficiência da Lipase Ácida Lisossomal (LAL-D, sigla do inglês
pelo fígado e é um componente das lipoproteínas ricas em lysosomal acid lipase deficiency). O objetivo da ERT é tentar
TG.282 A ApoC-III inibe a hidrólise de TG mediada pela normalizar os níveis fisiológicos de lipase ácida lisossomal291
LPL e prejudica a captação hepática dos remanescentes e evitar o acúmulo de ésteres de colesterol e TG – e, em
de lipoproteínas ricas em TG.283,284 Em altas concentrações, consequência, restaurar a função normal dos órgãos.291
a ApoC-III inibe a atividade da LPL, enzima que participa A sebelipase alfa é uma forma recombinante da lipase
do catabolismo das lipoproteínas ricas em TG e no ácida lisossomal humana, testada em três ensaios clínicos de
remodelamento das HDL.283 Concentrações elevadas de fase 3 e ainda não aprovada pelas agências regulatórias. No
ApoC-III no plasma comprometem não só a lipólise, como a primeiro estudo, sete pacientes receberam quatro infusões
remoção da circulação das lipoproteínas ricas em TG, com semanais, que foram bem toleradas e resultaram em rápido
acúmulo de lipoproteínas aterogênicas, sendo consideradas declínio das transaminases, mas com aumento do CT, LDL-c
fator de risco independente para a DAC, especialmente e TG, sugerindo mobilização dos lípides acumulados nos
quando a ApoC-III está contida em lipoproteínas que contêm tecidos.292,293 Ao final do estudo e após interrupção da
ApoB.284 Variantes genéticas da ApoC-III com perda de medicação, tanto as enzimas hepáticas como os lípides
função e concentrações reduzidas de ApoC-III no plasma voltaram aos valores basais. Os pacientes que participaram
são associadas com risco reduzido de DAC,285-287 sendo sua da fase de extensão receberam quatro infusões semanais de
inibição considerada novo alvo terapêutico. sebelipase alfa e foram transicionados para infusões a cada

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Diretrizes

2 semanas em longo prazo nas doses de 1 ou 3 mg/kg. Após As dislipidemias poligênicas apresentam as seguintes
78 semanas de tratamento, as enzimas hepáticas continuaram características: são pacientes geneticamente suscetíveis, ainda
caindo a níveis mais baixos do que no período basal, os níveis que com ou sem expressão clínica do fenótipo; são alterações
de LDL-c e TG reduziram-se em 52 e 40%, respectivamente, e moderadas a graves do perfil lipídico, não explicadas
houve aumento de HDL-c em 37%, embora alguns pacientes somente por causa secundária; são indivíduos com menor
estivessem em uso de estatinas. O monitoramento da resposta suscetibilidade, mas, se expostos intensamente a fatores
ao tratamento deve ser feito com exames laboratoriais, secundários, desenvolvem franca dislipidemia; são indivíduos
incluindo função hepática, perfil lipídico e avaliação do risco que, apesar da elevada suscetibilidade genética, mas com
cardiovascular. Exames de imagem hepática para quantificar
hábitos de vida saudáveis (que incluem dieta, atividade física
o conteúdo de gordura, fibrose e complicações, como a
e alimentação adequada), terão o risco minimizado de evoluir
hipertensão portal, são recomendados.294
com dislipidemia; o diagnóstico genético das dislipidemias
poligênicas por meio do escore genético de SNP não é
9. Formas Genéticas de Dislipidemias indicado, pois não altera o tratamento; o rastreamento do
Avanços no conhecimento do metabolismo lipídico perfil lipídico deve ser feito nos parentes de primeiro grau
delinearam as bases genéticas das dislipidemias, com dos pacientes com dislipidemia poligênica; como alguns SNP
implicações diagnósticas e terapêuticas. Técnicas de tendem a permanecer segregados dentro de determinadas
sequenciamento de DNA identificaram mutações em famílias, indivíduos com dislipidemia poligênica devem ter
vários genes, causadoras das alterações observadas no
seus familiares identificados e tratados corretamente.299,300
perfil lipídico.295
Estudos em famílias com alterações lipídicas extremas
9.2. Dislipidemias monogênicas
(geralmente monogênicas) identificaram os genes com
papel principal no metabolismo lipídico. Por resultarem em As dislipidemias monogênicas apresentam as seguintes
alterações presentes desde o nascimento, estes genes se características: alterações mais graves do perfil lipídico; histórico
associam à aterosclerose e ao risco cardiovascular aumentado. familiar de dislipidemia e/ou aterosclerose precoce; idade de
Atualmente, mais de 20 síndromes genéticas monogênicas apresentação da dislipidemia (infância ou adolescência);
já foram descritas, de ocorrência rara, com padrão de presença de sinais e sintomas determinados por alterações
transmissão dominante ou recessivo, ao passo que as lipídicas extremas, muitos dos quais patognomônicos de
poligênicas são bem mais frequentes, sem padrão definido algumas formas monogênicas; ausência de fatores secundários
de herdabilidade.295 que justifiquem a presença de alterações lipídicas importantes
O conhecimento das dislipidemias genéticas é importante, ou em idades precoces.
pois, apesar de menos frequentes que as dislipidemias Em indivíduos com dislipidemia grave, a probabilidade de
secundárias, em algum momento o médico depara com um uma causa monogênica não é absoluta. Muitos resultam de
paciente portador de uma dislipidemia genética, o que pode acentuada suscetibilidade genética interagindo com fatores
ser um desafio diagnóstico e terapêutico. secundários. Estes casos não apresentam os critérios listados
Essa diretriz tem como objetivo sistematizar a avaliação anteriormente, exceto o perfil lipídico muito alterado. Nestes
inicial do paciente portador de uma dislipidemia genética, pacientes, o tratamento é mais fácil, com resposta terapêutica
além de explorar as dislipidemias genéticas mais prevalentes, eficaz, pois os fatores secundários, apesar de exacerbarem em
nos seus vários aspectos. muito a dislipidemia, quando eliminados, podem normalizar
Quando o médico deve suspeitar de uma dislipidemia os níveis lipídicos.295,298,299
genética? Sempre que o paciente apresentar uma dislipidemia, O diagnóstico das dislipidemias genéticas monogênicas
deve-se considerar as causas primárias (genéticas) e as é clínico, mas a determinação da mutação, pela análise de
secundárias. A distinção entre ambas não é tão fácil, uma vez
DNA, pode ser útil para um diagnóstico preciso. A análise
que a maioria das dislipidemias é poligênica, resultante da
de DNA é considerada parte dos critérios diagnósticos
combinação de fatores genéticos e não genéticos. Na presença
de algumas dislipidemias monogênicas. No entanto, a
de alterações moderadas do perfil lipídico e descartadas as
causas secundárias, considerar as dislipidemias primárias determinação genética não tem impacto no tratamento e
poligênicas ou monogênicas.296,297 nem no prognóstico dos pacientes.

9.1. Dislipidemias poligênicas 9.2.1. Hipercolesterolemia familiar


As dislipidemias poligênicas são causadas pelo efeito A HF é uma doença hereditária autossômica dominante,
cumulativo de variantes genéticas denominadas polimorfismos caracterizada por concentrações de LDL-c plasmático
de um único nucleotídeo (SNP, sigla do inglês single nucleotide aumentadas e risco considerável de DAC precoce.295,301
polymorphism). Individualmente não alteram significativamente
Os valores de LDL-c elevados são a principal característica
o perfil lipídico, mas o efeito cumulativo dos SNP dentro do
da HF e resultam de mutações nos três genes que determinam
genoma é amplificado, resultando em dislipidemia clínica. Estas
variantes são segregadas em cromossomos independentes, sem as concentrações plasmáticas do LDL-c.64,71,83,87,302,303
padrões de transmissão mendeliana clássicas (transmissão dos A transmissão de um ou dois alelos condiciona dois
caracteres de pai para filho).295,298 fenótipos clínicos: HeHF e a HoHF.302

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Diretrizes

9.2.1.1. Hipercolesterolemia familiar heterozigótica 9.2.1.1.3. Rastreamento universal


Os valores de LDL-c considerados para o diagnóstico são Indivíduos acima dos 10 anos de idade devem ter a
acima de 190 mg/dL para adultos e acima de 160 mg/dL para análise do perfil lipídico; a partir dos 2 anos de idade, nas
crianças e adolescentes (< 20 anos). seguintes situações:
A prevalência varia entre 1/20043,304 a 1/500,299 dependendo • Histórico familiar de colesterol elevado e/ou de DAC
do critério diagnóstico, do efeito fundador do gene e da
prematura (homens < 55 anos ou mulheres < 65 anos).
origem étnica de cada família.
• Se a criança apresentar xantomas, arco corneano, fatores
Na infância e adolescência os pacientes são assintomáticos.
As manifestações clínicas não são muito prevalentes nesta fase; de risco (hipertensão arterial, diabete melito, fumo ou
apenas a LDL é elevada. obesidade) ou doença aterosclerótica.
A aterosclerose subclínica, detectada pelo aumento do
espessamento médio intimal das carótidas, já é notada entre 9.2.1.1.4. Rastreamento em cascata
8 e 10 anos de idade, quando comparada a não portadores.
O rastreamento em cascata envolve a determinação do
A calcificação coronária é descrita em 25% de jovens HeHF.305
perfil lipídico em todos os parentes de primeiro grau (pai, mãe,
O diagnóstico de HeHF é baseado nos valores de LDL-c e irmãos e filhos) dos pacientes diagnosticados como portadores
no histórico familiar de DAC precoce (< 55 anos para homens
de HF. As chances de identificação de outros portadores de
e < 65 anos para mulheres).306
HF a partir de um caso-índice são de 50% nos familiares de
Alguns critérios diagnósticos têm sido propostos para primeiro grau, 25% nos de segundo grau e 12,5% nos de
uniformizar e formalizar o diagnóstico da HF, mas utilizamos
terceiro grau.
os da Dutch Lipid Clinic Network, conhecido como Dutch
MEDPED, conforme descrito no quadro 8. À medida que novos casos são identificados, novos
parentes são recomendados para o rastreamento.

9.2.1.1.1. Rastreamento
9.2.1.1.5. Rastreamento genético em cascata
9.2.1.1. 2. Rastreamento dos níveis lipídicos O rastreamento genético é custo-efetivo e pode ser
Como valores elevados de colesterol são um achado realizado em todos os pacientes e familiares em primeiro
diagnóstico, o rastreamento da população por meio da grau de pacientes com diagnóstico de HF. O rastreamento em
determinação do CT e LDL-c é de fundamental importância cascata mais custo-efetivo é o que utiliza informação genética
para aumentar o diagnóstico de casos de HF. Ele pode ser feito de indivíduos afetados, no qual uma mutação causadora da
pelo rastreamento universal e pelo rastreamento em cascata. doença tenha sido identificada.307,308

Quadro 8 – Critérios diagnósticos de hipercolesterolemia familiar (HF), baseados nos critérios da Dutch Lipid Clinic Network (Dutch MEDPED)
Parâmetro Pontos
Parente de primeiro grau portador de doença vascular/coronária prematura (homens < 55, mulheres < 60 anos)
1
OU

História familiar Parente adulto com colesterol total > 290 mg/dL* 1
Parente de primeiro grau portador de xantoma tendíneo e/ou arco corneano OU 2
Parente de primeiro grau < 16 anos com colesterol > 260 mg/dL* 2
Paciente portador de doença coronária prematura (homens < 55, mulheres < 60 anos) 2
História clínica
Paciente portador de doença cerebral ou periférica prematura (homens < 55, mulheres < 60 anos) 1
Xantoma tendíneo 6
Exame físico
Arco corneano < 45 anos 4
≥ 330 8
250-329 5
Nível de LDL-c (mg/dL)
190-249 3
155-189 1
Análise do DNA Presença de mutação funcional do gene do receptor de LDL, ApoB100 ou PCSK9* 8
Certeza se >8
Diagnóstico de HF Provável se 6-8
Possível se 3-5
* Modificado de Dutch Lipid Clinic Network adotando um critério do Simon Broome Register Group.

Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76 33


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Diretrizes

Recomendação: perfil lipídico em todos os indivíduos acima dos 10 anos de idade (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: C); perfil lipídico partir dos 2 anos
quando sinais clínicos de hipercolesterolemia familiar ou doença aterosclerótica, histórico familiar de doença arterial coronariana precoce e/ou dislipidemia (Grau de
Recomendação: I; Nível de Evidência: C); o perfil lipídico deve ser obtido em todos os parentes de primeiro grau dos indivíduos diagnosticados como portadores de
hipercolesterolemia familiar (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: C).

9.2.1.1.6. Prognóstico e estratificação de risco 9.2.1.1.7.1. Tratamento farmacológico


Não se utilizam os escores clínicos de risco tradicionais
Estatinas
(Framingham, dentre outros) na estratificação de risco desta
As estatinas de alta potência, como a atorvastatina (40 a
população. O critério utilizado encontra-se no quadro 9. Os
80 mg) e a rosuvastatina (20 a 40 mg), são a opção de escolha
fatores de risco na HF estão no quadro 10.43,309 para se obter redução de LDL-c ≥ a 50% a partir dos níveis
basais, sendo difícil alcançar tal meta com o uso isolado da
Apesar dos pacientes com HF serem considerados de alto
sinvastatina. Estatinas de menor potência, como fluvastatina,
risco, a chance de ocorrência de eventos cardiovasculares é pravastatina e lovastatina, geralmente são inapropriadas para
variável. Deve-se considerar a pesquisa de aterosclerose nos os portadores de HF.310
pacientes assintomáticos, por meio de teste ergométrico, Em pacientes intolerantes a doses elevadas de estatinas,
deve-se considerar reduzir a dose de estatina ou tentar outra
ecocardiograma (para avaliação da valva aórtica), escore de estatina, em combinação com outros hipolipemiantes, como
CAC, Doppler de carótidas e angio-CT de coronárias.309 ezetimiba, niacina ou colestiramina.

Quadro 9 – Estratificação de risco na hipercolesterolemia familiar, baseada na Dutch Lipid Clinic Network (Dutch MEDPED), adotando um critério
presente na proposta do Simon Broome Register Group
Doença coronariana ou cardiovascular História prévia de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, doença arterial periférica, revascularização
estabelecida miocárdica, angina estável ou instável, ataque isquêmico transitório e estenose
Tabagistas
Paciente portador de doença coronária prematura (homens < 55, mulheres < 60 anos)
História clínica
Paciente portador de doença cerebral ou periférica prematura (homens < 55, mulheres < 60 anos)
Diabete melito
Parentes de primeiro ou segundo graus com início da doença antes dos 45 anos no sexo masculino e antes dos
História familiar de doença coronária prematura
65 anos no sexo feminino
Dois ou mais fatores do risco Quadro 10
Fonte – modificado da Dutch Lipid Clinic Network (Dutch MEDPED).

Quadro 10 – Fatores de risco em indivíduos com hipercolesterolemia familiar


Fatores de risco Se mais de 2 fatores de risco estiverem presentes, recomenda-se intensificar o tratamento
Homem com mais de 30 anos
Idade
Mulher com mais de 40 anos
LDL-c basal > 250 mg/dL
Sexo Sexo masculino
Tabagismo Tabagismo atual
Parentes de primeiro grau:
História familiar de doença coronária prematura Homem < 55 anos
Mulher < 65 anos
Síndrome metabólica Considerar os critérios da IDF
HDL-c < 40 mg/dL para homens e
HDL-c baixo
< 50 mg/dL para mulheres
Hipertensão arterial sistêmica PA ≥ 140 x 90 mmHg ou tratamento medicamentoso de HAS
Aumento da lipoproteína (a) Níveis ≥ 60 mg/dL
Exame físico Xantoma de tendão
IDF: International Diabetes Federation; HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade; PA: pressão arterial; HAS: hipertensão arterial sistêmica.

34 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76


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Diretrizes

Recomendação: Pacientes portadores de hipercolesterolemia familiar devem ter reduções de pelo menos 50% no colesterol da lipoproteína de baixa densidade (Grau de
Recomendação: I; Nível de Evidência: A). Reduções maiores podem ser necessárias dependendo dos valores do colesterol da lipoproteína de baixa densidade e do risco
de eventos cardiovasculares (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: B).

Para pacientes que não podem usar estatina, está indicada avaliada em seu diâmetro por ultrasonografia abdominal ou
a terapia combinada de niacina, ezetimiba e/ou colestiramina. ressonância magnética. A avaliação funcional de insuficiência
Fibratos estão indicados nos pacientes com hipertrigliceridemia coronária é feita por teste ergométrico, medicina nuclear ou
associada. Inibidores de PCSK-9 podem ser considerados em ecocardiografia de estresse, dependendo da idade.315
associação a outros agentes hipolipemiantes ou, de forma isolada,
nos intolerantes às estatinas, quando não forem atingidas as metas
9.2.2.4. Tratamento
preconizadas para o risco cardiovascular.cardiovascular.311,312
A terapia farmacológica é a base para o tratamento da
HFHo. As estatinas são os medicamentos de primeira escolha
9.2.2. Hipercolesterolemia familiar homozigótica e que reduzem, em média, os valores de LDL-c entre 10 a
Historicamente, a prevalência da HoHF é muito rara, 25%, com diminuição de eventos cardiovasculares e aumento
estimada em 1/1 milhão na população ao redor do mundo. de sobrevida desta população.317 A associação com ezetimiba
Atualmente, são registradas prevalências maiores do que as pode elevar a redução dos valores de LDL-c em 40%.
inferidas em uma população geral, que variam de 1 em 160 Outros hipolipemiantes podem ser associados para reduções
mil a 300 mil.313 adicionais nos valores do LDL-c, como resinas de troca e ácido
nicotínico. Nos Estados Unidos, o mipomersen e a lomitapida
foram aprovados para a HFHo como terapia adjuvante aos
9.2.2.1. Diagnóstico medicamentos clássicos.277,281 A aférese de lipoproteínas tem
Os critérios diagnósticos de HFHo são apresentados no indicação para os casos refratários. Em 2015, os medicamentos
quadro 11. evolocumabe e alirocumabe, anticorpos monoclonais contra
a PCSK9, foram aprovados nos Estados Unidos e Europa e,
em 2016, no Brasil, para tratamento da HF. O medicamento
9.2.2.2. História natural
evolocumabe foi testado na HFHo no estudo Tesla B, com
HoHF é caracterizada por níveis muito elevados de LDL-c redução adicional de LDL-c de 21,3%, não sendo efetivo nas
e aterosclerose presente na primeira infância, que envolve formas homozigóticas, em que o receptor é negativo ou nulo.318
arco aórtico, região supra-aórtica, válvula aórtica e óstio de
A terapêutica cirúrgica é estabelecida conforme o
coronárias. Isto resulta em pacientes com angina pectoris, infarto acometimento cardíaco. A cirurgia de revascularização
do miocárdio e morte súbita antes dos 30 anos de idade.313-315 miocárdica está indicada na presença de DAC grave, bem
como a correção de estenose aórtica com troca valvar por
9.2.2.3. Avaliação clínica prótese biológica ou metálica. O arco aórtico pode apresentar
Além do perfil lipídico, deve ser realizada a determinação placas ateroscleróticas difusas e calcificadas, além de estenose
supra-aórtica, de modo que podem ser necessárias cirurgias
das concentrações de Lp(a), que, quando elevada, pode
como reconstrução do arco aórtico e troca valvar.319 Após
indicar maior risco cardiovascular.69
a cirurgia, deve ser priorizada a otimização terapêutica,
Os testes de imagem devem incluir a visualização do arco incluindo hipolipemiantes, antiplaquetários e prevenção
aórtico e da região supravalvar e valvar aórtica, avaliação de endocardite, no caso de próteses valvares. A avaliação
anatômica e funcional do coração. O exame inicial deve cardiovascular é sempre necessária, mesmo após as cirurgias
ser o ecocardiograma transtorácico, que deve ser repetido de correção previamente citadas, pois outras intervenções ou
anualmente para monitoramento das lesões calcificadas reintervenções não são descartadas no futuro.
valvares e das alterações de motilidade da parede do ventrículo
esquerdo.315 A angio-CT de coronárias pode ser realizada a
cada 5 anos, ou de acordo com a demanda do paciente, em 9.2.3. Hipertrigliceridemias graves
escâner preferencialmente com 320 detectores, o que evita Os níveis de TG plasmáticos são biomarcadores das
exposição a um excesso de radiação.316 A aorta torácica pode lipoproteínas ricas em TG circulantes e de seus remanescentes.
ser avaliada por ressonância magnética ou eco transesofágico, A hipertrigliceridemia é um achado frequente na cardiologia
no caso da aorta proximal. A aorta abdominal pode ser clínica, mas as formas graves necessitam ser reconhecidas,

Quadro 11 – Critérios diagnósticos na hipercolesterolemia familiar (HF) homozigótica


1. Confirmação genética de dois alelos mutantes nos genes LDLR, APOB, PSCK9, ou no lócus do gene LDLRAP1 OU
2. LDL-c sem tratamento > 500 mg/dL ou LDL-c tratada > 300 mg/dL mais algum dos seguintes critérios:
Xantomas cutâneos ou tendinosos antes dos 10 anos OU
3. Valores de LDL-c elevados consistente com HF heterozigótica em ambos os pais*
Os valores de LDL-c acima são apenas indicativos de HF homozigótica, mas devem-se considerar valores menores para o diagnóstico de homozigóticos, na presença
de outros critérios. * Exceto no caso de hipercolesterolemia autossômica recessiva. LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade.

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pois causam risco aumentado de pancreatite. Afastadas as Um tipo de hipertrigliceridemia é de fato monogênica:
causas secundárias, como hipotireoidismo, diabetes melito a chamada quilomicronemia familiar, ou tipo 1, que se
descompensado, nefropatia crônica, etilismo e medicações, caracteriza pela persistência de quilomícrons elevados após
deve-se considerar etiologia genética e de caráter familiar. jejum de 12 a 14 horas. Os níveis de TG são em geral acima
de 1.000 mg/dL, e a condição se manifesta na infância ou
As hipertrigliceridemias primárias leves e moderadas são
na adolescência.321 Sabe-se que, na forma monogênica de
tipicamente poligênicas e resultam do efeito cumulativo de
hipertrigliceridemia, cinco genes são responsáveis por causar
variantes genéticas comuns ou raras em mais de 30 genes.
as alterações lipídicas. Três deles afetam a atividade da LPL,
No entanto, existem formas graves de hipertrigliceridemias
enquanto outros dois afetam a montagem e o transporte da
primárias, de apresentação muito rara, com modo de
LPL (Quadro 13). Entre os genes que afetam a função da LPL,
herança autossômico recessivo. 295,320 Fenotipicamente, estão defeitos no gene LPL, em seu cofator, APOC-II, ou no
as hipertrigliceridemias são classificadas de acordo gene APOAV, embora o mecanismo da hipertrigliceridemia
com a anormalidade lipoproteica primária (Quadro não seja bem compreendido nesta situação; os outros dois
12) em hiperlipidemia familiar combinada (tipo 2b), genes, o Fator de Maturação de Lípase-1 (LMF-1) e a Glycosyl-
disbetalipoproteinemia (tipo 3), hipertrigliceridemia primária Phosfatidylinositol-Anchored HDL-Binding Protein (GPIHBP-1),
simples (tipo 4) e hipertrigliceridemia primária mista (tipo 5) e afetam a montagem e o transporte da LPL.75, 76,320,321 Porém, em
que têm uma base genética multigênica ou poligênica, sendo cerca de 30% das quilomicronemias, não foram encontradas
consequentes a efeitos aditivos de múltiplos alelos321 e de mutações em nenhum destes genes, sugerindo que outros
interação com fatores ambientais. possam causar este fenótipo.

Quadro 12 – Classificação das hipertrigliceridemias genéticas, de acordo com a anormalidade lipoproteica primária
Anormalidade lipoproteica
Tipo Perfil lipídico Manifestação clínica Prevalência populacional
primária
Xantomas eruptivos, lipemia
retinalis, dores abdominais
Quilomicronemia familiar Aumento de TG+++
QM elevados recorrentes, pancreatite, 1:1 milhão
(tipo 1) Aumento de CT+
hepatoesplenomegalia e
sintomas neurológicos focais
Hiperlipidemia familiar VLDL elevada Aumento de TG++ Achados de xantomas ou
1:40
combinada (tipo 2b) LDL elevada Aumento de CT++ xantelasmas são incomuns
IDL elevada Xantomas tuberosos e
Aumento de TG++
Disbetalipoproteinemia (tipo 3) Remanescentes de QM palmares, e risco aumentado 1:10 mil
Aumento de CT++
elevados de DAC
Risco aumentado de DAC,
Hipertrigliceridemia primária Aumento de TG++ DM, obesidade, hipertensão,
VLDL elevada 1:20
simples (tipo 4) Aumento de CT+ hiperuricemia e resistência à
insulina
Semelhante ao tipo 1, mas
Hipertrigliceridemia primária QM elevados Aumento de TG+++ surge na vida adulta e é
1:600
mista (tipo 5) VLDL elevado Aumento de CT+++ exacerbada por fatores
secundários
QM: quilomícrons; TG: triglicerídeo; CT: colesterol total; VLDL: lipoproteína de densidade muito baixa; IDL: lipoproteína de densidade intermediária; DAC: doença
arterial coronariana; DM: diabetes melito. Fonte: Adaptado de Hegele et al.320

Quadro 13 – Genes associados às formas recessivas de quilomicronemia familiar


Gene Prevalência da doença Idade de aparecimento Base genética
Atividade do LPL muito reduzida ou
LPL 1:1 milhão Infância ou adolescência
ausente
ApoC-II Mais de 20 famílias descritas Adolescência ou vida adulta ApoC-II não funcionante ou ausente
GPIHBP1 Mais de 5 famílias descritas Vida adulta Deficiência ou ausência de GPIHBP1
ApoA-V Mais de 5 famílias descritas Vida adulta Deficiência ou ausência de ApoA-V
LMF-1 Mais de 5 famílias descritas Vida adulta Deficiência ou ausência de LMF1
LPL: lipoproteína lípase; ApoC-II: apolipoproteína C-II; GPIHBP1: Glycosyl-Phosfatidylinositol-Anchored HDL-Binding Protein; ApoA-V: apolipoproteína A-V; LMF-1:
fator de maturação de lípase-1. Fonte: Adaptado de Hegele et al.320

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Sob o aspecto clínico, as hipertrigliceridemias podem álcool e o uso de fibratos, isolados ou associados a ácidos
se acompanhar de xantomas eruptivos, lipemia retinalis, graxos, como ômega 3 (~ 4 g ao dia de EPA/DHA marinho),
pancreatite ou dores abdominais recorrentes. Na e a ácido nicotínico (500 mg a 2,0 g ao dia).320 No entanto,
disbetalipoproteinemia são característicos os xantomas algumas formas genéticas, que incluem as quilomicronemias
túbero-eruptivos. O aspecto do plasma deixado em geladeira familiares, são pouco responsivas à associação de fármacos.
por 24 horas é outro achado nas hipertrigliceridemias. É Novas terapêuticas para estas formas graves estão sendo
turvo nas hipertrigliceridemias, podendo apresentar camada testadas e são discutidas em capítulo específico. A presença
cremosa quando os quilomícrons estiverem presentes, ou de dores abdominais ou de pancreatite requer hospitalização,
mesmo apresentar duas fases, com turbidez e camada interrupção da alimentação por via oral, plasmaferese (se
cremosa em presença de quilomícrons e TG aumentados. disponível) e medidas de suporte que incluem reposição de
Nas formas genéticas graves, como na quilomicronemia fluidos e tratamento dos fatores desencadeantes (por exemplo,
familiar, dores abdominais recorrentes e pancreatites são o diabetes).
achados frequentes.
As formas monogênicas recessivas de hipertrigliceridemia 9.2.4. Hipoalfalipoproteinemias
(tipo 1) são muito raras (um caso para 1 milhão de indivíduos)
A relação inversa entre as concentrações de HDL-c e o
e caracterizam a quilomicronemia familiar. Os genes
associados a esta condição caracterizam-se por ausência ou risco cardiovascular está bem estabelecida. Esta associação
atividade muito reduzida da LPL (mutações no gene LPL), é independente dos valores de LDL-c. Entretanto, valores
com manifestações na infância ou adolescência; ausência baixos de HDL-c são, na maioria das vezes, associados a
da ApoC-II ou ApoC-II não funcionante (mutações no gene causas secundárias, como hipertrigliceridemia e/ou taxas
ApoC-II), com manifestações na adolescência ou na vida elevadas de ApoB. Este perfil metabólico, muito prevalente
adulta; deficiência ou ausência de GPIHBP1; deficiência ou na prática clínica, é secundário à obesidade e ao diabetes
ausência de ApoA-V, ou do LMF-1, todos com manifestações melito. Em contrapartida, pacientes com HDL-c muito baixo
na vida adulta. A confirmação diagnóstica se dá pelo teste de (< 20mg/dL) isolado, na ausência de hipertrigliceridemia ou
atividade da lipase pós-heparina reduzida. outras causas secundárias, são infrequentes. Estes indivíduos
têm reduções extremas de HDL-c de causa genética,
característico das dislipidemias monogênicas, que incluem
9.2.3.1. Tratamento das hipertrigliceridemias graves hipoalfalipoproteinemia familiar, doença de Tangier e
O tratamento das hipertrigliceridemias tem dois objetivos: deficiência de LCAT. O quadro 14 mostra as características
a redução imediata do risco de pancreatite em pacientes com de cada doença.
hipertrigliceridemias graves (> 1000 mg/dL) e a diminuição
do risco cardiovascular global. Como as hipertrigliceridemias 9.2.4.1. Hipoalfalipoproteinemia
caracterizam-se por concentrações aumentadas de
lipoproteínas remanescentes ricas em TG, as concentrações A hipoalfalipoproteinemia familiar é uma doença
de não HDL-c são alvos terapêuticos secundários no relativamente comum e frequentemente associada à diminuição
tratamento das hipertrigliceridemias, após o LDL-c.43 Nas da produção de ApoA-I ou ao aumento de seu catabolismo.
hipertrigliceridemias leves a moderadas (TG < 500 mg/dL), se Os genes afetados envolvem ApoA-I, ApoC-III ou ApoA-IV.
após mudanças de estilo de vida níveis de TG permanecerem Indivíduos com deficiência familiar de ApoA-I causadas por
entre 200 e 499 mg/dL, pode-se utilizar associação de estatina deleções do gene ApoA-I apresentam ApoA-I indetectável
com derivados do ácido fíbrico (excetuando-se a genfibrozila, e HDL-c muito baixo (inferior a 10 mg/dL). Na forma
pelo risco aumentado de rabdomiólise associada à estatina), heterozigótica, as reduções de HDL-c são menos intensas.323
especialmente em diabéticos.322 Os fibratos disponíveis e Clinicamente, podem apresentar opacidade da córnea,
que podem ser associados às estatinas são bezafibrato 200 xantomas e DAC prematura.323 O diagnóstico molecular pode
a 400 mg, fenofibrato 160 a 250 mg e ciprofibrato 100 mg. ser feito pela eletroforese das Apo no plasma e pela análise do
Uma metanálise de estudos com fibratos demonstrou que DNA, para determinar a mutação. Aumentar o HDL-c nesta
indivíduos com TG > 204 mg/dL e HDL-c < 34 mg/dL podem população é difícil. O tratamento deve ser direcionado em
se beneficiar da associação de fibrato e estatina, com 27% de reduzir as taxas do não HDL-c.
redução de desfechos cardiovasculares.322 É importante ressaltar que nem todas as mutações da
Para TG acima de 500 mg/dL após mudanças de estilo de ApoA-I aumentam o risco cardiovascular. Um exemplo é a
vida, os fibratos são a primeira opção. As hipertrigliceridemias ApoA-I Milano, mutação rara acompanhada de níveis baixos
graves, com concentrações de TG acima de 1.000 mg/dL, de HDL-c (geralmente 15 a 30 mg/dL), herdada como um
requerem medidas imediatas e redução intensa de TG, traço autossómico dominante, que está associada com um
para minimizar o risco de pancreatite, sendo indicada dieta risco diminuido de DAC prematura, apesar dos níveis baixos
restrita em gorduras e carboidratos simples, restrição de de HDL-c.

Recomendação: Quando os triglicérides forem muito elevados (> 500 mg/dL), os fibratos são recomendados inicialmente, junto das medidas não farmacológicas (Grau de
Recomendação: I; Nível de Evidência: A). Ácidos graxos ômega 3 e niacina podem ser associados para reduzir a trigliceridemia em casos graves (Grau de Recomendação:
IIa; Nível de Evidência: C).

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Quadro 14 – Causas genéticas de baixos níveis do colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-c)
Genes afetados Lipídios Quadro clínico
ApoA-I indetectável
Hipoalfalipoproteinemia ApoA-I/ApoC-III/ApoA-IV ↓↓↓ HDL Xantomas + DAC prematuros
TG e LDL normais
Hepatoesplenomegalia
Doença de Tangier ABCA-I HDL-c < 5 mg/dL apenas pré B1 Aumento das amígdalas
DAC prematura
HDL-c < 10 mg/dL
Opacidade da córnea
ApoA-I 20-30 mg/dL
Deficiência de LCAT Anemia normocrônica
LDL-c baixo
Doença renal crônica terminal
partículas LpX presentes
Apo: apolipoproteína; TG: triglicérides; DAC: doença arterial coronariana; LCAT: lecitina-colesterol aciltransferase.

9.2.4.2. Doença de Tangier Se os valores de HDL-c prévios já eram muito baixos,


A doença de Tangier é transmitida por herança autossômica pensar nas causas monogênicas ou primárias: história familiar
codominante, que ocasiona ausência completa ou deficiência detalhada e exame físico focado, com especial atenção
extrema de HDL-c e de ApoA-I. Estes pacientes apresentam para pele, olhos, amígdalas e baço. Nestes casos, os níveis
níveis de HDL-c inferiores a 5mg/dL e concentrações reduzidas plasmáticos de apoA-I devem ser obtidos.
de LDL-c. Doença rara que, clinicamente, exterioriza-se
pela presença de amígdalas aumentadas, com coloração
9.2.5. Deficiência de lipase ácida lisossomal
alaranjada, neuropatia periférica, hepatoesplenomegalia e
DAC prematura. A LAL-D é uma doença autossômica recessiva rara, do
grupo das doenças de depósito lisossômico, resultando em
É causada por mutações no gene ABCA1, que codifica
um importante acúmulo sistêmico lisossomal de ésteres de
o transportador ABCA1 da membrana. Este transportador
colesterol e TG.291,293 A LAL-D era anteriormente conhecida
desempenha papel fundamental no transporte reverso de
como doença de Wolman (em lactentes) e Doença do
colesterol, por meio do qual o efluxo de colesterol livre
Acúmulo dos Ésteres de Colesterol (CESD, sigla do inglês
das células periféricas é transferido para ApoA-I pobre em
lípides.324 Esta doença ainda não possui tratamento específico. Cholesteryl Ester Storage Disease), em crianças e adultos.
A LAL-D é causada por mutações no gene LIPA, no
cromossomo 10q23.2, o gene que codifica para a enzima
9.2.4.3. Deficiência familiar da lecitina-colesterol
lipase ácida lisossomal,291 com mais de 40 mutações com
Aciltransferase
perda de função identificadas até o momento,293 sendo as mais
É uma doença autossômica recessiva muito rara graves encontradas em lactentes.326 Em lactentes, a LAL-D é
caracterizada pela opacidade da córnea, anemia normocrômica rapidamente progressiva e fatal, com sintomas nas primeiras
e insuficiência renal em adultos jovens. semanas de vida, raramente sobrevivendo mais de 6 meses,326
Foram descritas duas formas genéticas de deficiência da e com uma média de idade de morte de 3,7 meses (intervalo:
LCAT.325 A primeira é a deficiência completa de LCAT, que 1,4 a 46,3 meses). Crianças e adultos, em geral, apresentam-se
se manifesta por anemia, proteinúria e insuficiência renal. com dislipidemia, hepatomegalia, elevação de transaminases
O diagnóstico pode ser feito com base nos resultados de hepáticas e esteatose microvesicular à biópsia.291 Lesão
quantificação de LCAT e pela atividade de esterificação hepática com progressão para fibrose e cirrose, e insuficiência
do colesterol no plasma em laboratórios especializados. O hepática ocorrem em grande proporção de pacientes.291
segundo tipo é a deficiência parcial (doença de olho de peixe). Elevação do LDL-c e diminuição das concentrações de
Clinicamente, expressa-se por opacificação progressiva da HDL-c são as alterações lipídicas mais comuns, podendo
córnea, níveis plasmáticos muito baixos de HDL-c (geralmente haver hipertrigliceridemia associada. A dislipidemia aparece
< 10 mg/dL) e hipertrigliceridemia variável. Não apresentam desde a infância, podendo se acompanhar de DCV e morte
risco aumentado de DAC. prematura.293,326,327 Estudos que avaliaram a expressão de LIPA
Como avaliar o paciente com níveis de HDL < 20 mg/dL? em macrófagos consideram que a LAL-D é um fator de risco
É importante saber como era o HDL-c prévio do paciente. independente para DAC, mas faltam estudos clínicos para
Se normal, excluir as causas secundárias que reduzem as avaliar o risco de DCV na LAL-D.
concentrações do HDL-c: hipertrigliceridemia; artefatos Como as manifestações de LAL-D são comuns em
secundários à paraproteinemia; medicamentos (tibolona, outras DCV, metabólicas e hepáticas, a LAL-D pode não ser
andrógenos em doses elevadas e reações idiossincráticas a reconhecida na prática clínica. Os diagnósticos diferenciais
fibratos e tiazolidinedionas); quedas súbitas de HDL-c (abaixo incluem HF, hiperlipidemia familiar combinada, esteato-
de 20 mg/dL) − excluir doença maligna oculta; e doença hepatite não alcoólica, doença do fígado gorduroso não
hepática grave ou sepse, além de queimaduras extensas. alcoólico e cirrose criptogênica.327-329

38 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76


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Possui uma prevalência estimada entre 1:130 mil a Disfunção hepática e dislipidemias são achados comuns
1:300 mil, mas esta pode ser muito maior em comunidades em todas as idades. Hepatomegalia e esplenomegalia são
com casamentos consanguíneos, como judeus Ashkenazi, encontradas em 90% das crianças e 74% dos adultos com
chegando a 1:4.200 na comunidade de Los Angeles.291,330 LAL-D.291 À biópsia são encontrados um fígado de coloração
Desde sua caracterização inicial, foi descoberto que CESD amarelo-alaranjado brilhante, e à histologia graus variáveis de
e doença de Wolman tinham a mesma base molecular, com fibrose portal e perilobular, intensa esteatose por acúmulo de
deficiência na enzima responsável pela hidrólise dos ésteres ésteres de colesterol e TG nos lisossomos dos hepatócitos.325
de colesterol e TG, da partícula de LDL em colesterol livre Achado característico é a presença de células de Kupffer muito
e ácidos graxos livres.331-333 Quando a lipase ácida lisossomal hipertrofiadas, macrófagos portais, cristais líquidos de ésteres
está deficiente ou ausente, os ésteres de colesterol e TG não de colesterol.328
são degradados e acumulam-se nos lisossomos. A escassez
No momento da suspeição clínica, um algoritmo
de colesterol intracelular leva à maior síntese endógena de
diagnóstico proposto por especialistas deve ser utilizado.
colesterol, mediada pela maior expressão de HMG-CoA
Este inclui os diagnósticos diferenciais com dislipidemias,
redutase, maior produção de ApoB e de VLDL, podendo
hepatopatias em crianças e adultos (Figura 3). A confirmação
explicar a dislipidemia na LAL-D.327 O acúmulo de ésteres
de colesterol no fígado leva à elevação persistente de diagnóstica (padrão ouro) é o teste enzimático de sangue para
transaminases hepáticas e à progressão da fibrose e cirrose, avaliar a atividade da lipase ácida lisossomal.337
mesmo com o uso de estatinas.334 Um novo método para detectar a atividade da lipase ácida
A idade do aparecimento dos sintomas e o ritmo de lisossomal em sangue seco foi desenvolvido. A atividade da
progressão variam de acordo com o tipo de mutação e o grau lipase ácida lisossomal é medida em spots de sangue seco
de atividade enzimática residual. Porém, outros fatores podem (DBS, do inglês dried blood spots), por método fluorimétrico.
contribuir para a progressão da doença.332,333 Em lactentes, Como as outras lipases podem interferir na medida da
a LAL-D se manifesta por hepatoesplenomegalia, vômitos e atividade da lipase ácida lisossomal, nos spots, sua atividade
diarreia, má absorção, hipodesenvolvimento, falência hepática é comparada em presença e na ausência de um inibidor
(devido à fibrose e à cirrose), acúmulo anormal de lípides específico da lipase ácida lisossomal, o Lalistat 2, sendo a
no baço, linfonodos, mucosa intestinal, endotélio vascular e diferença entre a atividade da lipase total e daquela medida
músculos esqueléticos, sendo observado em 50% dos lactentes em presença do Lalistat 2 atribuída à atividade da lipase ácida
calcificações nas glândulas adrenais. Nas crianças, o curso da lisossomal. A confirmação do tipo de mutação é feita pelo
doença é variável, com início dos sintomas aos cinco anos, sequenciamento genético do gene LIPA, sendo a mutação
podendo se manifestar em adultos após os 40 anos de idade. mais comum a E8SJM em homozigose.331

DIAGNÓSTICO DE LAL-D
DIAGNÓSTICO COM
DE LAL-D UM
COM TESTE
UM ENZIMÁTICO
TESTE ENZIMÁTICO DE SANGUE
DE SANGUE 296,337-339296,337-339

Figura 3 – Algoritmo diagnóstico da deficiência de lipase ácida lisossomal (LAL-D). LDL-c ≥130 mg/dL em pacientes que tomam medicamentos hipolipemiantes.
SNC: sistema nervoso central; NAFLD: fígado gorduroso não alcoólico; NASH: esteato-hepatite não alcoólica; ALT: alanina aminotransferase; LSN: limite superior da
normalidade; FHC: hiperlipidemia familiar combinada; HeFH: hipercolesterolemia familiar heterozigótica; LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade; HDL-c:
colesterol da lipoproteína de alta densidade. Fonte: Adaptado de Reiner et al, Hamilton et al, Roberts et al, Manolaki et al.293,337-339

Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76 39


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Diretrizes

10. Dislipidemias em Situações Especiais e No que diz respeito à terapia não farmacológica, a
Formas Secundárias orientação deve obedecer aos princípios de indicação
semelhantes aos dos adultos jovens, observando com cuidado
10.1. Idosos as necessidades de aporte calórico, proteico e vitamínico,
com recomendação da prática de atividade física (Grau de
A decisão do tratamento dos idosos com dislipidemia
Recomendação: I; Nível de Evidência: B), reiterar o abandono
continua um dilema na prática clínica. Esta população
do vício de fumar e a ingestão de bebidas alcoólicas. Não
apresenta particularidades importantes, como farmacocinética
havendo resposta em 90 dias e dependendo do risco
dos medicamentos, etiologia das dislipidemias, falta de
cardiovascular, as estatinas constituem os fármacos de escolha
evidência de benefícios clínicos em determinadas faixas etárias
nesta população.
e elevada prevalência de aterosclerose subclínica em adultos
com mais de 65 anos de idade. O Cardiovascular Health Study Alguns cuidados são necessários nesta população, pelo
(CHS) encontrou aterosclerose clínica em mais do que 30% e risco aumentado de interação medicamentosa, devido à
aumentou ainda mais com o avanço da idade.340 coexistência de múltiplas comorbidades e à necessidade
O CT em geral é mais elevado até a sexta década de vida de polifarmácia.
e, depois, cai ligeiramente, com o avançar da idade. Apesar Na avaliação do benefício do tratamento com estatinas nos
disto, a prevalência de hipercolesterolemia ainda é alta nos idosos, é necessário compreender a diferença entre redução
idosos, principalmente no sexo feminino. Aproximadamente de risco relativo e absoluto.
25% dos homens e 42% das mulheres apresentam CT superior Esta distinção foi a chave para a compreensão dos achados
a 240 mg/dL.341 Dados do estudo de Framinghan confirmam a do Prospective Studies Collaboration, que combinaram os
maior prevalência de hipercolesterolemia em idosos do sexo resultados de 61 estudos prospectivos observacionais.110 Trata-
feminino e o declínio gradativo das taxas de colesterol com se de uma grande base de dados, que relacionou o CT com a
o envelhecimento.342,343 mortalidade vascular em quase 900 mil indivíduos sem história
Outro fato relevante na hiperlipidemia do idoso é que de doença vascular, entre as idades de 40 e 89 anos. A taxa
raramente ocorrem grandes elevações de CT, TG e LDL-c, de risco para a morte por DAC, com redução de 1 mmol/L no
características das dislipidemias de caráter genético, sendo, CT, variou muito com a idade. Foi menor na quinta década
em geral, elevações discretas a moderadas. Além disso, são (40-49 anos; HR = 0,44) e aumentou progressivamente até
frequentes as dislipidemias secundárias a hipotireoidismo, a nona década (80-89 anos; HR = 0,85). Em outras palavras,
diabetes melito, intolerância à glicose, obesidade, síndrome o CT parece ser um fator de risco muito mais potente para a
nefrótica e uso de medicamentos, como diuréticos tiazidicos morte por DAC nos mais jovens do que nos mais velhos (risco
e bloqueadores beta-adrenérgicos não seletivos. relativo). No entanto, a incidência de mortes por DAC foi
Altos níveis de colesterol se associam a risco aumentado menor na quinta década (38/105 pessoas-ano) e aumentou
de DAC em adultos de meia idade e pacientes no início da progressivamente até 2.534/105 pessoas-ano na nona década
terceira idade. No entanto, esta associação fica enfraquecida (risco absoluto). A partir destes achados, estimou-se que a
com o progredir da idade e pode até ser invertida − fato redução de 1 mmol/L no CT estaria associada ao aumento
denominado “paradoxo do colesterol”.344 A queda dos níveis de sobrevida de 21/105 pessoas-ano na quinta década,
de colesterol, que ocorre com o aumento da idade, pode ser aumentando progressivamente para 380/105 pessoas-ano
consequência de fragilidade ou presença de comorbidades, na nona década.
como o câncer. Assim, um aparente aumento na mortalidade O PROSPER (PROspective Study of Pravastatin in the Elderly
associada a baixos níveis de colesterol em idosos pode estar
at Risk) foi o único estudo prospectivo que avaliou o impacto
relacionado a vários fatores, como alterações no metabolismo
da redução do colesterol com estatinas em idosos. Foi um
do colesterol, desnutrição, fragilidade e doenças crônicas que
estudo randomizado, duplo-cego, controlado com placebo
levam à redução simultaneamente do colesterol e do risco
em pacientes de ambos os sexos, de 70 a 82 anos de idade,
aumentado de morte.345
que demonstrou em pacientes de alto risco cardiovascular
Apesar do papel das dislipidemias na patogênese da (DCV preexistente ou em alto risco) que a pravastatina na dose
aterosclerose e da DAC ter sido amplamente demonstrado de 40 mg/dia, em seguimento médio de 3,2 anos, reduziu a
em estudos observacionais e experimentais, estas evidências mortalidade coronária em 24%.348
foram inicialmente demonstradas em estudos que envolviam
O estudo HPS (Heart Protection Study) também envolveu
apenas indivíduos de meia-idade.346 No entanto, resultados
de estudos posteriores forneceram informações importantes, um grande número de indivíduos acima de 65 anos de idade
que podem auxiliar na decisão de tratar também a população e demonstrou redução significativa de eventos coronários e
de idosos.347 Vale ressaltar que, no idoso, o tratamento da cerebrovasculares em pacientes que tomaram sinvastatina
dislipidemia deve considerar o estado geral e mental do 40 mg/dia.349
paciente, as condições socioeconômicas, o apoio familiar, as A metanálise do CTT (Cholesterol Treatment Trialists)
comorbidades presentes e os outros fármacos em uso, que demonstrou redução do risco relativo significativa de 16%
podem interagir com os hipolipemiantes e, assim, influenciar de eventos vasculares em pacientes com idade acima de
na adesão e na manutenção da terapêutica. 75 anos recebendo terapia com estatina.112

40 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76


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Recomendação: o tratamento da dislipidemia no idoso até os 75 anos de idade deve seguir as mesmas orientações do não idoso (Grau de Recomendação: I; Nível de
Evidência: A). Após os 75 anos, as doses de hipolipemiantes devem ser individualizadas de acordo com a presença de comorbidades, a expectativa de vida e o uso de
polifarmácia (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: B).

10.2. Crianças e adolescentes Devemos triar o perfil lipídico em criança entre 2 e 10 anos,
Estudos brasileiros populacionais demonstram, segundo quando elas:355 têm pais ou avós com história de doença arterial
região e critério, prevalências de 10 a 23,5% de dislipidemias isquêmica precoce (Quadro 15); têm pais com CT superior a
em crianças e adolescentes.350-352 Isto é de grande importância, 240 mg/dL; apresentam outras doenças ou fatores de risco para
pois a infância é cada vez mais considerada a fase estratégica aterosclerose (Quadro 16); são portadoras de doenças que
na prevenção da aterosclerose em nível populacional, na cursam com dislipidemia (Quadro 15); utilizam medicamentos
medida em que os hábitos de vida (causas importantes da que alteram o perfil lipídico (Quadro 15); possuem manifestações
modulação do risco cardiovascular) são formados nesta fase. clínicas de dislipidemias (xantomas, xantelasma, arco corneal,
Estudos longitudinais têm demonstrado que intervenções em dores abdominais recorrentes e pancreatite) (Grau de
crianças são efetivas na prevenção da DCV em adultos.353,354 Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C).
Toda a criança deve ter calculado o não HDL-c entre 9
e 11 anos e entre 17 e 21 anos. Não há a necessidade de
10.2.1. Classificação e estratificação de risco
jejum. Se anormal, deve ser repetido o perfil lipídico entre 2
As principais causas de dislipidemia na infância e na semanas e 3 meses. No caso de suspeita de dislipidemia de
adolescência podem ser classificadas como descrito no quadro caráter genético, indica-se a determinação do perfil lipídico:
15. Para fins de planejamento de monitorização e tratamento, CT, LDL-c, HDL-c e TG (Grau de Recomendação: IIa; Nível
deve-se fazer a estratificação de risco cardiovascular desde a de Evidência: B).356,357
infância, pois a precocidade e a intensidade do tratamento
variam segundo sua classificação, assim como as metas de LDL-c.
As doenças e os fatores de risco associados com a aterosclerose 10.2.3. Valores de referência
na infância e na adolescência estão descritos no quadro 16.205 Os valores de referência para lípides e lipoproteínas em
crianças e adolescentes, com e sem jejum, estão descritos na
tabela 8 (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C):205,358
10.2.2. Triagem
A dosagem sérica do perfil lipídico de crianças deve
ocorrer a partir dos 2 anos de idade, pois, até esta idade, há a 10.2.4. Tratamento
necessidade de maior ingestão de gorduras para a mielinização. Na maioria dos casos, a dislipidemia é decorrente de
Antes disto, os casos devem ser analisados individualmente, maus hábitos de vida: dieta rica em gorduras saturadas ou
segundo doenças concomitantes, terapêuticas e história trans e sedentarismo. A obesidade exerce também um efeito
familiar (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). metabólico desfavorável, com o aumento de triglicerídeos e

Quadro 15 – Classificação das principais causas de dislipidemia na infância e adolescência


Causas Exemplos
Ácido valproico, betabloqueador, anticoncepcionais, corticoesteroides, nutrição parenteral, amiodarona, isotretinoína e
Relacionadas a medicações
antipsicóticos
Relacionadas a hábitos de vida Dieta inadequada, sedentarismo, tabagismo e álcool
Causas genéticas Hipercolesterolemia familiar, hiperlipidemia combinada familiar, hipertrigliceridemia severa familiar
Síndrome da imunodeficiência humana, colestases crônicas, hipotireoidismo, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica,
Secundárias a condições médicas
obesidade, doenças inflamatórias crônicas, diabetes melito, doenças de depósito e lipodistrofias
Fonte: Adaptado de Expert Panel on Integrated Guidelines for Cardiovascular Health and Risk Reduction in Children and Adolescents: Summary Report.205

Quadro 16 – Condições clinicas e fatores de risco associados à aterosclerose desde a infância, segundo sua gravidade
Doenças de alto risco: diabete melito, doença renal crônica, transplante cardíaco ou renal e doença de Kawasaki com aneurismas
Doenças de moderado risco: doenças inflamatórias crônicas (incluindo doença de Kawasaki com regressão dos aneurismas), infecção pelo HIV, história familiar de
doença arterial isquêmica precoce (homens com menos de 55 anos e, em mulheres, com menos de 65 anos)
Fatores de alto risco: hipertensão arterial (acima do 99o percentil + 5 mmHg) em uso de medicação, tabagismo, obesidade (acima do 97o percentil)
Fatores de moderado risco: hipertensão sem necessidade de medicação, obesidade (entre o 95o e 97o percentil), HDL inferior a 40 mg/dL
Fonte: Adaptado de Expert panel on integrated guidelines for cardiovascular health and risk reduction in children and adolescents: summary report.205

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Tabela 8 – Valores de referência para lípides e lipoproteínas em crianças e adolescentes (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C)
Lípides Com jejum (mg/dL) Sem jejum (mg/dL)
Colesterol total < 170 < 170
HDL-c > 45 > 45
Triglicérides (0-9 anos) < 75 < 85
Triglicérides (10-19 anos) < 90 < 100
LDL-c < 110 < 110
Crianças e adolescentes com níveis de LDL-c acima de 250 mg/dL ou triglicerídeos acima de 500 mg/dL devem ser referenciados para um especialista em lipídios.
HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade; LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade. Fonte: adaptado de Expert panel on integrated guidelines
for cardiovascular health and risk reduction in children and adolescents: summary report e Steiner MJ et al.205,358

LDL-c, e a diminuição do HDL-c, além de alterar as subfrações A atividade física deve ser estimulada, tanto buscando
dos lípides, aumentando a concentração das frações um dia a dia ativo, quanto com atividades programadas
pró-aterogênicas.359 ou supervisionadas. Para tratamento de dislipidemia,
recomendam-se 60 minutos de atividade vigorosa por dia e
menos de 2 horas de atividades sedentárias de tela por dia.
10.2.5. Mudança do estilo de vida
Em nível populacional, deve-se recomendar o estímulo da
A dieta saudável em qualidade e quantidade para a idade prática da atividade recreativa, não estruturada. Quanto mais
é a base da prevenção da dislipidemia na infância, com variada e lúdica é esta atividade física, maior é a chance de
exceção dos casos de dislipidemias de caráter genético, que que esta prática se mantenha durante a adolescência e a vida
necessitam de abordagem específica. A alimentação deve adulta (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B).359
ser a mais variada possível, equilibrada em quantidades de
O controle de peso é importante estratégia no controle
proteínas, carboidratos e gorduras. Devem ser preferidas as
da dislipidemia de crianças e adolescentes, em nível
gorduras de origem vegetal naturais, monoinsaturadas ou poli-
populacional. Em obesos, há frequentemente a associação de
insaturadas (óleos vegetais e amêndoas); frituras, alimentos
outras comorbidades, como hipertensão arterial sistêmica e
industrializados ricos em gorduras trans e gorduras visíveis das
baixos níveis de HDL-c, o que diminui ainda mais as metas
carnes ou pele de aves devem ser evitados. Deve-se ainda
sugeridas de LDL-c. Idealmente deve-se instituir intensiva
estimular a ingestão de alimentos ricos em fibras insolúveis
modificação do estilo de vida, para atingir um índice de massa
(frutas, verduras, legumes e cereais integrais) e solúveis
corporal abaixo do 85o percentil (Grau de Recomendação:
(leguminosas, frutas ricas em pectina e cereais integrais). Para
I; Nível de Evidência: B).353
facilitar a orientação populacional, sugerem-se utilizar, sempre
que possível, cereais integrais e ao menos cinco porções diárias
de frutas ou verduras (Grau de Recomendação: Iia; Nível de 10.2.6. Terapia medicamentosa
Evidência: B).359 A terapia hipolipemiante deve ser iniciada após pelo menos
O tratamento dietético nutricional nas crianças com 6 meses de intensiva modificação de estilo de vida. O quadro
hipercolesterolemia deve seguir os mesmos parâmetros 18 descreve as doses utilizadas na infância e na adolescência
dos adultos. (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).
Nas crianças com altos níveis de triglicerídeos, recomendam- Os medicamentos mais utilizados são:197
se a redução da ingestão de todos os tipos de gorduras (a • Estatinas: é o medicamento mais frequentemente
menos de 20% do volume calórico total em alguns casos) e utilizado. Antes de sua utilização, devem ser instituídos
o aumento da ingestão de peixe e outros alimentos ricos em pelo menos 6 meses de intensivas mudanças de estilo
ômega 3. Quando a manifestação da hipertrigliceridemia de vida (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência:
grave se faz no recém-nascido, são necessárias fórmulas lácteas A). Deve ser iniciado idealmente acima de 10 anos (em
pobres em gorduras e enriquecidas com ômega 3 e TG de casos especiais, acima de 7 anos), estádio II de Tanner em
cadeia média − fórmulas estas ainda não comercializadas meninos ou menarca nas meninas. A meta de tratamento é
no Brasil. Recomenda-se, nestes casos, que este bebê seja abaixo de 135 mg/dL para crianças e adolescentes (Grau de
referenciado a um especialista (Grau de Recomendação: IIa; Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A).361,362 Os níveis
Nível de Evidência: C)356,360 de LDL para início da administração, assim como suas
Quando há a necessidade de prescrição de dieta pobre metas, variam segundo a gravidade das condições clínicas
em lipídios, a criança ou o adolescente deve idealmente ser ou fatores de risco (Quadro 17). As doses usualmente
acompanhado por um nutricionista ou nutrólogo, pelo risco utilizadas dos hipolipemiantes em crianças e adolescentes
de comprometimento do crescimento ou do desenvolvimento. são descritas no quadro 18.

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Quadro 17 – Níveis do colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c)


Níveis de LDL-c (mg/dL) Estratificação de risco
> 190 Sem outro fator de risco
História familiar de doença arterial isquêmica precoce ou uma condição ou fator de alto risco
160 - 189
OU
Doença arterial coronariana clínica ou duas condições ou fatores de alto risco ou uma condição ou fator de alto risco + duas
130 - 159
condições ou fatores de moderado risco

• Inibidores da absorção do colesterol (ezetimiba): Quadro 18 – Doses de hipolipemiantes utilizadas em crianças e


recomenda-se seu uso como monoterapia a partir dos adolescentes (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B)
5 anos e, em associação com estatina, acima de 7 anos Fármaco Doses (mg/d)
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B).363
Lovastatina 10-40
• Sequestrantes dos ácidos biliares: podem ser utilizados
Pravastatina 10-40
em qualquer idade. Podem ser também utilizados de forma
associada com estatinas, em horários diferentes. Pelo risco Sinvastatina 10-40
de desnutrição relacionado às vitaminas lipossolúveis, Rosuvastatina 5-20
recomenda-se monitoração nutricional e suplementação, Atorvastatina 10-40
segundo critérios objetivos de deficiência (Grau de
Recomendação: I; Nível de Evidência: A).197 Colestiramina 4.000-16.000

• Suplementos: a suplementação de 1,2 a 1,5 g de fitosteróis Ezetimibe 10


pode diminuir os níveis de CT e LDL-c. Podem ser utilizados Bezafibrato 200
na forma de alimentos fortificados e cápsulas (Grau de Fenofibrato 200
Recomendação: I; Nível de Evidência: A).364
Ômega 3 2.000 a 4.000
• Óleos de peixe: a utilização de ômega 3 está indicada
Fitosteróis 1.200-1.500
quando os níveis de triglicerídeos se mantiverem
persistentemente aumentados entre 200 e 499 mg/dL,
na dose de 2 a 4 g ao dia. Há poucos estudos antes da
adolescência (Grau de Recomendação: IIa; Nível de
A principal modificação lipídica decorrente da gestação
Evidência: B).365
é a elevação das concentrações de TG e VLDL, que ocorre
• Fibratos: há poucos estudos sobre o uso de fibratos de forma progressiva, chegando a quadruplicar até o último
na infância. Porém, há necessidade de sua utilização, trimestre. A hipertrigliceridemia gestacional ocorre para suprir
principalmente em subgrupos de pacientes, como os que demandas aumentadas de energia da mãe, como precursor
vivem com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV) de hormônios para a placenta, e para fornecer colesterol e
ou com síndrome metabólica, após controle rigoroso da ácidos graxos essenciais ao feto. Ocorre também aumento do
ingestão de lipídios, especialmente quando os seus níveis colesterol no segundo e terceiro trimestres com valor máximo
se mantiverem persistentemente acima de 500 mg/dL (Grau no termo. Em gestantes no segundo e terceiro trimestres e em
de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B).366 lactantes, a terapia com estatina não deve ser indicada (Grau
de Recomendação: III; Nível de Evidência: C).367
Crianças e adolescentes com dislipidemias e que não
respondem adequadamente a mudanças de estilo de vida e A contraindicação deve-se a relatos de teratogenicidade,
doses habituais de hipolipemiantes devem ser encaminhados embora as informações disponíveis na literatura sejam
a centros especializados. inconclusivas.367 A colestiramina é o único fármaco com
segurança definida. Da mesma forma, outros fármacos
hipolipemiantes devem ser evitados na gestação. Os fibratos
10.3. Mulheres na idade fértil e gestação, menopausa e podem ser considerados nos casos de hipertrigliceridemia
climatério muito grave (TG > 1.000 mg/dL), sob a análise de risco/
Os benefícios da redução lipídica em mulheres são os benefício para as gestantes (alta mortalidade para mãe e
mesmos observados em homens, portanto, para definição de feto por pancreatite aguda durante a gravidez). Entretanto,
metas lipídicas, não há distinção entre os sexos.25 o controle dietético deve ser o tratamento de eleição em
gestantes (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência:
C) e, em casos extremos, a aférese pode ser recomendada.
10.3.1. Idade fértil e gestação
Quanto aos ácidos graxos ômega 3, mulheres grávidas e
Mulheres dislipidêmicas em idade fértil e sem contracepção lactantes devem ser aconselhadas a introduzirem na dieta peixes
adequada devem seguir orientação dietética e adoção de ricos em ácidos graxos ômega 3, de águas profundas e com
estilo de vida saudável, incluindo controle de peso, atividade baixos níveis de mercúrio. Os peixes recomendados são salmão,
física e interrupção de tabagismo. A terapia com estatinas deve cavala, arenque, sardinha, atum e truta. Nâo há estudos com a
ser evitada em mulheres em idade fértil e sem contracepção suplementação (cápsulas) durante a gestação.368 Existem poucos
adequada (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C).25 estudos em gestantes ou lactantes com fitosteróis.

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Diretrizes

10.3.2. Menopausa transição menopáusica ou nos primeiros anos de pós-


A associação entre a perda da função ovariana e o aumento menopausa, na chamada ”janela de oportunidade” (Grau
do risco de DAC está bem estabelecida. A deficiência de Recomendação: IIb; Nível de Evidência: B).370 Ainda, na
estrogênica, resultante tanto da menopausa natural quanto prevenção primária, pode haver aumento do risco quando
da cirúrgica, aumenta o risco de DAC em aproximadamente a TRH é iniciada tardiamente. A TRH deve ser evitada nas
três a sete vezes, constituindo-se na maior causa de morte no mulheres de alto risco ou de prevenção secundária (Grau
sexo feminino após a menopausa. de Recomendação: III; Nível de Evidência: A). Naquelas em
uso regular de TRH que apresentarem evento cardiovascular,
Em relação aos efeitos sobre o metabolismo das
a TRH deve ser interrompida imediatamente (Grau de
lipoproteínas, a menopausa produz um perfil pró-aterogênico,
Recomendação: III; Nível de Evidência: A).371,372
caracterizado principalmente pela elevação do CT em
aproximadamente 15%, associada ao aumento do LDL-c e Quanto às estatinas, até o momento nenhum estudo foi
da ApoB em 25%.369 A elevação da homocisteína, da PCR-us realizado exclusivamente em mulheres. Os dados disponíveis
e da IL-6 também é descrita como decorrente da deficiência são da análise de subgrupos participantes do sexo feminino
estrogênica. O mecanismo pelo qual a falência gonadal no em megaestudos. Assim, a análise dos subgrupos de mulheres
climatério pós-menopausal eleva o CT e o LDL-c pode estar nos estudos de prevenção primária (Air Force/Texas Coronary
condicionada à diminuição do catabolismo das LDL pela Atherosclerosis Prevention Study - AFCapsTexCaps) 373 e
diminuição do número de receptores hepáticos B/E. Na secundária (Scandinavian Simvastatin Survival Study - 4S),374
menopausa, ocorre diminuição da atividade hepática da o CARE (Cholesterol and Recurrent Events Trial investigators)375
7-alfa-hidroxilase, reduzindo a síntese de ácidos biliares e, e o LIPID (The Long-Term Intervention with Pravastatin in
consequentemente, diminuindo a excreção de colesterol. Ischaemic Disease)376 mostraram benefícios da redução lipídica
sobre a morbidade e a mortalidade cardiovascular, até mesmo
No período de climatério pós-menopausal, pode ocorrer
mais precocemente do que o observado entre os homens. Os
elevação dos TG e VLDL-c, decorrente da menor atividade
resultados do estudo HPS,377 no qual foram avaliadas mais de
da LPL, com menor produção de VLDL remanescente. Esta
5.000 mulheres de alto risco cardiovascular que receberam
situação frequentemente se associa a maior proporção das
a sinvastatina, ocorreu nítida redução de eventos, mesmo
partículas LDL pequenas e densas, que são mais suscetíveis
naquelas que apresentavam concentrações séricas de LDL-c
a sofrerem alterações oxidativas, sendo consequentemente
consideradas atualmente dentro dos padrões da normalidade
mais facilmente reconhecidas e captadas pelos macrófagos,
(Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).
formando células espumosas, ponto inicial da formação do
processo aterosclerótico.
10.4. Síndrome coronária aguda
Após a menopausa, ocorre redução dos níveis de HDL-c
até 25%, representado principalmente pela subfração HDL2. Tratamento hipolipemiante efetivo deve ser iniciado
precocemente na presença de síndrome coronariana aguda
O estrogênio, utilizado por via oral, sofre a primeira
e não deve ser descontinuado se o paciente estiver em uso
passagem hepática, produzindo elevação dos TG. Assim, em
de estatinas. O aumento de mortalidade foi descrito em
mulheres que apresentam hipertrigliceridemia, a reposição
registros de não prescrição ou descontinuidade de estatinas
estrogênica oral pode desencadear aumento importante da
nas primeiras 24 horas do infarto agudo do miocárdio.378,379
trigliceridemia, às vezes com níveis maiores que 1.000 mg/dL,
Outros estudos mostraram que o uso precoce de estatinas
aumentando o risco do aparecimento de crises de pancreatite
em dose alta diminui os marcadores de lesão miocárdica em
aguda. Nestas pacientes, o uso de estrogênios transdérmicos
intervenções percutâneas de síndrome coronariana aguda,380
deve ser considerado, os quais não apresentam primeira
e reduz nefropatia induzida por contraste381,382 e desfechos
passagem hepática e, portanto, não elevam os TG.
cardiovasculares pelo tratamento iniciado na fase aguda das
A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) após a menopausa síndromes com estatinas de alta efetividade,383-385 ou pela
pode reduzir o LDL-c em até 20 a 25% e aumentar o HDL-c em combinação de estatina com ezetimiba.113 A diminuição da
até 20%. Entretanto, esta terapêutica nunca está recomendada inflamação e não apenas da LDL-c está relacionada com
com a finalidade exclusiva de reduzir o risco cardiovascular melhor sobrevida livre de desfechos cardiovasculares.386,387 O
em mulheres no período de transição menopáusica ou da tratamento com estatinas deve ser iniciado precocemente, ou
pós-menopausa, seja em prevenção primária ou secundária mantido naqueles que já as utilizam (Grau de Recomendação:
(Grau de Recomendação: III; Nível de Evidência: A).369,370 I; Nível de Evidência: A) e as metas terapêuticas de LDL-c
Nas mulheres em prevenção primária com indicações e não HDL-c devem ser, respectivamente, < 50 mg/dL e
ginecológicas para a TRH (controle de sintomas vasomotores), < 80 mg/dL (Grau de Recomendação: I; Nível de
pode haver benefício cardiovascular quando iniciada na Evidência: B).

Recomendação: O uso de estatinas na síndrome coronária aguda deve ser iniciado precocemente ou mantido naqueles que já fizerem uso dos fármacos (Grau de
Recomendação: I; Nível de Evidência: A), com metas do colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) < 50 mg/dL e do colesterol não HDL < 80 mg/dL (Grau de
Recomendação: I; Nível de Evidência: B).

44 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76


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Diretrizes

10.5. Doença renal crônica Com a redução da função renal e do clearance, a remoção
anormal das lipoproteínas é um mecanismo que contribui
10.5.1. Epidemiologia para as alterações lipídicas. Inicialmente, observam-se
hiertrigliceridemia e baixos níveis de HDL-c. A redução da
A doença renal crônica é um problema de saúde pública, lipólise pode ser atribuída a aumentos da concentração de
com prevalência global de 8 a 16%,388 e representa mais de ApoC-III394 e à redução da atividade da LPL. Nos pacientes
10% (> 20 milhões) de prevalência na população adulta dos em diálise, a hipercolesterolemia está presente e se associa a
Estados Unidos, segundo o Centers for Disease Control and maior risco de mortalidade cardiovascular.253,395 As principais
Prevention (CDC).389
alterações lipídicas na doença renal crônica estão no quadro 19.
As DCV permanecem como a principal causa de morte
dentre os pacientes renais.390 O relatório anual de dados do US
Renal Data System de 2013 indicou que pacientes com doença 10.5.3. Pacientes com doença renal crônica não dialítica:
renal crônica têm maior frequência de insuficiência cardíaca uso de hipolipemiantes
congestiva, infarto agudo do miocárdio e AVC quando
comparados aos pacientes sem doença renal crônica.390 10.5.3.1. Estatinas
As dislipidemias são fator de risco estabelecido para A maioria dos dados sobre estatinas em pacientes
DCV na população geral, mas esta relação não é linear na com doença renal crônica não dialítica deriva de análise
população com doença renal crônica. Estudos observacionais de subgrupos, análises post hoc e metanálises.392 Apenas
mostraram que, dentre os pacientes em tratamento dialítico, um estudo randomizado, o SHARP (Study of Heart
os que apresentavam índice de massa corporal mais and Renal Protection), avaliou a terapia com estatinas e
elevado, obesidade e hipercolesterolemia evoluíam com eventos cardiovasculares maiores. O estudo SHARP incluiu
maior sobrevida. Esse fenômeno foi denominado “reverso
6.247 pacientes com doença renal crônica não dialítica e
epidemiológico”, em que colesterol elevado e obesidade foram
TFG Média Estimada (TFGe) em 26,6 mL/min por 1,73 m2.
marcadores de maior sobrevida nos pacientes dialíticos.391
Os pacientes foram randomizados para sinvastatina 20 mg e
Subnutrição e inflamação, em doenças crônicas, reduzem em
ezetimibe 10 mg por dia vs. placebo. O desfecho primário
muito a sobrevida desta população.391 Embora estes estudos
foi o primeiro evento aterosclerótico maior e o seguimento
tenham demonstrado que reduzir o colesterol, em pacientes
médio de 4,9 anos. Houve redução significativa no risco de
em diálise, esteja associado a aumento na mortalidade,392
outros concluíram que, nesta população de dialíticos sem eventos cardiovasculares maiores (risco relativo de 0,83;
desnutrição e/ou inflamação, a hipercolesterolemia ainda é p = 0,0021), AVC não hemorrágico (risco relativo de 0,75;
associada ao aumento da mortalidade cardiovascular.393 p = 0,01) e redução da necessidade de procedimentos de
revascularização (risco relativo de 0,79; p = 0,0036) no grupo
sinvastatina/ezetimibe. Não houve diferenças significativas
10.5.2. Perfil lipídico na doença renal crônica quanto à ocorrência de eventos coronários maiores ou
Os pacientes com doença renal crônica apresentam progressão para doença renal terminal em pacientes não
alterações qualitativas e quantitativas do perfil lipídico.253 dialíticos (Quadro 20).

Quadro 19 – Alterações do perfil lipídico na insuficiência renal crônica (IRC)


Alteração renal Perfil lipídico Lipoproteínas Apolipoproteínas Enzimas
↑ QM
↑ IDL ↑ ApoC-III
↓ LLP
↑ TG ↑ VLDL-c ↓ ApoA
IRC ↓ LCAT
↓ HDL-c ↑ Lp(a) ↑ ApoB
↓ LH
↓ HDL-c ↓ ApoC-II
↓ LDL
↑ IDL
↑ VLDL-c ↑ ApoE
↑ TG ↓ LLP
Hemodiálise ↑Lp(a) ↓ ApoA
↑ normal colesterol total ↓ LCAT
↓ HDL-c ↓ApoB
↓ LDL-c
↑ ou normal colesterol total
Diálise peritoneal ambulatorial ↑ colesterol total ↓ ou normal HDL-c ↑ ApoB ↓ LLP
contínua ↑ ou normal TG ↑ Lp(a) ↓ ApoA ↓ LH
↑ VLDL-c
↓ ou normal HDL-c
↑ colesterol total e/ou ↑ ApoB ↓ LLP
Síndrome nefrótica ↑ Lp(a)
↑ TG ↓ ApoA ↓ LCAT
↑ VLDL-c
TG: triglicérides; HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade; QM: quilomícron; IDL: lipoproteína de densidade intermediária; VLDL-c: colesterol da lipoproteína
de densidade muito baixa; Lp(a): lipoproteína (a) ; Apo: apolipoproteína; LLP: lipase lipoproteica; LCAT: lecitina-colesterol aciltransferase; LH: lipase hepática; LDL-c:
colesterol da lipoproteína de baixa densidade.

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Diretrizes

Quadro 20 – Resumo dos principais estudos em pacientes com doença renal 396-398
Estudos População Intervenção Acompanhamento Resultados
ALERT (Assessment Fluvastatina Não houve diferença de mortalidade por todas
Transplantados renais
of Lescol in Renal (40 mg/dia) vs. Média de 5,1 anos as causas e mortalidade cardiovascular entre os
(n = 2102)
Transplantation; 2003) placebo grupos
Pacientes em hemodiálise com Não teve efeito significativo sobre a morte
4D (2005) diabetes melito tipo 2 Atorvastatina (20 mg/dia) Média de 4 anos cardiovascular, infarto não fatal, AVC não fatal e
(n = 1.255) mortalidade por qualquer causa
AURORA (Assessment of Pacientes em hemodiálise com Não houve diferenças na mortalidade por todas
Rosuvastatina
Survival and Cardiovascular idade entre 50-80 Média de 3,8 anos as causas, mortalidade cardiovascular e eventos
(10 mg/dia) vs. placebo
Events; 2009) anos (n = 2.776) cardiovasculares entre os grupos.
Sinvastatina associada a ezetimibe diminuiu
DRC não submetidos à diálise
Sinvastatina 20 mg/dia significativamente a taxa de eventos
SHARP (Study of Heart and (n = 6.247)
com ezetimibe 10 mg/dia Mediana de 4,9 anos ateroscleróticos maiores, mas sem diferenças na
Renal Protection; 2011) Hemodiálise (n = 2.527)
vs. placebo mortalidade cardiovascular ou mortalidade por
Diálise peritoneal (n = 496)
todas as causas
AVC: acidente vascular cerebral; DRC: doença renal crônica; IAM: infarto agudo do miocardio; DM: Diabetes mellitus. Fonte: Adaptado: de Pandya et al.399

Recomendação de uso: Kidney Disease: Improving com doença renal crônica, não foi observada redução de
Global Outcomes (KDIGO) 2013 recomenda400 tratamento risco cardiovascular consistente. As diretrizes KDIGO de
com estatinas para pacientes com doença renal crônica (não 2003 recomendavam a utilização de fibratos na prevenção
dialítica ou pós transplante), ≥ 50 anos de idade que tenham de pancreatite nos pacientes com hipertrigliceridemia, mas,
TFG estimada abaixo ou acima de 60 mL/min por 1,73 m2. nas diretrizes de 2013, esta recomendação foi removida.400
Para pacientes entre 18 e 49 anos, KDIGO recomenda terapia KDIGO recomenda mudanças no estilo de vida em
com estatina na presença de doença coronária, diabetes, pacientes com hipertrigliceridemia, embora as evidências
antecedentes de AVC isquêmico e se o risco acumulado em 10 sejam fracas. Estas medidas incluem redução de peso,
anos da morte coronária ou infarto não fatal for maior do que modificação da dieta, aumento da atividade física, reduzido
10%. As estatinas são habitualmente bem toleradas, sendo os consumo de álcool e tratamento da hiperglicemia. KDIGO
principais efeitos colaterais a hepatotoxicidade e a toxicidade recomenda ainda que os fibratos podem ser considerados
muscular, incluindo miopatia, mialgia e rabdomiólise. A em pacientes com TG > 1.000 mg/dL.400
incidência destes efeitos colaterais não é maior na população
com doença renal crônica em comparação com a população
10.5.4. Pacientes com doença renal crônica dialítica
geral. Para pacientes com TFG ≥ 60 mL/minuto por 1,73 m2,
não é necessário ajuste de dose. KDIGO recomenda o uso Recomendações de uso: a diretriz KDIGO 2013 400
das doses usadas em ensaios clínicos randomizados com recomenda não iniciar estatina ou estatina mais ezetimibe
estatinas, para pacientes com TFG abaixo de 60 mL/min por na população em diálise com base nos resultados dos
1,73 m2, as (Tabela 9). ensaios clínicos anteriormente mencionados. Não há dados
conclusivos disponíveis para os pacientes que já estão em
uso de estatina ou estatina mais ezetimibe no início da
10.5.3.2. Fibratos diálise. No entanto, neste momento, a diretriz recomenda
Podem reduzir os níveis de triglicerídeos na ordem de 18 a a continuação destes agentes e a realização de reavaliações
45% e aumentar o HDL-c em 10%. No entanto, em pacientes periódicas (Quadro 21).

10.6. Hepatopatia
Tabela 9 – Doses de estatinas usadas em ensaios clínicos
randomizados para pacientes com taxa de filtração glomerular A ideia de que elevações das transaminases hepáticas
< 60 mL/minuto por 1,73 m2 acima de três vezes o valor de base seria um indicativo
de lesão hepática quando do início de um tratamento
Estatina Dose (mg/dia)
medicamentoso partiu da Conferência de Fogarty em 1978,
Fluvastatina 80 porém esta recomendação não foi baseada em grandes
Atorvastatina 20 estudos clínicos. Estatinas têm demonstrado redução de
Rosuvastatina 10 eventos cardiovasculares maiores de cerca de 25 a 40%, de
acordo com a população estudada. O Número Necessário
Sinvastatina/ezetimibe 20/10
para Tratar (NNT, do inglês Number Needed to Treat) para
Pravastatina 40 prevenir um evento acaba sendo muito baixo. Por outro
Sinvastatina 40 lado, as estatísticas mostram que o Número Necessário para
Pitavastatina 2 Causar Dano (NNH, do inglês number needed to harm) de
hepatotoxicidade aguda é de 1:1 milhão.

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Diretrizes

Quadro 21 – Diretrizes para o tratamento de dislipidemia nos grupos de doença renal crônica
Grupos de doença
Recomendações
renal crônica
Em adultos ≥ 50 anos com o TFGe ≥ 60 mL/minuto por 1,73 m2, o tratamento com estatinas é recomendado (Grau de Recomendação: I;
Nível de Evidência: B)
Em adultos ≥ 50 anos com o TFGe ≤ 60 mL/minuto por 1,73 m2, o tratamento com estatinas ou estatinas /combinação de ezetimibe é
Não dialíticos recomendado (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A)
Em adultos 18 a 49 anos, o tratamento com estatinas é recomendado se tiver um ou mais dos seguintes fatores de risco (Grau de
Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B): doença coronariana conhecida; diabetes melito; acidente vascular cerebral isquêmico prévio
Estimativa de incidência da morte coronária ou infarto do miocárdio não fatal > 10% em 10 anos
Em pacientes com doença renal crônica adultos em diálise, o início da estatina ou a combinação de estatina/ezetimibe não é recomendado
Dialíticos
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: A)
Transplantados renais Em doentes adultos com transplante renal, o tratamento com estatina é recomendado (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B)
TFGe: taxa de filtração glomerular estimada.

Geralmente os pacientes que evoluem com elevação Como estes pacientes também apresentam frequentemente
das enzimas hepáticas normalizam seus exames com a dislipidemia e transaminases elevadas, e apesar do risco
suspensão, ou mesmo com a redução da dose utilizada, elevado, não há estudos clínicos que testaram o efeito das
provavelmente por mecanismo de adaptação, que faz com estatinas na redução de risco cardiovascular nesta população.
que as aminotransferases se estabilizem mesmo com a Os dados disponíveis são análises post hoc de três ensaios
manutenção da medicação. clínicos randomizados: GREACE, ATTEMPT e IDEAL. Estes
estudos avaliaram o uso de estatinas em pacientes em
prevenção primária e secundária, com prevalência elevada de
10.6.1. Doença hepática gordurosa não alcoólica doença hepática gordurosa não alcoólica, esteato-hepatite não
A doença hepática gordurosa não alcoólica é considerada alcoólica e elevação de enzimas hepáticas (até três vezes o limite
uma manifestação comum da síndrome metabólica e ocorre superior da normalidade), durante 3 a 5 anos. Foram utilizadas
em até 50% dos pacientes com diabetes melito 2. É sabido baixas doses de estatinas, tituladas até doses mais elevadas,
que até 25% dos pacientes com dislipidemia têm elevação de acordo com as transaminases hepáticas. A conclusão,
de transaminases.401 confirmada nos três estudos, foi de que: as estatinas parecem
Afeta 15 a 30% da população ocidental e é caracterizada ser seguras nos pacientes com doença hepática gordurosa não
pela presença de gordura no fígado (> 5%), na ausência alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica; podem contribuir
de excesso de consumo de álcool, hepatite crônica ou para a normalizalçao da função hepática; reduzem o risco de
outras doenças hepáticas. A doença hepática gordurosa não morbimortalidade cardiovascular nessa população.400-402
alcoólica tem alta prevalência (75 a 100%) em populações
com alterações metabólicas consequentes à resistência 10.6.2. Infecção pelo vírus da hepatite C
insulínica, tais como obesidade abdominal, síndrome
Está bem documentado que a esteatose hepática é um
metabólica e diabetes tipo 2. As manifestações histológicas
achado histopatológico comum em pacientes com Vírus
da doença hepática gordurosa não alcoólica vão desde
da Hepatite C (HCV), o qual possui uma relação única de
simples esteatose hepática, esteato-hepatite não alcoóloca,
dependência de lipídios, lipoproteínas plasmáticas e cofatores
fibrose e até cirrose, que pode progredir, em alguns casos, do hospedeiro, facilitadores da replicação viral.
para carcinoma hepatocelular. Estudos de seguimento de
longo prazo observaram que a presença de doença hepática O HCV causa profundas alterações no hospedeiro infectado,
gordurosa não alcoólica confere risco elevado de eventos resultando em esteatose hepática, hipocolesterolemia
cardiovasculares, e este risco é proporcional ao grau de circulante e aterogênese. A infecção pelo HCV está associada à
prevalência elevada de síndrome metabólica, que se sobrepõe
inflamação e fibrose hepáticas, independente de outros fatores
ao observado na doença hepática gordurosa não alcoólica.
associados. Historicamente, as estatinas foram contraindicadas
em pacientes com enzimas hepáticas basais elevadas, situação Estudos longitudinais em pacientes com infecção crônica
frequente nestes pacientes. Atualmente, este conceito foi pelo HCV e síndrome metabólica, comparados a pacientes
abandonado e recentes estudos têm demonstrado efeito não infectados,29 sugerem risco elevado de desenvolver
hepatoprotetor nestes indivíduos. Melhora na histologia aterosclerose precoce e DCV.
e diminuição das enzimas hepáticas foram descritas com As estatinas têm demonstrado papel importante na
diferentes estatinas neste caso.402,403 modulação da esteatose hepática e metabolismo do colesterol,

Recomendação: o uso de estatinas pode ser indicado para pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica, na presença de
enzimas hepáticas alteradas (até três vezes os valores normais), para redução do risco cardiovascular e melhora da função hepática (Grau de Recomendação: IIa; Nível
de Evidência: B).

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Diretrizes

podendo representar potencial terapêutico para pacientes pacientes com insuficiência cardíaca que utilizaram estatinas
com hepatite C crônica.403,404 O estudo longitudinal ERCHIVES não demonstraram benefícios na redução de mortalidade em
(Electronically Retrived Cohort of HCV Infected Veterans), pacientes com classe funcional II a IV. No estudo CORONA409
que é uma coorte bem estabelecida de veteranos com HCV, (The Controlled Rosuvastatin in Multinational Trial in Heart
foi conduzido para se avaliar o impacto das estatinas nesta Failure), foram selecionados pacientes com 60 anos ou mais,
população. Os pacientes com infecção pelo HCV foram portadores de cardiopatia isquêmica, fração de ejeção menor
divididos em um grupo com e sem uso de estatinas. Foram que 40% e LDL-c média de 137 mg/dL. Foram randomizados
avaliados mais de 3 mil pacientes em cada grupo e, em para rosuvastatina 10 mg por dia vs. placebo. Não houve
ambos, as transaminases eram em média duas a três vezes redução de mortalidade cardiovascular ou por outras causas,
mais elevadas que o normal. Após 10 anos de seguimento, nem redução de eventos cardiovasculares não fatais, sendo
o uso de estatinas foi significativamente associado à redução observada apenas redução de hospitalização no grupo
da replicação viral, redução da progressão para cirrose e que recebeu estatina. O GISSI-HF410 (Gruppo Italiano per
carcinoma hepatocelular.405 lo Studio della Sopravvivenza nell’Infarto Miocardico Heart
Failure) incluiu pacientes com insuficiência cardíaca de
várias etiologias, com idade superior a 18 anos, sendo 40%
10.6.3. Vírus da hepatite B e cirrose biliar primária
portadores de cardiopatia isquêmica e LDL-c média de 122
Relatos isolados têm demonstrado melhora histológica na mg/dL. Foram randomizados para rosuvastatina 10 mg/dia ou
infecção pelo Vírus da Hepatite B (HBV).406 A sinvastatina placebo. Não houve redução de mortalidade cardiovascular
pode contribuir para a diminuição da pressão portal em ou por todas as causas ou de eventos cardiovasculares não
pacientes com cirrose.407 Diferentes estatinas foram avaliadas fatais no grupo tratado. Esses dois estudos concluíram que
no contexto do câncer de fígado secundárias a infecções pacientes com insuficiência cardíaca que não utilizavam
crônica pelo HBV, mostrando clara diminuição na incidência. estatinas previamente não se beneficiaram com a introdução
A doença hepática crônica compensada não é considerada de rosuvastatina no tratamento da insuficiência cardíaca. Estes
contraindicação absoluta para a iniciação e/ou manutenção resultados surpreenderam principalmente pela prevalência de
da terapia com estatina (Grau de Recomendação: IIb; Nível cardiopatia isquêmica, dada a eficácia das estatinas em reduzir
de Evidência: C). eventos cardiovasculares em vários grupos de pacientes com
doença aterosclerótica.
10.6.4. Recomendações atuais A insuficiência cardíaca, independentemente de sua
etiologia, confere risco de mortalidade muito elevada por causas
não aterotrombóticas. Assim, as populações com insuficiência
10.6.4.1. Terapia com estatina e controle das enzimas cardíaca não teriam uma sobrevida suficientemente mais longa
hepáticas para experimentarem os benefícios das estatinas na redução
O valor inicial de transaminases hepáticas deve ser de eventos aterotrombóticos, pois morreriam antes por outras
determinado antes do início do tratamento com estatinas, bem causas não aterotrombóticas. Como a incidência de eventos
como um breve histórico de alterações hepáticas com o uso aterotrombóticos foi muito baixa nesses dois estudos, foi
de medicamentos. Deve-se também atentar para fármacos realizada análise conjunta dos dados do CORONA e GISSI-
com potencial interação, o que potencializaria a chance HF, com objetivo de se obter maior poder estatístico para
de efeitos colaterais (Grau de Recomendação: IIb; Nível de detecção de diferenças nos eventos aterotrombóticos nos
Evidência: C).408 grupos tratados. Foi demonstrada redução significativa de risco
O controle periódico de enzimas hepáticas não é mais de infarto agudo do miocárdio, de pequena magnitude, nos
obrigatório, devendo ser realizado quando forem feitas pacientes com insuficiência cardíaca de origem isquêmica,
novas dosagens de colesterol ou em caso de sintomas como tratados com rosuvastatina. A rosuvastatina pareceu ser efetiva
letargia, icterícia e astenia. O aumento das bilirrubinas é o na prevenção de infarto agudo do miocárdio, nos pacientes
melhor marcador de lesão hepática por estatinas, devendo com insuficiência cardíaca isquêmica que não faziam uso
ser realizado sempre que a suspeita de alteração hepática prévio de estatinas.
for aventada.
10.8. HDL-c baixo e Hipertrigliceridemia
10.7. Insuficiência cardíaca Hipertrigliceridemia e baixos níveis de HDL-c representam
Já foram documentados efeitos favoráveis das estatinas alterações lipídicas que compartilham etiologias e, assim,
na prevenção e redução de desfechos nos pacientes com ocorrem em geral associadas. Essa interação acarreta o
insuficiência cardíaca (Grau de Recomendação: I; Nível de aumento do perfil de risco cardiovascular.411-413
Evidência: C), a partir de estudos observacionais, pequenos O mecanismo responsável por este perfil metabólico
estudos e análises post hoc dos estudos randomizados com decorre do catabolismo aumentado de partículas de HDL ricas
estatinas. Entretanto, os únicos dois estudos randomizados em em TG.414 Em indivíduos com hipertigliceridemia, inclusive

Recomendação do uso de estatinas em pacientes com vírus da hepatite C: as estatinas podem ser utilizadas em pacientes com vírus da hepatite C, na vigência de
dislipidemia ou como adjuvante na redução da evolução para fibrose e carcinoma hepatocelular (Grau de Recomendação: IIb; Nível de Evidência: B).

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Recomendação: não é recomendado o uso de estatinas em pacientes com insuficiência cardíaca classe funcional II-IV pela New York Heart Association (Grau de
Recomendação: III; Nível de Evidência: A). Pode-se considerar o início do uso de estatinas na insuficiência cardíaca que preencher todos os quatro critérios: insuficiência
cardíaca bem controlada com expectativa de vida maior que 2 anos; de etiologia isquêmica; nos pacientes com não HDL-c ≥ 160 mg/dL, LDL-c ≥ 130 mg/dL; nos pacientes
com idade menor que 75 anos (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B).

pós-prandial, CETP facilita a transferência de TG da VLDL Quadro 22 – Principais causas primárias e secundárias de
para a HDL, resultando na formação de partículas de HDL hipertrigliceridemia
enriquecidas de TG e depletadas de colesterol. Essas partículas Primárias Secundárias
têm sabidamente maior potencial aterogênico.415
Hipertrigliceridemia familiar Diabetes não controlado
Disbetalipoproteinemia familiar Ingesta excessiva de alcool
10.8.1. Hipertrigliceridemia
Hiperlipidemia combinada familiar Hipotireoidismo
A hipertrigliceridemia é fator de risco independente
Deficiência de ApoC-II Gestação
para a DCV, em especial a DAC.416 Entretanto, não está
claro se a hipertrigliceridemia é causa da aterosclerose, Produção aumentada de ApoC-III Obesidade
já que os TG pouco se acumulam nas paredes arteriais, Síndrome nefrótica e insuficiência
Deficiência da lipase lipoproteica
ou se as anormalidades a ela associadas, como HDL-c renal
baixa, 417-419 partículas LDL pequenas e densas, 420,421 Medicamentos (estrógeno,
Doença do armazenamento de éster
resistência insulínica422,423 e aumento da coagulabilidade e tamoxifeno, glicocorticoides,
de colesterol
hiperviscosidade sanguínea,424-426 predispuser à aterosclerose. inibidores de protease etc.)
Paralelamente, existem dúvidas se a diminuição dos TG reduz Apo: apolipoproteína.
também o risco cardiovascular.
A associação entre hipertrigliceridemia e DCV foi avaliada
em estudos angiográficos419,427-432 e em estudos de eventos A concentração de HDL-c no plasma é determinada por
clínicos. Em metanálise incluindo mais de 260 mil participantes, herança complexa, sendo influenciada por fatores genéticos e
a odds ratio para DCV na comparação entre os indivíduos no ambientais. Sabe-se que peso corporal, tabagismo, consumo
terceiro tercil de TG e os no primeiro foi de 1,7 (IC95%: 1,6- de álcool, hábitos alimentares e exercício físico respondem por
1,9).433 Em estudo prospectivo incluindo 14 mil homens jovens cerca de 50% da variação interindividual da concentração de
cujos TG foram avaliados em intervalo de 5 anos, foi observado HDL-c na população geral. A hereditariedade contribui para
que os TG foram forte e independentemente associados a risco os 50% restantes. Mutações em genes envolvidos na regulação
de DCV (odds ratio para DCV de 4,1 quando comparados do metabolismo da HDL, como ABCA1, ApoA-I e LCAT, estão
indivíduos no quinto e primeiro e quintis de TG), e o aumento implicadas em formas raras de hipoalfalipoproteinemia e
dos TG entre a primeira e segunda medidas foi associado ao explicam apenas uma pequena porcentagem destes casos. Por
maior risco cardiovascular.434 outro lado, polimorfismos genéticos localizados nestes genes
Embora os TG sejam comumente dosados em jejum, são fonte importante de variação no HDL-c.440
estudos mostraram que valores dosados sem jejum estão Vários estudos epidemiológicos, dados clínicos e estudos
associados ao maior risco de eventos cardiovasculares,29,44,435 de intervenção114,115,441,442 demonstraram que baixos níveis
incluindo AVC isquêmico. circulantes de HDL-c constituem um preditor significativo e
A hipertrigliceridemia pode ser de causa primária ou independente de DCV. É importante ressaltar que a relação
secundária, de acordo com o quadro 22. inversa entre níveis de HDL-c e risco cardiovascular persiste
em diversos grupos populacionais e com doenças específicas.
A partir da constatação da relação inversa entre HDL-c e
10.8.2. Baixos níveis do HDL-c risco de doença coronariana, a concentração de HDL-c passou
Baixos níveis circulantes de HDL-c representam um a ser utilizada em larga escala como um importante indicador
problema que é prevalente e clinicamente desafiador, com laboratorial de risco cardiovascular.
dados atuais controversos e intrigantes. O HDL-c baixo é Apesar do grande conjunto de provas que evidenciam a
definido como um valor abaixo de 40 mg/dL para homens relação inversa entre os níveis de HDL-c e risco cardiovascular,
e abaixo de 50 mg/dL para mulheres, o que corresponde os baixos níveis de HDL-c não foram estabelecidos como
aproximadamente ao percentil 50. 436 Baixos níveis de causadores de aterosclerose. O argumento para a falta de
HDL-c podem ocorrer como anormalidade isolada ou, mais nexo causal vem da análise de randomização mendeliana443
frequentemente, em associação com hipertrigliceridemia e/ e da dificuldade em demonstrar melhores resultados com
ou com níveis aumentados de LDL-c ou de ApoB.437 terapias para aumentar o HDL-c.18,19,261
HDL-c baixo é uma das anormalidades lipídicas mais É preciso lembrar que o HDL-c reflete apenas o conteúdo
comuns, 438 especialmente em grupo de pacientes com de colesterol presente no total das partículas de HDL, e que
diabetes ou com DAC. A prevalência de HDL-c baixo varia de estas formam um grupo bastante heterogêneo, com relação
20% na população geral a até 60% em pacientes com doença a tamanho, composição e funcionalidade. A existência de
coronária diagnosticada.439 subpopulações distintas de HDL é consistente com o fato

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de estas partículas exercerem várias funções biológicas.444 os de HDL-c baixos. A niacina, se tolerada, continua a ser outra
O estudo destas subpopulações tem sido objeto de intensas opção em pacientes com níveis substancialmente elevados
pesquisas, para determinar o papel de cada uma delas no de Lp(a), intolerantes à estatina, ou em associação com
processo antiaterogênico. Com isto, seria possível estabelecer estatinas, em pacientes com HDL-c baixo isolado e eventos
novos biomarcadores de risco cardiovascular mais precisos do cardiovasculares progressivos. O tratamento para HDL-c baixo
que a concentração de HDL-c. e TG altos inclui medidas comportamentais e farmacológicas.
Assim, o conceito atual é que a funcionalidade da HDL Medidas comportamentais não farmacológicas que podem
(qualidade) é um indicador mais preciso para o risco de ser tomadas:
desenvolvimento de aterosclerose e também de gravidade da • Exercício aeróbico: considerado fundamental para
DCV, do que a concentração de HDL-c (quantidade).445,446 Esta aumentar os níveis de HDL-c e diminuir os níveis de TG. No
hipótese tem levado à investigação de HDL tanto como um entanto, este deve ser de intensidade moderada e regular,
biomarcador de risco cardiovascular como alvo terapêutico para aumentar os níveis de HDL-c em 5 a 10%, e melhorar
para ser funcionalmente modulado. a funcionabilidade das particulas de HDL, além de reduzir
Baixos níveis de HDL-c muitas vezes refletem uma em 33% os TG quando associado à dieta hipocalórica.447
anormalidade genética. Deve-se pensar em anormalidades • Perda de peso: o excesso de peso e a obesidade são
genéticas quando se depara com muito baixos níveis de HDL-c fortemente associados tanto com níveis baixos de HDL-c,
(<10 mg/dL), embora também estes possam ser influenciados como elevados de triglicéridos. Alterações agudas na
por um nível elevado de triglicerídeos ou por acompanhar perda de peso podem inicialmente diminuir os níveis
tabagismo, sedentarismo, hipertensão arterial, bem como por de HDL-c. No entanto, com a estabilização de peso, os
alimentação com alta ingestão de carboidratos ou gorduras níveis de HDL-c geralmente aumentam de 0,35 mg/dL por
poli-insaturadas. quilograma perdido, independentemente da estratégia de
Devem ser solicitados testes para descartar causas perda de peso utilizada.448
secundárias de baixos níveis de HDL-c, algumas das quais • Nutrição: os pacientes que consomem muito baixo teor
reversíveis. Vários fármacos podem diminuir os níveis de gordura na dieta frequentemente têm níveis mais
de HDL-c, entre eles os esteroides anabolizantes, os baixos de HDL-c mas também níveis baixos de LDL-c.
antipsicóticos atípicos, a terapia antirretroviral para o HIV/ As dietas ricas em gorduras saturadas ou gordura trans
AIDS, betabloqueadores e agentes imunossupressores. tendem a diminuírem os níveis de HDL-c, com possível
Doenças hepáticas, incluindo cirrose, podem diminuir todas detrimento da funcionalidade das particulas de HDL e
as subfrações de colesterol, por prejudicarem produção de adicionais aumentos no LDL-c. Carboidratos processados
Apo. Também, baixos níveis de HDL-c são frequentemente que aumentam rapidamente os níveis de glicose (ou seja,
observados em estados inflamatórios agudos. Devemos pensar com alto índice glicêmico) podem diminuir níveis de HDL-c
em anormalidades genéticas quando nos deparamos com e aumentar os níveis de TG, além de elevar a inflamação
muito baixos níveis de HDL-c (< 10 mg/dL). e o risco cardiovascular. A ênfase em porções modestas
de uma dieta rica em frutas e vegetais frescos, pobre em
10.8.3. Estratégia em pacientes com baixos níveis carboidratos processados e carnes, e rica em ácidos graxos
do colesterol da lipoproteína de alta densidade e poli-insaturados permanece aconselhável.
hipertrigliceridemia • Cessar tabagismo: o estresse oxidativo e a inflamação
O tratamento tanto da hipertrigliceridemia como dos induzidos pelo tabagismo levam à diminuição tanto da
baixos níveis de HDL-c inclui medidas comportamentais e quantidade quanto da qualidade da HDL. Fumantes
farmacológicas. O tratamento das dislipidemias secundárias tendem a ter níveis de HDL-c 5% a 10% menores do
deve ser voltado para o controle da doença de base ou a que controles. É importante ressaltar que a cessação do
retirada do esquema terapêutico do medicamento implicado. tabagismo leva ao aumento do HDL-c de ~ 4 mg/dL com
um impacto mínimo sobre outros lípidos.
A indicação do tratamento das dislipidemias é a redução
do risco cardiovascular. Assim, a decisão a respeito da terapia • Ingestão de álcool: o consumo de álcool pode aumentar
farmacológica deve ser baseada na estratificação do risco HDL-c em aproximadamente 2 mg/dL por dose diária
cardiovascular de cada indivíduo, na redução do risco esperado de alcool. No entanto, não há dados de ensaios clínicos
e nos possíveis efeitos colaterais. Até o momento, as estatinas disponíveis demonstrando qualquer papel positivo
permanecem como a primeira linha de terapia entre os que elevando-se os níveis de HDL-c com álcool ocorra
indivíduos com baixos níveis de HDL-c, hipertrigliceridemia e redução de eventos cardiovasculares em pacientes com
com risco cardiovascular significativamente alto, que justifique DAC. O consumo de álcool deve ser evitado se houver
intervenção, tal como definido por algoritmos de risco hipertrigliceridemia associada.
validados. Mudanças no estilo de vida oferecem benefícios As medidas farmacológicas incluem:
de saúde em geral, incluindo a possibilidade de melhoria dos • Estatinas: até o momento, continuam a ser a primeira linha
níveis de TG e de HDL-c, bem como de sua funcionalidade. terapêutica entre os indivíduos com baixos níveis de HDL-c
Para o tratamento com alvo específico na HDL, o fibrato e hipertigliceridemia associados a risco cardiovascular
pode ser uma opção razoável para pacientes com risco significativamente alto, que justifique intervenção,
cardiovascular significativo, juntamente das estatinas, se os especialmente focando nos níveis de LDL-c, como definido
níveis de triglicéridos forem elevados (acima de 200 mg/dL) e por meio de algoritmos de risco validados.

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• Fibratos: para o tratamento com alvo específico no potente, denominado D-4F, foi sintetizado a partir de
HDL-c, fibrato pode ser uma opção razoável para usar em D-aminoácidos da ApoA-I e pode ser administrado por via
pacientes com risco cardiovascular significativo, juntamente oral. O uso do D-4F, quando em combinação com uma
das estatinas, se os níveis de TG forem elevados (acima estatina, reduziu o tamanho de lesão aterosclerótica, assim
de 200 mg/dL) e de HDL-c, baixos (< 34 mg/dL). Com como o seu conteúdo de macrófagos em camundongos
relação ao tratamento da hipertrigliceridemia, é incerto se a com aterosclerose.453 Ensaios clínicos com a utilização do
redução dos TG diminui o risco cardiovascular.449 No braço D-4F em humanos foram descontinuados por ausência
Lipid do estudo ACCORD (Action to Control Cardiovascular de benefício.
Risk in Diabetes), a associação de fenofibrato à estatina não • HDL delipidado: estudos mostraram que a HDL pré-beta
mostrou benefício em pacientes diabéticos, mas diminuiu a aumenta o efluxo de colesterol e é a forma mais eficaz
ocorrência de desfechos no subgrupo de pacientes com TG de HDL para a remoção de lipídios de placa arterial via
acima de 204 mg/dL e HDL-c abaixo de 34 mg/dL.322 Esta transporte reverso de colesterol. O processo de delipidação
subanálise foi planejada baseada em observações similares do plasma, por meio de aférese, converte HDL alfa para
de benefício no uso de fenofibrato nesse mesmo grupo a HDL pré-beta. A infusão seriada de HDL delipidado
de pacientes nos estudos Helsinki Heart Study, FIELD257 autólogo mostrou-se eficaz em aumentar a quantidade
(Fenofibrate Intervention and Event Lowering in Diabetes) de HDL pré-beta em alguns pacientes ateroscleróticos,
e BIP (The Bezafibrate Infarction Prevention).450 determinando um importante avanço na abordagem de
• Niacina: se tolerada, continua a ser outra opção em pacientes com síndrome coronária aguda.454
pacientes com níveis substancialmente elevados de Lp(a), Assim, baixos níveis de HDL-c e altos de TG em geral
intolerantes às estatinas, ou em associação com estatinas, ocorrem de forma concomitante e devem ser interpretados
em pacientes com baixo níveis de HDL-c e altos níveis como parte de um perfil metabólico aterogênico, e tratados
de TG. de forma agressiva tanto por medidas farmacológicas, como
• Inibidores da CETP: um estudo envolvendo um inibidor não farmacológicas. Até o momento, novas terapêuticas para
de CETP, o torcetrapib, mostrou que a droga aumenta aumentar o HDL-c não estão estabelecidas.
marcadamente os níveis de HDL-c e reduz os níveis de
LDL-c, tanto quando usado isoladamente como também 10.9. HIV
em combinação com uma estatina. Entretanto, apesar de O aumento da expectativa de vida dos indivíduos
importante aumento nos níveis de HDL-c, não se observou infectados pelo HIV após a introdução do Tratamento
redução de mortalidade. Outros dois estudos com Antirretroviral (TARV) modificou completamente o perfil
inibidores de CETP, o dalcetrapib e evacetrapib, também desta população.455 De um lado, estes indivíduos ficaram
não mostraram eficácia na redução de mortalidade. O expostos por mais tempo aos fatores de risco cardiovascular
estudo com o anacetrapib, outra medicação da mesma mais prevalentes neste grupo, como tabagismo, alcoolismo,
classe, está previsto para ser finalizado no início de 2017. dieta não saudável e sedentarismo. Do outro, a persistência
Até o momento, a terapia com inibidores de CETP ainda da infecção pelo HIV mantém um estado crônico de agressão
precisa ser testada em uma população maior e deve ser inflamatória comumente associado à gênese e à progressão
demonstrado por meio destes estudos que a droga não da aterosclerose.456 De fato, alguns estudos mostraram,
só aumenta os níveis de HDL-c, mas que também reduz nesta população, aumento relativo das mortes por causas
eventos cardiovasculares. não diretamente relacionadas à infecção, como diabetes
• Óleos de peixe: suplementos de óleo de peixe e doença isquêmica do coração.457 Além disto, o próprio
contendo ácidos graxos EPA e DHA em concentração vírus parece ter uma ação direta sobre o sistema circulatório,
≥ 3 g ao dia podem reduzir as concentrações de TG em incluindo a parede vascular arterial sistêmica, pulmonar e
aproximadamente 50%.451 também o miocárdio.458
• Infusões de ApoA-I/HDL reconstituído: infusões O sinergismo aterogênico destas condições foi amplificado
venosas por um curto período de tempo de ApoA-I/HDL pelos efeitos da TARV, muitas vezes responsável pela
reconstituído têm sido seletivamente utilizadas em alguns modificação do perfil metabólico, com grande elevação de
pacientes, interferindo no processo de transporte reverso TG, redução de HDL-c, resistência à insulina e diabetes.459,460
de colesterol, e com evidências de melhora de ateroma Os mecanismos envolvidos no desenvolvimento deste intenso
coronariano.452 Entretanto, este produto ainda não está desequilíbrio metabólico parecem residir na interferência no
disponível para uso clínico regular devido a algumas processo de diferenciação dos adipócitos e no funcionamento
limitações pois, além do alto custo, é necessária uma de proteínas envolvidas no metabolismo lipídico.461,462
administração endovenosa em altas doses para que bons O primeiro passo na prevenção da aterosclerose neste
resultados sejam obtidos. grupo populacional está na avaliação do risco por meio
• Peptídeos mimeticos de ApoA-I: ApoA-I é uma do escore de Framingham, antes mesmo da instituição do
proteína grande, o que restringe sua administração TARV (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: B).463
somente por via venosa. Investigações detalhadas das Paralelamente, tendo em vista a importância de seu efeito
características físico-químicas da ApoA-I levaram à no perfil inflamatório e metabólico, é fundamental buscar o
conclusão de que determinadas regiões da molécula são controle da infecção por meio da redução da carga viral (Grau
críticas na determinação da bioatividade. Um peptídeo de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).464

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A exemplo do que é recomendado para a população geral, Metanálise do CTT, de 2008,472 com a inclusão de 14 ensaios
a modificação dos hábitos de vida, com adoção de dieta clínicos randomizados envolvendo 18.686 participantes com
saudável, prática de atividade física e, em especial, cessação diabetes melito tipo 2, evidenciou redução do risco relativo
do tabagismo, deve ser estimulada durante todo o seguimento proporcional ao nível de redução de LDL-c. Para cada
(Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: A).465 1 mmol/L de redução do LDL-c, as estatinas reduziram a
O risco cardiovascular deve ser recalculado 1 mês após a mortalidade global em 9% nos diabéticos e em 13% nos
introdução da TARV e, depois disto, a cada 6 meses, ou cada não diabéticos, com o mesmo benefício entre diabéticos
vez que o esquema da TARV for modificado, uma vez que e não diabéticos. Houve redução de 21% nos eventos
cada medicamento influencia no perfil lipídico de maneira cardiovasculares maiores em diabéticos e não diabéticos.
específica e em grau diferente (Grau de Recomendação: Nos diabéticos, houve redução do infarto do miocárdio, da
IIa; Nível de Evidência: C).465 O uso de medicamentos revascularização coronária e do AVC, concluindo-se que
hipolipemiantes é frequentemente necessário, para o controle os efeitos das estatinas em diabéticos são semelhantes aos
da dislipidemia e a redução do risco cardiovascular dos observados nos não diabéticos e independem da existência
indivíduos vivendo com HIV. de eventos cardiovasculares prévios, ou de características
basais destes pacientes. As estatinas devem ser indicadas a
Por outro lado, a monitorização clínica e laboratorial de pacientes diabéticos por este ser um grupo de alto risco e
eventuais efeitos adversos deve ser frequente, incluindo a com benefício inequívoco do tratamento medicamentoso
pesquisa de toxicidade muscular por avaliação de sintomas com estatinas.
de miopatia e dosagens de CK (Grau de Recomendação:
IIa; Nível de Evidência: C).465 Os inibidores de protease, A classe dos fibratos é útil para a redução dos níveis de
TG. Entretanto, os estudos sinalizados para objetivar desfechos
classe de medicamentos fundamental no esquema TARV,
cardiovasculares apresentaram resultados conflitantes. No
são preferencialmente metabolizados pelo CYP P450 3A4
estudo VA-HIT (Veterans Affairs High-Density Lipoprotein
e apresentam interações com estatinas, por compartilharem
Cholesterol Intervention Trial), 473 o uso de genfibrozila
os mesmos sítios de metabolização hepática.466,467 Portanto,
associou-se à significativa redução de 24% dos eventos
deve ser dada preferência para estatinas que atuem em
macrovasculares em pacientes com diabetes melito tipo
sítios de metabolização distintos, como a pitavastatina e
2 sem DCV prévia, HDL-c baixo (< 40 mg/dL) e discreta
pravastatina, evitando aquelas com metabolização exclusiva
hipertrigliceridemia. Em outro estudo com fenofibrato, o
por esta via metabólica hepática, como a sinvastatina (Grau
FIELD,257 com 9.795 participantes, não foram evidenciados
de Recomendação: III; Nível de Evidência: B). 466-468 Por outro
benefícios nos desfechos primários (infarto do miocárdio
lado, a rosuvastatina e a atorvastatina também foram utilizadas
ou morte cardiovascular) quando comparados ao grupo
com segurança neste grupo populacional.469,471 Os fibratos
placebo. Cumpre ressaltar que parcela significativa desta
(à exceção da genfibrozila) podem ser administrados em
população era de prevenção primária. Entretanto, o uso deste
concomitância aos inibidores de protease e/ou em associação
fibrato demonstrou capacidade em redução nos desfechos
com estatinas, no caso de dislipidemias mistas graves (Grau
microvasculares (redução da microalbuminúria, hemorragia
de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B).468
vítrea e diminuição na progressão da retinopatia diabética).
Algumas diretrizes, especificamente da infectologia,
O estudo ACCORD258 foi projetado para determinar os
recomendam que a escolha do TARV seja guiada pelo risco
efeitos do tratamento intensivo dos lípides plasmáticos (em
cardiovascular do paciente.471 De maneira semelhante, alguns
seu braço ACCORD-LIPID) nos desfechos cardiovasculares,
autores advogam que seja realizada a troca dos medicamentos
testando a hipótese de que adição de um fibrato (fenofibrato)
componentes da TARV (switching) toda vez que for detectado
ao tratamento prévio com estatinas poderia resultar em
risco cardiovascular elevado com base nos níveis lipídicos.471 benefício incremental, quando comparada ao grupo de
Esta conduta não encontra suporte em estudos científicos com estatina isoladamente (sinvastatina). O desfecho primário foi
desfechos cardiovasculares duros e não são conhecidos seus a ocorrência pós-randomização de infarto do miocárdio não
efeitos, tanto no âmbito cardiovascular, como no tratamento fatal, AVC não fatal ou morte cardiovascular. Embora com
da infecção. Por esta razão, a escolha de TARV e o switching os resultados sem diferenças significativas, houve benefício
terapêutico para pacientes com maior risco cardiovascular não no subgrupo de pacientes que apresentavam a dislipidemia
devem, pelo menos até que surjam evidências em contrário, diabética (hipetrigliceridemia e HDL-c < 34 mg/dL). Análises
ser recomendadas (Grau de Recomendação: III; Nível de post hoc, realizadas em estudos prévios, como o Helsinki Heart
Evidência: C). Study,474 o BIP450 e o FIELD,257 encontram dados semelhantes
aos do ACCORD.
10.10. Diabetes melito Com relação à ezetimiba, conforme dados do estudo
Várias são as evidências clínicas e epidemiológicas que IMPROVE-IT113 em pacientes com síndrome coronariana
sustentam o conceito de que indivíduos com diabetes melito aguda, o subgrupo pré-especificado de participantes com
tipo 2 apresentam risco cardiovascular aumentado. O fenótipo diabetes melito tipo 2 apresentou benefício adicional
lipídico frequentemente encontrado nesta população consiste de quando comparado ao grupo de participantes sem diabetes
hipertrigliceridemia e HDL-c baixo. A concentração média do melito tipo 2, em relação aos desfechos primários compostos
LDL-c não apresenta diferenças quantitativas, distinguindo-se, (morte cardiovascular, infarto do miocárdio, angina
entretanto, pelo perfil de alta aterogenicidade pela presença de instável documentada requerendo nova hospitalização,
partículas pequenas e densas. revascularização coronária ≥ 30 dias ou AVC).

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10.11. Pós-transplantados As alterações nos lípides plasmáticos ocorrem no


As anormalidades lipídicas são frequentes nos pacientes hipotireoidismo clínico, porém sua ocorrência na forma
pós-transplante cardíaco, acometendo cerca de 60 a 83% subclínica é controversa e apresenta dados divergentes na
dos pacientes,475,476 e estão associadas à maior incidência literatura.483 Mesmo o efeito da reposição hormonal sobre
de doença vascular do enxerto. As causas mais comuns o perfil lipídico no hipotireoidismo subclínico apresenta
da dislipidemia deste grupo se relacionam com diabetes resultados divergentes, com alguns trabalhos mostrando
melito, síndrome metabólica, obesidade e disfunção renal. benefício e outros sem efeito.483
As medicações imunossupressoras apresentam importantes O tratamento com estatinas não está contraindicado para
alterações do metabolismo lipídico, como elevação de CT, estes indivíduos, mas a estatina só deve ser iniciada após
VLDL-c, TG e, principalmente, do LDL-c, além de ganho de a regularização dos níveis hormonais, em função do risco
peso e da exacerbação da resistência à insulina. aumentado de miosite nestes pacientes.484 Existe uma maior
A terapia da hiperlipidemia no paciente pós-transplante prevalência de hipotireoidismo nos pacientes intolerantes
cardíaco tem a finalidade de prevenir a progressão da à estatina. A simples reposição hormonal pode corrigir a
aterosclerose nos vasos nativos e reduzir a velocidade do dislipidemia induzida pelo hipotireoidismo. Mesmo assim,
desenvolvimento de vasculopatia de transplante. alguns indivíduos permanecem dislipidêmicos, demonstrando
Modificações do estilo de vida (dieta e exercício) e controle a coexistência da dislipidemia primária. No caso, o perfil
rigoroso do diabetes, quando presente, são recomendados no lipídico pode ser avaliado para se estabelecer a necessidade
paciente pós-transplante. do tratamento adicional.
O tratamento farmacológico destes pacientes é igual ao
do paciente sem transplante, exceto pelo cuidado com as 10.13. Doenças autoimunes
interações medicamentosas. Assim, a estatina é o tratamento Constituem doenças autoimunes reumáticas ou sistêmicas
de escolha para os indivíduos pós-transplante cardíaco e aquelas cuja etiopatogenia envolve resposta imunológica
dislipidemia, devendo-se iniciar com baixas doses (Grau de dirigida a antígenos próprios, levando a processo inflamatório
Recomendação: IIa; Nível de Evidência: B).477,478 Nestes casos, sistêmico. São abordadas aqui, principalmente, duas doenças
deve-se monitorar o risco de toxicidade muscular, devido à autoimunes reumáticas: o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)
interação das estatinas com a ciclosporina, principalmente as e a artrite reumatoide.
que utilizam a via CYP3A4.479,480
O benefício das estatinas neste grupo de pacientes 10.13.1. Lúpus eritematoso sistêmico
decorre da melhora do perfil lipídico e, possivelmente, dos É o protótipo de doença autoimune sistêmica, caracterizado
efeitos pleiotrópicos das estatinas (inibição da atividade pró- por envolvimento de diversos órgãos ou sistemas, e por
inflamatória, melhora da função endotelial e diminuição do produção de grande variedade de autoanticorpos, dirigidos
estado de hipercoagulabilidade). principalmente − mas, não exclusivamente −, contra antígenos
Muitos pacientes evoluem com hipertrigliceridemia no do núcleo celular. Afeta principalmente mulheres jovens e tem
pós-transplante. Estes pacientes podem ser tratados com evolução crônica, caracterizada por períodos de exacerbação
derivados do ácido fíbrico, principalmente em situações de e remissão da doença. Embora o prognóstico tenha melhorado
hipertrigliceridemia grave, na qual existe o risco de pancreatite nas últimas décadas, a sobrevida é menor que a da população
aguda. Não existem estudos randomizados que analisaram os geral, e as DCV têm sido uma das principais causas de
efeitos dos fibratos nesta população. mortalidade em estudos norte-americanos e europeus.
A ezetimiba não é recomendada no pós-transplante, por sua A incidência e a prevalência da doença são variáveis – têm
interação com a ciclosporina, que pode induzir um aumento influência da região geográfica, de critérios para definição de
de duas a 12 vezes nas concentrações séricas da ezetimiba.481 casos e da composição étnica da população estudada, sendo
maior em estudos norte-americanos que nos europeus, e
10.12. Hipotireoidismo menos frequente em caucasianos que não caucasianos. Em
A dislipidemia presente nos indivíduos com hipotireoidismo único estudo realizado no Brasil, a incidência foi estimada
é caracterizada pelo aumento das concentrações plasmáticas em 8,7 casos por 100 mil habitantes/ano na cidade de Natal
do LDL-c, consequente ao decréscimo do número de (RN),485 com prevalência de 98/100 mil habitantes em estudo
receptores hepáticos para a remoção destas partículas e realizado em Montes Claros (MG).486
do aumento da absorção intestinal do colesterol, devido à A aterosclerose prematura em pacientes com LES foi
ação do hormônio tireoidiano na proteína NPC1-L1.482 Já a inicialmente reconhecida em 1976 por Urowtz et al.,487 que
hipertrigliceridemia aparece em decorrência do aumento da descreveram padrão bimodal de mortalidade, com morte
produção hepática das partículas de VLDL. Desta forma, o precoce atribuída a atividade da doença e mortalidade mais
hipotireoidismo é uma causa secundária de dislipidemia, que tardia associada a infarto agudo do miocárdio. Este padrão de
deve ser sempre lembrada e afastada. mortalidade tem sido confirmado em estudos subsequentes,

Recomendação: o uso de estatinas é considerado terapia de primeira linha no lúpus eritematoso sistêmico (Grau de Recomendação: I; Nível de Evidência: B). Os fibratos,
sequestrantes de ácidos biliares e niacina podem ser utilizados nas dislipidemias mistas (Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C).

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e a mortalidade por DCV parece ter se mantido constante, entre atividade de doença e uso de glicocorticoide dificulta
apesar da melhora da mortalidade em geral. No Brasil, em avaliar o efeito de cada um dos fatores de forma independente.
estudo avaliando múltiplas causas de morte em pacientes com Em revisão da literatura, a prevalência de dislipidemia,
LES, não foi observada significativa mortalidade por DCV em definida como elevadas taxas de CT, LDL-c e TG, e baixos
análise global, mas, avaliando subgrupo de óbitos abaixo dos níveis de HDL-c, variou de 36% no diagnóstico a 60% no
50 anos de idade, encontramos razão observado/esperado seguimento de pacientes com LES. Diferentes frequências
> 1, indicando maior risco de óbito por DCV em pacientes de alterações lipídicas são descritas: aumento de CT em 20 a
com LES e idade menor que 50 anos.488 48%, de TG em 15 a 44% e de LDL-c em 18 a 43%, além de
As DCV, definidas como doença isquêmica cardíaca, baixos níveis de HDL-c em 24 a 81%. Baixo nível de HDL-c
doença isquêmica cerebral (AVC idquêmico) e doença arterial foi a alteração encontrada mais frequentemente no estudo
periférica isquêmica, são mais frequentes e de ocorrência mais com a maior casuística.491
precoce em pacientes com LES do que na população geral. O perfil lipídico típico do LES é caracterizado por elevados
A prevalência da DCV clínica varia de 6 a 10%, com risco níveis de VLDL e TG, além de baixos níveis de HDL, estando
duas a dez vezes maior de DCV clínica, em comparação à associado à atividade da doença.492
população geral, pareada por sexo e idade.489
Anticorpos anti-LDL oxidado participam da formação
Diversos métodos podem ser utilizados para identificar inicial da placa aterogênica e estão aumentados em LES.491
aterosclerose subclínica, como a medida da IMT ou presença O papel antiaterogênico da HDL fica comprometido pelo
de placas em carótidas em exame ultrassonográfico; microambiente inflamatório em pacientes com LES, originando
ultrassonografia da artéria braquial com medida da HDL disfuncional, pró-inflamatória, que parece contribuir para
vasodilatação induzida pelo aumento de fluxo; a presença o risco aumentado de doença aterosclerótica em pacientes com
de calcificação em coronárias, avaliada pela tomografia LES.493 Anticorpos anticardiolipina e anti-β2GP1, assim como
computadorizada das coronárias; e alteração da perfusão citocinas inflamatórias, como o TNF-α e IL-6, também parecem
miocárdica.489 Utilizando diversos métodos, a frequência de estar envolvidos na dislipidemia do LES, com elevados níveis de
aterosclerose subclínica tem sido significativamente maior em TG e baixos níveis de HDL-c. A nefrite, que ocorre em cerca de
pacientes com LES, comparada a controles. metade dos pacientes com LES, também está associada a maior
Conquanto diversos estudos tenham mostrado prevalência frequência de distúrbios do metabolismo lipídico.491
aumentada de fatores de risco tradicionais para DCV, como O padrão de dislipidemia do lúpus não tem fisiopatogenia
hipertensão arterial, hipercolesterolemia, diabetes melito e totalmente esclarecida, mas menor atividade da LPL e
obesidade em pacientes com LES, e que se reconheça que os anticorpos anti-LPL parecem estar implicados.491
mesmos têm importante papel na aterogênese, os fatores de
risco tradicionais para DCV não conseguem explicar totalmente Com relação ao distúrbio do metabolismo lipídico, vários
o aumentado risco de DCV em pacientes com LES. O risco estudos mostram risco aumentado de DCV associado ao
de DCV nestes pacientes é maior que a do grupo controle aumento de CT. Na coorte de lúpus de Toronto, pacientes com
pareado para idade, sexo e fatores de risco, sugerindo que, aumento persistente de CT sofreram infarto agudo do miocárdio,
em pacientes com LES, há complexa interação entre fatores de AVC ou morte súbita em 27,8% dos casos, nos primeiros 3 anos
risco tradicionais e processo inflamatório próprio da doença.490 de seguimento, enquanto pacientes sem dislipidemia tiveram
apenas 3% destes eventos. Observou-se também que 79% dos
Em estudo multinacional de coorte inicial com mais de pacientes com DCV apresentavam persistente aumento de
1.200 pacientes com LES e seguimento de até 8 anos, foram níveis séricos de CT.494
observados 97 eventos cardiovasculares em 72 pacientes,
mas somente 31 eventos em 22 pacientes foram atribuídos Inesperadamente, LDL não se confirmou ser um fator
à doença aterosclerótica. Em análise multivariada, sexo independente para evento CV em pacientes com LES, mas
masculino e idade mais avançada por ocasião do diagnóstico está relacionada ao aumento da IMT e à presença de placas
foram os fatores independentemente associados a evento CV em carótidas. Baixo níveis de HDL têm sido implicados em
no seguimento a curto tempo.487 evento CV, disfunção endotelial e aumento de IMT. A elevação
de TG também se mostrou preditor independente para evento
Em revisão sistemática da literatura, Shoenfeld et al.490
CV e calcificação coronária.
concluíram que o risco de DCV em pacientes com LES é, no
mínimo, duas vezes maior que o da população geral. Pacientes A dislipidemia é uma comorbidade importante para
brancos e idosos parecem ter maior risco absoluto de DCV, mas pacientes com lúpus, com múltiplos efeitos negativos ao
mulheres jovens têm risco relativo alarmantemente alto, dada longo do tempo. Espera-se que o tratamento precoce e
a raridade da DCV em jovens do sexo feminino na população adequado da dislipidemia possa reduzir os números referentes
geral. Ambos os fatores de risco, os tradicionais e os específicos à hospitalização e à morbimortalidade em geral.491
do LES, são importantes, embora existam discrepâncias na A dislipidemia deve ser tratada agressivamente, para
literatura quanto à magnitude de efeito dos mesmos.490 minimizar o risco cardiovascular e proteger os órgãos de
Os fatores de risco associados ao LES incluem atividade danos permanentes. Entretanto, vários estudos controlados
e duração da doença, e possivelmente alguma manifestação com estatinas não conseguiram demonstrar claro benefício
específica do lúpus, assim como o tratamento da doença. em termos de impedir a progressão da aterosclerose.491
Embora o uso de prednisona em dose ≥ 7,5 mg ao dia tenha A melhora significativa da função endotelial foi encontrada
aumentado o risco de dano cardiovascular, a forte associação em estudo controlado e randomizado de pacientes com LES

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recebendo 20 mg de atorvastatina ao dia, por 8 semanas.495 mas a acurácia destes modelos não fora devidamente estudada
Este resultado não foi confirmado em estudos avaliando IMT em pacientes com artrite reumatoide. Para melhor estratificar o
de carótidas em pacientes com lúpus infanto-juvenil, que risco de evento CV em pacientes com artrite reumatoide, após
receberam 10 a 20 mg/dia de atorvastatina por 3 anos.496 revisão da literatura, o grupo de estudo da European League
Em outro estudo, rosuvastatina 10 mg ao dia diminuiu Against Rheumatism (EULAR) publicou dez recomendações
o IMT em 2 anos, além de melhorar o perfil lipídico. Petri para pacientes com AR: 504
et al.,497 usando atorvastatina 40 mg ao dia por 2 anos, não 1. A artrite reumatoide deve ser considerada como condição
encontraram redução significativa de calcificação coronária associada a alto risco de DCV. O aumento do risco parece
ou de IMT. Por outro lado, fluvastatina reduziu evento CV em ser devido a ambos, à aumentada prevalência de fatores
pacientes com LES e transplante renal.498 de risco tradicionais e ao processo inflamatório.
Conquanto tenha havido redução de CT e dos níveis 2. É necessário adequado controle da atividade da doença,
de LDL-c, metaanálise não mostrou beneficio do uso das para redução de risco cardiovascular.
estatinas na progressão de IMT em carótidas de pacientes 3. A avaliação de risco cardiovascular usando diretrizes
com LES.499 Uma crítica para estes estudos é que o período nacionais é recomendada para todos os pacientes com
de 2 a 3 anos pode ser insuficiente para detectar alterações artrite reumatoide anualmente e deve ser repetida quando
arteriais estruturais. drogas antirreumáticas forem trocadas.
Apesar disso, é sugerido que todos os pacientes com LES 4. Modelos de cálculo de escores de risco devem ser
realizem controle do perfil lipídico anual, e que medicamentos adaptados para pacientes com artrite reumatoide,
hipolipemiantes sejam prescritos para se alcançar as metas multiplicando o fator por 1,5, quando o paciente
lipídicas recomendadas para o LDL-c e o não HDL-c para apresentar dois dos três critérios (duração de doença
prevenção primária e secundária de evento cardiovascular.500 > 10 anos, fator reumatoide ou anti-CPP (do inglês
Além do efeito hipolipemiante, efeitos pleiotrópicos Cytric Citrullinated Peptide) positivo, presença de certas
das estatinas incluem efeitos anti-inflamatórios e manifestações extra-articulares).
imunomoduladores, que poderiam auxiliar no controle do 5. A relação CT/HDL-c deve ser usada, quando aplicado
processo inflamatório vascular e da atividade da doença. o modelo de estratificação de risco europeu usando
Em um estudo, a atorvastatina mostrou ser capaz de reduzir o SCORE.
CXCL9, uma quimiocina regulada por Interferon (IFN), o
6. As intervenções devem ser indicadas de acordo com as
que poderia também influenciar em fatores envolvidos na diretrizes nacionais.
patogênese do LES.501
7. Estatinas, inibidores da enzima conversora da angiotensina
Em crianças e adolescentes com lúpus, dieta e e/ou bloqueadores do receptor da angiotensina II são
exercícios por 6 meses são sugeridos como terapia de opções terapêuticas preferidas.
primeira linha e, posteriormente, hidroxicloroquina,
estatina e sequestrantes de ácidos biliares, niacina e 8. O papel dos coxibes e da maioria dos anti-inflamatórios
fibratos, em uma abordagem multidisciplinar.502 não hormonais no risco cardiovascular não está bem
estabelecido e necessita investigação futura. Devemos ser
cautelosos ao prescrevê-los, especialmente em pacientes
10.13.2. Artrite reumatoide com comprovada DCV ou fatores de risco.
A artrite reumatoide é uma doença inflamatória sistêmica 9. Corticoesteroides: usar na menor dose possível.
crônica, caracterizada pelo comprometimento inflamatório 10. Recomendado parar de fumar.
e destrutivo de articulações sinoviais, que cursa com fator
reumatoide e/ou anti-CPP (do inglês Cytric Citrullinated Neste estudo não foram incluídas modificações de hábitos
Peptide) positivos em cerca de 60 a 70% dos casos. O de vida, como controle de peso e atividade física, e estilo
comprometimento articular é sua maior característica, mas de vida inadequado, que devem ser considerados fatores
ela também pode comprometer outros órgãos e sistemas. de risco para DCV. Redução modesta no peso ou melhora
da atividade física podem reduzir significativamente o risco
Em países desenvolvidos, a causa mais comum de cardiovascular. Também não estão estabelecidas as influências
mortalidade em pacientes com artrite reumatoide são as de outros fatores de risco, como estresse, nível educacional
DCV, e o processo inflamatório sistêmico parece contribuir e social em pacientes com doença reumática inflamatória.504
para o risco aumentado de DCV nestes pacientes. Em O Consortium of Rheumatology Researchers of North America
estudo avaliando atestados de óbito e múltiplas causas de (CORRONA) desenvolveu um escore expandido para predizer
óbito, foi observado que doenças do sistema cardiovascular risco cardiovascular em artrite reumatoide. Além dos fatores
foram a causa mais frequente de óbito em pacientes com de risco tradicionais (idade, sexo, diabetes, hipertensão,
artrite reumatoide. hiperlipidemia e fumo), a adição de fatores relacionados à
Na população geral, o rastreamento e o tratamento de artrite reumatoide, como atividade de doença (moderada ou
risco cardiovascular são baseados em escores, como o de alta atividade vs. baixa ou remissão), incapacidade (moderada
Framinghan104 e o Systematic Coronary Risk Evaluation.503 vs. baixa ou nenhuma), uso de prednisona (uso vs. não uso),
Pressão arterial, dislipidemia (CT e HDL-c), idade e sexo duração da doença (≤ 10 anos vs. > 10 anos), contribuiu
compõem os fatores de risco tradicionais nestes modelos de significativamente para a melhora do modelo de predição
escores e são baseados em informações da população geral, de evento CV.505

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O modelo denominado Extended Risk Score – Rheumatoid de descontinuação da terapia com estatina em ensaios
Arthritis (ERS-RA), existente na página web,505 foi desenvolvido clínicos, porém, têm ocorrido em 0,1 a 1% dos pacientes; em
para facilitar o uso na prática clínica. Este modelo foi testado estudos observacionais e estudos clínicos não controlados, a
em uma grande coorte de pacientes com artrite reumatoide e frequência de sintomas musculares que levaram à interrupção
conseguiu acurada estratificação de risco de pacientes com a da estatina se eleva para 7 a 29%.25,112,506-508
doença,505 permitindo estratégia mais agressiva de prevenção em A ausência de grupo controle nos registros e estudos
pacientes com moderado a alto risco de evento CV, de acordo observacionais já antecipa que grande parte deste excesso
com as recomendações do American College of Cardiology.106 de efeitos colaterais ocorre sem o estabelecimento correto de
Vários fatores de risco no ERS-RA são alvos potencialmente uma relação causal entre as queixas musculares e o tratamento
modificáveis no programa de prevenção, como cessar o fumo, com estatinas. Enquanto em trabalhos retrospectivos,
reduzir atividade da doença e incapacidade devido à artrite apenas 15 a 40% dos pacientes foram capazes de tolerar a
reumatoide e, se possível, suspender uso de corticoesteroides. reexposição a estatinas após um efeito colateral inicial, em
O ERS-RA parece ser um modelo melhor para predição de estudos prospectivos com protocolos de controle, até 90%
risco cardiovascular do que aqueles baseados exclusivamente dos pacientes que desenvolveram SMRE foram capazes de
em fatores de risco tradicionais.504 tolerar outras estatinas durante pelo menos 1 ano. Este fato
indica que, quando há protocolos adequados de definição da
Em conclusão, embora não haja estudos controlados
intolerância, a adesão a estatinas tende a aumentar.
randomizados para orientar guias para pacientes com doenças
reumáticas sistêmicas, podemos concluir que pacientes com Apesar de a maioria dos consensos internacionais de
LES e artrite reumatoide devem ser considerados com risco tratamento das dislipidemias alertar para o risco de grandes
aumentado de DCV. Além de controle adequado dos fatores de elevações da CK após tratamento com estatinas, os critérios para
risco tradicionais, é muito importante se alcançar a supressão diagnóstico de SMRE e para manejo de sintomas musculares
do processo inflamatório, ou das alterações imunológicas, e menores ainda não foram claramente estabelecidos.
utilizar a menor dose possível de corticosteroide. A forma mais comumente relatada de SMRE é a mialgia,
cujo padrão dificilmente a distingue de outras etiologias. Como
10.14. Sintomas musculares relacionados às estatinas forma de aumentar a acurácia, recentemente, a National Lipid
Association (NLA) propôs uma ferramenta de caracterização de
A interrupção do uso de estatinas tem sido motivada, em
sintomas musculares, com base nos estudos PRIMO (Prediction
parte, pelo desconhecimento sobre seus efeitos colaterais,
of Muscular Risk in Observational conditions) e STOMP (The
particularmente os Sintomas Musculares Relacionados ao
Effect of Statins on Skeletal Muscle Function and Performance)
uso de Estatinas (SMRE). Embora subjetivas, as queixas
(Quadro 23).507,509,510 Embora prático, o algoritmo não foi
musculoesqueléticas respondem por 65% dos casos de perda
testado em seu valor preditivo e deve ser usado com cautela.
de adesão − uma taxa de suspensão dez vezes superior à
Outras organizações também desenvolveram ferramentas e
frequência destes sintomas em estudos clínicos controlados
conceitos próprios, mas sem nenhum consenso entre elas.511
e mesmo cinco vezes superior ao relatado em estudos
observacionais não controlados.506,507
No conjunto de 26 ensaios clínicos aleatorizados e mais 10.14.1. Definição
de 170 mil pacientes incluídos na colaboração CTT, uma O manejo clínico da SMRE deve ser baseado tanto na
leve elevação da CK após tratamento com estatinas ocorreu presença de sintomas musculares como na elevação da CK,
em média em 1 a cada mil pacientes tratados ao ano, sendo tendo como princípio os sete padrões de SMRE adotados por
que o risco de lesão grave com aumento da CK >10x o esta diretriz (Quadro 24): elevação de CK assintomática (SMRE
Limite Superior da Normalidade (LSN) ocorreu em 1 para 0), mialgia tolerável (SMRE 1) e intolerável (SMRE 2), miopatia
cada 10 mil pacientes-ano (1). Queixas musculares seguidas moderada (SMRE 3) e grave (SMRE 4) até rabdomiólise

Quadro 23 – Avaliação da probabilidade de associação dos sintomas musculares ao tratamento com estatinas
Relação causal entre os sintomas e o tratamento com estatinas
Característica
Provável Improvável
Simétrica
Assimétrica, unilateral
Distribuição e local Difusa, envolvendo grandes grupos musculares (cintura
Região muscular pequena e isolada
escapular e pélvica, e músculos gêmeos superior e inferior)
Dor aguda
Dor muscular, sensibilidade, rigidez ou câimbras
Características da dor Formigamento ou espasmo muscular
Fraqueza muscular ou peso durante exercício
Dor articular ou em tendão
Sintomas até 4 semanas após o início do uso de estatina Sintomas aparecem > 12 semanas após o início da estatina
Associação temporal à estatina
(sintomas com início entre 4-12 semanas podem contribuir para a avaliação de causalidade)
Sintomas melhoram até 4 semanas após a suspensão do Melhora tardia ou ausência de melhora com a suspensão da
Suspensão e reexposição (teste
tratamento estatina
terapêutico) ao tratamento
Sintomas reaparecem até 4 semanas do reinício da estatina Recorrência tardia ou ausente após reinício da estatina

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Quadro 24 – Classificação para os sintomas musculares relacionados às estatinas (SMRE)


Classificação Fenótipo Incidência Definição Referências
Aumento assintomático de
SMRE 0 1,5-26% Ausência de sintomas musculares 516,540-542
CK 1 a 4 vezes o LSN
Sintomas musculares sem elevação de CK ou
SMRE 1 Mialgia tolerável 190/100 mil pacientes-ano 507,516,543-545
assintomático com elevação < 7 vezes o LSN
30-260/100 mil Sintomas musculares, CK < 7 vezes o LSN; melhora
SMRE 2 Mialgia intolerável 542
pacientes-ano completa após a descontinuação
Elevação da CK > 7 vezes, mas < 10 vezes o LSN,
SMRE 3 Miopatia 5/100 mil pacientes-ano com ou sem sintomas, com resolução completa após 516
a descontinuação
Elevação da CK > 7 vezes mas < 50 vezes o LSN,
SMRE 4 Miopatia grave 140/100 mil pacientes-ano com sintomas musculares, e resolução completa 377,542
após a descontinuação
0,1-8,4/100 mil Elevação da CK > 10 vezes e disfunção renal com
SMRE 5 Rabdomiólise 377,515,546-549
pacientes-ano sintomas musculares, ou CK > 50 vezes o LSN
Anticorpos anti-HMGCR, HMGCR expressa em
Miosite necrotizante 0,01-0,3/100 mil
SMRE 6 biópsias musculares, resolução incompleta após 514,518,519
autoimune pacientes-ano
descontinuação
Critérios numéricos e definição adaptados de Afirevic et al.512 e American College of Cardiology/ American Heart Association/ National Heart, Lung, and Blood Institute
Clinical Advisory Board.106 CK: creatinoquinase; LSN: limite superior da normalidade; HMGCR: 3-hidroxi-3-metil-glutaril coenzima A redutase.

(SMRE 5) e miosite necrotizante autoimune (SMRE 6). O *Os inibidores de protease nunca devem ser utilizados em
reconhecimento dos distintos fenótipos e dos graus de combinação com sinvastatina ou lovastatina; atorvastatina,
gravidade ajuda a tornar o manejo clínico mais prático. rosuvastatina e pravastatina devem ser utilizadas com cautela
Ao ponderar sobre um caso potencial de SMRE, faz- (iniciar com doses baixas e monitorar os efeitos) com os
se importante: (i) valorizar todas as queixas musculares inibidores de protease em geral (exceções: atorvastatina é
(dor, fraqueza ou câimbras), não apenas dor muscular, e contraindicada com tipranavir, rosuvastatina é contraindicada
levar em conta o histórico de queixas musculares prévias, com atazanavir e lopinavir/ritonavir); pitavastatina pode ser
comorbidades e uso de outros fármacos (para uma lista usada com segurança com atazanavir, darunavir/ritonavir ou
dos fatores contribuintes para a miopatia por estatinas, ver lopinavir/ritonavir.
quadros 25 e 26); (ii) reconhecer a temporalidade usual Na presença de dor muscular intolerável, deve-se sempre
entre o início da terapia com estatina e o início dos sintomas medir a CK sérica imediatamente. Havendo níveis de CK
musculares, que é habitualmente até 4 a 12 semanas, mas mais que sete vezes o LSN ou persistentemente mais que três
que também pode raramente ocorrer após mais de 1 ano ou vezes o LSN, devem-se também avaliar os níveis de hormônios
se instalar abruptamente após aumento da dose de estatina tireoidianos (Hormônio Estimulante da Tireoide − TSH, T4
ou administração de fármaco ou alimento que induza livre), a Velocidade de Hemossedimentação (VHS) e Fator
competição farmacocinética.509 Em geral, (iii) o padrão de dor Antinuclear (FAN). Na presença de sintomas intoleráveis,
muscular e fraqueza ocorre em forma simétrica e proximal deve-se sempre pedir em conjunto a dosagem sérica de ureia,
e afeta grandes grupos musculares, como nádegas, coxas, creatinina e mioglobinúria. Havendo causa secundária que
panturrilhas e musculatura dorsal. As queixas musculares possa explicar os SMRE por estatinas, deve-se tentar corrigir
tendem a ser mais frequentes em pacientes que praticam a causa, bem como reiniciar a estatina em doses baixas, com
atividades físicas. aumento progressivo de dose.

Quadro 25 – Comorbidades que podem contribuir com os sintomas musculares relacionados às estatinas (SMRE)
Riscos endógenos Riscos exógenos
Idade avançada (> 80 anos) Etilismo
Hipertensão arterial Exercício físico extenuante
Diabetes melito Cirurgias de alta demanda metabólica
Fragilidade Medicações que afetam o metabolismo das estatinas (Quadro 27)
Baixo índice de massa corporal Fibratos (especialmente genfibrozil)
Disfunção renal
Disfunção hepática

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Quadro 26 – Interações medicamentosas com os inibidores da hidroximetilglutaril coenzima A (HMG-CoA) redutase


Mecanismo de ação Efeito Drogas/substâncias
Macrolídeos
Imidazol
Fluoxetina
↑ concentração sérica de
Inibidores CYP3A4 Verapamil
sinvastatina e atorvastatina
Varfarina
Suco de grapefruit
Inibidores de protease* (ritonavir, nelfinavir, atazanavir, indinavir etc)
Fenitoína
Barbitúricos
Rifampicina
↓ concentração sérica de
Indutores CYP3A4 Carbamazepina
sinvastatina e atorvastatina
Griseofulvina
Troglitazona
Inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos (efavirenz, etravirine e rilpivirine)
Cetoconazol
Fluconazol
Amiodarona
↑ concentração sérica de
Cimetidina
Inibidores CYP2C9 fluvastatina, pravastatina e
Cotrimoxazol
rosuvastatina
Fluoxetina
Ticlopidina
Zafirlucaste
Barbitúricos
↓ concentração sérica de
Carbamazepina
Indutores CYP2C9 fluvastatina, pravastatina e
Fenitoína
rosuvastatina
Rifampicina

Mais frequentemente, as queixas musculares ocorrem sem 10.14.2. Elevação da creatinoquinase


elevação substancial da CK.106 O passo mais importante na Durante a terapia com estatinas, elevações transitórias
presença de tais sintomas é diferenciar sua tolerabilidade, pois de CK podem ocorrer, mesmo em pacientes assintomáticos,
seu impacto pode variar muito entre indivíduos, especialmente mas sem significado clínico. Por esta razão, no curso da
naqueles com comorbidades como hipotireoidismo, doenças terapia com estatinas, a dosagem rotineira de CK não é
do colágeno, fibromialgia e outras. recomendada, exceto quando se introduz nova droga ou
Nos casos de dor muscular tolerável sem/com elevação de CK se eleva a dose de uma estatina (Grau de Recomendação:
(SMRE 0) ou de até três vezes o LSN (SMRE 1), pode-se considerar IIa; Nível de Evidência: B)25 (ver quadro 27 para definições
uma redução temporária de dose ou mudança da estatina, mas do Grau de Recomendação e Nível de Evidência). Dentre
sem maiores preocupações adicionais. Caso haja elevação da os pacientes que necessitam nova dosagem, aqueles
CK > 3 a 7 vezes o LSN com sintomas toleráveis, é necessária a assintomáticos com pequenas elevações de CK (menos que
redução de dose seguida de uma monitorização mais cautelosa três vezes o LSN) (SMRE 0) não necessitam suspender a
da CK. Na presença de sintomas intoleráveis e elevação da CK estatina ou mudar sua posologia (Grau de Recomendação:
(SMRE 2), a suspensão da estatina passa a ser necessária e deve IIa; Nível de Evidência: C). Naqueles assintomáticos
motivar uma investigação mais ampla. Queixas musculares novas que tiverem elevação de CK de três a sete vezes o LSN
que atinjam a suspeição clínica para SMRE devem, portanto, (SMRE 1), o período de suspensão não se faz necessário,
motivar a solicitação da CK sérica. Em geral, os casos menos podendo-se reiniciar a mesma estatina ou uma nova em
graves de SMRE por estatinas (SMRE 0 a SMRE 4) cursam de baixa dose, com ajuste de dose a cada 4 a 6 semanas (Grau
forma autolimitada e não deixam sequelas permanentes. de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C).512

Quadro 27 – Critérios diagnósticos para intolerância a estatinas


Farmacológico (I) Sintomático (II) Etiológico (III)
(Ia) A incapacidade em tolerar pelo menos (IIIa) Relação temporal plausível (0-12 semanas) com a introdução da
duas estatinas em qualquer dose, OU (IIa) Sintomas musculares intoleráveis (dor estatina, aumento de dose ou introdução de droga competidora pela
(Ib) A incapacidade em tolerar aumento muscular, fraqueza ou câimbras, mesmo com via de metabolização, E/OU
da dose acima dos máximos diários de creatinoquinase normal ou pouco alterada) (IIIb) Melhora dos sintomas ou resolução com a descontinuação da
rosuvastatina 5 mg; atorvastatina 10 mg; OU estatina (habitualmente em 2 a 4 semanas), E
simvastatina 20 mg; pravastatina 20 mg; (IIb) Miopatia grave (SMRE 4) (IIIc) Com piora em menos de 4 semanas conseguinte à nova
lovastatina 20 mg; ou fluvastatina 40 mg exposição (rechallenge)

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Com base na opinião de especialistas, as diretrizes da estatinas com fibratos.516 Desta forma, o uso concomitante
NLA510 e a EAS511 sugerem que pacientes com sintomas destes fármacos com estatinas deve motivar um rastreamento
musculares leves a moderados associados à elevação de CK mais cuidadoso da elevação de CK.
podem estar sob maior risco de rabdomiólise. Aprofundando Embora a rabdomiólise possa cursar com sintomas menos
sobre este mesmo ponto de vista e de outras evidências,510-513 intensos, ela também pode evoluir de forma fulminante com
o presente posicionamento da SBC recomenda a suspensão insuficiência múltipla de órgãos. Em geral, a morbidade e as
transitória da estatina e a monitorização periódica dos níveis mortes ocorrem como resultado de hipercalemia, acidose
de CK a cada 4 a 6 semanas, caso haja elevação da CK entre metabólica e lesão renal aguda. O risco de lesão renal aguda
três a sete vezes o LSN na presença de sintomas musculares gira em torno de 30 a 40%, e a mortalidade é de 5%.517
intoleráveis (SMRE 2) (Grau de Recomendação: IIa; Nível de
O critério mais comumente verificado é a dor muscular
Evidência: C). Naqueles que apresentarem CK entre três a
acompanhada de aumento abrupto da CK em mais de
sete vezes o LSN na presença de sintomas toleráveis ou na
dez vezes, embora mais raramente a rabdomiólise pode
ausência de sintomas (SMRE 1), recomendam-se a troca para
se manifestar com perda de força muscular ou sintomas
regime de baixa intensidade e a monitorização mais cuidadosa
musculares discretos associada a um aumento de mais de
da CK a cada 4 a 6 semanas (Grau de Recomendação: IIa;
50 vezes o LSN da CK. Assim, para efeito de critério diagnóstico,
Nível de Evidência: C).
considera-se rabdomiólise quando há aumento assintomático
Entretanto, independente da presença de sintomas, se de CK > 50 vezes LSN, ou quando há dor muscular associada
níveis de CK maiores que sete vezes o LSN forem observados, a CK dez vezes maior que o LSN, disfunção renal (elevação da
a suspensão da estatina deve ser realizada por 4 a 6 semanas, creatinina sérica ≥ 0,5 mg/dL) e mioglobinúria.
seguida de nova dosagem de CK e reavaliação (Grau de
A miopatia necrotizante autoimune (SMRE 6) está
Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). Caso não haja
relacionada ao aparecimento de autoanticorpos séricos
redução da CK para níveis abaixo de sete vezes o LSN em até dirigidos contra a HMCGR, o alvo farmacológico das estatinas.
6 semanas sem estatinas (SMRE 4 ou SMRE 6), o paciente deve Ao contrário das outras formas de SMRE, os sintomas na SMRE
ser avaliado quanto à presença de causa secundária, por meio 6 não melhoram após a suspensão da estatina. Porém, por
de avaliação clínica e laboratorial mais minuciosa, incluindo se tratar do mecanismo causal, a exposição ao fármaco deve
investigação de função renal, hormônios tireoidianos (TSH, ser logo evitada.
T4 livre), VHS, FAN (Grau de Recomendação: IIa; Nível de
Evidência: C). Caso não haja melhora da dor com a suspensão Todas as séries de casos publicadas de miopatia autoimune
da estatina e não sejam encontradas causas associadas, deve-se associada a estatinas têm demonstrado que os pacientes
considerar o diagnóstico diferencial entre miopatia autoimune recuperam a força muscular e apresentam queda nos níveis de
(SMRE 6) e miopatia não relacionada a estatinas. A avaliação CK (às vezes normalizando) com a terapia imunossupressora.
dos anticorpos anti-HMG CoA Redutase (HMGCR) tem alto A remissão do quadro de SMRE 6 em geral ocorre com
poder preditivo para esta diferenciação,512 mas, em alguns prednisona e mais um agente imunossupressor, mais
casos, pode ser necessária a pesquisa da expressão da HMGCR comumente o metotrexato, com ou sem imunoglobulina
no tecido muscular. A pesquisa de anticorpos anti-HMGCR intravenosa. Porém, respostas parciais são verificadas em
por ELISA tem sensibilidade de 94% e especificidade de 99% 36 a 46%.518,519 Além disso, risco de recaída com a interrupção
para a identificação de anti-HMGCR por imunoprecipitação.514 da terapia está em torno de 50 a 60%.519,520

Naqueles que reduzirem os níveis de CK após suspensão,


mas durante a reintrodução e/ou titulação da dose de estatina 10.14.3. Fatores de risco para sintomas musculares
houver nova elevação da CK acima de sete vezes o LSN (sendo relacionados à estatina
excluídas causas secundárias como exercício, hipotireoidismo São descritas diversas anormalidade metabólicas musculares
ou doença muscular metabólica), deve-se usar a mesma de pacientes com miotoxicidade induzida por estatina,
estatina em dose menor OU estatina alternativa (Grau de sugerindo que alguns indivíduos têm predisposição para
Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). Em seguida, queixas musculares maiores ou menores.521 Paralelamente,
adiciona-se terapia não estatínica, com a finalidade de atingir outras características do paciente e as próprias da estatina
o valor de colesterol do LDL-c mais próximo possível da meta podem aumentar o risco de SMRE, incluindo a administração
(Grau de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). de altas doses de estatina, a lipofilicidade, o metabolismo do
A rabdomiólise (SMRE 5) é o evento muscular adverso citocromo P450 e as interações medicamemtosas.522
mais grave durante a terapia com estatinas, podendo gerar Estatinas lipofílicas, como a sinvastatina e a lovastatina,
necrose muscular, distúrbios hidroeletrolíticos graves, lesão têm maior potencial de difusão pelas membranas celulares,
renal aguda, coagulopatia, choque e morte. Sua incidência é com maior concentração intracelular em tecidos periféricos
rara com a monoterapia com estatinas (em torno de 0,44 por quando comparadas a estatinas hidrofílicas como a
10 mil pacientes-ano), porém o risco pode aumentar em dez pravastatina. Hipoteticamente, esta poderia ser a justificativa
a 12 vezes na presença de outros fármacos (Quadro 25).515 do maior risco de miopatia em pacientes em uso de estatinas
De fato, em 60% dos casos reportados de rabdomiólise por lipofílicas.523 Entretanto, o SMRE foi similarmente descrito com
estatinas, houve relato de uso concomitante de fármacos o uso de estatinas hidrofílicas, como a rosuvastatina, quanto
competidores pela CYP3A4, como inibidores de protease, com as lipofílicas, como a atorvastatina.524 Existe variação
ciclosporina, amiodarona, macrolídeos e antifúngicos azólicos. da biodisponibilidade das estatinas, o que é parcialmente
Outros 19% dos casos ocorreram diante de associação de explicado pela variação de genótipos de transportadores

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Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017

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celulares e do citocromo P450 (CYP).525 O uso concomitante indicação um ganho secundário529 (Grau de Recomendação:
de outras drogas e até mesmo a ingestão de determinados III; Nível de Evidência: C).
alimentos que podem competir com as vias catabólicas Da mesma forma, apesar dos indícios iniciais, a
das estatinas, elevando sua biodisponibilidade, podem ser suplementação de coenzima Q foi demonstrada como não
associados a variações farmacogenéticas. benéfica em termos de prevenção ou tratamento da SMRE 530
Dentre os fatores de risco para a SMRE estão a síndrome (Grau de Recomendação: III; Nível de Evidência: B).
de fragilidade, o baixo índice de massa corporal, o sexo
feminino, o hipotireoidismo, o etilismo, o consumo de
10.14.5.2. Terapia hipolipemiante alternativa
cocaína e a disfunção renal ou hepática. O quadro 25 mostra
as principais condições clínicas e o quadro 26, as interações A maioria das terapias alternativas não foi testada em
medicamentosas relacionadas à ocorrência de SMRE. associação com estatinas, não possui evidência de benefício
em monoterapia ou não foi testada em indivíduos intolerantes
à estatina. Assim, a adição de ezetimiba à maior dose
10.14.4. Definição de intolerância a estatinas tolerada de estatina é a primeira opção terapêutica (Grau
Conforme exposto no quadro 27 e com base em conceitos de Recomendação: I; Nível de Evidência: A). A adição de
descritos em ensaios clínicos, recomendações de outras colestiramina, fibrato ou fitosteróis pode ser considerada, caso
sociedades médicas e conselhos regulatórios,106,526-528 esta a terapia com estatina mais ezetimiba não seja suficiente (Grau
comissão define o critério de intolerância a estatina como: de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). A adição de
(Ia) a incapacidade em tolerar pelo menos duas estatinas em niacina ao tratamento com estatina não se mostrou benéfica
qualquer dose, OU (Ib) a incapacidade em tolerar aumento em dois estudos clínicos e não deve ser considerada, exceto
da dose acima dos máximos diários de rosuvastatina 5 em casos especiais, como dislipidemia graves (Grau de
mg; atorvastatina 10 mg; sinvastatina 20 mg; pravastatina Recomendação: IIb; Nível de Evidência: C).
20 mg; lovastatina 20 mg; ou fluvastatina 40 mg; devido a O uso intermitente de estatina tem sido relatado em
(IIa) sintomas musculares intoleráveis (dor muscular, fraqueza pequenos ensaios clínicos, cujo desfecho é a redução do
ou cãimbras, mesmo com CK normal ou pouco alterada) OU LDL-c.531 Baseando-se no aumento da tolerância, algumas
(IIb) miopatia grave (sintomas musculares com elevação da diretrizes têm recomendado esta posologia. No entanto,
CK superior a sete vezes o LSN); e cuja etiologia pode ser dois argumentos sugerem cautela em sua indicação: (i) seu
atribuída a estatina por apresentar (IIIa) relação temporal benefício em redução de eventos cardiovasculares não foi
plausível (zero a 12 semanas) com a introdução da estatina, demonstrado e (ii) a variabilidade do LDL-c em pacientes
aumento de dose ou introdução de droga competidora pela tratados com estatinas foi associada ao aumento de
via de metabolização, E/OU (IIIb) melhora dos sintomas ou mortalidade cardiovascular.532 De fato, uma adesão entre 10 a
resolução com a descontinuação da estatina (habitualmente 20%, que equivaleria a uma dose semanal, foi relacionada ao
em 2 a 4 semanas), E (IIIc) com piora em menos de aumento de mortalidade quando comparada a adesão inferior
4 semanas conseguinte à nova exposição (rechallenge) (Grau a 10%.533 Portanto, a presente comissão julga inadequada esta
de Recomendação: IIa; Nível de Evidência: C). Nos casos de indicação pelo risco potencial (Grau de Recomendação III;
pacientes que atendam aos critérios anteriormente listados, Nível de Evidência: C).
devem-se manter a maior dose tolerada de estatinas e a Oryza sativa fermentado por Monascus purpureus (arroz
terapia complementar, caso não se tenha atingido a meta vermelho) tem em sua composição valores variáveis de
lipídica (Quadro 28). Havendo história de rabdomiólise monacolinas cuja ação inibe a HMGCR de forma semelhante
(SMRE 5) secundária ao uso de qualquer estatina ou história às estatinas. Há alguns outros componentes identificados no
de miosite necrotizante autoimune (SMRE 6), o paciente fica extrato que podem contribuir para redução da colesterolemia,
inelegível para o uso de outras estatinas. Outras estratégias mas a confirmação e o detalhamento deste efeito são ainda
farmacológicas devem ser tentadas nestes pacientes até a meta necessários para a conclusão sobre seu papel relativo à
de LDL-c ser atingida. Nos casos em que houver durante o inibição da HMGCR pelas monacolinas.
tratamento com estatinas história de rabdomiólise (SMRE 5) ou Apesar de haver estudos em intolerantes a estatinas534,535
miopatia necrotizante autoimune (SMRE 6) ou que preencha seu pequeno tamanho amostral (n = 60) e delineamento
ao menos um critério de incapacidade (I), um critério de retrospectivo não são suficientes para garantir maior tolerância
mialgia/miopatia (II) e dois critérios de prova de causalidade ou segurança nos casos mais graves de SMRE com a utilização
(III), o paciente é considerado intolerante às estatinas. deste fitoterápico.
Estudo clínico com o inibidor da CETP, anacetrapib,
10.14.5. Opções terapêuticas na presença de sintomas encontram-se em andamento, com a finalidade de testar
musculares relacionados ao uso de estatinas o benefício cardiovascular. Não há estudo com inibidores
da CETP em intolerantes a estatina, e não há comprovação
do benefício cardiovascular com seu uso. Em individuos
10.14.5.1. Terapia suplementar voltada ao aumento da com intolerância à estatina, o uso de evolocumabe536 e
tolerância à estatina alirocumabe537 demonstrou segurança e eficácia na redução
Embora haja plausibilidade no aumento do risco de do LDL-c. O estudo FOURIER,274 em pacientes de muito alto
SMRE por estatinas quando há hipovitaminose D, não há risco, demonstrou redução do desfecho primário (1.550 e do
evidência de benefício na suplementação com vitamina D secundário chave (20%) com o evolocumabe, sem excesso
mesmo em pacientes com níveis insuficientes para evitar de sintomas musculares ou elevação de CK. Recentemente
ou atenuar a SMRE. Além disso, existem sérias limitações publicado o estudo GAUSS-3 com evolocumabe em
quanto à reprodutibilidade das dosagens de vitamina D, e pacientes intolerantes demonstrou ser uma opção eficaz e
não há evidência de benefício cardiovascular que faça desta segura nesta população.538,539

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Quadro 28 – Nível de Evidência e Grau de Recomendação das diversas opções terapêuticas em pacientes com intolerância a estatinas
Grau de
Fármaco Nível de Evidência Comentários Referências
Recomendação
Ezetimiba associada à estatina demonstrou redução de eventos
Ezetimiba A I cardiovasculares; porém não há estudos em monoterapia ou com 550, 114
pacientes intolerantes
É útil na redução do LDL-c, mas não há estudos demonstrando
Fibrato C IIb 259
beneficio cardiovascular. Atentar para risco de miopatia por fibratos.
É útil na redução do LDL-c, mas em associação com estatinas não
Niacina C IIb 261, 551
demonstrou benefício cardiovascular
Apesar de reduzir LDL-c, não há demonstração de beneficio
Fitoesteróis C IIb cardiovascular. Não foi testado especificamente em pacientes 552
intolerantes a estatinas
Benefício clínico já demonstrado em monoterapia; porém, não há
Sequestrador de
C IIb estudos em associação com estatina ou em pacientes intolerantes a 553
ácidos biliares
estatinas
Oryza sativa Em um ensaio clínico, o arroz vermelho reduziu a incidência de
fermentado por mortes cardiovasculares e incidência de infarto agudo do miocárdio
B IIb 554, 555
Monascus purpureus em comparação com placebo. Não há evidência de segurança ou
(arroz vermelho) eficácia clínica em associação com estatina
Não há benefício da suplementação na prevenção ou terapia de
Coenzima Q (CoQ10) A III 333
sintomas musculares por estatinas
Suplementação
Estudos preliminares sugerem benefício em individuos com
de vitamina D em C III 556, 557
hipovitaminose mas não há evidências confirmatórias
indivíduos deficientes
Apesar de haver estudos com melhora da tolerância, não há
Uso intermitente, não
C III evidência de segurança. Subanálises sugerem risco com a 294
diário, de estatina
variabilidade do LDL-c
Estudo de desfecho clínico com o evolocumabe demonstrou beneficio
Inibidores da PCSK9 526, 536, 274
cardiovascular em população de muito alto risco
Estudos em pacientes com intolerância à estatinas ainda não
Inibidores da CETP disponíveis. Estudos do benefício cardiovascular estão em 269
andamento
LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade; CETP: Proteína de Transferência de Ésteres de Colesterol.

Errata
Na “Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017”, publicada como suplemento
dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia [Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76], considerar as seguintes correções:
- Na pág. 35, primeiro parágrafo, foi acrescentada a seguinte frase e as referências 311 e 312: “Inibidores de PCSK-9
podem ser considerados em associação a outros agentes hipolipemiantes ou, de forma isolada, nos intolerantes às estatinas,
quando não forem atingidas as metas preconizadas para o risco cardiovascular.311,312”
- Ref. 311: Kastelein JJ, Ginsberg HN, Langslet G, et al. ODYSSEY FH I and FH II: 78 week results with alirocumab treatment
in 735 patients with het- erozygous familial hypercholesterolaemia. Eur Heart J. 2015;36: 2996–3003. Ref. 312: Raal FJ,
Stein EA, Dufour R, Turner T, Civeira F, Burgess L, Langslet G, Scott R, Olsson AG, Sullivan D, Hovingh GK, Cariou B, Gouni-
Berthold I, Somaratne R, Bridges I, Scott R, Wasserman SM, Gaudet D; RUTHERFORD-2 Investigators. PCSK9 inhibition with
evolocumab (AMG 145) in heterozygous familial hypercholesterolaemia (RUTHERFORD-2): a randomised, double-blind,
placebo-controlled trial. Lancet. 2015 Jan 24;385(9965):331-40. Ambas as referências foram acrescentadas na listagem final.
Com o acréscimo delas, as referências 311 a 315 foram alteradas para 313 a 317 ao longo do texto e na lista final.
- Na pág. 35, item 9.2.2.4., primeiro parágrafo, foi substituído o trecho “para tratamento da HF, podendo ser usados em
homozigotos, desde que não seja um defeito causado por “receptor negativo” por “para tratamento da HF. O medicamento
evolocumabe foi testado na HFHo no estudo Tesla B, com redução adicional de LDL-c de 21,3%, não sendo efetivo nas
formas homozigóticas, em que o receptor é negativo ou nulo.318”, com acréscimo da referência 318.
- Ref. 318: Raal FJ, Honarpour N, Blom DJ, Hovingh GK, Xu F, Scott R, Wasserman SM, Stein EA; TESLA Investigators.
Inhibition of PCSK9 with evolocumab in homozygous familial hypercholesterolaemia (TESLA Part B): a randomised, double-
blind, placebo-controlled trial. Lancet. 2015 Jan 24;385(9965):341-50. A referência 318 foi acrescentada na listagem final.
Com o acréscimo dela, as referências 316 a 554 foram alteradas para 319 a 557 ao longo do texto e na lista final.
- Na página 38, item 9.2.4.2., considerar “Tangier”, em maiúscula.

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